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TOMO S
¡feira
Carlos Malus
Caracas, outubro de 1993
TOMO 1
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0 Planejamento como um
Problema entre os Homens
se impôs sobre outras para im prim ir-lhe uma direção. O m undo, meu
país, a realidade, esta região e o seu próprio município não estão parali-
zados à espera que alguém planeje seu destino e atue em conseqüência.
Nosso destino vai-se construindo dia a dia, incessantem ente,
m esm o que não saibamos ao certo para onde ele nos conduz. Assim é
que, quem quiser enfrentar o desafio de criar um futuro com sua vo n-
tade, pod er e recursos deverá, em certo sentido, navegar con tra a cor-
rente, porque deverá vencer um a força que contradiz suas intenções —
salvo se planejar para acelerar e acentuar as tendências já arraigadas no
sistem a social, uma vez que se pode tam bém planejar a favor da corren -
te; mas este não é o caso mais com um nem o principal para justificar o
planejam ento.
Dessa form a, o planejam ento apresenta dificuldades semelhantes às
enfrentadas para se agarrar com as mãos um peixe na á^ua, em condi-
ções de má visibilidade. Trata-se de algo m uito com plexo, não som ente
pelo núm ero de variáveis que condicionam o êxito de nosso propósito,
mas tam bém porque tais variáveis são difíceis de imaginar, en um erar e
analisar.
O peixe dificulta minha tarefa de uma forma “inteligente”, ou cria-
tiva, alterando sua velocidade, direção e profundidade de m aneira ines-
perada. E mais: às vezes parece que o peixe “adivinha” meus m ovim en-
tos para capturá-lo e efetua op ortun am ente as manobras para im pedir
m eu êxito.
É um processo não redutível a uma teoria bem estruturada e que
req uer m uita experiência, perseverança e capacidade de aprendizagem
na prática, além de forças e recursos para alterar o curso dos aconteci-
m entos na direção desejada. Essa dificuldade para aluar sobre a reali-
dade, vencendo um m ovimento e um a resistência, é a que m elhor justi-
fica a analogia com a correnteza do rio. O objeto do plano não é um alvo
fixo, inerte e sem inteligência, para o qual aponta o planejador.
No entanto, essa afirmação não é absoluta. Depende de qual é o
objeto planejado. Geralm ente, quando se fala de planejam ento, referi-
m o-nos ao processo de desenvolvimento econômico-social. Mas o pla-
nejam ento, com o corpo de teoria geral, pode aplicar-se a qualquer ati-
vidade hum ana em que é necessário um esforço para alcançar um objeti-
T e o r i a S o c i a l e T e o r ia d o P la n e j a m e n t o l i
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Se o hom em , um governo ou uma instituição renuncia a conduzir e
deixa-se conduzir, desiste de dom inar e é arrastado pelos fatos, abdica
então da principal liberdade hum ana, que é ten tar decidir po r nós e para
nós onde querem os chegar e com o lutar para alcançar nossos objetivos.
O planejamento é assim uma ferram enta das lutas perm anentes que o
hom em trava desde o início da hum anidade para conquistar graus cres-
centes de liberdade. Q uando o hom em não conhecia o fogo, não dispu-
nha da liberdade de escolher en tre o frio e o calor; quando o descobre,
pode optar. Em term os de planejam ento situacional poderíam os dizer
que é capaz de converter uma variante em uma opção. Pode optar po r
não passar frio. Antes que o hom em ganhasse essa liberdade ele não p o -
dia converter essa disjuntiva num a opção; estava determ inado por uma
variante.
Usamos o term o variante quando o planejador encontra-se ante
uma alternativa na qual não tem p od er de decidir e a realidade decide
por ele. Se todas as disjuntivas que enfrentamos fossem variantes, a rea -
lidade seria com pletam ente ingovernável para nós. Assim, o processo de
16 P o lí tic a . P la n e ja m e n t o e G o v e r n o
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" ma form a de resp onder a esta pergunta consiste em interrogarm o-
nos: Por que existe planejamento? O que o justifica e o faz neces-
sário? Qual é o custo de desprezá-lo? O nde se situa o limite entre
a m era reflexão prévia à ação e o planejam ento pro priam en te dito?
Os hom ens improvisam; fazem geralm ente um cálculo que precede e
preside a ação. Mas esse cálculo, sem outro requisito, pode ser chamado
de planejamento? O que faz norm alm ente o político antes de agir? Pla-
neja à sua maneira? Se planejar consiste em refletir antes de fazer, po r
que o político dá tão pouco valor ao planejamento? E necessário o pla-
nejam ento? O planejamento é uma ferram enta eficaz de governo? Q ue
peso tem o planejamento no desem penho do governo?
O prim eiro problem a consiste em delim itar o âmbito do planeja-
m ento e o papel da improvisação.
Na realidade, os governantes dedicam -se muitas horas a refletir an-
tes de to m ar decisões. Com o é essa reflexão? Em que se diferencia ela
do planejam ento formal? Em que consiste a formalidade do planeja-
mento? Q ue tipo de reflexão não constitui planejamento?
Aprofundem os esta última pergunta.
Adm itam os, em princípio, que o planejam ento refere-se ao cálculo
que precede e preside a ação. A existência desse cálculo é suficiente para
fundam entar decisões?
18 P o l ít i c a , P l a n e j a m e n t o e G o v e r n o
(B)
v.v.v.v.v.v.v.v.v,
iíÀT
ção social dos hom ens. O risco de incêndio, diz a associação, depende
das regras de organização espacial das cidades e do desenho urbano.
Nem todas as opiniões têm o mesmo peso. Algumas consistem em
argum entos técnicos, individuais ou de equipes, que o chefe de bom bei-
ros pode desprezar porque p or trás delas não existe força ou peso políti-
co próprio que o obrigue a considerá-las na decisão. Por o utro lado há
opiniões, po r vezes menos fundamentadas tecnicam ente, que refletem
posições de atores sociais, sejam estes personalidades, organizações so-
ciais ou partidos políticos. São atores sociais porque têm capacidade de
produzir fatos políticos e constituem centros de acumulação e desacu-
mulação de poder.
Alguns dos atores m encionados crêem que o problem a pode e deve
ser solucionado tecnicam ente, enquanto outros crêem que não há solu-
ção para os problem as, mas som ente mudanças em sua natureza.
EXPLICAÇÕES,
PROPOSTAS, ATOR 1 ATOR 2 ATOR 3 ATOR 4
ATITUDES
"A
**
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Nessa análise surgem distintas opiniões sobre as medidas adequadas
e os m étodos para desenhá-las: soluções ótimas versus soluções boas,
variáveis técnicas versus variáveis políticas, confiança nos m étodos ana-
26 P o lít ic a , P l a n e j a m e n t o e G o v e r n o
T e or ia S o c i a l e T e o r i a d o P l a n e j a m e n to 27