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Resumo:
O artigo visa discutir a colaboração dos grandes estúdios cinematográficos
norte-americanos nos projetos desenvolvidos pelo governo F. D. Roosevelt
para a América Latina, no contexto da II Guerra Mundial. Para compreender
tal relação, analisaremos a atuação da Motion Pictures Society for the
América (MPSA). Sua função era, principalmente, estimular entre os
membros da indústria cinematográfica um esforço cooperativo, diante dos
projetos governamentais que visavam à utilização do cinema como veículo
de promoção de melhores relações entre todas as repúblicas americanas, e
incentivar produções privadas que remetessem a temáticas relacionadas
à guerra.
Palavras-chave: Cinema; Política Externa; II Guerra Mundial.
Abstract:
The paper discusses the collaboration of great U.S. film studios in the
projects undertaken by the government F. D. Roosevelt to Latin America, in
the context of World War II. To understand this relationship we will analyze
the performance of the Motion Picture Society for the America (MPSA). Its
role was mainly to stimulate among industry members on a cooperative
effort of government projects aimed at the use of cinema as a vehicle for
promoting better relations between all the American republics and
encourage private productions that are related to war.
Keywords: Cinema; Foreign Policy; World War II.
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Trecho do discurso “The Other Side of Hollywood”, proferido na reunião do Rotary
Club Internacional de Denver, em 18 de junho de 1941.
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A partir deste ponto, essa agência será denominada OCIAA, ou Office. Exceto quando
especificado, essa é a fonte das informações sobre o OCIAA.
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Diplomacia Hollywoodiana: Estado, indústria cinematográfica...
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Estados Unidos aos olhos dos latino-americanos, e para que os latinos não
fossem estereotipados nas produções.
Nesse sentido, visando realizar com maior eficácia essa vigilância e
acompanhar mais de perto o roteiro, a produção e a veiculação dos filmes
destinados à América Latina, além de sugerir temas e fornecer material para
as criações, o diretor da Divisão de Cinema do OCIAA, John Hay Whitney,
reuniu-se com os membros da indústria cinematográfica norte-americana e
propôs a organização de uma corporação, sem fins lucrativos, dedicada a agir
em prol da política de boa vizinhança. Integravam a diretoria dessa corporação
membros das maiores empresas cinematográficas norte-americanas, além
de talentos locais das grandes associações de Hollywood. Houve um grande
entusiasmo de ambas as partes em relação à proposta, e uma comissão foi
designada para criar a corporação (NARA, Box 229, Draft, p. 1).
Assim, em 21 de março de 1941, foi criada a Motion Picture Society for
the América (NARA, Box 229. Articles of Incoporation of MPSA, p. 1-5.), uma
corporação organizada com a finalidade de agir como um escritório de ligação
entre o OCIAA e os industriais de Hollywood. Sua sede foi estabelecida na
Califórnia.
O OCIAA acreditava que, através dessa abordagem cooperativa com os
homens do setor cinematográfico, via Motion Picture Society for the América3,
seria possível, sobretudo, ter maior controle sobre as produções dos estúdios
hollywoodianos destinadas à América Latina, e que o material que pudesse
ser ofensivo às outras repúblicas americanas seria totalmente eliminado.
A documentação do OCIAA, que relata sua criação, salienta que a
estrutura dessa corporação era um pouco diferente das demais da Costa Leste
dos Estados Unidos, pois tinha como premissa trazer um novo conceito de
relacionamento entre o governo (através do OCIAA), a indústria e as pessoas
de outras nações (NARA, Box 229, MPSA, p. 1). A Society foi "nova em outro
aspecto, ela aproximou a indústria, em um esforço cooperativo - mutuamente
3
A partir desse momento, a Motion Picture Society for the America será denominada
simplesmente Society ou MPSA.
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“[…] new in another respect. It approached the industry in a cooperative effort –
mutually advantageous – rather than as an official representative of government
with set formulas, directives and ‘orders from Washington’”.
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(a) to act in a liaison capacity between the Coordinator and Association of Motion
Picture Producers, Inc., and members thereof, the various talent Guilds and
organizations, the Academy of Motion Picture Arts and Sciences, and individuals in
the motion picture industry; (b) to represent the Coordinator upon various committees
within the motion picture industry which may be established from time to time; (c) to
correlate, review, and disseminate information and ideas dealing with motion picture
activities affecting the other American republics; (d) to review books, scenarios, and
plays suggested for use in connection with activities in the other American republics;
(e) to supervise and confer in the production of motion pictures relating to the national
defense and morals, the war effort of the United States and Inter-American
relationships and activities, so that the policies of the Coordinator will be expressed
and given due regard therein; (f) to render assistance to, and to report on, all motion
picture projects in California affecting in any way the program of the Coordinator,(g)
to create and stimulate public interest in all such projects wherever necessary and
(h) to undertake such other activities in connection with the motion picture industry
as may be agreed on between the Contractor and the Coordinator. (Esse contrato,
assinado em 30 de abril de 1942, ratifica o NDcar-51.)
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The origins of the Motion Picture Society disclosed the participation of the outstanding
men and women of the motion picture industry. From the board of directors to the
smallest committee, the roster of the Society contains the names which are associated
with the finest motion pictures ever made and the vastly successful business
operations which have produced, controlled and distributed these pictures.
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Carl Schaefer (Warner Bros.), Wm. Gordon (RKO) e Walter Goetz (Republic)
(NARA, Box 229, MPSA, p. 7).
Tal informação demonstra que os industriais participaram ativamente
da formação da Society e, consequentemente, atuaram em colaboração nos
projetos desenvolvidos por ela, em parceria com o OCIAA. Essa ajuda se deu
também no âmbito material. Afinal, outro dado presente na documentação
que ressalta a atuação dos grandes estúdios cinematográficos na Society foi a
doação, feita por Mr. John Hay Whitney, Chefe da Divisão de Cinema do Office
e da Metro-Goldwyn-Mayer Studios (MGM), de móveis e acessórios para
o escritório da MPSA.
Dessa forma, podemos perceber que grande parte da indústria
cinematográfica norte-americana começou a compreender que se deveriam
aliar as temáticas de seus filmes aos interesses diplomáticos que emanavam
da Casa Branca, durante a II Guerra Mundial.
Para Mauad (2005, p. 58), a educação visual fazia parte do projeto
civilizatório com o qual os Estados Unidos se empenhavam para alavancar
o patamar de desenvolvimento da América Latina.
No entanto, como demonstra a documentação, o crescimento do
número de pessoas ligadas à área de cinema atuando em parceria com o
OCIAA, chamava a atenção dos próprios membros do Office.
A presença de Kenneth Thomson nos quadros do OCIAA fez com que
John Lockwood, conselheiro e secretário do Office, pedisse esclarecimentos
ao Diretor da Divisão de Cinema do OCIAA, Frank Alstock, através de uma
carta. Alstock, ao lhe responder, afirma que Thomson havia sido contratado
para ser o secretário executivo da Society, criada para acelerar os trabalhos
do Office em Hollywood. Esclarece que o Conselho Administrativo dessa
organização é constituído pelos diretores executivos dos principais estúdios
e corporações de Hollywood. Seu presidente, nesse período, era é Y. Frank
Freeman, ex-chefe da Paramount e presidente da Motion Picture Producers
Association. Salienta que as funções de Thomson eram tanto administrativas
quanto promocionais, ele supervisiona o funcionamento das diversas
comissões organizadas dentro da indústria para facilitar o trabalho do OCIAA,
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para essa região (PURCELL, 2010, p. 1). Dentre os filmes realizados através
do trabalho de membros da Society, temos os clássicos da Boa Vizinhança
dos estúdios Disney: "Saludos, Amigos" (Alô, Amigos) e "Os Três
Cavalheiros" (Você já foi à Bahia?) (FREIRE-MEDEIROS, 2004, p. 60-79).
No que tange à indústria cinematográfica, como forma de
demonstrar sua parceria com o governo no desenvolvimento de filmes,
resolveu nomear um comitê denominado Studio Foreign Managers
Committee (Comitê de Gestores Estrangeiros dos Estúdios).
A documentação informa que, em setembro de 1941, o Hays Office,
escritório responsável por executar o código Hays, e todos os grandes
estúdios cinematográficos americanos eram membros desse comitê.
Compunham-no os seguintes representantes dos estúdios: Luigi Luraschi
(Paramount), Robert Vogel (MGM), Addison Durland (Hays Office), Harold
Sugarman (Universal), Eli Levy (Columbia), Col. Jason Joy (20th Century
Fox), Carl Schaefer (Warner Bros.), William Gordon (RKO) e Walter Goetz
(Republic) (NARA, Box 229, MPSA, p. 7).
Tal comitê se reunia nos escritórios da Society semanalmente, sendo
constantemente informado sobre as diretivas emitidas pelo OCIAA. Nessas
reuniões, todas as questões relacionadas à América Latina eram discutidas,
além das referentes às produções individuais dos estúdios, o que permitia
que os seus membros, ao regressarem aos seus locais de trabalho,
sugerissem ideias para as histórias, antes de os estúdios iniciarem suas
produções. "Como resultado desta cooperação estreita entre a Society e
os gestores de estúdio estrangeiro, temos sido capazes de eliminar
material muito questionável do ponto de vista da América Latina"8 (NARA,
Box 229 Draft, p. 5).
A adaptação para o mercado latino-americano foi estudada
cuidadosamente, assim sendo, a Comissão de Gestores Estrangeiros dos
Estúdios apresentou um parecer para a Paramount, a RKO, a Warner Bros.
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“As a result of this close cooperation between the Society and studio foreign
managers, we have been able to eliminate much objectionable material from the
Latin American point of view”.
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inserir a legenda. Já ao Office cabia, por seu turno, agilizar para que esses
filmes tivessem prioridade de transporte, de modo que chegassem o mais
rápido possível à América Latina. Além disso, o Office estava disposto a pagar
o custo das cópias extras, feitas pelos estúdios para distribuição, de modo
que tivessem uma abrangência maior do que teriam originalmente.
Considerações Finais
Bibliografia:
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