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GINÁSTICA ARTÍSTICA

NO
CONTEXTO ESCOLAR

Gabriela Fernandes de Oliveira – UFRJ


Juliana Almeida Souza – UFRJ
Juliana Vieira Duarte – UFRJ
Matheus Bacelar Pinheiro – UFRJ
Milena Galdino Tavares Tenório Cardoso – UFRJ

RESUMO
O presente trabalho buscou apresentar alguns dos temas que cercam o
distanciamento entre Ginástica Artística em âmbito escolar e a sua grande difusão no
alto rendimento, e qual o papel do profissional em Educação Física neste assunto,
este estudo se baseou na revisão de literatura de alguns artigos que abordam o tema
em questão.
INTRODUÇÃO

A Ginástica Artística tem tido grande repercussão no cenário nacional


brasileiro, com grandes atletas em destaque tendo sucesso em diversas
competições internacionais, sejam Olímpiadas ou Mundiais. O mesmo não se
tem no ambiente escolar, há pouco exposição da Ginástica Artística como
prática corporal, e como mostra este trabalho, está é uma prática que carrega
grandes componentes culturais e que tem grande importância no
desenvolvimento psicomotor infantil, neste contraponto o presente estudo se
baseia e busca entender quais são os motivos responsáveis por este
distanciamento.

GINÁSTICA ARTÍSTICA

A ginástica artística (GA) como modalidade desportiva cativa o público


pela beleza de seus movimentos demonstrando agilidade, força e leveza em
exercícios de alta complexidade. É considerado um importante instrumento nas
aulas de educação física para o aprimoramento e desenvolvimento motor
humano, por ser um expressivo componente da cultura corporal. Apresenta
características que possibilitam várias alternativas de movimentos, como rolar,
girar, saltar, mudar de posições e de apoios (LOPES, 2007).
Antecessora a GA tivemos como método ginástico no Brasil, o Turnen,
que foi o primeiro método ginástico mais difundido no país. QUITZAU (2019)
as sociedades ginásticas teuto-brasileiras puderam funcionar quase
ininterruptamente e sem grandes alterações por cerca de 80 anos, desde a
criação da primeira destas associações, em Joinville, em 1858, até o início das
políticas de nacionalização do governo Vargas, em 1938. 
Com a adoção por parte das instituições militares, o método francês veio
a substituir o Turnen, que era o método usado até então pelo exército
brasileiro, após isso, o método francês passou a ser estimulado pelo governo
no país por meio do regulamento Nº 7, no ano de 1942.
Atualmente, a Ginástica Artística é uma grande expoente dos métodos
gymnicos e, segundo o Cômite Olímpico Brasileiro, em 1896, acontece a
primeira aparição desta prática, que ocorre na primeira edição dos Jogos
Olímpicos da Era Moderna.

EDUCAÇÃO FÍSICA E GINÁSTICA ARTÍSTICA ESCOLAR

Segundo o proposto pelos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs) no


âmbito escolar, a educação física está contida no conceito da Educação
Psicomotora, sendo ela a responsável, através de estratégias e metodologias,
apresentar o universo da cultura corporal para os alunos. (BRASIL, 1997).
Em sua maioria, os cursos superiores de Educação Física no Brasil
dispõem de disciplinas em suas bases curriculares que abordam os temas das
ginásticas, contudo, no ambiente escolar ainda são poucas as instituições que
possuem um programa ou disciplina escolar com âmbito no desenvolvimento
da Ginástica Artística como disciplina/matéria.
Faz-se necessário a quebra dessa visão instaurada em âmbito nacional
da Ginástica Artística como prática de alto rendimento. Atualmente, o Brasil é
um dos grandes no cenário de conquistas internacionais, vide Rebeca Andrade
campeã Olímpica no salto e campeã Mundial no individual geral, Arthur Zanetti
campeão Olímpico e Mundial nas argolas e Flávia Saraiva campeã
panamericana na trave. Contudo, estes atletas tiveram sua inserção na prática
através dos clubes. O Brasil tem clubes de grande expressão, mas isso quando
se trata das práticas em alto rendimento, alguns deles são: Flamengo,
Pinheiros, Sogipa e SESI (SP). Contudo, quando se trata da formação inicial da
criança no âmbito psicomotor, ainda há muito o que melhor.
Para Lagrange (1987) o desenvolvimento motor tem sua parte mais
importante encontrada na infância onde é nomeada de habilidades
fundamentais. Por isso obter o desenvolvimento na primeira fase escolar tem
muita importância para as fases posteriores de suas atividades.

PROFISSIONALIZAÇÃO PRECOCE
A fase “crítica ou preciosa” é a mais importante do desenvolvimento e se
encontra na infância. É nessa fase que os profissionais de Educação Física
deveriam explorar mais a parte do aprendizado psicomotor das crianças (LE
BOULCH, 1982; DA SILVA, 2002).
Contudo, quando se trata de GA o alto rendimento é o que mais chama a
atenção no cenário nacional, os atletas tem sido exigidos fisicamente e
mentalmente cada vez mais cedo. Segundo Bompa (2002a), desde a
antiguidade Clássica já havia o hábito de se treinar sistematicamente para
atividades militares e olímpicas competitivas. Caine e colaboradores (2001),
detalhando a rotina da GA de alto nível, mencionam que nesse estágio as
atletas treinam entre 24 e 36 horas por semana, de 4 a 6 horas por dia e
durante os 12 meses do ano. Outros autores também fazem referência ao
volume de horas de treinamento na GA de alto nível (THEINTZ e
colaboradores, 1993; DALY e colaboradores, 2005) ̈As ginastas treinam 7
horas por dia, folgando apenas aos domingos, isso quando não há
competições ̈ (ROMERO , 2003, p.95). Rotinas como estas de treinos
exaustivos e com a busca pelo movimento “perfeito” sendo cada vez mais
precoce, estes se tornam alguns dos temas que permeiam a prática da
Ginástica Artística também nas escolas.
Com atletas tendo o ápice de suas carreiras cada vez mais cedo e mitos
como “a prática da ginástica artística leva a baixa estatura”, acabam por
diminuir ainda mais a busca de profissionais de educação física por
implementar a prática desta em escolas, e diminui também o interesse dos
pais. Claessens e colaboradores (1992) destacam que as ginastas iniciam
muito jovens na modalidade e precisam treinar muitas horas por semana para
alcançar o alto nível, citando as ginastas holandesas que iniciavam os treinos
por volta dos 7.5 anos de idade e treinavam em média 25 horas por semana.

ESTRUTURA ESCOLAR

Alguns dos pontos mais críticos que podem ser citados por algumas
pessoas para a ausência da GA no ambiente escolar é a falta de material para
a prática, que torna-se, sim, uma grande dificuldade para o desenvolvimento
do trabalho, entretanto, o uso de materiais alternativos para o desenvolvimento
desta prática é essencial, pois o fundamento psicomotor abordado pela
Ginástica Artística é de grande valia para as crianças em sua fase de
desenvolvimento motor.
Entretanto, os professores dos primários trabalham sozinhos dedicando-
se a ensinar mais os conteúdos de sala de aula cognitivos como, leitura,
operações lógico-matemáticas, escrita e esquecendo-se da alfabetização do
corpo em relação ao intelecto. Este, sendo o mais importante para o
desenvolvimento infantil, também depende da sua saúde física e mental para
poder brincar e explorar o mundo em que vive adquirindo repertório de
vivências motrizes e sensoriais as quais são necessários para a autonomia,
socialização e aprendizagem (FONSECA, 1998; DE MEUER e STAES, 1992).
A forma como deve ser ministrada a Ginástica Artística também se torna
um grande obstáculo na difusão desta nas escolas. Não há uma padronização
na forma da aplicação desta prática da cultura corporal, e isto é um ponto
importante porque a padronização poderia levar a um enrijecimento do
currículo da GA nas escolas, contudo faz-se necessário uma base mínima para
as abordagens terem um caminho norteador da prática no ambiente escolar.
Conforme os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN’s), o bloco de
conteúdo do ensino fundamental é dividido em três blocos, mesmo
especificando somente os dois primeiros ciclos. Estes deverão ser
desenvolvidos ao longo do ensino fundamental. Essa estrutura não é inflexível
ou estática, ela serve justamente para organizar o conteúdo a ser abordado,
diante dos diferentes enfoques existentes como:

Esportes, jogos, lutas e ginásticas Atividades rítmicas e


expressivas
Conhecimento sobre o corpo

Fonte: Brasil (1997)

Com vários conteúdos em comum, os três blocos articulam-se entre si,


mas sem perder suas especificidades. O bloco “Conhecimento sobre o corpo”,
por exemplo, pode ser abordado separadamente, porém tem conteúdo que
está incluído nos demais. As ginásticas com finalidades diversas são técnicas
de trabalho corporal que, de modo geral, assumem um caráter individualizado.
Pode ser usada para manutenção ou recuperação de saúde, como preparação
para outras modalidades, como uma forma recreativa, competitiva ou de
convívio social, por exemplo (BRASIL, 1997).
Para Soares et al., (1992) como uma forma de se exercitar a ginástica
provoca, em geral no homem, e em particular nas crianças, valiosas
experiências corporais, enriquecedoras da cultura corporal. Por isso torna-se
necessária no ambiente escolar, é uma prática que abarca a tradição histórica
do mundo ginástico e é permeada por um significado cultural.
Dessa forma, o acesso a essa área do conhecimento é direito de todo
cidadão, porque junto às outras áreas contribuirá para que o aluno participe da
construção de uma realidade mais favorável a todos e principalmente a si
(BARBOSA RINALDI, 2004)

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Através deste estudo percebe-se a distância que ainda há entre a


Ginástica Artística e a sua prática no ambiente escolar. Os motivos são
diversos, contudo com este trabalho buscou-se expor alguns pontos que
podem enriquecer ainda mais o debate sobre a falta da prática da GA no
ambiente escolar, sendo ela uma das mais importantes práticas da cultura
corporal para o desenvolvimento psicomotor das crianças.
Não é adequado apontar este ou aquele culpado por esta distância entre
Ginástica Artística e escola, porém para aqueles profissionais que pretendem
ampliar o desenvolvimento de seus alunos ao privá-los da prática haverá uma
limitação no desenvolvimento psicomotor dos alunos, vide as qualidades que a
GA dispões e que já foram expostas neste trabalho. Vale ressaltar que em
âmbito profissional a Ginástica Artística possui grandes atletas no Brasil, e isso
deve-se também há grande estruturação que houve através dos clubes, alguns
deles já citados acima, entretanto, a mesma não houve em âmbito escolar.

BIBLIOGRAFIA
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profissional em educação física: encaminhamentos para uma estruturação
curricular. 2004. Tese (Doutorado) - Faculdade de Educação Física,
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Acessado em https://www.scielo.br/j/edur/a/v3S5gzMKNT8SCDsjpryG5Rn/?
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