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Anais do XXII Encontro dos Grupos do Programa de Educação

Tutorial da Região Sudeste


XXII SUDESTE PET UFU 2022
Ituiutaba, Minas Gerais

A promoção do direito à educação e cultura: uma análise dos projetos


Aprendendo a Aprender e CinePET

Amanda Marques Brito de Souza (amanda.brito@sou.unifal-mg.edu.br), Ana Julia Guimarães de Sousa, Caio Correia
dos Santos Quina, Lavinia Nascimento Silva, Rhayane Aparecida da Silva, Clara Victoria Araújo Carvalho Lima,
Eduarda de Mello Guarnieri, Gabriela Moro de Souza, Letícia da Silva Matias dos Santos, Lidia Duarte Vicentini, Dimitri
Augusto da Cunha Toledo (dimitri.toledo@unifal-mg.edu.br)
PET do Bacharelado Interdisciplinar em Ciências e Economia, Universidade Federal de Alfenas, campus Varginha,
UNIFAL
Varginha, Minas Gerais, Brasil
Resumo
Este trabalho busca analisar, através de uma revisão bibliográfica e análise documental, utilizando
os relatórios anuais do PET BICE e conceitos que contribuam com o tema, de que forma os projetos
Aprendendo a Aprender e o CinePET do PET BICE contribuem com o processo de democratização
de acesso aos direitos sociais, como a educação, a arte e a cultura, utilizando como base os
Objetivos de Desenvolvimento Sustentável número 10, que visa reduzir as desigualdades tanto
dentro quanto entre países. Dessa forma, eles estão vinculados às ações dos PET’s, que
proporcionam um ambiente democrático de viabilização dos direitos essenciais à formação do
cidadão e se firmam como instrumentos de resistência, através das reflexões acerca das diversas
temáticas no CinePET e da popularização do ensino superior aos alunos da rede pública de ensino
no Cursinho Popular.
Palavras-chave: Redução das desigualdades, Educação, Cultura.

Introdução
No Brasil contemporâneo, se faz visível que os direitos humanos se encontram fragilizados
e defasados (NETO; MORAIS, 2018 e MEDEIROS, 2021), agindo como flagelo social com a sua
inadimplência em aplicação por parte do Estado, ademais, de acordo com Vettorassi, Oliveira e
Benevides (2020) são inúmeros os atos que demonstram a forte oposição do governo atual do país
em relação aos direitos humanos. Desde a Declaração Universal dos Direitos Humanos, da ONU,
em 1948, os direitos sociais foram reconhecidos, de modo a elaborar ações que auxiliassem no bem
estar da sociedade. Durante a Cúpula do Milênio, em 2000, foram apresentados pela Assembleia

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Internacional.
Geral das Nações Unidas os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), a qual o presente
trabalho dará destaque a ODS 10 essa que retrata sobre a redução das desigualdades dentro dos
países e entre eles, de modo, a garantir iguais oportunidades e reduzir desigualdade identificando a
partir dos direitos culturais e de educação ações em prol do desenvolvimento dos indivíduos.
Considerando a importância desses direitos cabe apontar, conforme a Constituição Federal,
artigo 205, que “a educação é direito de todos e dever do Estado e da família, será promovida e
incentivada com a colaboração da sociedade” (BRASIL,1988). No que compete a ausência do
Estado na efetividade dos direitos humanos cabe colocar sua função onde "a sociedade democrática
institui direitos pela abertura do campo social à criação de direitos reais, à ampliação de direitos
existentes e à criação de novos direitos" (CHAUÍ, 2006, p. 3). Para tanto, torna-se relevante buscar
por estratégias e organizações que auxiliem no desenvolvimento dos direitos fundamentais.
Diante disso, torna-se relevante a atuação dos Programas de Educação Tutorial (PET’s),
atuando como programas de auxílio, através da tríade universitária, de modo a gerar visibilidade e a
partir de suas ações contribuírem com esse processo e com a sociedade, gerando por intermédio
da educação e cultura, ações que impactam também a comunidade externa. O Programa de
Educação Tutorial do Bacharelado Interdisciplinar em Ciência e Economia (PET BICE) é formado
por uma equipe multidisciplinar, que tem como um de seus objetivos auxiliar a universidade e a
comunidade externa, por meio de ações que corroborem com estratégias para universalização e
democratização do ensino superior a partir do desenvolvimento de projetos nas áreas de ensino,
pesquisa e extensão, tendo como intuito de fortalecer o processo formativo dos discentes do BICE,
da comunidade acadêmica e externa a universidade na qual está inserido.
Deste modo, objetivou-se neste texto analisar como os projetos Cursinho Popular Preparatório
para o ENEM Aprendendo a Aprender e o CinePET do PET BICE se materializam como estratégias
de democratização de acesso aos direitos sociais relacionados a ODS 10 da ONU, em especial para
este estudo, à educação e à cultura e às artes. Assim, no que tange a estrutura do resumo, além
desta introdução, o trabalho divide-se em três seções, sendo elas a metodologia, discussões e
resultados, e a conclusão.
Metodologia
Este trabalho se apresenta como sendo de natureza descritiva, levando em consideração a
intenção de apresentar e analisar as ações dos projetos Cursinho Popular Aprendendo a Aprender
e CinePET. No que propõe a pesquisa de caráter descritivo, de acordo com Silva e Menezes (2000),
está em apresentar as características de determinado fenômeno, tornando-se relevante para a
demonstração das ações dos projetos em prol da democratização de acesso aos direitos sociais.
Acerca da análise sobre a problemática, este trabalho se caracteriza por meio de uma revisão
bibliográfica e uma análise documental utilizando dos relatórios anuais do PET BICE, dispostos e
enviados ao Comitê Local de Acompanhamento e Avaliação (CLAA) dos Grupos PETs da UNIFAL-
MG (UNIFAL, 2022) e também de conceitos que corroboram com a relação entre os projetos e a
ODS 10, que exprimem os resultados acerca do modo como auxiliam na redução das desigualdades,
destacando-se os direitos à educação e a cultura.
Resultados e Discussão
O Cursinho Popular Preparatório para o ENEM, Aprendendo a Aprendendo, em atividade
desde 2012, é um dos projetos que fazem parte do PET BICE. O Cursinho tem como objetivo auxiliar
os alunos e egressos provenientes de escolas públicas a se prepararem para os vestibulares, em
especial para o Exame Nacional do Ensino Médio, oferecendo educação gratuita e de qualidade
para aqueles que pretendem ingressar no ensino superior.
Outra ação do PET BICE é o CinePET, que é um projeto de extensão que tem como intuito
possibilitar um espaço de reflexão coletiva acerca de temas contemporâneos, através da exibição e
debate de filmes e documentários, preferencialmente não mercadológicos. Assim, são organizadas
sessões com um ou mais convidados que mediará junto com petianos reflexões sobre o filme,
permitindo uma maior troca sobre a vivência e/ou estudo, além de ir debatendo as questões
levantadas pelos espectadores da sessão.
Ambos os projetos supracitados, entre outros do programa, fazem parte do “processo
educativo, cultural e científico que articula o Ensino e a Pesquisa de forma indissociável e viabiliza
a relação transformadora entre Universidade e Sociedade” (FORPROEX, 2012, p.15), promovendo
uma troca de saberes de forma horizontal. Assim, a extensão torna-se um caminho que permite a
comunidade participar da vida cultural e educacional, gerando uma troca de vivências e
conhecimentos práticos com o espaço acadêmico, principalmente de grupos minoritários, os quais
a ODS 10 ampara, pois “não basta proclamar que todos são iguais; é preciso dar condições efetivas
para que essa igualdade exista” (GOMES, 2016, p. 32), e uma das formas desta efetivação são as
ações das a Universidades Públicas e dos grupos PETs.
Sendo assim, como forma de contribuir com o acesso e a democratização do ensino de
qualidade tem-se que a principal ação do Cursinho Aprendendo a Aprender é auxiliar os alunos na
realização do ENEM, para que assim eles tenham a possibilidade de alcançar uma vaga no Ensino
Superior. Todos os anos o projeto atende em média 200 alunos, sendo o público alvo todas as
escolas públicas da cidade de Varginha/Minas Gerais e região. Desta forma, as ações do cursinho
tem o caráter de apoiar e incentivar o aluno, oferecendo: plantões de dúvidas, aulas de atualidades,
tutoria, canais de comunicação com gestão e professores.
Já o projeto CinePET, se torna um instrumento de divulgação e difusão da cultura, da arte e
da educação. O projeto se estrutura em exibir e debater filmes ou documentários, principalmente
nacionais, de produções que prioritariamente não seguem uma lógica de comercialização. Além da
exibição, há um debatedor, membro da comunidade acadêmica ou não, que provoca reflexões
acerca da temática abordada nas películas. Assim, após a exibição e da fala inicial do convidado,
abre-se para o debate com o público, que permite a partir daquele momento, a construção de uma
reflexão coletiva sobre o filme.
A seleção dos filmes se dá pelo levantamento que os membros do grupo do PET separam a
partir da definição de ciclos, que possuem uma temática central que perpassa por todos os filmes,
relacionado com o contexto. Assim, algumas temáticas trabalhadas foram sobre questões de
imigração, por meio do curta-metragem chamado “Liberdade”, a questão de gênero por meio do
curta-metragem “Transverso”, “Quem matou Eloá?”, “De Gravata e Unha Vermelha”, sobre a
questão do trabalho por meio do curta-metragem “El Emprego'', "Privatizações a distopia do capital”,
e sobre racismo por meio do documentário “AmarElo”, “Raça: Um filme sobre a Igualdade”. Além
disso, o projeto realizou diversas parcerias com entidades da sociedade, como o Movimento
Feminista Popular da cidade de Varginha-MG, a Central Sindical dos Trabalhadores do Brasil (CTB),
a Incubadora Tecnológica de Cooperativas Populares da UNIFAL-MG, o Conselho Municipal de
Defesa dos Direitos da Pessoa com Deficiência de Varginha (CODEVA), e entre outros. O que revela
a conexão com temáticas e grupos sociais e culturais que permitem transcender por meios dos
debates e dos filmes, aspectos culturais, artísticos e educacionais para a formação de cada
espectador, suprindo a falta desses aspectos, sobretudo em cidades do interior do país, a qual o
único acesso ao cinema se dá por via mercadológica.
O Objetivo de Desenvolvimento Sustentável, a ODS, número 10, preza metas que busquem
a redução das desigualdades, como a promoção da inclusão social, política e econômica; a
igualdade de oportunidades, de respeito; e a exclusão de práticas, tanto políticas como leis,
discriminatórias (ONU, 2000). Além disso, ao olhar para os objetivos do PET, através da Portaria
MEC nº 976 de 2010, os grupos regem em contribuir para qualidade da formação acadêmica da
graduação, com a política de diversidade por meio de ações afirmativas em defesa da equidade
socioeconômica, étnico-racial e de gênero, além do contato sistêmico com a comunidade acadêmica
e externa da instituição promovendo a troca de experiências em processo crítico (BRASIL, 2010).
À vista disso, ambos os projetos possuem como propósito uma formação mais crítica e
consciente acerca da realidade, a fim de acionar o desenvolvimento da dignidade inerente às
pessoas, orientados pela Terceira Carta Pedagógica Paulo Freire (2000, p. 67) compreendendo que
“se a educação sozinha, não transforma a sociedade, sem ela tampouco a sociedade muda”.
Desse modo, os projetos atendem os objetivos dos grupos PETs e a décima ODS da ONU,
e possuem como objetivo “empoderar e promover a inclusão social, econômica e política de todos”
(Art. 10, ONU, 2000, online), promovendo o acesso da comunidade "aos direitos culturais
indispensáveis à sua dignidade e ao livre desenvolvimento da sua personalidade” (ONU, 1948, Art
22, online), e colabora para a popularização do ensino superior, uma vez que auxilia grupos
historicamente excluídos deste espaço a ter condições adentra-lo, auxiliando para “ igualdade de
acesso para todos os homens e mulheres à educação técnica, profissional e superior de qualidade”
(ONU, 2000, online) até o ano de 2030. Assim, as ações situam o PET BICE como um viabilizador
que busca incluir grupos e temáticas que são marginalizados e pouco discutidos no âmbito da
sociedade, proporcionando um espaço plural e de resistência, frente aos diversos ataques e
discursos conservadores e reacionários.
Conclusões
O presente trabalho buscou refletir como os projetos, Cursinho Popular Aprendendo a
Aprender e o CinePET do PET BICE, tornam-se um instrumento de democratização de acesso aos
direitos sociais, como a educação e a cultura. Diante do debate referente à redução das
desigualdades, as necessidades e demandas da sociedade, as ações extensionistas do programa
fornecem através da articulação entre o Ensino e a Pesquisa um processo de educação, arte, cultura
e ciência que viabiliza a relação transformadora entre Universidade e Sociedade, no oferecimento
de educação pública, gratuita e de qualidade à alunos da rede pública de ensino no que diz respeito
ao Cursinho Aprendendo a Aprender, e na difusão da cultura e aprendizagem no que refere-se ao
CinePET.
Deste modo, compreendemos que as atividades atendem os objetivos do programa e da
décima ODS da ONU, promovendo redução de desigualdades e contribuindo com a promoção da
inclusão social. Assim, se firmem como instrumentos de resistência, pois fornecem através do
CinePET, reflexões de forma gratuita e coletivas acerca das diversas temáticas como racial,
ambiental, social, política, econômica, no que promove e empodera o livre desenvolvimento da
personalidade da comunidade e do pensamento; e da popularização (democratização) do ensino
superior aos alunos da rede pública de ensino através do Cursinho Popular Aprendendo a Aprender,
que atua como ferramenta na problemática da desigualdade social de modo a auxiliar no ingresso
às universidades àqueles alunos que historicamente foram excluídos. Abarcando a partir disso a
afirmação dos direitos fundamentais, como cultura e educação.
Tornando-se importante ferramenta na mudança na formação dos participantes, como
alunos, cidadãos e profissionais. Além de promover à comunidade a igualdade de acesso à
educação de qualidade e à cultura, reforçando ainda mais a importância do PET BICE e da
universidade pública no cenário em que atua.
Agradecimentos
Agradecimento ao Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE) pelo
financiamento que viabiliza a atuação do PET BICE e a produção de estudos como este.

Referências
BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília, DF: Senado
Federal: Centro Gráfico, 1988.
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FREIRE, P. Pedagogia da indignação: cartas pedagógicas e outros escritos. São Paulo:
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GOMES, D. F. L. Fundamentação em Direitos Humanos e Cidadania (v. 1). Belo Horizonte:
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MEDEIROS, C. A. A. de. O direito fundamental à saúde mental no meio ambiente de trabalho
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SILVA, E. L.; MENEZES, E. M. Metodologia da pesquisa e elaboração de dissertação.
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UNIVERSIDADE FEDERAL DE ALFENAS (UNIFAL-MG). Comitê Local de Acompanhamento e
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mg.edu.br/graduacao/pet/claa/. Acesso em: 13 de Maio de 2022.
VETTORASSI, A.; DE OLIVEIRA, D. D.; DE FREITAS BENEVIDES, R. Direitos Humanos no Brasil:
Os Ataques Às Humanidades No Governo Bolsonaro. Humanidades & Inovação, v. 7, n. 20, p. 400-
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