(Edgar Morin)
Novos inícios marcam a vida humana desde tempos imemoráveis. Já no Egito Antigo, ao
menos assim como é relatado no Velho Testamento, novos inícios, com grandes marcas e
perdas incalculáveis, levaram a humanidade a refletir sobre a importância de não deixar
ninguém sem amparo e assumir a comunidade acima dos desejos individuais.
Como dizem popularmente, “a voz do povo é a voz de Deus”, aderindo a esta fala popular,
entende-se que o princípio é a construção de amplos recursos para diálogo e consulta
popular. Nesse sentido, há um preceito posto, que coloca a democracia como pilar de
sustentação de todas as decisões. Mas, o que significa organizar uma estrutura
democrática de governo? O que é uma escola democrática de fato e de direito?
Entendemos que
Para construir autonomia é necessário que esta seja estimulada, simples assim, portanto,
não é impondo princípios organizacionais estanques, buscando constâncias nos olhares
sobre processos formativos que o exercício da autonomia e o respeito à diversidade é
posto. Não deve ser entendido, com isso, que busca-se a inexistência de padrões,
princípios, valores a serem construídos, habilidades a serem aprendidas e nem tão pouco
esquece-se que existem saberes humanos a serem acessados e que é de direito das
pessoas ter acesso às ferramentas para o acesso e uso desses saberes.
Segundo: o diálogo foi aberto a toda sociedade ou estou apenas tentando encaminhar a
resolução do problema de forma particular, sem a efetiva mobilização do todo?
Aliás, por falar em comunidade, qual é a nossa comunidade? São as pessoas que circulam
pelos prédios institucionais (servidores, alunos e seus pais) ou são, além dessas pessoas,
nossos vizinhos? Conversamos com as lideranças religiosas, políticas e culturais da nossa
vizinhança? Sabemos o que eles precisam? Atuamos na oferta de cursos complementares
para essas pessoas? Essas são perguntas que florescem de forma espontânea ao
começarmos a ouvir as pessoas que estão à nossa volta.
Face o cenário posto e refletindo sobre a necessidade de fazer emergir as perguntas pelo
diálogo comunitário, mobilizando, assim, forças sociais de forma articulada, acredita-se que
a proposta de um novo IFNMG deve emergir no cenário pós-pandemia. Uma instituição
aberta ao diálogo e pautada por estrutura articulada de Ensino, Pesquisa e Extensão menos
parecida com as universidades modernas e mais próximas às instituições educacionais
descrita na Lei de criação dos Institutos Federais (Lei 11892 de 29 de dezembro de 2008)
(…)
(…)
Após alguns poucos anos da nossa implementação conseguimos nos tornar centros
orientadores dos arranjos locais? Para orientar é necessário ter o lugar de fala. Mesmo que
o Estado nos outorgue esse lugar o seu uso hoje torna-se necessário em múltiplas direções:
ressignificação das ações locais, e, também, das propostas internas dos campi. Para
manter ou fortalecer o lugar de fala é necessário a escuta ativa das comunidades. Escuta
que começa com aplicação do questionário, análise dos dados, mas, também, por
aproximações estratégicas com Igrejas, Sindicatos, Produtores Rurais e demais lideranças
que querem fazer perguntas e, também, ocupar lugares de fala. Só no diálogo aberto que o
IFNMG conseguirá avançar e ressignificar seu lugar.
O caminho aponta para ampliação dos laços solidários, marcado por escuta ativa constante,
por ampliação da tolerância (característica que marca profissionais da educação), e,
fundamentalmente, por não abandonar antigos problemas educacionais, por acreditar que
eles não voltarão nesses novos tempos: o combate a evasão e a garantia da permanência e
êxito dos estudantes deve ser a tônica balizadora de todos os esforços. Mas, como
organizar então? Algumas propostas práticas e criação de novos pactos devem pautar
nossas decisões.
A pesquisa aplicada aos estudantes nos tempos iniciais da pandemia pelo IFNMG sinalizou
um cenário interessante, de grande importância, pois, apesar de não ter atingido a
totalidade dos estudantes, conseguiu não apenas indicar os interesses dos estudantes por
ampliação das atividades, com início das atividades de ensino, mesmo que por uso de
educação remota, mas, mostra também, desânimo, insegurança e preocupação:
Por essa escuta ativa fica evidente a necessidade de construção de ações pedagógicas que
foquem no atendimento individual, ao mesmo tempo que aponta para a necessidade de
criar protocolos de segurança e atenção psicológica, social e educacional dos estudantes e
familiares, aí, portanto, destaca-se a necessidade de ampliar o conceito de comunidade.
1. Comunidades:
Ninguém solta a mão de ninguém: assumir o protagonismo que nos foi dado pela LDB e
estreitar laços com redes públicas de ensino, a fim de promover ciclos formativos para
professores e atuar na complementação necessária a Educação Básica. Não podemos
esquecer que somos a única instituição federal de ensino técnico e tecnológico da região,
portanto, temos que atuar junto às prefeituras com intuito de promover preparação de
profissionais aptos aos trabalhos híbridos, em especial aos povos do campo, com estímulo
à formação de feiras virtuais para produção familiar e aos pequenos comerciários, com
fortalecimento dos seus comércios.
Ampliar ações comunitárias: com debates e parceria com outras lideranças religiosas que
estão atendendo às famílias dos nossos alunos. Será que outras instituições por estarem
nas comunidades, não podem ser um braço fundamental no apoio ao estudante que não
tem acesso às tecnologias?
2. Temporalidades:
Em conversa com colega Valdo José Cavallet (Agrônomo, professor da UFPR), ele
ressaltou:
Ampliando o debate sobre temporalidades não podemos esquecer que marcos são
importantes. Falar em retorno anima menos que falar sobre novo início. As palavras
possuem força criadora. Aqui propomos, portanto, um novo início que faça valer a fluidez do
tempo e a reflexão comunitária sobre o que é significativo para a finalização do período
letivo. Como escreveu o poeta Carlos Drummond de Andrade “O tempo cronológico é a
pura invenção do relógio”, assim, e sabendo da suspensão da obrigatoriedade dos duzentos
dias do ano letivo, é factível cumprir as horas letivas num formato que atenda as
individualidades e temporalidades próprias dos sujeitos?
A definição de dia letivo é toda e qualquer atividade que promova interação entre professor
e aluno. A MP 934/2020 flexibilizou os duzentos dias letivos, mas, manteve a
obrigatoriedade das horas previstas nos projetos de curso, assim, manteve-se as horas
letivas, como equacionar isso? Com a proposição de itinerários formativos individualizados
ou em grupo.
Destacamos a necessidade de busca por exemplos dentro e fora do nosso IFNMG para, no
diálogo e estudo, aprendermos com os acertos e erros de forma coletiva. Destaca-se, por
exemplo, a proposta exitosa e em desenvolvimento em diversas instituições de ensino no
Brasil e no Exterior, o “Aprender em Comunidade”, iniciada no Brasil, no sertão do Ceará,
por Lauro de Oliveira Lima nos idos dos anos de 1960. A proposta parte da premissa que
“Educar não é não é prever necessidades sociais, mas, preparar para o imprevisível”,
preparar para o imprevisível parte do entendimento de que ser assertivo, buscar relações
colaborativas e fortalecer elos que valorizem o humano, em especial em contexto sem
contato humano, é substancial, nesse sentido, apropriamos do Parecer do Conselho
Nacional de Educação desta semana que destaca o principal objetivo do retorno virtual:
A proposta de retorno sugere-se, portanto, partir da previsão: que se não tiver contato
pedagógico, haverá retrocesso educacional e da constatação de que o outro efeito colateral
é a evasão e abandono, portanto, agir como comunidade, promovendo e ampliando os
laços dos servidores e comunidade atendida é o pilar de sustentação desta proposta de
retorno que propõe não a ruptura dos projetos de cursos, mas, a organização de práticas
que valorize a organização de grupos relacionais.
O que é avaliação?
A busca por um conceito legal é colocado na Lei 9394/96 (LDB), que não aponta definição
do termo, mas, condições para seu uso formal e de direito, como explícito no artigo 13, sob
função dos docentes:
Quanto ao uso da avaliação e as instâncias responsáveis pela sua aplicação, fica claro que
é direito do cidadão ser avaliado em todos os momentos de escolarização e formação
acadêmica. Mas, há um conceito para Avaliação? Nos regulamentos do IFNMG duas
resoluções matizam o conceito: regulamento dos cursos de graduação, no capítulo VII, e,
no regulamento dos cursos técnicos no título V. Com conceituação clara e objetiva, o
regulamento dos cursos técnicos assim define avaliação:
Ressalta-se, portanto, a perspectiva do direito ao processo avaliativo como bem maior que
a seleção, como destacado num livro clássico sobre o tema “Avaliação: Da Excelência à
REgulação das Aprendizagem”, Philippe Perrenoud (1999) explicita a diversidade de
entendimentos sobre o assunto mas destaca que nas escolas é geralmente entendida como
atividade que se coloca a serviço de um processo, no caso, processo de ensino. Avaliação
pode tanto servir para seleção, quanto para reflexão sobre processos de aprendizagem
5. Considerações Finais
Ressalta-se que este documento tem o objetivo de balizar debate fundamental no IFNMG,
que parte da necessidade de retomar sua Lei de fundação e avaliar a efetividade de suas
ações nos territórios que está inserido.
Por fim, e acredita-se que o direito a educação é a força motriz para o nosso
desenvolvimento sócio, político e econômico, ressalta-se que todo investimento para
garantir a qualidade de educação passa pela constatação de que é também nela, na
Educação Pública e de qualidade, construída por todas as comunidades do IFNMG em
articulação com as outras esferas públicas de ação.