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TETO DE GASTOS E A EFETIVIDADE DAS POLÍTICAS SOCIAIS NO

BRASIL

Para que o Estado venha a garantir os direitos sociais devidamente expressos no


artigo 6º, da Constituição Federal, é necessário que sejam tomadas providências de
atuação para a efetividade dessas garantias, e um dos mecanismos pelos quais o governo
pode auferir estes direitos aos cidadãos brasileiros, é com a criação de políticas sociais,
que nada mais são que instrumentos editados pela administração pública para fins de
atender as necessidades básicas da sociedade.

Para que a política social seja criada, o Estado faz o levantamento da chamada
“questão social”, uma forma de delimitar os interesses sociais concretos mais relevantes
no momento, numa discussão política que deve ter como pauta a desigualdade gerada
pelo capitalismo enraizado na sociedade, uma situação que tem início com a Revolução
Industrial, quando o proletariado reagiu à exploração laboral que sofriam, e passaram a
colocar em pauta suas reivindicações em prioridade nas políticas públicas, numa pressão
que fez com que o Estado passasse a atuar, ainda que auferindo o mínimo e de forma
progressiva, em prol de garantir dignidade humana àqueles trabalhadores que provaram,
marcaram e fizeram ser reconhecidas as desigualdades sociais.

Nesse ínterim, a política pública é vista como uma forma de acesso da sociedade
a recursos, bens, serviços e rendas com finalidade de reduzir riscos sociais e chegar o
mais próximo possível da igualdade entre os integrantes da sociedade através da oferta
de oportunidades. Ainda nesta linha de pensamento, as políticas sociais também podem
ser vistas como um instrumento do qual derivam projetos, planos e programas de
concretização dos direitos sociais dispostos na Constituição Federal delineados como
condição de cidadania daquele povo, garantindo um padrão mínimo de bem estar.

Para outros autores, as políticas sociais são uma forma de o Estado estabelecer o
processo de produção e reprodução de riqueza, que, como dito anteriormente, mantém a
finalidade da garantia do bem estar social.

A partir desta ideia, e após a segunda guerra mundial, uma catástrofe que marca
uma nova forma de agir de todos os Estados Nações, surgiu o Estado de bem estar
social, também conhecido como “welfare states”, pois o governo se viu no dever,
apesar de ser essa uma de suas finalidades e responsabilidade, de prover o mínimo
digno aos seus cidadãos, tendo como uma das primeiras preocupações, a seguridade
social que visa a proteção do trabalhador, dentre outros programas e políticas criadas,
numa visão global e universal.

Ao se adentrar nesta problemática no Brasil, os primeiros vestígios de políticas


sociais, datam de 1923 com a edição da Lei Eloi Chaves que disciplinava regulamentos
de aposentadoria e pensão, logo mais, em 1931, surge o Ministério do Trabalho para
regulamentar a previdência social, que vigeu até 1967. Em 1940, surge a determinação
de salário mínimo aos trabalhadores como também uma referência para o teto da
previdência, bem como, em 1943, o advento da Consolidação das Leis do Trabalho,
conhecida como CLT.

Outrossim, as políticas públicas não param por aí, pois ao longo dos anos que se
passaram, vários outros diplomas foram editados no viés de regulamentar questões
sociais prioritárias para o governo, a maioria tendo relação com a previdência e
seguridade social, como é o caso da criação da Lei Orgânica de Previdência Social,
datada de 1960, a criação do FGTS em 1966, do Programa de Integração Social em
1970, conhecido como PIS, do Seguro-desemprego em 1986, dentre outros.

Com o passar dos anos e com o advento da Constituição Federal de 1988, diante
da urbanização crescente das cidades e a maçante desigualdade que este processo de
deslocamento gerou, ficou mais que necessária a elevação à força constitucional da
seguridade social, que passou a ter capítulo próprio no texto legal da carta magna do
país.

Logo mais, passou a ser uma das principais questões sociais a fazerem jus à
instituição de políticas sociais, o quantitativo de pessoas pobres e sem oportunidades de
ingressar e competir no mercado de trabalho, e assim o Estado conjuntamente das
instituições de terceiro setor, tentou desenfreadamente contornar a problemática,
ficando mais que claro que a finalidade não estava ligada tão somente a garantia dos
direitos sociais, mas na compensação da exclusão de cidadãos do seio social, ou seja,
aqueles de baixa renda.

Posto isso, a política social tem como objetivos precípuos, a promoção social,
onde se garantam oportunidades e acessos igualitários, bem como a solidariedade social,
quando se vislumbra que parte da sociedade carece de segurança e proteção garantida
aos demais núcleos sociais, gerando dependência e vulnerabilidade.

Todavia, apesar dessa iniciativa, é sabido que para a atuação efetiva das políticas
sociais, é necessário que o governo disponha de recursos suficientes para atendê-los.
Sabe-se que os gastos públicos devem observar o planejamento governamental, o qual é
desenvolvido através de diretrizes e instrumentos orçamentários estabelecidos
legalmente na Constituição Federal, como é o caso do Plano Plurianual (PPA), Lei de
Diretrizes Orçamentárias (LDO), e Lei Orçamentária Anual (LOA), cada qual com uma
finalidade específica de acordo com o modelo orçamentário do artigo 165, CF/1988.

Salienta-se que, observando os limites estabelecidos e orçamento disposto nos


instrumentos orçamentários, é necessário que haja uma distribuição de receitas e gastos
entre os entes federativos para que seja possível concretizar as políticas sociais e
objetivos da república federativa do Brasil, pois a concentração apenas na União
tornaria a atuação ainda mais seletiva, e com isso se deu a descentralização e repartiu de
competências, principalmente tribunais, que é umas das formas de arrecadação de onde
advém os recursos necessários para a cobertura dos planos definidos pelo governo,
assim, com essa distribuição de gastos os estados e municípios passaram a gozar de uma
melhor independência para cobrir as políticas sociais.

As questões de previdência e seguridade social, principalmente, possuem


controle interno pelos entes que lhe compete mediante a distribuição dos gastos públicos
e dotação orçamentária suficientes dos fundos públicos, enquanto garantidor da
manutenção capitalista-econômica do país.

Dessa forma, cada ente federativo dotado de autonomia, terá seu próprio fundo
público, qual seja o orçamento, que será preenchido com a competência conferida de
tributar, para angariar recursos suficientes para atender às questões sociais que levaram
a edição de políticas sociais, em prol de garantir os objetivos da república,
precipuamente a redução das desigualdades e da pobreza, bem como os direitos sociais
elencados na CF, como o direito à educação, lazer, saúde, alimentação, trabalho,
previdência social, dentre outros elencados que se efetivados gerarão como
consequência o bem estar social.

Salienta-se que a observância do teto de gastos públicos é necessária, pois é para


controlar as finanças públicas que a Constituição Federal passou a prever os
instrumentos orçamentários, que são mecanismos adotados pelo Estado para delimitar
todo o orçamento que será utilizado na gestão da administração pública, de forma que
todos os planos devem estar devidamente elencados como receptor de parcela do que
for determinado. Apesar de as políticas sociais serem medidas que visam o bem estar
social, ainda assim não pode ser manejado sem direcionamento pré-determinado,
principalmente pelo princípio da legalidade do caput do artigo 37, da CF, pelo qual a
administração pública somente poderá fazer aquilo que está previsto em lei, assim, se
não houver orçamento definido para o planejamento social, não poderá ela ser efetivada
na sociedade.

As políticas sociais em muito ainda precisam de organização para a sua plena


efetivação, pois apesar das previsões constitucionais e que ao longo dos anos
beneficiam muitos cidadãos, o sistema ainda se mantém precário, que vai de falhas na
celeridade à eficiência.

CASTRO, Jorge Abrahão de; et al. A CF/88 e as Políticas Sociais brasileiras. In:
CARDOSO JR., José Celso (Orgs.). A Constituição brasileira de 1988 revisitada:
Recuperação histórica e desafios atuais das políticas públicas nas áreas econômica e
social. Brasília: Ipea, 2009.

YAZBEK, Maria Carmelita. Estado e políticas sociais. Revista Praia Vermelha, v. 18, n.
1, p. 1-16, 2008.

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