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INTRODUÇÃO À EDUCAÇÃO FÍSICA –

30H BLOCO 2 CH: 30H

EMENTA:
Introdução à educação. trajetória da educação física escolar. tendéncias pedagógicas da educação
física escolar. Panorama contemporâneo da educação física escolar em âmbito regional e local. Problematização
do conceito de educação física. Diferentes objetos de conhecimento da educação física. Legitimidade da
educação física enquanto componente curricular. Formação em educação física escolar: formação tradicional,
científica e profissional.
UNIVERSIDADE ESTADUAL DO PIAUí – UESPI
COORDENAçãO GERAL DO PLANO NACIONAL DE FORMAçãO
DE PROFESSORES DA EDUCAÇÃO BASICA – PARFOR
CURSO DE LICENCIATURA EM EDUCAÇÃO FÍSICA

INTRODUÇÃO à EDUCAÇÃO FÍSICA - 30H

UNIVERSIDADE ESTADUAL DO PIAUÍ – UESPI


COORDENAÇÃO GERAL DO PLANO NACIONAL DE FORMAÇÃO
DE PROFESSORES DA EDUCAçãO BÁSICA - PARFOR
REITOR DA UNIVERSIDADE ESTADUAL DO PIAUÍ – UESPI
PROF. DR. EVANDRO ALBERTO DE SOUSA
VICE-REITOR DA UESPI
PROF. DR. JESUS ANTÔNIO ABREU

PRÓ-REITOR DE ENSINO DE GRADUAçãO – PREG


A
PROF . DRA. MONICA MARIA FEITOSA BRAGA GENTIL
COORDENADORA GERAL DO PARFOR/UESPI
A
PROF . DRA. FRANCISCA MARIA DA CUNHA DE SOUSA
COORDENADORA ADJUNTA DO PARFOR/UESPI
A
PROF . DRA. RAQUEL DE OLIVEIRA FARIAS
COORDENADOR DO CURSO DE EDUCAçãO FíSICA
PROF. DR IVALDO COÉLHO CARMO
COORDENADOR LOCAL DO POLO DE BARRAS/PI
PROF DEOCLECIO DANTAS
O que é Educação Física Escolar?
Desde os primórdios da humanidade, a educação física sempre foi vista como um meio
para o crescimento pessoal e desenvolvimento físico. A partir do século XVIII até o
presente, o conceito vem se transformando radicalmente e se expandindo a passar por
diversas eras. Neste artigo, queremos olhar com mais atenção sobre como a educação
física evoluiu ao longo desses anos.

Educação Física Escolar: Explorando o Movimento e o Conhecimento


Introdução
Olá, queridos leitores do Blog Educação Ativa! Hoje, vamos mergulhar no fascinante
universo da Educação Física Escolar, uma disciplina que vai muito além de atividades
esportivas e jogos divertidos. Vamos explorar desde a importância da Educação Física
no desenvolvimento motor até os desafios enfrentados pelos professores e alunos.
Preparem-se para uma jornada repleta de reflexões e descobertas sobre como a
Educação Física na escola impacta diretamente a prática pedagógica e contribui para
uma formação integral dos estudantes.

O que é Educação Física?


Educação Física é o estudo científico dos movimentos humanos, incluindo habilidades
motoras básicas, conhecimentos motores de execução e habilidades motoras específicas.
Esta área enfatiza a importância da criação ou manutenção de um estilo de vida
saudável que envolve a prática regular de exercícios e programas de fitness. O objetivo
principal da educação física é melhorar a saúde geral e desempenho, motivando as
pessoas através do reconhecimento, compreensão, aprendizado baseado em experiências
práticas e educadas

Educação Física Escolar: O Fundamento da Saúde e Qualidade de Vida


A Educação Física Escolar não se trata apenas de atividades recreativas. Ela
desempenha um papel crucial na promoção da saúde e na melhoria da qualidade de vida
dos estudantes. Através de atividades físicas, jogos e exercícios, os alunos aprendem a
importância de manter um estilo de vida ativo e saudável desde cedo. Além disso, a
prática regular de exercícios ajuda no desenvolvimento motor, na coordenação motora e
no fortalecimento muscular.

Desenvolvimento Motor e a Importância da Educação Física Escolar


Ao longo dos anos escolares, o desenvolvimento motor das crianças e adolescentes
passa por diversas fases. A Educação Física Escolar, especialmente nos anos iniciais do
ensino fundamental, desempenha um papel fundamental no aprimoramento dessas
habilidades. No 3º ano do ensino fundamental, por exemplo, as atividades são
cuidadosamente planejadas para desenvolver a coordenação motora fina e grossa, além
de promover noções básicas de espaço e tempo.
Jogos e Brincadeiras: O Coração da Educação Física Escolar
O que seriam das aulas de Educação Física sem os jogos e brincadeiras? Eles não só
trazem diversão para o ambiente escolar, como também têm um impacto significativo
no aprendizado e no desenvolvimento dos alunos. Do 5º ao 9º ano do ensino
fundamental, os estudantes são apresentados a uma variedade de jogos de invasão, como
futebol, basquetebol e voleibol, que estimulam o trabalho em equipe, a estratégia e a
tomada de decisões rápidas.

Reflexões e Questões sobre a Educação Física na Escola


Mas, espera aí, será que a Educação Física na escola se limita apenas às atividades
físicas? Claro que não! Ela também é um espaço propício para discutir questões
importantes, como relações de gênero, inclusão e diversidade. Os professores de
Educação Física desempenham um papel fundamental ao abordar esses temas de
maneira sensível e educativa, contribuindo para a formação de cidadãos críticos e
conscientes.

Desafios e Superando Obstáculos: A Educação Física Escolar na


Pandemia
A pandemia trouxe desafios inéditos para a Educação Física Escolar. Com as restrições
de contato físico e as aulas remotas, os professores precisaram se reinventar para manter
os alunos ativos e engajados. O uso de atividades adaptadas e a promoção de exercícios
que podem ser realizados em casa foram estratégias essenciais para garantir a
continuidade do aprendizado e da prática de atividades físicas.

Educação Física Escolar: Mais do que uma Disciplina, uma Experiência


de Vida
A Educação Física Escolar vai muito além das quatro linhas da quadra ou das atividades
na sala de aula. Ela promove valores como respeito, cooperação, disciplina e
autoconfiança. Os jogos, as brincadeiras e as discussões em sala de aula contribuem
para a formação de indivíduos completos, capazes de lidar com desafios físicos e
emocionais, preparando-os para uma vida saudável e ativa.

Abordagens pedagógicas da educação física escolar, história e dicas.


A história do currículo de esporte escolar no Brasil teve início em 1851, quando foi
incluído como disciplina no currículo escolar. Em 1854, com a reforma de Couto
Ferraz, a ginástica foi disciplina obrigatória no ensino fundamental, e a dança e a
ginástica tornaram-se disciplinas obrigatórias no ensino médio.
Em 1920, os estados federados começaram a realizar reformas educacionais na
educação física e utilizaram o nome de ginástica para a prática. Desde então, a reforma
pedagógica e metodológica da educação física passou por um tremendo
desenvolvimento ao longo dos anos. Os primeiros anos da educação física escolar no
Brasil foram inteiramente voltados para a prática de hábitos de saúde e higiene
individual. A ginástica, fortemente influenciada pelo militarismo, dominou a educação
física escolar no Brasil, e o esporte foi visto posteriormente como o principal conteúdo
da educação física escolar. Desde então, ela evoluiu e mudou para atender às
necessidades tanto de alunos quanto de professores.
Hoje, existem muitas abordagens diferentes no ensino da educação física, mas o
objetivo permanece o mesmo: proporcionar aos alunos a oportunidade de se tornarem
ativos e permanecerem saudáveis. Há também muitos concursos e competições
diferentes que se concentram na educação física, o que pode ser uma ótima maneira de
motivar os estudantes a se envolverem. Há muitas abordagens diferentes que podem ser
adotadas no ensino de aulas de educação física, mas é importante encontrar uma
abordagem que funcione melhor para você e seus alunos. Existe também muitos
concursos e competições diferentes em que você pode participar como professor de
educação física, o que pode ser uma ótima maneira de entusiasmar seus alunos com a
atividade física.
Finalmente, aqui estão algumas dicas que podem lhe ajudar em suas aulas de
educação física:
- Encoraje os alunos a participar de atividade física fora da escola.
- Certifique-se de que os estudantes estão fisicamente ativos todos os dias.
- Encoraje os alunos para comerem alimentos saudáveis.
- Certifique-se de que os alunos dormem o suficiente.
- Incentivar os estudantes a serem cidadãos ativos. - Certifique-se de que os estudantes
tenham sono suficiente.
- Alentar os estudantes a serem cidadãos ativos.
- Certifique-se de que os alunos tenham acesso a aulas de educação física de qualidade.
- Os concursos de educação física podem ser uma ótima maneira de motivar os
estudantes.
- Enfim, criar uma cultura para os alunos de que a Educação Física Escolar é coisa séria.
Há uma variedade de abordagens que podem ser tomadas para a educação física. Muitas
escolas oferecem aulas de educação física, mas há também uma tendência crescente de
programas pós-escolares e atividades extracurriculares. Há muitos tipos de concursos e
competições que podem ser utilizados para incentivar a participação na educação física.
Há uma série de dicas e estratégias que podem ser utilizadas para tornar a educação
física mais eficaz. Um professor de educação física deve estar bem versado em todas
essas áreas para poder ensinar eficazmente.

Educação física escolar e cidadania visando fornecer conhecimentos e


reflexões que permitam o pleno desenvolvimento do indivíduo.
A história da educação física escolar no Brasil é marcada por momentos importantes,
como a criação da Escola Nacional de Educação Física (ENEF) em 1934, responsável
pelo treinamento de professores de educação física; a realização dos primeiros Jogos
Pan-americanos em 1951; e o lançamento do Plano Nacional do Esporte em 1961.
Atualmente, existem diferentes abordagens para o ensino de aulas de educação física,
mas a mais comuns são os chamados "concursos" e "dicas". Estas duas abordagens
visam melhorar o desempenho dos alunos em atividades de educação física.

Quais são as abordagens Pedagógicas da Educação Física?


As principais abordagens que hoje coexistem no cenário nacional são: a Psicomotricista,
a Construtivista-Interacionista, a Desenvolvimentista, a Sistêmica, Crítico-Superadora, a
Crítica-Emancipatória, a Cultural, a dos Jogos Cooperativos, a Saúde Renovada, e dos
PCN's. O mais importante para um professor de educação física é ter conhecimento
sobre as diferentes abordagens do ensino da educação física. Cada abordagem tem suas
próprias vantagens e desvantagens, por isso é importante estar familiarizado com todas
elas. Os enfoques são:
1. A Abordagem Tradicional
2. A Abordagem das Habilidades Motoras - Desenvolvimentista
3. A Abordagem da Aptidão Física
4. A abordagem Crítica-Emancipatória
5. A abordagem cultural
6. A abordagem dos Jogos Cooperativos
7. A abordagem Saúde Renovada
8. A abordagem Inclusiva.
9. A abordagem Critico Superadora
10. A abordagem Pós crítica - Multiculturalismo
Em seguida, expõe-se o primeiro pressuposto teórico que tenta romper com o modelo
hegemônico dominante. Assim, surgiu o método de ensino da educação física escolar.
Tais métodos, modelos ou teorias (que serão apresentados aqui como sinônimos) podem
ser definidos como esportes que buscam atualizações teóricas e práticas, com foco na
reorganização de áreas de conhecimento específicas do esporte. As principais
abordagens que convivem atualmente no país são: Psicocinemática, Construtivismo-
Interacionismo, Desenvolvimentismo, Sistêmico, Crítica Superadora, Pós Crítica,
Cultura, Jogo Cooperativo, Saúde Renovadora e PCN. Esses métodos de educação
física têm duas funções principais: legitimar a educação física no ambiente escolar e
sugerir métodos, orientar o professor no planejamento de suas aulas e demonstrar o que
está sendo feito. É importante observar que a educação física escolar não se trata apenas
dos alunos que se exercitam. Trata-se também de ensiná-los a viver um estilo de vida
saudável e de incutir neles o amor pela atividade física. Isto é feito através de uma
variedade de métodos, incluindo concursos, dicas e abordagens únicas para cada escola.

As Mudanças Recentes na Educação Física


Ao longo dos últimos anos, a educação física experimentou muitas mudanças e foi
redefinida de várias maneiras. Hoje, há uma clara ênfase nas disciplinas de saúde que
envolvem composição corporal, estilo de vida saudável e nutrição. Além disso, o estudo
tornou-se mais holístico no sentido de abranger não apenas os aspectos relacionados à
saúde física, mas também modalidades esportivas para melhorar as habilidades
competitivas e ajudar os alunos a desenvolver habilidades sociais significativas.

Nossa jornada pela Educação Física Escolar nos mostrou que ela vai além de simples
exercícios e jogos divertidos. Ela é uma ferramenta poderosa para o desenvolvimento
motor, a promoção da saúde, a discussão de temas relevantes e a formação integral dos
estudantes. Os professores desempenham um papel essencial ao criar um ambiente de
aprendizado envolvente e significativo, onde os alunos podem explorar seus corpos,
suas habilidades e suas mentes.
A Educação Física Escolar não é apenas uma disciplina, é uma experiência de vida que
deixa marcas profundas no desenvolvimento de cada indivíduo. Portanto, valorizemos
essa área tão importante da educação e reconheçamos os benefícios duradouros que ela
traz para a vida dos alunos.
04/07/2023, 15:35 Conceito em educação fisica - Brasil Escola

Conceito em educação fisica


O que quer dizer educação física?

Falar em Educação Física nos faz lembrar de esportes e atividades físicas, porem todo esporte é um conjunto de atividades
físicas, mas nem toda atividade física é ou faz parte de um esporte.A Educação Física é uma disciplina que integra o
educando na cultura corporal, formando o cidadão que irá produzi-la, reproduzi-la e transformá-la através dos jogos, dos
esportes, das lutas, da ginástica e das danças, na busca do exercício crítico da cidadania e de uma melhor qualidade de
vida. Ela é considerada como um meio educativo privilegiado, pois abrange o ser na sua totalidade, objetivando o equilíbrio,
a saúde do corpo, a aptidão física para a ação e o desenvolvimento dos valores morais. Não se pode falar de um corpo
fragmentado, mas de uma totalidade capaz de conectar pensamentos e movimentos através de ligações de sensibilidade.
Nesta relação corpo e emoção o que importa não é o gesto pelo gesto, mas o significado deste diante do mundo. Esta
disciplina permite ao educando exercer todas as suas potencialidades, desenvolve as funções mentais, a coordenação
motora, a criatividade, a livre expressão e a sociabilidade, também auxilia no desenvolvimento global do indivíduo, isto é, no
aspecto cognitivo, psicomotor e afetivo.

A educação Física é uma das áreas de conhecimento ligada ao estudo das atividades físicas, visando o aperfeiçoamento e
desenvolvimento correto dos movimentos corporais e motores. Trabalha também no sentido terapêutico, na manutenção e
reabilitação da saúde e ate mesmo para prevenir e evitar certos tipos de doenças.

Também é fundamental na formação básica do ser humano, atividade essencial para uma boa qualidade de vida.

O próprio Manifesto Mundial da Educação Física mostra os benefícios tanto sociais como educacionais que a Educação
Física oferece. Mas uma duvida assombra minha mente... Já que a Educação Física é tão importante assim, porque essa
ainda se encontra na UTI?

Há uma certa dificuldade em explicar o que realmente é a Educação Física. Afinal, quando falamos em Educação Física
pensamos logo em corpos sarados, suados e dispostos somente em malhar. É preciso acabar com esse paradigma, mas
essa imagem sobre a Educação Física trazemos da própria escola, do ensino fundamental, onde a própria disciplina não se
encaixa no quadro das demais, sendo aplicada em dias e horários diferentes como se não tivesse tanta importância como
as outras disciplinas, parecendo ser ate mesmo opcional, sem aulas teóricas, afinal nem todo mundo gosta de jogar bola e
correr em volta da quadra.

Nessa sociedade consumista em que vivemos, cuidar do corpo se tornou cultural, e para isso precisamos de profissionais
realmente qualificados para desempenhar seu papel com responsabilidade, compromisso e informação para uma Educação
Física de Qualidade, já que se tratando de Educação seja essa, escolar, alimentar, ambiental ou qualquer tipo de
aprendizado já é cultura e cultura é o direito de todo cidadão. Segundo João Paulo S. Medina “... a educação seria um
processo pelo qual os seres humanos buscam sistemática ou assistematicamente o desenvolvimento de todas as suas
potencialidade, sempre no sentido de uma auto-realização, em conformidade com a própria realização da sociedade...”,já
nas palavras de Saviane a própria Educação seria “...o processo de promoção do ser humano que, no caso, significa tornar
o homem cada vez mais capaz de conhecer os elementos de sua situação para intervir nela, transformado-a no sentido de
uma ampliação da comunicação e colaboração entre os homens...”

Fonte: Brasil Escola - https://meuartigo.brasilescola.uol.com.br/educacao-fisica/conceito-educacao-fisica.htm

https://meuartigo.brasilescola.uol.com.br/imprimir/120024 1/1
04/07/2023, 15:40 O que é Educação Física? - Brasil Escola

O que é Educação Física?


Você sabe o que é Educação Física? O termo Educação Física remete à ideia de educar o físico. Mas o que isso significa?
Fortalecer a musculatura? Praticar esportes? Adquirir postura? Bem, a Educação Física nasceu como uma disciplina cujo
objetivo era disciplinar os indivíduos a partir dos seus corpos. Ou seja: a Educação Física está historicamente atrelada a um
método de dominação do indivíduo.

Para melhor compreendermos como esse processo acontece, é necessário recorrer a um conceito importante do filósofo
Michel Foucault: corpos dóceis. Segundo ele, a sociedade moderna (constituída a partir das Revoluções Industrial e
Francesa) foi marcada pelo êxodo rural e consequentemente pelo inchaço de pessoas nas grandes cidades europeias. Dito
de maneira bastante simplificada, uma vez que as autoridades não tinham pessoas suficientes para trabalhar, foi preciso
desenvolver um método em que as pessoas controlassem a si mesmas: a vigia. Trata-se de um mecanismo em que a
pessoa se sente vigiada constantemente e que, portanto, dificilmente fará algo que contrarie as regras sociais. Um desses
mecanismos é o controle do corpo: ora, à medida que o corpo é disciplinado, sua conduta está sendo disciplinada. É
possível, portanto, entender que tornar o corpo dócil – ou disciplinado – já foi um dos papéis fundamentais da Educação
Física.

Hoje em dia as coisas mudaram. Há alguns autores, como Medina (1998), por exemplo, que afirmam que a Educação Física
não cuida apenas do corpo, mas antes de tudo da mente. A conotação atual do conceito de Educação Física é a de que esta
é uma área que trabalha não apenas o corpo em movimento, mas que trabalha a partir do corpo em movimento.
Explicando: o objetivo dessa disciplina não é fazer com que as pessoas saibam jogar basquete, mas sim que elas
consigam vivenciar essa prática, compreender sua origem, estruturar reflexões sobre o comércio envolvido nos materiais
esportivos, sobre a compra e venda de atletas, dentre outras coisas. É por isso que Medina afirma que a Educação
Física trabalha corpo emente.

Outra coisa importante para entendermos melhor a Educação Física é esclarecermos quais são os conteúdos que devem
ser ensinados na escola. Você sabe que os conteúdos de Matemática ou de Língua Portuguesa são bem estruturados e
deve saber dizer o que está aprendendo nesse momento. Mas você sabe dizer se na sua aula de Educação Física isso
também acontece? Você está aprendendo alguma coisa nova nessa matéria? Há um documento do governo federal
chamado “Parâmetros Curriculares Nacionais” que apresenta em blocos todos os conteúdos que o professor deve trabalhar
ao longo do ensino fundamental. Os blocos são:

1. Esportes, lutas, jogos e ginásticas – Concentram-se neste bloco todos os esportes individuais ou coletivos, os diversos
tipos de lutas, jogos populares e/ou tradicionais e diferentes tipos de ginásticas;

2. Atividades rítmicas e expressivas – Localizam-se aqui os diferentes tipos de dança (popular, folclóricas, clássicas, de
salão e contemporânea), além de outras práticas que se utilizem do corpo como meio expressivo, tal como o teatro;

3. Conhecimentos sobre o corpo – Este bloco talvez seja o mais importante à medida que se relaciona com os outros dois.
Propõe que o professor trabalhe aspectos biológicos, anatômicos e sociais referentes ao corpo, estimulando aulas teóricas
em sala de aula.

Assim, é importante que você reflita se o seu professor já propôs atividades diferentes como capoeira, dança moderna,
teatro ou corrida de obstáculos para a sua turma. Isso porque todos esses conteúdos, essa diversidade de práticas
corporais, fazem parte do currículo escolar. Caso contrário, pergunte ao seu professor quando ele planeja abordar
atividades diferentes com vocês. Quem sabe sua sugestão ou curiosidade não pode resultar em uma aula bem
interessante!

Fonte: Brasil Escola - https://brasilescola.uol.com.br/educacao-fisica/o-que-educacao-fisica.htm

https://brasilescola.uol.com.br/imprimir/118496 1/1
UNIDADE 3
TÓPICO 3

EDUCAÇÃO FÍSICA E PROFISSÃO

1 INTRODUÇÃO
Veremos neste tópico alguns dos caminhos que o Profissional em Educação
Física poderá trilhar após a sua graduação, para poder proporcionar a promoção da
saúde através da atividade física. Consequentemente, proporcionar às crianças, aos
jovens e aos adultos, através do esporte, da recreação e da dança, os instrumentos
para que desenvolvam suas habilidades básicas voltadas à saúde e performance.

2 CÓDIGO DE ÉTICA DOS PROFISSIONAIS DE EDUCAÇÃO


FÍSICA
Preâmbulo

No processo de elaboração do Código de Ética para o Profissional de


Educação Física tomaram-se por base, também, as Declarações Universais de
Direitos Humanos e da Cultura, a Agenda 21, que conceitua a proteção do meio
ambiente no contexto das relações entre os seres humanos em sociedade, e,
ainda, os indicadores da Carta Brasileira de Educação Física 2000.

Esses documentos, juntamente com a legislação referente à Educação


Física e a seus profissionais nas esferas federal, estadual e municipal, constituem
o fundamento para a função mediadora do Sistema CONFEF/CREFs no que
concerne ao Código de Ética.

A Educação Física afirma-se, segundo as mais atualizadas pesquisas


científicas, como atividade imprescindível à promoção e à preservação da saúde
e à conquista de uma boa qualidade de vida.

Ao se regulamentar a Educação Física como atividade profissional, foi


identificada, paralelamente à importância de conhecimento técnico e científico
especializado, a necessidade do desenvolvimento de competência específica
para sua aplicação, que possibilite estender a toda a sociedade os valores e os
benefícios advindos da sua prática.

Este Código propõe normatizar a articulação das dimensões técnica e


social com a dimensão ética, de forma a garantir, no desempenho do Profissional

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UNIDADE 3 | O PROFISSIONAL DE EDUCAÇÃO FÍSICA

de Educação Física, a união de conhecimento científico e atitude, referendando


a necessidade de um saber e de um saber fazer que venham a efetivar-se como
um saber bem e um saber fazer bem.

Assim, o ideal da profissão define-se pela prestação de um atendimento


melhor e mais qualificado a um número cada vez maior de pessoas, tendo
como referência um conjunto de princípios, normas e valores éticos livremente
assumidos, individual e coletivamente, pelos Profissionais de Educação Física.

A construção do código de ética

A construção do Código de Ética para a Profissão de Educação Física


foi desenvolvida através do estudo da historicidade da sua existência, da
experiência de um grupo de profissionais brasileiros da área e da resposta da
comunidade específica de profissionais que atuam com esse conhecimento em
nosso país.

Assim, foram estabelecidos os 12 (doze) itens norteadores da aplicação


do Código de Ética, que fixa a forma pela qual se devem conduzir os Profissionais
de Educação Física registrados no Sistema CONFEF/CREFs.
FONTE: Disponível em: <http://www.confef.org.br/extra/resolucoes/conteudo.asp?cd_
resol=103>. Acesso em: 24 jun. 2015.

Ao flnal deste tópico, como Leitura complementar, temos o Código de Ética na


íntegra.

3 REGULAMENTAÇÃO DA EDUCAÇÃO FÍSICA NO BRASIL


O processo da regulamentação e criação de um Conselho para a
Profissão de Educação Física teve início nos anos quarenta. A iniciativa partiu
das Associações dos Professores de Educação Física – APEFs – localizadas no
Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul e São Paulo. Juntas fundaram a Federação
Brasileira das Associações de Professores de Educação Física – FBAPEF, em
1946.

A História da regulamentação da profissão de Educação Física no Brasil


pode ser dividida em três fases: a primeira relacionada aos profissionais que
manifestavam e/ou escreviam a respeito desta necessidade, sem, contudo,
desenvolver ação nesse sentido; a segunda na década de 80 quando tramitou

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TÓPICO 3 | EDUCAÇÃO FÍSICA E PROFISSÃO

o projeto de lei relativo à regulamentação sendo vetado pelo Presidente da


República. E a terceira vinculada ao processo de regulamentação aprovado pelo
Congresso e promulgado pelo Presidente da República em 01/09/98, publicado
no Diário Oficial de 02/09/98.
FONTE: Disponível em: <http://www.confef.org.br/extra/resolucoes/conteudo.asp?cd_resol=103>.
Acesso em: 24 jun. 2015.

LEI Nº 9.696, DE 1 DE SETEMBRO DE 1998

Dispõe sobre a regulamentação da Profissão de Educação Física e cria os


respectivos Conselho Federal e Conselhos Regionais de Educação Física.

O PRESIDENTE DA REPÚBLICA:
Faço saber que o Congresso Nacional decreta e eu sanciono a seguinte
Lei:

Art. 1º O exercício das atividades de Educação Física e a designação de


Profissional de Educação Física é prerrogativa dos profissionais regularmente
registrados nos Conselhos Regionais de Educação Física.

Art. 2º Apenas serão inscritos nos quadros dos Conselhos Regionais de


Educação Física os seguintes profissionais:
I - os possuidores de diploma obtido em curso de Educação Física,
oficialmente autorizado ou reconhecido;
II - os possuidores de diploma em Educação Física expedido por
instituição de ensino superior estrangeira, revalidado na forma da legislação
em vigor;
III - os que, até a data do início da vigência desta Lei, tenham
comprovadamente exercido atividades próprias dos Profissionais de Educação
Física, nos termos a serem estabelecidos pelo Conselho Federal de Educação
Física.

Art. 3º Compete ao Profissional de Educação Física coordenar, planejar,


programar, supervisionar, dinamizar, dirigir, organizar, avaliar e executar
trabalhos, programas, planos e projetos, bem como prestar serviços de auditoria,
consultoria e assessoria, realizar treinamentos especializados, participar de
equipes multidisciplinares e interdisciplinares e elaborar informes técnicos,
científicos e pedagógicos, todos nas áreas de atividades físicas e do desporto.

Art. 4º São criados o Conselho Federal e os Conselhos Regionais de


Educação Física.

Art. 5º Os primeiros membros efetivos e suplentes do Conselho Federal


de Educação Física serão eleitos para um mandato tampão de dois anos, em
reunião das associações representativas de Profissionais de Educação Física,

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UNIDADE 3 | O PROFISSIONAL DE EDUCAÇÃO FÍSICA

criadas nos termos da Constituição Federal, com personalidade jurídica


própria, e das instituições superiores de ensino de Educação Física, oficialmente
autorizadas ou reconhecidas, que serão convocadas pela Federação Brasileira
das Associações dos Profissionais de Educação Física - FBAPEF, no prazo de até
90 (noventa) dias após a promulgação desta lei.

Art. 6º Esta lei entra em vigor na data de sua publicação.

Brasília 1º de setembro de 1998; 177º da independência e 110º da


República.

D.O.U. - QUARTA-FEIRA, 02 DE SETEMBRO DE 1998


FONTE: Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l9696.htm>. Acesso em: 24 jun.
2015.

4 PÓS-GRADUAÇÃO

Pós-Graduação

O ensino de pós-graduação é aquele destinado aos indivíduos que


possuem diploma de graduação.

No Brasil, desde o parecer Newton Sucupira, aprovado pelo então


Conselho Federal de Educação em 1965, os cursos de pós-graduação dividem-
se em duas vertentes, o lato sensu e o stricto sensu:

Lato sensu: são cursos mais direcionados à atuação profissional e


atualização dos graduados no nível superior: tecnólogos, licenciados ou
bacharéis. Se encontram nesta categoria os cursos de aperfeiçoamento, com
carga horária de no máximo 360 horas, os cursos de especialização, com carga
horária de no mínimo 360 horas, bem como os cursos designados como MBA
(do inglês Master in Business Administration, ou mestre em administração de
empresas); diferentemente do que é o caso nos EUA, eles não são equiparáveis
aos mestrados.

Stricto sensu: são cursos voltados à formação científica e acadêmica e


também ligados à pesquisa. Existem nos níveis do mestrado e doutorado. O
curso de mestrado tem a duração recomendada de dois a dois anos e meio,
durante os quais o aluno desenvolve uma dissertação e cursa as disciplinas
relativas à sua pesquisa. Os doutorados têm a duração média de quatro anos,
para o cumprimento das disciplinas, realização da pesquisa e para a elaboração
da tese.

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TÓPICO 3 | EDUCAÇÃO FÍSICA E PROFISSÃO

Aperfeiçoamento

Cursos de aperfeiçoamento destinam-se a profissionais que estejam


no exercício de uma determinada ocupação (correlacionada com a formação
acadêmica de origem na graduação), que pode até não significar uma profissão,
mas cargo ou função (Parecer CNE/CES nº 263/2006 e Parecer CNE/CES nº
254/2002).

Especialização

A especialização dá oportunidade ao graduado de prosseguir seus


estudos ao se habilitar à docência e se especializar em áreas do conhecimento
voltadas ao mundo do trabalho, podendo ser uma área diretamente ligada à
primeira graduação ou não. Em alguns países os créditos dos certificados lato
sensu podem contar como o primeiro ano de um mestrado na mesma área.

MBA

O Mestrado em Administração de Negócios (em inglês Master in


Business Administration), não é mais reconhecido no Brasil como mestrado
profissional, passou a ser considerado pelo Conselho Nacional de Educação
(CNE), que substituiu o Conselho Federal de Educação, apenas como uma
especialização (pós-graduação lato sensu). As especializações não se submetem
à avaliação sistemática da CAPES, mas a uma apreciação menos aprofundada,
por parte do MEC. Indicadores seguros da regularidade do curso são a prova
do credenciamento institucional e a declaração que o curso atende os requisitos
enumerados pela Resolução CNE/CES nº 001/09.

Mestrado profissional

A denominação Mestrado Profissional e o curso são formalizados


pelo MEC/CAPES. A conceituação do Mestrado Profissional se constitui no
objeto da Portaria Normativa no 17, de 28 de dezembro de 2009 da CAPES
[1]. Esta Portaria distinguiu claramente o Mestrado Profissional do Mestrado
Acadêmico, caracterizando o primeiro como voltado ao emprego do
método científico para a solução de problemas reais e multidisciplinares das
organizações enquanto o segundo tem por objetivo proporcionar ao estudante
o emprego do método científico em problemas de pesquisa acadêmica de uma
dada área de conhecimento. O trabalho acadêmico para obtenção do título de
mestre profissional é uma dissertação com defesa diante de uma banca, como
no mestrado acadêmico, mas existem outras exigências (como construção de
protótipos e desenvolvimento de softwares funcionais, entre outras). Portanto,
deve ser demonstrado neste trabalho a competência do mestrando em
defender sua pesquisa de resolução de problemas reais utilizando os métodos
e técnicas atuais aplicando-as na prática. Destina-se a profissionais com alguma
experiência, que atuam em empresas ou instituições públicas e que manterão

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UNIDADE 3 | O PROFISSIONAL DE EDUCAÇÃO FÍSICA

suas atividades durante o curso. Por isto, este curso tem horários especiais,
geralmente, todas as sextas e sábados. Não é pré-requisito na continuação dos
estudos para quem deseja prosseguir em busca da pesquisa teórica em nível
de doutorado, embora alguns pesquisadores na qualidade de orientadores
prefiram cobrar como exigência. No entanto, não há restrições na seleção do
doutorado para recém- graduados, tanto no mestrado acadêmico quanto no
profissional e no doutorado, que são as modalidades cursos de pós-graduação
stricto sensu.

Mestrado acadêmico

O mestrado acadêmico tem por objetivo iniciar o aluno na pesquisa.


A área de conhecimento é bem focada e constitui-se em um subconjunto da
área profissional (aquela estudada em todo um curso de graduação). Além de
disciplinas mais avançadas, que incluem uma parcela significativa de pesquisa
bibliográfica individual e de trabalho de interpretação, é desenvolvido um
trabalho de iniciação à pesquisa científica. Espera-se que ao final do curso o aluno
tenha adquirido capacidade de desenvolver trabalho autônomo. Este trabalho
caracteriza-se pela busca de referências, métodos e tecnologias atuais e sua
aplicação de forma criativa. Espera-se também, a demonstração de capacidade
de redação de textos científicos. Esta capacidade é evidenciada, principalmente,
pelo texto da dissertação de mestrado. É desejável a publicação ou submissão
de artigo(s) em reconhecidas revistas especializadas e anais de congressos,
durante e após o curso, o que evidenciará a importância da pesquisa realizada
e seu reconhecimento pelos pares acadêmicos.

Obs.: Hoje já existem mestrados profissionais que não são pagos. Há,
inclusive, uma modalidade com recebimento de bolsa CAPES no mesmo valor
do mestrado acadêmico. É o caso do Mestrado Profissional em Matemática em
rede nacional (PROFMAT), coordenado pela Sociedade Brasileira de Matemática
- SBM.

Doutorado

O doutorado obtém-se com a defesa de uma tese, que deve ser um


trabalho original. Atualmente, cerca de metade dos programas que oferecem
cursos de mestrado também oferecem de doutorado. O ingresso direto no
doutorado é voltado à pesquisa científica ao invés da docência como no caso
do mestrado. As agências de fomento, que nos anos 1980 e 1990 incentivaram a
ida de brasileiros ao exterior para se doutorarem, concluíram na última década
que o Brasil já conta com cursos de doutorado de qualidade suficiente para
que seja possível cursá-los no País e não mais no exterior. Enquanto o CNPq
e a Fapesp concedem pouquíssimas bolsas de doutorado no exterior, a Capes
mantém concessões, mas em número que tende a decrescer. A prioridade das
agências, atualmente, é a concessão de estágios-sanduíche, isto é, de períodos
de seis meses a um ano letivo para que o aluno de doutorado, matriculado no

192
TÓPICO 3 | EDUCAÇÃO FÍSICA E PROFISSÃO

Brasil, entre em contato com centros avançados no exterior e entabule contatos


que depois desenvolverá. Usualmente, o estágio-sanduíche se dá durante o
terceiro ano do curso.
FONTE: Disponível em: <https://pt.wikipedia.org/wiki/Pós-graduação>. Acesso em: 24 jun. 2015.

Livre-Docência

Livre-docência é um título concedido no Brasil por uma instituição de


ensino superior, mediante concurso público aberto, desde 11 de setembro de
1976, apenas para portadores do título de doutor, e que atesta uma qualidade
superior na docência e na pesquisa.

O concurso de livre-docência é aberto por edital e o candidato inscrito


deverá, além de submeter-se a uma prova escrita e a uma prova didática,
desenvolver também uma tese monográfica ou cumulativa sobre um tema
acadêmico e defendê-la perante uma banca examinadora. Dependendo da área,
uma prova prática pode também ser exigida no concurso de livre-docência.

A livre-docência é regulada pelas Leis nº 5.802/72 e nº 6.096/74 e pelo


Decreto no 76.119/75 e pelo Parecer no 826/78 do extinto Conselho Federal de
Educação.

Diferente da livre-docência é o título de "Notório Saber", que é concedido


com base no parágrafo único do art. 66 da Lei de Diretrizes e Bases da Educação
Nacional.

Anteriormente, a livre-docência era aberta a qualquer professor da


instituição, mas desde 11 de setembro de 1976 só podem candidatar-se professores
já portadores do título de doutor.

Na Universidade de São Paulo (USP), Universidade Estadual de


Campinas (UNICAMP) e Universidade Estadual Paulista (UNESP), a livre-
docência é requisito para a candidatura a professor titular e o livre-docente
recebe o título de professor-associado, quando já pertence ao quadro docente
da universidade (mas o título pode ser obtido também por doutores externos à
universidade).

Já nas universidades federais, a livre-docência praticamente


desapareceu, dado que o doutor já é professor-adjunto e pode, havendo vaga,
prestar concurso para professor titular. Ou seja, a livre-docência perdeu seu
sentido nas universidades federais.

Uma exceção nestes casos é a Universidade Federal de São Paulo


(UNIFESP) que, a exemplo das suas congêneres paulistas, mantém os concursos
de livre-docência.

193
JOSÉ LYRYAL ROLIM DE CASTRO
THIAGO TAVARES SOARES

INTRODUÇÃO À EDUCAÇÃO FÍSICA

1ª EDIÇÃO
EGUS 2014
EDUCAÇÃO FÍSICA E A FORMAÇÃO
DO GRADUANDO
Conhecimentos

Conhecer a importância legal da Educação Física e o seu valor na Educação Básica


para a formação do educando.

Habilidades

âmbitos da Educação Física.

Atitude
Educação Física e o campo

algumas considerações importantes sobre a Educação Física enquanto disciplina

ao movimento humano com todas suas variáveis.


O mesmo autor ressalta que a Educação Física pode ser entendida como uma

resultando em novos conhecimentos ou ideias, organização própria, capacidade

possuir um código de ética.

Educação Física e a Base Legal

Apesar da vasta contribuição principalmente nas áreas da Saúde e da Educação

Federal e Conselhos Regionais de Educação Física.

LEI Nº 9.696, DE 1 DE SETEMBRO DE 1998.

Regionais de Educação Física.

planejar, programar, supervisionar, dinamizar, dirigir, organizar,

bem como prestar serviços de auditoria, consultoria e


assessoria, realizar treinamentos especializados, participar
de equipes multidisciplinares e interdisciplinares e elaborar

de atividades físicas e do desporto.

45
INTA EAD Introdução à Educação Física
Segundo o Conselho Nacional de Educação Física – CONFEF - Art. 9º - O

compensatórios à atividade laboral e do cotidiano e outras práticas corporais.

ou restabelecimento de níveis adequados de desempenho e condicionamento

prevenção de doenças, de acidentes, de problemas posturais, da compensação


de distúrbios funcionais, contribuindo ainda, para consecução da autonomia, da
autoestima, da cooperação, da solidariedade, da integração, da cidadania, das
relações sociais e a preservação do meio ambiente observado os preceitos de
responsabilidade, segurança, qualidade técnica e ética no atendimento individual e
coletivo.

46 Introdução à Educação Física INTA EAD


Lincenciado x Bacharel

RESOLUÇÃO N° 7 DE 31 DE MARÇO DE 2004


Institui as Diretrizes Curriculares Nacionais para os cursos de
graduação em Educação Física, em nível superior de graduação
plena.
Art. 4º O curso de graduação em Educação Física deverá
assegurar uma formação generalista, humanista e crítica,

conduta ética.
§ 2º O Professor da Educação Básica, licenciatura plena em

deste componente curricular na educação básica, tendo

formação tratadas nesta Resolução.

A divisão da Educação Física pelo Ministério da Educação – MEC e pelo Conselho


Nacional de Educação - CNE, em Licenciatura e Bacharelado tem sido motivo de

que buscam cursar Educação Física principalmente em relação ao campo de atuação


dessas duas áreas.
Apesar do curso de Educação Física na modalidade a Distância do INTA EaD,
ser direcionado para a formação do professor de Educação Física (Licenciatura) é
importante que busquemos um entendimento entre o licenciado e o bacharel desta
área.
O que difere o licenciado do bacharel é que a Licenciatura em Educação Física

básica.

INTA EAD Introdução à Educação Física 47


na Educação Básica (ver § 1º do Art. 4º). Podendo o mesmo atuar apenas em

ginástica, empresas de artigos esportivos, clínicas, hospitais, hotéis, parques, meios


de comunicação). Também pode atuar de forma autônoma em empresas próprias
ou prestando consultoria.

RESOLUÇÃO N° 7 DE 31 DE MARÇO DE 2004


Institui as Diretrizes Curriculares Nacionais para os cursos de
graduação em Educação Física, em nível superior de graduação
plena.
Art. 4º O curso de graduação em Educação Física deverá
assegurar uma formação generalista, humanista e crítica,

conduta ética

para analisar criticamente a realidade social, para nela intervir

a formação, a ampliação e o enriquecimento cultural das


pessoas, para aumentar as possibilidades de adoção de um

Sobre a Educação Física Escolar

Já estudamos na unidade anterior as principais abordagens da Educação


Física Escolar agora trataremos de abordar algumas questões relevantes para a

Vale destacar que a Educação Física é uma disciplina obrigatória do componente


curricular da Educação Básica assim como as demais disciplinas e que tem por

48 Introdução à Educação Física INTA EAD


Para que seja de fato efetivada a citação acima descrita precisamos levar em
consideração alguns fatores:
• O direito a todos ao acesso a Educação Física
Por ser uma disciplina obrigatória do componente curricular nada mais natural
que todos pudessem usufruir desse o direito, mas o que presenciamos é uma evasão
de estudantes nas aulas de educação física. Darido e Rangel (2008) enumeram alguns
motivos que levam estudantes não participarem das aulas como falta de espaço,
falta de material, falta de habilidade motora, e falta de interesse dos estudantes.

levaram os estudantes ao desinteresse, já que o movimento, o jogo, a brincadeira


esta intrínseco na vida desses estudantes. Segundo Ferreira muitas vezes a falta de
interesse do educando em participar das aulas de Educação Física está relacionada
à falta de criatividade dos professores, pois para o mesmo autor “criar é trazer o
jogo interessante de videogame para dentro da quadra; interagir com as demais
disciplinas e mostrar que uma completa a outra (interdisciplinaridade). (Ferreira,
2006, p. 34-35)
O professor deve estar atento para que nas suas aulas prevaleça o principio da

Curriculares Nacionais.

[...] a inclusão do aluno é o eixo fundamental que norteia a concepção e a

É importante que o professor por meio da coeducação propicie vivencias


que desperte nos estudantes o senso crítico, o respeito mútuo, a cooperação,

política ou social.

• A oportunidade ao lazer
No século XX o discurso sobre o lazer toma dimensões que ultrapassam a esfera
social e econômica e chega às escolas fornecendo principalmente ao professor de
Educação Física, subsídios que possibilite discutir juntamente com os estudantes o

INTA EAD Introdução à Educação Física 49


seu conceito ao longo de toda escolaridade, numa perspectiva de se educar para o
lazer.
Nesse sentido o professor poderá dialogar com os estudantes sobre as barreiras
encontradas a cerca das vivencias do lazer, propor pesquisas sobre o tema, incentivar

A escola por sua vez deverá também oferecer ao estudante condições e espaços

e comunidade usufruam desses espaços. Para Camargo (1999) esses espaços

transformariam em agentes socioculturais.

• Os conteúdos da Educação Física Escolar


Segundo Libâneo (1994) conteúdo é o conjunto de conhecimentos, habilidades,
hábitos, modos, valores e atitudes de atuação social, organização pedagógica e
didaticamente, tendo em vista a assimilação ativa e a aplicação pelos estudantes na
sua prática de vida.

referentes a nomes, conceitos e princípios.


Segundo Neira (2006) os conteúdos de aprendizagem não se reduzem
às contribuições das disciplinas, como também serão conteúdos aqueles que
possibilitem o desenvolvimento das capacidades motoras, afetivas, de relação
pessoal e inserção social. Desta forma, o que é compreendido como currículo
oculto, ou seja, aquelas aprendizagens que se realizam nas escolas, mais que nunca

De acordo com a proposta de Coll (1986) apud Junior et all (2008) os conteúdos
da aprendizagem devem ser apresentados segundo a tipologia: na dimensão
conceitual (fatos, princípios e conceitos) revelam “o que se deve saber?”; dimensão

deve fazer?”; dimensão atitudinal (normas, valores e atitudes) estão relacionados ao


“como se deve ser?”

50 Introdução à Educação Física INTA EAD


conceituais de desenvolvimento da resistência orgânica são aprendidos

os atitudinais de valorização (sentir-se envolvido e responsabilizar-se pelo


seu desenvolvimento). Essas categorias constituem-se em referenciais para o

Barbosa (1997) em seu livro “Educação Física Escolar – da alienação a


libertação” apresenta um breve esboço dos conteúdos da Educação Física que
poderão ser trabalhados em uma turma de ensino fundamental e médio são eles:
conhecimentos das partes do corpo, primeiros socorros, higiene, capoeira, história

Já nos Parametros Curriculares Nacionais (1997) os conteúdos estão organizados

Conhecimentos sobre o corpo, todos escolhidos seguindo os seguintes critérios,


relevância social, características dos estudantes e característica da própria área. Vale
destacar ainda os temas transversais, tendo em vista a possibilidade de se dar maior

• Avaliação em Educação Física

tendo objetivo de dar informações ao professor sobre o nível de conhecimento


e habilidades dos estudantes; avaliação formativa que é realizada durante todo
ano letivo e tentará detectar as falhas no processo ensino-aprendizagem, visando
possíveis mudanças na maneira de ministrar as aulas de acordo com a evolução dos

Nos paradigmas da educação tradicional a avaliação era bastante seletiva,


essa característica manifestou-se na Educação Física principalmente na década

esse processo adotado, a avaliação passou a ser compreendida numa perspectiva


mais humanista, voltando-se para os aspectos internos do indivíduo, principalmente
para as dimensões psicológicas (DARIDO E RANGEL, 2008).

INTA EAD Introdução à Educação Física 51


Levando-se em consideração o rompimento do paradigma tradicional baseado

estudantes, por um modelo mais qualitativo dentro dos novos posicionamentos


teóricos da Educação que apontam para uma avaliação voltada para aquisição de

Nessa perspectiva a avaliação em Educação Física deve se preocupar em atender

Dimensão conceitual - refere-se ao conhecimento adquirido do estudante


sobre os conteúdos;
Dimensão procedimental – avalia-se o estudante a partir da observação na
realização de um gesto esportivo. Segundo Darido e Rangel (2008) ao contrário que
se pensa nessa dimensão não se avalia apenas as habilidades motoras, pode-se,

documentos sobre algum conteúdo.


Dimensão atitudinal – ocorre na observação dos estudantes em situação de

cooperação dos alunos.

52 Introdução à Educação Física INTA EAD


BIBLIOGRAFIA
Indicação de livros e sites que foram usados para a
constituição do material didático da disciplina
BARBOSA, Cláudio Luiz de Avarenga Barbosa. Educação Física Escolar. Da alienação
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64 Introdução à Educação Física INTA EAD


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de graduação em Educação Física, em nível superior de graduação plena. Datada

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de marketing.

66 Introdução à Educação Física INTA EAD


EDUCAçãO FíSICA NA ESCOLA:

CONTEÚDOS E DIDÁTICA DE EDUCAÇÃO FÍSICA


REALIDADE, ASPECTOS LEGAIS E POSSIBILIDADES

Suraya Cristina Darido


LETPEF - Laboratório de Estudos e Trabalhos Pedagógicos em Educação Física
Departamento de Educação Física -UNESP- Rio Claro

1 - COMO ERAM OU AINDA SãO AS AULAS DE EF


NA ESCOLA

VISãO ESPORTIVISTA
A perspectiva esportivista, também denominada de tradicional, tecnicista, competi-
vista, e até mecanicista, se constituiu em uma visão predominante da Educação Física nas
décadas de 1970, 1980 e 1990, e não podemos negar que ela é ainda bastante presente nos
dias atuais.

Betti (1991) ressalta que, de 1969 a 1979, o Brasil observou a ascensão do esporte de-
vido à inclusão do binômio Educação Física/Esporte na planificação estratégica do governo,
muito embora o esporte de alto nível estivesse presente no interior da sociedade desde os
anos 1920 e 1930.

Nessa época, os governos militares, que assumiram o poder em março de 1964, passam
a investir no esporte na tentativa de fazer da Educação Física um sustentáculo ideológico,
na medida em que ela participaria na promoção do país por meio do êxito em competições
de alto nível. Nesse período, a ideia central girava em torno do Brasil-Potência, pretendia-
-se com isso eliminar as críticas internas e deixar transparecer um clima de prosperidade e
desenvolvimento.

De acordo com Soares et al. (1992), a influência do esporte no sistema educacional é tão
forte que não se pode dizer o esporte da escola, mas sim o esporte na escola. Isso indica a
subordinação da educação física aos códigos/sentido da instituição esportiva: esporte olímpico,
sistema desportivo nacional e internacional. Esses códigos podem ser resumidos em: princípios
de rendimento atlético/desportivo, comparação de rendimento, competição, regulamentação
rígida, sucesso no esporte como sinônimo de vitória, racionalização de meios e técnicas etc.

21
É nesta fase da história que o rendimento, a seleção dos mais habilidosos, o fim justi-

CONTEÚDOS E DIDÁTICA DE EDUCAÇÃO FÍSICA


ficando os meios está mais presente no contexto da Educação Física na escola. Os procedi-
mentos empregados são extremamente diretivos, o papel do professor é bastante centraliza-
dor e a prática configura-se como uma repetição mecânica dos movimentos esportivos.

Em crítica a esse momento pelo qual passou a Educação Física na escola, a Coordena-
doria de Estudos e Normas Pedagógica de São Paulo (SÃO PAULO, 1990) considera que, em
relação à metodologia, além dos procedimentos diretivos, as tarefas eram apresentadas de
forma acabada e os alunos deviam executá-las ao mesmo tempo, no mesmo ritmo, despre-
zando os conhecimentos que a criança já construiu, impondo-lhes valores sociais e culturais
distantes da sua realidade.

As principais características das aulas são de:

 destinarem-se apenas aos mais habilidosos ou os muito altos que poderiam


representar a escola e ter sucesso em algumas modalidades esportivas (bas-
quete, vôlei, handebol e futebol);

 excluírem os alunos com dificuldades de aprendizagem ou com alguma de-


ficiências;

 apresentarem-se como práticas, visando ao treino dos fundamentos dos es-


portes: passe, drible, chute, saque etc. Assim, não são disponibilizadas infor-
mações sobre o porquê de determinados movimentos serem realizados, nem
se discute intencionalmente as relações entre o esporte e a sociedade;

 parecerem-se com treinos repetitivos dos fundamentos. Eventualmente, ha-


via a prática de um jogo no final da aula. Em outras palavras, existia mais
tempo de prática dos fundamentos do que do jogo propriamente dito;

 levarem os alunos a realizar alguns exercícios de alongamento e flexibilidade


e corridas em volta da quadra, sem conhecer os porquês ou discutirem as
diferenças individuais entre os alunos;

 determinarem que todos os alunos deveriam cumprir as mesmas tarefas, do


mesmo modo, ao mesmo tempo; e caso isso não ocorresse, os alunos eram
punidos com castigos e sanções;

 não permitirem ou suportarem o erro do aluno. Nesse sentido, se o aluno


arremessa a bola com as duas mãos ou perde a bola leva uma chamada do
professor, no sentido de ter sempre que realizar o movimento conforme uma
técnica prévia;

22
 objetivarem exclusivamente à participação em competições esportivas, ou

CONTEÚDOS E DIDÁTICA DE EDUCAÇÃO FÍSICA


seja, as aulas não eram destinadas à participação ou à aprendizagem do aluno
de uma modalidade a ser empregada no tempo livre de lazer;

 visarem à participação dos alunos em competições esportivas, cujo fim úni-


co é vencer, sem importar exatamente por quais meios. Vale mudar a idade
de jogadores, trazer alunos de outras escolas para jogar; machucar jogadores
adversários, colocar para jogar os alunos que faltam aos treinos em detrimen-
to de quem não falta. Enfim, o que importa é vencer;

Em relação ao processo avaliativo dessas aulas, pôde-se notar que:

 As preocupações enfatizavam a medição, o desempenho das capacidades


físicas, as habilidades motoras e, em alguns casos, o uso das medidas an-
tropométricas. Na escola, o aluno era avaliado por testes físicos ou pelo seu
desempenho nos esportes/basquetebol.

 Os professores de Educação Física detinham-se apenas no resultado final,


no desempenho do aluno no esporte, ou seja, se o aluno(a) dominava os fun-
damentos e as táticas do jogo, independentemente do que sabiam no início.

 Tanto a atribuição da nota, quanto o critério utilizado pelo professor não


eram informados aos alunos. O professor não lhes explicava os objetivos dos
testes e tampouco havia vinculação entre estes e o programa desenvolvido
ao longo do ano.

PRáTICA DO “ROLA BOLA”


Mais recentemente, essas aulas esportivistas foram sendo substituídas por outras em
que os alunos apenas realizam o que desejam. Esse modelo denomina-se frequentemente de
“rola bola”. A principal característica desse modelo é a falta de intervenção sistemática do
professor durante a aula. De acordo com Darido (2003), ele é praticamente um expectador
da aula.

É importante frisar que esse modelo que carece da intervenção sistemática do profes-
sor não ocorre exclusivamente nas aulas de Educação Física. Nas outras disciplinas, o profes-
sor substitui o “rola bola” por “copie da lousa o exercício tal” ou ainda “abra a página do livro
didático e responda às questões”. Certamente na Educação Física, essa falta de intervenção
é mais evidente, pois não temos à disposição os livros didáticos e também porque o espaço
das aulas fica completamente exposto para todos na escola.

23
As principais características desse modelo nas aulas de Educação Física são:

CONTEÚDOS E DIDÁTICA DE EDUCAÇÃO FÍSICA


 Os alunos escolhem a atividade que desejam realizar, em geral os meninos
preferem jogar futebol; as meninas, vôlei ou queimada.

 Os alunos que não desejam realizar a aula ficam tranquilamente sentados


conversando (algumas vezes, com o próprio professor), esperando dar o tem-
po de subirem para outra aula.

 Os meninos costumam ser mais ativos e participarem dos jogos; e as meninas


acabam se excluindo das aulas ou por não se considerarem habilidosas o su-
ficiente, ou por medo de exporem o corpo, ou por receio de ficarem suadas.

 Os mais habilidosos têm a chance de escolherem os times e decidirem quem


joga ou não.

 A nota é dada sem o uso de critérios refletidos e discutidos. O professor,


quando tem a atribuição de dar uma nota, olha para o aluno e escolhe a nota
na hora.

MODELOS RENOVADORES
A partir da década de 1980, mais precisamente, final da década de 1970, a Educação
Física passa a discutir a necessidade de mudanças. Estamos falando de ambientes acadêmi-
cos e universitários, porque na prática concreta essas mudanças demoraram muito mais para
chegar. Por que essas mudanças se iniciaram? Eis algumas razões:

 Inicia-se a discussão do objeto de estudo da Educação Física, se Educação


Física era ou não ciência, se devia estar na universidade ou não.

 São abertos vários programas de mestrado na área.

 A partir de um programa do MEC, vários docentes foram estudar fora do país.


Na década de 1980, eles retornam em diferentes estados e universidades.

 Há um novo panorama político-social resultante da abertura política e da


redemocratização do país (o movimento das Diretas Já).

 Alguns professores de Educação Física passam a cursar o mestrado na área


de Educação.

 Os professores não se sentiam mais à vontade para defender o esporte para


alguns e, ao mesmo tempo, não era preciso defender o homem forte e sem

24
doenças, já que a máquina e as novas tecnologias vinham substituindo o

CONTEÚDOS E DIDÁTICA DE EDUCAÇÃO FÍSICA


trabalho humano.

Nesse período, surgem indagações acerca do que consiste a Educação Física na escola.
Busca-se, então, uma visão renovadora. As principais características dessa nova visão são:

 As aulas devem ser dirigidas a todos os alunos, pois todos têm o direito de
vivenciar e conhecer as práticas da cultura corporal, o que inclui os menos
habilidosos, as meninas, os gordinhos, os asmáticos, os deficientes etc.

 As aulas não são exclusivamente práticas, pois os alunos devem saber o que
estão praticando, as origens, transformações etc. Por isso passa a ser reco-
mendado que o aluno tenha um caderno e um livro para as aulas de Educa-
ção Física escolar.

 O corpo é compreendido em uma visão holística, ou seja, a partir de uma


perspectiva de que não tenho um corpo e sim sou um corpo.

 Os conteúdos extrapolam os esportes tradicionais, devendo ser incluídas, na


escola, aulas de atividades circenses, práticas de relaxamento e autoconheci-
mento, aulas de atividades físicas de aventura etc.

 As metodologias não são diretivas, o professor propõe problemas para os


alunos resolverem.

 A avaliação é processual e considera os avanços individuais que cada aluno


obtém, sem compará-lo a um padrão.

2 - AS INFLUêNCIAS HISTÓRICAS DESSAS PRáTICAS


PEDAGÓGICAS
Esse modo esportivista/tradicional nas aulas de Educação Física tem íntimas relações
com a história da disciplina. Senão vejamos. A introdução da Educação Física oficialmente
na escola ocorreu no Brasil, em 1851, com a reforma Couto Ferraz, embora a preocupação
com a inclusão de exercícios físicos na Europa remonte ao século XVIII, com Guths Muths,
J. J. Rosseau, Pestalozzi e outros (BETTI, 1991).

Em reforma realizada, por Rui Barbosa, em 1882, houve uma recomendação para
que a ginástica fosse obrigatória, para ambos os sexos e que fosse oferecida para as Escolas
Normais. Todavia, a implantação de fato destas leis ocorreu apenas em parte, no Rio de Ja-
neiro (capital da República) e nas escolas militares. No entanto, é apenas a partir da década

25
de 1920 que vários Estados da federação começam a realizar suas reformas educacionais e

CONTEÚDOS E DIDÁTICA DE EDUCAÇÃO FÍSICA


incluem a Educação Física, com o nome mais frequente de ginástica. (BETTI, 1991).

A concepção dominante da Educação Física no seu início é calcada na perspectiva que


muitos autores chamaram de higienismo. Nela, a preocupação central é com os hábitos de hi-
giene e saúde, valorizando o desenvolvimento do físico e da moral, a partir do exercício. Em
função da necessidade de sistematizar a ginástica na escola, surgem os métodos ginásticos.
Os principais foram propostos pelo sueco P. H. Ling, pelo francês Amoros e o alemão Spiess.
Estes autores apresentaram propostas que procuravam valorizar a imagem da ginástica na
escola.

A Educação Física no Brasil, desde o século XIX, foi desenvolvida pelos militares com
o objetivo de formar indivíduos fortes, saudáveis que eram indispensáveis para o processo
de desenvolvimento do país. Esta associação ocorrida entre Educação Física, Educação do
Físico e Saúde Corporal deve-se não só aos militares, mas também aos médicos. Baseados
nos princípios da medicina social de índole higiênica, proclamaram-se a mais competente
categoria profissional para redefinir os padrões de conduta física, moral e intelectual da fa-
mília brasileira. Para cumprir suas atribuições, os higienistas utilizaram a Educação Física,
definindo-lhe como objetivo a criação do corpo saudável, robusto, em oposição ao corpo
relapso, flácido e doentio do indivíduo colonial (CASTELLANI FILHO, 1989; BETTI, 1991).

Bracht (2001) ressalta que a instituição militar utilizava como prática exercícios siste-
matizados que foram ressignificados (no plano civil) pelo conhecimento médico. Isso se deu
por meio de uma perspectiva terapêutica, ou seja, educar o corpo para a produção significa-
va, promover saúde por intermédio de hábitos saudáveis e higiênicos. Essa saúde ou virilida-
de (força) também foi ressignificada em uma perspectiva nacionalista/patriótica.

Assim, o nascimento da Educação Física se deu, por um lado, para cumprir a função
de colaborar na construção de corpos saudáveis, ou melhor, que permitissem uma adequada
adaptação ao processo produtivo ou a uma perspectiva política nacionalista; por outro, pela
necessidade e pelas vantagens de uma intervenção, também legitimada pelo conhecimento
médico-científico do corpo, que referendava essas possibilidades (BRACHT, 2001).

Ambas as concepções higienista e militarista da Educação Física consideravam a Edu-


cação Física como disciplina essencialmente prática, não necessitando, portanto, de uma
fundamentação teórica que lhe desse suporte. Por isso, não havia distinção evidente entre a
Educação Física e a instrução física militar. Para ensinar Educação Física, não era preciso
dominar conhecimentos e sim ter sido um ex-praticante.

26
O modelo esportivista é muito criticado pelos meios acadêmicos, principalmente a

CONTEÚDOS E DIDÁTICA DE EDUCAÇÃO FÍSICA


partir da década de 1980, embora esta concepção ainda esteja bastante presente na sociedade
e na escola.

Também é verdade que, em alguns casos, a crítica excessiva ao esporte de rendimen-


to voltou-se para o outro extremo, ou seja, assistimos ao desenvolvimento de um modelo
em que os alunos decidem o que farão na aula, escolhendo o jogo e a forma como querem
praticá-lo. O papel do professor se restringe a oferecer uma bola e marcar o tempo, assim ele
praticamente não intervém.

Esta é uma prática igualmente condenável, pois se desconsidera a importância dos


procedimentos pedagógicos dos professores. Em um paralelo, poderíamos questionar se os
alunos são capazes de aprender o conhecimento histórico, geográfico ou matemático sem a
intervenção ativa dos professores.

Este modelo, algumas vezes chamado de recreacionista (KUNZ, 2004), nesse texto
preferimos intitular de “rola-bola”, aconteceu por várias razões, entre elas faz-se necessário
destacar duas:

1ª – o discurso acadêmico passou muitos anos discutindo o que não fazer


nas aulas de Educação Física, mas se esqueceu de apresentar propostas
viáveis e exequíveis para a prática;

2ª – ausência de políticas públicas que facilitassem de fato o trabalho do


professor, como condições de trabalho, espaço, material adequado, políti-
cas salariais e, principalmente, de apoio às ações de formação continuada.
Além disso, pode-se aventar a força que o esporte tem na nossa sociedade,
influenciando todo o imaginário de professores, alunos e atores escolares,
que acabam criando resistência para compreender Educação Física fora da
expectativa do esporte.

3 - EDUCAçãO FíSICA: ALGUNS ASPECTOS LEGAIS E


A QUESTãO DO ESTATUTO DA DISCIPLINA
Você já foi dispensado ou já conheceu alguém que já foi dispensado das aulas de Edu-
cação Física na escola? Você já foi dispensado ou já conheceu alguém que foi dispensado das
aulas de alguma outra disciplina (qualquer outra que não seja a de Educação Física) em toda
a sua vida escolar?

27
Por que será que as dispensas só podem ocorrer nas aulas de Educação Física?

CONTEÚDOS E DIDÁTICA DE EDUCAÇÃO FÍSICA


A VISãO DUALISTA DE CORPO
Gonçalves (2007) aponta que, ao longo da história humana, houve inúmeras variações
nas concepções, nas formas de tratar o corpo e de se comportar, que revelam as relações do
corpo com um determinado contexto social. Assim, mudam-se as formas de andar, correr,
nadar; variam-se os movimentos expressivos como posturas, gestos, expressões faciais, bem
como as ideias e os sentimentos sobre a aparência do próprio corpo (pudor, vergonha, bele-
za). Esses aspectos alteram-se de sociedade para sociedade, como também dentro da mesma
sociedade, conforme sexo, religião, classe social e outros fatores socioculturais.

Para Santin (2002), a consagração do método e das teses cartesianas, tanto na filosofia,
como nas outras ciências humanas, levou os estudiosos a concentrarem toda a sua atenção
sobre as faculdades cognitivas do ser humano. O grande tema consistia em assegurar a legiti-
midade de o homem chegar à verdade pelos caminhos da razão. Assim, o corpo foi entregue
aos cientistas que passaram a tratá-lo como qualquer outro objeto das ciências experimentais.

De acordo com Tardif e Lessard (2007), a escola tradicional se dirige antes de tudo à
“cabeça” dos alunos. De acordo com os autores, é justamente por este motivo que a Educação
Física, na medida em que tem o corpo por objeto de práticas escolares, sempre teve a maior
parte do tempo um papel ambíguo com o objetivo de controlar este corpo. Apesar da neces-
sidade de relativizarmos o dualismo cartesiano presente na citação anterior, temos ciência de
que essas considerações podem indicar a imagem comumente assumida em relação ao papel
da Educação Física na escola. Essa reflexão nos leva a assumir que o estatuto da Educação
Física no contexto escolar não se equipara ao das demais disciplinas.

Freire (1989) também lembra que o dualismo cartesiano está bastante presente nas
escolas que valorizam a mente e a mobilizam, deixando o corpo reduzido a um estorvo ou à
condição de silêncio e imobilidade, pois quanto mais quieto menos atrapalhará.

DISPENSAS
Ao longo da trajetória da Educação Física na escola, uma série de possibilidades que
permitiram aos alunos solicitarem dispensas das aulas foi aberta. Mais especificamente, es-
sas leis foram aprovadas nas décadas de 1960 e 1970. Elas admitiam que alunos com proble-
mas de saúde, que servissem no exército, possuíssem filhos (prole), trabalhassem e tivessem
mais que trinta anos fossem liberados das aulas de Educação Física escolar.

28
Essas práticas de dispensa eram ou podiam ser respaldadas pelo fato da Educação

CONTEÚDOS E DIDÁTICA DE EDUCAÇÃO FÍSICA


Física ser considerada na lei como atividade e não disciplina como as demais áreas que com-
põem o currículo escolar. Para alguns autores, essa consideração compreendia a Educação
Física como prática pela prática, sem necessidade de uma estruturação dos seus conteúdos.

Na primeira Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional – Lei nº 4024 de 20 de


dezembro de 1961 –, a Educação Física é contemplada no artigo 22, cujo texto é redigido da
seguinte forma: “Será obrigatória a prática da educação física nos cursos primário e médio,
até a idade de 18 anos” (BRASIL, 1961).

O caráter da Educação Física presente nesta legislação estava diretamente relaciona-


do à capacitação física do aluno, visando formar o futuro trabalhador com saúde que seria
fundamental para o processo de industrialização vivido pelo país naquele período. A própria
limitação com relação aos 18 anos de idade indica uma interrupção da necessidade da Edu-
cação Física e, consequentemente, de exercícios físicos que causariam desgaste ou exaustão
no período em que os indivíduos, supostamente, necessitariam de um maior aporte energéti-
co em função de sua inserção no mercado de trabalho.

A LDB é revista, com a reforma educacional proposta 10 anos depois de sua criação,
por meio da Lei nº 5692 de 11 de agosto de 1971 (BRASIL, 1971). De acordo com Castellani
Filho (1997), esta lei deixa de fazer referência ao limite de idade da prática da Educação Físi-
ca, optando por regulamentar a questão por outro mecanismo, que é posto em prática naquele
mesmo ano, pela promulgação do Decreto nº 69450 de 1º de novembro, que aludia nos quatro
incisos de seu artigo 6º às condições que facultavam ao aluno a prática da Educação Física,
com base na seguinte redação:

Em qualquer nível de todos os sistemas de ensino, é facultativa a participa-


ção nas atividades físicas programadas: a) aos alunos do curso noturno que
comprovarem, mediante carteira profissional ou funcional, devidamente
assinada, exercer emprego remunerado em jornada igual ou superior a seis
horas; b) aos alunos maiores de 30 anos de idade; c) aos alunos que esti-
verem prestando serviço militar na tropa; d) aos alunos amparados pelo
Decreto-lei 1044 de 21 de outubro de 1969, mediante laudo do médico
assistente do estabelecimento. (CASTELLANI FILHO, 1997, p. 21).

Segundo Castellani Filho (1997), a facultatividade da Educação Física aos alunos do


período noturno que comprovassem vínculo empregatício logo foi estendida aos alunos do
turno diurno. Esse fato reforçava a lógica de que, estando o aluno já integrado ao mercado
de trabalho, não caberia mais à escola, mas sim ao próprio mercado, a responsabilidade pela
capacitação e manutenção de sua força de trabalho.

29
De acordo com o autor, seis anos mais tarde, outras duas alíneas foram anexadas,

CONTEÚDOS E DIDÁTICA DE EDUCAÇÃO FÍSICA


dispensando das aulas de Educação Física os alunos que frequentassem os cursos de pós-
-graduação. Essa determinação reforçou a tese de que a Educação Física não guarda qual-
quer tipo de relação com as “atividades intelectuais”. Uma última alínea foi acrescentada, ela
facultava à mulher que tivesse prole a prática da Educação Física, legitimando o pressuposto
de que a criação dos filhos caberia exclusivamente à mulher, enquanto ao homem caberia a
responsabilidade de prover o sustento do lar.

Além disso, de acordo com Silva e Venâncio (2005), nessa época, a Educação Física
era considerada uma mera atividade extracurricular, não sendo, portanto, identificada como
parte integrante do currículo escolar, como uma disciplina acadêmica.

Assim, ao longo da trajetória da Educação Física na escola foi aberta uma série de
possibilidades que permitiram aos alunos solicitarem dispensas das aulas. Essas práticas de
dispensa eram ou podiam ser respaldadas pelo fato da Educação Física ser considerada na
lei como atividade e não disciplina, como as demais áreas que compõem o currículo escolar.
Para alguns autores, essa consideração compreendia a Educação Física como prática pela
prática, sem necessidade de uma estruturação dos seus conteúdos.

A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, aprovada em 17 de dezembro de


1996 (LDB – 9394/96), trouxe em seu texto, referente à Educação Física, a seguinte redação
em seu artigo 26, parágrafo 3º: “A educação física, integrada à proposta pedagógica da es-
cola, é componente curricular da Educação Básica, ajustando-se às faixas etárias e às condi-
ções da população escolar, sendo facultativa nos cursos noturnos” (BRASIL, 1996).

A aprovação da Lei de Diretrizes e Bases (9394/96) muda consideravelmente o cená-


rio para a Educação Física, uma vez que propôs considerá-la como componente curricular,
assim como todas as demais disciplinas do currículo. Essa mudança apontou para avanços
significativos, pelo menos perante a legislação, pois permitiu vislumbrar uma Educação Fí-
sica diferente da praticada até então.

Em contrapartida, a mesma lei de 1996 aprova a facultatividade da Educação Física


nos cursos noturnos, o que indicava ainda algum resquício das concepções que orientavam
as LDBs de 1961 e 1971. Significava, então, que o aluno do ensino noturno não tinha neces-
sidade de conhecer os aspectos da cultura corporal.

Na intenção de modificar este quadro, em 01 de dezembro de 2003, a facultatividade


foi alterada, por meio da Lei nº 10793. Essa Lei alterou a redação do art. 26, § 3º, e o art. 92
da Lei 9294, de 20 de dezembro de 1996. Desse modo, ficou determinado que as aulas de
Educação Física seriam facultativas ao aluno que, independente do período em que estudas-
se, se enquadrasse em algumas das seguintes condições previstas:

30
I – que cumpra jornada de trabalho igual ou superior a seis horas; II –

CONTEÚDOS E DIDÁTICA DE EDUCAÇÃO FÍSICA


maior de trinta anos de idade; III – que estiver prestando serviço militar
inicial ou que, em situação similar, estiver obrigado à prática da educação
física; IV – amparado pelo Decreto-Lei no 1.044, de 21 de outubro de
1969; V – (VETADO) VI – que tenha prole. (BRASIL, 2003).

Ao contrário da discussão realizada até o momento, na qual se defende a inclusão de


todos os alunos, a lei aprovada tem uma visão bastante excludente do papel da Educação Fí-
sica na escola. Na verdade, retomam-se os pressupostos de corpo exclusivamente biológico,
homogêneo, cansado do trabalho, velho ou doente, que não tem condições para realizar as
aulas da escola.

Pelo exposto, faz-se necessário refletir acerca das seguintes questões:

 Qual a razão da lei das dispensas retornarem no ano de 2003?

 Como devem ser interpretadas essas dispensas?

 As dispensas são das aulas ou das práticas da Educação Física na escola?

 Quais são as consequências das dispensas para o imaginário social dos ato-
res escolares e para a comunidade em geral?

 Como os professores de Educação Física se sentem perante essas dispensas?


Como lidam com elas no cotidiano escolar?

 Quantos alunos têm se utilizado delas? Em quais situações?

Alguns fatores podem ser considerados determinantes para a cristalização desta “cul-
tura das dispensas”. De acordo com Souza Jr. e Darido (2009), as mais significativas são:

 Aulas fora do período escolar: as aulas de Educação Física em algumas


escolas são oferecidas fora da grade horária dos demais componentes curri-
culares (as do Ensino Fundamental são na grade). Isso dificulta o acesso dos
alunos que precisam retornar à escola no período contrário, fazendo com que
a Educação Física dispute espaço com as demais atividades extracurricula-
res exercidas por estes alunos, como cursos (informática, idiomas, reforço
escolar etc.), atividades de lazer, esportes, ginástica de academias, trabalho,
entre outros.

 Critérios e controle muito frágeis para a triagem das dispensas: os alu-


nos são dispensados com a simples apresentação dos atestados médicos ou
de trabalho, sem uma triagem mais criteriosa por parte dos professores ou

31
CONTEÚDOS E DIDÁTICA DE EDUCAÇÃO FÍSICA
da equipe pedagógica do colégio, que tivesse como objetivo diagnosticar as
verdadeiras causas das dispensas e avaliar as possibilidades de integrar estes
alunos à disciplina. Um exemplo da fragilidade destes critérios refere-se às
dispensas concedidas a alunos que apresentassem algum tipo de atestado
médico, no qual o médico indicasse a necessidade de dispensar o aluno das
aulas de Educação Física.

 Inexistência de notas bimestrais para os alunos dispensados: os alunos


dispensados das aulas de Educação Física não recebem qualquer tipo de ava-
liação ou nota referente à disciplina. Com isso, é como se a disciplina não
existisse para estes alunos.

 Propagação de uma cultura, que era passada de “geração para geração”,


de que as dispensas eram “naturais”: quando nos referimos à passagem de
geração para geração, estamos fazendo uma alusão à perpetuação da cultura
da dispensa dos alunos que já estão no Ensino Médio, transmitindo para os
alunos que vêm do Ensino Fundamental quais são os caminhos para se obter
a dispensa. Com isso, o sistema mostrava-se viciado, na medida em que o
ciclo se renovava a cada ano, sustentado principalmente por uma conivência
de todos os atores que participavam deste contexto.

 Falta de clareza da legislação: a falta de argumentos consistentes e, princi-


palmente, a incoerência da legislação que regulamenta as dispensas nas aulas
de Educação Física acaba por impossibilitar ações mais incisivas que possam
coibir este mecanismo permitido pela LDB brasileira.

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BRACHT, V. Saber e fazer pedagógicos: acerca da legimitidade da educação física como componente curri-
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BRASIL. Ministério de Educação. Decreto-Lei nº 1.044, de 21 de outubro de 1969. Dispõe sobre tratamen-
to excepcional para os alunos portadores das afecções que indica. Presidência da República – Casa Civil –
Subchefia de Assuntos Jurídicos. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/Del1044.
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32
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33
capa

Educação Física
Escolar
o retorno da obrigatoriedade é uma vitória
que resgata a função primordial da
disciplina: formar cidadãos
Entende-se a Educação Física Escolar como uma disci-
plina que introduz e integra o aluno na cultura corporal
de movimento, formando o cidadão que vai produzi-la,
reproduzi-la e transformá-la, capacitando-o para usu-
fruir os jogos, os esportes, as danças, as lutas e as ginás-
ticas em benefício do exercício crítico da cidadania e da
melhoria da qualidade de vida.

Ao contrário da Lei nº 5.692, que explicitava a obrigato-


riedade da Educação Física Escolar em todos os níveis e
ciclos do ensino de primeiro e segundo graus, a atual LDB
(Lei nº 9.394/96) em seu parágrafo terceiro, art. 26, refere-
se a Educação Física como componente curricular integra-
do à proposta pedagógica da escola, diferente do tratamen-
to que é dado às Artes, no parágrafo segundo, que especifi-
ca a sua obrigatoriedade.

Cabe ressaltar a dinamização do trabalho dos professores


no sentido de tornar a Educação Física Escolar interessante
para os alunos, fazendo com que ela tenha objetivo e finali-
dades definidas e contribua para a formação dos jovens,
atuando de forma interdisciplinar nas escolas.

Contudo está se deixando de levar em conta o contexto


histórico do processo, os anos de existência da disciplina e
o despreparo dos professores para atuar da forma definida
4
pela LDB. Não se levou em conta que a maio- ca permanente.
ria das atividades desenvolvidas nas escolas
são as práticas, com pouca ou nenhuma No artigo “Educação Física no ensino funda-
reflexão por parte dos alunos sobre o signifi- mental: a percepção de alunas e alunos refe-
cado da disciplina, ou da necessidade de rente a alguns aspectos de suas aulas na séti-
atividades físicas como uma forma de vida ma e oitava séries”, de José Guilmar Mariz
ativa e sua contribuição para a vida diária do de Oliveira (CREf00044-G/RJ), no qual as
cidadão. As aulas de Educação Física eram respostas a uma pesquisa indicaram que os
dinamizadas sob a égide da Legislação, que alunos perceberam as aulas de Educação
estabelecia como norte a aptidão física e a Física na 7ª série de maneira mais positiva do
iniciação desportiva, como se as escolas que os da 8ª série. Os resultados são compa-
oficiais e a maioria das privadas oferecessem tíveis com observações encontradas em
condições para este fim. literatura correlata, que registrou a percep-
ção de alunas e alunos sobre suas aulas de
Desinteresse Educação Física como sendo menos positi-
va, de acordo com o avanço no nível de esco-
Inúmeros trabalhos e pesquisas indicam que laridade.
a disciplina Educação Física Escolar vem se
baseando uma prática excludente, muitas Relacionados com esses interesses, alguns
vezes voltada para a formação de equipes trabalhos apontaram para:
desportivas representativas das escolas,
vista pelos alunos como uma prática recrea- • A diminuição da participação, entusiasmo
tiva, como uma forma de “quebrar” o e interesse nas aulas de Educação Física, das
tempo do ensino intelectual. primeiras para as últimas séries do ensino
fundamental (Corbin, 1981, e de Ross &
O estudo realizado por mestrando em Gilbert, 1985).
Educação Física e Cultura da UGF/RJ, sob o
título “As aulas de Educação Física Escolar • A percepção de aspectos negativos das
sob a ótica de seus atores”, investiga como aulas de Educação Física, tidas como deses-
os alunos concebem a Educação Física como timulantes, cansativas, repetitivas, desinte-
disciplina curricular. Os resultados permiti- ressantes e desorganizadas, mais acentua-
ram identificar que é grande a parcela de dos em correspondência com o avanço no
alunos que afirmam que: nível de escolarização (Betti, 1995; Brito,
190; Espit, 1990);
• A Educação Física não possui relevância
para manter-se no âmbito escolar; • O registro de aspectos positivos e negati-
vos das aulas de Educação Física de 5ª a 8ª
• A Educação Física ministra conteúdos séries do ensino fundamental, encontrando-
repetitivos e sem aplicabilidade no cotidia- se referências a aulas repetitivas, monóto-
no; nas, sem atração, não interessantes e desne-
cessárias (Aguiar, 1987; Kobal, 1995).
• A Educação Física não motiva para a práti-
5
A Educação Física no Brasil foi pensada enquan-
to prática nas escolas com propósitos profiláti-
cos, morais e culturais. Por falta até mesmo de
formação adequada muitos professores – cha-
mados no passado de “instrutores” – aplicavam
para crianças exercícios praticados nos quar-
téis.

Entre os profissionais, sempre houve contro-


vérsias quanto ao tipo de atividades físicas que
deveriam ser ministradas para escolares. Havia
aqueles que defendiam os exercícios ginásticos
e, de outro lado, os que destacavam a re-
creação. Não é de hoje que se manifestam dis-
cursos a respeito da importância da Educação
Física Escolar como uma questão de prevenção
da saúde. Azevedo (1920) apontava para a
Educação Física uma intervenção social, de
• A não diferenciação, em termos de importân- modo a ensinar hábitos de higiene aos alunos e,
cia das aulas, entre alunos de 5ª e 8ª séries (Ros- ao mesmo tempo, a desenvolver um corpo
sini, 1990). sadio.

Pronunciamentos de Juízes e Promotores em São 80 anos pregando para que os alunos enten-
algumas ações em que o CONFEF tem sido dam a relevância da Educação Física Escolar,
arrolado, dão conta que a Educação Física mas, pelo visto, ficou apenas a exigência prática
Escolar não tem sido capaz de convencer a so- de promover recreação. A prática pela prática.
ciedade sobre a importância de sua presença na
escola. A concepção ainda é a de que Educação Educação Física e Desporto
Física na escola se resume a correr, jogar bola,
fazer ginástica e brincar. A partir dos anos 70, aplica-se uma política ofi-
cial de expansão da prática do desporto, o que
Refletir para mudar se tornou um novo paradigma para toda a
Educação Física. Naquele período, confunde-se
O primeiro ato concreto para a promoção de Educação Física com o desporto, chegando
mudanças seria traçar um diagnóstico, reconhe- mesmo, em alguns casos, a serem considerados
cer os diversos momentos históricos e as práti- sinônimos. O Plano Nacional de Educação
cas dinamizadas e revolucionar o processo. É Física e Desporto para o período de 1976 a
preciso sair da paralisia, encarar a questão e 1979 é uma prova disso e traz as seguintes
partir para apresentar alternativas, promover observações:
Fóruns, Seminários e Congressos com os pro-
fessores, analisando profundamente os proble- “...a atividade física é hoje considerada como um
mas, com atualizações e reciclagens para uma meio educativo privilegiado, porque abrange o ser
retomada de posição. na sua totalidade. O caráter de unidade da educa-
ção, por meio das atividades físicas, é reconhecido
6
universalmente. Ela objetiva o equilíbrio e a saúde do
"Foi um erro tornar a
corpo, a aptidão física para a ação e o desenvolvimento
dos valores morais. Sob a denominação comum de edu- Educação Física uma matéria
cação física e desportiva o consenso mundial reúne
todas as atividades físicas dosadas e programadas, que
facultativa, pois ela é
embora pareçam idênticas na sua base, têm finalidade fundamental para a
e meios diferenciados e específicos. O meio específico
da educação física é a atividade física sistemática, con- massificaçao do esporte."
cebida para exercitar, treinar e aperfeiçoar. De acordo Carlos Melles
com a intenção principal que anima a atividade físicas, em entrevista para o Jornal ESTADO DE MINAS,
ela se desdobra em exercícios educativos propriamente do dia 18 de agosto de 2000. Caderno de Esportes.
ditos, os jogos e os desportos. Face à informalidade de
que se reveste sua prática, os jogos e os desportos têm Ontem e hoje
um poder maior de mobilização que os exercícios edu-
cativos, sendo recomendável, portanto para melhor A Educação Física Escolar passou por diversos
eficácia da educação física a integração das formas” momentos, teve certa importância política, reco-
nhecimento legal, mas cabe indagar por que ela não
O Plano apresentava ainda algumas diferenças em foi capaz de se consolidar, se legitimar como discipli-
relação à Lei nº 6.251/75, que tratava da Política na na escola, junto aos pais e aos demais professores.
Nacional de Educação Física e Desportos, dando
uma direção à prática desportiva de forma mais A Educação Física é oferecida na escola há muitos
explícita. De acordo com seu art. 5º, o Poder anos, sua prática foi calcada em ginástica e recreação
Executivo definiria a Política Nacional de Educação e os objetivos definidos eram voltados para a cons-
Física e Desportos, com os seguintes objetivos bási- trução de uma cultura que levasse o aluno a entender
cos: a importância daquela prática.

• Aprimoramento da aptidão física da população; O que ficou faltando para que os alunos, hoje adul-
tos, mantivessem sua vida ativa e tivessem uma leitu-
• Elevação do nível dos desportos em todas as áreas; ra e compreensão diferente daquela que nos mos-
tram como sendo uma disciplina segregacionista,
• Implantação e intensificação da prática dos despor- elitista, excludente e promovida através de exercí-
tos de massa; cios estereotipados? O que fez com que não com-
preendessem de fato o porquê da disciplina na esco-
• Elevação do nível técnico-desportivo das repre- la, a não ser como intervalo das aulas teóricas, onde
sentações nacionais; podiam gastar um pouco de energia, mudar a rotina
escolar, ter um tempo de lazer? Na verdade essas
• Difusão dos desportos como forma de utilização foram as impressões que a Educação Física passou
do tempo de lazer. para os adultos de hoje. É assim que os Profissionais
de Educação Física são vistos por Juízes, Secretários
O Plano dava destaque ao conteúdo esportivo, de Educação e de Esporte, a despeito do discurso
sobretudo aos aspectos educacional e formativo. Na formal de que é na escola que devemos construir
prática, acabou vingando o desenvolvimento do des- uma cultura para uma vida ativa e que esta deva con-
porto em si. tribuir para a construção da cidadania plena.

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Qual a justificativa apontada para a disciplina ser pro- Novas diretrizes, nova cultura
movida uma, duas ou três vezes na semana? Qual o
argumento para sua permanência enquanto fator Desde 1996, quando da promulgação da LDB, não
contribuinte na interdisciplinaridade e na formação há mais determinação de carga horária das discipli-
dos alunos? nas. A escola é que constrói seu projeto pedagógico
e define a carga horária de cada uma. Portanto, é o
Essas questões são do conhecimento da categoria professor de Educação Física que deve justificar a
profissional, da academia, do segmento da área cien- permanência da sua disciplina no currículo e apre-
tifica há muito tempo. Apesar disso, não estão sendo sentar sua finalidade, argumentando e convencendo
devidamente debatidas e tratadas para que se firme a comunidade da quantidade de sessões a ser ofere-
uma nova postura para a Educação Física Escolar, cida na escola. Isto representa uma ruptura muito
com o objetivo de estabelecer argumentos sólidos brusca e pegou desprevenidos os professores esco-
para que ela possa ser defendida junto aos poderes lares, que sempre estiveram sob a capa protetora da
Executivo e Legislativo, calcados em nossa realidade obrigatoriedade, sem que tivessem que se preocu-
e conjuntura. par em demonstrar para os pais, para o corpo

Se no geral a situação da Educação Física Escolar não é confor-


tável, nas escolas públicas as dificuldades parecem ainda maio-
DEPOIMENTO

res. O Prof. Alfredo Melhem (CREF 005257-G/RJ) ressalta a


precariedade das condições de trabalho, mas alerta que tam-
bém existe uma certa falta de compromisso e acomodação de
muitos profissionais que atuam nesta área.

Outro aspecto que aponta, é a influência que a mídia e a sua


estética, que padronizou um modelo corporal, exercem sobre
jovens e adolescentes. “Os 97% da população mundial que não
se encaixam neste modelo preconcebido tornam-se infelizes”,
adverte.

O Prof. Alfredo acrescenta: “No campo da saúde, a Educação


Física Escolar apresenta um aspecto extremamente produtivo,
que é o preventivo, pois quanto mais precocemente o corpo
for trabalhado com uma visão global, certamente estaremos
prevenindo muitas enfermidades, principalmente as relaciona-
das aos problemas psicossociais.”

Ele aposta numa melhor qualificação, através dos cursos de


mestrado e doutorado, que ampliem horizontes e façam com
que a Educação Física Escolar passe a ser parte do projeto peda-
gógico da escola e deixe de ser encarada como uma disciplina
estanque.

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É o professor de Educação Física que deve
justificar a permanência da sua disciplina no
currículo e apresentar sua finalidade, argumentando
e convencendo a comunidade da quantidade de sessões
a ser oferecida na escola.
docente e até mesmo para os alunos sua finalidade e mativos, cabendo à escola construir seu próprio cur-
sua importância para o futuro da sociedade. rículo de acordo com a realidade da comunidade.

A realização de atividades físicas ganha maior rele- Desafios


vância a cada dia. O esporte continua sendo a grande
manifestação da humanidade, como espetáculo ou Como lidar com esse novo desafio após tantos anos
como forma de lazer. Proliferam academias de ginás- sob o guarda-chuva da obrigatoriedade? Não há mais
tica e é crescente o número de adeptos das ativida- tempo a perder. Esta nova realidade e seus desafios
des físicas, mas na escola a Educação Física está já estão presentes nas escolas. É preciso promover
sofrendo um grande impacto. A disciplina despresti- Encontros, Seminários e Fóruns em parceria com as
giada, sem finalidade definida, perde espaço e os APEFs, com as Secretarias de Educação e com as
exemplos de sua prática, de modo geral, a desabona instituições da rede particular de ensino, contando
e complica sua posição no contexto educacional. com o apoio do Sistema CONFEF/CREFs.

Em contrapartida, as escolas que oferecem o espor- A Educação Física atravessa um momento crucial. A
te, a iniciação desportiva, Convênios com clubes e LDB é muito clara em relação a intenção de que a
academias têm uma maior freqüência e ganham um Educação Física seja apenas uma prática esportiva e
enorme interesse por parte dos alunos e jovens. não uma disciplina inserida no contexto pedagógico
Significa dizer que os jovens vêem a Educação Física e formativo da cidadania, com a finalidade de explicar
como uma atividade prática? Ou que pela difusão da a corporeidade, o sentido da qualidade de vida atra-
mídia se interessam pela prática de atividades físicas, vés de um estilo de vida ativo, que ofereça algumas
mas não a da escola, que não atende às expectativas vivências temáticas para que os alunos possam expe-
do que se procura? Por que se perdeu esse espaço na rimentar exercícios e práticas. A disciplina não pode
escola? estar calcada, nem justificada na prática, mas sim,
pela sua finalidade. Aí, mais uma vez, reaparece o
Daqui por diante não haverá mais determinação de dilema: qual a finalidade da Educação Física Escolar?
quantitativo de sessões semanais em nenhuma disci- Quando pudermos responder a esta pergunta esta-
plina, as Secretarias de Educação e Conselhos de remos aptos também a defender o quantitativo de
Educação não são mais órgãos diretivos e sim nor- aulas semanais a ser oferecida.

Educação Física Escolar é Saúde


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Os Profissionais do Ensino Fundamental do Colégio Marista, de
Brasília, não perderam tempo e já discutem saídas para os novos

DEPOIMENTO
desafios da Educação Física Escolar. É verdade que o Colégio ofe-
rece uma boa estrutura, com local e todo o material necessário e
procura adequar suas atividades a cada faixa etária. Mas isso nem
de longe é motivo para uma acomodação de seus mestres.

Através de pesquisa realizada no Colégio, foi possível detectar as


reações dos alunos das diferentes faixas etárias sobre a Educação
Física Escolar. Os pequeninos apontaram a prática da Educação
Física como muito positiva, demonstrando muito interesse e ale-
gria pelas aulas. Na faixa que vai de 9 a 12 anos ficou evidente que
existe grande valorização e aceitação da disciplina, com destaque
para o prazer do jogo. Já na adolescência dos 14 aos 17 anos os
alunos colocam alguns obstáculos à Educação Física, devido às
dificuldades emocionais, às mudanças hormonais e até ao modis-
mo, bastante comum, nesta fase da vida.

“Temos que trabalhar para mudar a maneira de encarar a atividade


física na escola. Ela deve ser vista não como uma obrigação e sim
como necessidade para a manutenção da saúde, do bom funciona-
mento do corpo humano, como meio de alcançar uma qualidade
de vida melhor, melhorando a auto-estima, a sociabilidade e muito
mais”, recomenda o Prof. Hermínio Sotero (CREF 000327-
G/DF), Coordenador de Educação Física do Colégio.

Ele aposta na importância da prática da Educação Física em todas


as faixas etárias para o desenvolvimento integral do ser humano,
valorizando o seu corpo e os dos demais.

O Prof. Sotero e sua equipe estão convencidos de que é preciso


adequar o currículo dos cursos de Educação Física à nova realida-
de e às necessidades da sociedade, além de fortalecer a consciên-
cia profissional dos novos professores sobre a importância de seu
trabalho para a vida do ser humano.

Não se trata de uma missão simples. Ainda vivemos O problema não será revertido pela legalidade, pois
sob a influência de antigos paradigmas e a cultura de não há mais nenhum amparo legal para determinar a
aptidão física, iniciação desportiva, formação de equi- obrigatoriedade de duas ou três aulas semanais. Não
pes representativas, apesar de todo um discurso de se pode ficar aguardando que os Legisladores aten-
inclusão, de interdisciplinaridade e da importância da dam apelos dos profissionais e promulguem Leis que
Educação Física para a formação integral. tornem a Educação Física Escolar obrigatória em

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todos os níveis e ciclos de ensino, o que esbarraria antes dos próximos cinco anos. Enquanto isso, é
em inconstitucionalidade, uma vez que, nenhuma preciso agir para manter a Educação Física viva,
disciplina terá tratamento diferenciado. dando oportunidade a que essa nova geração modifi-
que o status quo vigente.
"Pai, amanhã, eu não posso
O papel do Sistema CONFEF/CREFs
faltar a escola. Amanhã, tem
Educação Física." O Sistema CONFEF/CREFs tem procurado atender
Gabriel Marandino (8 anos) a solicitação e a cobrança da maioria dos professores
pela manutenção da obrigatoriedade do ensino de
A Resolução CNE nº 01/2002 prevê que a formação, Educação Física na escola. Através do trabalho arti-
a partir da homologação do Parecer nº 09/01 do culado pelo Sistema CONFEF/CREFs, os Ministros
CNE, que aprovou as diretrizes curriculares para os da Educação e do Esporte assinaram Portaria con-
professores do Ensino Básico, será em curso especí- junta defendendo a obrigatoriedade da Educação
fico de Licenciatura, ou seja, aqueles que desejarem Física. O Ministro da Educação já se pronunciou no
atuar na escola deverão ser aprovados em vestibular sentido de que a Educação Física é obrigatória no
para curso de Licenciatura. Ao mesmo tempo em Ensino Básico e foi promulgada a Lei nº 10.328, de 12
que surgirá uma nova geração de professores para o de Dezembro de 2001, que insere a palavra “obriga-
Ensino Básico mais preparada para lidar com as ques- tória” no parágrafo 3º, do art. 26, da LDB. Ainda
tões da escola, mais voltada, explicitamente, para o assim, estas manifestações são insuficientes, visto
aluno, sua formação integral e a construção da cida- que, em se tratando de questões legais, há sempre
dania, este novo professor não estará disponível controvérsias.

Marion Greve (CREF 003723-G/RJ) com as crianças da Aldeia Infantil SOS Brasil •
trabalho voluntário desenvolvendo a auto-estima e a cidadania (Jornal do CONFEF)

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O CONFEF tem atuado junto às Secretarias e os objetivos do esporte, da dança, da luta e da ginás-
Conselhos Estaduais de Educação, argumentando e tica profissionais. Embora sejam uma fonte de infor-
solicitando que, pelo menos, ao longo dos próximos mações, não podem transformar-se em meta a ser
seis a sete anos, se mantenha a obrigatoriedade da almejada pela escola, como se fossem fins em si mes-
disciplina em todos os níveis e ciclos do Ensino mos.
Básico. Há necessidade de um tempo de adaptação à
nova conjuntura, tempo de formar uma nova gera-
ção de profissionais e tempo de atualizar os profes- A Educação Física é a
sores que já estão no mercado de trabalho para a
nova Legislação em vigor. Em diversos Estados há
única disciplina capaz
uma compreensão a este respeito, por parte dos de abrir um canal
Dirigentes na área da Educação, contudo, sempre
lembrando que os pais, os alunos e os professores verdadeiro de diálogo
preferem a aplicação da prática desportiva. Tem sido
necessário um grande esforço para esclarecer e sen- com os adolescentes
sibilizar esses agentes/atores para o que está sendo
pregado como objetivo de a Educação Física Escolar:
Alfredo Melhem
a formação dos jovens, o preparo para o trabalho e a
cidadania, a sensibilização e entendimento de imple- A Educação Física Escolar deve dar oportunidades a
mentar uma vida ativa como fator de bem-estar e todos os alunos para que desenvolvam suas potenci-
qualidade de vida, a compreensão do que é o corpo, alidades, de forma democrática e não seletiva, visan-
como este se movimenta, como se relaciona e se do seu aprimoramento como seres humanos. Cabe
expressa na sociedade. É imprescindível para que a assinalar que os alunos portadores de necessidades
Educação Física esteja em consonância com a educa- especiais não podem ser privados das aulas de
ção escolar, promover conteúdos agradáveis, inte- Educação Física.
ressantes, voltados para o atendimento das finalida-
des da formação. Seja qual for o objeto de conhecimento em questão,
os processos de ensino e aprendizagem devem con-
O desafio está no aprofundamento da legitimação e siderar as características dos alunos em todas as suas
justificativa da disciplina Educação Física Escolar. dimensões: cognitiva, corporal, afetiva, ética, estéti-
Não há mais como aguardar ou apenas buscar sub- ca, de relação interpessoal e inserção social.
terfúgios legais que determinem a obrigatoriedade
da Educação Física em todos os níveis de ensino. A hora é agora. Não é mais possível ficar entre a espe-
rança e o desespero. É preciso recuperar o terreno,
É fundamental também que se faça uma clara distin- as APEFs aprofundarem os debates e os professores
ção entre os objetivos da Educação Física Escolar e perceberem o novo momento.

Educação Física Escolar é um direito


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