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ARTICULAÇÃO DE ESQUERDA
AOS CONGRESSOS DA UNE
(1995-2021)
ORGANIZAÇÃO
RODRIGO CESAR
O BRASIL, A UNIVERSIDADE E O MOVIMENTO ESTUDANTIL
TESES DA TENDÊNCIA PETISTA ARTICULAÇÃO DE ESQUERDA
AOS CONGRESSOS DA UNE (1995-2021)
2023, Página 13
Editor
Valter Pomar e Patrick Campos
23-147245 CDD-379.1180981
www.pagina13.org.br
Rua Silveira Martins, 147, cj. 11. Sé, São Paulo, SP
CEP 01.019-000
CNPJ 10.445.600/0001-17
Sumário
PREFÁCIO
APRESENTAÇÃO
ANEXOS
45 Congresso da UNE
o
46 Congresso da UNE
o
47 Congresso da UNE
o
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TESES DA TENDÊNCIA PETISTA ARTICULAÇÃO DE ESQUERDA AOS CONGRESSOS DA UNE (1995-2021)
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APRESENTAÇÃO
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TESES DA TENDÊNCIA PETISTA ARTICULAÇÃO DE ESQUERDA AOS CONGRESSOS DA UNE (1995-2021)
da, esta escolha demonstrou-se mais adequada por indicar o caráter plural de sua
autoria, além de não impedir a quem assim preferir que comece a leitura pelos
anexos.
Cabe ainda informar que foi priorizada a reprodução da versão mais definiti-
va possível da tese em questão. Assim, sempre que possível, optamos pelas teses
impressas que foram distribuídas nos respectivos congressos. Quando a versão
impressa não foi localizada, utilizamos o respectivo arquivo digital com o texto dia-
gramado para reprodução gráfica. Nos casos em que nenhuma destas versões foram
encontradas (50º Congresso, 2007) ou quando não haviam sido produzidas (56º
Congresso, 2019) optamos por reproduzir o texto completo que foi amplamente
divulgado em formato digital sem diagramação para reprodução gráfica.
Com o objetivo de fornecer mais elementos para contextualizar os Congres-
sos, adicionamos ao final de cada tese apresentada um ou mais textos de avaliação
do respectivo fórum deliberativo. Quanto a estes documentos, demos prioridade
aos artigos publicados no jornal Página 13. Quando não localizados nas edições do
jornal ou quando outros textos complementavam e enriqueciam a análise, decidi-
mos incluir avaliações originadas de outras fontes – indicadas em notas de rodapé.
Nenhum texto de avaliação do 49° Congresso (2005) foi localizado até o momento.
Sobre o trabalho de revisão, erros de digitação e ortografia foram revisados
de acordo com a norma ortográfica atualmente vigente em benefício da fluidez da
leitura. Inconsistências ortográficas ou gramaticais em benefício do estilo de escrita
foram mantidas, mas a grafia das siglas e o uso de letras maiúsculas foram padroni-
zados. Nos casos em que a revisão precisou extrapolar os limites da ortografia para
contemplar a sintática e a semântica, as alterações foram indicadas com nota de
rodapé, onde é apresentada a redação original, cabendo às leitoras e leitores julgar
se a revisão foi adequada.
Cabe ainda uma explicação sobre a inexistência do 56º Congresso da UNE,
que seria realizado em 2019, mas foi convocado como a 57ª edição. Isso se deve
ao trabalho de pesquisa da Comissão Nacional da Verdade da UNE, que, a partir
de conteúdos produzidos ou reunidos pela Projeto Memória do Movimento Es-
tudantil, iniciado em 2005, contribuiu para o preenchimento de uma lacuna da
memória e da historiografia sobre o ME: a desarticulação definitiva do movimento
estudantil não se deu após o Congresso de Ibiúna (1968), mas somente em 1973,
com a dissolução da UNE. Devido à baixa representatividade decorrente da ad-
versa situação de clandestinidade em meio à brutal repressão da ditadura, o 31º
CONUNE (1971) não foi reconhecido posteriormente pela própria entidade. Mais
precisamente, o Congresso de Reconstrução da UNE (1979) foi declarado como
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O BRASIL, A UNIVERSIDADE E O MOVIMENTO ESTUDANTIL
1. Cf. UNIÃO NACIONAL DOS ESTUDANTES. Comissão Nacional da Verdade da UNE. “Estilhaços de memória: sobrevida e dissolução
da UNE (1969-1973)”. Disponível em: https://www.une.org.br/noticias/estilhacos-de-memoria-sobrevida-e-dissolucao-da-une-1969-1973/.
Acesso: 30 jan. 2023.
2. Cf. UNIÃO NACIONAL DOS ESTUDANTES. Carta de São Paulo do 67º CONEG. Disponível em: https://une.org.br/wp-content/
uploads/2019/03/CARTA-DE-SA%CC%83O-PAULO-DO-67%C2%BA-CONEG-OK.pdf. Acesso: 30 jan. 2023
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46o Congresso da UNE
Belo Horizonte (MG), 30 de junho a 4 de julho de 1999
TESE
RECONQUISTAR A UNE
CONTRIBUIÇÃO AO MOVIMENTO ROMPENDO AMARRAS
APRESENTAÇÃO
(Titãs)
Mundo desigual, Brasil miserável, educação em crise. Movimento Estudantil.
Nosso meio de mudar, nosso espaço.
Mas tudo anda cinza. Apesar de movimentações aqui e ali, de ter gente rea-
gindo, não enxergamos saídas, falta impulso, um gancho único, falta interligação.
A UNE, durante anos, entidade máxima do Movimento Estudantil, cumpriu
este papel. Tem história. Ajudou o país a ser um pouquinho melhor. Esteve na luta,
tanto tempo. Formou tanta gente. Deu espaço para milhares gritarem, organizando
o combate.
A UNE ajudou a combater o fascismo. Fez a grande campanha “o petróleo é
nosso”; defendeu as reformas de base, lutou e perdeu lutadores da guerra contra
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O BRASIL, A UNIVERSIDADE E O MOVIMENTO ESTUDANTIL
UNE livre!!!
Belo Horizonte. 46º Congresso da UNE. Nossa hora de mudar esta história.
Nossa oportunidade de mudar o que é nosso.
Vamos ao debate, ou seja, ao bom combate!!!
3. Documento disponível nos anexos desta publicação. [N.O.]
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TESES DA TENDÊNCIA PETISTA ARTICULAÇÃO DE ESQUERDA AOS CONGRESSOS DA UNE (1995-2021)
(Gilberto Gil)
que é bom e ruim, apoia governos, derruba ministros, faz e acontece. Quebra pa-
íses, deixa miséria para o povo, mas é bajulado como um bebê, por tecnocratas,
jornalistas e ministros do mundo todo.
É capitalismo o nome disso tudo. E capitalismo em crise. Capitalismo em fase
regressiva. Neoliberalismo. Capitalismo autoritário. O pensamento único que go-
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O BRASIL, A UNIVERSIDADE E O MOVIMENTO ESTUDANTIL
(Renato Russo)
Apesar da lavagem cerebral e do massacre ideológico que a Globo e o governo
tentam fazer ao povo, transformando a comemoração da invasão portuguesa a estas
terras que são hoje o Brasil, num grande carnaval, a realidade não pode ser escon-
dida. A verdade são outros 500. São 500 anos de massacres de índios, de escravidão
e preconceito, de exploração e miséria – e também de muita resistência popular.
Durante a maior parte de nossa história, as elites mudaram várias vezes de dis-
curso e de projeto. Mas, em nenhuma vez, houve o interesse da maioria levado em
conta. Foi assim na República Velha do Brasil agrário. Foi assim no desenvolvimen-
tismo getulista e dos militares, quando criaram infraestrutura, mas não distribuíram
renda, nem fizeram casa, educação e saúde para todos. O famoso “bolo” – do qual
falava Delfim Neto – cresceu várias vezes durante o século, mas nunca foi repartido.
Agora o bolo nem cresce mais. A partir de meados dos anos 80, as elites brasi-
leiras aderiram ao neoliberalismo, este capitalismo autoritário. Com o discurso da
globalização – e seguindo o tal Consenso de Washington – Sarney, Collor, Itamar e
Fernando Henrique doaram nossas estatais, escancararam o mercado, importaram
toda a espécie de buginganga, sucatearam a infraestrutura e os serviços públicos.
Tudo passou a ser feito para garantir os interesses supremos do deus-mercado.
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TESES DA TENDÊNCIA PETISTA ARTICULAÇÃO DE ESQUERDA AOS CONGRESSOS DA UNE (1995-2021)
tão grande que virou piada, caricatura. Stanley Fischer, um dos seus mandachuvas,
veio aqui ditar ordens e apoiar o ministro da Fazenda – em inglês, claro.
Resumindo, é mais ou menos assim: o Brasil deve mais de 235 bilhões de dó-
lares de dívida externa. Já a dívida total dos governos federal, estadual e municipais
(a dívida interna) chegou a absurda quantia de 500 bilhões de reais – mais da me-
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O BRASIL, A UNIVERSIDADE E O MOVIMENTO ESTUDANTIL
tade do PIB anual do país. Este ano, mais de 130 bilhões do “meu, do seu, do nosso
dinheiro”, vão pagar juros desta dívida.
Claro que a crise não é para todos. A maioria perde muito, muito poucos ga-
nham demais. Os banqueiros e especuladores ganham incontáveis bilhões nestes
três meses de turbulência. Os cálculos variam muito, mas sabemos que o grosso do
aumento do déficit público em janeiro e fevereiro foi parar nas contas bancárias
dos Cacciola da vida. Os quase dois bilhões de dólares doados aos bancos Marka e
FonteCindam, tão escancarados na CPI, são só a pontinha do iceberg.
Existe um imenso ralo que suga o dinheiro de todos nós. É uma transferência
absurda de dinheiro da sociedade para o sistema financeiro. Os bilhões que esses
senhores lucraram em poucas semanas melhorariam a vida dos brasileiros se fos-
sem empregados em habitação, reforma agrária, saúde, geração de empregos. O
governo Fernando Henrique existe para dar lucro – para eles.
Estão tentando abafar a CPI do Bancos para poder continuar levando as coisas
como antes. O remédio do governo para a crise é sempre mais do mesmo. Vene-
no para moribundo. Tanto assim, que nomearam Armínio Fraga, um despachante
do maior especulador do mundo, para ser presidente do Banco Central. A receita
agora é a seguinte: continuar com os altos juros, retirar mais direitos trabalhistas e
previdenciários, estrangular os salários não repondo a inflação, e privatizar o que
sobrou: Correios, Banco do Brasil, Petrobrás, Caixa Econômica, universidades. Va-
mos voltar à época de colônia mesmo. Fecham o ciclo: uma das primeiras medidas
que o rei português D. João VI tomou ao chegar ao Brasil, lá nos idos de 1808, foi
criar o Banco do Brasil e os Correios – os mesmos que nosso querido presidente-
-poliglota quer dar de presente para alguns empresários necessitados.
E, para não faltar nada, mais fitas descobertas das gravações de negociatas
desta republiqueta tucana. Desta vez não teve como esconder. Fernandinho não só
sabia das tramoias da privatização da Telebrás, como ajudou a manipular o “leilão”
para beneficiar seus amiguinhos do Banco Opportunity. É assim, são bilhões de pa-
trimônio estatal que eles brincam, fazem joguete, decidindo quem ganha e quem
não ganha fortunas. São máfias organizadas nos governando. Uma CPI da privati-
zação da Telebrás é o caminho para começarmos a desvendar grandes maracutaias
com dinheiro público.
Para tudo continuar como está eles precisam da nossa ajuda. E se depender
da gente, eles não terão colaboração. Mais do que nunca, nosso lugar é na rua. As
próximas eleições presidenciais estão marcadas para 2002. Fernando Henrique não
tem legitimidade para destruir o país.
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O BRASIL, A UNIVERSIDADE E O MOVIMENTO ESTUDANTIL
tas para consertar este regime falido. São propostas de outra natureza. De natureza
democrática, popular e socialista. Medidas contra o capital, os monopólios e os
latifúndios – que representem de fato enfrentamento com o nosso capitalismo tupi-
niquim, e que permitam iniciar um processo diferente, de construção do socialismo.
As medidas
Defendemos, entre outras propostas:
- Fora FHC – Eleições já!!
- CPI das privatizações;
- Ruptura com o FMI;
- Não pagamento da dívida externa;
- Não pagamento da dívida interna;
- Democratização dos meios de comunicação; quebra do monopólio da Globo;
- Apoio à criação de rádios e TVs comunitárias;
- Reforma Agrária nos moldes reivindicados pelo MST;
- Reestatização das empresas privatizadas;
- Estatização do sistema financeiro;
- Aumento dos impostos para os que ganham mais; criação do imposto sobre gran-
des fortunas;
- Programa de grandes obras públicas de infraestrutura;
- Investimentos maciços e emergenciais em saúde, educação e habitação.
zar recursos (cada vez mais escassos), deve fazer “parcerias” com a “sociedade civil”
para que esta assuma as escolas e universidades públicas.
Na verdade, a reforma educacional implementada pelo MEC, desde o primeiro
mandato de Fernando Henrique só tem um objetivo: desmontar o sistema público
de ensino superior e aumentar o bolo do ensino privado. Não é casual que, nos úl-
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TESES DA TENDÊNCIA PETISTA ARTICULAÇÃO DE ESQUERDA AOS CONGRESSOS DA UNE (1995-2021)
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O BRASIL, A UNIVERSIDADE E O MOVIMENTO ESTUDANTIL
(Racionais)
Diferente da Europa e dos EUA, o sistema universitário brasileiro é bem novo.
Foi durante o regime militar e início dos anos oitenta, que se constituiu a maioria
das universidades públicas brasileiras – federais e estaduais.
Era a época do “Brasil-grande”, do Brasil-potência. Interessava às elites e aos
n 46o CONGRESSO DA UNE
militares construir uma estrutura estatal que desse conta das necessidades de
desenvolvimento do país, de formar cientistas, de criar tecnologia. Petróleo, te-
lecomunicações, agricultura, aviação, uma série de setores deu saltos através da
pesquisa produzida principalmente nas federais, institutos independentes e nas
estaduais paulistas.
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Era uma estrutura estatal fechada, hierarquizada e tecnicista. A cara dos mi-
licos. Com a abertura, o movimento estudantil, dos professores e dos técnicos se
mobilizou e teve uma série de conquistas. Neste momento, o projeto da classe do-
minante estava em crise, bem como o projeto para a universidade. Construímos,
então, um outro projeto de universidade baseado na democracia, na participação,
na qualidade do ensino, na indissociabilidade entre ensino, pesquisa e extensão. A
ideia-força dos movimentos: é preciso mudar. Queremos uma universidade autôno-
ma, para a maioria, uma universidade democrática, uma universidade cidadã para
os trabalhadores, a serviço da transformação social.
Houve avanços, principalmente na conquista da paridade ou mesmo do voto
universal na eleição dos dirigentes universitários. Ou na discussão da autonomia
universitária. Ou no debate sobre projeto de universidade. Ou na garantia de um
plano nacional de carreira para professores e funcionários e na exigência de con-
curso público para ingressar nas universidades. Simultaneamente, a construção de
vários programas de extensão com participação do ME, tentava aproximar a univer-
sidade das necessidades da maioria da população. Começava a se formar um caldo
progressista no interior das universidades públicas brasileiras. Anos 90. A escalada
neoliberal vem com tudo pra cima das universidades. O programa da direita é co-
erente. Vamos privatizar. E começou o desmonte. O corte de verbas é progressivo.
A cada ano nossos laboratórios não têm frascos. A cada ano nossos livros nas bi-
bliotecas não são repostos. As assinaturas dos periódicos, atrasadas. Os salários
dos professores, sem aumento. O governo proíbe contratar novos professores, pre-
cariza a relação de emprego. As bolsas de pesquisa e pós-graduação, congeladas
também (e em número cada vez menor). O tempo dos mestrados e doutorados,
reduzidos – e ainda puseram o gerentão Bresser Pereira para acabar de vez com o
CNPq. O preço das refeições nos Restaurantes Universitários, onde eles ainda exis-
tem, cada vez maior. Os alojamentos ou moradias, deteriorados, com menos vagas,
sem construção de novos.
Os Hospitais Universitários são um caso à parte. Com a destruição geral da
saúde pública, acabaram se transformando – em várias regiões – no último lugar
de socorro da maioria pobre, dos sem-plano de saúde. E dá-lhe corte de recursos
para os Hospitais. Crises permanentes, recorrentes. Dramas repetidos e cotidianos.
Há muito os HUs estão deixando de ser espaço de ensino-pesquisa-extensão e se
transformando em megapostos de saúde desaparelhados. E agora inventam nova
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de juros. Paulo Renato quer criar uma Agência Nacional de Crédito, com recursos
dos banqueiros e do Banco Mundial. Criar dependência de quem precisa estudar
para com o sistema financeiro, que vai tratar os estudantes como um cliente qual-
quer, ou seja: exploração total. Por que no lugar desta armação não se investe em
criação de vagas nas universidades públicas?
Somos radicalmente contra entregar para os banqueiros o crédito aos estu-
dantes. Por isso, defendemos, emergencialmente, uma total reformulação do
CREDUC, baseado em alguns princípios. Defendemos:
- Nenhuma verba orçamentária/pública para as particulares. Verba pública só
para universidade pública. Que o dinheiro do crédito ao estudante venha de ex-
trações especiais de loteria e dos recursos compulsórios depositados pelos bancos
no Banco Central;
- Criação de um Fundo Nacional que financie o crédito ao estudante – fundo admi-
nistrado com a participação dos estudantes, governo e faculdades;
- Que em cada instituição haja uma Comissão de Seleção dos beneficiados com a
participação estudantil;
- Que só recebam recursos as faculdades que oferecerem pelo menos 30% de bolsas
com recursos próprios;
- Que todas as particulares sejam obrigadas a destinar um percentual de seus lucros
a bolsas de ensino;
- Que o aluno possa renegociar a dívida se demonstrar incapacidade de pagamento;
- Prazo maior para o estudante começar a pagar a dívida;
- Juros subsidiados para os empréstimos.
RECONQUISTAR A UNE
(Titãs)
Vinte anos depois de sua refundação, nossa UNE parece uma senhora que vive
de memórias de tempos antigos. Apática, enferrujada, dura, imóvel, impermeável,
triste. Podemos escolher um monte de adjetivos para dizer como anda nossa entida-
de, mas talvez um deles sintetize bem o estado atual: a UNE, hoje, está totalmente
burocratizada.
n 46o CONGRESSO DA UNE
Mas isto não é um fenômeno natural, obra do acaso. Existe uma crise geral
nos movimentos sociais na década de noventa, isto é verdade. Existe uma dificul-
dade crescente de mobilização por conta da crise geral, isto também é verdade. O
Movimento Estudantil tem de mudar, reinventar formas de organização, se renovar,
saber dialogar com a grande massa de estudantes. Concordamos com isto também.
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TESES DA TENDÊNCIA PETISTA ARTICULAÇÃO DE ESQUERDA AOS CONGRESSOS DA UNE (1995-2021)
Só que existem responsáveis por uma política, que, ao invés de nadar contra
a maré ruim – e tentar inclusive reaprender a nadar – se deixa levar e, às vezes, até
ajuda esta maré. Estamos falando da maioria da direção da UNE, dos companheiros
que, desde 1991, dirigem a entidade. Estamos falando da União da Juventude So-
cialista (UJS), ligada ao PCdoB.
A UJS não só burocratiza cada vez mais a UNE, como também leva a entidade
para a apatia e para políticas de conciliação, o tempo todo. São dois movimentos:
por um lado, fecham a estrutura, se distanciam dos estudantes e transformam a
UNE num imenso departamento de emissão de carteirinhas. Por outro lado, agra-
dam a Itamar Franco, indicam pessoas para participar do viciado Conselho Nacional
de Educação e boicotam as mobilizações que teimam em continuar acontecendo,
como no episódio da greve das federais em 1998.
Aliás, a questão do Conselho Nacional de Educação é bem ilustrativa desta
postura conciliadora. Este Conselho é braço do MEC e implementa sua política.
Nenhuma entidade da comunidade universitária o reconhece como espaço demo-
crático, não participam, nem indicam ninguém para participar deste convescote.
Ah, mas para a UJS/PCdoB/Refazendo aquilo ali é um “espaço em disputa”. É, o chá
dos amigos do Paulo Renato virou conselho disputável...
Para realizar uma política de “centro-esquerda”, conciliadora, e manter o con-
trole do movimento a qualquer custo, a UJS não tem poupado esforços, levando o
movimento estudantil a tensões permanentes, levando a própria UNE ao descrédito
total perante grande parcela dos estudantes. E ainda inventam propostas autoritá-
rias para mandarem mais fácil. Foi assim com os famigerados “funis” (que acabavam
com as eleições dos delegados ao Congresso da UNE pela base), rechaçados pelos
estudantes do CONEB de Viçosa.
Os estudantes a todo momento se perguntam: onde está a UNE? Não conse-
guimos enxergar iniciativas, não conseguimos ver a entidade. A UNE não tem plano
de lutas, não tem política de comunicação, não acompanha os projetos privatistas
a todo momento votados no Congresso Nacional, não se comunica com as entida-
des de base, não convoca os fóruns do movimento. Custam a reunir até a diretoria.
Fazem CONEGs (Conselho Nacional de Entidades) uma vez por ano, e olhe lá. Já o
CONEB (Conselho de CAs e DAs) só aconteceu uma vez (novembro/98) desde que
a UJS domina a UNE. Foi o primeiro CONEB em oito anos. E ainda tentam trans-
n 46o CONGRESSO DA UNE
formar o Congresso – que só acontece de dois em dois anos – num grande circo,
impedindo debates e tratando os delegados como “gado marcado”.
São constatações óbvias e rápidas, mas que já nos permitem uma conclusão.
Está falida a atual hegemonia da UJS. Não tem base no movimento real, não tem
respaldo nas ruas, não articula mais nada. Não tem representatividade.
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O BRASIL, A UNIVERSIDADE E O MOVIMENTO ESTUDANTIL
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TESES DA TENDÊNCIA PETISTA ARTICULAÇÃO DE ESQUERDA AOS CONGRESSOS DA UNE (1995-2021)
que parece simpática, mas é boba e despolitizada. Não discute as causas da violên-
cia, não denuncia o sistema, nem os meios de comunicação. É só aparentemente
simpática, mas politicamente conservadora. Tanto assim que recebeu o apoio da
Globo e de toda a classe média reacionária. Na hora de chamar para a luta, vimos
nossa entidade clamando por uma “paz” vazia, conformista, pelega mesmo. Um
tiro no pé, esta campanha. Único objetivo: dar espaço na mídia para os diretores
da UNE.
A UNE nunca esteve tão longe dos estudantes e afastada da luta que nesta
gestão. Mas a gestão de Capelli é só o desfecho do fracasso da política da UJS nos
últimos anos. A política da UNE tem se baseado somente no marketing e na estrutu-
ra de carteiras conquistada. Se perguntarmos qual o papel da entidade nas últimas
grandes mobilizações, veremos que a UNE não esteve no centro de nenhuma, no
máximo pegou carona – quando não atrapalhou! Qual foi o papel na Marcha do
MST no dia 17? Qual foi o papel da UNE na greve dos servidores da federais? Qual
foi o papel da UNE na última eleição?? Qual foi o papel da UNE na greve dos es-
tudantes?? Qual foi o papel da UNE nas várias lutas que ocorreram no interior das
universidades, como ocupação da reitoria da UFRJ? Na verdade, nos lembramos da
UNE mais pela sua ausência e pelas famigeradas carteiras.
E por aí vai, poderíamos gastar mais páginas fazendo o tal “balanço” desta ges-
tão. Mas nem precisa tanto. Quem viveu sabe o tamanho do buraco onde a UJS tem
metido nossa entidade.
Quem partidariza, cara pálida?
E já que falávamos em cara-de-pau, vamos destacar mais uma sandice escrita
na tese da Refazendo e constantemente repetida. Todo mundo sabe que a UJS é a
juventude do PCdoB – embora às vezes eles neguem isto, para trazer gente nova.
Até aí nenhum problema. Não somos contra a participação dos estudantes
em partidos políticos, nem contra a organização de juventudes partidárias. Pelo
contrário. Os partidos políticos progressistas têm compromissos com a transforma-
ção social e com a construção dos movimentos – sindical, popular, estudantil. Por
isso atuam nestes movimentos e defendem, através dos militantes dos movimentos
filiados a cada partido, suas propostas. O movimento estudantil é, portanto, plu-
ral, deve ter espaço para os estudantes organizados em partidos e para os que são
independentes. Não pode e não deve ser “neutro”, ou apolítico. Tem que ter po-
sições, ter lado. O que devemos fazer é lutar para preservar a democracia interna
n 46o CONGRESSO DA UNE
do movimento.
O que não admitimos é o aparelhismo. Ou seja, militantes de um ou outro
partido se apoderarem da entidade estudantil, sufocarem a democracia interna, se
beneficiarem da estrutura e até das finanças da entidade em proveito do partido
político. Isto está errado e deve ser combatido. Agora, responsa rápido: quem di-
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O BRASIL, A UNIVERSIDADE E O MOVIMENTO ESTUDANTIL
rige a UNE hoje?? Quem aparelha a UNE? Quem partidariza a UNE? Quem montou
um balcão de carteiras lucrativo, que gera recursos que ninguém sabe direito para
onde vai??
Se você respondeu UJS, juventude do PCdoB, acertou. A UJS/PCdoB/Refazen-
do consegue ao mesmo tempo ser responsável pelo maior aparelhamento que a
entidade já passou em toda a sua história e ainda por cima tem a coragem de escre-
ver na sua tese que é contra o partidarismo, e que a oposição defende uma entidade
fechada. Por isso, o troféu cara-de-pau. Na verdade, fazem um discurso despolitiza-
do, bobo, que tem um único objetivo: convencer aquele estudante desprevenido,
que não conhece a história inteira, que eles são bonzinhos, amplos, democráticos,
apartidários, e blá, blá, blá... e a oposição é sectária, partidária, ranzinza.
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TESES DA TENDÊNCIA PETISTA ARTICULAÇÃO DE ESQUERDA AOS CONGRESSOS DA UNE (1995-2021)
( Jimmy Cliff )
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O BRASIL, A UNIVERSIDADE E O MOVIMENTO ESTUDANTIL
Mas chega de mazelas. O 46º Congresso da UNE pode alterar os rumos do Mo-
vimento Estudantil. Existe uma alternativa à falência da atual maioria. Alternativa
que não surge nos aparelhos ou na cúpula, mas surge da luta, do contato direito
com os estudantes nas salas de aula, das mobilizações. Uma alternativa para romper
as amarras que prendem a UNE, libertá-la do hegemonismo estéril e burocrático e
começar a modificá-la dos estudantes de verdade.
Rompendo Amarras: por um movimento estudantil democrático e de lutas é
um movimento, surgido depois da experiência vitoriosa da greve das federais, que
agrega vários DCEs, Executivas de curso, DAs, estudantes independentes, militantes
de diversas correntes políticas. Mas todos com um objetivo comum: reconquistar a
UNE. Democratizá-la, acordar este verdadeiro “gigante adormecido”. Colocar nossa
entidade nas ruas, lutando contra Fernando Henrique.
Colocar nossa entidade presente nas faculdades e universidades. Mantê-la em
contato com os estudantes, propondo, liderando, mobilizando. Defender a assis-
tência estudantil, debater a autonomia universitária, garantir que o inadimplente
estude, incentivar a formação de CAs e DAs, se articular nacionalmente com a AN-
DES e FASUBRA, discutir cultura, encaminhar debates e projetos de extensão, se
aproximar dos movimentos sociais, principalmente do MST. Enfim, queremos a
UNE viva.
Mas não estamos parados esperando isso acontecer. Enquanto a UNE não faz,
e enquanto não chega o dia do Congresso, estamos construindo o movimento, fa-
zendo mobilização, impulsionando lutas. Rompendo Amarras não foi construído
somente para disputar e ganhar o Congresso da UNE (o que já seria uma tarefa no-
bre), mas para, na prática, instituir uma referência para os estudantes mesmo sem
ser maioria na entidade. É por isso que assustamos a UJS. É por isso que tentam
nos desqualificar. Porque sabem que estamos, devagar, juntando gente, politizando,
nos credenciando enquanto oposição na luta, não oposição somente de Congresso.
E somos diversos, plurais, temos divergências entre nós. E esta é a nossa ri-
queza, porque estamos conseguindo construir, dentro das diferenças, um espaço
de debate, o espaço dos inconformados, que querem outra UNE. Acreditamos que
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TESES DA TENDÊNCIA PETISTA ARTICULAÇÃO DE ESQUERDA AOS CONGRESSOS DA UNE (1995-2021)
textos anteriores do movimento e no texto com a síntese das ideias do bloco escri-
to para o 46º Congresso da UNE.
Até Belo Horizonte, onde daremos um passo para reconquistar a UNE e ajudar
a mudar o Brasil! Um forte abraço!
n 46o CONGRESSO DA UNE
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O BRASIL, A UNIVERSIDADE E O MOVIMENTO ESTUDANTIL
AVALIAÇÃO
Mesmo com todo este aparato em ação, a vitória do PCdoB e sua chapa Refa-
zendo (da qual, diga-se de passagem, fazem parte – além do PSB, PCB e PDT – o
PTB e outros setores de direita) tiveram apenas 52% dos votos (ver box). Ou seja,
5. : Página 13, n. 4, jun.-set. 1999, p. 17.
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nem tudo são flores para “nova” maioria da UNE, que vai ter que se defrontar com
um bloco de oposição de esquerda consolidado, alternativa real à sua hegemonia.
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O BRASIL, A UNIVERSIDADE E O MOVIMENTO ESTUDANTIL
TESE
RECONQUISTAR A UNE
ROMPENDO AMARRAS
UNIFICAR A OPOSIÇÃO
POR UMA UNE DEMOCRÁTICA E DE LUTAS
(Cazuza, Burguesia)
APRESENTAÇÃO
Mais uma vez nos encontraremos, agora em Goiânia, de 13 a 17 de junho. Va-
mos para o 47º Congresso da União Nacional dos Estudantes (UNE), o espaço mais
importante do movimento estudantil brasileiro. Momento privilegiado para discu-
n 47o CONGRESSO DA UNE
tirmos o mundo, o nosso país, o buraco em que nos meteram. Hora de debater o
movimento estudantil, seu papel, seu potencial de mudança, sua crise, afinal.
Cada vez fica mais claro que não é esse o mundo e o Brasil que queremos. Não
é essa também a universidade que nos serve. Precisamos construir o novo. O movi-
mento estudantil é um meio importante para lutar por outro Brasil e outro mundo.
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TESES DA TENDÊNCIA PETISTA ARTICULAÇÃO DE ESQUERDA AOS CONGRESSOS DA UNE (1995-2021)
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O BRASIL, A UNIVERSIDADE E O MOVIMENTO ESTUDANTIL
mador para a universidade brasileira; que faça o debate na sala de aula, que seja
referência para os estudantes. Para tanto é necessário derrotar a atual maioria, e,
ao mesmo tempo, começar a reconstruir e revolucionar o movimento estudantil.
Para essa tarefa – que não começou e não vai acabar em Goiânia – é preciso
unificar todos os que defendam uma entidade de lutas e democrática, incluindo
setores importantes que não compõem a atual frente Rompendo Amarras. Vamos
elevar o nível do debate e ajudar a fazer do 47º CONUNE um momento fundamen-
tal na articulação das lutas dos estudantes brasileiros. Queremos trazer de volta as
melhores tradições da UNE. Fazer diferente, mudar a cara do movimento estudan-
til. Reconquistar a UNE para o conjunto dos estudantes, reconquistá-la para a luta.
Contamos com você nessa batalha. Nos vemos em Goiânia! Até lá!
(Renato Russo)
Há dez anos atrás eles nos diziam que a história tinha acabado, que, após a
queda do muro de Berlim, os grandes conflitos estavam todos resolvidos. Entraría-
mos numa era de paz, e prosperidade, regida pelo livre mercado, sob liderança dos
EUA: seriam os anos dourados do neoliberalismo.
Quanta bobagem!!
Nas greves, nas mobilizações, nas selvas de Chiapas, nas ações do MST, nos
protestos da juventude, em Seattle, em Praga, em Québec e Buenos Aires, na luta
das FARC, nos 500 anos de resistência indígena, negra e popular, em todas estas
lutas e de muitas outras formas, a humanidade reage à imposição da globalização
neoliberal, e à ideia de que o mercado capitalista é o senhor de todas as coisas.
Nos últimos dez anos, o mundo inteiro só se tornou mais pobre, mais doente e
mais violento. A cada dia fica mais evidente a total incapacidade do capitalismo neo-
liberal de promover a prosperidade para todos: o aumento de taxa de desemprego,
dos conflitos armados, a crescente polarização da sociedade entre ricos (cada vez
mais ricos) e pobres (cada vez em maior número e mais pobres) e o brutal aumen-
to do peso do capital financeiro em detrimento do setor produtivo, evidenciam o
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truído pela AIDS porque as multinacionais farmacêuticas não abrem mão dos seus
lucros exorbitantes.
Os grandes impérios, que supostamente garantiriam crescimento econômico
ininterrupto, estão em crise. O Japão vive estagnado há uma década. Os EUA ame-
açam mergulhar o planeta numa crise sem paralelo, que pode levar a devastação
financeira aos demais países, num cenário que muitos associam ao crash de 1929.
Para tentar diminuir o impacto da desaceleração de sua economia, os EUA
fazem de tudo para ampliar sua hegemonia política, econômica e militar sobre os
povos latino-americanos. Esta política sintetiza-se, hoje, em duas iniciativas: a Área
de Livre Comércio das Américas (Alca) e o Plano Colômbia.
Com a ALCA, os EUA querem aumentar suas exportações de bens e serviços e
seu saldo comercial com esta região. Ao mesmo tempo, ao adotar políticas restriti-
vas contra o livre trânsito dos trabalhadores – o que inclui o vergonhoso “muro” na
fronteira com o México –, os EUA mantém um “mercado de força de trabalho mal
remunerada” à sua disposição.
Ao aderir a Alca, cada país latino-americano sacrificará sua autonomia eco-
nômica (moeda, subsídios, compras governamentais, patentes) em troca de uma
suposta abertura do mercado norteamericano, para produtos primários e manufa-
turados com pequeno valor agregado. E o pior: as negociações “por cima” da Alca
correm em paralelo ao processo de dolarização de vários países do continente:
Guatemala, Equador, El Salvador, Argentina.
Já com o Plano Colômbia, o governo dos EUA tenta enfrentar o avanço das
guerrilhas colombianas, especialmente das FARC, bem como o governo Chávez na
Venezuela e a rebeldia social crescente no Peru e no Equador. Através dele, o go-
verno dos EUA pretende estabelecer seu domínio militar sobre a região amazônica,
cuja extraordinária importância em termos de biodiversidade, reservatório de água
doce, fonte de oxigênio e de jazidas minerais todo mundo conhece.
É por isso que é tão importante impulsionar a resistência latino-americana e
mundial. É por isso também que a grande novidade é a realização do Fórum Social
Mundial no Brasil, e em Porto Alegre, o anti-Davos, que enterrou de vez o “pensa-
mento único”, e bradou em alto e bom som: um outro mundo é possível!!
Durante cinco dias, reuniram-se forças das mais distintas origens e opiniões,
convergindo em torno da ideia de que é preciso construir outro mundo. Eviden-
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O BRASIL, A UNIVERSIDADE E O MOVIMENTO ESTUDANTIL
da verdadeira natureza desse governo, antes que a nossa luta tome aspectos de
combate a corrupção pura e simplesmente.
O primeiro ponto é que FHC não foi eleito presidente da República para go-
vernar o Brasil, tocar um projeto para a maioria dos brasileiros. Não. Foi eleito para
cumprir as metas determinadas pelo FMI, que por sua vez, receita o que receitam
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O BRASIL, A UNIVERSIDADE E O MOVIMENTO ESTUDANTIL
Algumas propostas:
- Fora FHC /FMI – CPI da corrupção e das privatizações;
- Ruptura com o FMI;
- Não pagamento da dívida externa;
- Não pagamento da dívida interna;
- Democratização dos meios de comunicação; quebra do monopólio da Globo;
- Apoio à criação de rádios e TVs comunitárias;
- Reforma Agrária, nos moldes reivindicados pelo MST;
- Reestatização das empresas privatizadas;
- Estatização do sistema financeiro;
- Aumento de impostos para os que ganham mais. Criação do imposto sobre gran-
des fortunas;
- Programas de grandes obras públicas de infraestrutura;
- Investimentos maciços e emergenciais em saúde, educação e habitação.
PAGAS
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Na década de 70, 81% das vagas era em universidades públicas e, hoje, esse
percentual é justamente o contrário, ou seja, praticamente 85% das vagas se encon-
tram em universidades particulares.
Se é verdade que a expansão do ensino pago faz parte do projeto neoliberal
que privilegia o privado em detrimento do público, então é certo que precisamos
de políticas efetivas de combate a isso.
Assim, temos que desmistificar os paliativos oferecidos pelo governo, que, no
desespero, às vezes são tidos como salvação pelos estudantes, como o FIES, que
nem mais custeio é, mas financiamento bancário. Além do escárnio que é a MP de
mensalidade, que regulamenta a expulsão do inadimplente da universidade.
Para começo de conversa, não dá para abrir mão de que a qualidade de ensino
seja garantida (e o que tem se visto são fábricas de diploma espalhados por todo o
país), e de que haja democracia interna, com eleição de dirigentes e participação
dos estudantes de forma paritária nos conselhos, além de um novo tipo de crédito
educativo que beneficie o estudante, e não a instituição, com verbas oriundas de
fundos não públicos, como loterias, depósitos compulsórios dos bancos no Banco
Central.
A campanha pela redução das mensalidades, que teve seu surgimento espontâ-
neo com os estudantes lutando por REDUÇAO JÁ! E pela garantia da permanência
de tantos inadimplentes na sala de aula, deve ser não só mantida, mas revitalizada.
Contudo, a atual direção majoritária da UNE mantém uma política vacilante,
aprovando, em seus fóruns, a campanha pela redução, mas trabalhando na defe-
sa da aplicação da legislação vigente (que proíbe aumentos “abusivos”) e fazendo
marketing de um convênio assinado com o Procon, como se ele fosse uma pana-
ceia, verdadeira redenção dos estudantes espoliados.
Não somos contra que os estudantes se utilizem de mecanismos como esse
convênio com o Procon, mas acreditamos que ele deve ser utilizado em última
instância, depois que a campanha de redução, paralisação e outras formas de luta
tiverem se esgotado.
Já o FIES deve ser combatido, e as entidades estudantis não podem – de forma
nenhuma – participar de seu Conselho (ConFIES), que é braço não só do MEC, mas
também das universidades pagas e Bancos.
O antigo Crédito Educativo era muito ruim, mas o atual FIES é inaceitável. Por
isso, defendemos que é preciso, emergencialmente, que se recriem mecanismos de
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Crédito Educativo que devem ser sustentados com verbas outras que não as públi-
cas. Por exemplo, é possível cobrar taxas dos donos de escolas pagas e, com elas,
custear o ensino de quem não consegue vagas em universidades públicas.
Todas essas lutas dos estudantes das escolas pagas têm um caráter emergen-
cial, de garantir a permanência na escola.
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O BRASIL, A UNIVERSIDADE E O MOVIMENTO ESTUDANTIL
Contudo, o grande eixo de luta, tanto do movimento das públicas, como das
pagas e dos estudantes secundaristas é a luta pela expansão do ensino público su-
perior, rumo à sua universalização.
É preciso lutar incessantemente pela garantia de ampliação do acesso às atuais
universidades públicas (com a criação de novas vagas, principalmente em cursos
noturnos) e lutar pela criação de novas universidades públicas, como as Universida-
des do ABC e da zona leste em São Paulo, ou a Universidade do Rio Grande do Sul.
PÚBLICAS
Racionamento de educação
Além do racionamento de energia, estamos vivendo há tempos um outro tipo
de racionamento, que, no entanto, ainda não apareceu na telinha da “amiga da es-
cola”, da Rede Globo.
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Um pouco de história
Foram duas as opções dos governos da ditadura militar para a educação supe-
rior: 1) expandir o sistema a partir do aumento indiscriminado do ensino privado,
tanto que, hoje, o Brasil junto com o Chile é um dos “campeões mundiais” do en-
sino privado; 2) constituir um sistema universitário público, sedimentado em um
modelo que dividia as diversas áreas do saber por profissões (modelo pedagógico-
-tecnicista), com o objetivo de dar suporte tecnológico e de recursos humanos ao
projeto nacional-desenvolvimentista implantado no período.
Passados 30 anos, o governo FHC, na sua lógica de inserção subordinada à
nova ordem imperialista, resolveu “abrir” a educação. Primeiro, abrir uma cruzada
contra as universidades públicas, e, depois, abrir mão das regras de controle e de
qualidade para que os empresários donos das escolas privadas enchessem os bol-
sos de dinheiro.
Os passos do governo
Em defesa do projeto neoliberal e sustentando a propaganda do Estado mí-
nimo, o governo FHC implanta estratégias fundamentadas na “racionalização” dos
processos de controle administrativo e financeiro, buscando a “produtividade” a
baixo custo e promovendo a privatização dos serviços das universidades, o que
chamamos de “privatização interna”. O objetivo é circunscrever o sistema federal à
sua dimensão de hoje, cortando arbitrariamente ações internas de manutenção das
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sob pena de ser punida com perda de financiamento. Ocorre que a “qualidade” é
definida como competência e excelência, cujo critério é o “atendimento às neces-
sidades de modernização da economia e desenvolvimento social”, e é medida pela
produtividade, orientada por três critérios: quanto uma universidade produz, em
quanto tempo produz e qual o custo do que produz.
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O BRASIL, A UNIVERSIDADE E O MOVIMENTO ESTUDANTIL
Novamente, como nos mostra Marilena Chauí: “...em outras palavras, os crité-
rios da produtividade são quantidade, tempo e custo, que definirão os contratos de
gestão. Observa-se que a pergunta pela produtividade não indaga: o que se produz,
como se produz, para que ou para quem se produz, mas opera uma inversão tipica-
mente ideológica da qualidade em quantidade”.
Resumindo a conversa: as universidades que se virem no mercado, porque o
governo não vai financiá-las. Produzam o que o mercado pedir, quiser ou impor.
Propostas:
OS HOSPITAIS UNIVERSITÁRIOS
Precisamos de uma postura firme contra a privatização a quem vem sendo sub-
metidos gradativamente estes estabelecimentos de educação e saúde.
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TESES DA TENDÊNCIA PETISTA ARTICULAÇÃO DE ESQUERDA AOS CONGRESSOS DA UNE (1995-2021)
de Saúde.
Essa luta específica, se articulada com as bandeiras gerais do movimento estu-
dantil e dos usuários de saúde, tem a capacidade de desnudar e combater a lógica
privatizante do neoliberalismo nos setores sociais.
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Fora, em 2000, de greves dos estudantes das federais, que o PCdoB votou para não
recair no erro de 1998, mas não participou nem jogou a estrutura da UNE para
apoiar o movimento.
Assim como naquela greve, a UNE (a sua maioria, melhor dizendo) esteve dis-
tante da greve das estaduais paulistas, da greve da UFBA, da UFPel etc.
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O BRASIL, A UNIVERSIDADE E O MOVIMENTO ESTUDANTIL
Além disso, as principais atividades que a UNE realizou foram bancadas, po-
lítica e estruturalmente, pela oposição, mais especificamente, pelos diretores do
Rompendo Amarras.
A Plenária das Públicas em Uberlândia, em 1999, o Seminário de Avaliação
Institucional, também na UFU, o comando de greve de 2000, a SBPC paralela, em
conjunto com ANDES e FASUBRA, o III Encontro Unificado do Setor das Federais,
o acampamento de juventude no Fórum Social Mundial...
Se é verdade que nessa gestão não houve nenhum grande vacilo, como hou-
ve em 1998 com o boicote da greve das federais, por outro lado, também nada de
marcante aconteceu.
As tentativas que houve nessa gestão para que a UNE volte a formular sobre
políticas educacionais ainda não desaguaram num acúmulo considerável, mas é
preciso reconhecer que o Plano Emergencial pode ser um caminho, se bem discu-
tido na base do movimento...
Apesar das jornadas de março, a UNE prossegue longe dos estudantes e afasta-
da da luta. A política da UNE continua ancorada principalmente no marketing e na
estrutura de carteiras. É só tentar enxergar qual o papel que jogou a entidade nas
últimas grandes mobilizações: a UNE não esteve no centro de nenhuma, no máxi-
mo pegou carona e potencializou-as.
Mas, tudo bem... Para a UJS, “agora só falta você” para eles continuarem “refa-
zendo” o que não conseguiram fazer até hoje!
Acabar com o balcão de carteiras e democratizar a UNE
Para reconquistar a UNE, além de derrotar a UJS/Agora Só Falta Você, vamos ter
que democratizar, reestruturar, abrir, convocar os fóruns regularmente, diminuir o
mandato da diretoria, fazer uma política de comunicação efetiva, investir em gru-
pos de trabalho, enfim, uma série de medidas deste tipo.
Não dá para imaginar que nossa entidade continue com uma estrutura tão
vertical, personalista, centrada na figura do presidente. É preciso acabar com o pre-
sidencialismo, onde só o “presidente” fala e representa a entidade. A diretoria deve
ser colegiada, com coordenação, divisão de tarefas, democracia interna. Aliás, como
já funcionam os nossos CAs e DAs, as executivas de curso, a maioria dos DCEs...
A comunicação é um gargalo permanente. Onde está a UNE? Ninguém sabe,
ninguém viu. Em época de revolução tecnológica, a UNE não tem nem conseguido
distribuir maciçamente um boletim impresso regular. Mudar isto é urgente. O con-
n 47o CONGRESSO DA UNE
vênio com a zip.net, criando a estudantenet, serviu para quê? Alguém viu?
Mas há um outro debate fundamental e que está relacionado com o combate à
burocratização: a forma de financiamento da entidade.
Aí é que entra a questão das carteirinhas. Nos últimos anos, transformaram o
direito à meia entrada na obrigação de adquirir carteira da UNE/UBES. Ao vincular
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Política de comunicação
Outra medida que a UNE deve tomar em sua gestão é construir uma política
sistemática de comunicação. Para isso, é importante a criação de uma Assessoria de
Comunicação, ou algo do gênero, integrada à Diretoria de Comunicação. Essa as-
sessoria deve produzir:
a) Um boletim informativo que tenha como objetivo colocar os estudantes
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O BRASIL, A UNIVERSIDADE E O MOVIMENTO ESTUDANTIL
AVALIAÇÃO
6. : documento impresso, disponibilizado por José Ricardo Fonseca em formato digital.
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TESES DA TENDÊNCIA PETISTA ARTICULAÇÃO DE ESQUERDA AOS CONGRESSOS DA UNE (1995-2021)
executiva da UNE, sendo que esta última fazia parte da executiva que encerrou seu
mandato no 47º Congresso.
O PCdoB venceu com folga mantendo a linha de uma política de alianças ex-
tremamente pragmática, sem nenhum problema de inclusão de todos os setores da
direita do movimento estudantil em sua chapa. Venceu porque tinha controle abso-
luto do Congresso. Pela primeira vez, ao que temos conhecimento, tinha maioria
isolada em todas as comissões: organização, credenciamento e sistematização. Venceu
por seus métodos golpistas e aparelhistas, com delegados “eleitos” de forma duvidosa
e boa parte chegando ao Congresso só para votar na plenária final, esvaziando o deba-
te e os grupos de discussão. Venceu porque tem uma enorme experiência acumulada
na mesma e no seu trabalho com a juventude. Mas venceu, fundamentalmente, pela
sua intervenção partidária no ME e pela crise de intervenção do PT.
Como contribuição inicial ao debate, propomos:
- Reunir, a partir de um chamamento da direção do Partido, os novos direitos petis-
tas que assumirão a entidade, se possível com os que terminam seu mandato, para
construir um balanço comum do congresso e iniciar um debate sobre a intervenção
do Partido no ME, a começar com um planejamento da gestão;
- Orientar um esforço partidário de elaboração sobre a situação educacional e uma
análise atual da base social da UNE e da juventude brasileira;
- Construir as condições para a recomposição da unidade da intervenção da juven-
tude do partido, a começar pela sua setorial, com atenção e acompanhamento da
direção do Partido ao encontro previsto da mesma;
- Anunciar ao conjunto do partido, a começar pela sua juventude, a necessidade
de se construir desde já as condições para disputar o 48º CONUNE e da entidade
ser dirigida pelo PT;
- Demonstrar o imediato acompanhamento partidário da entidade, aprovando nota
de repúdio às agressões feitas por militantes e seguranças pagos da UJS à militantes
do PT que no Congresso estavam.
Adriano de Oliveira – vice-presidente da UNE gestão 99/2001
Daniela Matos – diretora de relações internacionais da UNE gestão 99/2001
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48o Congresso da UNE
Goiânia (GO), 18 a 22 de junho de 2003
TESE
RECONQUISTAR A UNE
EPÍGRAFE
Por que então nos encontramos aqui de novo? Porque aqui é nosso lugar.
Os velhos e os novos guerreiros, com nossas lanças, burricos, escudos, sanchos e
panças. E continuamos tão teimosos quanto antes. Tão cheio de sonhos e ideias
malucas quanto antes. Absolutamente convencidos de que é preciso construir ou-
tro mundo.
É verdade que muitos tem desistido no meio do caminho. Isso acontece. É
verdade também que outros talvez tenham mesmo é mudado de lado. Outros mui-
tos estão decepcionados. Não deixam de ter sua razão. Afinal, foram duas décadas
(e milhares de pequenas e grandes batalhas) para tentar galgar os muros daquele
planalto seco.
Nós também estivemos nestas batalhas – em corpo, em alma e em identifi-
cação. Só que o sistema de moer gente viva não foi desmontado – nem mesmo
arranhado. Dono de banco continua contando dólar. A máquina de guerra do im-
pério está mais eficiente e cruel.
E nem todos acordaram ainda. Nós fazemos parte daqueles que nunca acre-
ditaram que apenas registrar votos eletrônicos de quando em vez iria construir o
mundo justo com o qual sonhamos. Somos daquela turma que nunca cultivou lí-
deres iluminados e que sempre preferiu as ruas aos gabinetes com ar-condicionado
e tapetes verdes aveludados. Daqueles que nunca negaram – pelo contrário – os
pequenos avanços. Sem transformar esses necessários e diminutos avanços em nos-
sa meta final.
Queremos então avisar e gritar bem alto: não mudamos de lado. E continu-
amos chamando as coisas pelo seu nome. Direita é direita, esquerda é esquerda.
Todo projeto e toda ação estão a serviço de uma classe. Tirar direito não é fazer
justiça. O neoliberalismo não acabou. O governo FH teima em não terminar, alma
penada arrastando suas correntes pelos corredores da capital.
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O BRASIL, A UNIVERSIDADE E O MOVIMENTO ESTUDANTIL
APRESENTAÇÃO
Surgimos em 1995, há 8 anos apenas. Naquela época, conformávamos um
campo, denominado “Não Vou me Adaptar”, onde permanecemos até o Congresso
de 1997. Em 1998, uma greve vitoriosa dos estudantes, sem a participação da UNE,
desaguou na construção do bloco de esquerda, o “Rompendo Amarras”, do qual
fomos protagonistas, até seu fim.
De lá pra cá, construímos a “Reconquistar a UNE”, a partir de 1999. Em cada
canto do Brasil, em cada manifestação estudantil, em cada greve, em cada reivin-
dicação: lá estamos nós! Somos aqueles que acreditam que movimento não se faz
sem uma incessante luta contra a ordem estabelecida; somos aqueles que creem
que não se dá trégua aos donos do poder; somos aqueles que militaram incessante-
mente pela vitória de Lula e do PT, nas eleições de 2002; somo, ainda, aqueles que
acreditam que transformações se fazem por dentro dos partidos e, por isso, nossa
opção é pelo partido da classe, o Partido dos Trabalhadores, sejamos nós militantes
orgânicos ou simpatizantes.
Afinal de contas, nossa luta é pela construção de uma nova sociedade!
MUNDO
A crise do capitalismo se agrava. A tal globalização, o tal neoliberalismo, o cha-
mado pensamento único mostraram sua face verdadeira: bombas, mísseis, invasão
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e mortes.
É tempo de guerra. Como nos velhos tempos coloniais, o império não precisa
mais de desculpas para atacar, invadir e pilhar um país.
Onde estão as tais “armas de destruição em massa” que o pateta Bush tão
categoricamente afirmava que o Iraque produzia? Sumiram? Ou já não existia há
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CONJUNTURA NACIONAL
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O BRASIL, A UNIVERSIDADE E O MOVIMENTO ESTUDANTIL
Transição ou continuidade?
O governo Lula herdou um país no qual as reformas feitas pelo governo FHC
resultaram numa profunda intervenção na vida econômica, social e política. Elas
foram tão radicais, que alteraram vários setores da cadeia produtiva aqui instalada,
desnacionalizaram a economia e favoreceram a supremacia do capital financeiro.
Como resultado, tivemos o Brasil recorrendo por três vezes ao FMI em oito
anos e a duplicação das nossas dívidas interna e externa, num patamar em que o
próprio pagamento de juros e serviços serve como um torniquete ao investimento
estatal.
Diante deste quadro, para a esquerda só restava duas alternativas diante da
vitória eleitoral: fazer uma transição negociada rumo a um novo modelo ou partir
n 48o CONGRESSO DA UNE
para o enfrentamento e ruptura com o grande capital. Nós sempre estivemos entre
aqueles que defendem a necessidade da ruptura com o FMI, com o imperialismo e
com o capital financeiro. Sempre defendemos que é necessário suspender o paga-
mento da dívida externa, reestruturar a dívida interna, estatizar o sistema financeiro
e fazer a reforma agrária, entre outras medidas.
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O BRASIL, A UNIVERSIDADE E O MOVIMENTO ESTUDANTIL
impostos no país. O principal ela deixa de lado: não tributa o grande capital. Não
faz os bancos pagarem imposto de verdade, não taxa as grandes fortunas, não taxa
os capitais especulativos, não aumenta o ITR para punir o latifúndio. Ou seja: a re-
forma tributária como foi proposta apenas “maquia” uma coisa e outra e não faz o
que um governo popular deveria fazer: impor a progressividade como princípio e
tornar a estrutura tributária um mecanismo de distribuição de renda. Ou seja: fazer
com que os mais ricos paguem o suficiente para o Estado brasileiro financiar saúde,
educação, transporte e políticas sociais para toda a população.
Agora, a reforma da previdência como foi proposta, é um grande absurdo.
Uma grande contradição, porque vem de um governo que deveria fortalecer o ser-
viço público e ampliar o alcance das políticas sociais. Mas o viés da reforma é outro:
é economizar recursos, e para isso, sua diretriz fundamental é retirar direitos. Nin-
guém discorda de que é preciso mudar a previdência, mas mudá-la para aumentar
o valor dos benefícios, para incluir mais gente no sistema, para cobrar dos grandes
devedores.
Infelizmente, essa reforma apresentada tenta fazer aquilo que FHC não con-
seguiu, porque foi impedido por nós. Para conseguir isso, é feita uma verdadeira
demonização dos servidores e do serviço público, transformando-os nos inimi-
gos da nação. Engraçado, porque enquanto isso, os banqueiros continuam rindo
à toa com os juros de 26,5%! Para as universidades públicas, essa reforma é par-
ticularmente perniciosa. E só o seu anúncio já provocou uma nova corrida por
aposentadorias, atingindo ainda mais a qualidade do ensino público.
O que mais tem despertado a atenção nesta reforma é a taxação dos servidores
inativos. Ela pune aqueles que trabalharam toda uma vida e que, na velhice, lutam
para viver com dignidade. Mas esta não é a face mais polêmica da proposta original
de reforma. Sob o argumento de se fazer justiça social, o governo busca estabelecer
um teto nas aposentadorias milionárias de eternos privilegiados. Mas, ao nivelar as
aposentadorias em bases pouco superiores a R$ 1 mil, o que ocorre, na verdade, é
que o filé mignon das contas, aquelas mais elevadas, cuja arrecadação ajuda a redu-
zir possíveis déficits, serão direcionadas para fundos de pensão privados. Ou seja,
uma quantia muito grande de dinheiro pode ser drenada para o sistema financeiro.
Na prática, é uma forma de se privatizar a previdência social. E isto não pode
acontecer, sob pena de colocarmos sob as leis do mercado um sistema que, com
todos os seus problemas, ainda beneficia indiretamente quase 70 milhões de bra-
n 48o CONGRESSO DA UNE
sileiros. Seria o desvio de recursos do sistema público para fundos privados, como
querem os banqueiros.
Aliás, falar em déficit da previdência por si só é errado, já que se trata de parte
do sistema de seguridade social, dever do Estado, com financiamento constitucio-
nalmente previsto. O suposto déficit anunciado pelo governo só existe por conta da
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Consequências
Esse cenário de desgaste acelerado da administração federal teria graves des-
dobramentos para a esquerda brasileira. Os sinais estão aí: os juros não caem, a
recessão bate às portas, o desemprego é recorde. Renomados intelectuais assinam
manifesto contra a reforma da previdência; deputados da esquerda petista exigem
“crescimento já”; duzentos economistas redigem manifesto por outra política eco-
nômica. Tem alguma coisa errada no ar. É preciso mudar o rumo, antes que seja
tarde demais.
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O BRASIL, A UNIVERSIDADE E O MOVIMENTO ESTUDANTIL
Caminho da ruptura
Por seu caráter sistêmico, não existem saídas setoriais ou parciais ao neoli-
beralismo. Mesmo medidas específicas – sobre as questões do endividamento,
privatização, reforma agrária etc. – só terão potencial estruturante se tiverem um
nítido viés anticapitalista. Nesse caso, o importante é o conteúdo o mais avançado
possível das reformas e o método educativo, organizador e mobilizador de lutar por
elas. As reformas progressistas, pensadas e implementadas do ponto de vista do tra-
balho e não do capital, não devem ser valorizadas por si mesmas, mas como passos
em busca de uma nova sociedade.
Medidas assim implicarão tensões, fugas de capital, chantagens por parte do
sistema financeiro etc. O governo e o partido podem tomar medidas preventivas
para que o preço a pagar seja o menor possível. Mas não existem paliativos. É im-
possível lutar por mudanças sociais sem “assustar os mercados”.
Disputar a agenda
Portanto, o governo Lula só pode dar certo se atacar o capital e favorecer as
maiorias. O nosso papel é, portanto, disputar nossos interesses e denunciar todas
as ações do governo que sejam mera continuidade.
Precisamos disputar nossa agenda na sociedade, denunciar os grandes capi-
talistas e, ao mesmo tempo, pressionar o governo para que não abandone seus
compromissos de campanha e não frustre o sentimento de mudança da maioria
dos trabalhadores!
Para isso, a UNE deve manter sua independência e autonomia. Nosso lugar é
nas ruas, nas salas de aula, no debate e na luta. Lutaremos contra tudo o que de
n 48o CONGRESSO DA UNE
errado o governo Lula tente fazer. E pressionaremos para que ele faça o que a maio-
ria do povo espera. Somente o movimento social organizado, com destaque para o
movimento estudantil, realizando mobilizações e luta política, será capaz de fazer
com que o governo Lula tome a direção correta. E a saída é, como dizia o Leão da
Montanha, pela esquerda.
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TESES DA TENDÊNCIA PETISTA ARTICULAÇÃO DE ESQUERDA AOS CONGRESSOS DA UNE (1995-2021)
EDUCAÇÃO
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O BRASIL, A UNIVERSIDADE E O MOVIMENTO ESTUDANTIL
madas na direção da mudança. Por outro lado, naquilo que envolve gastos a política
tem sido conservadora.
O ano começou com as verbas contingenciadas, impondo restrições às IFES.
Apesar da abertura de concurso para 2.000 docentes e 12.000 técnicos admi-
nistrativos, a insuficiência de vagas continuará agravada pela eminência da reforma
65
TESES DA TENDÊNCIA PETISTA ARTICULAÇÃO DE ESQUERDA AOS CONGRESSOS DA UNE (1995-2021)
cursos governamentais (vindos dos impostos pagos por toda a sociedade) não pode
estar em razão de ser ou a serviço de poucos.
Todas essas mudanças colocam as lutas pela transformação da universidade
brasileira em um novo patamar. É nesse sentido que defendemos a Reforma Univer-
sitária como bandeira principal de luta do movimento estudantil.
66
O BRASIL, A UNIVERSIDADE E O MOVIMENTO ESTUDANTIL
Mas o que deve ser reformado na universidade? Quais devem ser os pontos a
serem modificados?
A reforma universitária que defendemos visa democratizar e popularizar a uni-
versidade. Para isso, tal reforma deve partir de três eixos: 1) ampliação do acesso ao
ensino superior; 2) revolução pedagógica; e 3) gestão democrática.
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TESES DA TENDÊNCIA PETISTA ARTICULAÇÃO DE ESQUERDA AOS CONGRESSOS DA UNE (1995-2021)
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O BRASIL, A UNIVERSIDADE E O MOVIMENTO ESTUDANTIL
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TESES DA TENDÊNCIA PETISTA ARTICULAÇÃO DE ESQUERDA AOS CONGRESSOS DA UNE (1995-2021)
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O BRASIL, A UNIVERSIDADE E O MOVIMENTO ESTUDANTIL
tem ensino precário, não promovem pesquisa ou extensão, não têm laboratórios
ou bibliotecas básicas. São as universidades conhecidas como balcão de diplomas,
que abrem e fecham cursos de acordo com a lei da oferta e da procura, possuem
infinitos cursos “rápidos”, voltados para o mercado de trabalho (que não tem a
menor preocupação com a elaboração científica), são dispostas em estruturas que
mais parecem shoppings do que universidades. Enfim, são grandes mercados da
educação e da compra de diplomas.
O fato é que se faz necessário estabelecer o controle social sobre o ensino
pago, entendendo e diferenciando os serviços prestados por estas instituições. Não
se trata, aqui, de propor um modelo de regulação através de agências nacionais,
mas de proteger a maioria dos estudantes brasileiros encurralados pela necessidade
de estudar, e encarar o ensino superior pago, pela absoluta falta de vagas e condi-
ções estruturais da universidade pública.
Assim, precisamos de uma legislação que regulamente a atuação destas insti-
tuições, exigindo, para o seu funcionamento:
- Garantia do tripé ensino, pesquisa e extensão articulados;
- Um basta na injeção de verbas públicas nas instituições privadas;
- Pela qualidade de ensino;
- Pelo fim dos cursos de dois anos;
- Ampla democracia interna, com participação estudantil em todos os órgãos cole-
giados da instituição;
-Liberdade de organização sindical e estudantil. Chega de perseguição aos
dirigentes!
- Pela abertura dos livros caixas, publicação da planilha de custos;
- Controle na abertura de instituições de ensino pago e permanente avaliação da
qualidade dessas instituições;
- Redução de mensalidade!
- Inadimplência não é crime: pelo direito ao acesso e permanência nas universidades;
- Revisão dos estatutos e regimentos internos incompatíveis com a legislação federal;
- Garantia de espaço físico para a representação estudantil;
- Fim do FIES. Pela criação de um Fundo Nacional, que financie o crédito ao es-
tudante, administrado com a participação dos estudantes, governo e faculdades;
- Cassação do registro para instituições filantrópicas que não cumprirem as normas
n 48o CONGRESSO DA UNE
da lei;
- Que, em cada instituição, haja uma Comissão de Seleção dos beneficiados de bol-
sas, com a participação estudantil;
- Que só recebam recursos as faculdades que oferecerem pelo menos 30% de bolsas
com recursos próprios;
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TESES DA TENDÊNCIA PETISTA ARTICULAÇÃO DE ESQUERDA AOS CONGRESSOS DA UNE (1995-2021)
MOVIMENTO ESTUDANTIL
Nesta tese, não será possível apresentar uma ampla definição do que seja movi-
mento estudantil, justificar sua importância, delinear suas especificidades enquanto
movimento social e dissecar o funcionamento de suas estruturas, análises que nos
trariam elementos fundamentais para começar a resolver os problemas do ME. Mas,
com base nas nossas reflexões acerca dessas questões, iremos, aqui, nos ater a fazer
um simples balanço da UNE e, à partir disso, contribuir com o debate sobre a “crise
do movimento estudantil”, na tentativa de formular soluções capazes de colocar o
movimento estudantil em outro patamar de organização e intervenção social.
Cadê a UNE?
Hoje, a pergunta que muitos se fazem é porque um movimento que deixou
marcas e em muitos momentos da história deu demonstrações de força e capa-
cidade de interferir na conjuntura, alterando-a, hoje não consegue nem mesmo
responder a demandas simples de organização e funcionamento?
Que fatores perversos são esses que fazem hoje a entidade nacional dos estu-
dantes (UNE), patrimônio da história brasileira, viver uma crise que a muito deixou
de ser uma crise de representatividade e chega hoje a ser uma crise de legitimidade?
Ou seja, os estudantes não só não veem seus interesses representados, como
a maioria não reconhece a UNE enquanto sua entidade, enquanto seu instrumen-
to coletivo. Muitos acham que a UNE e o movimento estudantil, como um todo,
são propriedade de alguns, “os que mexem com política” ou “os estudantes pro-
fissionais”, e que, portanto, não devem se aproximar nem se envolver, já que não
é coisa sua.
Mas qual é o diagnóstico dessa crise? Ou melhor, que fatores determinam essa
crise? Atribuímos, então, à crise quatro fatores: 1) a direção imobilista e antide-
mocrática; 2) a estrutura anacrônica, verticalizada, centralizada e burocrática; 3)
a conjuntura desfavorável à organização coletiva; e 4) as especificidades próprias
n 48o CONGRESSO DA UNE
do ME.
O movimento estudantil possui singularidades enquanto movimento social.
É um movimento muito mais determinado pela conjuntura do que tem capacida-
de de intervir e atuar nela para alcançar seus objetivos, como outros movimentos
fazem. Portanto, se o cenário político-social é de ascensão das mobilizações, o ME
72
O BRASIL, A UNIVERSIDADE E O MOVIMENTO ESTUDANTIL
se mobiliza. Se não, ele pouca capacidade tem de sair do refluxo. Além disso, dife-
rentemente dos movimentos sindical, social e partidário, o movimento estudantil é
marcado por extrema dificuldade na transmissão de sua cultura, isto é, sua histó-
ria, seus métodos de organização. Em boa medida, tal fato deve-se à curta vida do
estudante na universidade (enquanto o sindicalista permanece 10, 20, 30... anos na
ativa, o estudante não fica mais do que 4 ou 5 anos na militância), desenvolvendo,
muitas vezes, um papel “transitório” nas universidades, o estudante despede-se do
ME, no geral, sem socializar ensinamentos, lições e experiências adquiridas coti-
dianamente para os que estão chegando, levando consigo este conhecimento para
outros espaços. Diz-se, assim, que o ME é um “laboratório” de militância e um “ce-
leiro de quadros”.
Além das dificuldades intrínsecas à sua lógica, o movimento enfrenta um
problema comum a todos os movimentos sociais: a conjuntura desfavorável à orga-
nização coletiva. Todos os militantes sociais sofrem, cotidianamente, a dificuldade
de organizar as pessoas numa sociedade impregnada pela ideologia liberal, basea-
da na lógica do individualismo, do consumismo, do imediatismo e da competição.
Que, aliás, foi bastante reforçada nos últimos anos pela hegemonia neoliberal.
É certo que, sem reconhecer as dificuldades da conjuntura e as singularidades
do ME, será difícil modificá-lo e superar suas debilidades de organização.
Contudo, uma boa parte dos problemas enfrentados pelo ME são fruto de uma
política: a política da direção majoritária da UNE, que é hegemonizada pela UJS (ju-
ventude do PCdoB). Esse setor do ME opera uma política aparelhista, imobilista na
UNE que paralisou a ação de organização das entidades estudantis e dos estudantes
nos últimos 13 anos.
Um balanço necessário
A sensação de quem participa pela primeira vez de algum fórum da UNE é
sempre frustrante: grupos de discussão inviabilizados, denúncias de fraude de de-
legados, bandeiras queimadas, brigas que chegam às vias de fato – confusão, muita
confusão, e pouca política!!!!
Propositalmente, a direção majoritária (UJS/PCdoB), vem transformando a
entidade numa UNE para poucos, que exclui de sua construção e participação a
maioria dos estudantes brasileiros, a maioria das entidades de base e dos DCEs.
A fórmula encontrada para manter a atual situação foi aumentar o aparelho,
construindo uma geração de militantes cuja atuação central é reproduzir o apara-
n 48o CONGRESSO DA UNE
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TESES DA TENDÊNCIA PETISTA ARTICULAÇÃO DE ESQUERDA AOS CONGRESSOS DA UNE (1995-2021)
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O BRASIL, A UNIVERSIDADE E O MOVIMENTO ESTUDANTIL
Nesse sentido, achamos que a primeira tarefa daqueles que querem mudar
o ME é derrotar a atual direção majoritária, porque ela se tornou um empecilho
para o avanço e organização do ME. É obvio que esse é um dos passos, pois, sem a
politização do conjunto dos estudantes e o seu envolvimento no movimento estu-
dantil através da organização das entidades de base e gerais, nada mudará no ME.
Além disso, não basta derrotar a direção majoritária por si só. É fundamental ter um
programa que apresente propostas concretas para a superação das debilidades do
movimento e aponte uma perspectiva de luta e reivindicações.
n 48o CONGRESSO DA UNE
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TESES DA TENDÊNCIA PETISTA ARTICULAÇÃO DE ESQUERDA AOS CONGRESSOS DA UNE (1995-2021)
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O BRASIL, A UNIVERSIDADE E O MOVIMENTO ESTUDANTIL
Mulheres
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TESES DA TENDÊNCIA PETISTA ARTICULAÇÃO DE ESQUERDA AOS CONGRESSOS DA UNE (1995-2021)
- Incentivar o debate sobre gênero nos meios de comunicação da UNE, como forma
de integrar homens e mulheres neste debate.
Negros e negras
diretoria da UNE;
- Realização de um seminário nacional “A questão da etnia nas universidades” para
discutir e aprovar políticas específicas e estratégias de atuação para a UNE;
- Incentivar o debate sobre as cotas para os negros(as) nas universidades, divulgan-
do nos meios de comunicação da UNE como forma de ampliar o debate.
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O BRASIL, A UNIVERSIDADE E O MOVIMENTO ESTUDANTIL
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TESES DA TENDÊNCIA PETISTA ARTICULAÇÃO DE ESQUERDA AOS CONGRESSOS DA UNE (1995-2021)
dariam uma chance de se livrar do seu problema, recebe do Estado apenas a trucu-
lência policial, que o mantém na posição de eterno e lucrativo consumidor.
Não é por acaso que algumas drogas são ilegais e outras são legais. Sabemos
que o álcool, o tabaco, alguns remédios vendidos legalmente têm mais potencial de
causar dependência do que várias drogas que hoje são ilegais. Então, porque esse
estigma sobre a maconha, o ecstasy, a cocaína e outros? Porque é melhor para quem
produz e comercializa essas drogas que elas sejam ilegais. É mais lucrativo.
Esse negócio movimenta, estima-se, um trilhão de dólares ano após ano. Ga-
nha de longe, em lucratividade, da produção e comercialização das drogas legais.
A altíssima lucratividade só existe PORQUE existe a proibição legal. A política mais
repressiva com relação às drogas é estimulada justamente pelos EUA, país líder
em consumo. Ou seja, além da repressão não funcionar, ela faz parte do aparato
policial-militar norte-americano. Funcionam juntos, numa mistura de interesses po-
líticos, econômicos e militares.
O consumo humano e consequentemente o comércio das drogas não deixa-
rá de existir no atual estágio da humanidade. Somente um moralista barato irá
proclamar que numa sociedade onde se consomem gigantescas quantidades de
drogas legalizadas não existirá demanda e mercado para outras drogas, estas não
legalizadas.
No exato instante em que a situação ilegal deixar de existir, contudo, a
lucratividade de tal negócio irá reduzir-se drasticamente. A história da máfia ítalo-
-estadunidense no período da “Lei Seca” demonstra claramente essa tese.
Defender a extensão da norma legal à produção e à comercialização das drogas
não significa fazer apologia de sua utilização. Ao contrário, defender a legalização
faz parte do combate à alienação das drogas, legais ou ilegais. Ao contrário de “dei-
xar rolar”, a extensão da norma legal à produção e comercialização das drogas,
destruindo a base material das quadrilhas que realizam o tráfico, permitirá uma
ação de saúde pública e de educação muito mais eficaz. As pessoas que adquiriram
a doença da dependência química só terão a ganhar com isso. Se no lugar do tráfico
auferindo lucros existir a ação governamental de esclarecimento, educação e saúde,
certamente muitas vidas serão salvas.
n 48o CONGRESSO DA UNE
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O BRASIL, A UNIVERSIDADE E O MOVIMENTO ESTUDANTIL
NÃO HÁ VAGAS
Ferreira Gullar
O preço do feijão
não cabe no poema. O preço
do arroz
não cabe no poema.
Não cabem no poema o gás
luz e telefone
a sonegação
do leite
da carne
do açucar
do pão
O funcionário público
não cabe no poema
com seu salário de fome
sua vida fechada
em arquivos.
So cabe no poema
o homem sem estômago
a mulher de nuvens
a fruta sem preço
n 48o CONGRESSO DA UNE
O poema senhores,
não fede
nem cheira
E a universidade?
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TESES DA TENDÊNCIA PETISTA ARTICULAÇÃO DE ESQUERDA AOS CONGRESSOS DA UNE (1995-2021)
AVALIAÇÃO
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O BRASIL, A UNIVERSIDADE E O MOVIMENTO ESTUDANTIL
para o próximo período; contudo, aprovou-se o dia 8 de julho como dia de luta do
movimento estudantil.
O PCdoB manteve sua hegemonia na UNE por mais dois anos, porém mudan-
ças ocorreram no interior da entidade. De sua chapa participaram o PPS, PDT, MR-8
e PCR. Além desses, fizeram parte da chapa o PTB (companheiro de chapa frequen-
te com a UJS) e o PFL, que nessa estreia teve a possibilidade inclusive de participar
da direção da entidade.
A executiva da UNE foi ampliada, de 11 para 13 diretores, sendo oito do campo
majoritário e cinco da oposição. Leve-se em conta que dentro da oposição existem
duas chapas: a do PT, com quatro diretores; e a do PSTU, com um diretor. Outra
mudança polêmica foi o aumento da proporção de estudantes para tiragem de dele-
gados. No último Congresso, a proporção era de um delegado para 600 estudantes
do curso; agora, foi aprovada a proporção de um delegado por 2000 estudantes no
curso. Isso deve diminuir em 25% o tamanho do Congresso. Essa medida dificul-
ta ainda mais a tiragem de delegados da oposição, pois sua inserção é maior em
grandes universidades, enquanto a UJS possui grande inserção nas pequenas uni-
versidades, nas quais essa proporção não influencia.
O Congresso mostrou um crescimento significativo da participação petista
na UNE. O PT dobrou o número de diretores na executiva da UNE, passando de
dois para quatro. Além de ter polarizado mais abertamente com a atual direção da
entidade.
Devemos reconhecer, porém, que o PCdoB caminha muito à frente do PT, em
termos de organização da juventude. Isso facilita sua estrutura para chegar ao Con-
gresso, diminui sua quebra de delegados e faz com que eles mantenham o controle
da plenária final. O fato de estar na direção do processo facilita, contudo, sua inter-
venção partidária na juventude é mais qualificada e preparada.
Para o próximo período, está posta a árdua tarefa de continuar construindo
a unidade petista na juventude e no movimento estudantil. Nossa bancada estava
convencida dessa política, o que gerou um grau de unidade e afirmação do PT. Por
muitas vezes, fomos a cara e a voz da juventude petista no Congresso. A política
adotada por nossa tese (“Reconquistar a UNE”) sempre deixou claro que somos um
campo petista e impulsionado pela Articulação de Esquerda. Essa clareza da tática
adotada para o Congresso foi importante para nosso crescimento. Em 2001 tínha-
n 48o CONGRESSO DA UNE
mos cerca de 270 delegados, em 2003 tivemos 464 delegados. Crescemos pouco
mais que o Congresso.
Os desafios dessa nova gestão da UNE são gigantes. A comissão de avaliação
institucional do MEC, responsável por construir a nova avaliação das universidades
brasileiras, já está funcionando a todo vapor e a presença da UNE já é cobrada. No
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TESES DA TENDÊNCIA PETISTA ARTICULAÇÃO DE ESQUERDA AOS CONGRESSOS DA UNE (1995-2021)
dia 8 de julho teve início a greve dos servidores públicos federais, que afeta forte-
mente as universidades brasileiras.
Assim como o MST vem fazendo, a UNE deve radicalizar na disputa dos rumos
do governo Lula. Somente com ampla mobilização dos movimentos sociais pode-
remos assegurar um governo de transformações. Sendo assim, essa gestão da UNE
deve estar ao lado dos trabalhadores e trabalhadoras que iniciam a greve a partir do
dia 8 de julho e deve também participar desse movimento com sua bandeira pró-
pria, que é a reforma universitária.
Cabe à UNE capitanear um amplo movimento de massa pela reforma uni-
versitária, que deve ter um conteúdo democrático, tendo como eixos principais a
ampliação do acesso, a qualidade, a autonomia, a democracia e a ampliação do fi-
nanciamento da universidade pública. Para que isso se consolide é necessária uma
mudança urgente nos rumos da política econômica do governo.
* Vice-presidente da UNE
n 48o CONGRESSO DA UNE
84
49o Congresso da UNE
Goiânia (GO), 29 de junho a 3 de julho de 2005
TESE
RECONQUISTAR A UNE
PARA A LUTA E PARA OS ESTUDANTES
OPOSIÇÃO
EPÍGRAFE
Pois agora já é 2005. E de novo nos encontramos no planalto goiano. As mes-
mas e outras, os mesmos e outros jovens. Meninas e meninos que não desistiram
ainda ou que acabaram de descobrir. Que a vida é luta. Ontem e agora. Porque o
amanhã espera pelos que lutam.
Nossas armas são poucas. Nossas vozes, nossas ideias, nossos gritos, nossas
almas, nossas pedras. Os inimigos são muito mais fortes e poderosos. Porque domi-
nam a máquina de moer gente. Dominam as fábricas de miséria e morte. O senhor
da guerra continua a sorrir estupidamente, vendo sangue iraquiano todos os dias,
e um pouquinho de sangue do seu povo também. Mas, não importa, ele sabe que
guerras dão dinheiro e movimentam o sistema a fazer milionários.
Já o novo senhor da batina, é mesmo igual ao outro. Não gosta das mulheres,
proíbe camisinha, amaldiçoa o aborto, persegue os iguais que se amam. E ainda é
amigo do senhor da guerra. Difíceis tempos. Acontece que muitos resistem, acon-
tece que resistimos. Sejam os franceses e holandeses que dizem não a uma Europa
dominada pelos ideais do mercado, sejam os palestinos ou iraquianos que não se
curvam nunca à ocupação estrangeira. Sejam os venezuelanos, que vão dia a dia,
construindo uma revolução na América. Ou os bolivianos, derrubando presidentes-
-fantoches e abrindo caminhos para uma América Latina socialista.
É preciso dizer bem alto: lutamos aqui e agora por um país diferente. Radi-
calmente diferente. Estivemos entre os que comemoraram a vitória de alguém dos
de baixo, gente como nós, para ocupar aquela cadeira no Planalto. Mas já faláva-
mos que, sem rebeldia e ruptura, era mais fácil que os tapetes verdes aveludados
seduzissem e domesticassem. Os inimigos sabem quem são e o que querem. Não
mudam de lado nem se esquecem quem representam.
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TESES DA TENDÊNCIA PETISTA ARTICULAÇÃO DE ESQUERDA AOS CONGRESSOS DA UNE (1995-2021)
Por isso, para quem achou que um acordo bom era melhor que uma boa briga,
e que se não fizessem o que tinha que ser feito seriam poupados pelos poderosos, a
realidade veio rápida. Os ricos não nos toleram. Sabem que estamos de outro lado e
queremos acabar com a sociedade que permite que vivam assim, como ilhas de luxo
em meio a um mar de miséria e tristeza. Inaugurando Daslus ao lado de favelas.
Fingindo não ver que algo está errado e podre. Que o ar é fétido e não há perfume
importado que esconda isso.
Voltamos então. Para dizer que é preciso ir para as ruas denunciar os inimigos.
Que é preciso ir para as ruas e dizer que superávit primário não é comida, juros
não constroem casas e responsabilidade fiscal é guardar o rico dinheirinho dos
banqueiros.
Aqui estamos para dizer fora. Fora os engravatados palloccis e meireles e jucás,
fora os tucanos escondidos num governo que não é deles, fora a mídia raivosa, fora
os tucanos pefelistas e neoliberais de todos os tipos que se riem e se divertem, com
saudades de efeagá, com saudades de voltar a dominar tudinho de novo, de viver
naqueles tempos cínicos de pensamento único.
É hora de reagir. De levantar nossas bandeiras rotas. De dizer que a reforma
universitária que queremos é para criar milhões de vagas em universidades públi-
cas, não em supermercados de diplomas. A hora é de gritar por mais democracia
nas universidades. Por mais conteúdo social, mais crítica e mais responsabilidade
de nossas faculdades com os de baixo.
Assim, por isso, nos encontramos de novo no planalto goiano. Apreensivos,
mas com grandes esperanças. Porque o peito arde de vontade de berrar e denun-
ciar o que está errado. Porque as ruas, com pressa, nos chamam para a luta. Porque
queremos derrubar os moinhos da hipocrisia e construir o novo.
De mãos dadas, de peito aberto, de espinha ereta. Com o coração cheio de
vontade. Quixotes do novo século. Mulheres e homens. Colocando alguns tijolos
para construir um mundo novo e melhor. Sem opressão, sem miséria, sem hipocri-
sia. Mundo da igualdade e do respeito à diversidade. Um mundo socialista.
Gritamos então.
Todos ao 49º Congresso da União Nacional dos Estudantes.
Boa luta para todos nós!
CONJUNTURA
n 49o CONGRESSO DA UNE
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O BRASIL, A UNIVERSIDADE E O MOVIMENTO ESTUDANTIL
alvos de Bush Filho. Essa predileção não só desperta a indignação dos povos latino-
-americanos, mas também fortes resistências.
A Venezuela de Chavez é considerada abertamente um inimigo pelo governo
norte-americano; no Uruguai, o povo elegeu um presidente apoiado pelo campo
democrático popular, Tabaré Vasquez; no México, o PRI, o partido centenário das
elites, sofre um enfraquecimento nunca visto; na Argentina, o governo Kirchner
mantém uma política de enfrentamento ao capital financeiro e ao FMI; no Equador,
Lucio Gutierres, presidente eleito pelo movimento indígena e sindical, foi depos-
to depois de ter perdido o apoio popular, uma vez que manteve uma política de
cunho neoliberal; na Bolívia, mais um presidente destituído.
É inegável o fato de que a eleição de Lula em 2002 foi importante para o avanço
das forças populares na América Latina. Muitas atitudes do governo estão potencia-
lizando a formação de um novo bloco latino-americano. Todavia, não podemos
dizer que esses novos ventos sopram com a mesma intensidade internamente.
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TESES DA TENDÊNCIA PETISTA ARTICULAÇÃO DE ESQUERDA AOS CONGRESSOS DA UNE (1995-2021)
Em 2003, logo após a eleição de Lula (quando o governo gozava de uma alta
popularidade), uma parte do governo avaliou que a direita e a elite brasileira esta-
vam moribundas. Na verdade, o que esse setor fazia era acumular forças e esperar
o momento de “dar o bote”. Por mais concessões que o governo faça, eles não es-
tão dispostos a abrir mão do poder central. O primeiro ataque foi no começo de
2004, com o caso Waldomiro, seguido pela derrota política nas eleições de 2004 e,
depois, na eleição de Severino Cavalcanti. Sem dúvida, nesse mês de junho chega-
mos ao ponto alto dos ataques da direita frente ao governo, que tenta de todas as
forças desestabilizar o governo. É preciso dizer que nenhuma denúncia do depu-
tado ROUBerto Jefferson foi comprovada, menos aquela que envolve ele mesmo.
Além de se afastar de sua base social histórica, o governo Lula vem optando em
construir uma maioria a todo custo negociada com partidos fisiológicos, ou seja,
com “os 300 picaretas com anel de doutor”. A questão é: para que nos serve essa
maioria? Essa maioria aprovaria um projeto avançado de reforma universitária? Essa
não foi a mesma maioria que mudou tanto o ProUni? Não é essa a turma que tenta
criminalizar o MST na CPMI da Terra? Não foi essa maioria que elegeu Severino?
Temos acordo na avaliação de que o governo está em disputa, mas quando esta
se dá simplesmente no parlamento burguês nós somos derrotados, pois quando
temos que negociar com Severino e seus picaretas surgem os esquemas de corrup-
ção. Quando a direita participa do governo com cargos estratégicos, os esquemas
de corrupção são mantidos. Ou seja, quem anda com cachorro corre o risco de
pegar pulga!
n 49o CONGRESSO DA UNE
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O BRASIL, A UNIVERSIDADE E O MOVIMENTO ESTUDANTIL
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TESES DA TENDÊNCIA PETISTA ARTICULAÇÃO DE ESQUERDA AOS CONGRESSOS DA UNE (1995-2021)
EDUCAÇÃO
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O BRASIL, A UNIVERSIDADE E O MOVIMENTO ESTUDANTIL
Todas essas lutas têm caráter emergencial, pois visam garantir a permanên-
cia na escola. É preciso lutar incessantemente pela ampliação do acesso às atuais
universidades públicas (com a criação de novas vagas, principalmente em cursos
noturnos), além da criação de mais universidades para as regiões mais necessitadas
do país.
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TESES DA TENDÊNCIA PETISTA ARTICULAÇÃO DE ESQUERDA AOS CONGRESSOS DA UNE (1995-2021)
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MOVIMENTO ESTUDANTIL
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intervir e atuar nela para alcançar seus objetivos, como outros movimentos sociais
fazem. Ou seja, se a conjuntura é favorável às mobilizações, o Me pode mobilizar.
Se não, ele tem pouca capacidade de sair do refluxo.
Hoje, isso torna o ME refém da realidade, dificultando que ele seja um dos
sujeitos dela. Contudo, este problema pode ser superado com uma eficaz pauta e
uma (re)organização das entidades estudantis, principalmente no que diz respeito
a combater a falta de transmissão de sua história e experiência entre as gerações e
as direções do movimento estudantil.
Um diagnóstico atual do movimento estudantil
Que fatores perversos são esses, que fazem hoje as entidades nacionais, pa-
trimônios da história, viverem uma crise que há muito deixou de ser uma crise de
representatividade, chegando a ser uma crise de legitimidade?
Os estudantes não só não veem seus interesses representados, como a maio-
ria não sabe o que é a UNE enquanto sua entidade, e instrumentos coletivos de
organização. Muitos acham que as entidades estudantis e o movimento como um
todo são propriedade de alguns, “os que mexem com política” ou “os estudantes
profissionais” e que, portanto, não devem se aproximar nem se envolver, já que
não é coisa sua.
Mas, qual é o diagnóstico dessa crise? Ou melhor, que fatores determinam essa
crise? Atribuímos, então, à crise, quatro fatores centrais:
1. a transitoriedade própria do ME;
2. a conjuntura desfavorável à organização coletiva;
3. a estrutura anacrônica, verticalizada, centralizada e burocrática; e
4. a sua atual direção imobilista e antidemocrática.
1. Já falamos que o ME possui características próprias como a transitoriedade.
A falta de políticas de transmissão da experiência no ME é sem dúvida um dos maio-
res obstáculos de nossa organização. Buscar uma prática de um ciclo virtuoso que
consiga formar novos quadros e dar um caráter mais contínuo à organização estu-
dantil é fundamental para enfrentarmos a conjuntura desfavorável aos movimentos
sociais e dar um salto importante pra organização do ME
2. Vivemos em um período de grande hegemonia das elites dominantes. A
criminalização dos movimentos sociais, as barreiras legais impostas para sua orga-
nização e o avanço de uma ideologia individualista e consumista são parte dessa
hegemonia que busca impedir as organizações sociais. O ME, assim como os demais
n 49o CONGRESSO DA UNE
movimentos, sofre com esses ataques, fica em uma postura defensiva e vive um
período de refluxo de suas mobilizações. É preciso criar mecanismo para enfrentar-
mos essa conjuntura e impulsionar um novo período de lutas sociais.
3. As estruturas do ME pouco evoluíram desde o surgimento de suas entida-
des. Reproduzimos desde então a lógica de organização sindical que remonta aos
96
O BRASIL, A UNIVERSIDADE E O MOVIMENTO ESTUDANTIL
anos 50. Superar a condição de uma direção encastelada nas entidades que se resu-
me a indicar política para a base para mecanismos democráticos que permitam uma
construção coletiva nas entidades está na ordem do dia. Para isso, aderir a gestão
por coordenadorias, a formação de coletivos e grupos de trabalhos plurais, a práti-
ca do planejamento, a periodicidade dos fóruns e uma comunicação dinâmica são
condições iniciais de mudança das estruturas atuais.
4. A análise mais profunda da crise de estrutura nos leva ao último diagnósti-
co da crise: a atual direção majoritária da UNE e hegemônica no movimento (UJS/
PCdoB). A prioridade é manter o aparelho antes mesmo da própria mobilização
estudantil. Desta maneira, a direção majoritária permanece encastelada e pouco faz
pra mudar e transformar o ME. Desmonta os fóruns do ME e distancia cada vez mais
a UNE de sua base social. Sem dúvida, essa direção é um entrave para mudanças
mais profundas no ME. É urgente uma nova prática e direção para a União Nacional
dos Estudantes e para o movimento estudantil.
A institucionalização da UNE
n 49o CONGRESSO DA UNE
Por diversas vezes, a direção majoritária da UNE abriu mão do papel reivin-
dicatório da entidade para assumir um papel de ONG de ação social. Por outras,
assumiu parcerias com setores conservadores e atrasados da sociedade que histori-
camente são combatidos pelo movimento social brasileiro, como a Rede Globo. O
pior é que, agora, servem de base de sustentação do ministro Tarso Genro.
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TESES DA TENDÊNCIA PETISTA ARTICULAÇÃO DE ESQUERDA AOS CONGRESSOS DA UNE (1995-2021)
que editou uma Medida Provisória que atacava o movimento estudantil e acabava
com a meia-entrada. Da mesma maneira, repudiamos setores da sociedade que
criam entidades fantasmas e cartoriais para fazer carteiras e extorquir o dinheiro
dos estudantes. Essa é uma luta que o movimento estudantil deve travar de manei-
ra unitária.
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O BRASIL, A UNIVERSIDADE E O MOVIMENTO ESTUDANTIL
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TESES DA TENDÊNCIA PETISTA ARTICULAÇÃO DE ESQUERDA AOS CONGRESSOS DA UNE (1995-2021)
queremos. Além disso, entendemos que o SUS deve ser coordenador da formação
em saúde. Estas são bandeiras sólidas e necessárias para a devida atenção e cuidado
com a população brasileira.
No último CONEG, reafirmamos nossa defesa pelo SUS, mas ainda faltam
ações organizadas no que tange ao protagonismo estudantil no seu controle social,
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O BRASIL, A UNIVERSIDADE E O MOVIMENTO ESTUDANTIL
O que é juventude?
Muitas pessoas falam de juventude, mas muito poucas compreendem esse fe-
nômeno social.
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TESES DA TENDÊNCIA PETISTA ARTICULAÇÃO DE ESQUERDA AOS CONGRESSOS DA UNE (1995-2021)
o jovem enquanto sujeito de direitos e para superar uma visão negativa, reforçada
pela mídia e a opinião pública, onde o jovem é sempre suspeito, é um risco e um
problema para a sociedade e para si mesmo.
Mas, então, o que é juventude?
Muitos afirmam que ela está circunscrita a numa determinada faixa etária es-
tanque, outros entendem, de maneira reduzida, juventude enquanto um estado
de espírito. No entanto, nenhuma destas caracterizações é suficiente para definir
juventude.
Para nós, a juventude pode ser vista como uma fase da vida, mais ou menos
determinada, em que o ser humano se encontra em processo de formação e cons-
trução de perspectivas de estabilidade para a sua vida. É um momento de grandes
expectativas e apreensão em relação ao futuro, regado normalmente por uma pos-
tura inquieta e irreverente (Denisar, 1993).
Portanto, é neste espaço da vida onde se manifestam, com maior intensidade,
os problemas existenciais do ser humano, visto que é neste período que as pessoas
realizam as grandes escolhas de suas vidas. Devido a essa problemática socio-exis-
tencial, a juventude torna-se um constante pedido de respostas, que coloca em
xeque as estruturas da sociedade, independentemente de seus matizes ideológicos.
É por isso que a juventude reveste-se de irreverência e rebeldia (Denisar, 1993).
E o ME com isso?
“Uma das marcas da geração atual tem sido a proliferação de grupos juvenis
principalmente entre os setores populares que se configuram como espaços de
criação cultural e se tornam verdadeiros canais de articulação de identidades cole-
tivas. Transformam-se em referência para além dos participantes diretos do grupo,
sinalizando comportamentos e posturas éticas para grandes contingentes de jo-
vens, em escala nacional” (Documento final - Projeto Juventude, 2004).
O movimento estudantil é o movimento juvenil mais organizado e com a
atuação nacional mais consolidada. Apesar das enormes dificuldades que esse
movimento possui na sua organização, a rede que ele constitui durante décadas
possibilita uma maior visibilidade e reconhecimento na sociedade que outros mo-
vimentos juvenis.
No entanto, boa parte do ME ainda não foi capaz de perceber as inúmeras
possibilidades de articulação e atuação com grupos juvenis que existem fora do
ambiente educacional. Grupo estes que organizam muitos jovens e que possuem
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O BRASIL, A UNIVERSIDADE E O MOVIMENTO ESTUDANTIL
Mulheres
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TESES DA TENDÊNCIA PETISTA ARTICULAÇÃO DE ESQUERDA AOS CONGRESSOS DA UNE (1995-2021)
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TESES DA TENDÊNCIA PETISTA ARTICULAÇÃO DE ESQUERDA AOS CONGRESSOS DA UNE (1995-2021)
mento GLBT e das paradas gays, cujo tema em 2005 é: “Direitos iguais, nem mais,
nem menos”.
Neste sentido, o movimento estudantil deve assumir essa pauta de reivindica-
ções e fortalecer a luta do movimento homossexual, que é uma luta pelos direitos
humanos, pela igualdade plena, uma luta que radicaliza a democracia, ao reconhecer
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O BRASIL, A UNIVERSIDADE E O MOVIMENTO ESTUDANTIL
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TESES DA TENDÊNCIA PETISTA ARTICULAÇÃO DE ESQUERDA AOS CONGRESSOS DA UNE (1995-2021)
ELOGIO DA DIALÉTICA
(Bertold Brecht)
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50o Congresso da UNE
Brasília (DF), 04 a 08 de julho de 2007
TESE
RECONQUISTAR A UNE
PARA A LUTA E PARA OS/AS ESTUDANTES
INTRODUÇÃO
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TESES DA TENDÊNCIA PETISTA ARTICULAÇÃO DE ESQUERDA AOS CONGRESSOS DA UNE (1995-2021)
MOVIMENTO ESTUDANTIL
grande potencial de mobilização dos estudantes, foi capaz de aliar as pautas mais
específicas dos estudantes brasileiros com um projeto de Brasil democrático, justo
e soberano.
Ainda que a ação da UNE tenha se orientado em muitos momentos por uma
política tímida e, às vezes, conciliatória em relação aos desafios enfrentados, acredi-
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O BRASIL, A UNIVERSIDADE E O MOVIMENTO ESTUDANTIL
tamos ser um grande erro a opção daqueles grupos do Movimento Estudantil que
optaram por sair da UNE para criar sua “entidade alternativa” particular. Além de
criarem uma nova organização estudantil que representa apenas os interesses de
um determinado grupo político, reproduzem os mesmos erros da direção majoritá-
ria da UNE, dividem e enfraquecem o Movimento Estudantil brasileiro.
Nós, da tese Reconquistar a UNE, acreditamos que a UNE possui um papel
importantíssimo no combate à mercantilização, na defesa do direito à educação
pública e gratuita para todos(as) e no fortalecimento do Movimento Estudantil bra-
sileiro. É com essa convicção que participamos, construímos e disputamos seus
rumos no dia a dia das lutas estudantis.
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TESES DA TENDÊNCIA PETISTA ARTICULAÇÃO DE ESQUERDA AOS CONGRESSOS DA UNE (1995-2021)
(Los Hermanos)
O desconhecimento das ações e mesmo, da própria existência da UNE, é uma
realidade atual para uma parte significativa dos estudantes brasileiros. Ainda que
n 50o CONGRESSO DA UNE
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O BRASIL, A UNIVERSIDADE E O MOVIMENTO ESTUDANTIL
então, tem impedido uma relação mais direta e contínua com os CAs, DAs e DCEs
das instituições de ensino.
Essa realidade foi traduzida em uma política que fez com que, muitas vezes, a
UNE fosse colocada a assumir um papel de “balcão de negócios” em relação à sua
carteira de identificação estudantil (convênios com Jovem Pan, carteiras feitas no
McDonald´s). Isso acabou descaracterizando e mercantilizando completamente o
caráter representativo que a carteira da UNE deve representar para os estudantes.
Enraizada nessa política, encontra-se uma concepção de movimento estudantil
em que predomina a disputa de entidades apenas para manutenção ou construção
da hegemonia de determinados grupos no ME. Assim, a disputa dos “aparelhos” do
movimento torna-se o objetivo final e não a consequência da progressiva organi-
zação dos estudantes. Isso tem feito com que as pautas do ME sejam voltadas, na
maior parte do tempo, às suas questões internas, como por exemplo a eleição das
direções de suas entidades à revelia das próprias lutas estudantis.
Ademais, o fato da UNE manter uma estrutura burocratizada e verticalizada
que não atende aos desafios atuais do ME, impossibilita que nossa entidade incor-
pore novas formas de organização e retome as grandes lutas que marcaram sua
história.
Nesse sentido, o desrespeito aos fóruns do movimento como a não realização
do CONEB (Conselho Nacional de Entidades de Base) durante oito anos, a inexis-
tência de uma política democrática de comunicação e de uma organização regional/
estadual realmente plural dentro da UNE também impedem a necessária oxigena-
ção do ME e da própria UNE.
Por fim, mas não menos importante, predominou na entidade ao longo desses
anos uma política conciliatória com as políticas governamentais da ocasião. Essa
postura foi percebida claramente durante o governo FHC quando a direção majori-
tária da UNE preferiu fazer acordos nos gabinetes aveludados do Planalto a ajudar
o Movimento Estudantil organizar suas lutas, como as grandes greves estudantis.
Ainda que num momento político totalmente distinto, essa postura vacilante
prevaleceu também durante o primeiro mandato de Lula, em que a direção majo-
ritária da UNE ao invés de incidir na disputa da orientação do governo a partir das
bandeiras históricas da entidade, recuou numa política adesista e equivocada de
transformar as propostas do governo na pauta da entidade, imobilizando o ME e
impedindo com que esse fosse capaz de alterar os rumos das opções do Governo
Lula.
n 50o CONGRESSO DA UNE
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TESES DA TENDÊNCIA PETISTA ARTICULAÇÃO DE ESQUERDA AOS CONGRESSOS DA UNE (1995-2021)
sejam planejadas ainda no início de cada ano com a formação de comitês estaduais
pela redução das mensalidades formados entre os CAs, DCEs, UEEs e UNE.
Como prova da falta de referência, crise de legitimidade e representativida-
de da UNE, essas campanhas resumem-se em apelos midiáticos no sítio virtual da
entidade e nos meios de comunicação. Embora, muitas vezes, a própria direção ma-
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O BRASIL, A UNIVERSIDADE E O MOVIMENTO ESTUDANTIL
joritária da entidade tente realizar grandes manifestações, isso não se viabiliza pela
burocratização da entidade frente ao ME e pela ausência de uma maior preparação.
Essa incapacidade de combater de forma contundente a hegemonia do ensino
privado no país reduz muitas vezes a atuação da UNE, como válvula de escape, a
iniciativas como a realização de convênios com o PROCON através de “disque men-
salidades”. Essas medidas, apesar de trazerem um grau de informação desejável
para os estudantes das universidades pagas, acabam fazendo com que a entidade
reconheça que de fato a educação pode ser uma mercadoria, além de substituir o
papel da própria UNE, uma vez que basta o estudante procurar o PROCON para
exigir seus direitos.
Outro aspecto relevante da atuação da UNE a ser considerada no último perío-
do foi sua intervenção durante as eleições de 2006. O ano eleitoral poderia ter sido
um momento único para a UNE realizar o debate sobre projeto de educação para o
Brasil. Entretanto, o que prevaleceu foi o imobilismo da entidade perante o debate
político do país. A UNE, ao perder a possibilidade de transformar o momento elei-
toral num grande debate sobre os rumos da educação superior no Brasil, através de
debates nas universidades e outras atividades, não preparou o ME para reivindicar
suas pautas após o processo eleitoral.
A construção do Projeto UNE-Brasil, o qual continha as reivindicações da UNE
para a educação, foi positiva pelo fato de ser incorporado à pauta dos demais mo-
vimentos sociais, mas não foi acompanhado de um amplo e profundo debate no
interior do ME, das entidades estudantis e entre os estudantes.
A partir disso, notamos que as mudanças feitas na entidade ainda são extre-
mamente insuficientes para os desafios que a UNE possui no próximo período. Na
verdade, no essencial nada mudou, ou seja, a relação da UNE com o conjunto do
ME continua limitada e insuficiente, a linha política da entidade continua a mesma
e o controle da estrutura da UNE continua centralizado.
Nesse sentido, é necessário que haja mudanças estruturais na UNE para que
seja uma entidade dinâmica, democrática e mais representativa. Mudanças essas
que só ocorrerão acompanhadas da construção de uma alternativa de direção à
atual maioria da entidade.
A seguir, apresentamos um conjunto de propostas para as necessárias mudan-
ças das estruturas arcaicas, verticalizadas, centralizadas, burocráticas e, portanto,
antidemocráticas da UNE.
n 50o CONGRESSO DA UNE
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TESES DA TENDÊNCIA PETISTA ARTICULAÇÃO DE ESQUERDA AOS CONGRESSOS DA UNE (1995-2021)
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O BRASIL, A UNIVERSIDADE E O MOVIMENTO ESTUDANTIL
com que os DCEs, CAs e DAs emitissem as suas próprias carteiras (como já acontece
em boa parte das entidades estudantis) e adquirissem o “selo da UNE”. Isso obri-
garia a UNE aproximar-se das entidades estudantis e construir uma relação política
confiável com essas entidades.
Por isso, propomos:
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TESES DA TENDÊNCIA PETISTA ARTICULAÇÃO DE ESQUERDA AOS CONGRESSOS DA UNE (1995-2021)
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O BRASIL, A UNIVERSIDADE E O MOVIMENTO ESTUDANTIL
foi mais aprofundado dado à resistência dos partidos de esquerda, dos movimentos
sociais e de outras iniciativas como o Fórum Social Mundial.
Essa resistência, somada a crise do próprio modelo neoliberal, permitiu surgir
na América Latina vários governos de esquerda, centro esquerda e progressistas,
os quais representam um contundente desgaste do imperialismo norte americano
e do neoliberalismo no continente, apesar de esses continuarem hegemônicos em
todo o mundo.
Numa guerra de força contra o Imperialismo / que dos
povos da América é o grande inimigo
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EDUCAÇÃO
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O BRASIL, A UNIVERSIDADE E O MOVIMENTO ESTUDANTIL
para Todos, sendo este último, muito polêmico entre o movimento de educação e
muito disputado por parte do empresariado da educação.
O problema de concepção do PROUNI explicita-se no momento em que o
governo elege o ensino privado como parceiro da ampliação do acesso ao ensino
superior, não acumulando forças para diminuirmos a sua influência sobre a edu-
cação brasileira.
O PROUNI deveria apontar para uma regulamentação da filantropia e não na
concessão de mais isenção fiscal para as Universidades Pagas. Ademais a inclusão de
estudantes de baixa renda em universidades privadas não deve ser a custo de um
ensino de baixa qualidade. Muitas instituições em que ingressaram estudantes pelo
PROUNI possuem péssimas condições estruturais e acadêmicas, havendo casos de
ingressos pelo PROUNI até em instituições que haviam reprovado mais de uma vez
na avaliação do MEC.
Contudo, é inegável que o programa criou uma nova dinâmica nas instituições
pagas. Esta nova dinâmica criada pelos problemas de implementação da lei e pela
mudança de perfil do alunado das instituições que aderiram ao programa, coloca
como tarefa imediata do ME a organização dos estudantes beneficiados em torno
de reivindicações que passam por medidas que garantam a permanência dos estu-
dantes e a qualidade do ensino.
Por fim, nossa luta deve ter como norte a universalização da educação pública
e de qualidade, que só pode ser efetivamente oferecida pelas instituições que não
estão submetidas à lógica do mercado. Ainda que tenha conquistado uma ampla
base social de apoio, sobretudo em função do forte apelo que o programa contém
no tocante à inclusão social e às políticas de ação afirmativa, é necessário que o
PROUNI seja pensado como uma medida emergencial, de caráter transitório, que
deve ser substituída paulatinamente por políticas de inclusão das camadas menos
favorecidas da população nas universidades públicas.
O desafio da permanência e a assistência estudantil
Para além das grandes dificuldades de entrar na Universidade, uma parcela
significativa dos estudantes brasileiros enfrenta uma dificuldade ainda maior para
permanecer estudando.
As próprias políticas de ação afirmativa, se não articuladas com políticas de
assistência social ao estudante, são inviabilizadas, uma vez que não há garantias de
que os setores populares possam permanecer na Universidade e terem condições
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O BRASIL, A UNIVERSIDADE E O MOVIMENTO ESTUDANTIL
contemplar.
Nesse sentido, a concordância com a orientação geral do Plano não deve impli-
car em concordância com todas e cada uma de suas medidas integrantes. Questões
positivas como a ampliação das verbas públicas para as Universidades estariam elen-
cadas com outras propostas mais questionáveis como a distribuição de recursos de
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TESES DA TENDÊNCIA PETISTA ARTICULAÇÃO DE ESQUERDA AOS CONGRESSOS DA UNE (1995-2021)
mento e possibilitando uma formação mais completa, capaz de elevar o seu nível
cultural e de consciência. Apenas após a formação no BI, é que os estudantes teriam
a oportunidade de escolher a formação profissional de sua preferência.
O preocupante na proposta é o fato de que, após a formação em Bacharel
Interdisciplinar, é emitido pela instituição um certificado de conclusão, consoli-
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O BRASIL, A UNIVERSIDADE E O MOVIMENTO ESTUDANTIL
ram os aparatos onde tais ações foram aplicadas através de um forte investimento
público.
Sendo assim, a extensão universitária consolidou-se como um proces-
so de intervenção em uma determinada realidade e situação, onde era aplicada
uma “fórmula mágica do saber científico” sem levar em conta o contexto socio-
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TESES DA TENDÊNCIA PETISTA ARTICULAÇÃO DE ESQUERDA AOS CONGRESSOS DA UNE (1995-2021)
mas sim, a troca e construção entre o saber popular e o saber científico de alter-
nativas que possam melhorar a vida de um povo sem torná-los dependentes, mas
sim libertá-los cada vez mais. Por isso, acreditamos que é papel da UNE construir
espaços que permitam que os estudantes participem de experiências que possibili-
tem questionar o atual modelo de Universidade. Há no ME experiências de projetos
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O BRASIL, A UNIVERSIDADE E O MOVIMENTO ESTUDANTIL
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TESES DA TENDÊNCIA PETISTA ARTICULAÇÃO DE ESQUERDA AOS CONGRESSOS DA UNE (1995-2021)
Nesse sentido é preciso superar a postura por vezes vacilante de nossas enti-
dades nacionais, dando um caráter de massas às próximas “Caravanas pelo Passe
Livre” e aprofundando a elaboração do Movimento Estudantil sobre a questão do
transporte público brasileiro.
Por fim, cabe ressaltar a importância de o Movimento Estudantil mobilizar-se
como ponta de lança diante dos aumentos abusivos dos preços das passagens, uma
vez que nestes casos uma parcela ainda maior da população sai diretamente pre-
judicada. Ações como estas ajudam inclusive na solidariedade do povo ao pleito
estudantil pelo passe-livre.
- Que a UNE aprove a defesa da bandeira do passe-livre;
- Construção de um calendário unificado de lutas entre os diversos movimentos
juvenis pelo passe-livre;
- Que a UNE e a UBES construam um Seminário Nacional sobre o Transporte
Público.
Legalizar as drogas
(Bezerra da Silva)
O debate sobre a questão da violência, do narcotráfico e da drogadição deve
ser feito abertamente, sem moralismos ou hipocrisias. A maneira como a grande
mídia e a maioria dos governos trata o tema é parcial, equivocada, e esconde inte-
resses escusos.
Afinal, o que são drogas?
O termo “droga” é o modo mais comum de se referir aos narcóticos, que são
substâncias tais como a cafeína, álcool etílico, a nicotina, o THC (maconha), a co-
caína, a heroína, seus compostos e misturas, entre muitos outros. O ser humano
se utiliza hoje e sempre se utilizou desse tipo de substância para obter estados al-
terados de consciência, pelo simples prazer e/ou pelo uso religioso (temos hoje no
Brasil a ayuasca, que é ingerida no ritual do Santo Daime).
No presente momento histórico, algumas destas substâncias são legais e outras
ilegais. Todas elas produzem efeitos colaterais negativos à saúde humana em geral
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O BRASIL, A UNIVERSIDADE E O MOVIMENTO ESTUDANTIL
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TESES DA TENDÊNCIA PETISTA ARTICULAÇÃO DE ESQUERDA AOS CONGRESSOS DA UNE (1995-2021)
co debate a respeito da legalização das drogas com forma de acabar de vez com o
narcotráfico.
Enquanto perdurarem as políticas proibicionistas, em que pesem os avanços
– no sentido da descriminalização e na abertura do tratamento de saúde com po-
líticas de redução de danos - contidos no projeto de lei assinado ano passado pelo
Presidente Lula, o tráfico, a criminalização e a repressão continuarão fazendo suas
vítimas, que no Brasil, na esmagadora maioria dos casos, têm cor, idade, sexo e clas-
se social, os jovens negros da periferia.
- Que a UNE defenda a Legalização das Drogas;
- Por políticas públicas de saúde para usuários de drogas;
- Contra a redução da maioridade penal.
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O BRASIL, A UNIVERSIDADE E O MOVIMENTO ESTUDANTIL
insuficiente. Será necessário que a entidade aprofunde suas discussões neste ter-
reno no I Seminário de Saúde da UNE, com indicativo para acontecer neste 2º
semestre de 2007 (Resolução do 55º CONEG). Fortalecer os laços com as Executi-
vas e Federações nacionais de cursos da saúde torna-se fundamental, assim como
democratizar as ações da entidade referente ao tema – principalmente no que se re-
fere a participação da UNE no Conselho Nacional de Saúde. Para alcançar o objetivo
de fazer valer o SUS em sua essência e seus princípios este processo de interlocução
deve ser encarado como estratégico, não tático, como contínuo, não pontual.
- Pela defesa incondicional e consolidação do Sistema Único de Saúde em seus
princípios e diretrizes: universalidade, integralidade, equidade, descentralização e
participação social;
- Contra a mercantilização da saúde;
- Regulamentação conjunta das profissões da área da saúde;
- Defesa das Residências Multiprofissionais de Saúde;
- Pela aprovação do Projeto de Lei da Responsabilidade Sanitária;
- Pela implementação de currículos que efetivem a integralidade em saúde e a for-
mação de profissionais para o SUS;
- Pela regulamentação da Emenda Constitucional 29, além da garantia da ampliação
do financiamento da saúde;
- Contra a retirada do financiamento do MEC para os Hospitais Universitários de
Ensino;
- Destinação de 100% dos leitos de Hospitais Universitários e de Ensino públicos
para o SUS;
- Contra o corte de verbas para a saúde, promovido pelo PAC;
- Mudança de nome da “Diretoria de Biomédicas” para “Diretoria de Saúde da
UNE”;
- Organização do I Seminário de Saúde da UNE no 2º semestre de 2007 em parceria
com as Executivas e Federações de cursos da área da saúde, demais entidades estu-
dantis, movimentos sociais e instituições formadoras;
- Que a UNE não mantenha vínculo com o setor privado da saúde. Quem defende
o SUS não ganha dinheiro dos planos de saúde.
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TESES DA TENDÊNCIA PETISTA ARTICULAÇÃO DE ESQUERDA AOS CONGRESSOS DA UNE (1995-2021)
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O BRASIL, A UNIVERSIDADE E O MOVIMENTO ESTUDANTIL
ca, morre mais cedo, tem a escolaridade mais baixa, menor acesso à saúde. Esta
condição social em que se encontram os negros brasileiros é o reflexo de uma
sociedade que ainda não conseguiu se livrar dos resquícios de seu passado es-
cravista. Segundo dados do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento
(PNUD), “os negros representam, ainda, 60% dos pobres do país e 70% dos indi-
gentes. Na contagem geral da população, 50% dos brasileiros negros ou pardos são
pobres, enquanto apenas 25% dos brancos estão nessa condição. A pobreza tem
reflexo nos demais indicadores, piorando a condição de saúde e escolaridade dessa
população”.
As desigualdades sociais entre negros e brancos, além de ser atribuída a heran-
ça do passado escravista do país, deve-se também ao racismo e sua reprodução, nas
mais variadas formas, ou seja, estrutural e simbólica.
Consequentemente, a discriminação racial afasta a população negra das instân-
cias ou espaços de poder e decisão em nossa sociedade, sejam eles o parlamento,
as universidades, a mídia etc. No que se refere ao contexto educacional as univer-
sidades brasileiras são o verdadeiro retrato da desigualdade racial. Mesmo que em
linhas gerais o conjunto da juventude brasileira, principalmente aqueles jovens de
classes mais baixas, tem dificuldades de acesso superior, esta segregação ainda atin-
ge mais os jovens negros que os brancos. Segundo o Relatório de Desenvolvimento
Humano do PNUD em 2000, o percentual de brancos com diploma de nível supe-
rior era de 11,8% (11,6% entre homens e 12% entre as mulheres) e para 2,9% entre
os negros (3,1% entre as mulheres e 2,7% entre os homens).
O envolvimento das instâncias governamentais brasileiras no enfrentamento a
discriminação racial se aprofundou com no Governo Lula que criou uma Secreta-
ria de Estado para a Promoção da Igualdade Racial e assinou o Programa de Ações
Afirmativas o que resultou na criação de bolsas de estudos para estudantes negros
e indígenas se prepararem para o curso Rio Branco do Ministério das Relações
Exteriores.
Entretanto, foi com a reserva de vagas no vestibular das principais universida-
des públicas brasileiras para estudantes negros e indígenas que de fato o debate
sobre o combate às desigualdades raciais foi reinserido com bastante fôlego na
política brasileira.
A recente adoção do sistema de políticas afirmativas para a população negra
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TESES DA TENDÊNCIA PETISTA ARTICULAÇÃO DE ESQUERDA AOS CONGRESSOS DA UNE (1995-2021)
usar seus espaços para dar voz aqueles que a sociedade insiste em calar.
- Pela aprovação das propostas do I Encontro Nacional de Estudantes Negros e Co-
tistas da UNE (ENUNE) realizado no mês de abril em Salvador;
- Todo apoio à campanha “Universidade sem racismo”.
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O BRASIL, A UNIVERSIDADE E O MOVIMENTO ESTUDANTIL
( José Martí)
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TESES DA TENDÊNCIA PETISTA ARTICULAÇÃO DE ESQUERDA AOS CONGRESSOS DA UNE (1995-2021)
(Ana Carolina)
A consolidação de uma sociedade justa e emancipada de opressões e explo-
ração não se dará apenas pelas mudanças na estrutura político-econômica, mas
através de profundas revoluções nas formas como os seres se relacionam entre si.
Cada julgamento preconceituoso, cada ato de inferiorização do outro deve ser des-
construído para que se estabeleça uma sociabilidade igualitária, não somente no
material, mas no plano simbólico e subjetivo.
O ME cada vez mais precisa estar atento à pauta de luta dos estudantes. Mais
do que pautar o ME é preciso entender quais são suas pautas e encampar as lutas. É
o caso da luta contra a homofobia que, junto com a luta antirracismo e antimachis-
mo, são bandeiras importantes a serem defendidas dentro da universidade.
Se nossa sociedade é marcada pela violência, assassinatos e desrespeito aos
GLBT, dentro da academia, infelizmente, prevalece o preconceito e a discrimina-
ção. Piadinhas, ‘brincadeiras’, apelidos são formas comuns dessa manifestação. Não
são raros casos de agressões dentro dos campi universitários, como ocorreu na
calourada da UFRJ. Também ocorreram manifestações homofóbicas na Faculdade
de Direito da UFRJ e UFPE. Por isso transformar a sociedade passa também por tor-
nar a universidade mais aberta às diferenças e livre de discriminações de qualquer
ordem.
Foi no ano de 2003 que GLBTs universitários se uniram no 48º Congresso da
UNE de Goiânia e passaram a articular-se. De lá pra cá, já foram realizados 4 ENUDS
n 50o CONGRESSO DA UNE
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O BRASIL, A UNIVERSIDADE E O MOVIMENTO ESTUDANTIL
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TESES DA TENDÊNCIA PETISTA ARTICULAÇÃO DE ESQUERDA AOS CONGRESSOS DA UNE (1995-2021)
AVALIAÇÃO
Por um lado, porque o PT é o partido com maior apoio entre a juventude. Por
outro lado, porque foram os petistas que defenderam, durante anos, a pauta da de-
mocratização da UNE, a realização de seus fóruns democráticos e a autonomia dos
movimentos sociais.
8. Página 13, n. 59, jul. 2007, p. 10-1.
150
O BRASIL, A UNIVERSIDADE E O MOVIMENTO ESTUDANTIL
Pelos dois motivos, o simples fato do PT estar mais bem representado na Une já
seria positivo para a própria entidade e para o conjunto do movimento estudantil.
Afinal, um Partido que possui enorme simpatia na base do movimento precisa
estar mais representado na sua direção nacional.
Três táticas diferentes
No 50º Congresso da UNE, apresentaram-se basicamente três táticas: 1) a uni-
dade de todos os setores presentes na UNE que conformam o campo “democrático
e popular”; 2) a unidade entre os petistas como alternativa à UJS/PCdoB; 3) a uni-
dade dos setores que defendiam combater e derrotar o governo Lula.
Sobre a primeira tática, ou seja, a unidade de todos os setores presentes na
UNE que conformam o campo “democrático e popular”, é importante salientar
que os defensores dessa posição incluíam no seu campo de alianças setores que
não fazem parte do campo democrático-popular, como por exemplo, o PMDB de
Garotinho e Renan Calheiros.
Logo, a aliança proposta era dos setores governistas e, portanto, para além do
campo democrático e popular.
Esta tática foi eleitoralmente vitoriosa no 50º Congresso da UNE. Mas não teve
o êxito político que seus proponentes almejavam, pois não aglutinou nem o con-
junto dos setores do campo democrático-popular e, muito menos, os setores que
defendiam disputar pela esquerda os rumos do governo Lula.
A segunda tática, unidade entre os petistas como alternativa para a UNE, de-
fendida pela Articulação de Esquerda, não foi eleitoralmente vitoriosa. Tampouco
conseguiu unificar todos os petistas. Mas os defensores desta tática conseguiram
uma grande vitória política.
Apresentamos uma alternativa para a UNE, através da unidade dos petistas.
Essa opção foi capaz de polarizar o Congresso da UNE, reivindicar a unidade dos
petistas, fortalecer o PT como uma nítida alternativa para a UNE.
Embora não fosse esse o objetivo, o movimento em prol da unidade dos pe-
tistas no CONUNE acabou “encarecendo” o preço que o PCdoB tinha que “pagar”
pelos seus aliados, causando um desequilíbrio na composição da chapa vitoriosa.
Se não existisse a defesa da unidade dos petistas e caso tivesse existido uma
grande chapa governista, o centro do debate no Congresso da UNE seria a postura
das forças em relação ao governo Lula.
Isto faria o Congresso ser polarizado por uma disputa artificial, entre os favo-
n 50o CONGRESSO DA UNE
151
TESES DA TENDÊNCIA PETISTA ARTICULAÇÃO DE ESQUERDA AOS CONGRESSOS DA UNE (1995-2021)
Correndo riscos
Apesar de ocorrer um sério risco de ficar de fora da executiva da UNE, a Arti-
culação de Esquerda manteve sua posição. Deixamos claro que só vale a pena estar
na direção da UNE se for com base em posições políticas e não com o objetivo de
manter e/ou ampliar o espaço que possuímos na direção da entidade.
Foi com a política de unidade dos petistas que garantimos uma vitória política
no 50º Congresso da UNE, vitória que pôde ser medida na marcha pela mudança
da política econômica, onde organizamos uma ala petista que, seguramente, era
a maior da mobilização e, também, nas intervenções da nossa chapa em plenário,
que calaram fundo nos petistas presentes no Congresso, algumas vezes inclusive
dentro da UJS.
A tática que a Articulação de Esquerda adotou nesse Congresso ajudou a
demonstrar o potencial político de uma unificação do conjunto dos petistas no
Congresso da UNE.
Se essa tática obteve vitórias políticas, mesmo sem conseguir unificar o con-
junto do Partido, imaginemos o que teria acontecido se tivéssemos unificado todo
o Partido.
Não há dúvidas, neste caso, que o PT sairia do Congresso da UNE ainda mais
fortalecido para disputar a hegemonia no movimento estudantil.
Já dissemos que a política defendida pela Articulação de Esquerda foi capaz
de combater o esquerdismo, que colocava como objetivo central a necessidade de
derrotar o governo Lula.
Resta dizer, por outro lado, que parecia haver um grande “entendimento” en-
tre os setores majoritários da UNE e o esquerdismo eleitoreiro do PSOL. Vale a pena
explicar como isso se deu.
Acontece que estes setores optaram por não fazer a disputa da UNE. Ou seja,
o PSOL/PCR/FOE (Frente de Oposição de Esquerda) apostaram tudo em polarizar
o debate em torno do governo Lula e abriram mão de fazer a crítica e propor ou-
tra política para a UNE, para a gestão da UNE e para a construção do movimento
estudantil.
Essa opção possibilitou que houvesse um entendimento de “boa vizinhança”
entre o PSOL/PCR e o PCdoB/UJS. Ficou nítido, por exemplo, que durante todo o
processo de retirada de crachás no credenciamento dos delegados/as, coube à Arti-
n 50o CONGRESSO DA UNE
152
O BRASIL, A UNIVERSIDADE E O MOVIMENTO ESTUDANTIL
Superando as previsões
O resultado alcançado por nós no Congresso contrasta com a previsão da
maioria das forças políticas no movimento estudantil e, inclusive, com as nossas
próprias previsões.
Contudo, devemos reconhecer que eleitoralmente poderíamos ter ido muito
melhor. Primeiro, porque poderíamos ter evitado a considerável quebra de delega-
dos/as que tivemos na plenária final do Congresso. Segundo, porque o tamanho de
nossa delegação não representou o tamanho real de nossa base social.
Uma melhor organização na eleição de delegados/as, um esforço adicional na
mobilização dos delegados/as teria garantido para a Articulação de Esquerda não
só uma vitória política, mas também uma vitória eleitoral, podendo repetir outros
momentos da nossa atuação no movimento estudantil, por exemplo, aqueles nos
quais conquistamos duas vagas na executiva da UNE.
Isso demonstra que é necessário ampliar e aprofundar a organicidade da AE
em todos os estados, garanti formação política que dê conta de preparar a forte
renovação de quadros na juventude. As direções estaduais da tendência precisam
acompanhar mais de perto o trabalho na juventude.
Por fim, precisamos unificar o PT desde agora na vida real do movimento es-
tudantil, para preparar com mais consistência a unidade petista para a disputa da
UNE. Para isso, será necessário convencer todos os setores do PT dessa política
como única forma de construirmos outra hegemonia no ME e na UNE, de mudar
profundamente a entidade nacional dos estudantes universitários e de ampliar con-
sideravelmente as lutas estudantis.
* Bruno Elias, 1º vice-presidente da UNE – gestão 2007-2009
** Maurício Piccin, 1º vice-presidente da UNE – gestão2005-2007
Diretores e diretoras eleitos no 50º Congresso
Bruno Elias – 1º vice-presidente da UNE
Direito / Universidade Federal do Tocantins / Tocantins
Larissa Campos – 1ª diretora de movimentos sociais da UNE
Engenharia de produção / Universidade Federal de Viçosa / Minas Gerais
Luis Felipe Maciel – 2º diretor de relações internacionais da UNE
Administração / Universidade de Pernambuco / Pernambuco
Daniel Damiani – 1º diretor de assistência estudantil da UNE
Ciências Sociais / Universidade Federal do Rio Grande do Sul / Rio Grande do Sul
n 50o CONGRESSO DA UNE
153
51o Congresso da UNE
Brasília (DF), 15 a 19 de julho de 2009
TESE
RECONQUISTAR A UNE
PARA A LUTA E PARA OS/AS ESTUDANTES
APRESENTAÇÃO
Entre os dias 15 e 19 de julho acontece em Brasília o 51º Congresso da União
Nacional dos Estudantes. Este Congresso deve ser encarado como uma grande
oportunidade para refletirmos sobre a situação do nosso país e do mundo, sobre
os desafios do movimento estudantil e a construção de uma Universidade Demo-
crática e Popular.
A “Reconquistar a UNE” é um coletivo que se organiza nacionalmente no mo-
vimento estudantil e há algum tempo vem construindo a UNE nas universidades e
nas ruas, em cada ocupação, mobilização e debate Brasil afora. Disputamos suas
posições porque acreditamos que nossa entidade nacional pode cumprir um papel
ainda mais ativo na organização dos estudantes. Somos oposição a atual maioria
que dirige a UNE porque acreditamos que sua política não vem atendendo aos no-
vos desafios colocados para o movimento estudantil (ME).
Queremos um movimento estudantil diferente. Só ampliaremos as lutas no
ME se ele for radicalmente democrático e combativo. A UNE pode dar grande con-
tribuição para as lutas da juventude e dos trabalhadores. Por isso, lutamos por uma
UNE mais ousada e menos conciliatória, mais dinâmica e menos institucionaliza-
da. A UNE precisa ter uma postura que esteja à altura das possibilidades abertas
no Brasil e na América Latina e que dê consequência às recentes lutas travadas nas
universidades brasileiras.
Reconquistar a UNE para a luta e para as/os estudantes!
Por uma Universidade Democrática e Popular!
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O BRASIL, A UNIVERSIDADE E O MOVIMENTO ESTUDANTIL
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TESES DA TENDÊNCIA PETISTA ARTICULAÇÃO DE ESQUERDA AOS CONGRESSOS DA UNE (1995-2021)
O governo Lula reagiu à crise com mais investimento público, mais investimento
social, mais mercado interno, mais Estado, mais integração continental. A constru-
ção de 1 milhão de moradias populares, o fortalecimento do PAC e a ampliação do
repasse da União aos municípios vai neste mesmo sentido. O rumo geral destas me-
didas é correto, mas é preciso ir além, especialmente se queremos, sobre as ruínas
do neoliberalismo, construir outra ordem, que seja socialista.
Para dar conta das grandes tarefas que se apresentam, os movimentos sociais
têm que estar cada vez mais organizados e mobilizados. Para tanto, temos que cola-
borar na construção da Coordenação dos Movimentos Sociais (CMS), nos estados
e articulando mobilizações e agendas comuns que vinculem as bandeiras imediatas
de cada movimento com a luta mais geral por reformas democráticas e populares.
neutralidade.
A defesa da continuidade de programas exitosos e o compromisso com o apro-
fundamento das mudanças constituem pontos fundamentais da disputa. A UNE
deve deixar claro que não quer o mero continuísmo, mas tomar o que foi feito
como alavanca para avançar, especialmente em direção às mudanças estruturais
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O BRASIL, A UNIVERSIDADE E O MOVIMENTO ESTUDANTIL
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TESES DA TENDÊNCIA PETISTA ARTICULAÇÃO DE ESQUERDA AOS CONGRESSOS DA UNE (1995-2021)
É preciso exigir que a exploração das jazidas do pré-sal seja realizada por uma
nova estatal para impedir que os recursos provenientes sejam alvos dos especu-
ladores que controlam parte significativa das ações da Petrobrás. Estes recursos
devem ser gastos com políticas sociais e fortalecimento do setor público, principal-
mente nas áreas da educação, saúde e previdência social.
Novos desafios
Em meio à longa hegemonia do desenvolvimentismo conservador e do neoli-
beralismo, a primeira eleição de Lula em 2002 representou, entre os setores sociais
comprometidos com a luta pela universidade pública, um claro desejo de reversão
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O BRASIL, A UNIVERSIDADE E O MOVIMENTO ESTUDANTIL
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TESES DA TENDÊNCIA PETISTA ARTICULAÇÃO DE ESQUERDA AOS CONGRESSOS DA UNE (1995-2021)
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O BRASIL, A UNIVERSIDADE E O MOVIMENTO ESTUDANTIL
- Controle social das vagas destinadas ao ProUni (Programa Universidade Para To-
dos) com garantia de qualidade e assistência estudantil;
- Pelo direito de matrícula dos inadimplentes;
- Não ao ensino à distância como meio de mercantilização do ensino e único meio
de formação;
- Congressos estatuintes paritários e garantia da paridade em todos os níveis de re-
presentação das instituições (colegiados, conselhos, direções);
- Eleições diretas e paritárias para todos os dirigentes nas universidades e FIM da
lista tríplice para a escolha de dirigentes;
- Ampla liberdade de organização estudantil e sindical – garantia de espaço físico
para as entidades estudantis;
- Criação de conselhos sociais que reúnam sindicatos, movimentos, outros setores
sociais e os segmentos internos das instituições de ensino;
- Pela aprovação do projeto de lei de reserva de vagas nas universidades federais;
- “Ocupar o REUNI”, disputando programas de expansão que garantam assistência
estudantil e garantia da qualidade de ensino: laboratórios, bibliotecas, salas de au-
las, professores qualificados;
- Contra as modalidades de formação intermediária;
- Pela autonomia e fortalecimento do caráter público e gratuito das universidades
estaduais;
- Pelo fim do vestibular e adoção de modelos não-excludentes de acesso ao ensino
superior;
- R$ 400 milhões para assistência estudantil com rubrica própria da União, que ga-
ranta o investimento em moradias estudantis; criação, recuperação e ampliação dos
restaurantes universitários; criação de creches nas universidades, transporte públi-
co gratuito (passe livre), bolsas permanência, atendimento à saúde etc.;
- Financiamento da assistência estudantil nas universidades pagas através da taxa-
ção dos lucros do ensino privado e/ou através de outros meios que não da União.
Verba pública somente para educação pública;
- “Revolução Pedagógica” nas universidades; adoção de métodos pedagógicos e de
avaliação críticos e participativos; reforma curricular; substituição da estrutura dos
departamentos por uma organização acadêmica permeável à participação democrá-
tica da comunidade e à interdisciplinaridade;
n 51o CONGRESSO DA UNE
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TESES DA TENDÊNCIA PETISTA ARTICULAÇÃO DE ESQUERDA AOS CONGRESSOS DA UNE (1995-2021)
(Antônio Gramsci)
jovens constroem uma rede cada vez mais ampla e diversificada de organizações.
O ME, portanto, embora seja ainda o movimento juvenil mais organizado do
país está longe de ser a única expressão organizada da diversidade da juventude
brasileira. Reconhecer isso é fundamental para o diálogo com as demais organiza-
ções e movimentos juvenis.
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O BRASIL, A UNIVERSIDADE E O MOVIMENTO ESTUDANTIL
Desafios atuais
Se a sociedade mudou, a universidade mudou e os estudantes mudaram, por
que o movimento estudantil deveria atuar e se organizar da mesma maneira?
Todas as forças que atuam na UNE são responsáveis pela sua incapacidade em
enfrentar estes problemas, mas a responsabilidade da direção majoritária da UNE
(UJS e aliados) é proporcional ao peso que ela possui na direção da entidade.
Não estamos entre queles que consideram que a direção majoritária da UNE é
o “mal” do movimento estudantil. Contudo, ao ser fiadora de uma cultura política
e de organização que imprime à ação das entidades uma orientação defensiva, ins-
titucionalizada e distante de sua base social, essa maioria não ajuda a retomarmos
o protagonismo da UNE e do movimento estudantil.
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TESES DA TENDÊNCIA PETISTA ARTICULAÇÃO DE ESQUERDA AOS CONGRESSOS DA UNE (1995-2021)
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O BRASIL, A UNIVERSIDADE E O MOVIMENTO ESTUDANTIL
negros e negras, LGBTT e mulheres etc. Os NTPs seriam conduzidos pela sua res-
pectiva coordenação (diretoria) e compostos pelas entidades estudantis, fóruns e
grupos organizados das universidades. Assim, pode-se envolver muito mais pessoas
e opiniões na formulação de políticas e construção de atividades.
b) Comunicação
Na política de comunicação da UNE, ainda impera o método antidemocrático.
A ilha editorial e os poucos meios de comunicação da entidade são controlados
apenas pela forma política majoritária. Se a UNE é a favor da democratização dos
meios de comunicação, como ela pode aceitar o monopólio dos seus próprios
meios de comunicação por apenas uma força política?
É necessário ter uma participação plural na definição da política de comuni-
cação e do conteúdo de seus meios. O Conselho Editorial da UNE, aprovado no
último CONEB, até hoje não saiu do papel. A revista Movimento é uma ilustre des-
conhecida dos estudantes, é elaborada de cima para baixo sem a participação dos
próprios diretores da UNE.
Uma política de comunicação para a UNE deve ser: a) democrática e parti-
cipativa; b) ágil dinâmica e atualizada; c) massiva e que atinja a maior parte dos
estudantes; e d) não só informativa, mas também organizativa e formativa. Por isso,
a UNE deve criar instrumentos diretos de comunicação com os estudantes e as en-
tidades estudantis.
Portanto, propomos:
- Criar um jornal e boletim de circulação nacional nas entidades estudantis, aberto
a todas as opiniões do movimento estudantil;
- Site da UNE mais ágil, interativo e colaborativo com o movimento;
- Criação de listas de discussão temáticas de cada NTP da entidade;
- Recuperar o nexo mural como ferramenta importante e eficiente de divulgar as
atividades da UNE;
- Garantir mecanismos regimentais que possibilitem a divulgação, no site da UNE,
de todas as diferentes teses antes do Congresso da UNE, do CONEB e do CONEG;
- Criar com urgência o boletim eletrônico da UNE utilizando-o como uma ferramen-
ta para cadastrar o máximo de entidades possíveis;
- Intensificar as visitas dos diretores da UNE nas universidades, com agenda previa-
mente organizada e divulgada, de forma que as entidades de base e gerais possam
preparar debates e passagens em salas de aula.
n 51o CONGRESSO DA UNE
c) Finanças
A política financeira da UNE é de longe a mais avessa à participação coletiva
na entidade. Centralizada na direção majoritária (UJS/PCdoB), sua condução é fei-
ta sem o planejamento e instrumentos de controle. Além disso, a reformulação da
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TESES DA TENDÊNCIA PETISTA ARTICULAÇÃO DE ESQUERDA AOS CONGRESSOS DA UNE (1995-2021)
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(Bertold Brecht)
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TESES DA TENDÊNCIA PETISTA ARTICULAÇÃO DE ESQUERDA AOS CONGRESSOS DA UNE (1995-2021)
Legalizar as drogas
O debate sobre a questão da violência, do narcotráfico e da drogadição deve
ser feito abertamente, sem moralismos ou hipocrisias. A maneira como a grande
mídia e a maioria dos governos trata o tema é parcial, equivocada e esconde inte-
resses escusos. O ser humano desde a antiguidade utiliza substâncias químicas para
obter estados alterados de consciência, pelo simples prazer e/ou pelo uso religioso.
Tanto as drogas legais como as ilegais geram alteração no estado de consci-
ência e podem até levar à morte. No caso das drogas ilegais, contudo, tais efeitos
deletérios à saúde se somam aos efeitos sociais negativos advindos da própria situ-
ação de ilegalidade. O dependente químico, ao invés de assistente social, médico,
psicólogo e educador, que lhe dariam alternativas de tratamento e mesmo de re-
n 51o CONGRESSO DA UNE
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O BRASIL, A UNIVERSIDADE E O MOVIMENTO ESTUDANTIL
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TESES DA TENDÊNCIA PETISTA ARTICULAÇÃO DE ESQUERDA AOS CONGRESSOS DA UNE (1995-2021)
(Ferreira Gullar)
A vida é pouca
a vida é louca
mas não há senão ela
E não te mataste, essa é a verdade.
A estrela mente
o mar sofisma. De fato,
o homem está preso à vida e precisa viver
o homem tem fome
e precisa comer
o homem tem filhos
e precisa cria-los
e é preciso quebrá-las!
E na universidade?
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O BRASIL, A UNIVERSIDADE E O MOVIMENTO ESTUDANTIL
AVALIAÇÃO
Celebração insuficiente9
Por Bruno Elias*
Realizado entre os dias 15 e 20 de julho, na cidade de Brasília, o 51º Congres-
so da União Nacional dos Estudantes elegeu sua nova direção e plataforma política
para os próximos dois anos.
A participação da Articulação de Esquerda e da tese Reconquistar a UNE du-
rante todo o Congresso reivindicou uma intervenção da UNE e do movimento
estudantil que estivesse à altura dos desafios colocados para os movimentos so-
ciais: mobilização em torno de uma plataforma de medidas e reformas estruturais
e a luta por uma universidade democrática e popular, resistência à agenda conser-
vadora que a direita disputa para a educação e para o país e engajamento na dura
disputa de projetos preparada para 2010, contribuindo para radicalizar as mudan-
ças em curso.
Retomar o protagonismo da UNE nas lutas estudantis do próximo período
exige uma política mais avançada para a entidade, tendo em vista a necessidade de
uma profunda democratização de sua estrutura e métodos de direção e a constru-
ção enraizada das entidades da rede do movimento. Esta política deve ir além da
orientação da maioria dirigida pela UJS na UNE, pautada numa postura defensiva
que pouco contribui para superar a crise presente de legitimidade e representativi-
dade da UNE perante sua base social.
Outro desafio diz respeito à necessidade da UNE e do conjunto do movimento
estudantil acompanhar as profundas mudanças ocorridas no perfil da juventude,
dos estudantes e da educação superior, já que temas envolvendo a relação juven-
tude, mundo do trabalho e educação adquirem maior centralidade nas pautas do
movimento estudantil.
Diante de tais tarefas, foi insuficiente a resposta dada pelo 51º Congresso da
UNE. A extensão do Congresso à quase totalidade das instituições de ensino reforça
a referência da UNE perante amplos setores do movimento, mas não supera a rela-
ção apenas episódica e congressual com as universidades e as entidades estudantis
que ainda é dominante.
Visto pela direção majoritária como um momento de “celebração”, o CONUNE
n 51o CONGRESSO DA UNE
foi retrato fiel dos limites dos fóruns do movimento. Problemas estruturais relevan-
tes, concentração de todos os debates políticos em apenas um dia e o esvaziamento
dos grupos de discussão reforçam a necessidade de o movimento repensar seus
fóruns. A UNE deve acompanhar as experiências de organização de outros movi-
9. Página 13, n. 80, ago. 2009, p. 8.
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TESES DA TENDÊNCIA PETISTA ARTICULAÇÃO DE ESQUERDA AOS CONGRESSOS DA UNE (1995-2021)
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52o Congresso da UNE
Goiânia (GO), 13 a 17 de julho de 2011
TESE
RECONQUISTAR A UNE
A todo instante rola um movimento
que muda o rumo dos ventos
(Paulinho da Viola)
Quem somos
A tese Reconquistar a UNE é construída por estudantes que se referenciam no
PT, na esquerda do PT e sua tendência interna, Articulação de Esquerda. É uma tese
também daqueles/as que se dedicam a luta pela construção de outro mundo, mais
justo, democrático e igualitário: um mundo socialista! Lutamos por um Movimento
Estudantil diferente, que consiga dar resposta às pautas centrais da educação e ao
mesmo tempo consiga dar corpo à luta geral com outros movimentos sociais. Esta
luta perpassa pela defesa de uma UNE democrática, autônoma e combativa.
Defendemos que o Movimento Estudantil e a UNE tenham um papel prota-
gonista na disputa dos rumos do Brasil, aprofundando mudanças conquistadas,
combatendo as políticas de retrocesso e construindo o caminho para reformas
estruturais.
Não compactuamos com as posições extremistas que, pautadas sempre pelo
governo, revelam de um lado expressam o adesismo acrítico ao governo, e de outro
a oposição oportunista e também acrítica a ele. Compreendemos e defendemos o
papel protagonista e autônomo dos movimentos sociais.
Cabe à UNE, assim, entender esse papel histórico. E para isso, será necessário
fazermos com que a UNE tenha uma relação real com @s estudantes brasileir@s
e com as demais organizações estudantis. Que esteja presente nas Universidades,
com legitimidade para poder avaliar a situação do ensino, e dar resposta rápida e
concreta para os problemas. Mas, só conseguiremos isso se democratizarmos a es-
trutura organizativa, financeira e de comunicação da entidade, e se fizermos com
179
TESES DA TENDÊNCIA PETISTA ARTICULAÇÃO DE ESQUERDA AOS CONGRESSOS DA UNE (1995-2021)
que ela tenha uma postura autônoma e protagonista frente ao governo e que possa
retomar a organização de amplos setores d@s estudantes brasileir@s.
Por isso, gostaríamos de apresentar uma alternativa de direção para a UNE:
Reconquistar a UNE!
Some-se à luta!
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O BRASIL, A UNIVERSIDADE E O MOVIMENTO ESTUDANTIL
CONJUNTURA POLÍTICA
No ano de 2010 vivenciamos duas grandes experiências: o término do governo
Lula com um recorde de aprovação popular e avanços conquistados para a classe
trabalhadora e a disputa polarizada entre o campo da esquerda, encabeçado pelo
PT, e o campo da direita, encabeçado pelo PSDB.
Precisamos fazer avaliações desses dois acontecimentos para projetarmos nos-
sa atuação no presente e consolidar nosso caminho de futuro. Assim, é preciso
reconhecer que mesmo com toda a disputa interna do governo Lula com os setores
de centro e de direita, o governo sai como o melhor de nossa história e o que mais
obteve avanços no que tange à luta d@s trabalhadores/as.
Contudo, na disputa presidencial, setores de esquerda – partidos e movimen-
tos sociais – deixaram claro que tais avanços não são o bastante para mudar a
condição de exploração da classe trabalhadora no país: é preciso mais. E foi com
esse sentimento que a vitória da primeira mulher Presidente da República foi
n 52o CONGRESSO DA UNE
comemorada.
O novo governo se inicia então, com um impasse: continuar ou modificar a
contraditória política do governo Lula, que também se refletiu no Ensino Superior,
pois, se por um lado foram ampliados os investimentos nas Universidades Públicas,
expandindo-as e criando novas instituições, por outro, não foram alterados seus
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TESES DA TENDÊNCIA PETISTA ARTICULAÇÃO DE ESQUERDA AOS CONGRESSOS DA UNE (1995-2021)
da pelo MEC, com 81 novas unidades federais até 2012 (hoje há 354 escolas federais
no país) e transferência de recursos do programa Brasil Profissionalizado aos esta-
dos para ampliarem suas redes, criando 500 mil matrículas (1/3 do Pronatec).
Hoje, mais de 53% das 1,1 milhão de matrículas no ensino técnico no Bra-
sil são em instituições públicas. Com a expansão do ensino técnico e tecnológico
182
O BRASIL, A UNIVERSIDADE E O MOVIMENTO ESTUDANTIL
promovido no governo Lula, uma série de demandas tem sido criadas nestas ins-
tituições, em termos de infraestrutura e assistência estudantil. Já no Sistema S,
encontra-se a maioria das matrículas particulares, parte gratuitas, com 4,7 mil uni-
dades em 3 mil cidades do país.
Com a implementação deste programa serão necessários uma ampliação
radical dos recursos para as instituições públicas, a fim de garantir a qualidade ne-
cessária, infraestrutura e concursos públicos para professores. Mas sem dúvida, o
Pronatec representa um fortalecimento do setor privado, em grande parte dos ca-
sos, de qualidade duvidosa, que com a expansão ensejada pode piorar ainda mais.
O MEC estuda constituir um processo de avaliação in loco das instituições privadas,
para averiguar suas condições.
É dever do governo promover a regulamentação do Sistema S, pois em mui-
tas unidades desrespeitam as legislações educacionais e trabalhistas, ao contratar
professores como “instrutores” ou pessoa jurídica (prestador de serviço), impossi-
bilitando sua sindicalização e participação nas convenções e contratos coletivos de
trabalho, reduzindo direitos e precarizando as relações de trabalho.
Também devemos lutar pela democratização do Sistema S, que marcado pelo
modelo de gestão empresarial, exclui os trabalhadores e estudantes dos espaços
de tomada de decisões. Faz-se necessário tanto no setor público, como privado,
a ampliação dos direitos dos estudantes do ensino técnico e tecnológico, melhor
qualificação do ensino, implementação de programas de assistência estudantil, li-
berdade de organização estudantil e sindical, participação estudantil nos órgãos
colegiados, dentre outros.
É tarefa do Movimento Estudantil pressionar o governo para que a expansão
da educação técnica seja prioritariamente pelo via pública, com a ampliação maciça
de investimentos públicos nas redes federal e estaduais, assim como pela mudança
de seu caráter, que deve estar articulada a uma formação profissional mais ampla
e emancipadora, de forma que os jovens não sejam submetidos a uma formação
excessivamente específica e tecnicista, direcionada unicamente às demandas do
mercado, mas sim às demandas locais de sua comunidade.
183
TESES DA TENDÊNCIA PETISTA ARTICULAÇÃO DE ESQUERDA AOS CONGRESSOS DA UNE (1995-2021)
184
O BRASIL, A UNIVERSIDADE E O MOVIMENTO ESTUDANTIL
elevação da taxa bruta de matrícula para 50% e da taxa líquida para 33% (indepen-
dentemente de ser pública ou privada); a ausência da proposta de reserva de vagas
de 50% nas universidades para estudantes oriundos de escolas públicas, respeitan-
do a proporção de negros/as e indígenas por estado; do fim dos cursos pagos nas
instituições públicas e a regulamentação do ensino privado; dentre outras propos-
185
TESES DA TENDÊNCIA PETISTA ARTICULAÇÃO DE ESQUERDA AOS CONGRESSOS DA UNE (1995-2021)
tas avançadas que foram subestimadas na elaboração do PL, assim como alguns
pontos problemáticos no conteúdo do PNE que não foram deliberados da CONAE.
Ao Movimento de Educação interessa um PNE avançado, pois enquanto polí-
tica de Estado, este deve colocar a Educação brasileira em um novo patamar nesta
década, fortalecendo e investindo radicalmente na Educação Pública e Gratuita em
todos os níveis e reduzindo o poder do ensino privado.
Durante este ano, o PNE estará em discussão no Congresso Nacional e cabe ao
Movimento Estudantil encabeçar a reorganização do Fórum Nacional em Defesa da
Escola Pública e construir uma grande Campanha pela Educação Pública nas ruas e
universidades, pressionando o Congresso e combatendo o lobby do ensino priva-
do no seu interior, articulando a luta social com a luta institucional. Quanto maior
for a pressão, maiores são as possibilidades de que sejamos vitoriosos. No dia 23/3
a Câmara aprovou a criação de uma Comissão Especial para analisar o PL do PNE.
Consideramos isto negativo, pois restringe o debate e a realização de audiências pú-
blicas, reduzindo a possibilidade de pressão para que se avance mais no conteúdo
do Plano. Logo, devemos pautar a ampliação do debate sobre o PNE e reivindicar:
- Investimento de 10% do PIB em educação até 2014; - 50% do Fundo Social do Pré-
-Sal para educação (retirada do veto do Lula);
- Recursos públicos devem ser investidos apenas na educação pública, em todos
os níveis e modalidades de ensino, como forma de desmercantilizar a educação;
- Fim dos cursos pagos de pós-graduação nas instituições públicas;
- Alocar recursos financeiros específicos para a expansão da graduação nas institui-
ções públicas no período noturno;
- Regulamentação do ensino privado em todos os níveis educacionais, limitando a
participação de capital estrangeiro na educação, retomando os marcos da educa-
ção como direito e não como mercadoria, garantindo fiscalização efetiva para evitar
abusos;
- Deve ser incrementada a expansão do ensino superior público presencial, me-
diante programas de expansão democraticamente discutidos com a comunidade
universitária e com a sociedade em geral e com interiorização deste nível de en-
sino, levando em consideração as reais necessidades da população; fortalecer as
licenciaturas presenciais;
n 52o CONGRESSO DA UNE
- Em relação ao Ensino Superior, até 2020 60% das matrículas devem ser em insti-
tuições públicas e 40% em privadas;
- Reserva de vagas nas universidades de 50% para estudantes egressos de escolas
públicas, respeitando a proporção de negros/as e indígenas em cada estado de acor-
do com os índices do IBGE;
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O BRASIL, A UNIVERSIDADE E O MOVIMENTO ESTUDANTIL
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TESES DA TENDÊNCIA PETISTA ARTICULAÇÃO DE ESQUERDA AOS CONGRESSOS DA UNE (1995-2021)
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TESES DA TENDÊNCIA PETISTA ARTICULAÇÃO DE ESQUERDA AOS CONGRESSOS DA UNE (1995-2021)
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O BRASIL, A UNIVERSIDADE E O MOVIMENTO ESTUDANTIL
vas são uma realidade na maioria das grandes universidades públicas e privadas no
país, mas o seu real significado, sua aplicabilidade e suas consequências ainda são
pouco exploradas, e alguns mecanismos precisam ser aprofundados para construir
de fato uma universidade que incorpore a diversidade e atenda de forma plena as
demandas trazidas por um novo conjunto de estudantes que ingressam.
193
TESES DA TENDÊNCIA PETISTA ARTICULAÇÃO DE ESQUERDA AOS CONGRESSOS DA UNE (1995-2021)
rar também outros mecanismos de atuação que possibilitem uma nova postura no
combate às desigualdades socio-raciais dentro das instituições de ensino.
Este ano a União Nacional dos Estudantes estará construindo o seu terceiro
Encontro de Estudantes Negras e Negros e Cotistas na cidade de Salvador, Bahia.
O movimento estudantil foi parte do avanço das políticas afirmativas nas universi-
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O BRASIL, A UNIVERSIDADE E O MOVIMENTO ESTUDANTIL
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TESES DA TENDÊNCIA PETISTA ARTICULAÇÃO DE ESQUERDA AOS CONGRESSOS DA UNE (1995-2021)
AVALIAÇÃO
A luta é o local10
Por Guilherme Guimarães de A zevedo*
Nós da juventude da AE e da tese Reconquistar a UNE disputamos a União Na-
cional dos Estudantes considerando que o movimento estudantil deve ter como norte
a autonomia frente a governos, a democracia interna e coletivização dos espaços, a
defesa das bandeiras da área de educação e a aliança com outros movimentos sociais
na luta por uma sociedade que supere o capital.
Frente ao governo Lula, nos colocamos de forma crítica aos projetos que iam
de encontro à educação emancipatória e popular, mas ao mesmo tempo na defesa
da expansão e democratização do acesso na defesa da expansão e democratização
do acesso ao ensino superior. E foi assim que em 2010 fomos pras ruas apoiar Dilma
presidenta, derrotando a direita raivosa e construindo a possibilidade de avançarmos
nas já vitoriosas conquistas dos últimos anos.
Em 2011 não mudamos de lado nem muito menos voltamos para a casa achando
que os nossos problemas seriam resolvidos com a eleição da primeira mulher presi-
denta. Continuamos nos espaços de base estudantil, construindo luta e aproximando
mais pessoas do ME.
Em janeiro, como já colocamos em outros textos e relatos da atuação da JAE/Re-
conquistar a UNE, a participação de vários estados e dos quatro cantos do Brasil no
13º CONEB no Rio de Janeiro, aliada com a renovação de noss@s militantes fez com
que conseguíssemos potencializar a organização e coletivizarmos as tarefas pra cons-
trução de nossa tese ao 52º Congresso da União Nacional dos Estudantes. O CONEB
foi um marco: renovamo-nos, pensamos a política, nos organizamos e planejamos
nossas atuações pro semestre.
E a resposta foi rápida. Logo depois nos destacamos nas lutas e disputas estadu-
ais que a Reconquistar a UNE participou. A coerência da nossa política deu nitidez
para construirmos o ME: duo combate aos inimigos da educação – como as forças
de direita e as mantenedoras das universidades privadas – e às práticas burocráticas,
antidemocráticas e imobilistas da direção majoritária da UNE. Foram variadas vitórias
nas eleições de delegad@s, o que deu ânimo e certeza para nossa galera ir à Goiânia
ocupar o CONUNE.
n 52o CONGRESSO DA UNE
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O BRASIL, A UNIVERSIDADE E O MOVIMENTO ESTUDANTIL
197
53o Congresso da UNE
Goiânia (GO), 29 de maio a 02 de junho de 2013
TESE
RECONQUISTAR A UNE
PARA A LUTA E PARA OS E AS ESTUDANTES!
OPOSIÇÃO
198
O BRASIL, A UNIVERSIDADE E O MOVIMENTO ESTUDANTIL
diminuir o superávit primário, que é o dinheiro economizado que poder ser gasto
em educação e infraestrutura e vai parar pagamento dos juros da dívida.
O segundo desafio parte da concepção de que o problema da universidade
brasileira não é só de financiamento. A falta de recursos explica muita coisa, mas
não uma universidade machista, homofóbica, racista, eurocêntrica, fechada para
a comunidade ao seu redor e com uma pedagogia bancária. Urge a necessidade
de construção de uma Reforma Universitária. A universidade não é neutra, pelo
contrário, tem sido importante aliada dos setores dominantes. Precisamos trans-
formá-la em um espaço de reflexão sobre o Brasil e de intervenção na realidade.
O Brasil que queremos precisa de uma universidade com democracia inter-
na, onde a voz dos estudantes tenha o mesmo peso que a dos professores; uma
universidade com pesquisa fortalecida e a serviço do desenvolvimento nacional e
regional; que seja sem muros e pratique uma extensão universitária com trocas de
conhecimento e valorização dos saberes populares; uma universidade em que sua
grade curricular valorize o SUS, estude a necessidade de uma reforma agrária, de-
bata a democratização das comunicações e outras demandas sociais que hoje são
ignoradas.
A UNE, em seu 14º CONEB – Conselho Nacional de Entidades de Base
ocorrido no Recife, em janeiro, construiu o projeto de reforma universitária dos
estudantes brasileiros que dá conta destas demandas. Precisamos agora fazer com
que este projeto vá para as bases e seja debatido pelo conjunto dos estudantes, para
que seja a pauta central da próxima jornada de lutas.
Para participar da mobilização na luta por estes desafios, precisamos, antes,
resolver o terceiro deles. Hoje, um número cada vez maior de universitários se
organiza em coletivos de mulheres, de negros e negras, de cultura, de LGBTs, de
extensão, de religiões, de defesa do meio ambiente, entre outros. Esses diversos
movimentos organizam e mobilizam milhares de estudantes pelo país, porém nem
sempre constroem a rede tradicional do movimento estudantil (Centros e Diretó-
rios Acadêmicos, Diretórios Centrais dos Estudantes, UEEs, Executivas e Federações
de curso e a UNE). É um desafio colocado sobre nós a reorganização do movimen-
to estudantil, entendendo-o como um prisma em que essas diversas identidades se
convergem e que encontram na UNE, mais uma vez, um dos principais espaços de
luta estudantil Brasil afora.
n 53o CONGRESSO DA UNE
Esta próxima geração da UNE terá como grande desafio produzir uma nova
cultura política para o movimento estudantil que atraia para as entidades do mo-
vimento estudantes que não mais a enxergam como seus espaços de organização.
Para este novo tempo precisamos de um novo movimento estudantil que seja capaz
de mudar a universidade e transformar o Brasil!
199
TESES DA TENDÊNCIA PETISTA ARTICULAÇÃO DE ESQUERDA AOS CONGRESSOS DA UNE (1995-2021)
CONJUNTURA
Nós, os e as estudantes do Brasil, precisamos estar profundamente atentos
ao que nos rodeia. A educação que queremos e sonhamos está intimamente ligada
com o mundo que queremos e sonhamos. Portanto, analisar os conhecimentos,
200
O BRASIL, A UNIVERSIDADE E O MOVIMENTO ESTUDANTIL
201
TESES DA TENDÊNCIA PETISTA ARTICULAÇÃO DE ESQUERDA AOS CONGRESSOS DA UNE (1995-2021)
que temos o dom de mudar essas condições. Nos últimos anos, temos visto uma
série de mobilizações protagonizadas pela juventude brasileira. Seja nas marchas
(das vadias, liberdade, maconha, educação), seja nas greves que aumentam signi-
ficativamente no Brasil e tem grande presença da juventude trabalhadora, seja na
jornada de lutas da juventude construída há pouco por diversas organizações polí-
ticas do país. Só a nós pertence o presente e é nele que construímos o futuro que
queremos.
(Paulo Freire)
tensão, mais sensível a fatores objetivos do lado de fora dos muros universitários.
Compreender essas mudanças é fundamental para darmos lastro a uma pauta
e agenda política que se identifiquem com a realidade dos estudantes. Recolocar
o ME e a UNE a frente de grandes lutas no país exigirá um diagnóstico sério sobre
estas e outras questões.
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O BRASIL, A UNIVERSIDADE E O MOVIMENTO ESTUDANTIL
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TESES DA TENDÊNCIA PETISTA ARTICULAÇÃO DE ESQUERDA AOS CONGRESSOS DA UNE (1995-2021)
EDUCAÇÃO
Universidades Públicas
n 53o CONGRESSO DA UNE
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O BRASIL, A UNIVERSIDADE E O MOVIMENTO ESTUDANTIL
(Che Guevara)
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TESES DA TENDÊNCIA PETISTA ARTICULAÇÃO DE ESQUERDA AOS CONGRESSOS DA UNE (1995-2021)
quando o assunto é educação, diz que investir na educação superior nas regiões da
América do Sul, África e Sul da Ásia era o mesmo que... gastar dinheiro para reinven-
tar a roda. Isso chegou aos ouvidos de alguns de nossos ex-presidentes na década
de noventa, que “não queriam reinventar a roda”. Para eles, bastava exportar suco
de laranja e controlar a inflação.
206
O BRASIL, A UNIVERSIDADE E O MOVIMENTO ESTUDANTIL
Desta forma, a educação superior no Brasil manteve o viés que sempre teve,
ou seja, altamente elitista, onde somente entravam os filhos brancos daqueles que
podiam pagar os “velhos e bons” colégios tradicionais.
Ao longo dos governos neoliberais que marcaram a década de noventa, este
direito, assim como tantos outros, foi renegado, com o sucateamento das universi-
dades públicas e a transferência desta responsabilidade do Estado para a iniciativa
privada.
Vivendo desde então um “boom das instituições privadas de ensino, processo
este que já vinha se dando desde a ditadura militar. Se na década de noventa estas
se concentravam no ensino básico e pré-vestibular, hoje, sua hegemonia está no
campo das instituições de ensino superior. Atualmente, cerca de 73% dos estudan-
tes brasileiros estão em instituições privadas, comunitárias ou confessionais.
Com a chegada do Partido dos Trabalhadores ao governo federal, a lógica cruel
de sucateamento das universidades públicas – somadas à expansão das IES priva-
das – foi rompida em uma de suas pontas. O governo aumentou significativamente
o investimento no ensino superior público, através do REUNI, que possibilitou a
reforma das universidades federais, a duplicação da quantidade de vagas e a cons-
trução de 14 novas pelo interior do país (áreas historicamente penalizadas pelos
velhos governos).
Quanto ao setor privado, este também se beneficiou dos investimentos do go-
verno na educação. Nunca antes houve tantas universidades, faculdades e cursos
EADs espalhados pelo país, cobrando para oferecer o que tratam como seu pro-
duto, sua mercadoria.
Apesar de elevar a quantidade de pessoas ao tão sonhado “mundo do ensino
superior”, do diploma e da graduação, este crescimento desenfreado dos IES pri-
vadas é uma faca de dois gumes. Por um lado, uma imensa maioria destas recebe
recursos públicos para se manter e apenas por isso continuam existindo. Por outro,
por serem empresas, têm como objetivo final auferir lucros. Estes, por sua vez, nem
sempre podem ser alcançados com o investimento necessário para garantir uma
educação de qualidade; com baixo custo; remuneração que valorize os docentes
e demais servidores; uma boa estrutura física; tendo tudo isso alinhado com ferra-
mentas de gestão participativa e democrática.
O que vemos por aí é exatamente o contrário. Em sua quase totalidade, as IES
privadas funcionam como meras distribuidoras de diplomas, que, para justificar seu
n 53o CONGRESSO DA UNE
caráter meritório, abusam de ferramentas como altas taxas; altas mensalidades; ri-
gor desmesurado nas “fichas de presença”; incentivo a concorrência em detrimento
ao cooperativismo; retrógradas ferramentas de avaliação; e muita, muita burocracia.
O peso deste lado da balança aumenta quando conglomerados multinacionais
entram em cena. Ao longo dos últimos anos, diversas instituições de ensino brasi-
207
TESES DA TENDÊNCIA PETISTA ARTICULAÇÃO DE ESQUERDA AOS CONGRESSOS DA UNE (1995-2021)
leiras foram compradas por empresas estrangeiras, e esta é uma tendência que tem
aumentado. São megaempresas, com ações nas bolsas de valores de todo o plane-
ta que têm na oferta de diplomas o seu produto. As consequências deste processo
são a desnacionalização da educação, a submissão destas às regras de mercado e
a absoluta perda de autonomia de suas instâncias e conselhos, frente às figuras
dos acionistas. É quando a garantia do lucro se impõe ao salário dos professo-
res e funcionários, no aumento das mensalidades e no sucateamento de toda a
instituição.
Este modelo precisa ser revisto urgentemente. Primeiro: colocando a hege-
monia das instituições públicas sobre as privadas. Segundo: com a criação de um
sistema de regulamentação das IES privadas, e a proibição da venda e aquisição,
controle e participação de grupos internacionais nas IES brasileiras e o impedi-
mento da sua abertura para capital estrangeiro.
As IES privadas precisam atender a critérios que vão além da mera avaliação
anual do SINAES (Sistema Nacional de Avaliação do Ensino Superior). Para que te-
nhamos IES privadas que de alguma maneira contribuam para o desenvolvimento
do país, estas precisam não apenas respeitar o tripé ensino-pesquisa-extensão (algo
que já é difícil de ver), mas estes espaços precisam ser democráticos. Ferramentas
como conselhos de gestão acadêmica, de pesquisa e de extensão com a participa-
ção dos estudantes são fundamentais neste aspecto.
Outra garantira indispensável é a liberdade de organização em entidades es-
tudantis. Muitas IES privadas constroem verdadeiras barreiras que impedem os
estudantes de se organizarem, pois enxergam aí um problema no trato de seus ne-
gócios, uma vez que, organizados, os estudantes certamente lutarão por melhorias
nas condições de ensino e aprendizado.
Para além, é fundamental que as IES privadas possuam mecanismos próprios
de assistência estudantil, que garantam a permanência dos estudantes, uma vez que
a maioria destes novos egressos são trabalhadores e trabalhadoras, jovens, muitos
pais de mães, que estão conciliando a vida acadêmica com a família e o trabalho.
Ou seja, vivem na universidade uma terceira ou quarta jornada do seu dia. Além de
muitos só estarem na universidade por meio de programas de incentivo ao acesso
como o ProUni e o FIES.
Universidades estaduais
n 53o CONGRESSO DA UNE
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O BRASIL, A UNIVERSIDADE E O MOVIMENTO ESTUDANTIL
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TESES DA TENDÊNCIA PETISTA ARTICULAÇÃO DE ESQUERDA AOS CONGRESSOS DA UNE (1995-2021)
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O BRASIL, A UNIVERSIDADE E O MOVIMENTO ESTUDANTIL
confundido com homossexuais, como o pai e o filho que foram agredidos no interior
de São Paulo por um grupo de homofóbicos. Nossa luta é diária pela sobrevivência e
pelos nossos direitos que são negados.
Nesse último período intensifica-se a luta do movimento LGBT pela aprovação
do PL 122/06. Vem sendo travada uma luta árdua para que haja uma ruptura com os
211
TESES DA TENDÊNCIA PETISTA ARTICULAÇÃO DE ESQUERDA AOS CONGRESSOS DA UNE (1995-2021)
(Pepe Mujica)
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O BRASIL, A UNIVERSIDADE E O MOVIMENTO ESTUDANTIL
AVALIAÇÃO
educação melhorou nos últimos 10 anos, mas que não estão satisfeitos. Queremos
mais. Queremos acabar com a farra e a mercantilização do ensino privado. Que-
remos uma universidade sem machismo, homofobia e racismo. Queremos muito
mais assistência estudantil. Queremos uma universidade sem muros e que pense
11. Página 13, n. 122, jul. 2013, p. 14.
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TESES DA TENDÊNCIA PETISTA ARTICULAÇÃO DE ESQUERDA AOS CONGRESSOS DA UNE (1995-2021)
ausência de democracia, não permitem essa disputa. São vários os exemplos disto
e o mais emblemático foi o do Estatuto da Juventude. Sem passar por nenhuma
instância, o PCdoB, em nome da UNE, fez um acordo com os artistas para colocar
uma cota de 40% na meia-entrada cultural. O PT todo era contra, mas os diretores
da UNE petistas que compõem o campo majoritário nada puderam fazer.
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O BRASIL, A UNIVERSIDADE E O MOVIMENTO ESTUDANTIL
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TESES DA TENDÊNCIA PETISTA ARTICULAÇÃO DE ESQUERDA AOS CONGRESSOS DA UNE (1995-2021)
com todos estes problemas, não somos pessimistas quanto a esta gestão. Muito
pelo contrário. Se o campo majoritário enquanto força hegemônica da entidade
conseguir, com humildade, agregar para as mesmas bandeiras, tanto o Campo Po-
13. No original: “Esta gestão precisa ir para além da pauta de financiamento. No entanto, esta pauta em que pese ser fundamental, não
dá conta [...]”
216
O BRASIL, A UNIVERSIDADE E O MOVIMENTO ESTUDANTIL
pular como a oposição de esquerda, temos a convicção de que a UNE honrará suas
tradições históricas e será protagonista destas e de outras lutas.
E a chamada “oposição de esquerda”, como se comportará no próximo
período?
A oposição de esquerda não é um grupo homogêneo. Existe uma disputa in-
terna muito grande neste campo. Alguns setores constroem a UNE cotidianamente.
Outros apenas praticam o “entrismo” em seus espaços e congressos. Como já vem
fazendo, se comportam tentando utilizar do movimento estudantil e de suas enti-
dades para fazer oposição ao governo federal, reagindo e se opondo às políticas
educacionais por princípio, sem avaliar com profundidade as contradições intrín-
secas a estas.
Qual deveria ser a postura do Campo Popular?
Para que o Campo Popular se consolide como uma alternativa de direção para
a União Nacional dos Estudantes basicamente duas posturas são fundamentais:
construir de forma autônoma e combativa a entidade no cotidiano e junto com isto
combater e se opor às práticas equivocadas do Campo Majoritário.
Como é a relação entre os grupos e tendências que compõem o Campo
Popular?
O Congresso da UNE foi a primeira atuação do Campo Popular e o resulta-
do foi bem positivo. Muita animação, construção coletiva, identidade na política e
perspectiva de crescer no próximo período. Na política, o resultado foi excepcional,
porque a construção do Campo com outras forças dentro e fora do PT comprova
que sempre estivemos na posição certa ao nos apresentarmos como alternativa de
direção da UNE, combatendo tanto o governismo acrítico e adesista do campo ma-
joritário, como a posição por princípio do esquerdismo. A chapa ter feito dois na
executiva e nove no pleno comprova que, além do acerto na política, nosso Campo
foi eficiente eleitoralmente.
Qual deve ser o papel da Articulação de Esquerda?
O de fortalecer e construir o Campo Popular na base e no cotidiano do movi-
mento estudantil, contribuindo na consolidação do Campo para além do Congresso
da UNE. Temos a tarefa, também, de continuar dando seguimento ao nosso proces-
so histórico na UNE, sempre coerente na política e, por meio deste, construindo e
disputando os rumos da União Nacional dos Estudantes. O papel da AE é estar in-
tervindo em cada espaço, colocando o dedo em cada ferida, fazendo a UNE intervir
nos rumos da história, seja na educação e na luta por uma universidade democráti-
n 53o CONGRESSO DA UNE
ca e popular, seja nas lutas gerais, em defesa das reformas de base, democratização
dos meios de comunicação, reforma política, agrária, urbana, tributária, sempre
atuando em conjunto com os movimentos sociais e ao lado da classe trabalhadora.
217
54o Congresso da UNE
Goiânia (GO), 03 a 07 de junho de 2015
TESE
RECONQUISTAR A UNE
PARA A LUTA E PARA OS E AS ESTUDANTES!
OPOSIÇÃO
Contribuição ao Campo Popular
APRESENTAÇÃO
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O BRASIL, A UNIVERSIDADE E O MOVIMENTO ESTUDANTIL
É por tudo isso que a cada nova manifestação e ataque à classe trabalhadora e
aos estudantes ouvimos um grito de alerta feito à UNE. Uma de nossas mais antigas
ferramentas de luta, forjada em pleno ano de 1938, precisa ter o fio de sua lâmina
afiado para enfrentar os novos combates.
É com o desejo de escrever uma nova página na história da União Nacional
dos Estudantes, que nos colocamos novamente à disposição de todas e todos que
querem Reconquistar a UNE para a luta e para as/os estudantes.
Reconquistar a UNE para a luta e para as/os estudantes!
O movimento estudantil é uma ferramenta importante para transformar a
educação e incidir nos rumos do país. A UNE, entidade máxima do movimento es-
tudantil, durante anos serviu a estes objetivos.
Ela tem história. Criada em 1938, a UNE ajudou a combater o fascismo, fez a
grande campanha “o petróleo é nosso”; defendeu as reformas de base, lutou e per-
deu lutadoras e lutadores na guerra contra a ditadura; impulsionou as “diretas já” e
pintou a cara da juventude no “fora Collor”.
Mas há tempos nossa entidade distanciou-se das ruas e da vida dos estudantes.
Por isso estamos aqui, falando mais uma vez que precisamos Reconquistar a UNE.
Queremos a UNE viva, atual, discutindo os problemas do cotidiano dos estudantes.
Queremos a UNE combatendo o conservadorismo e enfrentando qualquer
tipo de opressão. Entretanto, uma política burocrática e autoritária há mais de duas
décadas se encontra encastelada na maioria da diretoria da UNE, que nesse Con-
gresso apresenta a tese “Abre Alas”. É só olharmos para a apatia, para a falta de
democracia, e o controle fechado dos rumos da entidade.
Indignados com o estado das coisas, militantes do movimento estudantil de
todos os cantos do Brasil, que constroem desde 1998 a tese Reconquistar a UNE
se organizam novamente. É também mediante essa indignação e da necessidade de
apontar uma nova perspectiva para a UNE que nos somamos na criação do Campo
Popular, forjado no Conselho Nacional de Entidades de Base de Recife, em feverei-
ro de 2013.
O objetivo da Reconquistar a UNE é construir uma nova dinâmica para o coti-
diano da entidade, que aponte para um movimento estudantil combativo e diverso
- mas coeso no encaminhamento das lutas; que construa um projeto transformador
para a universidade brasileira; que faça o debate na sala de aula, que seja referência
para os estudantes.
n 54o CONGRESSO DA UNE
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O BRASIL, A UNIVERSIDADE E O MOVIMENTO ESTUDANTIL
O Campo Popular
Foi com o objetivo de acumular forças e organizar as/os estudantes que nun-
ca caíram no conto do vigário de que na UNE existiam apenas dois lados, de um o
governismo cego e inconsequente; do outro, um oposicionismo esquerdista des-
medido e desregrado (da maioria), incapaz de enxergar a realidade, que durante o
CONEB/Bienal de 2013 no Recife a Reconquistar a UNE impulsionou a criação do
Campo Popular.
Junto ao junto Movimento Mudança, a O Estopim, ao coletivo Quilombo,
vinculado a tendência petista EPS, e ao Levante Popular da Juventude (Consulta
Popular), reunindo estudantes de entidades como as executivas e federações de
cursos, DCEs e UEEs, o Campo Popular rompeu o status quo e fez tremer as estru-
turas da União Nacional dos Estudantes.
No Congresso da UNE, realizado meses depois, o Campo já estava consolidado
como uma verdadeira alternativa de direção para a UNE. Mesmo com debates aca-
lorados sobre ser uma frente de oposição ou apenas uma alternativa de direção, o
fato é que o Campo Popular proporcionou uma mudança nos ventos que sopram
no interior da União Nacional dos Estudantes.
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O BRASIL, A UNIVERSIDADE E O MOVIMENTO ESTUDANTIL
ao ensino superior nos anos iniciais dos governos petistas. Até então, no governo
FHC, o foco era na inclusão, em situação deficitária de oferta de vagas e demanda
estudantil.
Apesar das necessidades de aprimoramento do modelo do ENEM/SiSU, prin-
cipalmente no que tange às questões regionais econômicas e sociais (que podem
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TESES DA TENDÊNCIA PETISTA ARTICULAÇÃO DE ESQUERDA AOS CONGRESSOS DA UNE (1995-2021)
disso, devem ser inseridos instrumentos de construção coletiva dos planos político-
-pedagógicos e a avaliação de orçamentos participativos e seus fins.
Para a escolha de gestões de reitoria e outros espaços administrativos das
universidades, pautamos as eleições diretas e, no mínimo, paritárias. Além disso,
pautamos também o fim a da submissão de listas tríplices ao poder executivo.
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O BRASIL, A UNIVERSIDADE E O MOVIMENTO ESTUDANTIL
Universidades estaduais
As universidades estaduais enfrentam realidades bastante diversas em cada
estado brasileiro. Mas podemos destacar questões que envolvem a realidade do
conjunto dessas universidades. Após a aprovação do Plano Nacional de Educação,
vivemos um momento em que cada estado deve discutir, elaborar e aprovar um
Plano Estadual de Educação. Isso ainda não ocorreu em um número significativo
de estados. A intervenção da UNE e da rede do movimento estudantil na formu-
lação desses planos é fundamental para que cada estado organize a política para
a educação de acordo com sua realidade e possa garantir avanços nas universida-
des estaduais. Os desafios a superar em relação às universidades estaduais não são
poucos.
Podemos destacar, de início, os problemas nas políticas de financiamento e de
garantia da autonomia universitária. Tal situação gera uma precarização em parte
significativa das universidades estaduais, pois faltam recursos para garantir estrutu-
ras mínimas para o funcionamento das universidades. A autonomia financeira das
universidades é condição para o desenvolvimento de suas atividades e para a cons-
trução de um projeto de universidade democrática e popular.
As dificuldades no âmbito do financiamento acabam por refletir-se também
na insuficiência das políticas de assistência estudantil. Sem políticas adequadas
de assistência estudantil, a permanência das e dos estudantes na universidade é
gravemente prejudicada, especialmente daquelas e daqueles estudantes da clas-
se trabalhadora, negras e negros, indígenas, LGBTs e demais setores oprimidos
e vulnerabilizados. Além disso, em casos como a USP e a UNICAMP, sequer há
uma política de democratização do acesso por meio das cotas raciais e sociais e
do ENEM/SiSU, o que demonstra o caráter fortemente elitista, antidemocrática e
racista dessas universidades. Essas estruturas antidemocráticas das universidades
estaduais emperram o atendimento das demandas das e dos estudantes. Por isso,
um terceiro ponto a destacar é a necessidade de democratização das instâncias das
universidades estaduais, com garantia de paridade entre estudantes, professores e
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233
TESES DA TENDÊNCIA PETISTA ARTICULAÇÃO DE ESQUERDA AOS CONGRESSOS DA UNE (1995-2021)
servidores; uma boa estrutura física; tendo tudo isso alinhado com ferramentas de
gestão participativa e democrática.
O que vemos por aí é exatamente o contrário. Em sua quase totalidade, as IES
Privadas funcionam como meras distribuidoras de diplomas, que para justificar seu
caráter meritório, abusam de ferramentas como altas taxas; altas mensalidades; ri-
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O BRASIL, A UNIVERSIDADE E O MOVIMENTO ESTUDANTIL
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TESES DA TENDÊNCIA PETISTA ARTICULAÇÃO DE ESQUERDA AOS CONGRESSOS DA UNE (1995-2021)
rede do movimento estudantil por meio das UEEs, DCEs, Executivas e Federações
de curso, bem como buscar o diálogo com a Secretaria Nacional de Casas de Estu-
dantes (SENCE).
Temos consciência de que apenas com muita luta mudaremos a concepção
hegemônica que enxerga Assistência Estudantil como caridade e esmola. E é com a
236
O BRASIL, A UNIVERSIDADE E O MOVIMENTO ESTUDANTIL
Rever o modelo
Na última década, as universidades Brasileiras sofrerem transformações de-
correntes do processo de expansão e de políticas de democratização do acesso.
Programas como o Reuni, a Lei de Cotas e o Plano Nacional de Assistência Es-
tudantil, alteraram o perfil dos estudantes, possibilitando o ingresso de setores
historicamente exclusos do ensino superior. No entanto, em que peso os avanços,
poucas mudanças ocorreram na forma como as universidades se organizam, assim
como na maneira a qual o conhecimento é produzido e difundido.
O adentrar de um novo perfil de estudantes e a permanências das velhas es-
truturas, acentuou a necessidade de rever o modelo. Mesmo com a utilização de
novas tecnologias, o ensino bancário continua sendo o principal “método” pedagó-
gico, apenas substitui-se o giz pelos slides. A dicotomia teoria e prática revela um
ensino cada vez mais conteudista, fragmentado e distanciado da realidade concreta.
Também permanece o produtivismo acadêmico, robotizando professores e alunos.
É nesse sentido que consideramos a extensão universitária como um deba-
te central a ser encampado pelo movimento estudantil na atualidade. Extensão,
não na lógica de estender o conhecimento da universidade para o conjunto da
sociedade. Tampouco compreendida como a realização de projetos acadêmicos
segmentados e setorializados, tal qual ocorre atualmente. Mas em como eixo cen-
tral do processo de reorganização estrutural da universidade, da forma como o
conhecimento é produzido e difundido.
Extensão: um conceito em disputa
A presença de distintas concepções de extensão universitária está intimamente
ligada à disputa de concepção da própria universidade.
Defendemos a concepção democrática e popular de extensão. Nela, como des-
creveu Paulo Freire, o conhecimento não se estende do que se julga sabedor até
aqueles que se julga não saberem, o conhecimento se constitui nas relações ho-
mem-mundo, relações de transformação, e se aperfeiçoa na problematização crítica
n 54o CONGRESSO DA UNE
destas relações.
A produção do conhecimento ocorre a partir da cultura local, do saber popu-
lar e das condições do meio, sempre buscando garantir a autonomia em relação às
tecnologias implementadas, inclusive valorizando as tecnologias alternativas oriun-
das do empirismo. Além disso, o processo educativo e científico, articula o Ensino e
237
TESES DA TENDÊNCIA PETISTA ARTICULAÇÃO DE ESQUERDA AOS CONGRESSOS DA UNE (1995-2021)
a Pesquisa de forma indissociável. Seria uma relação dialética entre teoria e prática,
o que viabiliza uma relação transformadora entre Universidade e Sociedade.
Este paradigma pressupõe uma profunda transformação na forma como a Uni-
versidade se organiza. A universidade não seria mais fechada ao campus, e o ensino
á “Sala de aula” e laboratório. Ela estaria imersa no território em que está inserida.
O eixo pedagógico tradicional “estudante-professor” é substituído pelo eixo “estu-
dante-professor-comunidade”. O estudante, assim como a comunidade com a qual
se desenvolve a ação de Extensão, deixa de ser um mero objeto de um conhecimen-
to validado pelo professor para se tornar participante do processo.
O papel do movimento estudantil
O movimento estudantil, sempre cumpriu um papel importante na defesa
de uma educação transformadora. A extensão universitária, por exemplo, ganhou
contorno central nos Seminários de Reforma Universitária realizado pela UNE na
década de 60, onde pautava-se a abertura da universidade ao povo e o conhecimen-
to voltado as demandas da classe trabalhadora.
Nos últimos anos a atuação da UNE no que se refere a extensão voltou-se para
o Projeto Rondon. Esta relação se traduz em apoio e acompanhamento, abstendo-
-se das críticas ao caráter pontual, militarizado e assistencialista do projeto criado
pela da Escola Superior de Guerra durante o Regime Militar.
Além de deslocada dos debates realizados no movimento educacional e na
Rede Nacional de Extensão Universitária – RENEX, a atuação da entidade, atual-
mente, encontra-se distante do conjunto do movimento estudantil. Um exemplo
são as experiências de projetos de extensão, como Estágios Interdisciplinares de
Vivência (EIV ), Assessorias Jurídicas Populares e o VER-SUS, que possibilitam a
construção de uma concepção emancipadora de extensão nas universidades e que
tem como premissa a articulação com os Movimentos Sociais. Iniciativas construí-
das pelo ME e que poderiam e deveriam ser incorporadas nos currículos dos cursos
e incentivadas com um consequente investimento público.
Cabe ao movimento estudantil, dar centralidade ao debate extensão como
eixo central da luta reforma universitária. Além de pautar que a extensão seja prio-
rizada e receba um aporte considerável de recursos, esta deve passar a fazer parte
dos currículos nos cursos de graduação, de forma integrada ao ensino e à pesquisa.
A curricularização da extensão é sem dúvidas o ponto chave para modificar a
n 54o CONGRESSO DA UNE
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O BRASIL, A UNIVERSIDADE E O MOVIMENTO ESTUDANTIL
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TESES DA TENDÊNCIA PETISTA ARTICULAÇÃO DE ESQUERDA AOS CONGRESSOS DA UNE (1995-2021)
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O BRASIL, A UNIVERSIDADE E O MOVIMENTO ESTUDANTIL
Ao analisarmos esses dados vimos que houve um aumento de 113% nos últi-
mos cinco anos. Dentre os mortos, 140 eram gays (54%), 110 eram travestis (42%) e
10 eram lésbicas (4%). Segundo o GGB, o risco de um homossexual ser assassinado
no Brasil é 785% maior que nos Estados Unidos. Lá, em 2010, foram registrados 14
assassinatos de travestis. Foram documentados 312 assassinatos de gays, travestis e
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TESES DA TENDÊNCIA PETISTA ARTICULAÇÃO DE ESQUERDA AOS CONGRESSOS DA UNE (1995-2021)
( José Martí)
242
O BRASIL, A UNIVERSIDADE E O MOVIMENTO ESTUDANTIL
que mais mulheres tenham seu trabalho reconhecido a fim de que estas condições
sejam superadas.
Infelizmente, tivemos uma grande derrota no último Conselho de Entidades
Gerais da UNE, quando propusemos que 50% dos delegados e suplentes eleitos
para o 54º Congresso da UNE fossem mulheres.
243
TESES DA TENDÊNCIA PETISTA ARTICULAÇÃO DE ESQUERDA AOS CONGRESSOS DA UNE (1995-2021)
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O BRASIL, A UNIVERSIDADE E O MOVIMENTO ESTUDANTIL
para se deparar com tais situações: psicólogos que reproduzem a lógica mani-
comial, professores que não conseguem debater o tema de drogas com os seus
alunos. Por isso a necessidade da extensão universitária, para que os e as estudantes
possam conhecer a realidade territorial em que se encontram os diversos contextos
das drogas, e ter contato com os próprios usuários.
245
TESES DA TENDÊNCIA PETISTA ARTICULAÇÃO DE ESQUERDA AOS CONGRESSOS DA UNE (1995-2021)
246
AVALIAÇÃO
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TESES DA TENDÊNCIA PETISTA ARTICULAÇÃO DE ESQUERDA AOS CONGRESSOS DA UNE (1995-2021)
ser protocoladas e que nós iríamos avaliar com a militância da tese Reconquistar a
UNE se defenderíamos a resolução do campo ou defenderíamos junto com a dire-
ção majoritária da UNE.
Decidimos por fazer a defesa da resolução escrita pelo conjunto do Campo,
no entanto, fomos surpreendidos pelo fato desta não ter sido protocolada na noite
248
O BRASIL, A UNIVERSIDADE E O MOVIMENTO ESTUDANTIL
anterior. Cobramos o Levante que havia centralizado as resoluções pelo fato ocor-
rido. No entanto, mediante a situação imposta, decidimos, mesmo dividindo a fala
com a majoritária e o restante do Campo, pela abstenção da votação de conjuntura.
Resultado eleitoral
Sete chapas se inscreveram no congresso da UNE, cinco delas receberam vo-
tos. O total de votantes foi de 4.071.
1) A chapa vencedora encampada pela UJS, composta também pela DS, CNB
e PDT, obteve 2.369 votos, elegendo Carina Vitral (UEE-SP) presidenta da UNE, ga-
rantindo na segunda [chamada] a vice-presidência que ficará com a DS e na terceira
a tesouraria que ficará com a UJS;
2) Em segundo lugar, ficou o Campo Popular, composto pelo Levante, Articu-
lação de Esquerda, Esquerda Popular Socialista, O Trabalho, Militância Socialista,
Movimento Mudança e A Marighella, que obteve 724 votos. O Campo conquistou
uma vaga na mesa diretora15 que ficará com o Levante Popular da Juventude;
3) Em terceiro, ficou a Oposição de Esquerda (OE), composta pelo Juntos/
MESS, PCR, RUA/Insurgência, Vamos à LUTA/CST, contando com os votos da JCA e
da UJC, que “oficialmente” possuíam outras duas chapas que não receberam votos.
4) A chapa “Coragem para lutar”, composta pelo PPL e PSB, obteve 242 votos;
5) Em último ficou a chapa “Eu acredito que você vai gritar junto”, do PMDB,
que obteve 34 votos;
Sobre o resultado eleitoral
a) Representa uma relativa queda da hegemonia da UJS que vem perdendo su-
cessivamente espaço na entidade;
b) Caso a CNB fique com duas vagas na executiva, a UJS perderá a maioria ab-
soluta na entidade;
c) Aumentou a fragmentação na disputa da UNE e o campo majoritário vem
deixando de ser um polo aglutinador de forças políticas menores;
d) Depois de cerca de 10 anos, uma força política fora do capo majoritário es-
tará na mesa diretora da entidade;
e) Demostra o início de uma organização de setores da direita na entidade;
f ) O Campo Popular se fortalece pelo fato de ultrapassar a OE, que anterior-
mente era a segunda maior força política da UNE;
g) Existe uma série de especulações sobre possíveis deslocamentos de votos
n 54o CONGRESSO DA UNE
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TESES DA TENDÊNCIA PETISTA ARTICULAÇÃO DE ESQUERDA AOS CONGRESSOS DA UNE (1995-2021)
versões sobre qual foi de fato o acordo com a UJS para que se mantivessem na ma-
joritária, indo desde questões internas da UNE até questões mais amplas.
O Campo Popular
Não há dúvidas que o Campo Popular saiu vitorioso deste CONUNE, seja por
ter alcançado a mesa diretora, seja por tornar-se o segundo maior campo na entida-
de, ultrapassando a Oposição de Esquerda.
No entanto, a votação da resolução de conjuntura, nada mais, nada menos
demonstra a aproximação do Campo com a direção majoritária da UNE, assim
como nosso posicionamento deixou evidente que não existe acordo no interior
do Campo.
Ampliou-se a hegemonia do LPJ com o crescimento expressivo no número de
delegados e com o resultado eleitoral. Ainda que tenhamos uma política bastante
sólida e força moral por termos tocado o processo de forma extremamente coeren-
te, ainda que tenhamos nos consolidado como a segunda força política no Campo,
o nosso tamanho não é suficiente para sustentar nossa política, ou seja: precisamos
crescer.
A Reconquistar a UNE
A meta inicial de tiragem de delegados para o congresso da UNE era credenciar
300 delegados para chegar no congresso com 250 e garantir uma vaga na executiva
da UNE.
Além de ser real, esta meta era totalmente possível, tendo em vista que cres-
cemos no último período e ampliamos o número de contatos nas universidades.
Duplicar a bancada não era somente o espírito inicial, mas era o número ne-
cessário para termos força e influência na UNE e no Campo Popular.
Se tínhamos capacidade real de chegarmos relativamente bem no CONUNE,
se crescemos no último período, por que isso acabou não se concretizando na ti-
ragem de delegados?
Conseguimos eleger na base cerca de 180 delegados, pouco mais da metade
do que necessitávamos, credenciamos cerca de 160 e levamos para o congresso da
UNE cerca de 120, tendo uma quebra de cerca de 30%.
Mantivemos o mesmo tamanho do último CONUNE. Considerando que desde
n 54o CONGRESSO DA UNE
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O BRASIL, A UNIVERSIDADE E O MOVIMENTO ESTUDANTIL
251
TESES DA TENDÊNCIA PETISTA ARTICULAÇÃO DE ESQUERDA AOS CONGRESSOS DA UNE (1995-2021)
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O BRASIL, A UNIVERSIDADE E O MOVIMENTO ESTUDANTIL
Por essas questões, defendemos que a UNE precisa se aproximar cada vez mais
dos estudantes e da juventude como um todo, colocando sua bandeira como porta-
-voz no combate aos ataques aos direitos e lutando para conquistar o que é negado
historicamente aos jovens brasileiros. É preciso se fazer presente nas lutas de cada
Centro Acadêmico, de cada DCE, das executivas de curso articulando a luta co-
253
TESES DA TENDÊNCIA PETISTA ARTICULAÇÃO DE ESQUERDA AOS CONGRESSOS DA UNE (1995-2021)
tidiana dentro das salas de aula com a luta por uma educação que transforme a
realidade.
Nesse sentido, temos defendido que a UNE faça uma reforma em seu modelo
de organização interna, acabando com o modelo presidencialista e adotando uma
gestão colegiada, com a criação espaços descentralizados e abrangentes que formu-
lem e discutam sobre os rumos da entidade.
Por isso, acreditamos na construção do Campo Popular dentro da UNE, pois
o movimento estudantil tem que ser crítico e propositivo ao mesmo tempo. Não
se pode apenas dizer os erros cometidos, sem apontar as saídas. Ao mesmo tempo
que não se pode “tapar o sol com a peneira” e seguir no mesmo rumo, sem avaliar
o que será feito. Dentro desse espaço adotamos a postura de sermos propositivos,
sem deixar de realizar as críticas necessárias aos aspectos conjunturais da sociedade
e da nossa entidade.
* Regis Piovesan é vice-presidente da UNE
n 54o CONGRESSO DA UNE
254
55o Congresso da UNE
Belo Horizonte (MG), 14 a 18 de junho de 2017
TESE
RECONQUISTAR A UNE
RECONQUISTAR A UNE!
SOMOS ESTUDANTES SOCIALISTAS!
Somos estudantes de norte a sul do Brasil na luta por uma educação demo-
crática, popular e emancipadora e por uma sociedade socialista! Somos mulheres,
negar, negros, LGBTs, trabalhadores, trabalhadoras, membros de CAs, DCEs execu-
tivas de curso e demais formas de organização estudantil em defesa dos direitos e
por transformações na sociedade brasileira. A UNE é a entidade nacional dos estu-
dantes e completa 80 anos de história, mas está afastada dos estudantes e da luta
nesses tempos que vivemos. Queremos uma UNE na luta, democrática, ao lado da
classe trabalhadora, que volte a inspirar corações e mentes de estudantes de todo o
país! Por isso, é preciso Reconquistar a UNE!
255
TESES DA TENDÊNCIA PETISTA ARTICULAÇÃO DE ESQUERDA AOS CONGRESSOS DA UNE (1995-2021)
anos vem perdendo capacidade de dirigir a luta das e dos estudantes, com a políti-
ca imobilista de sua direção majoritária, a aposta na conciliação com os inimigos da
educação e da democracia e a secundarização da luta social.
É preciso defender a UNE. E defender a UNE é mudar a entidade para a nova
realidade dos estudantes brasileiros. A UNE deve ser capaz de incorporar e ser re-
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O BRASIL, A UNIVERSIDADE E O MOVIMENTO ESTUDANTIL
ferência das e dos estudantes trabalhadoras, das negras e negros, LGBTs, mulheres
e dos coletivos e entidades de base que fazem a força do movimento estudantil.
É necessária uma reforma política da UNE com medidas como: valorização das
instâncias colegiadas, fim do presidencialismo, criação de Grupos de Trabalho
permanentes e abertos às entidades estudantis e a realização do Conselho de Enti-
dades de Base (CONEB)!
Por isso, acreditamos que temos alguns desafios a superar: o primeiro desafio
é mudar a direção política da entidade.
O cenário de acirramento da luta política, de golpe conservador contra os
direitos dos trabalhadores e contra a democracia e de ofensiva do ideário conser-
vador reforça a urgência da UNE voltar a estar na linha de frente dos debates da
257
TESES DA TENDÊNCIA PETISTA ARTICULAÇÃO DE ESQUERDA AOS CONGRESSOS DA UNE (1995-2021)
Assistência estudantil
Um breve histórico
A história das universidades brasileiras é marcada pela hegemonia de um
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O BRASIL, A UNIVERSIDADE E O MOVIMENTO ESTUDANTIL
259
TESES DA TENDÊNCIA PETISTA ARTICULAÇÃO DE ESQUERDA AOS CONGRESSOS DA UNE (1995-2021)
faz necessário disputar a concepção de assistência estudantil, ainda com forte pre-
sença de elementos conservadores e restritivos.
Pelo direito à permanência!
Com a efetivação do golpe e a instalação do governo ilegítimo, corrupto e
usurpador de Michel Temer, estão em risco até mesmo as insuficientes políticas de
assistência estudantil vigentes. A desvinculação orçamentária, as mensalidades nas
universidades públicas e a entrega do pré-sal são retrocessos brutais nos direitos
dos estudantes. Se já tínhamos a tarefa de combater cortes na educação, a luta ago-
ra é também por barrar a redução estrutural dos recursos destinados à educação.
O golpe é contra a permanência de estudantes trabalhadoras e trabalhadores, ne-
gras e negros, indígenas e quilombolas. Não aceitaremos nenhum retrocesso nos
direitos conquistados: entramos na universidade e não vamos sair! Lutar pela per-
manência estudantil é também lutar pelo Fora Temer!
A respeito do que conquistamos até aqui, o Plano Nacional de Assistência Es-
tudantil (PNAES), em vigor a partir de 2008 por meio de um decreto presidencial,
significou uma importante vitória. A concepção apresentada no PNAES é avançada,
tocando desde as condições mais básicas até as necessárias para a integração à uni-
versidade. Outra política existente é o Programa Bolsa Permanência, que consiste
no pagamento de bolsas para estudantes em situação de vulnerabilidade socio-
econômica, indígenas ou quilombolas. Porém, há critérios de carga horária que
restringem imensamente o acesso ao programa.
De todo modo, um dos principais problemas apresentados é que com o orça-
mento de hoje sequer vem sendo possível cumprir o estabelecido no PNAES para as
instituições federais de ensino. Os cortes nos recursos da educação e o retrocesso
que a aprovação da PEC 55 trará para a educação nacional, realizados em nome de
um ajuste fiscal recessivo, reduziram os recursos das universidades voltados à per-
manência resultando em cortes de bolsas e paralisação de obras.
Por isso, a luta por mais investimentos deve ser uma das prioridades do movi-
mento estudantil em todos os âmbitos.
É necessário consolidar o PNAES. Este continua vigorando por meio de de-
creto, o que gera uma excessiva fragilidade institucional, ainda mais em meio ao
golpe. O movimento estudantil deve defender a aprovação da Política Nacional de
Assistência Estudantil em forma de projeto de lei e lutar contra qualquer ameaça
n 55o CONGRESSO DA UNE
260
O BRASIL, A UNIVERSIDADE E O MOVIMENTO ESTUDANTIL
Ciência e tecnologia
A construção de uma sociedade mais justa e igualitária permeia o ambiente
de ciência e tecnologia. Acreditamos que o modelo de desenvolvimento do país
deva ser direcionado para um desenvolvimento sustentável de soberania nacional.
Precisamos de investimentos públicos massivos para produção própria de ciência e
tecnologia e assim nos tornarmos uma nação produtora de conhecimento e autos-
suficiente. A universidade vem com um papel primordial nesta construção com o
dever de preparar cidadãs e cidadãos preocupadas/os com a sociedade e produzir
mecanismos que contribuam para o desenvolvimento social.
Temos hoje um cenário político que coloca em risco a soberania do Brasil,
n 55o CONGRESSO DA UNE
uma vez que o atual governo ilegítimo de Michel Temer entra com a linha neolibe-
ral de privatizações ao máximo, inserindo a produção nacional na lógica capitalista
unidirecional do lucro individual e colocando todas nossas riquezas nas mãos de
empresários, muitas vezes estrangeiros, os quais agora terão domínio sobre nossos
recursos, sobre nossa biodiversidade, sobre todo conhecimento e produção além
261
TESES DA TENDÊNCIA PETISTA ARTICULAÇÃO DE ESQUERDA AOS CONGRESSOS DA UNE (1995-2021)
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O BRASIL, A UNIVERSIDADE E O MOVIMENTO ESTUDANTIL
nâncias do coração nos advertem: estamos pisando sobre uma revolução, estamos
vivendo uma hora americana”. Dessa forma se inicia o Manifesto de Córdoba, lan-
çado no dia 21 de junho de 1918.
O manifesto foi lançado por estudantes, em conjunto com os movimentos so-
ciais e trabalhadores/as argentinos/as, em um contexto de disputa da Universidade
de Córdoba pela classe trabalhadora, o clero e o conservadorismo do país. As prin-
cipais reivindicações apresentadas no documento balizaram o que o movimento
estudantil latino-americano e caribenho viria a apresentar até a atualidade: uma
Reforma Universitária que colocasse a instituição a serviço da superação das con-
tradições sociais, com autonomia universitária para cumprir com sua função social,
liberdade de cátedra no processo de produção do conhecimento e prática universi-
tária crítica, a partir da extensão universitária.
A luta pela reforma universitária rondou por toda a América Latina, resultando
na importante conquista que foi a criação de diversas universidades populares na
América – como a Universidade Nacional Autônoma do México, a Universidade das
Madres (Argentina), a Universidade Popular do Chile e a Universidade da República
(Uruguai).
No Brasil, a bandeira da reforma universitária ganha força no movimento estu-
dantil a partir do governo de João Goulart e a discussão sobre as Reformas de Base.
Esse contexto, em época de polarização mundial (Guerra Fria), estava marcado pela
forte intervenção norteamericana a partir de políticas que colocavam a produção
brasileira em submissão aos interesses estadunidenses. Na educação, esses interes-
ses estavam demonstrados nos acordos MEC-USAID (1966), na Revolução Verde e,
posteriormente, na Reforma Universitária conservadora de 1968. Todas essas políti-
cas cumpriram com o papel do enraizamento da mercantilização do conhecimento
brasileiro, correspondendo às demandas imperialistas.
De outro lado, os/as estudantes que conformavam a rede do movimento estu-
dantil, principalmente pelas executivas de curso, a exemplo da FEAB (Federação de
Estudantes de Agronomia do Brasil), questionavam o modelo de ensino que vinha
sendo aplicado. O movimento estudantil da área das agrárias, afetada pelas políti-
cas da Revolução Verde na universidade (programa de ensino voltado às demandas
das grandes multinacionais da produção agrária: mecanização do campo, produção
em larga escala, utilização de agrotóxicos) iniciou discussões intensivas sobre a
necessidade de ter outro modelo de ensino, crítico, dialético e popular; com arti-
n 55o CONGRESSO DA UNE
263
TESES DA TENDÊNCIA PETISTA ARTICULAÇÃO DE ESQUERDA AOS CONGRESSOS DA UNE (1995-2021)
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O BRASIL, A UNIVERSIDADE E O MOVIMENTO ESTUDANTIL
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TESES DA TENDÊNCIA PETISTA ARTICULAÇÃO DE ESQUERDA AOS CONGRESSOS DA UNE (1995-2021)
e assim cumprir com a sua função social de estar enraizada na sociedade, compre-
endendo suas contradições sociais e atendendo demandas de produção científica
da região e do país.
O objetivo da mudança da estrutura da universidade é intrinsecamente liga-
do à transformação do modelo de ensino. Para reafirmar na prática tudo o que foi
desenvolvido sobre a necessidade de uma educação crítica, dialética, criativa, inter-
disciplinar, integrada, transformadora e socialmente útil é necessário iniciar pela
mudança no modelo das grades curriculares.
Reformar a universidade para curricularizar a extensão
“Alterar currículo, somente inserindo ou alterando a ordem dos conteúdos,
pouco acrescenta de melhoria. O problema é mais complexo e tem origem na con-
cepção de conhecimento que preside a organização dos conteúdos, bem como no
entendimento do ato de aprender, que decorre de uma concepção pedagógica. Ao
final, é sempre uma questão política, como são todos os atos humanos, pois pres-
supõe uma concepção de homem e de sociedade, evolvendo os fins da educação.
Ou estamos trabalhando para a reprodução e a dependência ou queremos educar
para a autonomia e a independência intelectual e social”. (Maria Isabel da Cunha)
Diante da necessidade de levantar a bandeira da Universidade Democrática e
Popular, o movimento estudantil se instrumentaliza e se organiza em uma rede am-
pla, agregando entidades gerais e de base, além de coletivos gerais e setoriais. Um
dos principais modos de organização estudantil ocorre em torno da construção de
projetos de extensão. Esta é uma das formas mais legítimas em garantir, na teoria e
na prática, a transformação social da universidade.
Dessa forma, o movimento estudantil organizado entre entidades e grupos
extensionais deixa explícita a necessidade de uma Reforma Universitária que curri-
cularize a extensão.
A prática da extensão universitária incluída no modelo pedagógico é o úni-
co modo de fazer com que a produção do conhecimento ocorra de forma crítica,
saindo do modelo de reprodução. Em outras palavras, é apenas na aplicação – ou
tentativa – da teoria na prática, no encontro com as contradições sociais e no apren-
dizado do material que se pode produzir um conhecimento. Isso se trata de uma
perspectiva materialista, crítica e dialética.
Para garantir a função social da produção de conhecimento é preciso que tal
ocorra em encontro com as contradições sociais, de modo a trabalhar pela supera-
n 55o CONGRESSO DA UNE
ção das mesmas e pela resolução dos problemas da sociedade. Isso apenas poderá
se dar em uma aliança das instituições de ensino com a comunidade externa e os
movimentos sociais, pois estes estão diretamente envolvidos com tais contradições.
Esta aliança, na prática, se dá desde a construção de projetos de extensão em uni-
dade com professores/as, estudantes, trabalhadores/as e movimentos sociais; além
266
O BRASIL, A UNIVERSIDADE E O MOVIMENTO ESTUDANTIL
– não cumpre com o papel de produzir um conhecimento crítico, junto aos mo-
vimentos sociais e trabalhadores/as. Neste modelo, o conhecimento é construído
dentro da bolha universitária para “auxiliar” quem está fora da instituição superior.
A exemplo dos/as trabalhadores/as rurais, que recebem as políticas assistencialistas
de extensão e têm ignorados os seus saberes “não científicos”, mas mutas vezes
267
TESES DA TENDÊNCIA PETISTA ARTICULAÇÃO DE ESQUERDA AOS CONGRESSOS DA UNE (1995-2021)
mais eficazes em seus contextos de trabalho do que qualquer medida científica con-
tida na assistência extensionista.
Defendemos o modelo crítico, dialético e popular para a curricularização da
extensão porque acreditamos que o seu pape é dialogar com e valorizar os saberes
populares, a produção de conhecimento a partir de contextos distintos, o contato
real com a sociedade e com o mundo do trabalho como um modo agregador de
conhecimento científico.
Acreditamos que a extensão é um pilar fundamental para a formação profis-
sional, essencial para a criticidade na construção científica e não apenas um modo
de levar para fora da bolha da universidade o que é produzido dentro dela. O
resultado da extensão deve ser o resultado da troca entre estudante, professor,
profissional, comunidade externa e movimentos sociais; resultado do diálogo da
instituição e das contradições sociais; fundamento da pesquisa, utilizando dos apa-
relhos institucionais e da experiência real e totalizadora.
A extensão é um pilar da construção do conhecimento. E não há como a cons-
trução deste ser completa enquanto o ensino, a pesquisa e a extensão não forem
tratados de forma indissociável; enquanto o ensino for visto como reprodução do
saber de um professor, a pesquisa como o estudo da teoria de forma acrítica e a ex-
tensão como um modo de levar o conhecimento produzido na universidade para
a sociedade.
268
O BRASIL, A UNIVERSIDADE E O MOVIMENTO ESTUDANTIL
midiática que nega a expressão cultural da periferia que em suma surge como for-
ma de denúncia da realidade varrida para [...].17
Mulheres estudantes
Todas nós sabemos que o conservadorismo está na agenda do nosso país, dis-
seminando discursos sexistas, elitistas, racistas e LGBTfóbicos para implementar
17. No original, a página e o tópico terminam sem que o texto fosse concluído. [N.O.]
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TESES DA TENDÊNCIA PETISTA ARTICULAÇÃO DE ESQUERDA AOS CONGRESSOS DA UNE (1995-2021)
um projeto de sociedade que vai contra o mundo que queremos construir. Apesar
disso, vivemos também uma nova onda feminista, composta principalmente por jo-
vens, muitas delas secundaristas, que não aceitam que seus direitos sejam retirados.
Ainda que seja positivo que mais jovens estejam se engajando nas discussões
sobre gênero, e que elas estejam presentes em movimento importantes, per-
cebemos que a referência da maioria destas mulheres não é a luta de classes. A
ideologia neoliberal, que predomina nas diferentes formas de relação social, con-
funde a compreensão de luta de parte das feministas, construindo pautas que não
perpassam por um projeto emancipatório de sociedade. Tendo em vista esta nova
noção de feminismo, que está ganhando força, principalmente entre as jovens mi-
litantes, exaltamos a importância de construir cada vez mais um feminismo petista
com recorte de classe e de raça, sempre priorizando a organização das mulheres
trabalhadoras.
Para reverter esse cenário, é fundamental que as jovens, ainda que as condi-
ções sejam adversas, se proponham a construir a discussão sobre feminismo dentro
dos seus espaços de militância. Assim, construímos espaços mais propícios para
mulheres se colocarem e garantimos a segurança física e psicológica das nossas
companheiras.
Reiteramos que a construção de um mundo novo, no sentido do nosso hori-
zonte socialista, passa necessariamente pela presença das mulheres na nossa luta. E
enquanto estas mulheres estiverem sobrecarregadas com jornadas duplas e triplas
de trabalho, sendo negado o seu direito de estudo, recebendo menos por trabalho
igual, tendo sua sexualidade criminalizada, sofrendo diversas violências e tendo
suas vozes e potencialidades diminuídas e silenciadas, menos da metade da popu-
lação participará e construirá este novo mundo. Portanto, é imprescindível mais
mulheres na política para termos mais política para as mulheres.
Fora Temer, do governo e da vida das mulheres!
Houve, ao longo dos anos, uma mudança gradual e alcançamos em 2005, fruto
do fortalecimento das políticas de acesso à universidade, o índice de 55% de ma-
trículas nos cursos de graduação feitas por mulheres, nos tornando a maioria de
ingressantes nas universidades.
Se para nós, mulheres, a possibilidade de ingressas em cursos de graduação é
conquista recente, a possibilidade de permanecer se configura, sem dúvida, como
algo mais recente ainda, em processo de construção e com muitos desafios pela
n 55o CONGRESSO DA UNE
frente.
Um exemplo disso é o nosso acesso às moradias estudantis. No histórico de
diversas Casas de Estudantes Universitários no Brasil, foi somente após décadas de
sua inauguração que mulheres puderam morar, em muitos casos após inúmeras
reivindicações, ações, ocupações protagonizadas pelas mulheres. E essa não é uma
270
O BRASIL, A UNIVERSIDADE E O MOVIMENTO ESTUDANTIL
sexista do trabalho!
Somos cotidianamente expostas à violência machista dentro das universida-
des. Desde as constantes e incessantes violências morais por professores e colegas,
universidades que relatam ter casos de estupro semanalmente, trotes violentos com
as mulheres, notas baixas ao fim do semestre, disponibilidade pequena de bolsas
271
TESES DA TENDÊNCIA PETISTA ARTICULAÇÃO DE ESQUERDA AOS CONGRESSOS DA UNE (1995-2021)
para mulheres, entre inúmeras outras situações que nos impõem, sem dúvida, difi-
culdades para permanecermos no ambiente acadêmico.
Somo silenciadas pela falta de espaço para transformar essa realidade. Precisa-
mos de espaços e serviços específicos para denunciar e acabamos com a violência
nas universidades. Somente com ouvidoria especializada para acolher as denúncias
de violência contra as mulheres e com uma rede de atendimento psicossocial tam-
bém especializada é que vamos conseguir fazer com que casos de machismo não
nos intimide a participar da universidade.
Somos incompreendidas pelos nossos colegas e professores, e não somos leva-
das em conta na produção do conhecimento. Precisamos que a questão de gênero
seja debatida na nossa formação profissional. Se há uma deficiência desse debate
nos cursos da área da saúde, que forma profissionais que atenderão sobre uma
política específica para as mulheres, o que esperar dos cursos que ainda guardam
uma hegemonia masculina e uma lógica machista e patriarcal como abertamente
vigente?
Somos cerceadas de participar das pesquisas acadêmicas. A maioria dos estu-
dantes que têm bolsas de pesquisa ou trabalham em projetos de iniciação científica
são homens. Esse fato reforça ainda mais a divisão sexista do trabalho e o nosso
afastamento do trabalho com a pesquisa e o desenvolvimento tecnológico, colo-
cando-nos, por vezes, na situação de ter bolsas ou trabalhos não relacionados com
nossa área de formação para podermos nos manter na universidade.
E é na luta que vamos conquistar a condição igual de permanência, a formação
não sexista, o fim do machismo e da lógica patriarcal em todos os âmbitos da nossa
universidade para que nós estudantes mulheres, mães, trabalhadoras, possamos di-
zer que a universidade também é nossa, que a universidade é do povo.
Negras e negros
Desde a implementação das primeiras instituições de ensino no Brasil, já se
desenhava o cunho racista que guiaria o debate sobre educação no nosso país. Se-
guindo o modelo europeu, as primeiras faculdades já legitimavam o conhecimento
embranquecido como superior. Enquanto isso, a população negra era cada vez mais
marginalizada, largando em desvantagem por melhores condições de vida.
A educação é apenas um dos âmbitos em que podemos analisar como se
institucionalizou o racismo em nosso país. Não temos representatividade nos espa-
n 55o CONGRESSO DA UNE
272
O BRASIL, A UNIVERSIDADE E O MOVIMENTO ESTUDANTIL
Questão agrária
A história contemporânea brasileira tem sido marcada nos últimos anos por
profundas crises em nossa economia, cujos reflexos são evidenciados pelo enorme
abismo social hoje existente, fazendo do Brasil um país com um dos maiores níveis
de desigualdade social do mundo. Este cenário sinaliza a incapacidade do atual
modelo em promover um desenvolvimento econômico capaz de inserir as grandes
maiorias que hoje estão completamente excluídas do processo produtivo, deixan-
do clara a necessidade da existência deste processo excludente para a manutenção
deste modelo econômico.
Precisamente, a questão agrária no Brasil tem sua emergência em 1530, com a
organização das capitanias hereditárias. Mesmo após a “independência” em 1822,
agravou-se a questão fundiária e suas contradições. Tal conjuntura provocou a ex-
n 55o CONGRESSO DA UNE
273
TESES DA TENDÊNCIA PETISTA ARTICULAÇÃO DE ESQUERDA AOS CONGRESSOS DA UNE (1995-2021)
274
O BRASIL, A UNIVERSIDADE E O MOVIMENTO ESTUDANTIL
de classe está no topo das tarefas do movimento estudantil brasileiro. Para isso, é
necessário construir canais de diálogo, através da extensão universitária, com essa
parcela da sociedade marginalizada e verdadeiramente atingida com o genocídio e
encarceramento da nossa juventude a fim de construir saídas concretas para a su-
peração dessa problemática.
275
TESES DA TENDÊNCIA PETISTA ARTICULAÇÃO DE ESQUERDA AOS CONGRESSOS DA UNE (1995-2021)
276
O BRASIL, A UNIVERSIDADE E O MOVIMENTO ESTUDANTIL
lista foram incluídos 10 suicidas gays que tiveram como motivo de seu desespero
não suportar a pressão homofóbica, como aconteceu com um gay de 16 anos, de
São Luís, que se enforcou dentro do apartamento “por que seus pais não aceitavam
sua condição homossexual”. O Brasil confirma sua posição de primeiro lugar no
ranking mundial de assassinatos homotransfóbicos, concentrando 4/5 de todas as
execuções do planeta.
Associado a isso, no período de golpe à democracia o fascismo associado ao
conservadorismo tem crescido de maneira grotesca. Essa tendência só demonstra o
nível de conservadorismo articulado com uma forte tendência de retomada de um
Estado teocrático, haja vista o crescimento nas últimas eleições da bancada conser-
vadora (BBB – Bala, Bíblia, Boi) – o que coloca para o ME e os demais movimentos
LGBT a luta por direitos que visam a emancipação dessas/es sujeitas/os, bem como
retomar com mais força a luta pela aprovação do PL 122/2006 como estratégia cen-
tral de combater a violência contra LGBTs.
A persistência da LGBTfobia nas instituições de ensino e na sociedade de um
modo geral demonstra o quão imprescindível se faz a renovação de currículos.
Emerge a construção de uma nova escola e universidade que dialogue com a reali-
dade dos grupos sociais historicamente marginalizados e que faça com que estes se
reconheçam no processo de ensino e aprendizagem.
No que se refere aos desafios auto-organizativos, a UNE precisa articular a sua
relação com os movimentos LGBTs entre outros movimentos que lutam por direi-
tos humanos, bem como fortalecer a diretoria LGBT da UNE e fomentar espaços de
debates e mobilizações sociais. Além disso, é preciso retomar o debate para den-
tro do próprio ME nas universidades como, por exemplo, a construção do projeto
“Universidade Fora do Armário” e o ENUDS.
Assim, a UNE tem papel fundamental no enfrentamento aos discursos de ódio
e na construção de uma universidade que de fato abarque as demandas do povo.
São propostas da Juventude da Articulação de Esquerda:
- Incorporar as disciplinas de gênero e sexualidade nos currículos de todos os cur-
sos de graduação;
- Mais projetos de extensão que dialoguem com a comunidade LGBT que está fora
da universidade;
- Incentivo de parcerias entre grupos de estudos e pesquisa, coletivos que debatam
gênero e sexualidade com as secretarias municipais de educação, e a criação de
n 55o CONGRESSO DA UNE
277
TESES DA TENDÊNCIA PETISTA ARTICULAÇÃO DE ESQUERDA AOS CONGRESSOS DA UNE (1995-2021)
balho privado, nos molda a ter uma visão da pessoa em partes, e a nos formarmos
apenas com a possibilidade de atuarmos profissionalmente sozinhas/os.
Precisamos compreender que, ao sairmos da graduação, cerca de 60 das pes-
soas que se titulam na área de saúde atuarão profissionalmente no SUS, o que nos
coloca diante de um mundo do trabalho que pede de nós uma formação interdis-
278
O BRASIL, A UNIVERSIDADE E O MOVIMENTO ESTUDANTIL
ciplinar, uma visão biopsicossocial das pessoas que vamos atender, uma visão de
rede de saúde e de assistência, o trabalho em grupos e em equipes de profissionais.
Mas sem dúvida, para que a Reforma Universitária que a gente quer consiga
dar conta de nos formar para o mundo do trabalho que nos espera, precisamos
fortalecer a extensão nos nossos currículos. É conseguindo vivenciar na prática
o funcionamento de uma equipe interdisciplinar, conhecer a realidade dos mais
diversos serviços de saúde e localidades atendidas, com debates que consigam coin-
cidir o conhecimento e vivências teóricas e práticas com base na realidade social,
que poderemos garantir cada vez mais um currículo que coincida com o desafio
que é a atuação profissional na área da saúde.
Além disso, é nosso dever fundamental organizar e fortalecer as Vivências e
Estágios na Realidade do Sistema Único de Saúde ( VER-SUS). Esse é um estágio de
vivência, que já tem abrangência em todas as regiões do país, e que visa, a partir
da auto-organização e do protagonismo do movimento estudantil, proporcionar
debates acerca da formação profissional em saúde, da universidade e da sociedade,
com a capacidade também de ser uma ferramenta de fortalecimento do movimento
estudantil e do controle social em saúde local.
Sem dúvida, os desafios colocados a nós são imensos, e não podíamos espe-
rar nada diferente diante do atual cenário político e social em que vivemos. Porém,
mais certo ainda é que esse momento exige nossa organização e nossa mobilização
máximas, para que façamos do movimento estudantil aquilo para o que ele foi his-
toricamente relegado: uma importante ferramenta de luta e de garantia de direitos
da classe trabalhadora.
Luta nas particulares
Atualmente, enfrentamos os efeitos de um golpe no Brasil que destituiu uma
presidenta eleita pelo povo sem que haja qualquer crime de responsabilidade e
colocou de assalto um governo ilegítimo e usurpador, sem condições políticas e
éticas para governar o país. O reflexo disso é o projeto neoliberal golpista, ado-
tando uma política radical antinacional e antipopular, liderado por Michel Temer,
que visa desmontar e retirar os direitos da classe trabalhadora, da juventude e dos/
as estudantes, como a contrarreforma da previdência e trabalhista, a terceirização
e as PECs 241 e 55, que propõem o congelamento de investimentos públicos por
20 anos.
Na educação o cenário é devastador para os e as estudantes, pois o governo
n 55o CONGRESSO DA UNE
279
TESES DA TENDÊNCIA PETISTA ARTICULAÇÃO DE ESQUERDA AOS CONGRESSOS DA UNE (1995-2021)
40% - com atrasos nos repasses, corte nas bolsas do ProUni e de pesquisas PIBID e
CNPq, que representam ainda uma possibilidade de permanência dos estudantes
na universidade, visto que não há uma política própria de assistência estudantil nas
privadas. Diante disso, o futuro destes importantes programas é incerto caso os gol-
pistas continuem assaltando o poder.
A conjuntura nas universidades particulares/comunitárias tem suas peculiari-
dades e é reflexo de um projeto de educação implementado nos últimos anos que
priorizou o acesso à educação via políticas públicas, como o FIES, ProUni, dentre
outros. Desse modo, existem aqueles que de praxe desconhecem a realidade dos
estudantes das privadas e fazem a crítica a todo custo sem apresentar uma proposta
real a esses programas que proporcionaram a inserção de milhares de estudantes
na universidade. Outros, que defendem acriticamente esses programas sem visua-
lizar e refletir sobre tudo aquilo que perpassa o acesso, mas que dizem respeito à
permanência e às condições cotidianas para que não desistam do sonho de se for-
mar. Nós, da Reconquistar a UNE e da Juventude da Articulação de Esquerda ( JAE)
reconhecemos o quão importante são esses programas para os filhos e filhas da
classe trabalhadora, sobretudo do interior do país. Entendemos, entretanto, que
para além de entrar na universidade precisamos permanecer com qualidade e, as-
sim, articular com a luta pela regulamentação das universidades privadas rumo à
universalização e estatização da educação, contra aqueles que lucram com a edu-
cação transformando-o em mercadoria e, portanto, descaracterizando o real papel
desta para solucionar as contradições da sociedade.
Nesse sentido, é de suma importância retomar esse debate das universidades
particulares e colocá-lo no centro da nossa orientação estratégica, bem como pau-
tar e aprofundar sua visão e opinião ao conjunto da sociedade e dos estudantes que
nela constrói cotidianamente. Hoje, mais de 70% dos estudantes brasileiros estão
em instituições privadas, comunitárias e filantrópicas. Cabe aqui fazer um apanha-
do sobre a situação específica das privadas. Nos últimos anos, o país viveu o maior
ciclo de expansão das vagas no ensino superior de toda a sua história. A expansão
ocorreu por meio de inúmeros mecanismos, tanto no setor público quanto no pri-
vado. No setor privado, já são mais de um milhão e meio de bolsistas do ProUni e
mais de um milhão e meio de contratos do FIES. O problema histórico do acesso,
por conseguinte, vem sendo enfrentado em alguma medida. No entanto, uma das
consequências da expansão e democratização do acesso é a ampliação da demanda
n 55o CONGRESSO DA UNE
280
O BRASIL, A UNIVERSIDADE E O MOVIMENTO ESTUDANTIL
281
TESES DA TENDÊNCIA PETISTA ARTICULAÇÃO DE ESQUERDA AOS CONGRESSOS DA UNE (1995-2021)
282
O BRASIL, A UNIVERSIDADE E O MOVIMENTO ESTUDANTIL
AVALIAÇÃO
O elemento novo não está nos números da votação, nem tampouco na impres-
sionante ausência de votos brancos e nulos.
Sem falar, é claro, no fato de que não se conhece o número total de delegados
e delegadas credenciados. Detalhe revelador de métodos eleitorais que antes eram
muito questionados, mas que agora estão sendo “naturalizados” por muita gente,
como a falsificação de comprovantes de matrícula e de listas de votação, dentre
outros. Este tipo de prática vem sendo, congresso após congresso, cada vez menos
questionada nos processos de eleição de delegados para os Congressos da UNE.
O elemento novo é que desta vez, diferente do congresso passado, o PCdoB
conseguiu atrair para sua chapa o Levante Popular da Juventude e quase toda a
Juventude do PT (com exceção da delegação da tendência petista Articulação de
Esquerda).
n 55o CONGRESSO DA UNE
Até o início do Congresso, imaginava-se que o até então Campo Popular (que
reunia o Levante Popular da Juventude mais várias tendências petistas) lançaria cha-
pa, defenderia uma alternativa de direção para a UNE e buscaria ampliar sua força
política. Até porque foi isto que ocorreu no 54º Congresso e ao longo de toda a
19. Página 13, n. 166, jul. 2017, p. 6-7.
283
TESES DA TENDÊNCIA PETISTA ARTICULAÇÃO DE ESQUERDA AOS CONGRESSOS DA UNE (1995-2021)
gestão, não havendo na UNE situações que justificassem uma chapa única entre os
integrantes do Campo Popular e o PCdoB.
É verdade que na Frente Brasil Popular já parecia estar ocorrendo uma aproxi-
mação entre a Consulta Popular (irmã mais velha do Levante) e o PCdoB. Mas, ao
mesmo tempo, havia questões espinhosas a separar as partes, por exemplo o voto
do PCdoB em Rodrigo Maia, a vacilação sobre a participação num possível colégio
eleitoral e a postura frente a candidatura Lula. A construção de processos de luta
unificados no último período não excluiu as inúmeras divergências entre o Campo
Popular e a direção majoritária da UNE: a ausência de oposição à política econômi-
ca do segundo governo Dilma, a demora em encampar o Fora Cunha, a disposição
de apoio à eleição do colégio eleitoral caso não haja eleições diretas, dentre outros.
Sem falar na participação do PCdoB, através de organizações que dirige, na Frente
Povo Sem Medo.
Mas estas questões parecem ter sido superadas, em discussões reservadas fei-
tas antes do Congresso, ou bem em discussões intensas feitas durante o Congresso.
Tudo indica, contudo, que estas discussões tiveram como centro não a política da
Frente Brasil Popular, mas a composição da diretoria da União Nacional dos Estu-
dantes. Sendo assim, a versão de que houve uma unidade das forças que compõem
a Frente Brasil Popular seria, neste caso, mais um caso de “pós-verdade”.
Seja como for, o fato é que o PCdoB trouxe para a sua chapa quase todo o PT
e também o Levante, a juventude da Consulta Popular.
Em congressos anteriores, o PCdoB já havia conseguido atrair para sua chapa
a juventude da tendência majoritária do PT (a CNB) e também a juventude da ten-
dência petista Democracia Socialista.
Aliás, chega a ser tocante ver o Partido dos Trabalhadores, o maior partido da
esquerda brasileira, deixar o PCdoB tratar com suas tendências, de forma fatiada,
fragmentando quem — se atuasse com outra política — poderia ser maioria na di-
reção da UNE.
Quais argumentos políticos e organizativos o PCdoB usou desta vez? As
notícias de bastidores são muitas. Pouco a pouco os detalhes virão a luz. Mas, in-
dependentemente destes “detalhes”, há uma questão sobre a qual já há bastante
clareza. A saber: até então, os integrantes do agora finado Campo Popular questio-
navam a política e os métodos do PCdoB na condução da UNE. E apontavam que
o déficit de legitimidade da entidade derivava da longa hegemonia do PCdoB e de
n 55o CONGRESSO DA UNE
seus métodos.
Um dos muitos exemplos destes métodos é que, no Congresso da UNE, os
delegados votam em urnas identificadas por chapas. Graças a isso, vem sendo divul-
gada a seguinte tabela com a composição da chapa do PCdoB, denominada “Frente
Brasil Popular”:
284
O BRASIL, A UNIVERSIDADE E O MOVIMENTO ESTUDANTIL
UJS 2.022
Levante 548
Kizomba 334
ParaTodos 317
JSB 224
Quilombo 141
Juventude Revolução 64
Mudança 52
A Marighella 47
Novo Rumo 32
Avante 7
A adesão do Levante Popular da Juventude e de grande parte das tendências
petistas que faziam parte do Campo Popular – exceto, como dito, a Articulação de
Esquerda — tem como decorrência inevitável enfraquecer aquele questionamento
aos métodos e a política do PCdoB.
Se aquele questionamento era falso ou exagerado, não há problema.
Mas se aquele questionamento era verdadeiro, ou seja, se dizia respeito a pro-
blemas reais, então o que assistimos neste Congresso tende a ampliar os problemas
da UNE.
Até porque, neste caso, o que vimos foi o PCdoB cooptar um setor que antes
lhe fazia oposição, usando os métodos que antes eram questionados justamente
pelos que agora foram cooptados.
Seja como for, o 55º CONUNE marca uma vitória retumbante do PCdoB, que
conseguiu assim neutralizar a maior parte da oposição que lhe era feita a partir do
Campo Popular e constituir uma maioria absolutíssima.
Este movimento está sendo justificado com um discurso sobre a “unidade da
Frente Brasil Popular”.
Mas se de fato o centro da tática fosse a construção da unidade política da
Frente Brasil Popular na UNE, esse movimento teria sido feito ao longo de toda a
gestão da UNE, dos CONEGs, nas entidades gerais e de base e do próprio proces-
so de eleição de delegadas e delegados e não na madrugada da plenária final do
n 55o CONGRESSO DA UNE
Congresso.
Claro, isto pode vir a acontecer, o que suporia inclusive que as já citadas di-
vergências existentes na Frente Brasil Popular terão sido superadas. Mas até prova
em contrário, trata-se de instrumentalizar a unidade da Frente Brasil Popular para
justificar uma movimentação, que teve como fiel da balança não a unidade políti-
285
TESES DA TENDÊNCIA PETISTA ARTICULAÇÃO DE ESQUERDA AOS CONGRESSOS DA UNE (1995-2021)
ca da Frente, mas sim a aceitação ou não por parte do PCdoB de espaços políticos
pleiteados para garantir a composição da chapa.
A movimentação protagonizada pelo Levante Popular da Juventude colocou
fim ao Campo Popular enquanto alternativa de direção para UNE, convertendo a
maior parte deste finado campo em mera fração do condomínio de forças dirigidas
pelo PCdoB. O Campo Popular tinha uma razão de ser: ser um campo alternativo
de direção à UJS/PCdoB, apontando a necessidade de que a UNE supere a aposta
na conciliação com os inimigos do povo e dos trabalhadores, de que retome sua ca-
pacidade de fazer luta de massas, de pautar uma reforma universitária popular que
altere a estrutura da educação superior, de democratizar a entidade e de construir
outros métodos para o movimento estudantil. Esta razão de ser foi abandonada
nesta movimentação das forças aderirem ao campo majoritário.
Este giro político de 180°, que põe fim ao Campo Popular da UNE, é extrema-
mente danoso ao conjunto do movimento estudantil.
Ele desmobiliza todo um setor que, principalmente pelos erros da política
do PCdoB ao longo dos anos à frente da UNE, vinha retomando sua presença e
construção da entidade e da rede do movimento estudantil, por compreender a
possibilidade do Campo enquanto alternativa de direção. E é justamente por com-
preender que estes erros não acabaram e que em grande medida cresceram, que
nós seguimos defendendo uma outra política para a União Nacional dos Estudantes.
Imprescindível destacar, ainda, que justamente por compreender a importân-
cia histórica da UNE, retomaremos com todas as forças o caminho da construção de
uma alternativa política e de direção para a entidade.
Aliás, já assistimos esse velho filme, que mostra uma falsa polarização na en-
tidade entre o condomínio de forças dirigidas pelo PCdoB e as inconciliáveis e
equivocadas posições da Oposição de Esquerda.
Da última vez que esta conformação se concretizou, mantivemos nossa po-
sição de construir uma alternativa de direção. Agora não será diferente. Para dar
conta de seu papel nesta quadra da história, a UNE precisa mudar e essa mudança
não virá com passos atrás.
20 de junho de 2017
Coordenação nacional de juventude da
tendência petista Articulação de Esquerda
n 55o CONGRESSO DA UNE
286
57o Congresso da UNE
Brasília (DF), 10 a 14 de julho de 2019
TESE
QUEM SOMOS
A UNE Para Tempos de Guerra é construída por estudantes de diversos can-
tos do país. Estamos presentes em diversas entidades estudantis, como DAs, CAs,
DCEs, Executivas de Curso, e também no dia a dia das e dos estudantes. Defen-
demos uma UNE que volte para as lutas da rua, que conduza os estudantes para
a resistência e que seja referência para a categoria estudantil do Brasil inteiro. O
período histórico que vivemos não permite vacilações: é urgente a necessidade de
que a UNE volte a ser uma ferramenta que incida nos rumos do país e da educação.
A tese UNE Para Tempos de Guerra é impulsionada por militantes da Juventude
da Articulação de Esquerda, tendência petista que se coloca na luta pelo socialis-
mo e por outra estratégia política desde os anos 90. Acreditamos na construção
de um PT democrático, socialista e de massas e, da mesma forma, acreditamos em
uma UNE comprometida com as lutas dos estudantes e da classe trabalhadora. Lula
Livre!
CONJUNTURA
287
TESES DA TENDÊNCIA PETISTA ARTICULAÇÃO DE ESQUERDA AOS CONGRESSOS DA UNE (1995-2021)
288
O BRASIL, A UNIVERSIDADE E O MOVIMENTO ESTUDANTIL
EDUCAÇÃO
(Paulo Freire)
A educação no Brasil sempre foi alvo de ataques das elites entreguistas que
pretendem adotar como projeto sucateamento da educação para vendê-la. Essa
pauta vem sendo intensificada pelo golpe de 2016 e pela eleição de Jair Bolsonaro
n 57o CONGRESSO DA UNE
289
TESES DA TENDÊNCIA PETISTA ARTICULAÇÃO DE ESQUERDA AOS CONGRESSOS DA UNE (1995-2021)
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O BRASIL, A UNIVERSIDADE E O MOVIMENTO ESTUDANTIL
MOVIMENTO ESTUDANTIL
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TESES DA TENDÊNCIA PETISTA ARTICULAÇÃO DE ESQUERDA AOS CONGRESSOS DA UNE (1995-2021)
292
O BRASIL, A UNIVERSIDADE E O MOVIMENTO ESTUDANTIL
COMBATE ÀS OPRESSÕES
Mulheres
Ainda que, no histórico do ensino superior, as mulheres tenham começado
a acessar a Universidade 70 anos depois dos homens, hoje, são as mulheres que
constituem maioria nas matrículas do ensino superior. Isso foi possível através da
luta e da participação feminina no movimento estudantil e das conquistas obtidas
com o avanço das políticas de acesso à permanência das mulheres na universidade.
O Movimento Estudantil deve reconhecer que as mulheres têm condições e reivin-
dicações específicas, e deve estar na defesa da criação e fortalecimento dos fóruns
e ouvidoria de denúncia de assédio e estupro nas universidades, da criação de nú-
cleos de pesquisa e extensão sobre gênero, lutar por garantia da moradia estudantil
para mães estudantes e suas/seus filhas/os, acesso a creche em tempo integral e
que as crianças possam acessar os Restaurantes Universitários juntas de suas mães.
Negros e indígenas
Se por um lado houve ampliação no acesso de Negros e Indígenas à Univer-
n 57o CONGRESSO DA UNE
sidade, por outro, as instituições de ensino parecem não estar preparadas para
recebê-los, tanto no que diz respeito à permanência material, como no que diz
respeito a ter um ambiente acadêmico que os acolha, respeitando a diversidade e
identidade cultural desses sujeitos. Dessa forma, para a permanência do negro e do
indígena no ensino superior, é preciso que, além da defesa da permanência das co-
293
TESES DA TENDÊNCIA PETISTA ARTICULAÇÃO DE ESQUERDA AOS CONGRESSOS DA UNE (1995-2021)
LGBT
Reconhecer a importância da população LGBT para as lutas políticas da atual
conjuntura é uma tarefa importante do movimento estudantil. O governo Bolso-
naro, através de sua política nefasta e reacionária, já se mostrou extremamente
disposto a acabar com os direitos dessa população. Se, nos últimos anos, os e as
LGBTs estiveram à frente de conquistas significativas para o movimento, agora a si-
tuação se inverte: voltamos a temer a patologização e a perseguição. É fundamental
que a pauta LGBT seja compreendida como algo indissociável das lutas pela trans-
formação da sociedade. As identidades e sexualidades dissidentes ainda são motivo
de expulsão de seus lares, o que faz com que muitos LGBTs virem mão-de-obra
barata nas mãos do mercado. A situação se agrava ainda mais para pessoas trans,
sobretudo as mulheres, que tem cerca de 90% de sua população condicionada à
prostituição. No ambiente universitário, principalmente em setores mais conserva-
dores, são muitos os LGBTs que desistem de estudar pela falta de acolhimento. A
luta por outra universidade e outra sociedade inclui a luta por permanência, legiti-
midade e direitos para a população LGBT, compreendendo que a libertação dessas
pessoas se dá por uma profunda transformação nas estruturas sociais.
Saúde mental
Dos últimos anos para cá, houve um aumento significativo de transtornos psi-
cológicos (principalmente depressão e ansiedade) no meio acadêmico. Isso surge
com uma gama de causas, cada vez mais relacionadas às opressões do dia a dia (ra-
cismo, machismo, LGBTfobia, capacitismo e psicofobia, por exemplo), ao elitismo
da academia, que esmaga a saúde mental, principalmente dos estudantes de clas-
ses populares (não é à toa o número alto de abandono do ensino por conta disso,
como também por questão de necessidades de classe), à falta de promoção de de-
bates e de um fortalecimento institucional dos cursos em relação ao tema (onde
se deveria criar um programa de extensão entre a faculdade com a psicologia para
se ter mais acesso psicológico para a categoria estudantil). As consequências que
ocorrem na saúde mental dos estudantes são a medicalização de forma errônea ou
o confinamento em hospitais psiquiátricos (que agora, mais uma vez, se tornam ma-
nicômios, graças a uma canetada do governo Temer que desconsidera o tratamento
n 57o CONGRESSO DA UNE
294
O BRASIL, A UNIVERSIDADE E O MOVIMENTO ESTUDANTIL
Acessibilidade
Nas nossas universidades e na nossa sociedade em geral, existe uma tentati-
va de inclusão no sentido teórico, porém não é o que acontece na prática. Nossa
sociedade, até hoje, marginaliza as pessoas com deficiência. O capacitismo (opres-
são contra pessoas com deficiência) existe de diversas formas: de forma estrutural
(arquitetura inacessível e/ou falta de ferramentas de inclusão nos espaços de so-
cialização, insultos, agressões), de forma simbólica (como reservar às pessoas com
deficiência tratamento de pena, de inferioridade/ subalternidade) e através da se-
gregação e exclusão nos ciclos de socialização. É uma opressão que se baseia na
ideia de um padrão anatômico de corpo perfeito. A opressão nesse caso é contra
as pessoas com deficiência física externa ou interna (inclusive a mental). Dentro
das nossas universidades, como na sociedade em geral, existe ainda uma grande
falta de ferramentas de acessibilidade. Não apenas as questões arquitetônicas, mas
também na formação dos professores e de institutos, na falta de ferramentas para
pessoas que precisam de braile, libras, rampas para pessoas que usam cadeira de
rodas, piso tátil para as pessoas com deficiência visual e entre outros. O mais grave
disso tudo é a falta consciência sobre o tema. Por isso, se queremos um movimen-
to estudantil que paute o fim das opressões, temos que incluir inúmeros setores,
não apenas no discurso, mas principalmente nos espaços estudantis. Por isso, é ex-
tremamente importante o movimento estudantil respeitar, incluir e entender que
as pessoas com deficiência merecem não apenas respeito, mas também direitos e
acessibilidade.
Lula Livre!
A Operação Lava Jato é um dos pilares do golpe de 2016, não só porque foi
uma das articuladoras da deposição da presidenta Dilma e a responsável pela pri-
são política de Lula, mas, sim, porque esses dois elementos foram e são centrais
n 57o CONGRESSO DA UNE
295
TESES DA TENDÊNCIA PETISTA ARTICULAÇÃO DE ESQUERDA AOS CONGRESSOS DA UNE (1995-2021)
de 2018 e da luta política direta em nosso país para que o projeto do golpismo
pudesse vingar.
Cabe-nos, pois, fazer um breve resgate de memória histórica para que possa-
mos esclarecer a importância do papel político de Lula no contexto atual. Quando
costumamos debater sobre a Ditadura Empresarial-Militar brasileira muito falamos
sobre a luta armada e sobre a luta institucional via MDB. Entretanto, um exercício
que pouco fazemos – seja porque não costumamos fazer balanço histórico, seja
porque insistimos em repetir os erros estratégicos e táticos da nossa luta política
– é rememorar como conseguimos derrotar a ditadura brasileira. Entre as várias
táticas de luta armada e da própria tentativa de construção de frente ampla com
setores da burguesia nacional, o que conseguiu acumular forças para a derrota do
regime foi a luta de massas, representada pelas grandes mobilizações estudantis e
as greves de trabalhadores, com destaque para as greves do ABC que, por sua vez,
conseguiram mobilizar e cruzar os braços milhares de trabalhadores na região pau-
lista. Aqui, uma figura popular, vinda do interior do interior do Nordeste brasileiro,
se destacou por liderar e articular com maestria as greves: Luiz Inácio Lula da Silva.
Lula, a partir de então, conseguiu se colocar para o conjunto do povo brasi-
leiro como a maior liderança popular da história do nosso país. Prova disto é a sua
capacidade de liderar as massas não só por meio das greves na década de 1980,
mas por ter conseguido terminar um governo com mais de 80% de aprovação e de,
mesmo preso e com uma campanha intensa de criminalização ao nosso partido e
à sua vida política, ter sido o candidato favorito pelo nosso povo ao pleito eleitoral
de 2018.
A Lava Jato e a coalizão golpista sabem que para se sustentar no governo é
fundamental, dentre outros aspectos, ter uma liderança que consiga aglutinar as
massas. Portanto, eles sabem também que a fragilidade do projeto que está posto é
a possibilidade de Lula, como liderança de massas, fazer o contraponto a Bolsona-
ro, organizando nas ruas, nas praças e bairros a resistência à reforma da previdência
e ao desmonte da educação. Vejamos: se Lula é liberto, a luta contra o governo
entra em outro patamar, uma vez que há uma liderança do nosso campo democrá-
tico popular (que por sinal é a única atualmente) com grande inserção nas massas.
Lula põe em xeque direto a liderança de Bolsonaro e o projeto neoliberal conser-
vador em curso. Lula, portanto, é a possibilidade concreta – gostem alguns ou
n 57o CONGRESSO DA UNE
não – de forjarmos uma saída democrática popular à crise instaurada. Por isso, a
campanha pela libertação de Lula aponta para a derrota do governo Bolsonaro e
sinaliza, a depender do nível de consciência que consigamos estar, para um projeto
de país de cunho popular, capaz de colocar como central as reformas estruturais
que precisamos.
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O BRASIL, A UNIVERSIDADE E O MOVIMENTO ESTUDANTIL
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TESES DA TENDÊNCIA PETISTA ARTICULAÇÃO DE ESQUERDA AOS CONGRESSOS DA UNE (1995-2021)
AVALIAÇÃO
divisionista que trata cada força petista como independente, neutralizando assim
uma atuação conjunta do maior partido de esquerda da América Latina. Lastimável
para o partido que tem seu principal líder preso num processo político e golpis-
20. Texto submetido a debate na Coordenação Nacional de Juventude da tendência petista Articulação de Esquerda, enviado por Lucas
Reinehr em formato digital.
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ta, um partido que aposta numa oposição global ao governo Bolsonaro, dividir-se
dentro da UNE entre um bloco que conta com partidos que não acreditam na cen-
tralidade da pauta Lula Livre, ou que fazem concessões ao “centrão” na pauta da
Reforma da Previdência.
Diante desse cenário, a Juventude da Articulação de Esquerda atuou no senti-
do de buscar construir a unidade das forças petistas, entendendo que é tarefa do
Partido dos Trabalhadores dirigir a luta da classe trabalhadora, e assim também no
movimento estudantil, dando uma nova linha política para a UNE, para que a en-
tidade esteja à altura das demandas e da conjuntura. Sem fazer concessões cegas
ao pragmatismo em torno de uma “ampla unidade”, ou alianças com setores que
até pouco tempo eram antipetistas, a JAE apresentou sua tese UNE Para Tempos de
Guerra, demarcando uma alternativa de direção e linha política para a entidade.
Bolsonaro e as classes dominantes já declararam guerra: guerra contra a classe tra-
balhadora, guerra contra a educação pública, contra a aposentadoria, contra nossos
direitos, guerra contra nossas vidas. Por isso defendemos uma UNE que esteja à
altura desses desafios, que entenda a centralidade da luta pela liberdade de Lula,
eixo central de toda a narrativa do golpe e da perseguição ao PT e às organizações
populares. Uma UNE que esteja em cada universidade deste país, que mobilize as
e os estudantes numa luta articulada nacionalmente em defesa das universidades
públicas, contra a reforma da previdência e de combate ao projeto reacionário e
ultraliberal de Bolsonaro e das classes dominantes. Os tempos são de guerra e a
esperança deve ser vermelha! Lula Livre!
delegados eleitos.
Esta ausência, que possui imenso significado político, é resultado de uma op-
ção errada da maioria dos setores do partido. Foi uma escolha política colocar a
21. Sítio eletrônico do jornal Página 13, publicado em 30 jul. 2019. Disponível em: https://www.pagina13.org.br/nota-sobre-a-participacao-
do-pt-na-direcao-da-une/?fbclid=IwAR2-vUr2J8vrwUnc6XrBCPbBjGX2diQO9_HFb83UZCkRLW6RZ7p9h8rwrmA. Acesso em: 30 jan. 2023.
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TESES DA TENDÊNCIA PETISTA ARTICULAÇÃO DE ESQUERDA AOS CONGRESSOS DA UNE (1995-2021)
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Congresso Extraordinário da UNE
14 a 18 de julho de 2021
TESE
Conjuntura
O rearranjo geopolítico capitalista reserva para o Brasil uma posição de su-
balternidade no cenário global. Desde o golpe de 2016, que derrubou a primeira
mulher eleita legitimamente na história do Brasil, nosso país passa por um proces-
so de fascistização e ampliação do programa neoliberal. A eleição de Jair Bolsonaro,
em 2018, foi resultado de anos de articulação das elites e da direita tradicional, que
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TESES DA TENDÊNCIA PETISTA ARTICULAÇÃO DE ESQUERDA AOS CONGRESSOS DA UNE (1995-2021)
um dos principais exemplos o presidente da Câmara, Arthur Lira, que empilha mais
de 100 pedidos de impeachment.
Embora a UNE e outras entidades de representação de classe tenham construí-
do importantes lutas em 2019, a chegada da pandemia no início de 2020 prejudicou
imensamente nossas principais formas de organização e atuação. Sobre essa ques-
tão, é importante ressaltar que, além dos problemas ocasionados em função da
necessidade de distanciamento social, o ano de 2020 também foi marcado por li-
mitações na direção política da União Nacional dos Estudantes e outras entidades
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TESES DA TENDÊNCIA PETISTA ARTICULAÇÃO DE ESQUERDA AOS CONGRESSOS DA UNE (1995-2021)
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O BRASIL, A UNIVERSIDADE E O MOVIMENTO ESTUDANTIL
gionais com as Uniões Estaduais de Estudantes, DCEs, DAs e CAs, a fim de alinhar e
articular uma agenda de lutas que coloque os estudantes na rua em defesa da edu-
cação, da democracia e de outro projeto de país.
É preciso sair deste Congresso Extraordinário com as tarefas da UNE, da UBES
e da ANPG em vista: uma agenda permanente de lutas e a articulação com diferen-
tes setores da sociedade. Devemos fortalecer nosso lastro na sociedade, disputar a
consciência dos estudantes brasileiros e impulsionar com firmeza as nossas bandei-
ras. É papel da UNE defender a educação, mas sobretudo é papel da UNE defender
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TESES DA TENDÊNCIA PETISTA ARTICULAÇÃO DE ESQUERDA AOS CONGRESSOS DA UNE (1995-2021)
um projeto de país voltado para a classe trabalhadora e construído pela classe tra-
balhadora, enxergando as escolas e universidades como ferramentas que fazem
parte dessa disputa e são fundamentais para a construção de soberania.
O projeto de educação no Brasil de Bolsonaro
A história da educação brasileira é repleta de disputas em torno do seu papel
e função social. Nosso país foi o último da América Latina a criar universidades, o
que ocorreu apenas no século XIX. Essa implementação tardia do ensino superior e
democratização ainda mais tardia da educação básica moldam parte dos problemas
sociais que possuímos hoje.
Em 2016, o movimento estudantil, em conjunto com os demais setores da
educação, já alertava que o golpe tinha como um dos principais objetivos sucatear
e privatizar nossas universidades e Institutos Federais. Cerca de 5 anos depois, essa
realidade torna-se cada vez mais nítida de norte a sul do Brasil. A implementação
da EC 95, em 2016, foi o pontapé inicial da redução gradativa do orçamento das
universidades, que desde então têm sofrido para pagar suas contas e garantir seu
pleno funcionamento. Os cortes nos programas de pesquisa e extensão, o fim de
políticas importantes como o Ciências Sem Fronteiras e mais uma série de medidas
marcam esta “nova era” da educação brasileira, que, na verdade, é um retrocesso
sem precedentes.
Assim como durante a ditadura militar, quando o Ministério da Educação fir-
mou convênios e parcerias com o governo norte-americano em virtude da iniciativa
privada e pela implementação de um ensino tecnicista, mais uma vez as nossas uni-
versidades e Institutos Federais tornam-se laboratório do neoliberalismo. Durante
os governos de Lula e Dilma, obtivemos importantes avanços e conquistas, como
o Reuni, ProUni, FIES, as ações afirmativas, o PNAES e mais uma série de políticas
que democratizaram e interiorizaram o ensino superior. Pela primeira vez, os filhos
e filhas da classe trabalhadora puderam entrar, permanecer e contribuir na trans-
formação da universidade.
Entretanto, no momento em que as universidades pareciam estar em ascensão,
a ofensiva reacionária e ultraliberal demonstrou o projeto que quer para a educa-
ção brasileira: um projeto de subordinação. Diferente do que pudemos construir,
n CONGRESSO EXTRAORDINÁRIO DA UNE
a duras penas, durante os governos petistas, o objetivo das elites e da direita para
nossas Instituições de Ensino é a precarização, a evasão em massa dos estudantes
vulneráveis, os boicotes ao Enem, a elitização do ensino superior e a entrada desen-
freada do capital privado nas instituições de ensino.
Um dos exemplos dessa ofensiva foi o programa Future-se, proposto pelo go-
verno federal em 2019 e combatido veementemente nas Instituições Federais de
Ensino, com importante protagonismo do movimento estudantil, mas também com
a importante participação das demais categorias e, inclusive, com posicionamento
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O BRASIL, A UNIVERSIDADE E O MOVIMENTO ESTUDANTIL
de muitas instituições. Apesar de ter sido deixado de lado, o Future-se deve conti-
nuar sendo uma importante preocupação nossa, pois tende a ganhar força com as
universidades sob comando de interventores bolsonaristas.
Nos Institutos Federais, que também são importantes ferramentas de interio-
rização e democratização do ensino superior e técnico, o cenário não é diferente:
cortes de bolsas e a redução do orçamento da Lei Orçamentária Anual também tor-
nam difíceis o funcionamento pleno e a garantia de um ensino de qualidade para os
estudantes. Nas universidades estaduais, cuja realidade depende dos governos dos
estados, a realidade também se torna difícil em função de governos conservadores
e alinhados à política bolsonarista para a educação.
Colocar a iniciativa privada dentro das universidades tem objetivos muito
nítidos: apropriar-se do conhecimento produzido a partir dos bens públicos em
benefício do lucro das corporações, interferir na questão didático-pedagógica e
implementar uma formação tecnicista alinhada ao projeto de reprimarização da
economia brasileira. Como diz o ditado: quem paga a banda, escolhe a música. Por
isso, projetos como o Future-se precisam ser fortemente combatidos, independen-
te do nome que tenham ou sua forma de implementação. Bem como o combate
ao Future-se, é necessário que o movimento estudantil construa importantes lutas
contra as intervenções, que também têm contribuído para o projeto de sucatea-
mento e precarização das nossas instituições de ensino.
Um dos mecanismos utilizados pelo bolsonarismo – e que nunca deixou de
ser uma tática da direita “tradicional” – é a tentativa de criminalizar as universi-
dades através de mentiras, difamações e fake news. O bolsonarismo se utiliza do
discurso “anti-ideológico” para dar lastro a uma ideologia conservadora, reacioná-
ria e anti-educação. Assim, tenta criar terreno para deslegitimar as universidades
diante da sociedade e implementar o pacote de sucateamento e privatização.
As disputas em torno da educação brasileira definirão importantes questões
do futuro do nosso país. Foi possível ver, a partir dos governos Lula e Dilma, que
as universidades públicas e Institutos Federais são fundamentais não apenas para a
formação de jovens e adultos da classe trabalhadora, mas também para a produção
de ciência, o desenvolvimento de extensão e a construção de soberania para o nos-
n CONGRESSO EXTRAORDINÁRIO DA UNE
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TESES DA TENDÊNCIA PETISTA ARTICULAÇÃO DE ESQUERDA AOS CONGRESSOS DA UNE (1995-2021)
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O BRASIL, A UNIVERSIDADE E O MOVIMENTO ESTUDANTIL
na ordem do dia a luta por auxílio digital para os estudantes do Ensino à Distância,
que se encontram desassistidos neste momento. É preciso nos antecipar sobre a re-
tomada do ensino presencial, construindo uma pauta intensa para garantirmos um
retorno seguro para todos nós. É preciso fazer tudo isso ao passo em que lutamos
pela posse dos Eleitos porque, assim, dialogando com os nossos problemas reais,
acumulamos força na luta e, certamente, essas discussões servirão para elevar o ní-
vel de consciência e o patamar de luta dos estudantes para derrotarmos os cortes na
educação e no Plano Nacional de Assistência Estudantil, e para mudar as estruturas
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TESES DA TENDÊNCIA PETISTA ARTICULAÇÃO DE ESQUERDA AOS CONGRESSOS DA UNE (1995-2021)
dentro das nossas universidades, que esmagam a participação política dos estudan-
tes e da comunidade externa. Serão acúmulos, inclusive, que contribuirão para a
condução de uma luta clara e coesa, que terá uma pauta sólida de reivindicações,
para reivindicar dos Reitores Eleitos.
Educação e pandemia: desafios e tarefas da UNE
As universidades brasileiras estão sob ataque do governo Bolsonaro desde an-
tes de ele ser eleito. O desmonte, que se iniciou com o golpe contra a presidenta
eleita Dilma Rousseff e a aprovação da EC 95, mais conhecida como “PEC da Mor-
te”, atinge piores níveis a cada dia. Em 2019 passamos por um período de muitos
ataques à educação, o que foi muito intensificado em 2020 pela pandemia e, prin-
cipalmente, pelo descaso do governo federal.
Com a chegada da pandemia, as Universidades se viram obrigadas a encontrar
uma forma de manter o vínculo dos estudantes e dar continuidade à sua forma-
ção. A solução encontrada, que foi o ensino remoto, tem muitas peculiaridades. O
formato de educação implantado, que não é o EAD mas sim uma tentativa de trans-
formar o ensino que era presencial em ensino online seguindo os mesmos moldes,
foi decidido às pressas e sem planejamento, sendo que este é fundamental para que
o ensino a distância funcione de maneira efetiva.
Precisamos também falar da tecnologia: ela é benéfica e nos auxilia em muitos
aspectos da vida, mas carrega consigo muitos desafios. O primeiro e principal deles
é o fato de a tecnologia não ser acessível a todos: uma a cada quatro pessoas no
Brasil não tem acesso à internet. Portanto, implementar um sistema de ensino re-
moto sem discutir com alunos e professores estratégias educacionais e de inclusão
digital é impor a exclusão de uma parcela grande dos estudantes, principalmente
os filhos da classe trabalhadora que dependem destas políticas para se manter e
veem no Ensino Superior uma forma de garantir a melhoria de sua vida e também
de sua família.
A pandemia se tornou um prato cheio para o governo Bolsonaro precarizar
ainda mais a educação. Com a aprovação do PLOA de 2021 e o corte de mais de
18% na assistência estudantil, que já não era suficiente para manter os estudantes
com dificuldades socioeconômicas no ensino superior ficou ainda mais deficiente.
n CONGRESSO EXTRAORDINÁRIO DA UNE
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O BRASIL, A UNIVERSIDADE E O MOVIMENTO ESTUDANTIL
rabilidade social, foi ainda mais prejudicada nesse contexto, apontando um grande
desafio para toda a educação superior no futuro: sua reorganização a partir de pon-
tos de partida ainda mais desiguais.
Nesse Congresso Extraordinário, cabe à UNE refletir e deliberar sobre as al-
ternativas necessárias para enfrentarmos os vírus estruturais e conjunturais que
afetam diretamente a vida dos estudantes negros e negras. Não podemos nos es-
quecer que os meios digitais se tornaram palco em potencial de disseminação do
discurso de ódio, mas isso já se fazia presente muito antes. Tal exemplo reflete
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las gestões petistas da entidade do final dos anos 80. Desde então, foram inúmeras
lutas travadas, tanto a nível nacional, quanto a nível local nas próprias universida-
des, por mais assistência e por outra compreensão sobre a permanência estudantil.
É por isso que o PNAES foi tão importante e continua sendo: porque estabe-
lece que não basta entrar, é preciso permanecer. E mais do que isso: compreende
que permanência não se resume a alimentação e moradia, embora esses dois itens
sejam fundamentais e básicos para garantir que os estudantes se formem. Mas para
além desses eixos, é preciso que as políticas de permanência garantam ao estudan-
te uma plena experiência do ambiente universitário, o que inclui também apoio
pedagógico, atenção psicossocial, lazer, esporte, saúde, inclusão digital, creche e
muito mais.
Desde o III Seminário de Assistência Estudantil da UNE, que ocorreu em 2014
em Ouro Preto, a conjuntura mudou muito. Naquela época, o movimento estu-
dantil reivindicava mais assistência e o aprimoramento nas políticas já existentes.
A perspectiva era de ampliação das verbas do PNAES, construção de mais Casas do
Estudante, criação de mais Pró-reitoras de Assistência Estudantil e o cumprimento
dos eixos estabelecidos no Plano.
De lá pra cá, não apenas paramos no tempo, como também retrocedemos
nele. Em 2016, nós já denunciávamos que o golpe, sucedido pela EC 95 e mais
uma série de medidas, teriam como principal resultado a expulsão da classe tra-
balhadora da universidade. Alguns anos depois, a realidade é essa: torna-se mais
difícil ingressar e torna-se quase impossível permanecer. Com a redução das verbas
do PNAES, muitos estudantes ficarão à mercê de sua própria sorte, sem conseguir
se formar por falta de políticas que garantam moradia, alimentação, transporte e
muito mais. Essa realidade obviamente recai principalmente sobre os estudantes
negros e as mulheres, sobretudo aquelas que são mães.
Diante desse cenário, é fundamental que a União Nacional dos Estudantes im-
pulsione com muita força e centralidade a bandeira da assistência estudantil. Em
2020, realizamos reuniões e encontros com o Fórum Nacional de Pró-Reitores de
Assuntos Comunitários e Estudantis (Fonaprace), mas não foi prioridade da direção
majoritária da entidade dar sequência a essa articulação. A construção de uma po-
n CONGRESSO EXTRAORDINÁRIO DA UNE
lítica de defesa da assistência estudantil é algo que exige unidade e coesão na luta,
a fim de envolver todo o conjunto do movimento estudantil numa campanha em
defesa do PNAES e pela ampliação de suas verbas.
Ainda sobre o PNAES, é importante ressaltar que hoje ele é apenas um decreto,
não tendo sido transformado em lei. Essa realidade também torna frágil e incerta a
continuidade dessa política, ao mesmo tempo que sua constitucionalização pode
vir acompanhada de uma descaracterização. Diante dessa situação, não há outra
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O BRASIL, A UNIVERSIDADE E O MOVIMENTO ESTUDANTIL
alternativa senão a construção de uma luta muito forte que não apenas defenda o
PNAES, mas contribua para seu aprimoramento e ampliação.
Obviamente, não é possível imaginar que nós possamos ter uma melhora nas
políticas de assistência estudantil sob o governo de Bolsonaro e seus capangas
interventores. Por isso, é fundamental que as nossas bandeiras em defesa da assis-
tência estudantil estejam juntas com a bandeira do #ForaBolsonaro, que é urgente
para retomarmos a construção de um projeto popular de educação que dê centra-
lidade à permanência.
As principais tarefas da União Nacional dos Estudantes neste novo período
são a construção de seminários regionais para debater a assistência estudantil na
perspectiva das universidades federais, estaduais e privadas - onde a realidade é
outra e a falta de políticas ainda maior; a realização do Seminário Nacional de Assis-
tência Estudantil, a fim de sintetizar os debates, articular uma frente em defesa da
permanência e iniciar a campanha em defesa do PNAES e da assistência estudantil;
a ampliação do diálogo com a Secretaria Nacional de Casas do Estudante (Sence),
fundamental para defender as residências estudantis, que também têm passado por
dificuldades durante a pandemia em muitas universidades; e, por fim, a consolida-
ção de um Grupo de Trabalho de Assistência Estudantil vinculado à diretoria, a fim
de manter um diálogo constante com entidades gerais e de base para a construção
de ações em defesa da permanência, da educação pública e do #ForaBolsonaro.
Acessibilidade e inclusão para transformar
Por muito tempo, pessoas com deficiência foram excluídas da vida pública.
Essa realidade, estritamente vinculada ao capacitismo presente na sociedade, per-
petuou uma desigualdade muito grande entre PCD e pessoas sem deficiência. As
universidades, assim como não haviam sido pensadas para pessoas pobres, também
não foram construídas para pessoas com deficiência.
Entretanto, a Lei de Cotas e uma série de políticas de inclusão promovidas
pelos governos petistas permitiram que muitas PCD pudessem ingressar na univer-
sidade. O ingresso, entretanto, não garante a inclusão por si só, pois na maioria das
vezes, falta infraestrutura e acessibilidade para lidar com os diferentes tipos de defi-
ciência. Essa é uma questão estrutural e que precisa ser superada com a articulação
n CONGRESSO EXTRAORDINÁRIO DA UNE
das pessoas com deficiência em conjunto com diferentes grupos. O movimento es-
tudantil, que também é composto por PCD, precisa estar atento e dar centralidade
à luta por inclusão e acessibilidade.
É fundamental que a UNE promova encontros e seminários para debater a
realidade das pessoas com deficiência nas instituições de ensino, bem como a cons-
trução de uma campanha por mais acessibilidade nas universidades. É fundamental
também, que as entidades de base e gerais componham e fomentem a criação de
núcleos de acessibilidade nas universidades, a fim de promover, a nível local, dis-
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TESES DA TENDÊNCIA PETISTA ARTICULAÇÃO DE ESQUERDA AOS CONGRESSOS DA UNE (1995-2021)
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O BRASIL, A UNIVERSIDADE E O MOVIMENTO ESTUDANTIL
Universidades estaduais
Vivendo sob um governo onde a educação não é prioridade, o que resta é a
precarização do ensino e o estudante como atenção central do desmonte, onde
desde 2016, no pós-golpe, a educação brasileira tem sido alvo de ataques por par-
te do governo federal. As universidades brasileiras sofreram uma série de cortes, o
que era apenas o início de um processo que tem como principal objetivo sucatear
as instituições e impossibilitar o acesso da classe trabalhadora ao ensino superior.
âmbito estadual, há uma tentativa clara de buscar possibilidades de privatizar
e terceirizar o ensino, levando as universidades estaduais para um cenário onde
promover a educação fica cada vez mais precarizado. É nítido também, o projeto
de sucateamento, seguindo as regras básicas da privatização, que é a retirada de
recursos, fazendo com que se transmita a imagem de que as instituições públicas
não oferecem serviços de qualidade para a população, que acaba encarando isso
como um problema. Assim, fazendo com que fique mais fácil partir para a iniciativa
privada. Pensar nas instituições de ensino superior estaduais é pensar também em
como o poder público tem dado resposta à crise capitalista e como isso está sen-
do repassado para a classe trabalhadora nos estados. As universidades estão nessa
mira. É preciso ter em mente, que tudo isso é um projeto de desqualificação e des-
monte de um espaço que tem como função o pensamento crítico, a produção de
n CONGRESSO EXTRAORDINÁRIO DA UNE
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TESES DA TENDÊNCIA PETISTA ARTICULAÇÃO DE ESQUERDA AOS CONGRESSOS DA UNE (1995-2021)
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O BRASIL, A UNIVERSIDADE E O MOVIMENTO ESTUDANTIL
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TESES DA TENDÊNCIA PETISTA ARTICULAÇÃO DE ESQUERDA AOS CONGRESSOS DA UNE (1995-2021)
dia destes estudantes para fortalecer uma perspectiva popular e solidária de tecno-
logia, pautada principalmente pelo desenvolvimento social.
Ensino à distância para além da pandemia
Com o início da pandemia do novo Coronavírus, muito se denominou – erro-
neamente – a modalidade emergencial implementada como “Ensino à Distância”.
Embora algumas características destas duas modalidades sejam convergentes, o
ensino remoto emergencial implementado durante a pandemia tem diferenças
gigantescas em relação ao EAD tradicional, que existe tanto em universidades priva-
das, quanto em universidades públicas vinculadas aos polos da Universidade Aberta
do Brasil (UAB).
O EAD tradicional já foi motivo de debates acirrados em outras épocas do
movimento estudantil, principalmente durante os governos petistas. Para compre-
ender as complexidades do Ensino à Distância, é preciso separar a modalidade de
ensino de seus estudantes. No Brasil, existe uma onda crescente de instituições
privadas que oferecem cursos EAD. Apenas em 2019, o número de calouros em
cursos de modalidade à distância foi de 1,4 milhões, cerca de 54% do total de in-
gressantes naquele ano. Estes dados apresentam um sintoma anterior à pandemia:
de que, principalmente por parte da iniciativa privada, há uma ampliação na oferta
de cursos à distância.
Uma parcela significativa desses cursos são parte de um projeto de tecniciza-
ção do ensino que assola nosso país. Entretanto, é preciso separar o joio do trigo:
boa parte dos estudantes dessa modalidade são jovens do interior, filhos e filhas da
classe trabalhadora ou mesmo adultos que não puderam acessar o ensino superior
antes, por isso, optam por uma modalidade que seja possível de conciliar com o
mundo do trabalho.
Ainda no campo do Ensino à Distância, é preciso estabelecer uma diferença
entre os cursos - cada vez mais amplos - das instituições privadas e os cursos que
fazem parte de convênios oferecidos por universidades federais, como é o caso da
Universidade Aberta do Brasil. Além de serem limitados, estes cursos contam com
polos de apoio, planos pedagógicos construídos por docentes de universidades
federais e outras especificidades que os tornam diferentes das instituições priva-
n CONGRESSO EXTRAORDINÁRIO DA UNE
das. Boa parte dos estudantes desta modalidade também são jovens do interior,
homens e mulheres mais velhos, mães e pessoas que acessam o superior de forma
mais tardia.
Além de entrar no mérito da qualidade do ensino e da formação, que é um de-
bate importante, pois defendemos uma universidade pública e de qualidade para
todos e todas, é necessário debatermos as condições materiais desses estudantes
neste momento. O PNAES, importante conquista do movimento estudantil e dos
governos petistas, possui como uma de suas limitações a não destinação de recur-
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O BRASIL, A UNIVERSIDADE E O MOVIMENTO ESTUDANTIL
sos para estes estudantes oriundos do EAD. Portanto, é fundamental que a UNE
e outras entidades do campo da educação dialoguem com esses estudantes, cuja
forma de organização e atuação também é dificultada em função da modalidade de
ensino, mas não deixa de existir.
É preciso dar um olhar atencioso a estes setores sem deixar de fazer a crítica do
projeto de educação - mas também entendendo as diferentes condições materiais
e de acesso que existem pelo Brasil, principalmente no interior. Uma das tarefas
fundamentais da UNE no segundo semestre de 2021 é a realização de um Encontro
de Estudantes do Ensino à Distância, com vistas a debater os principais impactos
da pandemia nesta modalidade de ensino e na permanência de seus estudantes.
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TESES DA TENDÊNCIA PETISTA ARTICULAÇÃO DE ESQUERDA AOS CONGRESSOS DA UNE (1995-2021)
AVALIAÇÃO
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O BRASIL, A UNIVERSIDADE E O MOVIMENTO ESTUDANTIL
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ANEXOS
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44o Congresso da UNE
Brasília (DF), 14 a 18 de junho de 1995
TESE
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TESES DA TENDÊNCIA PETISTA ARTICULAÇÃO DE ESQUERDA AOS CONGRESSOS DA UNE (1995-2021)
APRESENTAÇÃO
O 44º CONUNE acontece num momento histórico decisivo que deve ser a mar-
ca das suas discussões orientando as resoluções tomadas e a tática política que nele
foi definida. O rolo compressor neoliberal, que FHC busca montar no Congresso
Nacional deve ser contido com todas as armas de que pudermos dispor, e o CONU-
NE pode ser uma delas.
Para tanto, é necessário que suas discussões sejam pautadas pela busca da
mais ampla unidade e coesão na luta contra o governo e as reformas; ao mesmo
tempo em que se faz um balanço crítico da entidade, de suas limitações estruturais
e dos erros de sua direção. Essa postura é fundamental para que a UNE se capacite
a cumprir as tarefas que se fazem necessárias, e mesmo para apontar o tipo de ME
que queremos para o futuro.
A tese Não vou me adaptar se dispõe a contribuir nesse processo. Chamado
à unidade, nas resoluções políticas, o conjunto dos estudantes que se recusam a
ceder ao discurso dogmático e monolítico dos gurus neoliberais. Num momento
em que vários segmentos organizados da sociedade são tentados a aderir à pseudo-
-modernidade que vem tomando conta dos meios bem pensantes do Brasil, a União
Nacional dos Estudantes deve se constituir num polo de resistência, de combate à
n ANEXO - 44o CONGRESSO DA UNE
integração subordinada do Brasil numa globalização que, nos moldes atuais, aten-
de apenas ao interesse dos mesmos países imperialistas de sempre.
Mas, para cumprir esse papel, é necessário que a UNE desça do seu pedestal
e tome medidas para diminuir o imenso abismo que separa a entidade dos estu-
dantes que estão nas salas de aula. A recuperação de prestígio político por parte
da UNE, na luta pelo impeachment de Collor, não se traduziu numa inserção qua-
litativamente superior no meio estudantil. É preciso encarar a aproximação com as
328
O BRASIL, A UNIVERSIDADE E O MOVIMENTO ESTUDANTIL
executivas de curso, não sob uma ótica subordinadora, mas através da integração
recíproca entre o geral e o específico. Numa expressão: é preciso democratizar e
desburocratizar a UNE.
Nós que não nos adaptamos à nova-velha ordem mundial, também não acre-
ditamos que o movimento estudantil que a UNE implementa hoje dê conta daquilo
que deve ser uma de suas tarefas permanentes: contribuir, num espaço fundamen-
tal, que é o da produção de conhecimento, para a disputa global de hegemonia que
devemos travar na sociedade, na luta pelo socialismo. Por isso, buscaremos o de-
bate mais franco sobre concepção de ME, ao mesmo tempo em que trabalharemos
no sentido de enfrentar, de forma coesa, o Governo FHC e o projeto neoliberal.
confinada aos países do Terceiro Mundo (e alguém se importava com isso?). Tudo ia
tão bem que esses confiantes senhores se davam ao luxo de nem se preocupar mais
com o tal “bloco socialista”, desde que ele não viesse com a triste ideia de exportar
o seu regime para outras paragens. E parece que, no fim das contas, o tal bloco não
extava mesmo muito a fim disso, não.
Um belo dia, lá pelos idos de 1972/73, as taxas de crescimento começaram a
cair, o fantasma da inflação voltou a assombrar a Europa e os EUA. Em 1975, já se
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TESES DA TENDÊNCIA PETISTA ARTICULAÇÃO DE ESQUERDA AOS CONGRESSOS DA UNE (1995-2021)
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O BRASIL, A UNIVERSIDADE E O MOVIMENTO ESTUDANTIL
suas delicadas balanças comerciais. Ainda mais com esses japoneses à solta, criando
um bloco econômico sólido com os tigres asiáticos. Japão que, diga-se de passa-
gem, jamais adotou o receituário neoliberal.
Quando o elevado custo social do neoliberalismo parecia colocá-lo em xeque
(afinal, ali pertinho, do outro lado do muro de Berlim, tinha gente que não pre-
cisava se preocupar com moradia, alimentação, educação, nem em falar mal do
governo – porque não podia), eis que os deuses concedem a chance suprema a
seus profetas terrestres, o muro cai, e, com ele, como pelas de dominó, todas as
tiranias burocráticas pseudosocialistas. Como peça de marketing, nada mais opor-
tuno: o estatismo rui. O mercado sobrevive, supremo.
A tal globalização ganha um alento revigorante. Passa a ser conhecida também
pela alcunha de “Nova Ordem Mundial” e faz a sua performance envolvente, ao som
dos bombardeiros, porta-aviões e lança mísseis da guerra “cirúrgica” que os ianques
levam ao Golfo. A “Cavalgada das Valkírias” do Iraque marca a entrada do processo
de integração numa nova e mais agressiva fase: investida aberta contra a soberania
nacional dos povos do Terceiro Mundo.
E aqui voltamos à nossa idiossincrasia: por que se contrapor à desarticula-
ção do Estado que nos propõem os neoliberais? Porque a globalização consiste
fundamentalmente em eliminar os entraves estatais à livre atividade do capital
oligopolista dos países do primeiro mundo. Retira do Estado (especialmente no
terceiro mundo) funções de regulação da economia, não para transferi-las à so-
ciedade civil, mas para concentrá-las nas mãos dos representantes orgânicos dos
oligopólios (FMI, BM, OMC, que, de agora em diante, chamaremos de tríade, para
não ter que ficar repetindo sigla).
A recém-criada Organização Mundial do Comércio se auto atribui o direito de
determinar qual deve ser a conduta de todos os países no que se refere à circulação
de mercadorias e serviços. A pressão dos EUA no sentido de que os países do tercei-
ro mundo adotem leis de patentes que lhes asseguram o monopólio da produção
de conhecimento é exercida através da tríade.
Nesse sentido, o pouco de novidade que a globalização trás é prejudicial para
os povos do mundo todo. Põe-se em xeque a soberania nacional, triturando as
funções dos Estados nacionais, não para substituí-los por uma estrutura mais de-
n ANEXO - 44o CONGRESSO DA UNE
331
TESES DA TENDÊNCIA PETISTA ARTICULAÇÃO DE ESQUERDA AOS CONGRESSOS DA UNE (1995-2021)
332
O BRASIL, A UNIVERSIDADE E O MOVIMENTO ESTUDANTIL
333
TESES DA TENDÊNCIA PETISTA ARTICULAÇÃO DE ESQUERDA AOS CONGRESSOS DA UNE (1995-2021)
Propostas:
- Oposição ao governo FHC;
- Contra a reforma constitucional;
- Paralisação contra a reforma;
- Pela democratização do Estado;
- Reforma agrária já!
- Suspensão do pagamento da dívida externa;
n ANEXO - 44o CONGRESSO DA UNE
334
O BRASIL, A UNIVERSIDADE E O MOVIMENTO ESTUDANTIL
UNIVERSIDADE
O papel desempenhado pela universidade nas relações de poder é contra-
ditório e modifica-se com o passar do tempo. Surgida num momento em que a
emergente classe de comerciantes urbanos necessitava se afirmar política e ideo-
logicamente, a universidade aparece como formadora de quadros pensantes que
legitimassem as novas ideias que começavam a disputar espaço com o velho pen-
samento feudal-eclesiástico (ainda que muitas das primeiras universidades tenham
surgido com o incentivo da Igreja).
Após a revolução industrial, esse papel se profunda, mas outro desponta para-
lelamente: a formação de quadros técnica e cientificamente capazes de atuar junto
à produção. Em síntese, apesar de mutações periódicas, estava formada a base fun-
cional da universidade no capitalismo: fornecer bases ideológicas de legitimação do
poder da burguesia e, ao mesmo tempo, constituir um corpo de profissionais que
viabilizasse o desenvolvimento das bases econômicas daquele poder.
Dialeticamente (mais uma expressão em desuso, em nossos tempos pós-mo-
dernos), a universidade engendrava no seu interior elementos de contestação do
status quo. O contato entre as emergentes ciências humanas com o nascente movi-
mento operário, no século XIX, cria as bases para um pensamento profundamente
crítico quanto aos valores baseados na propriedade privada: as bases do pensamen-
to socialista. Ao mesmo tempo, o conflito permanente entre a livre produção de
conhecimento, ciência e tecnologia com o aparato estatal burguês e as suas razões
de Estado, tem sido, ao longo dos séculos, um motor da tomada de consciência,
senão pró-socialista, ao menos anti-opressiva e democrática.
O papel desempenhado pelos estudantes, no Brasil e no mundo, nas lu-
tas progressistas em geral, demonstra o forte elemento crítico que brota de uma
instituição originalmente criada para dar sustentação ao poder estabelecido. A ela-
boração mais recente que temos desenvolvido, baseada nos conceitos gramscianos
de bloco-histórico e disputa de hegemonia, aponta para um aprofundamento dos
espaços de disputa no interior das universidades e na luta para transformá-la: ao
mesmo tempo em que transformamos a universidade, a tornamos um instrumento
de transformação da sociedade como um todo.
No Brasil, a universidade foi, ao longo do século XX, um importante ins-
n ANEXO - 44o CONGRESSO DA UNE
335
TESES DA TENDÊNCIA PETISTA ARTICULAÇÃO DE ESQUERDA AOS CONGRESSOS DA UNE (1995-2021)
mento dos custos de produção locais, tornando o Brasil mais atraente para o capital
estrangeiro.
Com Collor, e depois FHC, essa política se torna mais ofensiva: trata-se de
desobrigar a União de financiar o ensino superior. Além de poder transferir os re-
cursos gastos com universidade para setores fundamentais à vida dos brasileiros
(como o pagamento da dívida externa e o consumo de goiabada de primeira no Pla-
336
O BRASIL, A UNIVERSIDADE E O MOVIMENTO ESTUDANTIL
nalto), garante-se que a produção acadêmica estará voltada para a iniciativa privada,
único setor, além do Estado, que reúne condições para financiá-la.
A MP 938, suas reedições e desdobramentos em projeto de lei, visa preparar
o terreno para que essa política, já bastante agressiva nos últimos anos, seja imple-
mentada de uma vez por todas: cria um mecanismo de avaliação institucional que
visa desacreditar as instituições públicas que se pretende fechar, e ataca frontalmen-
te a autonomia e democracia das universidades, alijando os setores mais avançados
da comunidade do processo de escolha de dirigentes.
No mesmo sentido, insere-se o projeto de lei do deputado Antonio Jorge (PPR-
-TO), que visa estabelecer a cobrança de mensalidades nas universidades federais.
A pré-condição para que possamos encaminhar um projeto alternativo de uni-
versidade pública é exatamente que ela continue sendo pública. Neste sentido,
o centro da nossa intervenção, nesse momento, deve ser, sem deixar de elaborar
políticas alternativas, resistir à implementação do projeto do governo. Nossa pauta
deve combinar as características do momento político, marcado pela negação, com
a manutenção de nosso núcleo propositivo histórico.
Assim, na questão da avaliação institucional, por exemplo, devemos recusar o
PAIUB, ao mesmo tempo em que articulamos um projeto alternativo que combine
a participação da comunidade e da sociedade civil. Uma avaliação ao mesmo tempo
quantitativa e qualitativa, onde o corpo discente possa avaliar o docente, e onde o
papel da universidade na sociedade esteja no centro das discussões.
Para além da mera resistência, é importante frisar a centralidade da questão da
extensão como um instrumento de democratização e abertura das universidades.
A disputa por hegemonia envolve a disputa do conhecimento, a forma com que se
produz esse conhecimento e a que interesses ele deve estar ligado. Os diversos pro-
jetos desenvolvidos pelas executivas de curso no campo da extensão demonstram a
potencialidade desse tipo de trabalho, no que diz respeito a estabelecer processos
de interação entre o espaço acadêmico, o movimento estudantil, e os movimentos
populares.
A possibilidade de manter relações de troca, no sentido de fazer a disputa de
projetos no interior das universidades e contribuir para o avanço dos movimentos
sociais, deve ser aprofundada. Projetos como os “estágios de vivência” devem ser
n ANEXO - 44o CONGRESSO DA UNE
337
TESES DA TENDÊNCIA PETISTA ARTICULAÇÃO DE ESQUERDA AOS CONGRESSOS DA UNE (1995-2021)
338
O BRASIL, A UNIVERSIDADE E O MOVIMENTO ESTUDANTIL
MOVIMENTO ESTUDANTIL
O princípio que norteia a nossa visão de ME é a constituição de um bloco his-
tórico com os trabalhadores, os negros, as mulheres e todos os oprimidos, visando
construir uma nova hegemonia política, social e ideológica, que crie bases para a
construção do socialismo.
Um ME com essas características deve ser ao mesmo tempo combativo, plural e
coeso no enfrentamento das lutas. Deve buscar a articulação entre as lutas específi-
cas dos estudantes em cada curso com seus determinantes mais amplos, vinculados
à disputa de projetos nas universidades, no Brasil e no mundo. Deve buscar a in-
tegração dos diversos tipos de organização estudantil, sem o estabelecimento de
tutelas. Deve garantir às mulheres o mesmo direito de decidir e implementar as
políticas que tem cabido aos homens. Nessa perspectiva, é importante apontar pro-
blemas estruturais do ME em geral e da UNE, em particular.
O ME brasileiro, para além do debate estéril sobre a “crise”, vive dificuldades
importantes. O difícil embate ideológico nas salas de aula retrata a distância que se-
para as entidades gerais como um todo do meio estudantil. As entidades que mais
se aproximam dos estudantes na base (CAs e executivas de curso) não têm dado
conta de estabelecer a vinculação entre o geral e o específico, que é a chave para a
tomada de consciência que permitiria a um grande contingente de estudantes inte-
grar o bloco histórico por mudanças.
Isso não ocorre por acaso: as portas para essa integração têm sido sistematica-
mente fechadas pela UNE, na medida em que ela não busca estabelecer uma relação
de igual para igual com as executivas.
A ausência de Conselhos Nacionais de Entidades de Base (CONEB), em três
anos, nas duas últimas gestões, também contribuem para o distanciamento entre a
UNE e sua suposta base. Sem querer dizer que a UEN é a única e grande responsá-
vel pelos problemas de representatividade do ME, devemos identificar a sua parcela
de responsabilidade (que não é pequena).
A popularidade advinda da luta pelo impeachment abriu espaços para a UNE
mas não a tornou um referencial para a maioria dos estudantes. Não apenas por-
que não se tomou medidas nesse sentido, mas porque a maioria da UNE privilegiou
uma relação institucional com os governos e com outras entidades nacionais, sem
n ANEXO - 44o CONGRESSO DA UNE
perceber que isso não basta para fazer da UNE uma entidade forte.
As vacilações da UNE diante do governo Itamar comprovam esse fato: afinal,
foi na barriga de Devagar Franco que se engendrou o monstrengo FHC. Teria sido
fundamental uma postura mais dura da UNE contra o governo anterior, para im-
pedir o fortalecimento do bloco neoliberal. Inclusive no sentido de cumprir as
deliberações de seu 42º Congresso: “Fora Collor, por eleições gerais”. Mas a UNE,
339
TESES DA TENDÊNCIA PETISTA ARTICULAÇÃO DE ESQUERDA AOS CONGRESSOS DA UNE (1995-2021)
como outros setores do movimento social, não soube transformar a luta por ética
num questionamento político mais amplo.
E as vacilações não param por aí: a postura majoritária da UNE diante da re-
cente greve das universidades federais (quando não foi contra, como no caso da
Paraíba, a UNE simplesmente ignorou a greve e manteve a tiragem de delegados
para o Congresso) demonstra que, para o setor hegemônico, a manutenção do con-
trole sobre o aparelho é mais importante que a luta contra FHC e o neoliberalismo.
Da mesma forma, a UNE praticamente se absteve de interferir na questão da LDB,
assim como na greve dos petroleiros.
A questão das carteirinhas é outro problema espinhoso. É desnecessário lem-
brar a incontável série de problemas e de suspeitas de irregularidades. A mais
recente foi a falsificação de espelhos pelo DCE da UFPB. É fundamental que se esta-
beleça um processo mis transparente. Por isso, acreditamos que a UNE não deve se
utilizar de empresas para confeccionar a carteira. Na luta contra o neoliberalismo
e a privatização: abaixo à terceirização da confecção da Carteira de Identificação
Estudantil. O processo deve ser totalmente controlado pelas entidades. Por outro
lado, não podemos deixar de reconhecer que, do ponto de vista da relação política,
houve alguns avanços nesta última gestão. Caminhou-se para o estabelecimento de
uma proporcionalidade de fato na condução da entidade, iniciando-se um rompi-
mento com o velho monolitismo stalinista, onde a “maioria” manda e a “minoria”
obedece ou esperneia.
Mas inda há muito para ser transformado se quisermos uma entidade demo-
crática, adequada aos objetivos expostos no início do ponto.
Propostas:
- Greve geral da educação, contra a reforma constitucional e os ataques contra a
educação; unificar com ANDES, FASUBRA, UBES, CNTE;
- Que a próxima gestão da UNE seja de UM ano, preparando eleições diretas para
a gestão seguinte;
- Pela volta do CONEB;
- Fim do delegado nato; pela manutenção da atual proporção base-delegados;
- Pela realização de um fórum especial (seminário seguido de CONEG) para discutir
alterações no funcionamento do CONUNE;
n ANEXO - 44o CONGRESSO DA UNE
340
O BRASIL, A UNIVERSIDADE E O MOVIMENTO ESTUDANTIL
341
45o Congresso da UNE
Belo Horizonte (MG), 02 a 06 de junho de 1997
TESE
APRESENTAÇÃO
Um índio mexicano cruza a província de Chiapas com um pasamontañas no
rosto e um fuzil nas mãos. Um sem-terra brasileiro se lança contra o agressor da
PM de enxada em punho, Quixote batendo-se contra um moinho que tritura gente.
Um estudante carioca, trajando camiseta, bermuda e tênis, atira pedras contra um
muro de policiais escondidos atrás de capacetes, escudos, cachorros e bombas de
gás lacrimogênio. Na Coréia do Sul, este mesmo estudante lança coquetéis molo-
tov contra um batalhão de choque que já aprendeu há muito tempo que nenhuma
batalha está ganha antes de chegar ao fim. Em Havana, um milhão de cubanos des-
filam diante do retrato do Che, duros, pero ternos. Mesmo no velho continente, de
onde partiam as caravelas abarrotadas com os arautos da escravidão e da subser-
viência, operários de todos os países marcham rumo à Holanda para demonstrar
que é possível recusar as alternativas oferecidas pela esfinge neoliberal: “adapte-se
ou te devoro”.
Nos primeiros meses do reinado de Fernando II, o Príncipe, os últimos fiapos
das utopias que alguns haviam deixado sepultar sob os escombros do muro de Ber-
lim pareciam se dissolver para sempre e o Weffort (lembram do Weffort?) apontava
aquilo que muita gente pensou ser o único caminho possível: a adesão despudora-
da. Velhos combatentes depunham as armas e conclamavam as massas à... oposição
propositiva! Aqueles que pretendiam levar os “dinossauros” para a trilha da “mo-
dernidade” diziam: “juntemo-nos ao PSDB, antes que algum aventureiro (do PFL)
o faça”. Acabaram se juntando ao PSDB e ao próprio PFL que, afinal de contas, tem
uma grande “sensibilidade social”.
Além desses adesistas, temos que aturar ainda aquele outro tipo excêntrico de
militante que se diz inimigo do neoliberalismo, tem pendores nacional-desenvolvi-
mentistas, adora as cores da bandeira, morre de saudades do socialismo real e acha
que, para liderar o bloco dos descontentes, o nome ideal é o... Itamar Franco!!!!!
O mesmo Itamar em cujo mandato se privatizou mais estatais do que em qualquer
342
O BRASIL, A UNIVERSIDADE E O MOVIMENTO ESTUDANTIL
outro; o presidente do Plano Real; o cara que inventou o FHC. E depois, nós é que
somos malucos.
Dois anos atrás, nós ousamos bradar que não nos adaptaríamos a este simula-
cro de nova ordem. Felizmente, não era um brado original. Os sem-terra, os índios
de Chiapas e os “irredutíveis gauleses” de todo o mundo vêm mostrando um bom
caminho a se seguir se os tempos são difíceis, se o inimigo, se tão duro, parece ser
imbatível, nós seremos mais duros e mais intransigentes. Nenhuma concessão de
princípios fará com que a travessia seja mais curta ou mais suportável. Os conti-
nuadores da obra de Cortez, Pizarro e Cabral são experts em coisa nenhuma que
operam de qualquer lugar onde possam ligar seus notebooks e negociar, via inter-
net, as almas de milhões de miseráveis. Nós resistimos nas ruas, com paus e pedras,
nas fábricas, com os braços cruzados, no campo, derrubando as cercas da exclusão
capitalista; nas universidades, contra a falácia privatizante dos vampiros que ser-
vem ao Banco Mundial; resistimos em casa, mantendo viva a chama da consciência
crítica, diante do massacre pasteurizador promovido pela mídia. O caminho da re-
sistência é o único que pode ser trilhado com dignidade.
Tudo acaba um dia. A tempestade neoliberal não vai durar para sempre. E é
a resistência que oferecemos que determinará o tempo durante o qual os prínci-
pes e os sociólogos dos príncipes continuarão a reinar. E o que hoje entram pela
porta dos fundos no banquete restrito da burguesia não serão bem-vindos à folia
popular que os teimosos celebrarão nas ruas, no dia em que o último neoliberal for
enforcado com as tripas do último adesista. Esta tese ao 45º Congresso da UNE é
dedicada ao Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra, ao Exército Zapatista
de Libertação Nacional, aos companheiros mortos do Movimento Revolucionário
Tupac Amaru, à memória de Ernesto Che Guevara e a todos aqueles que seguem
acreditando.
343
TESES DA TENDÊNCIA PETISTA ARTICULAÇÃO DE ESQUERDA AOS CONGRESSOS DA UNE (1995-2021)
344
O BRASIL, A UNIVERSIDADE E O MOVIMENTO ESTUDANTIL
piciou o acenso monstruoso dos movimentos sociais nos anos 80. O governo FHC
não é vacilante como o de Sarney e conta com muito mais apoio da burguesia que
o de Collor.
No entanto, a saída neoliberal ainda não está consolidada em definitivo e o
futuro no médio prazo depende da capacidade de disputa dos setores populares.
Fernando Henrique carrega também o ônus de ser um governante cada vez mais
identificado com as classes dominantes e seus interesses, mantendo lastro na opi-
nião pública somente em função da inflação baixa, que é o que ainda lhe confere
uma grande base de simpatia e apoio popular. O ciclo de transição ainda não se
fechou. A burguesia está e vantagem, mas os movimentos sociais demonstram mais
fôlego para a disputa do que muitos supunham.
Mas é preciso não cometer alguns erros. No enfrentamento com o governo
FHC, muitos foram os dirigentes populares que vacilaram em momentos decisivos,
como a greve dos petroleiros e servidores públicos federais e mesmo em relação
aos métodos do MST (vistos como legítimos por 88% da população, mas questio-
nados pelo presidente da CUT). O papel da CUT, aliás, ao legitimar o ataque à
Previdência é um exemplo das políticas de setores de esquerda que resolvem não
enfrentar de forma global o neoliberalismo e negociam para obter o chamado mal
menor. Esta política tem como único resultado possível a derrota. E derrota sem
luta, portanto sem acúmulo de formas para o futuro.
Apesar de possuir maior força e respaldo que os presidentes que o antecede-
ram, FHC não comanda um governo imbatível. A estabilidade do real está fundada
na abertura do mercado nacional aos produtos estrangeiros e na paridade artificial
do real com o dólar. Este modelo estrangula as possibilidades de crescimento eco-
nômico, provoca o desemprego massivo e depende da manutenção do nível de
reservas em dólar. A insatisfação gerada pelo desemprego é cada vez mais evidente.
O favorecimento à entrada de produtos estrangeiros vem resultando em progressi-
vos déficits na balança comercial, gerando evasão de divisas e agravando o quadro
de problemas do real. Além disso, alguns aspectos da opção elitista do governo vão
se evidenciando para a opinião pública. A tática adotada pelo MST na conjuntura
é o exemplo mais gritante de que só com confronto social é possível abalar o go-
verno. O MST ocupou e resistiu e a opinião pública apoiou. Assim como apoiou as
manifestações de rua contra a privatização da Vale.
n ANEXO - 45o CONGRESSO DA UNE
345
TESES DA TENDÊNCIA PETISTA ARTICULAÇÃO DE ESQUERDA AOS CONGRESSOS DA UNE (1995-2021)
ficou pela primeira vez na defensiva e sem dúvida a oposição ao governo chegou a
um novo patamar, onde se busca impor derrotas efetivas a FHC. Entre os dias 28 de
abril e 6 de maio, a unidade popular se posicionou nos arredores da bolsa de valo-
res do Rio, nas maiores manifestações contra o programa de privatizações desde o
seu início em 1991, conseguindo adiar a privatização da Vale e provocando desgas-
tes no governo. As denúncias de que o governo comprou votos dos deputados para
aprovar a emenda da reeleição na Câmara acentuam sobremaneira este desgaste do
governo. As últimas pesquisas mostram uma significativa queda de popularidade
do presidente. É verdade que o governo, sua base no Congresso e a mídia estão
fazendo uma verdadeiro “esforço concentrado” para impedir a criação da CPI da
Reeleição. Temos de exigir a instalação da CPI e a suspensão imediata da tramitação
da emenda no Senado.
Devemos manter o combate e avançar na apresentação de alternativas popu-
lares ao projeto neoliberal. Para tanto, é importante afirmarmos que as aspirações
mais profundas dos trabalhadores da cidade e do campo, dos estudantes, das mu-
lheres, dos negros, homossexuais não serão alcançadas com este governo. Nossa
perspectiva deve ser a derrota global da política do governo FHC. Para chegar a tan-
to, devemos consolidar a unificação do conjunto da classe trabalhadora, estudantes
e oprimidos em geral num calendário de mobilizações. A UNE deve unificar a sua
atuação com os setores que estão mais avançados nas lutas, construindo comandos
de mobilização conjuntos, caminhando rumo a uma greve geral do país.
O campo político que deve ser trabalhado prioritariamente é aquele que se
dispõe a buscar uma alternativa ao neoliberalismo que questione suas bases mais
profundas, ou seja, as bases do modo de produção capitalista. Não há espaço para
a formação de um bloco de “centro-esquerda” ou uma “frente ampla” que envolva
“desgarrados” dos setores dominantes como Giro Gomes e Itamar. A realidade des-
te fim de século mostra que não há lugar para meio-termo. A sanha da burguesia
contra os direitos dos trabalhadores não tem limites. A “centro-esquerda” de hoje
é composta pelos neoliberais de ontem (e, com certeza de amanhã) que não foram
contemplados satisfatoriamente pela divisão do bolo na festa de FHC. No mundo
inteiro o centro desaparece. A polarização se radicaliza. A social-democracia euro-
peia há muito aderiu ao “pensamento único” liberal. A composição com o centro,
em quase todas as situações, é uma adesão tímida ao neoliberalismo.
n ANEXO - 45o CONGRESSO DA UNE
346
O BRASIL, A UNIVERSIDADE E O MOVIMENTO ESTUDANTIL
UNIVERSIDADE
A disputa que polariza os setores mais avançados da universidade, de um
lado, e o governo, de outro, em torno dos rumos do ensino superior no Brasil está
fundada na polarização mais ampla da sociedade. O colapso do nacional-desenvol-
vimentismo, que marcou a história do país da Era Vargas à ditadura militar, pôs em
xeque o conjunto das instituições construídas para dar sustentação a este modelo.
A ofensiva neoliberal que veio tentar solucionar a crise do capital (do ponto de vis-
ta do capital, é claro) trabalha com alguns parâmetros que entram em choque com
o modelo de universidade construído entre 1964 e o fim dos anos 70. A inserção
subordinada do Brasil no crescente processo de internacionalização da economia
é a privatização como instrumento de equilíbrio das contas públicas e de abertura
de novos mercados para a iniciativa privada passam a servir de base para um novo
modelo de universidade pública. Seu eixo é composto pelos seguintes pontos:
- A manutenção de uma rede enxuta, composta apenas por alguns “centros de ex-
celência”, mantidos em parte por recursos públicos. O princípio de todo o projeto
é a redução drástica dos gastos com ensino superior. Como consequência, teríamos
uma maior subordinação da produção de conhecimento aos interesses da iniciati-
va privada, que se tornaria principal financiadora e beneficiária das pesquisas, bem
como das outras atividades;
- O fim do tripé ensino-pesquisa-extensão. Algumas poucas instituições concentra-
riam a pesquisa e o restante da rede pública se dedicaria exclusivamente ao ensino,
precarizando e mediocrizando a produção de conhecimento, transformando-se,
assim, em verdadeiros “escolões de terceiro grau”. A extensão seria virtualmente
extinta, eliminando-se assim um dos poucos canais de relacionamento entre a uni-
versidade e a sociedade;
- A redução do quadro de pessoal e precarização das condições de trabalho, com o
fim da obrigatoriedade dos concursos públicos e a quebra da estabilidade;
- O retorno ao modelo de gestão autoritário da época da ditadura, tentando blo-
quear os mecanismos de democratização conquistados em lutas memoráveis na
segunda metade dos anos 80.
O projeto do Banco Mundial para as universidades vem sendo implementado
no conjunto dos países latino-americanos, e consiste em ajustá-las à nova dinâmica
n ANEXO - 45o CONGRESSO DA UNE
e à lógica do mercado.
Os “centros de excelência” da produção universitária, em geral localizados nas
regiões mais ricas, devem cada vez mais dimensionar-se à lógica empresarial-tecno-
crática. Deles sairia a elite de pesquisadores, técnicos e burocratas, bem como os
reprodutores da ideologia dominante e das relações de produção capitalista. No
restante seria formada, a baixo custo, uma mão-de-obra medianamente qualificada,
347
TESES DA TENDÊNCIA PETISTA ARTICULAÇÃO DE ESQUERDA AOS CONGRESSOS DA UNE (1995-2021)
A aprovação da lei que dá 70% do peso dos votos para docentes nas eleições
para reitor e na composição dos colegiados, desobrigando a nomeação do mais
votado é um mecanismo para desarticular a oposição ao projeto governista nas
universidades. Tenta cooptar o corpo docente, evitar a eleição de reitores progres-
sistas e excluir os estudantes e técnicos administrativos da condução dos rumos da
universidade.
348
O BRASIL, A UNIVERSIDADE E O MOVIMENTO ESTUDANTIL
Os governos estaduais foram fiéis discípulos desta política, sendo alguns in-
clusive mais ágeis na implementação destas medidas dentro das universidades
estaduais. O governo Covas tentou, em 1996, aprovar a cobrança de mensalidades
nas estaduais paulistas e a redução de percentual do ICMS destinados ao ensi-
no superior. Diante da resistência da comunidade universitária, tais projetos não
prosperaram.
No Paraná, o governo Jaime Lerner também tentou aprovar um projeto de
autonomia que é cópia do projeto de organizações sociais do ministro Bresser.
Devido à reação, principalmente dos estudantes, Lerner recuou, adiando o envio
do projeto.
O mais grave aconteceu em Tocantins, onde a UNITINS (universidade estadu-
al) foi sumariamente privatizada, beneficiando parentes do governador Siqueira
Campos.
349
TESES DA TENDÊNCIA PETISTA ARTICULAÇÃO DE ESQUERDA AOS CONGRESSOS DA UNE (1995-2021)
350
O BRASIL, A UNIVERSIDADE E O MOVIMENTO ESTUDANTIL
O fio condutor deste projeto deve ser a busca de uma universidade que sir-
va aos interesses da classe trabalhadora. A disputa de hegemonia em seu interior
busca transformá-la, sabendo que este processo não se encerra nos marcos do ca-
pitalismo, mas que o seu avanço contribui para o processo de luta pelo socialismo.
Devemos buscar a formação de profissionais mais conscientes da realidade social
do país e, também, a aproximação dos espaços de produção do conhecimento das
organizações populares e dos trabalhadores.
351
TESES DA TENDÊNCIA PETISTA ARTICULAÇÃO DE ESQUERDA AOS CONGRESSOS DA UNE (1995-2021)
MOVIMENTO ESTUDANTIL
O movimento estudantil brasileiro demonstrou historicamente uma grande
combatividade. Nos últimos enfrentamentos por que passamos, esta disposição de
352
O BRASIL, A UNIVERSIDADE E O MOVIMENTO ESTUDANTIL
353
TESES DA TENDÊNCIA PETISTA ARTICULAÇÃO DE ESQUERDA AOS CONGRESSOS DA UNE (1995-2021)
política que a coloque no rumo das lutas de massas e do combate efetivo ao go-
verno FHC e por uma reformulação das suas estruturas, visando a democratização
e a desburocratização da entidade. Devemos construir uma nova dinâmica para
o cotidiano da UNE, que aponte para um ME combativo, plural e coeso no enca-
minhamento das lutas; que construa um projeto para a universidade; que faça o
debate nas salas de aula, que seja referência para os estudantes. Nesse sentido, ini-
ciativas como os congressos dos estudantes da USP e UFRJ são fundamentais como
354
O BRASIL, A UNIVERSIDADE E O MOVIMENTO ESTUDANTIL
355
TESES DA TENDÊNCIA PETISTA ARTICULAÇÃO DE ESQUERDA AOS CONGRESSOS DA UNE (1995-2021)
356
46o Congresso da UNE
Belo Horizonte (MG), 30 de junho a 4 de julho de 1999
MANIFESTO
ROMPENDO AMARRAS
OPOSIÇÃO
POR UM MOVIMENTO ESTUDANTIL DEMOCRÁTICO E DE LUTA
357
TESES DA TENDÊNCIA PETISTA ARTICULAÇÃO DE ESQUERDA AOS CONGRESSOS DA UNE (1995-2021)
MOVIMENTO ESTUDANTIL
(Chico Science)
n ANEXO - 46o CONGRESSO DA UNE
358
O BRASIL, A UNIVERSIDADE E O MOVIMENTO ESTUDANTIL
adquiridos pelas entidades ao longo dos anos e agravados pelo advento das car-
teiras estudantis como mecanismo de captação quase compulsória de recursos
financeiros.
A superação destes limites pressupõe a derrota política do atual setor majo-
ritário na diretoria da UNE (a UJS/PCdoB/Refazendo) e a adoção de medidas que
visem democratizar o movimento. Hoje, a UNE encontra-se totalmente aparelhada
pela UJS/PCdoB. Nosso objetivo maior neste 46º CONUNE é, de fato, combater a
partidarização promovida pelo PCdoB e romper com esta política aparelhista, auto-
ritária, que torna a UNE uma verdadeira entidade “virtual”, um balcão de emissão
de carteiras, uma máquina de arrecadar recursos.
Defendemos um movimento estudantil democrático e plural, onde cabem mi-
litantes independentes ou vinculados a correntes e partidos políticos. O que não
admitimos é o aparelhismo.
Queremos libertar a UNE destes vícios, colocá-la na linha de frente das lutas.
Queremos a UNE LIVRE!
Para combater o aparelhamento da UNE e demais entidades estudantis pela
UJS/PCdoB defendemos o fim da presidencialismo, a manutenção da proporciona-
lidade qualificada para eleição das diretorias, a realização de fóruns de entidades
de base periódicos, a garantia de ampla participação e do debate qualificado nos
congressos, uma efetiva política de comunicação e o direito das correntes e chapas
minoritárias expressarem suas opiniões nas publicações das entidades, a formação
de comandos de base durante as mobilizações. Essas medidas simples, capazes de
garantir a democracia e o controle da base, são fundamentais para a existência da
unidade na diversidade. O que a atual direção majoritária propõe é o contrário dis-
to tudo. Querem cada vez mais fechar a UNE para tornar mais fácil o seu domínio.
Foi por esta razão que aprovaram no Congresso passado o fim dos delegados de
base (os funis). Graças à atuação decidida do Rompendo Amarras este golpe foi
derrotado no CONEB de Viçosa. Mas é preciso continuarmos atentos para que não
surjam outras propostas deste tipo, que objetivem dificultar a participação da base
do movimento nos congressos.
O perfil do bloco Rompendo Amarras espelha a cultura de movimento que
pretendemos contribuir para que seja construída: combativa; libertária; capaz de
lidar com as diferenças e contradições do movimento de forma plural; em duas pa-
n ANEXO - 46o CONGRESSO DA UNE
CARTEIRINHAS
O principal mecanismo de perpetuação da política aparelhista na UNE é a for-
ma como se organiza a emissão e venda das carteiras. Transformaram o direito à
meia entrada numa fonte de recursos para a direção majoritária, privatizando direi-
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TESES DA TENDÊNCIA PETISTA ARTICULAÇÃO DE ESQUERDA AOS CONGRESSOS DA UNE (1995-2021)
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O BRASIL, A UNIVERSIDADE E O MOVIMENTO ESTUDANTIL
SITUAÇÃO NACIONAL
(Renato Russo)
A falência do Plano Real veio tornar evidente a total impossibilidade de se
constituir uma saída para o contínuo ciclo de crises vivido pelo país desde o início
dos anos 80 com base no modelo de completa subordinação da política econômica
brasileira aos interesses do capital estrangeiro. A prostração do governo FHC diante
do FMI, do Banco Mundial e da Organização Mundial do Comércio caracteriza um
nível de dependência política e econômica que não se via por estas terras desde o
tempo da colônia.
Caiu o mito da “estabilização”. Outra mentira, repetida milhões de vezes pelos
grandes meios de comunicação, também caiu: Efeagá está muito longe de ser um
presidente eticamente inatacável. Os escândalos do Sivam e da Pasta Rosa, ocorri-
dos logo no início do primeiro mandato, se tornaram quase insignificantes quando
comparados com a escabrosa promiscuidade entre a esfera de poder público e os
interesses privados que se verificaram através do Proer, da compra de votos para a
reeleição, das privatizações e do favorecimento a instituições financeiras por oca-
sião da desvalorização do câmbio. E agora pegaram o “reizinho” com a boca na
botija, manipulando a privatização da Telebrás, ajudando seus comparsas do banco
Opportunity.
Fernando Henrique é indubitavelmente responsável por crimes ainda mais
graves do que os atos ilegais cometidos por ele e pelos membros de seu governo:
ele é o implementador, em nosso país, de uma política genocida, que lançou mi-
lhões de brasileiros na miséria, na fome e no desemprego; e a saída do atoleiro em
que o Brasil foi mergulhado não passa pela posse de um novo representante dos
interesses da burguesia, mas pela derrota definitiva do projeto neoliberal. Passa,
portanto, por derrubar Efeagá e lutar por um governo que represente os interesses
n ANEXO - 46o CONGRESSO DA UNE
361
TESES DA TENDÊNCIA PETISTA ARTICULAÇÃO DE ESQUERDA AOS CONGRESSOS DA UNE (1995-2021)
UNIVERSIDADE
(Racionais)
A política do governo FHC para as universidades públicas se insere nos marcos
estabelecidos pelo Banco Mundial, onde a ordem fundamental é: não gastar! Os
cortes orçamentários promovidos nos últimos anos têm provocado profunda que-
da na qualidade dos cursos oferecidos, carência de vagas em muitas universidades
e dificuldades de funcionamento nunca imaginadas anteriormente. O objetivo do
governo é claro: desmontar o sistema público de ensino superior, fortalecendo o
ensino pago.
O mesmo princípio vale para o setor de pesquisa: economizar com a ciência o
dinheiro que pode ser usado para socorrer banqueiros brasileiros falidos ou para
pagar a dívida com bancos internacionais. O CNPq, sob controle do arqui-privatista
Luís Carlos Bresser-Pereira, promove cortes em programas de bolsas que caminham
para tornar a pesquisa científica uma atividade proibida em todo o território nacio-
nal; segundo sua lógica de colonização servil, contudo, este não é um problema.
Para Bresser, “tecnologia não se produz, se compra”.
Nas escolas pagas, os efeitos da crise econômica e social do país se fazem sentir
de forma igualmente cruel. Com os salários congelados e um desemprego crescen-
n ANEXO - 46o CONGRESSO DA UNE
te, os estudantes são obrigados a enfrentar aumentos de até 40% acima da inflação.
E isto por um ensino que deixa cada vez mais a desejar em termos de qualidade. O
fim do caráter “filantrópico” de várias instituições é utilizado como pretexto para
corte de bolsas e aumento de mensalidades. Em contrapartida, não existe o mínimo
de qualidade de ensino, pesquisa ou extensão nestas faculdades. São verdadeiros
“supermercados de diplomas”, que exploram os estudantes. A atual lei de mensa-
lidades é desobedecida sistematicamente pelos donos de escola que impedem os
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O BRASIL, A UNIVERSIDADE E O MOVIMENTO ESTUDANTIL
estudantes inadimplentes de realizar matrículas, assistir aulas, fazer provas. Fica cla-
ro que a lei só vale como base para garantir os aumentos das mensalidades.
Durante muito tempo, a luta dos estudantes e trabalhadores foi o que permitiu
a manutenção da universidade pública e gratuita. E hoje temos a grande responsa-
bilidade de derrotar a política de Fernando II e do FMI para impedir a tentativa de
acabar com a grande conquista que significa a universidade pública e gratuita. Ao
mesmo tempo, precisamos garantir condições para os milhares de estudantes bra-
sileiros que estão nas particulares concluírem seus cursos.
Neste sentido, os estudantes argentinos nos deram um grande exemplo de
luta e coragem, saindo às ruas para impedir os cortes de verbas imposto pelo pre-
sidente Menem, que assim como seu colega brasileiro, aplica o mesmo plano de
fome e miséria. Estudantes e professores tomaram as ruas de todo o país, cons-
truindo gigantescas mobilizações de rua e ocupações de universidades, golpeando
de morte o governo neoliberal de Menem. Este para nós é o único caminho para
defendermos a universidade pública, e inclusive, para garantir a expansão da rede
pública de ensino, absorvendo parte dos estudantes das pagas.
Essa luta é parte da indignação geral que cresce contra o governo. Os atos
de 26 de março e 21 de abril, com mais de 25 mil pessoas e o primeiro de maio
demonstram esta disposição. Assim como as mobilizações de várias universidades
públicas contra o pagamento de taxas, em defesa dos Rus e moradias e dos estudan-
tes das particulares contra os tubarões de ensino, demonstram que os estudantes
estão dispostos a defender a universidade.
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TESES DA TENDÊNCIA PETISTA ARTICULAÇÃO DE ESQUERDA AOS CONGRESSOS DA UNE (1995-2021)
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47o Congresso da UNE
Goiânia (GO), 13 a 17 de junho de 2001
MANIFESTO
UNIFICAR A OPOSIÇÃO
POR UMA UNE DEMOCRÁTICA E DE LUTAS
MANIFESTO DAS TESES RECONQUSTAR A UNE E DEMOCRACIA E
MOBILIZAÇÃO
(O Rappa)
Este manifesto é um convite à unidade de todos os estudantes que querem lu-
tar por um novo movimento estudantil, por uma nova direção para a UNE e por um
outro país. A todos que querem uma UNE democrática e de lutas e não apenas em
balcão de venda de carteiras. A todos os que querem um país livre da corrupção,
das privatizações e da subordinação ao FMI, onde a educação seja um direito de
todos e não uma mercadoria.
Aqui estão representadas as teses Reconquistar a UNE e Democracia e Mo-
bilização, reunindo centenas de estudantes de várias universidades do país: os
de Pelotas, que por 30 dias realizaram uma greve contra uma reitoria autoritária e
subordinada ao MEC; os estudantes da Bahia, que em passeatas de 20 mil pessoas
pelas ruas de Salvador exigiram a cassação do coronel ACM; os do Pará, que foram
às ruas para exigir a cassação do arqui-corrupto presidente do Senado; os do Rio
Grande do Sul que estiveram na caravana contra a ALCA e muitos outros compa-
nheiros que tem estado em todas as lutas contra FHC e a corrupção, em defesa da
universidade pública e gratuita e por uma UNE democrática e de lutas, contra a
atual maioria constituída pela UJS/PCdoB (tese “Agora só falta você...”) que são os
responsáveis por mais de 10 anos de imobilismo e burocratização da UNE.
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TESES DA TENDÊNCIA PETISTA ARTICULAÇÃO DE ESQUERDA AOS CONGRESSOS DA UNE (1995-2021)
lhos para o FMI. Nunca seu índice de rejeição popular foi tão grande como agora.
Após o desgaste da compra de votos e a liberação de verbas para barrar a CPI da
corrupção, agora vem os apagões, que atingirão em cheio a maioria do povo atra-
vés da recessão, arrocho salarial, desemprego, sobretaxas e demais medidas que
visam jogar o peso da crise energética sobre os trabalhadores. Toda essa crise criou
condições favoráveis para a mobilização. Neste sentido, a realização da Marcha à
Brasília no dia 27 de junho será um dos pontos altos da luta contra esse governo
corrupto e subordinado aos interesses dos grandes capitalistas. Por isso, uma das
principais resoluções deste CONUNE deve ser a de fortalecera participação dos es-
tudantes nessa marcha, para juntos com a CUT, MST, CP, PT e demais movimentos
e partidos políticos de esquerda possamos ocupar Brasília pelo Fora FHC e o FMI,
não à ALCA, pelo não pagamento da dívida externa, contra os apagões e as privati-
zações, em defesa da universidade pública e gratuita, por reforma agrária e pelo fim
da imunidade no campo.
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O BRASIL, A UNIVERSIDADE E O MOVIMENTO ESTUDANTIL
rumos da luta). A UNE não tem planos de lutas, pois seria ter que obrigar a maioria
da direção a ir mobilizar na base. Aliás, a base não é o forte dessa gente mesmo! Por
isso, tentaram acabar com a participação massiva nos congressos da UNE quando
propuseram os funis através da realização dos congressos regionais, aumentaram
o prazo da gestão de um para dois anos e sempre estiveram contra a proposta de
diretoria colegiada e o fim do presidencialismo na UNE, que ao nosso ver, seria um
passo para democratizá-la e acabar com o personalismo de uma UNE reduzida na
figura de seu presidente.
Por estar burocratizada e longe da base é que esta mesma “dinastia” que con-
trola a entidade há uma década se opõem às eleições diretas na UNE, por temer
fazer o debate direto com estudantes nas salas de aula.
Acreditamos que não é uma questão de princípio a forma de eleger a direção:
tanto as eleições congressuais como as diretas podem ser democráticas e refletir a
opinião da base estudantil, dependendo do contexto e da forma como são feitas.
Ao mesmo tempo, ambos os formatos podem permitir distorções. Mas acreditamos
que só com um choque de participação poderemos tirar a UNE do ostracismo, da
letargia.
Por isso, defendemos eleições diretas na UNE, para fazer esse debate, em sala
de aula, com todos os estudantes, para que nossa entidade seja fortalecida pelo
voto dos estudantes.
Não aceitamos o cinismo sem tamanho da UJS/PCdoB: ao mesmo tempo que
atacam as eleições diretas por ser, segundo eles, “um mecanismo que abriria es-
paço para que a direita ganhasse força na UNE através do seu poder econômico”,
a UJS não tem nenhum escrúpulo em fazer acordos com quem quer que seja para
manter-se na presidência da entidade e para evitar sua democratização. Para conse-
guir isso, constroem alianças nos congressos com partidos como o PTB, PPB, PPS,
PFL... Ou seja: a base de apoio da UJS na UNE é a mesma base de apoio de FHC
no governo!!!
E para acabar com esta conversa de que a direita poderá usar o poder econô-
mico, propomos que o Congresso proíba que as chapas inscritas25 possam veicular
propaganda paga nos meios de comunicação, sob pena de terem sua inscrição cas-
sada; e que a UNE edite cadernos de debate para circular em todas as universidades
com a proposta de todos as chapas que queiram participar do processo e do debate,
n ANEXO - 47o CONGRESSO DA UNE
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TESES DA TENDÊNCIA PETISTA ARTICULAÇÃO DE ESQUERDA AOS CONGRESSOS DA UNE (1995-2021)
nos como os de Roseana Sarney, no Maranhão, e Mão Santa, no Piauí, (aliás, nesse
último, o vice-governador é do PCdoB) e ficam pregando uma “amplitude” que, de
tão ampla, chega até aqueles que não devem ser nossos aliados.
Finalmente, é preciso acabar com o balcão das carteirinhas, para que o direito
a meia-entrada não continue sendo um produto de venda. Queremos a meia-entra-
da nos cinemas e o passe livre nos ônibus para toda a juventude (pelo menos até 21
anos), diante de qualquer identificação que não exclusivamente a carteira da UNE.
E que a UNE rediscuta urgentemente a forma de manter sua sustentação financeira,
que não pode se basear exclusivamente nas carteirinhas.
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O BRASIL, A UNIVERSIDADE E O MOVIMENTO ESTUDANTIL
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O
movimento estudantil, a União Nacional dos
Estudantes (UNE) e seus Congressos são parte
importante das lutas sociais brasileiras em de-
fesa da soberania nacional, da democracia e das pautas
populares, especialmente a educação pública, gratuita
e de qualidade para todos e todas.
Ao reunir as teses defendidas por estudantes mili-
tantes ou simpatizantes do Partido dos Trabalhadores
(PT) e da tendência petista Articulação de Esquerda
(AE) nos Congressos da UNE, este livro pretende sobre-
tudo contribuir para que as novas gerações se engajem
no movimento estudantil e nas lutas sociais conhecen-
do parte dos caminhos já percorridos e do processo
histórico no qual estão se integrando. Visa, igualmente,
estimular as gerações anteriores de militantes do movi-
mento estudantil que se identificarem nestas páginas a
compartilhar suas memórias.
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