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SISTEMA ÚNICO DE

ASSISTÊNCIA SOCIAL

Autoria: Ms Silvana Braz Wegrzynovski

1ª Edição
Indaial - 2021

UNIASSELVI-PÓS
CENTRO UNIVERSITÁRIO LEONARDO DA VINCI
Rodovia BR 470, Km 71, no 1.040, Bairro Benedito
Cx. P. 191 - 89.130-000 – INDAIAL/SC
Fone Fax: (47) 3281-9000/3281-9090

Reitor: Prof. Hermínio Kloch

Diretor UNIASSELVI-PÓS: Prof. Carlos Fabiano Fistarol

Equipe Multidisciplinar da Pós-Graduação EAD:


Carlos Fabiano Fistarol
Ilana Gunilda Gerber Cavichioli
Jóice Gadotti Consatti
Norberto Siegel
Julia dos Santos
Ariana Monique Dalri
Marcelo Bucci
Jairo Martins
Marcio Kisner

Revisão Gramatical: Equipe Produção de Materiais

Diagramação e Capa:
Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI

Copyright © UNIASSELVI 2021


Ficha catalográfica elaborada na fonte pela Biblioteca Dante Alighieri
UNIASSELVI – Indaial.

W412s

Wegrzynovski, Silvana Braz

Sistema único de assistência social. / Silvana Braz Wegrzy-


novski. – Indaial: UNIASSELVI, 2021.

154 p.; il.

ISBN 978-65-5646-185-4
ISBN Digital 978-65-5646-186-1
1. Assistência social. – Brasil. Centro Universitário Leonardo Da
Vinci.

CDD 361.981
Impresso por:
Sumário

APRESENTAÇÃO.............................................................................5

CAPÍTULO 1
A ASSISTÊNCIA SOCIAL E AS POLÍTICAS SOCIAIS
BRASILEIRAS, UM PROCESSO DE CONTRUÇÃO........................7

CAPÍTULO 2
O SISTEMA ÚNICO DE ASSISTÊNCIA SOCIAL NO BRASIL........53

CAPÍTULO 3
GESTÃO SOCIAL DO SISTEMA ÚNICO DE ASSISTÊNCIA
SOCIAL – NOVOS DESAFIOS DA ATUAÇÃO DO SERVIÇO
SOCIAL......................................................................................... 116
APRESENTAÇÃO
A disciplina que iniciamos agora, Sistema Único de Assistência Social (SUAS),
tem como objetivos principais: conhecer por meio do exercício teórico – prático
as realidades históricas, organizacionais e teóricas da política de assistência
social; entender também as prioridades dos gestores que acabam impactando
na realidade social da população brasileira; compreender o SUAS como um
instrumento na garantia dos direitos sociais e redução das desigualdades.

No primeiro capítulo abordaremos a assistência social e as políticas sociais


brasileiras, através de uma contextualização histórica dessa política pública no
Brasil, desde o legado elitista e autoritário na representação total das políticas
sociais, das reformas neoliberais, que envolvem contrassensos e retrocessos e a
função do Estado Brasileiro diante das novas políticas sociais.

No segundo capítulo, estudaremos o SUAS, por meio dos conceitos teóricos


do SUAS e de seus eixos estruturantes, abrangendo quais são os níveis e tipos
de gestão, do reordenamento (tipificação) dos serviços, programas e projetos
socioassistencias dos instrumentos de Gestão do SUAS: Plano de Assistência
Social e Plano de Ação e as Políticas de Recursos Humanos (NOB/RH), e os
atuais desafios do SUAS .

No terceiro e último capítulo, versaremos sobre a importância do Serviço


Social na gestão social das políticas sociais através das políticas sociais e da
fundamentação teórica metodológica e como avaliar os processos profissionais
perante a Reforma do Estado.

Então chegou a hora de iniciarmos nossos estudos, vamos lá ....

Prof.ª MS. Silvana Braz Wegrzynovski


C APÍTULO 1
A ASSISTÊNCIA SOCIAL E AS POLÍTICAS
SOCIAIS BRASILEIRAS, UM PROCESSO DE
CONTRUÇÃO

A partir da perspectiva do saber-fazer, são apresentados os seguintes


objetivos de aprendizagem:

• Reconhecer as políticas sociais no Brasil como uma bandeira de luta;


• Distinguir os diferentes interesses de implementação das políticas sociais;
• Entender a função do Estado Brasileiro diante das novas políticas sociais.
SiSTEmA ÚNiCo DE ASSiSTÊNCiA SoCiAL

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Capítulo 1 A ASSISTÊNCIA SOCIAL E AS POLÍTICAS SOCIAIS BRASILEIRAS, UM PROCESSO
DE CONTRUÇÃO

1 CONTEXTUALIZAÇÃO
Neste primeiro capítulo deste Livro Didático temos como objetivo avaliar quais
são os principais processos econômicos, sociais e políticos que são determinados
às polícias públicas sociais no Brasil, em especial à Política de Assistência Social.

No desenvolver dos tópicos deste capítulo, visamos apresentar e materializar


os conhecimentos sobre as configurações específicas em cada esfera sociopolítica
das ações estratégicas que são realizadas no que se refere à proteção social
das pessoas em situação de vulnerabilidade, através das percepções históricas
e críticas da formação econômica e social do país, dando ênfase nas demandas
culturais e políticas.

A contribuição teórica – metodológica enfatiza um enfoque na


problematização dos conceitos propostos ao estudo, uma vez que estão voltados
para uma compreensão histórica das políticas públicas sociais no Brasil, com foco
nas que estão ligadas em um contexto socioassistencial, que exige a atuação de
um profissional que atue nas áreas sociais.

Este resgate histórico tem sua concretude para focar em um conhecimento


sobre a formação econômica e política brasileira, visando um melhor pensar e
avaliar como aconteceu o descobrimento do Brasil e em sua dinâmica histórica.

Segundo Motta (1994, p. 19), “[...] tentando não cair na velha tradição
historicista de “contar a história tal qual ela se passou”. Perante à reflexão teórica-
histórica que esta unidade de ensino se apresentará, buscando o resgate de
contradições e de perspectivas da política de assistência social, como política
pública no Brasil.

Caro acadêmico, então, buscando o resgate histórico da assistência social,


vamos aos estudos!

2 A ASSISTÊNCIA SOCIAL E AS
POLÍTICAS SOCIAIS BRASILEIRAS,
UM PROCESSO DE CONTRUÇÃO
Avaliando o percurso histórico da política de assistência social no Brasil,
constatamos que a sua recorrência é típica e que não se manteve mudança na
sua formulação político-assistencial até o final dos anos 1990 e início dos anos
2000.

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SiSTEmA ÚNiCo DE ASSiSTÊNCiA SoCiAL

A assistência social era vista na sua prática como política para aperfeiçoar
e complementar diferentes áreas que a atuação do Estado não conseguia suprir,
nesse sentido corria o risco de se reproduzir no seu original projeto, ou seja, a
suplementação das demais políticas sociais, como a educação, saúde, habitação.

Diante disso os tópicos deste capítulo irão ressaltar toda a trajetória desta
política pública.

2.1 O PROCESSO HISTÓRICOS DAS


POLÍTICAS SOCIAIS NO BRASIL
O alcance histórico das políticas sociais no Brasil, destacando a política
de Assistência Social, suscita algumas provações que se destacam diante
das dimensões das análises e reflexões que envolvem o Serviço Social como
profissão.

De acordo com Iamamoto (1998, p. 20):

Para garantir uma sintonia do Serviço Social com os tempos


atuais, é necessário romper com uma visão endógena,
focalista, uma visão’ de dentro’ do Serviço Social, prisioneira
em seus muros internos. Alargar os horizontes, olhar para mais
longe, para o movimento das classes sociais e do Estado, em
suas relações com a sociedade; não para perder ou diluir as
particularidades profissionais, mas ao contrário, para iluminá-
las com maior nitidez.

Segundo Teixeira (1987, p. 48), esta compreensão está explícita através do


contexto teórico – metodológico, pois:

A emergência e desenvolvimento de uma política social é, por


um lado, a expressão contraditória da relação apontada [capital
e trabalho], sendo, ao mesmo tempo, fator determinante no
curso posterior desta mesma relação entre as forças sociais
fundamentais. Assim sendo, para o campo das políticas sociais
confluem interesses de natureza contraditória, advindos
da presença de cada um destes atores na cena política, de
sorte que a problemática da emergência da intervenção
estatal sobre as questões sociais encontra-se quase sempre
multideterminada.

Perante os diversos interesses e algumas determinações visíveis que foram


eleitas como expressões sintéticas que se concentram em questão específica,
pela qual a assistência social, através da Constituição Federal de 1988 – CF/88,
passou a ser parte integrante de proteção social.

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Capítulo 1 A ASSISTÊNCIA SOCIAL E AS POLÍTICAS SOCIAIS BRASILEIRAS, UM PROCESSO
DE CONTRUÇÃO

Conforme a CF/88:

Seção IV
DA ASSISTÊNCIA SOCIAL
Art. 203. A assistência social será prestada a quem dela
necessitar, independentemente de contribuição à seguridade
social, e tem por objetivos:
I - a proteção à família, à maternidade, à infância, à adolescência
e à velhice;
II - o amparo às crianças e adolescentes carentes;
III - a promoção da integração ao mercado de trabalho;
IV - a habilitação e reabilitação das pessoas portadoras de
deficiência e a promoção de sua integração à vida comunitária;
V - a garantia de um salário mínimo de benefício mensal à
pessoa portadora de deficiência e ao idoso que comprovem
não possuir meios de prover a própria manutenção ou de tê-la
provida por sua família, conforme dispuser a lei.

É importante destacar que a assistência social, diante da CF/88, teve um


novo desenho e função nas políticas sociais e se institui como mecanismo dos
princípios da seguridade social. Quando analisamos na íntegra, podemos verificar
que o conceito de seguridade social, na legislação atual, tem uma compreensão
mais compreensiva, se for comparada às outras versões.

A CF de 88 representou um marco importante na inclusão da


A CF de 88
população no sistema público de seguridade social, através do chamado representou um
tripé da seguridade social. marco importante
na inclusão da
Para Wegrzynovski (2015, p. 212), “Um novo conceito de população no
seguridade social foi a partir da Constituição Federal que se constituiria sistema público de
seguridade social,
em uma sociedade mais justa e solidária com as pessoas em situações
através do chamado
de vulnerabilidade social”. tripé da seguridade
social.
Todos os conceitos e informações relacionados à seguridade
social ganham destaque no sistema capitalista no início do século XX. Nesse
período aconteceu a efetivação dos Estados de Bem – Social, em que o governo
britânico, durante a guerra de 1941, requereu a constituição de uma comissão
interministerial para que se realizasse um estudo, visando reformas do sistema de
seguro do país.

Esse estudo que foi realizado, ficou conhecido como Plano Beveridge e a
comissão foi presidida pelo Sir William Beveridge, sociólogo inglês. Dessa forma
deu-se origem a uma nova forma de seguridade social inglesa, que foi colocada
em prática somente após a Segunda Guerra Mundial.

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SiSTEmA ÚNiCo DE ASSiSTÊNCiA SoCiAL

Esse plano tinha como foco a proteção social de todas as pessoas que
moravam na Grã-Bretanha, fundamentado sempre no princípio da “necessidade”.
Ele se desenvolveu através do auxílio de benefícios igualitários, que tinham como
variante o estado civil ou sexo, sem ser considerado o rendimento anterior. Por
meio desse plano, aconteceu a unificação das instituições de seguro social,
através de apenas um serviço público, esta política social é centralizada no
Ministério da Seguridade Social.

Esse modelo de seguridade social influenciou o Brasil nas primeiras décadas


do século XX, sendo identificado nas reproduções e discursos dos técnicos e dos
dirigentes dos institutos de previdências e do Ministério do Trabalho.

Os autores Oliveira e Teixeira (1989) realizam uma avaliação conjuntural


através do documento do Serviço Atuarial do Ministério do Trabalho, Indústria e
Comércio de 1950. Essa avaliação compreende:

[...] a tendência moderna nesta questão é ampliar o âmbito dos


antigos seguros sociais, para compreender nas finalidades do
Estado, neste setor, não somente a Previdência stricto senso,
como também a assistência, a garantia do emprego etc., [...],
a seguridade social do trabalhador[...]; da Previdência Social
propriamente dita (seguro de pensões), desenvolver um
amplo sistema de assistência social (prestações em natureza
ou em serviços) [...]. Para que possa o segurado gozar dos
benefícios da Previdência, [...] para que possa ser aposentado
por velhice, precisa antes de mais nada sobreviver; a condição
primordial é a saúde, a qual depende em grande parte de
uma boa assistência médica, cirúrgica e hospitalar. Por outro
lado, essa assistência, prevenindo os riscos de invalidez e
morte prematuras, alivia o encargo de seguros de pensões.
(OLIVEIRA; TEIXEIRA, 1989, p. 175, grifos da autora).

Conforme os mesmos autores, o ideário da seguridade social, mediante


os modelos idealizados inicialmente pela comissão de Lord Beveridge, foi logo
depois implementado na grande maioria dos países da Europa Ocidental, na
ótica dos governos socialdemocratas e trabalhista, e que são originados no
meio de uma articulação política, que era composta pelos países capitalista que
estavam aliados a Segunda Guerra e que tinham como objetivo a reconstrução de
hegemonia, com a elaboração de novas estratégias.

Esse movimento corresponde, na verdade, à parte de um


amplo processo de enfrentamento, no plano ideológico,
simultaneamente aos projetos fascista e socialista de
organização da sociedade, o primeiro dos quais, apesar
de derrotado militarmente, demonstrara ter encontrado
significativa aceitação em amplos setores de diversos países,
enquanto o segundo estava em plena ascensão ao final do
conflito [...]. A democracia liberal procurava demonstrar, em

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Capítulo 1 A ASSISTÊNCIA SOCIAL E AS POLÍTICAS SOCIAIS BRASILEIRAS, UM PROCESSO
DE CONTRUÇÃO

síntese que, como seus interlocutores, também tinha uma


proposta avançada para a satisfação das ‘necessidades
sociais’ (OLIVEIRA; TEIXEIRA, 1989, p. 176, grifo da autora).

Cabe destacar alguns dos princípios norteadores de concepção que moldam


o padrão de Seguridade Social e serviram de bases estruturais dos Estados do
Bem-Estar (Welfare State). Eles também foram utilizados como as principais
referências, os princípios teóricos e políticos para pensar, elaborar e implementar
as legislações sociais na sua totalidade, mesmo sendo alvo de críticas durante
todo processo.

• A contribuição será adequada à capacidade do segurado e,


também, não obrigatória.
• O direito a uma renda mínima será para todo cidadão,
involuntariamente de contribuição, garantindo um padrão mínimo
de bem-estar, apontado de acordo com a situação histórica
concreta.
• A concessão do benefício não estará acondicionada a critério de
mérito, instituído pelos agentes causadores da precisão.

Citando novamente Oliveira e Teixeira (1989, p. 178):

A Seguridade Social seria, nesta perspectiva, algo além de


um mero sistema de concessão de benefícios. Consistiria,
também, numa Política de Seguridade Social, na sua acepção
mais abrangente, contemplando, além dos benefícios
pecuniários tradicionais, ações de saúde, saneamento básico,
educação, habitação, medidas de garantia do pleno emprego,
redistribuição de renda e outros.

Na década de 1950 o modelo de proteção social que estava no auge era


fundamentado nos atributos acima citados, que não se concretizou no Brasil.
Sendo que o oposto aos modelos históricos que estavam se configurando nas
políticas sociais, no país, passou a ser caracterizado pelo domínio de um perfil
limitativo e discriminatório, no que se refere aos direitos sociais de todos os
cidadãos.

Avaliando as primeiras medidas no campo da legislação trabalhista e social,


pode-se perceber que existe uma lógica da acumulação que tem se elevado aos

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SiSTEmA ÚNiCo DE ASSiSTÊNCiA SoCiAL

interesses e anseios coletivos da classe trabalhadora, resultado da correlação de


forças antidemocráticas instituídas entre o Estado e Sociedade.

Mediante as correlações de forças antagônicas que as políticas sociais no


Brasil foram se delimitando, em destaque a de Assistência Social, de forma que
passou a ser vista com mais clareza e nitidez, conforme já citado, a partir da
CF de 88, tornando-se o mecanismo de efetivação dos direitos do cidadão e o
dever do Estado, no que conduz a proteção social e de suas potencialidades de
aprimoramento na execução dos objetivos propostos.

Analisando a história política do país, a década de 1930 foi o momento inicial


mais representativo de intervenção estatal nas esferas das políticas sociais e
econômicas, decorrente do período da modernização industrial e das relações
sociais que foram constituídas, como a ordem capitalista. Isso ocasionou para
o Estado uma maneira para explorar formas de gerenciamento institucional,
buscando uma regulação social, através de novas iniciativas governamentais.

Neste período o Brasil estava saindo de uma grande crise


Neste período o
econômica e política, que foi originada devido ao colapso monocultor
Brasil estava saindo
de uma grande da oligarquia cafeeira.
crise econômica
e política, que foi A oligarquia dominante naquele período possuía interesses
originada devido ao diferenciados de outros setores, principalmente em relação às
colapso monocultor oligarquias gaúchas e mineiras, responsáveis pela produção do
da oligarquia
algodão, açúcar, carne e laticínio, os quais eram abasteciam o mercado
cafeeira.
interno. Desde o início do século, com o surgimento de novos grupos
econômicos, outros sujeitos históricos se fortaleceram, como a classe
burguesa industrial, os operários e a denominada classe média, composta pela
burocracia civil e militar.

Nessa época, precisava-se de uma nova política de exportação, que fosse


articulada aos novos preceitos econômicos e que era regida por pressões da
classe operária urbana para melhoria das condições de trabalho e vida.

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Capítulo 1 A ASSISTÊNCIA SOCIAL E AS POLÍTICAS SOCIAIS BRASILEIRAS, UM PROCESSO
DE CONTRUÇÃO

De acordo com Coutinho (1989, p. 123),

Naquele período, o movimento operário lutava pela


conquista de direitos civis e sociais, enquanto as
camadas urbanas emergentes exigiam uma maior
participação política. Essas pressões ‘de baixo’ (que não
raramente assumiam a forma de um ‘submersíssimo,
esporádico, elementar, desorganizado’) fizeram com
que um setor da oligarquia agrária dominante, o setor
mais ligado à produção para o mercado interno, se
colocasse à frente da chamada Revolução de 30. O
triunfo dessa Revolução levou à formação de um novo
bloco de poder, no qual a fração oligárquica ligada à
agricultura de exportação foi colocada numa posição
subalterna, ao mesmo tempo em que se buscava
cooptar a ala moderada da liderança político militar das
camadas médias (os tenentes).

A diferenciação deste movimento revolucionário se deu pelo seu caráter


elitista, através da nova classe econômica, ou seja, um novo bloco de poder, que
constituiu o reordenamento e a rearticulação interna dos setores econômicos
e oligárquicos. Esse movimento entre as oligarquias, pela sua natureza, foi um
movimento antipopular e conservador, através da incorporação dos setores mais
conservadores e que ainda não obtinham o controle da máquina estatal, como o
setor cafeeiro de São Paulo.

Através da criação de um bloco de poder elitista, os setores populares


foram excluídos da discussão política, econômica e outras. Esses indícios são
fundamentais para compreender os caminhos constitutivos da formação histórica
social do Brasil.

Para Coutinho (1993), essa manutenção da classe dominante revela o


perfil antidemocrático e de exclusão da classe trabalhadora, dos processos de
transformações sociais, sendo vista como uma “revolução passiva”, caracterizada
no pensamento de Gramsci.

Ainda que sem representação política muitas reivindicações e demandas


apresentadas pelas classes subalternas deveriam ter sido aceitas pela classe
dominante que estava no poder, para que fosse possível a implementação de um
projeto político e econômico, visando a negociação de interesses.

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SiSTEmA ÚNiCo DE ASSiSTÊNCiA SoCiAL

Os setores dominantes da sociedade brasileira, que estavam sob o comando


de Getúlio Vargas, quase que radicalizaram o autoritarismo, por meio de um regime
de exceção mais correspondente, para um projeto de sociedade capitalista. Neste
sentido, Coutinho (1989) reflete que:

Reprimido com extrema facilidade putsch [conhecido como


Intentona Comunista] será o principal pretexto para a instauração
da ditadura Vargas. Contudo, apesar de seu caráter repressivo
e de sua cobertura ideológica de tipo fascista, o ‘Estado Novo’
varguista promoveu uma acelerada industrialização do País,
com o apoio da fração industrial da burguesia e da camada
militar; além disso, promulgou um conjunto de leis de proteção
ao trabalho, há muito reivindicadas pelo proletariado (salário
mínimo, férias pagas, direito à aposentadoria etc.), ainda
que ao preço de impor uma legislação sindical corporativista,
copiada diretamente da Carta del Lavoro de Mussolini, que
vinculava os sindicatos ao aparelho estatal e anulava sua
autonomia (COUTINHO,1989, p.123-124).

A ditadura no período do Estado Novo foi responsável pela implementação


de uma política econômica que estimulou a industrialização, por meio de
mecanismos que gerou a acumulação de bens, através da intervenção estatal e
que garantiu o mercado interno.

O desenvolvimento da economia capitalista depende da organização,


influência e reprodução de um mercado interno de força de trabalho, com
condições de promover a mão de obra assalariada, no que se refere às qualidades
político-ideológicas e culturais para seu uso.

Diante das novas dinâmicas econômicas, sociais, políticas e culturais que


se instauraram no país, Vargas implementou uma legislação social e trabalhista,
que além de sua amplitude, detinha o controle direto da classe trabalhadora e
da regulamentação das organizações sindicais, sendo ligadas ao Ministério do
Trabalho, que foi criado nesse período.

O que antes se denominava de discurso da “colaboração de classe” acabou


sendo estabelecido como um reconhecimento legal das vulnerabilidades sociais
desta classe trabalhadora, focando na renúncia da chamada “destrutiva” ideologia
de luta e ficando limitada a sua organização em uma representação de caráter
corporativo ao próprio Estado.

Sendo assim, a partir dos objetivos apresentados acima foram anunciados


diversos decretos que afetaram diretamente as organizações sindicais, que
estabeleceram o sindicalismo único e unidade sindical. Criava-se assim a
possibilidade da intervenção do Ministério do Trabalho, que teria autonomia

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Capítulo 1 A ASSISTÊNCIA SOCIAL E AS POLÍTICAS SOCIAIS BRASILEIRAS, UM PROCESSO
DE CONTRUÇÃO

suficiente para intervir na direção sindical, podendo até destituir uma direção
eleita, se não fosse de acordo com as ideias do governo.

Faleiros (1992, p. 100) avalia essas diretrizes afirmando:

Como os sindicatos se transformaram em ordens de


colaboração com o Estado, as reivindicações dos
trabalhadores são canalizadas pelos novos aparelhos
semioficiais. A função principal das organizações
sindicais não é mais a reivindicação e a pressão,
mas a assistência médica, jurídica e cultural de seus
membros. Despolitiza-se a ação sindical e, ao mesmo
tempo, retira-se dela o seu potencial de mobilização
reivindicativa e política.

O perfil elitista das políticas sociais e trabalhistas, diante da institucionalização,


acentuou diretamente no campo da assistência social que acabou sendo
caracterizado pelas ações de caridade e filantropia, através do imediatismo e
interesses de quem necessitava.

No Brasil o Serviço Social surge durante o século XX, como um mecanismo


para atender imediatamente às demandas sociais, que se fundamentavam nesse
novo período da história do modelo capitalista. O Estado começa a ser obrigado
a responder aos problemas sociais que estão surgindo no contexto da sociedade.

Durante o século XX, começaram a ser criadas as primeiras políticas


públicas sociais para atender às necessidades da população e instrumentalizar o
Serviço Social como profissão.

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SiSTEmA ÚNiCo DE ASSiSTÊNCiA SoCiAL

Para Iamamoto (2007, p. 171, grifo do autor), “A


profissionalização do Serviço Social pressupõe a expansão de
produção e de relações sociais capitalistas, impulsionadas pela
industrialização e urbanização, que trazem, no seu verso, a questão
social”.

Referente às ações que estavam sendo desenvolvidas na área da


assistência social, Spozatti (1987, p. 45, grifo da autora) observa que:

A assistência Social [...] se reveste de maior


racionalidade, introduzindo serviços sociais de maior
alcance, sem perda, no entanto, de sua característica
básica; o sentido do benefício ou da benevolência, só
que, agora, do Estado. [...] é em 1938 que o Decreto-lei
nº 525 estatui a organização nacional de Serviço Social
enquanto modalidade de serviço público, através do
Conselho Nacional de Serviço Social, junto ao Ministério
de Educação e Saúde.

Criado por decreto, o Conselho Nacional de Serviço Social, teve sua atuação
em diversos meios de discussão com objetivos e na área da assistência social,
sendo apontado por suspeitas de uso manipulados das verbas e também de
indevidas subvenções sociais, que são próprias do modelo de clientelismo político.

A assistência social, como política social, tem sua história marcada por
mais de meio século de corrupção, por meio de desvio de recurso financeiros
destinados a essa área, sendo evidenciados para a sociedade, através dos
escândalos que envolviam parlamentares que faziam parte da Comissão de
Orçamento do Congresso Nacional, no período do governo do Presidente da
República Fernando Collor de Melo.

Nesse período, o Conselho Nacional de Serviço Social – CNSS, foi ineficaz


no que se referia ao combate das práticas de corrupção, com recursos públicos,
ou até cúmplice das irregularidades na utilização das verbas que eram destinadas
à implementação de políticas sociais e que acabaram sendo desviadas para a

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Capítulo 1 A ASSISTÊNCIA SOCIAL E AS POLÍTICAS SOCIAIS BRASILEIRAS, UM PROCESSO
DE CONTRUÇÃO

utilização clientelista dos diversos setores governamentais, como deputados,


senadores e até por membros do Executivo.

Avaliando o que representa o uso indevido, o mau uso dos recursos públicos,
está longe de ser reprimido no Brasil, pois as práticas que estão fundamentadas
nessa natureza, nutrem várias estruturas de poder e de desenvolvimento ilícitas
que se fazem presentes na atual conjuntura política e econômica.

Pode-se perceber que a trajetória da formação da classe burguesa no Brasil


é contraditória e evidencia um reconhecimento parcial aos princípios de cidadania
pela classe dominante e pelo Estado, através das transformações institucionais e
políticas a partir da Revolução de 1930.

O autor Marshal (1967) apresenta, em seu escrito Cidadania e Classe


Social, que na formação do processo histórico brasileiro há uma contradição nas
sequências cronológicas das aquisições e conquistas dos direitos sociais, tendo
como referência a Grã-Bretanha, para consolidar a lógica de implementação
desses direitos, que se estruturam inicialmente pelos direitos civis, seguidos dos
direitos políticos e finalizando com os direitos sociais.

Através do reconhecimento dos direitos sociais, outros direitos, que


beneficiaram em especial a burguesia e as classes dominantes no país, como
os direitos trabalhistas e social, impostos na Era Vargas, acabaram sendo
considerados ações de um governo repressor para os segmentos de oposição
política. No entanto cauteloso com as necessidades de legitimação da classe
de trabalhadores, desprovidas de qualquer forma de politização. A Era Vargas
acabou se tornando um governo vigilante nas demandas dos trabalhadores, mas
receptivo à reivindicação de organização, representação e reprodução da força de
trabalho, necessárias ao modelo capitalista.

Nesse sentido, acaba-se adotando certa prática vinculada a uma coerência


excludente e ineficaz do sistema de seguridade social no Brasil, que reflete de
forma antidemocrática a relação que o Estado estabeleceu com os cidadãos
brasileiros. Isso se dá a partir do momento em que ele leva ao desconhecimento
dos direitos e interesses fundamentais e legítimos da classe operária, gerando
assim um aumento do empobrecimento dos trabalhadores, tanto por bens
materiais quanto de formação política no resgate da cidadania.

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SiSTEmA ÚNiCo DE ASSiSTÊNCiA SoCiAL

Para uma melhor compreensão das políticas socias pós 1930,


Santos (1979, p. 132) apresenta o conceito da conquista da cidadania
e o papel do Estado, como “cidadania regulada”, sendo entendida
da seguinte maneira: “Por cidadania regulada, entendo o conceito de
cidadania cujas raízes encontram-se não em um código de valores
políticos, mas em um sistema de estratificação ocupacional [...]”.

O conceito apresentado por Santos tornou-se um importante referencial


característico da formação social da população brasileira, devido à inclusão
parcial e seletiva de alguns setores e segmentos sociais, principalmente, os
que envolvem as classes trabalhadoras, no que diz respeito à participação dos
trabalhadores no processo decisório das políticas sociais e econômicas do país.

1 Descreva o que você entendeu sobre cidadania regulada.

O Brasil, através do modelo de cidadania regulada dos processos históricos,


passou a ter atitude centralizadora e autoritária pós 1930, despontando que
sempre esteve a serviço dos interesses da iniciativa privada. Sendo que esse
princípio de privatização se perpetua até os dias de hoje.

Coutinho (1993, p. 87) apresenta que:

O fato de ter sido esse Estado sempre muito forte e


de ter aparentemente se superposto à ordem privada
não anula, de modo algum, a realidade fundamental: a
de que toda essa força foi sempre, em primeira ou em
última instância, mais em primeira do que em última, um
poderoso e eficiente instrumento a serviço de interesses
estritamente privados.

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Capítulo 1 A ASSISTÊNCIA SOCIAL E AS POLÍTICAS SOCIAIS BRASILEIRAS, UM PROCESSO
DE CONTRUÇÃO

No decorrer da história do Estado brasileiro, pode-se analisar que ele foi se


modulando na década de 1930 e, cada vez mais, foi aperfeiçoando-se durante o
período pós 1964 e no período da ditadura militar, como patrimonialistas, pois os
diferentes governos que se sucederam nesses anos eram eleitos e representados
pelas elites dominantes e seus dirigentes.

Esses atributos estavam centrados em ações com visões tradicionalistas,


paternalistas e clientelistas, que vigoraram até o governo do presidente
Fernando Henrique Cardoso (FHC), que tinha como promessa desmontar o
modelo patrimonialista. Ele teve em seu mandato as evidências dos anteriores,
principalmente, no que se refere à privatização das empresas estatais.

A privatização de vários segmentos públicos se expressa através da


intervenção estatal, do Estado, na inovação das condições favoráveis para
a ampliação do capital privado, que desde o Golpe Militar de 1964, passou a
consentir prioritariamente aos interesses do capital financeiro multinacional, sendo
este um caminho que se efetua em grandes dimensões na chamada política de
globalização, a partir de 1995, como o governo de FHC.

Esse período da história do Brasil não veio de encontro à equidade social e


efetivação da cidadania, como se almejava, e, sim, ocorreu um redirecionamento
do Estado em relação ao seu papel econômico, através de seu desempenho
protagonista no modelo de inserção de sistema capitalista monopolista mundial,
gerando um regime antidemocrático dos direitos sociais e políticos da classe
trabalhadora.

Diante da função de acumulação desenvolvida do capital


monopolista por parte do Estado, desde 1964, o autor Coutinho
(1989, p. 124), baseado nas reflexões de Gramsci, descreve o
conceito de “revolução passiva”:

As forças produtivas da indústria, através de uma intervenção


maciça do Estado, desenvolveram-se intensamente, com
o objetivo de favorecer a consolidação e a expansão do
capitalismo monopolista. A estrutura agrária, por seu turno,
mesmo conservando o latifúndio como eixo central, foi
profundamente transformada, sendo hoje predominantemente
capitalista. A camada tecnocrático-militar, que se apoderou
do aparelho estatal, certamente controlou e limitou a ação do
capital privado, na medida em que submeteu os interesses
dos múltiplos capitais ao capital em seu conjunto, mas adotou
essa posição ‘cesarista’ precisamente para manter e reforçar
o princípio do lucro privado e para conservar o poder das

21
SiSTEmA ÚNiCo DE ASSiSTÊNCiA SoCiAL

classes dominantes tradicionais, quer da burguesia industrial e


financeira (nacional e internacional), quer do setor latifundiário
que ia se tornando cada vez mais capitalista.

A categoria denominada de “revolução passiva” também foi usada pelo


pensador marxista, que serviu para esclarecer a mudança do capitalismo italiano,
que estava em transição da fase concorrencial para a fase monopolista.

A ditadura brasileira adotou alguns procedimentos que fortaleceram o projeto


de dominação imposto pelo sistema que estava em vigor.

Segundo Faleiros (1992, p. 179):

O capital multinacional, que tende à moligopolista, implanta-


se através dos setores mais modernos e mais rentáveis,
isto é, na indústria de bens duráveis. Ocupa, ao mesmo
tempo e gradativamente, os espaços de financiamento para
compra desses produtos, sua comercialização, e alcança os
investimentos agrícolas. Formam-se conglomerados cada vez
maiores em todos os setores da economia. Nesse processo,
entram na órbita do capital multinacional várias empresas
nacionais, por compra ou simples associação [...] O Estado
propicia tal concentração através dos seus mecanismos
de união do bloco dominante e de controle do conjunto das
medidas econômicas.

Outros fatores devem ser considerados importantes e que precisam ser


destacados e avaliados no modelo econômico. Durante o período da ditadura,
esses fatores relacionados a categorias fundamentais foram essenciais para a
implementação de um padrão antipopular e concentrador de poder e de riquezas,
tais como: o recurso à violência (diversas formas), repressão, coerção direta e
plena restrição da liberdade.

É importante destacar que, no período de repressão política e militar, foram


fixados os movimentos sociais organizados, como sindical, estudantil e social,
atrelados como uma extorsiva política salarial, que objetivava o achatamento e
perdas salariais, que só foram possíveis através da violência institucionalizada
pelo regime militar no Brasil.

O autoritarismo foi considerado um dos instrumentos mais utilizado para a


negociação das políticas públicas sociais, tendo sempre relevância os interesses
das classes dominantes. Nesse sentido, não somente os canais de participação
popular, como partidos políticos, sindicatos e organizações sociais sofreram
retaliações em relação à formação política das massas trabalhadoras.

22
Capítulo 1 A ASSISTÊNCIA SOCIAL E AS POLÍTICAS SOCIAIS BRASILEIRAS, UM PROCESSO
DE CONTRUÇÃO

Para Viana (1989, p. 26):

Agências formuladoras ou reguladoras de políticas


econômicas (aquelas que têm a ver com o processo produtivo),
responsáveis por traduzir demandas setoriais em decisões
generalizantes, estabelecem vínculos diretos com ‘clientelas’
selecionadas, garantindo no interior do aparelho estatal o lócus
para a articulação técnica de seus interesses.

A forma de aparente neutralidade, que acontece o reconhecimento dos reais


interlocutores dos diversos setores internos geridos da burguesia, não vem de
encontro aos verdadeiros interesses sociais. Sendo assim, conservou-se as
chamadas classes “clientelas” ou “pelegas” no movimento sindical, pois não
possuíam representatividade ou comprometimento na defesa dos trabalhadores.

Perante a negação dos direitos políticos e sociais em todos os setores da


sociedade que visavam combater democraticamente os direitos da sociedade
civil, as opções de ampliação dos recursos na área social foram limitadas.

Nesse sentido, o mito das opções técnicas e racionais se tornam


automatizadas, pela abrangência, mediante os discursos que foram propagados
equivocadamente aos interesses políticos individualistas e particularistas.

Mediante essa questão, Viana (1989, p. 26) observa que:

Mantida a aparência constitucional, com a realização de


eleições periódicas e câmaras legislativas em funcionamento,
a política social, através das imensas máquinas burocráticas
de suas agências, cargos disponíveis e serviços prestáveis,
transformou-se em esfera ideal para o fazer política, uma
política estreita e eleitoreira, alternativa ao tipo de competição
política em que se reconhecem pressões conflitantes e se
negociam interesses divergentes em arenas abertas.

Em todo este período que contemplou o regime autoritário aconteceu a


materialização institucional fundamentalmente conservadora no sistema de
proteção social, sendo que os princípios de financiamento são edificados através
de critérios contrários ao da equidade social.

Dessa forma ocorreu um bloqueio em todas as formas de transferências


de rendas, através de setores e fontes de recursos de financiamento e de
transferência de renda. Essas medidas afetaram diretamente os trabalhadores e
operários assalariados, pois contribuíram de forma decisiva para a eliminação dos
meios de acesso da população às políticas públicas sociais, em especial as de
assistência social.

23
SiSTEmA ÚNiCo DE ASSiSTÊNCiA SoCiAL

Acadêmico, aprofunde seus estudos lendo o livro cuja capa está


representada na figura a seguir, ele é importante para sua atuação
profissional.

FIGURA – CAPA DO LIVRO OS DONOS DO PODER

FONTE: <https://images-na.ssl-images-amazon.com/images/
I/31jlAOei-QL._SX346_BO1,204,203,200_.jpg>. Acesso em: 12 jan. 2021.

A obra é um ensaio fundamental para a compreensão da


formação social e política brasileira. Partindo das origens portuguesas
de nosso patronato político, o autor demonstra como o Brasil foi
governado, desde a colônia, por uma comunidade burocrática que
acabou por frustrar o desenvolvimento de uma nação independente.
Sua análise abarca o longo período que vai da Revolução Portuguesa
do século XIV até a Revolução de 1930 no Brasil. Esta edição foi
revista e acrescida de um índice remissivo.

FAORO, Raymundo. Os donos do poder, formação do


patronato político brasileiro. 5. ed. Rio de Janeiro: Ed. Globo, 2012.

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Capítulo 1 A ASSISTÊNCIA SOCIAL E AS POLÍTICAS SOCIAIS BRASILEIRAS, UM PROCESSO
DE CONTRUÇÃO

1 Na Constituição Federal de 88, a proteção social passou a ser


garantida aos cidadãos brasileiros devido à multiplicidade de
interesses e determinações visíveis que foram eleitas como
expressões sintéticas que podem se concentrar como questões
específicas, como a assistência social. Diante disso, cite na
íntegra o artigo da CF de 88 que apresenta a assistência social
como direito garantido.

2.2 A HERANÇA ELITISTA E


AUTORITÁRIA NA REPRESENTAÇÃO
DAS POLÍTICAS SOCIAIS
Perante o contexto histórico das políticas públicas sociais, a previdência
social, em que se sabe, possuí um modelo de financiamento que admite
diminuídas transferências de ativos para inativos, enfatizando um padrão
simplesmente horizontal na distribuição do benefício para os beneficiários da
política de assistência social.

A política de previdência social, no período da década de 90, consegue


verificar que ela relevava várias propostas de mudanças na regulamentação
da previdência, mediante a revisão constitucional que estava em curso. As
preposições convergiam contrárias às reformas neoliberais que recém estavam
implementadas no Brasil.

Outra propriedade que se pode apontar sobre o sistema nacional de


arrecadação, mencionado anteriormente, na época citada, refere-se ao repasse
integral dos custos das contribuições sociais aos valores das mercadorias por
parte das empresas, assim os assalariados e os consumidores, os financiadores
dos programas sociais, acabam gerando uma maior economia.

De acordo com Carmargo (1991), o regime militar, diante ao financiamento


das políticas sociais, apresentou-se através de um perfil mais limitado e restrito, ou
seja, autoritário e antipopular, para ampliar a arrecadação por meio da captação
compulsória de poupança, usando as contribuições sociais, ao invés de ampliar
a arrecadação das cargas tributárias, caracteristicamente fiscal, preservando o
capital de realizar maiores gastos nas políticas sociais.

25
SiSTEmA ÚNiCo DE ASSiSTÊNCiA SoCiAL

Neste sentido, a quantia de recursos que foram recolhidos com as


contribuições sociais computou, naquele momento, mais de 50% da receita
tributária de toda a União, que são recursos procedentes de um orçamento
paralelo coberto pelo consumo compulsório das contribuições sociais.

Essas contribuições foram impostas com a justificativa de subsidiar


as aplicações, projetos, programas e benefícios de instância social,
consequentemente o Estado, União, estaria em última instância comprometido
com as despesas sociais, pois ficaram acopladas diretamente ao fundo
público exclusivo de cada área, e que já estavam discriminadas cada fonte de
financiamento.

O Estado se tornou um mecanismo completamente insuficiente para


responder, de maneira democrática, às necessidades primordiais e básicas da
população brasileira.

A especialidade desse modelo do sistema de arrecadação e financiamento,


por mais injusto e induzido que seja, e o seu comprometimento com as políticas
sociais incidem somente para uma parte da sociedade, nesses moldes, a classe
trabalhadora e o Estado, sempre descomprometido com os interesses sociais,
sem disponibilidade de orçamento, mesmo através das arrecadações fiscais.

Os dados apresentados, no período militar, mostram que o Produto Interno


Bruto (PIB) tinha um percentual pequeno, relacionados à população, sendo 1%
das famílias mais ricas e que possuíam aproximadamente 20% de toda a renda
nacional. Contrapondo essa realidade, 50% dos mais pobres centralizavam
apenas 10% de toda a riqueza produzida, o remanescente estava apropriado pelos
extratos da proletarização da política recessiva. Esses dados foram ratificados
através de relatório do Banco Mundial e apresentam dados inquestionáveis.

Para Romão (1991, p. 104):

Com efeito, os conhecidos relatórios anuais do Banco


Mundial fornecem algumas estatísticas básicas sobre
129 países-membros, afora aqueles com população
inferior a um milhão de habitantes. Na sua última versão,
o relatório apresenta informações de distribuição de
renda para 46 países e entre estes o Brasil é o que
aparece com o perfil mais iníquo.

26
Capítulo 1 A ASSISTÊNCIA SOCIAL E AS POLÍTICAS SOCIAIS BRASILEIRAS, UM PROCESSO
DE CONTRUÇÃO

Com os problemas encontrados para superar a crise econômica, outros


caminhos foram trilhados, sendo esses mais atrozes e ineficientes, causando a
recessão, fundamentados no ideário neoliberal.

Esses fatores foram utilizados para combater, de qualquer forma, a inflação


durante aquele período no qual aconteceu um arrocho ainda maior dos salários,
demissão em massa dos trabalhadores, um enorme sucateamento dos patrimônios
públicos, efetivando os cortes nos recursos das políticas sociais e aumentando
consequentemente as desigualdades sociais, fome, pobreza e desemprego.
Outros segmentos com muito mais estrutura econômica se preveniam de qualquer
forma de perdas.

Essa chamada “herança indesejada” foi apresentada por


Benjamim (1991, p. 50):

O atual sistema de poder, que começa na


hiperconcentração da riqueza e da terra, passa pelo
predomínio dos oligopólios na economia, reproduz-
se no controle dos meios de comunicação de massa,
apresenta poder de corrupção virtualmente ilimitado,
garante sobre representação de oligarquias no
Congresso Nacional e tem como reserva um judiciário
conservador, esse sistema de poder, aprisiona um
grande país [...].

O poder das elites brasileiras no sistema econômico em discussão tem se


vinculado e deixado em seu caminho a marca da exclusão na história da sociedade
brasileira. Destaca-se uma importante modificação nas estruturas obsoletas e
distribuídas, que foi o processo de ampliação e materialização do processo das
liberdades democráticas, mesmo que limitadas na dimensão política.

O Estado brasileiro era o retentor de extensos e ilimitados poderes, mediava


em torno de si os setores politizados da sociedade, através de uma disputa
corporativa de interesses, que se construiu durante este processo de resistência
ao regime militar e nas lutas pela cidadania, uma combativa sociedade civil, que
estava reconstruída através da participação e mobilização popular.

Nos anos de 1990, a sociedade civil esteve submersa em um período


de instabilidade política, em que as classes trabalhadoras tiveram que outra

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SiSTEmA ÚNiCo DE ASSiSTÊNCiA SoCiAL

vez reconquistar e buscar a capacidade de organização e de luta. Isso se deu


mediante a degradação dos modelos de proteção social e de trabalho que foram
implementados para a sociedade através das políticas sociais de interesses dos
partidos social democratas e liberal que estavam no poder.

Como se sabe a ditadura investiu de diferentes maneiras no


controle coercitivo da sociedade civil que, apesar da repressão e da
desigualdade econômica, cresceu e se fortaleceu simultaneamente
ao amadurecimento e à ampliação das forças produtivas sob o
regime militar, potencializando-se pela multiplicação de interesses
diversificados surgidos com a modernização econômica. A luta pela
anistia, o multipartidarismo (que deu oportunidade de expressão a
novas forças políticas, como o Partido dos Trabalhadores – PT,
por exemplo), as manifestações de rua pelas eleições diretas
para a presidência da República, a retomada dos sindicatos como
espaço de luta política e não apenas de prestação de serviços, a
mobilização em torno da Constituição de 1988 e as campanhas
eleitorais, bem como, o movimento pela ética na política que detonou
o impeachment de Fernando Collor de Melo, são apenas alguns
exemplos emblemáticos dessa capacidade de mobilização e de ação
da sociedade civil.
Esse processo pôde ser constatado através das últimas
eleições majoritárias e proporcionais ocorridas com o fim da ditadura.
Com o aumento crescente dos coeficientes eleitorais, embora ainda
aquém do necessário para alçar o poder, as esquerdas passaram
a expressar e a reunir as aspirações políticas e éticas de vastos
setores democráticos no País, ativadas, principalmente, através da
militância contra a ditadura e na luta pelos direitos dos trabalhadores.
O Partido dos Trabalhadores, de maior expressão política, e os
demais partidos realmente progressistas vêm indubitavelmente
demonstrando, tanto em suas atuações no interior dos parlamentos
quanto no desafio das administrações de muitas cidades e governos
estaduais e também na luta do dia a dia dos movimentos populares,
que é perfeitamente viável a construção de uma sociedade mais
justa, ética e democrática, na recriação da história presente e futura
deste país.
As políticas neoliberais já foram devidamente implementadas e
nem por isso a inflação, combatida a qualquer preço, cedeu. Há que
se propor e levar à frente novas alternativas de solução para a crise
econômica e social que vem solapando o cotidiano do trabalhador

28
Capítulo 1 A ASSISTÊNCIA SOCIAL E AS POLÍTICAS SOCIAIS BRASILEIRAS, UM PROCESSO
DE CONTRUÇÃO

brasileiro.
Assim sendo, essa conjuntura contraditória precisa ser reavaliada
nos seus desdobramentos e condicionantes, pois coexistem num
mesmo país uma sociedade civil representativa e organizada e uma
população faminta em torno de 35 milhões de habitantes: são mais
de três Somálias dentro do Brasil, já que naquele infeliz país africano
a população gira em torno de 10,5 milhões. Com efeito, se for
perpetuado esse desolador quadro econômico e social, incompatível
com os princípios da democracia, pode-se gerar a impressão de que
a transição democrática processada na luta contra a ditadura não
teve o fôlego necessário para possibilitar a superação dos principais
elementos de atraso e da exclusão gestados ao longo da história
brasileira.
Em função do pacto que levou a uma transição “sem
traumas”, todos os ônus recaíram pesadamente sobre a população
trabalhadora, que tem – às custas de muito trabalho mal pago –
sustentado um modelo econômico concentrador de riquezas, modelo
sustentado e aprofundado pelos governos civis que subiram ao poder
depois da ditadura, os de José Sarney, Fernando Collor de Melo,
Itamar Franco, a primeira e a corrente versão do governo Fernando
Henrique Cardoso.
Resgatando aquele traço recorrente da dinâmica política,
pode-se repensar essa transição à luz da já aludida noção de
“revolução passiva”: dado o aspecto conciliatório característico da
transição democrática, tornou-se possível desconsiderar a legítima
participação das massas populares na derrocada da ditadura, com a
aceitação da eleição para presidente no Colégio Eleitoral criado pela
ditadura, através da composição Tancredo Neves/José Sarney, e não
pela via direta, como foi amplamente reivindicado naquele momento.
Porém, essa não foi a única medida conciliatória e “pelo alto”
imposta contra os apelos de participação democrática; pode-
se recordar também o processo de convocação da Assembleia
Constituinte, duramente golpeado pela manobra do Governo
Sarney, que preferiu a solução de atribuir poderes constituintes a
um Congresso instituído segundo as regras eleitorais e institucionais
herdadas da ditadura. Portanto, os que redigiram a nova Constituição
não o fizeram legitimamente, já que não foram eleitos para elaborar
a primeira Carta democrática do país, e sim para legislar dentro
da rotina normal do Parlamento. Essa manobra, muito combatida
pelos setores progressistas, garantiu uma composição ideológica
no Congresso Constituinte bastante favorável e adequada aos
interesses das elites dirigentes; basta recordar o famoso “centrão”,
que articulou uma firme resistência às mudanças pretendidas pelos
segmentos democráticos.
29
SiSTEmA ÚNiCo DE ASSiSTÊNCiA SoCiAL

PAIVA, Beatriz Augusto de. Assistência social e políticas sociais no


Brasil: configuração histórica, contradições e perspectivas. Revista Katálysis,
Florianópolis, n. 4, p. 11-34, jan. 1999. Disponível em: https://periodicos.ufsc.
br/index.php/katalysis/article/view/6250/5828. Acesso em: 19 ago. 2020.

Para Coutinho (1993, p. 53, grifos da autora):

[...] se praticamente todos os sujeitos políticos


oposicionistas se empenharam na ‘guerra de posição’
que pôs fim à ditadura, nem todos levaram em conta,
na época, o risco contido nessa forma de transição
relativamente ‘negociada’. Nela se verifica [...]e, como
tentamos indicar, a combinação de processos ‘pelo
alto’ e de processos provenientes ‘de baixo’; e, decerto,
é o predomínio de uns ou de outros o que determina
o resultado final, a natureza do terminus de quem dá
transição. A partir do momento em que, com a ida da
oposição ao Colégio Eleitoral criado pela ditadura,
preponderou uma solução ‘pelo alto’, concretizou-se o
risco a que aludimos: o de que a transição terminasse
por reproduzir, ainda que ‘atenuados’ e ‘modernizados’,
alguns dos traços mais característicos do tradicional
modo ‘prussiano’ e ‘passivo’ de promover as
transformações sociais no Brasil. Uma transição desse
tipo – que poderíamos chamar de ‘fraca’ – implicava
certamente uma ruptura com a ditadura implantada em
1964, mas não com os traços autoritários e excludentes
que caracterizam aquele modo tradicional de se fazer
política no Brasil.

Mediante este conjunto de restrições objetivas ao direito de exercer a


cidadania, acaba refletindo diretamente nas políticas sociais de maneira cada
vez mais decisiva, pois passou a ser alvo preferencial nos cortes dos recursos e
despesas públicas.

O corte de recursos financeiros nas políticas públicas sociais acompanhou


paralelamente o arrocho salarial. Constando uma dificuldade na reversão desta
representação, principalmente no que se refere ao sistema tributário do Brasil,
pois representa uma fonte de recursos para a redistribuição de recursos pelas
políticas públicas.

30
Capítulo 1 A ASSISTÊNCIA SOCIAL E AS POLÍTICAS SOCIAIS BRASILEIRAS, UM PROCESSO
DE CONTRUÇÃO

A demanda da composição fiscal envia possíveis alternativas para a


universalização e remanejamento na importância de estrutura fiscal remetente,
portanto, que são produzidas coletivamente de maneira que as políticas sociais se
constituem, sendo um elemento determinante para a estratégica e tática na luta
pela democracia, através da socialização de bens de consumo e produção.

O sistema tributário no Brasil, desde sempre, esteve fundamentado em


critérios mais contraditórios e injustos possíveis, sendo um determinante na
diferenciação da concentração de rendas, afligindo diretamente os assalariados,
principalmente, os que recebem uma menor renda e os consumidores, que são
afetados através dos impostos que indiretamente são introduzidos nos preços das
mercadorias.

Perante a conjuntura apresentada, o porcentual tributário do PIB é um


dos mais baixos se for comparado com todos os outros países, isso devido à
sonegação de impostos que atinge quase que a metade do que poderia ser
arrecadado.

Todo o sistema financeiro, juntamente com os setores industriais nacionais e


multinacionais, como os produtores agrários e os latifundiários; os trabalhadores
ativos e inativos de todo o sistema privado e público; os cargos eletivos, executivo
e legislativo de todas as esferas, e ministros; além de partidos políticos; do
Fundo Monetário Internacional, maior financiador das políticas, através de
ações desordenadas, discutem o fim das contribuições sociais, com elas os
investimentos das políticas sociais e continuando a estrutura regressiva, sendo
esta de interesse dos empresários, propondo um aumento de alíquotas, afetando
o assalariado, que estarão relacionadas aos impostos estaduais, municipais,
ICMS e ISS, e transforma contribuições em impostos e com uma Contribuição
Provisória sobre a Movimentação Financeira – CPMF.

Neste período de implementação das políticas neoliberais, algumas das


propostas elaboradas por segmentos de esquerdas foram debatidos, como o
início das progressividades na pertinência das taxas e alíquotas, em conjunto
com a melhora na Receita Federal, que objetivasse o combate à sonegação de
impostos.

Diante dessas medidas econômicas e políticas, houve uma maior precisão,


sem elas os compromissos com uma redistribuição perdem o sentido, em que
as políticas públicas seriam apenas um instrumento ratificador e reprodutor das
desigualdades sociais.

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SiSTEmA ÚNiCo DE ASSiSTÊNCiA SoCiAL

Para Benjamim (1991, p. 49):

Em sociedades capitalistas, nunca houve, nem haverá,


transição de modelos se os agentes transformadores não
puderem exercer controle sobre a taxa de investimento
[...]. Para controlar as variáveis macroeconômicas
fundamentais, prover bens e serviços coletivos, induzir
distribuição de renda, estabelecer a forma de exploração
dos recursos não renováveis, promover o progresso
científico e tecnológico e regular o intercâmbio com
exterior, o Estado não precisa deter muito mais do que
25% ou 30% do PIB.

O autor citado no trecho anterior defende ainda a suposição clássica, em


que o processo distributivo deveria ser entregue somente para as políticas
governamentais, de transferir o excedente, que era irrealizável no país, pelos
índices de pobreza e desigualdade impostos na sociedade brasileira.

O acúmulo dos impostos é grande, comparado ao excedente que é mínimo,


sendo necessária a realização de transformações qualitativas no setor econômico,
pois só assim o modelo de exclusão social poderá ser superado.

A política de Assistência Social, nesse contexto, precisa estar atrelada a uma


eficaz política de redistribuição de renda igualitária. Sendo assim, desenha-se o
início da construção efetiva da cidadania, através da elaboração, estruturação e
implementação de benefícios, programas, projetos e serviços, que deveriam ser
universalmente custeados através das contribuições tributárias do capital vigente,
por meio de captação e alocação dos recursos públicos, por meio de um claro e
criterioso planejamento das ações que utilizem os recursos públicos.

Apesar das estratégicas conservadoras que foram utilizadas no processo


constituinte e das forças contrárias da sociedade civil que muitas conquistas
foram afirmadas na Constituição Federal de 1988, no que diz respeito aos direitos
de cidadania da população brasileira. Isso resultou na chamada “Constituição
Cidadã”.

É na CF de 88 que são contemplados os direitos sociais à educação, à


saúde, ao trabalho, à segurança, à previdência social, à proteção à maternidade e
à infância, à assistência aos desamparados (cf. Título II, “Dos Direitos e Garantias
Fundamentais”, Capítulo II, “Dos Direitos Sociais”, artigo 6º).

32
Capítulo 1 A ASSISTÊNCIA SOCIAL E AS POLÍTICAS SOCIAIS BRASILEIRAS, UM PROCESSO
DE CONTRUÇÃO

A assistência passou a ser uma referência diretamente interligada com


o direito de cidadania, através da aproximação e reconhecimento com área da
seguridade, ou seja, passou a ser considerada uma política social específica,
conforme o artigo 194 (Capítulo II, “Da Seguridade Social”, do Título VIII, “Da
Ordem Social”). A seguridade social compreende um conjunto integrado de ações
de iniciativa dos poderes públicos e da sociedade destinadas a assegurar os
direitos relativos à saúde, à previdência e à assistência social.

Esses direitos sociais foram reconhecidos como os novos princípios políticos


relacionados a uma estrutura mais racionalizada e democrática na utilização dos
recursos e serviços oferecidos pelas políticas públicas, tais como:

• Universalidade da cobertura e do atendimento para todos cidadãos.


• Igualdade e equivalência dos benefícios e serviços para populações
urbanas e rurais.
• Seletividade e distributividade na prestação dos benefícios e serviços.
• Irredutibilidade do valor dos benefícios.
• Igualdade na forma de participação do custeio, através da participação
dos estados e municípios na composição dos fundos sociais.
• Diversidade na base de financiamentos.
• Caráter democrático e descentralizado da gestão administrativa, através
da participação da sociedade civil, em especial, da classe trabalhadora,
empresários e aposentados.

A democratização dos recursos públicos e das políticas sociais, que foram


apontadas na CF/88, está fundamentada nos princípios citados acima, porém,
na prática, os cumprimentos das políticas públicas não são efetivados na sua
totalidade. Se analisarmos a política de saúde, que está regulamentada pelo
Sistema Único de Saúde (SUS), é evidente a diferença entre o discurso político,
independentemente, de partido político e da ação ética de quem está na gestão.

Sobre a Previdência Social, desde a CF/88, foram obtidas algumas conquistas


importantes para os trabalhadores, podendo ser citadas a regularização dos
direitos do trabalhador doméstico; a ampliação da licença maternidade; entre
outras.

Se faz necessário ponderar todos esses avanços cautelosamente. Apesar


de conquistas formais, é importante constar que existe falta de correspondência
e diálogo entre tais avanços com a promulgação da CF/88, impedindo assim
avanços no âmbito da legislação. Dessa forma, em partes, foi possível materializar
os direitos sociais enquanto prestação efetiva de serviços prescritos, excetos os
itens legais, que estavam centralizados na época pelo existindo Ministério da
Previdência e Assistência Social (MPAS), desde o ano de 1995.

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SiSTEmA ÚNiCo DE ASSiSTÊNCiA SoCiAL

Esses obstáculos na efetivação das políticas públicas podem ser apontados


diante do processo de revisão Constitucional, que era defendido ardorosamente
pelos setores empresariais e pelo governo. Esta revisão apontava alterações
muito desfavoráveis aos interesses da classe trabalhadora.

A sistematização jurídica-formal da seguridade social, realizada para uma


análise da assistência social como política social, destina-se a ampliar a discussão
desta área com outro ponto de vista. Isso constitui analisar a questão da política
pública de assistência social através de novas condições, através de um processo
de regulamentação legal.

Assim, no ano de 1993, foi aprovada a Lei Orgânica da Assistência Social


(LOAS). Desde então, estão sendo efetivados os serviços assistenciais por meio
de novas configurações da Política de Assistência Social.

A Política de Assistência Social será apresentada na sua integra nos próximos


capítulos.

1 Após a CF/88, a assistência social se tornou uma referência


diretamente interligada com o direito de cidadania permeando
os direitos sociais e que foram reconhecidos através dos novos
princípios políticos. Cite-os.

2.3 A FUNÇÃO DO ESTADO


BRASILEIRO PERANTE AS NOVAS
POLÍTICAS SOCIAIS
Avaliando a trajetória histórica da política de assistência social no Brasil,
averiguamos a recorrência de particularidades típicas que se mantiveram sem
mudança na sua formulação político-assistencial, até o final dos anos 90 e inícios
dos anos de 2000. A assistência era mencionada na prática como política para
completar as diferenças das áreas que a atuação do Estado não conseguia suprir,
correndo o risco de se reproduzir no seu original projeto, ou seja, a suplementação
das demais políticas sociais, como a educação, saúde, habitação.

34
Capítulo 1 A ASSISTÊNCIA SOCIAL E AS POLÍTICAS SOCIAIS BRASILEIRAS, UM PROCESSO
DE CONTRUÇÃO

A assistência social estava reconhecida como um instrumento transversal


que permeia as ações efetivadas pelas demais políticas sociais, mediante a
estratégia da universalização dos direitos sociais previstos na CF/88.

Os exemplos de presença dos componentes assistenciais nas outras


políticas são evidentes na educação básica, através de liberação de recursos para
uniformes e merendas escolares, a viabilidade do material didático, oportunizando
a continuidade de crianças e adolescentes nas escolas. Na saúde, os serviços
assistenciais estão configurados no cerne da política, pois qualquer ação de
planejamento estratégico, que se refere ao SUS, implica em recursos para o
abastecimento e fornecimento de medicamentos, de aparelhos específicos para
cada especialidade, de condução de pacientes, entre outros.

Na constituição que está em vigor é possível verificar que a assistência


mantém conexões com todas as políticas sociais dos mais diversos setores e
também com as políticas de fundo econômico.

A compreensão da análise apresentada anteriormente pode ser verificada


diante da conjuntura de pauperização da sociedade, na época de implementação
da CF/88, significando reconhecer que a maior parte da população se encontrava
excluída dos acessos mínimos para uma condição digna de vida.

Diante da qualidade de demissão e das insuficiências características da


pobreza e da miséria, são reproduzidos através de um ciclo de gerações familiares
os herdeiros de uma sociedade escravista e autoritária, resultando em uma
população suprimida por uma luta cotidiana em prol da própria sobrevivência.

Das categorias mais complexas e diversas, estes são os usuários da política


de assistência social, ou seja, os excluídos no sistema capitalista. Na visão de
seguridade social que estava assegurada na legislação vigente, a assistência
social conduz aos setores e segmentos na condição de vulnerabilidade social,
ou seja, sem condições de prover o sustento, são os excluídos do mercado de
trabalho formal e informal.

35
SiSTEmA ÚNiCo DE ASSiSTÊNCiA SoCiAL

O período de implementação de discussão da Constituição


Federal e da implementação das políticas neoliberais, a realidade
estava concretizada, segundo Menezes (1994, p. 103), da seguinte
forma:

Em 1981, a soma de trabalhadores sem rendimento


(10%), com rendimento até um salário mínimo (23%) e
entre um e dois salários mínimos chega a 58,8% de toda
PEA (População Economicamente Ativa). Se levarmos
em conta que esse padrão de remuneração caracteriza
o chamado “estado de pobreza”, quase 60% da PEA
trabalham com assalariamento abaixo da remuneração
mínima; portanto, são potencialmente usuários das
políticas sociais de assistência. Em 1989, a faixa de até
um salário mínimo sobe para 8,1% e aquela entre um e
dois salários mínimos também decresce para 21,4%. O
‘estado de pobreza’ atinge um percentual de 56,7% no
final dos anos 80.

Analisando o início dos anos 90, o Brasil estava com aproximadamente


60,2% da população em vulnerabilidade social, de acordo com pesquisas do
Banco Mundial, sendo uma realidade gravíssima e alarmante que ultrapassa as
probabilidades de utilização dos recursos estatais destinados às políticas sociais.

Essa análise da situação econômica, social e política dos anos de 1990


apresenta dados complexos à realidade dinâmica da sociedade brasileira,
ponderando os próprios riscos de uma aproximação que se almeja historicamente
no que se refere à dinâmica peculiar das políticas sociais, sendo que ela se
encontra ponderada aos processos conjunturais correntes, através de ambíguas
mudanças na definição do desenvolvimento de tais políticas.

Nesta perspectiva se faz necessário entender a lógica que muitas vezes se


esconde e que preside nos acontecimentos mais acentuados, para conseguir
elaborar algumas proposições diante dos cenários que foram construídos naquele
período, através do pensamento neoliberal.

Os acontecimentos mais relevantes da conjuntura daquele período estavam


fundamentados em uma lógica que explica as questões sociais no Brasil, perante
a diversidade das características comuns e um mosaico diferenciado de diversos
elementos, fatores, atores sociais, dos episódios individuais em todas as regiões
do país.

36
Capítulo 1 A ASSISTÊNCIA SOCIAL E AS POLÍTICAS SOCIAIS BRASILEIRAS, UM PROCESSO
DE CONTRUÇÃO

Wanderley (1988, p. 17) afirma que: “A questão social


fundante, nesses 500 anos de descobrimento, centra-se nas
extremas dificuldades e injustiças que reinam nas estruturas sociais,
resultantes do modo de produção e reprodução social, dos modos de
desenvolvimento”.

Sendo assim, o caráter das questões sociais brasileiras, em seu contexto


substrato histórico e político, tornou-se a matéria-prima da adaptação pública
por meio das políticas sociais que, durante o período de implementação do
neoliberalismo, mantiveram-se nas mesmas proporções, em todos os sentidos,
ampliando a sua circunscrição, ao se confortar com os dados econômicos e
sociais do Brasil.

Nesta fase é importante considerar o nível de estatísticas que foram indicados


no campo das políticas sociais, mediante os indicadores que mais afetam o campo
das políticas sociais. Entre outros incisivos que reafirmam as expectativas para
este período econômico, o crescimento do desemprego e o fechamento de alguns
postos tradicionais de trabalho foram assustadores, pois não se apontava opção
alguma de desenvolvimento social, através de um curto prazo, que permitisse
mais emprego e trabalho para a população economicamente ativa e produtiva.

Além de um desequilíbrio da economia, outras demandas sociais começaram


a ter evidência no país, como na área da saúde, através da propagação de
epidemias que estavam controladas, como a dengue, tuberculose e outras, que
além de exigirem medidas de prevenção também há exigências de tratamentos
concretos, como no caso da AIDS.

Na política de saúde as ações estavam em desequilíbrio no que abrangia


o financiamento para as atividades designadas como prioritárias, como ensino
básico e fundamental. Isso aconteceu, pois, antes da Constituição de 88, era
nítida a omissão do Governo Federal em todas as esferas do ensino, desde
educação para jovens e adultos até cursos profissionalizantes, além de um
amplo sucateamento das universidades públicas e pouco investimento nos outros
setores da educação, através de programas que garantissem o acesso a um
ensino de nível superior.

37
SiSTEmA ÚNiCo DE ASSiSTÊNCiA SoCiAL

Na área da Assistência Social, as ações de financiamento do Governo Federal


não representavam nem 1% do orçamento geral da Seguridade Social, que tinha
como compromisso o fundo público com o mínimo de 5%, conforme deliberações
das duas Conferências Nacionais, que foram realizadas pelo movimento social,
edificado pelos profissionais do Serviço Social para defender a Lei Orgânica de
Assistência Social (LOAS).

O início da implementação da LOAS foi marcado por vários equívocos,


através dos cortes nos orçamentos sociais, ao processo de municipalização da
lei, refletindo inteiramente na redução dos programas, serviços e de benefícios
que estavam destinados à população em condição de vulnerabilidade social.

Lessan et al. (1997, p. 69) afirmam que:

[...] no caso da assistência social, os programas foram


vítimas das sucessivas mudanças na institucionalidade
do setor, num processo de desmonte da estrutura
federal sem precedentes, a partir do governo Collor,
sendo descentralizados, sem gradualidade ou respeito
às definições e mecanismos de controle constantes da
Lei Orgânica da Assistência Social. Ao cair no vazio de
recursos e literalmente desaparecer, o sistema vigente
arrastou consigo a maior parte dos programas de
alimentação e nutrição, e os programas assistenciais de
creches, assistência aos deficientes e documentação
gratuita, dentre outros.

Diante disso, o cenário político, econômico e social era negativo, pois


o empenho de esclarecimentos dessas informações não é o mesmo que se
busca destacar com as conquistas do governo, pois defende e protege o projeto
governamental na implantação de suas ações estratégicas voltadas ao seu
interesse.

Com isso, é importante resgatar as fundamentais linhas de ações que foram


implementadas pelos dois governos de Fernando Henrique Cardoso (FHC), em
que a coerência política era seguida pelo projeto neoliberal hegemônico no país,
além do protótipo duplo ao ajuste fiscal e controle da inflação.

Singer (1999, p. 30) apresenta que:

38
Capítulo 1 A ASSISTÊNCIA SOCIAL E AS POLÍTICAS SOCIAIS BRASILEIRAS, UM PROCESSO
DE CONTRUÇÃO

Apesar de todas as provas em contrário, a tese de que a inflação


sempre é causada por excessos de gasto público é sustentada
por evidentes motivos ideológicos. Como os liberais acreditam
que os mercados deixados livres, sempre se equilibram eles
não podem admitir que a incessante elevação do índice de
preços possa ser provocada por disputas entre setores da
própria sociedade civil. De modo que evitar para eles sustentar
que qualquer inflação se origina no setor público e só pode ser
debelada mediante um ajuste fiscal acompanhado por políticas
monetárias restritivas.

Boa parte das ações estratégicas do Governo Federal estava em garantir


a inserção da economia do Brasil no ritmo e no espaço necessitado ao ciclo da
internacionalização dos mercados de capitais, como no modelo de produção e
comercialização mundial dos bens de consumo.

Sendo assim o Brasil passou a ter uma inserção à globalização e ou


modernização da economia, gerando uma suspensão maior nas barreiras
alfandegárias para os produtos importados, como também a condução dos
capitais estrangeiros pela alienação do patrimônio público, ou seja, a privatização
de empresas estatais, o domínio superficial da inflação, na base da manutenção
dos juros altos e do arrocho salarial.

A conjuntura econômica, social e política colocou as classes trabalhadoras


em desgastes, desmobilização política e perda dos direitos sociais.

Para Fiori (1997, p. 52):

O que os conservadores chamam de ‘custo social’


da reestruturação ou ajuste das economias nacionais
às condições de competitividade global, não seriam
apenas efeitos transitórios, seriam permanentes e
crescentes e resultariam da armadilha circular imposta
pelas políticas deflacionistas quando propõem,
simultaneamente, a estabilidade e a paridade das
moedas, a manutenção do equilíbrio fiscal e o aumento
da competitividade. E não parece difícil perceber que,
na medida em que aqueles dois primeiros objetivos
levam a um crescimento econômico medíocre, a
responsabilidade pelos equilíbrios macroeconômicos
se transfere, de maneira crônica e impotente, para o
campo do corte dos gastos fiscais que já estão a esta
altura no seu limite pressionados pelos altos juros que
a dívida pública enfrentou nestes últimos quinze anos.

39
SiSTEmA ÚNiCo DE ASSiSTÊNCiA SoCiAL

A abertura da economia e a entrada e saída estimulada do capital especulativo


fragilizou todo o processo produtivo agrícola e industrial, sendo os dois setores
não produtivos, pois não tinham como objetivo gerar empregos.

Netto (1999, p. 79) expõe o seguinte:

A inviabilização da alternativa constitucional de construção de


um Estado com amplas responsabilidades sociais, garantidor
de direitos sociais universalizados, foi conduzida por FHC
simultaneamente à implementação do projeto político do
grande capital. [...] tratava-se de implementar uma orientação
política macroscópica que, sem ferir grosseiramente os
aspectos formais da democracia representativa, assegurasse
ao Executivo federal a margem de ação necessária para
promover uma integração mais vigorosa ao sistema econômico
conforme as exigências do grande capital e, portanto,
sumamente subalterna.

Algumas empresas brasileiras, principalmente, as menos competitivas no


mercado financeiro, tiveram dificuldade em manter a produção dos produtos,
mediante o encarecimento externo do valor financeiro dos empréstimos para
dar continuidade ao empreendimento. Muitas delas decretaram falência e outras
foram vendidas para grandes investidores multinacionais.

Os estados e municípios foram afetados pela diminuição das arrecadações


tributárias e também pelos financiamentos dos seus programas.

A situação imposta aos trabalhadores destruídos pelo achatamento salarial,


pelo desemprego, pela completa e total precarização das condições de trabalho e
também de vida, acabou gerando uma instabilidade dos sujeitos e um alastramento
da violência social, urbana e doméstica. De acordo com Fiori (1997, p. 51), os
trabalhadores e familiares: [...] “já abriram mão de muitos de seus direitos e o
desemprego segue aumentando”.

O acesso da população brasileira aos direitos sociais garantidos na CF/88


e condições dignas de vida, no final do século passado, foram registrados em
uma conjuntura de crise estrutural do sistema econômico, em determinação
das medidas sobre o ajuste fiscal e de reorganização produtiva e financeira
que se desenvolveram através de medidas neoconservadoras das instituições
internacionais e por representação do Governo Federal.

O que acontecia era um contraponto nos termos incontestáveis da agenda


social para o Brasil, pois o processo de globalização, da maneira que se instalou
no país, gerou consequências que refletiram no aumento da exclusão social,
muito mais que na reversão da recessão da economia.

40
Capítulo 1 A ASSISTÊNCIA SOCIAL E AS POLÍTICAS SOCIAIS BRASILEIRAS, UM PROCESSO
DE CONTRUÇÃO

Contrariamente, a análise mais crítica de todo esse processo recomenda


uma articulação diante dos efeitos e das causas da crise econômica.

Onde o sistema capitalista prevalece só se pode diminuir as taxas de


empregos e de crescimento econômico, determinando um grande exército
de pessoas, submetidas a viver na miséria ou abaixo a linha de pobreza. São
trabalhadores forçados a viver, sobreviver.

Os autores Lessa et al. (1997, p. 68) apresentam que:

O desmonte do projeto da seguridade social data do início


dos anos 90, quando o repasse de recursos de contribuições
sociais arrecadadas pela União em nome da seguridade
começou a ser de gestão orçamentária em termos de alta
inflação, que consistia em cortar gastos, em termos reais, pela
corrosão de seu valor provocado por atrasos deliberados de
repasses. Como pobre não tem lobby, os ministérios sociais,
ditos do ‘gasto’, e suas clientelas têm sido as maiores vítimas
desse procedimento.

Estes setores sociais não obtiveram proposta alguma do Governo Federal,


como também as ações e projetos concretos ficaram à mercê do compromisso
e comprometimento ético, pautados no combate à exclusão social da população
brasileira.

Sendo assim, uma subjuntiva maioria da população perdeu os direitos


sociais, com exceção dos grupos que estão no poder governamental, estimulados
pelos grandiosos lucros, obtidos através da sonegação fiscal, como já mencionado
anteriormente.

O Congresso Nacional foi um ator importante neste período, pois através do


seu apoio maioritário para o governo e para as elites dirigentes conseguiu manter
a hegemonia diante dos projetos propostos.

Analisando as propostas da eleição presidencial de 1989, na qual Fernando


Collor de Melo foi eleito pela promessa de “caçar marajás”, percebe-se que
esta não foi realizada. Já Fernando Henrique Cardoso, quando eleito no ano de
1994, foi mais sofisticado e talentoso nos seus programas de governo, através
da promessa da Reforma do Estado Brasileiro, ou seja, a desmantelar o Estado
varguista. Mas não foi uma proposta fácil de ser implementada, uma vez que o
Estado não deixou de ser o instrumento difusor das regulações sociais, mesmo
com a conjuntura de um mercado livre, expressada pelo neoliberalismo, ou seja, o
Estado mínimo para os trabalhadores e máximo para capital.

41
SiSTEmA ÚNiCo DE ASSiSTÊNCiA SoCiAL

É visível um movimento de ampliação da centralização do poder político e


econômico, mediante à revelia da democratização das instituições e da sociedade,
que são determinadas como as lutas de classes do final século passado.

Para Coutinho (1989, p. 138)

[...] o atual governo adotou um caminho cada vez mais claro.


Longe de propor medidas que desmontassem os traços mais
perversos do ‘Estado varguista’ limitou-se em reiterar a ação
econômica estatal voltada para a defesa dos interesses da
acumulação capitalista privada e em tentar remover (sempre
em função dos interesses dessa acumulação) significativos
direitos sociais, garantidos sobretudo – para além dos marcos
do ‘Estado varguista’ – pelas lutas populares cristalizadas na
Constituição de 1988.

Com as disputas eleitorais que estavam em jogo durante o período pós


CF/88, a sociedade civil foi alvo de um ciclo de reformas estruturais inacabadas
e que concluem a chamada programática neossocialista, ou seja, a ascensão
do poder antipopular com as alianças partidárias do Partido da Frente Liberal
(PFL) e do Partido da Social Democracia Brasileira (PSDB), com a eleição do
Presidente FHC, no ano de 1994 e no ano de 1988, a mesma aliança foi reeleita,
e agregou outros partidos, como o Partido Progressista Brasileiro (PPB), Partido
Trabalhista Brasileiro (PTB), Partido Liberal (PL), dentre outros. Entre as reformas
estava a aceitação da anulação e quebras dos monopólios públicos, que estavam
legalmente amparados constitucionalmente como os monopólios do Petróleo, os
monopólios das Telecomunicações e os monopólios dos Portos, e logo após as
privatizações das empresas estatais como a Companhia Siderúrgicas Nacional
(CSN), Usiminas, a Vale do Rio Doce, a Rede Ferroviária Federal, além de
algumas empresas estaduais do setor elétrico e de abastecimento de água, e em
último lugar o sistema Telebrás/Embratel.

Os partidos de oposição e os movimentos sociais e políticos tentaram


combater e resistir a essa nova perspectiva, principalmente na conservação de
alguns direitos sociais, principalmente da Previdência Social Pública, mas sem
muito sucesso. Das poucas conquistas, não foram efetivadas como Emenda à
Constituição e sim como Medidas Provisórias e Decretos Normativos, Portarias
e ou Ordens de Serviços que reduziram os benefícios que eram antes oferecidos
pela Previdência Social e Assistência Social, conforme a Constituição Federal de
1988, com a Lei Infraconstitucional Regulamentadora, nº 8213 de 1992 e com a
Lei Orgânica da Assistência (LOAS), nº 8742 de 1993.

Para Viana (1989, p. 111), essa análise é fundamentada da seguinte maneira:

42
Capítulo 1 A ASSISTÊNCIA SOCIAL E AS POLÍTICAS SOCIAIS BRASILEIRAS, UM PROCESSO
DE CONTRUÇÃO
[...] a destruição da seguridade social – destruição ‘subjetiva’
porque a discussão girou em torno da previdência, jogando ao
limbo a seguridade e ‘objetiva’ porque sedimentou-se a fórmula
da vinculação de receitas específicas (e separadas) para a
previdência, saúde e assistência social – propiciou ao governo
(a todos, desde 1990) uma situação confortável para lidar com
suas verdadeiras urgências. A saber: apresentar às agências
multilaterais de crédito (em especial ao FMI) uma prova de
bom comportamento; oferecer à indústria de previdência (e
aos planos privados de saúde) mais incentivos; e desmantelar
boa parte do aparato administrativo público, atribuindo aos
funcionários a culpa pelos males do Estado.

Houve neste período uma questão duvidosa no que se referia ao


financiamento da Seguridade Social, que não teve sua implementação conforme
as exigências constitucionais, cujos recursos oriundos das contribuições sociais
careceriam serem destinados para a Saúde, Assistência Social e Previdência
Social. Esses recursos teriam sidos utilizados para o pagamento da dívida externa.

Neste contexto, da LOAS, o Estado estava implementando as reformas


administrativas, em que estavam sendo formuladas sem debate ou participação
democrática da sociedade organizada, através de uma série de medidas que
acabavam com a responsabilização do governo federal e estaduais na prestação
de serviços do sistema de proteção social.

Muitas políticas consideradas importantes foram passada para


responsabilidade sem respaldo técnico e político e sem a carecida suplementação
financeira necessária. Pode-se citar como exemplos as políticas de Saúde,
Educação e Assistência Social, de Geração de Emprego Renda, além de outras.

A descentralização das políticas socais estava em risco mediante a dinâmica


que foi imposta pelo Governo Federal. Os ciclos administrativos das reformas
neste período permaneceram, em que a reforma político-partidária estava
reduzida a emenda de reeleição do Governo Federal, que, consequentemente,
paralisou as ações governamentais e o Congresso Nacional.

A reforma tributária, fundamentada em diversos projetos e concepções, foi


extraída estrategicamente do cenário político e da mídia em virtude da discrição
necessária para a negociação pouco transparente nos acordos e consensos
que estavam sendo implementados. De todas as reformas, os elementos
políticos utilizados nelas são os mais controversos que poderiam afetar de forma
geral todos os contribuintes, até os setores vinculados ao capital e que davam
sustentabilidade política ao poder.

Com essa ideologia de privatização, praticamente o Brasil não precisava


de uma reforma fiscal, pois praticamente tudo ficaria sobre responsabilidade
da iniciativa privada, tanto os direitos chamados de ‘mercadorizáveis’, como os
43
SiSTEmA ÚNiCo DE ASSiSTÊNCiA SoCiAL

serviços na área da Saúde e da Previdência e da Assistência Social, ficando sobre


a responsabilidade da sociedade organizada voluntária e solidária.

Neste sentido, os privilégios da classe dominante continuarão mantidos


e os supostos impactos contrários foram distanciados, pois o Brasil teve
uma das maiores arrecadações fiscais de sua história. Isso ocasionou uma
importante discussão para o governo federal, em que foi definido o percentual
máximo de despesas com a categoria do funcionalismo perante as três esferas
governamentais, orientados pelo Fundo Monetário Internacional (FMI).

Diante da clareza que se anseia no detalhamento desses processos


sociopolíticos e das dinâmicas que ocorrem na sociedade, alude, em explorar
uma análise diante dos caminhos necessários e das melhores estratégias usadas
para a execução do projeto político que envolvem os trabalhadores sociais, dentro
da probabilidade e perspectiva da efetivação de uma sociedade igualitária, justa e
democrática.

Com esse direcionamento, o Brasil apresentou as suas potencialidades,


porém, desenvolvê-las e implementá-las é uma missão difícil, pois o país estava
aprendendo a viver em um sistema democrático.

No campo político-legal, houve a concentração vitoriosa, que se constitui


em referências imprescindíveis para a promoção da tão sonhada e almejada
sociedade igualitária.

Caro acadêmico, a leitura do livro O neoliberalismo – história


e implicações é de fundamental importância para os seus
conhecimentos.

FIGURA – CAPA DO LIVRO O NEOLIBERALISMO – HISTÓRIA E IMPLICAÇÕES

FONTE: <https://images-na.ssl-images-amazon.com/images/
I/81COWA0NhrL.jpg>. Acesso em: 12 jan. 2021.
44
Capítulo 1 A ASSISTÊNCIA SOCIAL E AS POLÍTICAS SOCIAIS BRASILEIRAS, UM PROCESSO
DE CONTRUÇÃO

Os futuros historiadores poderão considerar os anos 1978-1980


um ponto de ruptura revolucionário na história social e econômica do
mundo: Deng Xiaoping deu os primeiros passos que iriam transformar
a China de um remoto país fechado num centro aberto de dinamismo
capitalista.

HARVEY, David. O neoliberalismo – história e implicações. São


Paulo: Loyola, 2008.

1 Pesquise e descreva quais as diferenças do plano de governo de


Fernando Collor de Melo e do governo de Fernando Henrique
Cardoso.

DEMOCRACIA E SOCIEDADE AUTORITÁRIA


Marilena Chaui

Visto que o pensamento e a prática liberais identificam liberdade


e competição, essa definição da democracia significa, em primeiro
lugar, que a liberdade se reduz à competição econômica da chamada
― livre iniciativa e à competição política entre partidos que disputam
eleições; em segundo, que a noção de regime da lei e pela vontade
da ordem indica que há uma redução da lei à potência judiciária para
limitar o poder político, defendendo a sociedade contra a tirania,
pois a lei garante os governos escolhidos da maioria; em terceiro,
significa que há uma identificação entre a ordem e a potência dos
poderes executivo e judiciário para conter os conflitos sociais,
impedindo, por meio da repressão e da censura, sua explicitação
e desenvolvimento; e, em quarto lugar, que, embora a democracia
apareça justificada como ―valor ou como ― bem, é encarada, de
fato, pelo critério da eficácia, medida, no plano legislativo, pela ação
dos representantes, entendidos como políticos profissionais, e, no
plano do poder executivo, pela atividade de uma elite de técnicos
competentes aos quais cabe a direção do Estado, ou a afirmação de
que a democracia é o governo de muitos por poucos.
45
SiSTEmA ÚNiCo DE ASSiSTÊNCiA SoCiAL

A democracia é, assim, reduzida a um regime político eficaz,


baseado na ideia de cidadania organizada em partidos políticos, e
se manifesta no processo eleitoral de escolha dos representantes,
na rotatividade dos governantes e nas soluções técnicas para os
problemas econômicos e sociais.
Ora, há, na prática democrática e nas ideias democráticas, uma
profundidade e uma verdade muito maiores do que o liberalismo
percebe e deixa perceber.
Que significam as eleições? Muito mais do que a mera
rotatividade de governos ou a alternância no poder, elas simbolizam
o essencial da democracia, ou seja, que o poder não se identifica
com os ocupantes do governo, não lhes pertence, mas é sempre
um lugar vazio que, periodicamente, os cidadãos preenchem com
representantes, podendo revogar seus mandatos se não cumprirem
o que lhes foi delegado para representar. Em outras palavras, a
soberania é popular, como a própria palavra significa, pois, em grego,
demos é o povo politicamente organizado e kratós, o poder; portanto,
poder do povo.
Por isso mesmo é também característica da democracia que
somente nela se torne claro o princípio republicano da separação
entre o público e o privado. De fato, com a ideia e a prática de
soberania popular, nela se distinguem o poder e o governo – o
primeiro pertence aos cidadãos, que o exercem instituindo as leis e
as instituições políticas ou o Estado; o segundo é uma delegação de
poder, por meio de eleições, para que alguns (legislativo, executivo,
judiciário) assumam a direção da coisa pública.
Isso significa, como indica a expressão latina RES pública, que
nenhum governante pode identificar-se com o poder e apropriar-se
privadamente dele.
Que significam as ideias de situação e oposição, maioria e
minoria, cujas vontades devem ser respeitadas e garantidas pela lei?
Elas vão muito além dessa aparência. Significam que a sociedade
não é uma comunidade una e indivisa voltada para o bem comum
obtido por consenso, mas, ao contrário, que está internamente
dividida, que as divisões são legítimas e devem ser expressas
publicamente.
Da mesma maneira, as ideias de igualdade e liberdade como
direitos civis dos cidadãos vão muito além de sua regulamentação
jurídica formal. Significam que os cidadãos são sujeitos de direitos e
que, onde tais direitos não existam nem estejam garantidos, tem-se o
direito de lutar por eles e exigi-los.
É esse o cerne da democracia: a criação de direitos. E por isso
mesmo, como criação de direitos, está necessariamente aberta aos

46
Capítulo 1 A ASSISTÊNCIA SOCIAL E AS POLÍTICAS SOCIAIS BRASILEIRAS, UM PROCESSO
DE CONTRUÇÃO

conflitos e às disputas. Em outras palavras, a democracia é a única


forma política na qual o conflito é considerado legítimo.
O que é um direito? Um direito difere de uma necessidade ou
carência e de um interesse.
De fato, uma necessidade ou carência é algo particular e
específico. Alguém pode ter necessidade de água, outro, de comida.
Um grupo social pode ter carência de transportes, outro, de hospitais.
Há tantas necessidades quanto indivíduos, tantas carências quanto
grupos sociais.
Um interesse também é algo particular e específico, dependendo
do grupo ou da classe social. Necessidades ou carências, assim
como interesses tendem a ser conflitantes porque exprimem as
especificidades de diferentes grupos e classes sociais.
Um direito, porém, ao contrário de necessidades, carências e
interesses, não é particular e específico, mas geral e universal, seja
porque é válido para todos os indivíduos, grupos e classes sociais,
seja porque é universalmente reconhecido como válido para um grupo
social (como é caso das chamadas ―minorias). Ora, isso significa
que sob carências, necessidades e interesses, encontra-se algo
que as explica e determina, isto é, o direito. Assim, por exemplo, a
carência de água e de comida manifesta algo mais profundo: o direito
à vida. A carência de moradia ou de transporte também manifesta
algo mais profundo: o direito a condições de vida dignas. Da mesma
maneira, o interesse, por exemplo, dos estudantes exprime algo mais
profundo: o direito à educação e à informação. Em outras palavras,
se tomarmos as diferentes carências e os diferentes interesses,
veremos que sob eles estão pressupostos direitos pelos quais se luta
justamente porque opera com o conflito e com a criação de direitos,
a democracia não se confina a um setor específico da sociedade no
qual a política se realizaria – o Estado, mas determina a forma das
relações sociais e de todas as instituições, ou seja, é o único regime
político que é também a forma social da existência coletiva.
Ela institui a sociedade democrática. Dizemos, então, que uma
sociedade — e não um simples regime de governo — é democrática
quando, além de eleições, partidos políticos, divisão dos três poderes
da república, distinção entre o público e o privado, respeito à vontade
da maioria e das minorias, institui algo mais profundo, que é condição
do próprio regime político, ou seja, quando institui direitos e que
essa instituição é uma criação social, de tal maneira que a atividade
democrática social realiza-se como um poder social que determina,
dirige, controla e modifica a ação estatal e o poder dos governantes.

47
SiSTEmA ÚNiCo DE ASSiSTÊNCiA SoCiAL

Essa dimensão criadora torna-se visível quando consideramos


os três grandes direitos que definiram a democracia desde sua
origem, isto é, a igualdade, a liberdade e a participação nas decisões.
A igualdade declara que, perante as leis e os costumes da
sociedade política, todos os cidadãos possuem os mesmos direitos e
devem ser tratados da mesma maneira. Ora, a evidência história nos
ensina que a mera declaração do direito à igualdade não faz existir
os iguais. Seu sentido e importância encontram-se no fato de que ela
abre o campo para a criação da igualdade por meio das exigências,
reivindicações e demandas dos sujeitos sociais. Por sua vez, a
liberdade declara que todo cidadão tem o direito de expor em público
seus interesses e suas opiniões, vê-los debatidos pelos demais
e aprovados ou rejeitados pela maioria, devendo acatar a decisão
tomada publicamente. Ora, aqui também, a simples declaração do
direito à liberdade não a institui concretamente, mas abre o campo
histórico para a criação desse direito pela prática política.
Tanto é assim que a modernidade agiu de maneira a ampliar a
ideia de liberdade: além de significar liberdade de pensamento e de
expressão, também passou a significar o direito à independência para
escolher o ofício, o local de moradia, o tipo de educação, o cônjuge
etc. As lutas políticas fizeram parte da história das conquistas dos
trabalhadores.

FONTE: <http://www.revistas.ufg.br/index.php/ci/article/
viewFile/24574/14151>. Acesso em: 30 jun. 2015.

3 ALGUMAS CONSIDERAÇÕES
A Seguridade Social, como um novo conceito de direito à proteção
social, foi constituída a partir da Constituição Federal, sendo composta pela
Saúde, pela Previdência e pela Assistência Social. Juntamente com esse novo
reconhecimento, veio junto à proteção especial para crianças e adolescentes,
pessoas com necessidade especiais, pessoas idosas, índios, mulheres,
populações carcerárias, que promulgaram um conjunto de políticas fundamentais
e essências para reverter o quadro crítico social do Brasil.

Com a promulgação da Lei Orgânica da Assistência Social (LOAS), foram


situados novos e importantes níveis do direito social, através de agendas intensas
e permanentes, com a estruturação dos serviços a serem proporcionados
e oferecidos para a população. Esses serviços passariam a ser efetuados
prioritariamente pelo poder público, através de benefícios de uma renda mínima
48
Capítulo 1 A ASSISTÊNCIA SOCIAL E AS POLÍTICAS SOCIAIS BRASILEIRAS, UM PROCESSO
DE CONTRUÇÃO

para o idoso, pessoas com necessidade especiais, crianças e famílias, ampliados


por meio de programas e serviços de enfrentamento da pobreza.

Nas legislações vigentes, até o período de desenvolvimento e implementação


do neoliberalismo, como o Estatuto da Criança e do Adolescente, a Política
Nacional do Idoso, o Programa Nacional para Pessoa Portadora de Deficiência,
entre outras de extrema importância, que estavam em sintonia com a LOAS,
formavam um vasto quadro de direitos sociais e de serviços que referenciavam
as diversas atividades e ações desenvolvidas pelos órgãos responsáveis da área
da Assistência Social. Essas ações foram se fortalecendo através do debate ético
político da profissão, por meio das parcerias dos municípios, organizações não
governamentais e governos estaduais, conforme as diretrizes de descentralização
político-administrativa da LOAS.

A avaliação das problemáticas que fazem parte da composição das


demandas inseridas na área da Assistência Social apresentou no período um
grande índice de complexidade, proveniente não só da população que submetida
encontrava-se em condições de miséria e vulnerabilidade social, mas também
pelo grande número de condições concretas, características de cada segmento
social da população excluída do sistema capitalista.

Diante da heterogeneidade das situações sociais, estabeleceu-se a exigência


das abordagens teóricas, de técnicas através de instrumentos de trabalho do
profissional, assistente social, da prestação de serviços especializados, que
precisariam suprir as carências materiais imediatas, que fossem voltadas para a
garantia de sobrevivência física, como também para suprir as necessidades do
contexto familiar e comunitária no que se refere ao convívio e ao fortalecimento de
vínculos comunitário e familiares.

Esses programas e serviços deveriam buscar o comando na superação


determinante das trajetórias históricas de exclusão social, violência e
subalternidade social, por meio da elaboração e implementação de atividades
sócio culturais, fazendo com que os usuários tenham a vivência concreta e real
da cidadania ativa, sendo gestores de suas próprias vidas e cidadãos influentes e
atuantes como trabalhadores emancipados, com seus direitos sociais.

Na LOAS, as ações designadas como programas e projetos de enfrentamento


da pobreza, ao serem formuladas dentro dos métodos e de conteúdos teóricos e
práticos, eram então reorientadas para efetivar estratégias contrárias à alienação
e favoráveis à emancipação da população com mais vulnerabilidade social.
Isso dava-se por meio de alguns instrumentos políticos e técnicos que fossem
produtores de novos espaços de reconhecimento do indivíduo como cidadão de
direitos, resgatando a autoestima e maior convivência comunitária e coletiva.

49
SiSTEmA ÚNiCo DE ASSiSTÊNCiA SoCiAL

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Capacitação em

50
Capítulo 1 A ASSISTÊNCIA SOCIAL E AS POLÍTICAS SOCIAIS BRASILEIRAS, UM PROCESSO
DE CONTRUÇÃO

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WEGRZYNOVSKI, S. B. O serviço social no capitalismo. Indaial: UNIASSELVI,


2015.

51
SiSTEmA ÚNiCo DE ASSiSTÊNCiA SoCiAL

52
C APÍTULO 2
O SISTEMA ÚNICO DE ASSISTÊNCIA
SOCIAL NO BRASIL

A partir da perspectiva do saber-fazer, são apresentados os seguintes


objetivos de aprendizagem:

• Compreender quais são os conceitos e as bases teóricas do SUAS.


• Entender quais são os níveis de gestão do SUAS.
• Conhecer o reordenamento dos serviços, programas, projetos benefícios
socioassistenciais, instrumentos de Gestão do SUAS.
• Avaliar quais são os desafios de implementação do SUAS.
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54
Capítulo 2 O SISTEMA ÚNICO DE ASSISTÊNCIA SOCIAL NO BRASIL

1 CONTEXTUALIZAÇÃO
O Serviço Social historicamente sempre acabou sendo repentino das
ações da assistência social, como uma relação de dependência. Através dessa
perspectiva e vinculação, pode-se cominar em algumas características que
apresentaram vários equívocos para a atividade profissional e conjuntamente com
as bases metodológicas tradicionais, positivistas, que orientaram formação e o
exercício profissional, até o final de década de 70, e que estimularam uma visão
equivocada do perfil profissional.

As mudanças que ocorreram através de estudos e do desempenho de vários


profissionais para apresentar elementos do Serviço Social tradicional, sendo
essas ações concretizadas sistematicamente, aumentaram a probabilidade de
conhecer a dinâmica do agir profissional no contexto social e técnico da divisão
do trabalho.

No Brasil, a assistência social tem sua trajetória atrelada às práticas


beneficentes e filantrópicas, fundamentadas em um ideário positivista, resultando
em uma visão de naturalidade das desigualdades sociais.

Por meio da Constituição Federal de 1988, emergiu um processo de


revitalização e democratização da sociedade brasileira, no qual foi regulamentado
o direito à assistência social, constituindo a Lei Orgânica de Assistência Social –
LOAS/1993.

O Estado neoliberal e o agravamento das questões sociais distinguiram um


recuo da assistência social. Objetivando romper esse quadro, foi criado o Sistema
Único de Assistência Social, que constitui uma nova direção prática para a Política
de Assistência Social.

Neste segundo capítulo, serão abordadas as questões que dizem respeito


às perspectivas da política de assistência social, desde a sua implementação e
efetivação do Sistema Único de Assistência Social.

55
SiSTEmA ÚNiCo DE ASSiSTÊNCiA SoCiAL

2 OS CONCEITOS E BASES
TEÓRICAS QUE FUNDAMENTAM
O SUAS E SEUS EIXOS
ESTRUTURANTES
A metodologia de implementação da Política Nacional de Assistência
Social (PNAS) teve em seu desenvolvimento um importante instrumento na sua
consolidação, que foi o Sistema Único de Assistência Social (SUAS), organizado
com a finalidade de materializar o processo de andamento da PNAS como uma
Política Pública de direito para todos os cidadãos que dela necessitarem.

Com a IV Conferência Nacional de Assistência Social, no ano de 2003, a


efetivação dos direitos socioassistencias se fortalecem através de uma nova
agenda política, por meio do SUAS, que se concretiza como sendo modelo
de gestão para todo o Brasil, por meio de todas as esferas governamentais,
consolidando um princípio de descentralização conforme LOAS.

O projeto Lei nº 3.077/08 foi considerado o marco legal para legalizar o


SUAS, tornando uma lei nacional. Durante a tramitação no Congresso Nacional
para a aprovação desse projeto de lei, houve manifestação de apoio do Conselho
Nacional de Assistência Social (CNAS) do Conselho Federal de Assistência
Social (CFESS), Conselhos Regionais de Serviço Social (CRESS), da Executiva
Nacional de Estudantes de Serviço Social (ENESSO) e outras organizações
estudantis e de classe.

No dia 6 de julho de 2011, a Lei nº 12.435 foi sancionada pela Presidente do


Brasil, Dilma Rousseff, e altera a Lei nº 8.742, de 7 de dezembro de 1993, que
dispõe sobre a organização da Assistência Social. Ela tem os seguintes objetivos:

Art. 2º A assistência social tem por objetivos:


I - a proteção social, que visa à garantia da vida, à redução de
danos e à prevenção da incidência de riscos, especialmente:
a) a proteção à família, à maternidade, à infância, à adolescência
e à velhice;
b) o amparo às crianças e aos adolescentes carentes;
c) a promoção da integração ao mercado de trabalho;
d) a habilitação e reabilitação das pessoas com deficiência e a
promoção de sua integração à vida comunitária; e
e) a garantia de 1 (um) salário-mínimo de benefício mensal à
pessoa com deficiência e ao idoso que comprovem não possuir
meios de prover a própria manutenção ou de tê-la provida por
sua família;

56
Capítulo 2 O SISTEMA ÚNICO DE ASSISTÊNCIA SOCIAL NO BRASIL

II - a vigilância socioassistencial, que visa a analisar


territorialmente a capacidade protetiva das famílias e nela a
ocorrência de vulnerabilidades, de ameaças, de vitimizações
e danos;
III - a defesa de direitos, que visa a garantir o pleno acesso aos
direitos no conjunto das provisões socioassistenciais.
Parágrafo único. Para o enfrentamento da pobreza, a
assistência social realiza-se de forma integrada às políticas
setoriais, garantindo mínimos sociais e provimento de
condições para atender contingências sociais e promovendo
a universalização dos direitos sociais (NR) (BRASIL, 2011b,
s.p.).

Sendo assim, o SUAS se estabelece como um mecanismo para a


concretização da LOAS, enfatizando a descentralização da gestão nas três
esferas governamentais com a participação da Sociedade Civil e Estado.

Através desse novo sistema é priorizada a responsabilidade do Estado na


garantia aos direitos de todos os usuários da Política de Assistência Social, sendo
esta a única que tem condições de suprir as necessidades básicas do cidadão.

Os eixos estruturantes que serão apresentados neste tópico são as bases


organizativas, NOB/SUAS/2005, para a gestão do SUAS, definindo, organizando
e fortalecendo a efetivação da Política de Assistência Social em todo território
nacional.

Os eixos principais que norteiam a implementação desse novo sistema são:

a) Precedência da gestão pública da política de assistência social.


b) Alcance dos direitos socioassistenciais por todos os cidadãos que
precisarem.
c) Matricialidade familiar.
d) Territorialização.
e) Descentralização político-administrativa e reordenamento institucional
da gestão.
f) Financiamento partilhado com todos e entre os entes federados.
g) Fortalecimento da relação de democracia entre Estado e sociedade civil.
h) Articulação com toda a rede de atendimento socioassistencial.
i) Valorização do Controle Social.
j) Participação da comunidade/usuário.
k) Qualificação dos recursos humanos que atuam na política.
l) Implementação do sistema de informação, monitoramentos, avaliação e
sistematização de resultados.

57
SiSTEmA ÚNiCo DE ASSiSTÊNCiA SoCiAL

Esses eixos contribuem para a personificação, unificação e


A Assistência Social,
que antes estava qualidade dos serviços ofertados, como também para a avaliação
fundamentada na dos indicadores através de consulta aos indicadores sociais, além da
prática clientelista, definição terminológica das ações socioassistenciais.
assistencialista e
tutelada, passa a O SUAS, através de sua implementação, passou a ser considerado
ter seus benefícios
como uma revolução na assistência social do Brasil.
como direitos de
cidadania.
Esse sistema é fruto de aproximadamente duas décadas de
discussão, colocando em prática os princípios da Constituição Federal – 88,
que integra a Assistência Social, juntamente com Saúde e Seguridade Social à
Previdência Social.

A Assistência Social, que antes estava fundamentada na prática clientelista,


assistencialista e tutelada, passa a ter seus benefícios como direitos de cidadania.

Outro eixo do SUAS é a matricialidade sociofamiliar, sendo este a centralidade


das ações do sistema.

Para Pereira (2009, p. 26), desde os inícios das décadas de 70,


“[...] a família vem sendo redescoberta como um importante agente
privado de proteção social”.

Essa é a justificativa que faz com que a família seja, hoje, o foco de atenções
em todas as políticas públicas. Isso decorre da falta de uma política exclusiva no
Brasil, como também é inexistente em outros países. A família passou a ser um
objetivo de discussão no meio acadêmico e científico, perante a relação que se
constitui entre família e Estado, visto que este é o encarregado e o responsável
para suprir as demandas sociais das famílias por meio da promoção de políticas
sociais.

Na década de 90, o neoliberalismo exaltou as diferenças e desigualdades


sociais e, ao mesmo tempo, existia uma discussão de um Estado como um
instrumento mais forte, que se fazia presente e interveniente, mas o neoliberalismo
tinha como um objetivo o Estado estar longe das demandas sociais, passando a
responsabilidade para a sociedade civil.

58
Capítulo 2 O SISTEMA ÚNICO DE ASSISTÊNCIA SOCIAL NO BRASIL

Potyara Pereira (2009, p. 36) define que as instituições


de assistência social constituem uma organização que precisa
prover o bem-estar dos usuários por ser: “[...] considerada a célula
mantenedora da sociedade ou a base sobre a qual outras atividades
de bem-estar se apoiam, a família ganhou relevância atual justamente
pelo caráter informal, livre de constrangimentos burocráticos e de
controles externos”.

O Estado não consegue suprir todas as demandas sociais e acaba passando


a responsabilidade de proteção para a família, desviando assim o foco do
responsável pelas disparidades sociais.

No artigo 226 da Constituição familiar, está expresso que é de


responsabilidade do Estado a proteção à família, reconhecendo-a como alicerce
da sociedade, como sujeito de direitos, como outras legislações.

A concepção do conceito que a família é a referência é importante para os


gestores, para os trabalhadores do SUAS, assim como para os conselheiros da
assistência social, para que a organização dos serviços seja planejada conforme
as demandas das famílias.

O profissional que atua em determinado território deve organizar um trabalho


comunitário, visando o fortalecimento das organizações sociais que já existem,
através da inclusão dos usuários, buscando assim o fortalecimento e a autonomia,
com reflexões críticas que consequentemente buscam novos horizontes, que
esses usuários consigam perceber que fazem parte de uma conjuntura muito
maior a que pensam que estão incluídos. Ou seja, fazem parte de um sistema
capitalista, que excluí as pessoas, que a vulnerabilidade social que vivem não
acontece por falta de capacidade ou de capacitação, mas pelo processo de
exclusão próprio desse sistema.

59
SiSTEmA ÚNiCo DE ASSiSTÊNCiA SoCiAL

A unidade de avaliação de referência para os técnicos se


denomina família referenciada. Conforme a NOB/SUAS (2005,
p. 15) “Considera-se “família referenciada” aquela que vive em
áreas caracterizadas como de vulnerabilidade, definidas a partir
de indicadores estabelecidos por órgão federal, pactuados e
deliberados”.

Diante disso, consegue-se perceber que nem toda família se torna uma
instituição que tem condição de fornecer todas as necessidades básicas para os
seus membros, apesar de que ainda existe, por parte do Estado e também do
mercado, afirmação de que isso é possível.

Pereira (2009, p. 36-37) defende que a família é como um:

Forte, porque ela é de fato um lócus privilegiado de


solidariedades, no qual os indivíduos podem encontrar
refúgio contra o desamparo e a insegurança da
existência. Forte, ainda, porque é nela que se dá, de
regra, a reprodução humana, a socialização das crianças
e a transmissão de ensinamentos que perduram pela
vida inteira das pessoas. Mas ela também é frágil,
‘pelo fato de não estar livre de despotismos, violências,
confinamentos, desencontros e rupturas’ [...]

Se analisarmos a história da constituição de um núcleo familiar, é visível


que aconteceram modificações na família através de um conjunto de arranjos e
que não são apenas considerados nucleares. Para o poder público, um desafio é
elaborar políticas públicas, considerando os novos padrões de família que surgem
na contemporaneidade.

60
Capítulo 2 O SISTEMA ÚNICO DE ASSISTÊNCIA SOCIAL NO BRASIL

A autora Sarti (2008, p. 29) afirma que:

[...] as dificuldades enfrentadas para a realização dos


papéis familiares no núcleo conjugal, diante de uniões
instáveis e empregos incertos, desencadeiam arranjos
que envolvem a rede de parentesco como um todo, a
fim de viabilizar a existência da família.

Cyntia Sarti, citada anteriormente, refere-se ainda às famílias que em situação


de vulnerabilidade social e, diante da fragilidade, estão sob a responsabilidade de
famílias extensas ou de outras pessoas com maior vínculo familiar, fortalecendo
assim uma rede de proteção e sociabilidade familiar, portanto é necessário que as
políticas públicas e os profissionais tenham a clareza que:

[...] trabalhar com família requer a abertura para uma


escuta, a fim de localizar os pontos de vulnerabilidade,
mas também os recursos disponíveis [...] cada família
constrói sua própria história, ou o seu próprio mito,
entendido como uma formulação discursiva em que se
expressam o significado e a explicação da realidade
vivida [...] (SARTI, 2008, p. 26-27).

Através do reconhecimento da importância da família como sendo uma


unidade de referência na Política de Assistência Social, baseia-se o conceito de
que este ambiente deve ser considerado o primeiro de proteção aos usuários.

No modelo de família que se refere na Política de Assistência Social entende-


se como família as afinidades constituídas pelos laços consanguíneos, afetivos e
de solidariedade.

A família para toda a sociedade é vista como algo de grande valor sentimental.
Para a população em situação de vulnerabilidade social, pode ser o único bem
que possui. Para o SUAS, a matricialidade familiar e sua conjuntura sociofamiliar
são consideradas como um dos eixos principais que formam os pilares desse
sistema.

61
SiSTEmA ÚNiCo DE ASSiSTÊNCiA SoCiAL

A Política de Assistência Social (2004, p. 42) considera a família


como sendo um “[...] espaço privilegiado e insubstituível de proteção
e socialização primárias, provedora de cuidados aos seus membros,
mas que precisa também ser cuidada e protegida”.

Todas as mudanças que ocorreram nas últimas décadas, em


relação ao mundo do trabalho e ao acirramento das expressões das
questões sociais, afetaram diretamente o núcleo familiar. O assistente
social deve ter um olhar que consiga compreender a família, como
sendo:

[...] mediadora das relações entre sujeitos e a


coletividade, delimitando, continuadamente os
deslocamentos entre o público e o privado, bem como
geradora de modalidades comunitárias de vida [...] um
espaço contraditório, cuja dinâmica cotidiana é marcada
por conflitos e geralmente, também, por desigualdades
[...] (PNAS, 2004, p. 41).

As novas configurações familiares devem ser compreendidas através das


alterações e das mudanças ao antigo modelo implementado na sociedade, que
era constituído por pai, mãe e filhos, e com as transformações que ocorreram com
a modernização da sociedade, a família também se fez parte deste processo.

Um novo conceito de família foi aceito pelas políticas públicas,


ampliando os serviços ofertados, a partir do momento em que se
entende a família como: “[...] um conjunto de pessoas que se acham
unidas por laços consanguíneos, afetivos e/ou de solidariedade”
(PNAS, 2004, p. 41).

62
Capítulo 2 O SISTEMA ÚNICO DE ASSISTÊNCIA SOCIAL NO BRASIL

Dessa forma, as famílias passam a ser acolhidas independentemente da


configuração familiar, podendo ser formadas por mãe e filhos, pai e filhos, ou avós
e netos, casais homossexuais, ou até mesmo pessoas que moram em repúblicas.
Resumindo, todas as pessoas ou grupos que residem em um mesmo domicílio
são considerados famílias, tendo o acesso garantindo de seus direitos.

Dentre essas mudanças pode-se observar um


enxugamento dos grupos familiares (famílias menores),
uma variedade de arranjos familiares (monoparentais,
reconstruídas), além dos processos de empobrecimento
acelerado e da desterritorialização das famílias geradas
pelos movimentos migratórios (PNAS, 2004, p. 42).

O trabalho sendo centralizado na família se tornou um instrumento para


superar as ações de caráter emergencial e passaram a ser realizados serviços de
prevenção e proteção de todos os seus membros.

Conforme a PNAS (2004, p. 41): “[...] prevenir, proteger,


promover e incluir seus membros é necessário, em primeiro lugar,
garantir condições de sustentabilidade para tal”.

O Estado Democrático e de Direitos tem como comprometimento a obrigação


de proteger a população, através das necessidades básicas para a sobrevivência.

Segue uma dica de leitura, somente assim seu conhecimento irá


expandir, não deixe de ler.

CRUZ, L. R.; GUARESCHI, N. (Orgs.). Políticas públicas


e assistência social. Diálogos com as práticas psicológicas.
Petrópolis: Vozes, 2009.

63
SiSTEmA ÚNiCo DE ASSiSTÊNCiA SoCiAL

O novo modelo de gestão da política da Assistência Social


prioriza a família como foco de atenção e território como base da
organização de ações e serviços em dois níveis de atenção: a
Proteção Social Básica, que é desenvolvida nos CRAS, pautando-
se no fortalecimento dos vínculos familiares e na convivência
comunitária; e a Proteção Social Especial, desenvolvida nos CREAS,
com o objetivo de promover o acesso aos serviços de apoio e a
inclusão em redes de pertencimento. Em ambos os Centros está
previsto o profissional de psicologia na composição da equipe mínima.
Quais as práticas da psicologia nestes locais? No sentido de contribuir
com este debate, esta obra reúne trabalhos teóricos e práticos de
pesquisadores e profissionais da psicologia, da assistência social e
da antropologia, caracterizando a transdiciplinaridade da temática
das políticas sociais públicas.

A descentralização político-administrativa passou a ser estabelecida


e permitiu alcançar com maior eficácia todos os territórios nacionais e suas
demandas individualizadas.

Dessa forma, uma maior descentralização, (...), costuma


ser pré-requisito para ações integradas na perspectiva da
intersetorialidade. Descentralização efetiva com transferência
de poder e decisão, de competências e de recursos, e com
autonomia das administrações dos micros espaços na
elaboração de diagnósticos sociais, diretrizes, metodologias,
formulação, implementação, execução, monitoramento,
avaliação e sistema de informação das ações definidas, com
garantias de canais de participação local (PNAS, 2004. p. 44).

Essas mudanças no processo de gestão da política de assistência social


vêm de encontro aos princípios da Constituição Federal de 88, descentralização
política-administrativa das atividades e ações governamentais.

Esta diretriz está fundamentada no artigo 204 da Constituição


Federal de 88:

Art. 204. As ações governamentais na área da


assistência social serão realizadas com recursos do
orçamento da seguridade social, previstos no art. 195,
além de outras fontes, e organizadas com base nas
seguintes diretrizes:

64
Capítulo 2 O SISTEMA ÚNICO DE ASSISTÊNCIA SOCIAL NO BRASIL

I - descentralização político-administrativa, cabendo a


coordenação e as normas gerais à esfera federal e a
coordenação e a execução dos respectivos programas
às esferas estadual e municipal, bem como a entidades
beneficentes e de assistência social;
II - participação da população, por meio de organizações
representativas, na formulação das políticas e no
controle das ações em todos os níveis.
Parágrafo único. É facultado aos Estados e ao Distrito
Federal vincular a programa de apoio à inclusão e
promoção social até cinco décimos por cento de sua
receita tributária líquida, vedada a aplicação desses
recursos no pagamento de:
I - despesas com pessoal e encargos sociais;
II - serviço da dívida;
- qualquer outra despesa corrente não vinculada
diretamente aos investimentos ou ações apoiadas
(BRASIL, 1988, s.p.).

E sendo reafirmadas no artigo 6 da LOAS:

Art. 6º As ações na área de assistência social são organizadas


em sistema descentralizado e participativo, constituído pelas
entidades e organizações de assistência social abrangidas
por esta lei, que articule meios, esforços e recursos, e por um
conjunto de instâncias deliberativas compostas pelos diversos
setores envolvidos na área (BRASIL, 1988, s.p.).

Estes princípios mediante a política de assistência social estão manifestados


pela definição de corresponsabilidade em cada esfera governamental que
concretiza a política, incumbindo:

• Para a coordenadoria e edição das regras de caráter geral à esfera federal.

• Para os Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios a coordenação e


implemento dos serviços socioassistenciais em suas esferas governamentais.

• Para todas as esferas de governamentais a responsabilidade pelo


cofinanciamento; o monitoramento e a avaliação das ações, programas, projetos
e serviços.

• O fornecimento da capacitação permanente dos profissionais é de


corresponsabilidade dos Estados e do Governo Federal.

• A sistemática das informações na área é de corresponsabilidade para todas


as esferas.

65
SiSTEmA ÚNiCo DE ASSiSTÊNCiA SoCiAL

É importante ressaltar que o SUAS é composto por entidades e organizações


de assistência social, ou seja do terceiro setor, e também pela efetivação dos
conselhos, planos e fundos da assistência social, sendo estes requisitos básicos
para a adesão da gestão inicial do SUAS em todas as esferas governamentais.

A descentralização da política está relacionada com características


socioterritorial de cada local, ou seja, com cada território, em que é necessário
identificar as características sociais, culturais, políticas, econômicas da população
do seu entorno, e que acabam revelando a complexidade da diversidade, das
desigualdades que existem em todas as regiões do Brasil.

Neste sentido, a:

[...] territorialização é o reconhecimento da presença


de múltiplos fatores sociais e econômicos que levam o
indivíduo e a família a uma situação de vulnerabilidade
ou risco social. É nos territórios que é operado o
princípio da prevenção na Política de Assistência Social
(NOB/SUAS, 2005, p.18).

A partir desta diversidade que os serviços socioassistenciais de proteção


básica foram organizados através de um novo modelo socioassistencial, tendo
como referência o número de famílias/habitantes que estão referenciados em um
determinado território.

A quantidade de família referenciada acontece através dos indicadores


socioterritoriais que estão disponíveis nos dados censitários do IBGE.

Toda Política Pública, independentemente da área de atuação, para ser


efetivada, necessita de investimentos, e que acontecem prioritariamente através
de financiamento, para compreender este procedimento referente ao orçamento
da gestão pública, em suas determinadas instâncias.

66
Capítulo 2 O SISTEMA ÚNICO DE ASSISTÊNCIA SOCIAL NO BRASIL

Para Assumpção (2007, p. 43):

[...] um instrumento de planejamento da ação


governamental é composto das despesas fixadas pelo
Poder Legislativo e que autoriza o Poder Executivo a
realizá-las durante o exercício financeiro, mediante
a arrecadação de receitas suficientes e previamente
estimadas.

Alguns instrumentos que colaboram com a gestão do orçamento público


foram apresentados na Constituição Federal de 1988. São eles:

• Plano Diretor.
• Plano Plurianual, PPA.
• Lei de Diretrizes Orçamentárias, LDO.
• Lei Orçamentária Anual, LOA.

Para a autora Bernardoni (2010, p. 51):

O Plano Diretor é o início de planejamento municipal


que deve ser realizado por todos os municípios com
mais de 20 mil habitantes, o qual deve estar em
harmonia com a Lei Orgânica do Município e com a Lei
de Responsabilidade Fiscal. Suas atualizações devem
ser feitas pelo menos a cada dez anos. Os demais
instrumentos devem ser norteados pelas diretrizes
contidas no Plano Diretor. É importante lembrar que
o Plano Diretor “Constitui-se no principal instrumento
de planejamento sustentável desses municípios,
contribuindo na formação de diretrizes para expansão
urbana e desenvolvimento nas mais diversas áreas,
visando sempre ao interesse da coletividade”.

67
SiSTEmA ÚNiCo DE ASSiSTÊNCiA SoCiAL

A LDO se torna um planejamento de gestão a curto prazo e que objetiva


buscar a estabilização entre as receitas e despesas anuais de cada gestão
pública, sendo considerada um elo entre o PPA e a LOA, pois, ao ser elaborada,
deve-se levar em consideração pelo gestor as metas elencadas no PPA.

Outro planejamento considerado de curto prazo é a LOA, que deve estar


fundamentada na LDO.

Assumpção (2007, p. 58) afirma:

O PPA e a LDO são documentos de planejamento,


enquanto que a LOA é a indicação de como esse
planejamento irá ser executado. Para a elaboração
da LOA, o administrador precisa pensar em várias
questões da realidade, sendo que uma delas é “[...] sua
capacidade de arrecadação e expressa essa estimativa
em números na LOA. Já as receitas são fixadas, isto é,
a LOA expressa, em termos numéricos, o valor máximo
da despesa para cada item do orçamento. Portanto,
enquanto a RECEITA é PREVISTA, a DESPESA é
FIXADA”.

Estes instrumentos, PPA, LDO e LOA, precisam estarem interligados entre


si, para se efetivarem, e devem conter uma justificativa, objetivos, público-alvo,
metodologia de execução e os recursos financeiros a serem gastos.

Citando novamente Bernardoni (2010, p. 39)

[...] por parte do planejador, o processo de planejamento


pressupõe uma visão holística de todo o cenário que
envolve as políticas públicas, como também uma
capacidade de gestão para integrar toda a estrutura da
administração (organização, pessoas, equipamentos e
recursos financeiros) [...].

68
Capítulo 2 O SISTEMA ÚNICO DE ASSISTÊNCIA SOCIAL NO BRASIL

Todas as políticas públicas nos municípios são planejadas e administradas


dessa forma, inclusive a Política de Assistência Social. A Constituição Federal
de 88 garantiu que o financiamento da Seguridade Social tornasse a base de
financiamento da assistência social, saúde e previdência.

Os Fundos de Assistência Social (FAS) são as instâncias que representam


o financiamento da Política de Assistência Social, em todas as esferas
governamentais. É por meio do FAS que todo e qualquer recurso que precise
ser destinado aos municípios deve, obrigatoriamente, ser repassado através do
fundo, garantindo assim que os Conselhos, nas três esferas, consigam controlar
os gastos do poder público com a Política de Assistência Social, pois este fundo
promove e facilita a prestação de contas para a toda a população.

Segundo a PNAS (2004, p. 49), “[...] o financiamento dos


benefícios se dá de forma direta aos seus destinatários, e o
financiamento da rede socioassistencial se dá mediante aporte
próprio e repasse de recursos fundo a fundo [...]”.

Sendo assim, nenhum recurso destinado para a Assistência Social poderá


ser gasto sem a aprovação dos Conselhos de Assistência Social, bem como a
prestação de contas dos recursos depende da aprovação deles. O que passa a
ser chamado de Controle Social dos Gastos Públicos.

Para que os municípios possam receber repasses financeiros via fundo, é


obrigatório que os Conselhos de Assistência Social, Fundo Municipal Assistência
Social estejam implementados e em pleno funcionamento, além da obrigatoriedade
da elaboração do Plano de Assistência Social.

Neste sentido, os municípios precisam estar em um processo constante


de planejamento de suas ações, programas, serviços e projetos, só assim terão
pleno funcionamento da Política de Assistência Social.

O Plano de Assistência é considerado um instrumento que objetiva


o planejamento estratégico, organizando e norteando as ações para sua
implementação e execução perante a Política de Assistência Social.

69
SiSTEmA ÚNiCo DE ASSiSTÊNCiA SoCiAL

O órgão gestor é responsável pela elaboração deste Plano, sendo que só


poderá ser executado depois que for aprovado pelo Conselho de Assistência
Social, tendo este autonomia de pedir reformulações, acompanhar, fiscalizar,
aprovar ou não.

A Política de Assistência Social, bem como todas as outras políticas públicas,


para serem executadas, necessitam de uma equipe de trabalhadores, sendo
esses técnicos ou não, porém, para dar suporte, são orientados através de uma
Política de Recursos Humanos.

O objetivo da elaboração de uma Política de Recursos Humanos é para


conseguir afrontar a precarização do trabalho ofertado, influenciando na qualidade
dos serviços continuados.

Quando se refere à precarização do trabalho, logo pensamos na exploração


do trabalhador que está inserido em uma empresa privada, porém o Estado não
fica muito fora da precariedade do trabalho, podendo ser citados os processos
seletivos, contratos temporários, licitações, desvio de função, que resultam em
uma instabilidade para este trabalhador com baixa remuneração.

A PNAS (2004) preocupada com a troca de gestores, prefeitos, a cada


quatro anos, em que, na maioria das vezes, altera-se por completo a equipe de
funcionários, pois cada gestão tem seus determinados, chamados de “cabos
eleitorais” e/ou “militantes” para ocuparem os cargos de confiança, apontava
algumas demandas e que foram, congregadas na Norma Operacional de Recursos
Humanos do SUAS (NOB/RH-SUAS) de 2006, mas não se discutia como sendo
uma política de recursos humanos.

Através da aprovação da NOB/RH-SUAS, o contexto da Política de


Assistência Social, inicia seu processo de mudanças, prevendo mudanças
essenciais para o enfrentamento no que diz respeito à precarização do trabalho
na área da assistência social.

A NOB/RH-SUAS (2006, p. 8) afirma que: “O SUAS vem se consolidando, e


a gestão do trabalho na Assistência Social carece de uma atenção maior devido a
sua importância para a consolidação do sistema”.

A Secretaria Nacional de Assistência Social, considera a NOB/RH-SUAS


como sendo um documento primordial na conciliação da Política de Assistência
Social, no que conduz a área da gestão do trabalho.

Os princípios que estão elencados nessa norma referem-se à gestão do


trabalho das políticas sociais públicas e foram congregados pela Política de

70
Capítulo 2 O SISTEMA ÚNICO DE ASSISTÊNCIA SOCIAL NO BRASIL

Assistência Social e pela Política de Recursos Humanos, para que as relações de


trabalho sejam estáveis e dignas entre todos os trabalhadores e que refletirá no
usuário destes serviços.

Por meio dessa Política que a gestão do trabalho no SUAS avança na garantia
de direitos dos trabalhadores, por meio dos Planos de Carreira, Cargos e Salários,
PCCS, que constitui um estímulo para a formação e capacitação continuada, e
que as definições dos valores de salário sejam realizadas através do nível de
formação. O correto seria que todos os trabalhadores que possuem nível superior,
ou seja, um profissional como assistente social e psicólogos, tenham um salário
igual e não definindo por profissão.

Para o CFESS (2007, p. 43) isso é principal e fundamental, sendo que:

As possibilidades de atuação profissional não podem ser


desvinculadas das condições e processos em que se realiza
o trabalho. É nesse sentido que as competências e atribuições
profissionais devem se inserir na perspectiva da gestão do
trabalho em seu sentido mais amplo, que contemple ao menos
três dimensões indissociáveis: as atividades exercidas pelos
trabalhadores (as), as condições materiais, institucionais,
físicas e financeiras, e os meios e instrumentos necessários
ao seu exercício. A garantia e articulação dessas dimensões
são fundamentais para que os (as) trabalhadores(as) possam
atuar na perspectiva de efetivar a política de Assistência Social
e materializar o acesso da população aos direitos sociais.

A NOB/RH-SUAS destaca uma outra questão importante, que está


relacionada com a maneira e a forma de contratar um trabalhador para
desenvolver os serviços, programas, projetos previstos na Política de Assistência
Social, a contratação só será realizada mediante concurso público, possibilitando
assim uma estabilidade na relação entre trabalhador e usuários dos serviços.

Para o CFESS (2007, p. 43-44) isso significa que: “O estabelecimento de


relações de trabalho estáveis, a garantia institucional e condições e meios
necessários à realização das atividades são indispensáveis para o exercício
profissional”.

Diante disto, a gestão do trabalho no SUAS possibilita um avanço na


qualidade dos serviços prestados, contribui para enfrentar as relações precárias
de trabalho e, consequentemente, agiliza a garantia dos direitos trabalhistas e
sociais de todos os profissionais.

71
SiSTEmA ÚNiCo DE ASSiSTÊNCiA SoCiAL

A leitura da NOB-RH/SUAS será fundamental para que você


consiga aprimorar seus conhecimentos. Ela estabelece parâmetros
gerais para a gestão do trabalho a ser implementada na área da
Assistência Social, englobando todos os trabalhadores do SUAS,
órgãos gestores e executores de ações, serviços, programas,
projetos e benefícios da Assistência Social.

BRASIL. Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à


Fome. Secretaria Nacional de Assistência Social. Norma operacional
básica de recursos humanos do SUAS NOB-RH/SUAS anotada e
comentada. Brasília, 2006. 71p.

O SUAS conta também com outros eixos estruturantes, sendo eles a


informação e o monitoramento, ambos são de fundamental importância para
avaliação de todas as políticas públicas, inclusive na Política de Assistência
Social.

Para que ocorra uma avaliação correta das ações desenvolvidas, é


necessário que este processo se desenvolvam antes e após do seu desempenho
e execução. O autor Carvalho (2001) teoriza esses momentos de avaliação como
sendo ex–ante e post-facto.

Para Carvalho (2011, p. 63), na avaliação do ex-ante é


imprescindível que se averigue:

[...] as alternativas possíveis e os impactos projetados


sobre cada uma das alternativas quanto a custos, nível
de adesão da organização e dos beneficiários, padrões
de intervenção, estratégias, processos e resultados. É
uma avaliação do diagnóstico e da proposta.

72
Capítulo 2 O SISTEMA ÚNICO DE ASSISTÊNCIA SOCIAL NO BRASIL

Sendo assim, é de grande importância que exista um acompanhamento nas


ações propostas e desenvolvidas, o que se chama de monitoramento das políticas
públicas.

Falando especificamente da Política de Assistência Social, através desse


processo se consegue acompanhar toda a execução das ações, podendo
reavaliar o planejamento e as estratégias como também outras demandas que
surgem perante esse processo, sendo assim, “[...] objetivando corrigir distorções
durante o próprio desenvolvimento do projeto [...]” (CARVALHO, 2001, p. 64).

Carvalho (2001, p. 64) afirma que, para finalizar o ciclo


avaliativo, é necessário que aconteça o que chama de post-facto, ou
seja, depois do fato ocorrido, sendo que:

[...] os projetos podem ter resultados e impactos


esperados e não esperados, tangíveis e intangíveis,
imediatos ou de médio prazo. Por isso, a avaliação de
resultados e impactos deve ocorrer não só ao término
dos projetos, mas também depois de algum tempo”.

As políticas públicas em sua totalidade, inclusive a Assistência Social, não


devem resistir a esse processo de avaliação, visto que seus princípios estão
inseridos na prestação dos serviços como qualidade, visando também resultados
almejados a curto, médio e longo prazo.

Para que isso seja viável, a PNAS (2004) apresentou um sistema de


informação, monitoramento e avaliação, que tende a garantir o acompanhamento
dos serviços socioassistências que são oferecidos para a população em condição
de vulnerabilidade social.

Sendo assim, o SUAS passa a defender a participação e controle social de


todas ações que são desenvolvidas na Política de Assistência Social, em que
qualquer cidadão tem o direito de seguir e acompanhar o fluxo e o controle dos
serviços prestados, por meio dos dados que estão inseridos. Esse controle não
cabe somente à comunidade, mas para os gestores, que, para atingir os objetivos
dos serviços oferecidos com qualidade, é indispensável que aconteça com
regularidade o monitoramento e avaliação.

73
SiSTEmA ÚNiCo DE ASSiSTÊNCiA SoCiAL

O SUAS possui uma rede de informações, através de sistemas interligados


e são constantemente aperfeiçoados, em que a tecnologia consiga contribuir com
o monitoramento, objetivando uma melhoria na qualidade dos serviços prestados.

Esse sistema precisa se manter através do que se chama de Instrumento de


Gestão, que:

[...] não se caracterizam como documentos meramente


burocráticos, mas que têm como objetivo propiciar o
planejamento, execução, monitoramento e avaliação dos
serviços, programas e projetos, e benefícios socioassistenciais
além de municiar as instâncias do sistema descentralizado e
participativo de assistência social (BRASIL, 2013, p. 27).

Vamos lá para mais uma dica importante de leitura. Esta


publicação, fruto de uma pesquisa de fôlego, é uma grande
contribuição para todos os profissionais que se defrontam com os
desafios postos pelas políticas sociais na atualidade. A autora
realiza uma análise crítica dos processos e dos resultados de
avaliação da Política de Assistência Social, buscando identificar as
requisições necessárias para sua utilização como parte do conjunto
dos instrumentos de viabilização da democracia e do exercício do
controle social dessa política de proteção social. Essa reflexão chega
ao leitor em uma hora muito oportuna, uma vez que poderá contribuir
com o debate crítico sobre os rumos e tendências da atual Política
de Assistência Social que desde 2004, com a aprovação da PNAS/
SUAS, coloca-se o desafio de estruturar sistemas de gerenciamento
das informações, monitoramento e avaliação dos resultados.

ALVES, Adriana Amaral Ferreira. Assistência social: história,


análise crítica e avaliação. Curitiba: Juára, 2011.

O eixo sobre a concepção de participação refere-se à importância da


democracia participava que começou a se destacar desde a década de 70,
no Brasil, através dos Movimentos Sociais, que enfatizavam uma reforma
democrática no modelo de fazer política.

74
Capítulo 2 O SISTEMA ÚNICO DE ASSISTÊNCIA SOCIAL NO BRASIL

Segundo a autora Moura (2009, p. 47), “No debate quanto ativa


reforma da democracia, a ideia de participação de grupos e camadas
da população tidas como pouco representadas, constituiria incentivo
para estimular o melhor funcionamento das instituições políticas”.

Sabe-se que os Movimentos Sociais são protagonistas na luta coletiva pela


transformação da conjuntura econômica, social e política do país.

Para Siqueira (2006, p. 48), “A busca pelo reconhecimento do


direito de se ter direitos foi o imperativo desses movimentos. Busca-
se ainda o direito de participar e de decidir sobre as ações estatais,
influenciando as políticas e fiscalizando a operacionalização dos
serviços sociais”.

Alguns autores defendem que atualmente existem três percepções básicas


no que tange a participação, sendo elas:

• Participação comunitária: que surgiu no século XX e tinha uma base


conservadora, ressaltando o desempenho de atividades sem a
preocupação de pensar, elaborar e eleger prioridades.
• Participação popular: surge nos anos 70, durante o auge dos Movimento
Sociais, que tinham atitude reivindicatórias e de controle das ações das
empresas estatais.
• Participação social: que surge com a metodologia da democratização do
Brasil.

O fortalecimento das reivindicações dos Movimentos Sociais teve início


através da Constituição Federal de 88, com a institucionalização da participação
popular, conforme artigo primeiro, parágrafo único, que afirma: “Todo poder
emana do povo, que o exerce por meio de representantes eleitos diretamente [...]”
(BRASIL, 1988, Art. 1º).

75
SiSTEmA ÚNiCo DE ASSiSTÊNCiA SoCiAL

No que se refere à Assistência Social, a Constituição Federal de 88


esclareceu algumas diretrizes, que são: “[...] II – participação da população, por
meio de organizações representativas, na formulação das políticas e no controle
das ações em todos os níveis [...]” (BRASIL, 1988, Art. 204).

A participação é um componente importante na constituição da democracia,


em que os cidadãos são capacitados para avaliarem o desempenho do poder
público, como também do privado.

Sendo assim, a participação popular poderá ser executada por diversas


formas e interesses, objetivo e metas, entre outras, que mudam diante da situação
histórica, cultural de cada sociedade.

Para Souza (2009, p. 170): “[...] a gestão social pode ser


entendida como processo social, no qual o homem se descobre
enquanto sujeito político, capaz de estabelecer uma relação direta
com os desafios sociais [...]”.

A gestão da Política de Assistência Social precisa ser flexível e participativa,


oferecendo espaços para o treinamento pleno do controle social e que possibilitem
a participação contínua dos usuários e outros interessados, como trabalhadores
do SUAS, ou governamentais, ou ainda da sociedade civil organizada.

Conforme Nogueira (2005, p. 142):

A participação que se dedica a compartilhar decisões


governamentais, a garantir direitos, a interferir na elaboração
orçamentária ou a favorecer sustentabilidade para certas
diretrizes concentra-se muito mais na obtenção de vantagens e
de resultados do que na modificação de correlações de forças
ou de padrões estruturais.

Uma forma de participação popular continuada acontece por meio do controle


social, sendo um instrumento para a efetivação da gestão político administrativo
– financeira e também técnico-operativa por meio do caráter democrático e
descentralizado.

76
Capítulo 2 O SISTEMA ÚNICO DE ASSISTÊNCIA SOCIAL NO BRASIL

No SUAS, esses espaços são privilegiados de controle social e se


consolidam pelas conferências e conselhos de Assistência Social.

As conferências são espaços para avaliar a situação da Política de


Assistência Social e propor novas diretrizes para essa política. Um outro espaço
de discussão e diálogo contínuo entre sociedade civil e governo é o Conselho de
Assistência Social.

Os Conselhos são considerados organizações públicas e são constituídos


por representantes governamentais, dos trabalhadores e usuários do SUAS e da
sociedade civil organizada. Eles têm como objetivo deliberar sobre os rumos da
política nas esferas governamentais, além de fiscalizar a execução dos serviços
prestados à população.

Na Política de Assistência Social, a participação no processo de gestão pode


ser de todos os cidadãos, inclusive dos usuários que utilizam os serviços.

A dificuldade de participação popular no controle dos serviços públicos é


generalizada por toda a sociedade. Para os usuários, torna-se algo muito difícil,
porém, não é impossível, pois é um momento de aprendizado e eles são os mais
indicados para avaliar os serviços de maneira efetiva, já que fazem uso deles.

[...] só se resulta em democratização quando a


participação se materializa em políticas para a efetiva
extensão de direitos e que a cada nova classe de
direitos alcançados corresponda à efetiva integração de
cada membro com igual calor na coletividade política”
(AVELAR, 2004, p. 234).

Os Conselhos se tornam um mecanismo de participação popular, de


fiscalização e de aprendizado sobre controle social na Política de Assistência
Social e são compostos de maneira paritária, ou seja:

• 50 % das cadeiras deverão ser ocupadas por representantes dos


usuários ou da organização dos serviços vinculados aos serviços
assistenciais, e dos trabalhadores da área e de entidades, que são
eleitos nas Conferências.
• 50% das cadeiras serão completadas por representantes governamentais.

77
SiSTEmA ÚNiCo DE ASSiSTÊNCiA SoCiAL

Existe uma disparidade na indicação dos conselheiros governamentais, pois


estes são indicados pelo chefe do executivo em todas as esferas governamentais
e deveriam ser eleitos nas Conferências como os representantes não
governamentais.

Estado, Políticas Sociais e Implementação do SUAS

Maria Carmelita Yazbek

[...] o ano de 1988 inaugura um período importante da história


brasileira. Neste ano é promulgada a Constituição da República
Federativa do Brasil, que reconhece a assistência social como dever
de Estado no campo da Seguridade Social e não mais como política
complementar, de caráter subsidiário às demais políticas. É bom
lembrar que a noção de Seguridade supõe que os cidadãos tenham
acesso a um conjunto de certezas e seguranças que cubram,
reduzam ou previnam situações de risco e de vulnerabilidades
pessoais e sociais.

[...] Apesar da alteração do antigo paradigma conservador e


assistencialista estabelecida pela Constituição e pela Lei Orgânica
da Assistência Social (Loas) para demarcar a assistência social
como direito social no âmbito da Seguridade Social ao lado da Saúde
e da Previdência, os anos 90 do século XX apresentam um cenário
de grandes mudanças no que diz respeito ao papel do Estado. A
“reforma do Estado”, como é conhecido o processo de mudanças
que se desenrolou a partir desta década, teve forte caráter neoliberal
e caracterizou-se principalmente por medidas de ajuste na economia,
com severas restrições aos gastos públicos em especial na área
social e privatizações de empresas e organizações estatais. Tratou-
se de um contexto no qual foram encolhidas as responsabilidades
estatais na regulação das políticas públicas e valorizadas as
“virtudes” da regulação pelo mercado.

O enfrentamento da pobreza e da desigualdade, no contexto


neoliberal, passa a ser tarefa da solidariedade da sociedade ou de
uma ação estatal aleatória e tímida, caracterizada pela defesa de
alternativas privatistas, que envolvem as organizações sociais e a
comunidade em geral. Recoloca-se em cena práticas filantrópicas

78
Capítulo 2 O SISTEMA ÚNICO DE ASSISTÊNCIA SOCIAL NO BRASIL

e de benemerência, ganhando relevância ações do denominado


Terceiro Setor (não governamental e não lucrativo), como expressão
da transferência à sociedade de respostas às sequelas da questão
social. Vale lembrar que a questão social circunscreve um terreno
de disputas, pois diz respeito à desigualdade econômica, política
e social entre as classes na sociedade de mercado, envolvendo a
luta pelo usufruto de bens e serviços socialmente construídos, por
direitos sociais e pela cidadania.

Se tomarmos apenas o exemplo da política de assistência social,


veremos que após a promulgação da constituição um amplo processo
de debates e lutas no interior da sociedade foram travados para que
aquilo que consta na constituição tivesse sua regulamentação.

Com isso, cinco anos após a Carta Constitucional, em 7 de


dezembro de 1993, foi aprovada a Lei Orgânica de Assistência Social
(LOAS), que regulamentou os artigos 203 e 204 da Constituição e
tornou possível a assistência social como um dever do Estado e um
direito de cidadania, sem a necessidade de contribuição prévia.

[...] A concepção de Assistência Social contida na LOAS visa


assegurar benefícios continuados e eventuais, programas, projetos
e serviços socioassistenciais para enfrentar as condições de
vulnerabilidade social.

Apesar da conjuntura adversa, pós Constituição de 1988 e pós


LOAS, tendo em vista os impactos das mudanças do ordenamento
econômico mundial sobre as condições de vida das populações
dos países em desenvolvimento destacando-se o Brasil entre eles,
a assistência social brasileira inicia seu trânsito para um campo
novo: o campo dos direitos, da universalização dos acessos e da
responsabilidade estatal.

Nesse sentido, pode-se afirrmar que a LOAS estabeleceu


uma nova matriz para a assistência social brasileira, iniciando um
processo que tem como perspectiva torná-la visível como política
pública e direito dos que dela necessitarem. Um primeiro passo
em direção a este fim foi a criação e instalação de conselhos
deliberativos e paritários nas esferas federal, estadual, do Distrito
Federal e municipal de governo. A inserção na Seguridade Social
aponta também para seu caráter de política de Proteção Social
como vimos antes, articulada a outras políticas do campo social
voltadas à garantia de direitos e de condições dignas de vida.

79
SiSTEmA ÚNiCo DE ASSiSTÊNCiA SoCiAL

Desse modo, a assistência social configura-se como possibilidade


de reconhecimento público da legitimidade das demandas de seus
usuários e espaço de ampliação de seu protagonismo.

Mas, assim como a regulamentação da constituição foi


conquistada com muita mobilização, também a efetividade da Loas
tem sido conquistada por meio de muitos debates e pactuações
políticas que envolvem todo o conjunto da sociedade.

A tarefa de consolidar a Assistência Social como política


pública de direitos tem aspectos muito peculiares que dificultam a
empreitada. Ou seja, é necessário romper com a ideia do direito
como favor ou ajuda emergencial prestada sem regularidade e
através de um processo de centralismo decisório; romper também
com a lógica de que a assistência social sobrevive apenas com os
recursos residuais do investimento público (serviços pobres para
pobres), e ainda: romper com o uso dos recursos sociais de maneira
clientelista e patrimonialista.

[...] A implantação do Sistema Único de Assistência Social


(SUAS) é uma verdadeira revolução na assistência social brasileira.

Fruto de quase duas décadas de debates, o Sistema coloca


em prática os preceitos da Constituição de 1988, que integra a
Assistência Social à Seguridade Social, juntamente com Saúde e
Previdência Social.

De mero favor, de prática assistencialista e tuteladora a


assistência social, seus serviços e benefícios passam para um
campo novo, o campo dos direitos de cidadania. Marcada, portanto,
pelo caráter civilizatório presente na consagração de direitos sociais.
A Assistência Social exige que as provisões assistenciais sejam
prioritariamente pensadas no âmbito das garantias de cidadania
sob responsabilidade do Estado, cabendo a este a universalização
da cobertura e garantia de direitos e de acesso para esses serviços,
programas.

A universalização dos direitos sociais é um dos princípios


deste novo modelo socioassistencial. Neste contexto, a assistência
social, a partir do princípio da intersetorialidade, propicia o acesso
a pessoas em situação de vulnerabilidade pessoal e/ou social, às
demais políticas setoriais, uma vez que busca garantir segurança
para seus usuários: segurança de sobrevivência (de rendimento e

80
Capítulo 2 O SISTEMA ÚNICO DE ASSISTÊNCIA SOCIAL NO BRASIL

de autonomia); de acolhida e; de convívio ou convivência familiar e


comunitária. Estas seriam as condições fundamentais para tornar
o usuário do serviço socioassistencial alcançável pelas demais
políticas.

Por sua vez, como um sistema de gestão, este arranjo


institucional propõe pela primeira vez na história do País, sob a
primazia da responsabilidade do Estado, a organização em todo
o território nacional de serviços socioassistenciais destinados a
milhões de brasileiros, em todas as faixas etárias, com a participação
e a mobilização da sociedade civil nos processos de implantação e
implementação do Sistema.

O SUAS, pactuado nacionalmente e deliberado pelo CNAS,


prevê uma organização participativa e descentralizada da assistência
social, com serviços voltados para o fortalecimento da família,
sem, no entanto, sobrecarregá-la, mas ao contrário protegendo-a e
apoiando-a.

Baseado em critérios e procedimentos transparentes, o SUAS


altera fundamentalmente operações como o repasse de recursos
federais para estados, municípios e Distrito Federal, a prestação de
contas e a maneira como os serviços e os entes federados estão
hoje organizados do ponto de vista da gestão de recursos.

Como se pode concluir, o SUAS promove uma mudança de


conteúdo e de gestão da política pública de assistência social, ao
materializar o conteúdo da Loas e definir os conceitos e as bases
que vão orientar a estruturação do sistema nos estados, no Distrito
Federal e nos municípios, os quais serão aqui destacados por serem
de fundamental importância para a compreensão do novo modelo
socioassistencial. Em outras palavras, o SUAS oferece concretude à
Política Pública de Assistência Social na perspectiva de construir os
direitos de seus usuários e sua inserção na sociedade [...].

FONTE: <http://www.mds.gov.br/assistenciasocial/secretaria-nacional-de-assistencia-
social-snas/cadernos/caderno-suas-volume-1-2013-configurando-os-eixos-da-
mudanca/Caderno%20SUAS%20Volume%201%202013%20Configurando%20
os%20Eixos%20da%20Mudanca.pdf/download>. Acesso em: 6 set. 2020.

81
SiSTEmA ÚNiCo DE ASSiSTÊNCiA SoCiAL

1 Para a Política de Assistência Social, o que é considerado família?

2.1 OS NÍVEIS DE GESTÃO E


PROTEÇÃO SOCIAL NO SUAS
O SUAS foi a principal conquista obtida como deliberação da IV Conferência
Nacional de Assistência Social, que ocorreu em Brasília (DF), esforçando-se para
viabilizar um processo de desenvolvimento nacional que garanta a universalização
dos direitos sociais e da proteção social.

O modelo de gestão do SUAS é descentralizado e participativo, consolidando-


se através da regulação e organização em todo país por meio de serviços,
programas, projetos e benefícios socioassistenciais, de modo contínuo e eventual,
e que sejam executados e fornecidos por meio de pessoas jurídicas, mas de
direito público, com critérios universais e de ações interligadas e articuladas com
a sociedade civil.

O SUAS define três níveis de gestão inicial, básica e plena e organiza as


ações em Proteção Social Básica (PSB) e Proteção Social Especial (PSE) de
média e alta complexidade.

Com estratégia de implementação nos municípios, o SUAS determinou


três níveis de gestão, sendo: inicial, básica e plena e definiu responsabilidade
para cada uma das três esferas governamentais, viabilizando assim uma gestão
articulada e o aprofundamento do pacto federativo. Esse processo é seguido de
incentivos aos acessos de financiamento público para a Política de Assistência
Social.

Os requisitos necessários para cada nível de gestão são:

• Inicial: implementado conselho, fundo, plano e recursos financeiros


no fundo.
• Básica: implementado conselho, fundo e plano, recursos financeiros
no fundo, implementado o Centro de Referência da Assistência
Social, em número e capacidade de acordo com o porte de cada
munícipio, plano de inserção e acompanhamento de beneficiários
do Benefício de Prestação Continuada, BPC, prioridade de acesso

82
Capítulo 2 O SISTEMA ÚNICO DE ASSISTÊNCIA SOCIAL NO BRASIL

aos beneficiários do Programa Bolsa Família, PBF, diagnóstico


de áreas de risco e de maior vulnerabilidade social, secretaria
exclusiva no conselho, conselhos implementados e funcionando ,
como o Conselho Municipal de Assistência Social, CMAS, Conselho
Municipal dos Direitos da Criança e do Adolescente, CMDCA e
Conselho Tutelar.
• Plena: implementado conselho, fundo e plano, recursos financeiros
no fundo, implementado o Centro de Referência da Assistência
Social, em número e capacidade de acordo com o porte de cada
munícipio, plano de inserção e acompanhamento de beneficiários do
Benefício de Continuada (BPC), ter uma unidade de recepção para o
BPC o diagnóstico de áreas de risco e de maior vulnerabilidade social,
uma secretaria exclusiva no conselho, conselhos implementados
e funcionando, como o Conselho Municipal de Assistência Social
(CMAS), Conselho Municipal dos Direitos da Criança e do Adolescente
(CMDCA) e Conselho Tutelar, sistema municipal de monitoramento e
avalição por nível de proteção social, declarar a capacidade instalada
de alta complexidade, cumprir os pacto do resultado, gestor do fundo
nominado e lotado no órgão gestor de assistência social, uma política
de recursos humanos com carreira para os trabalhadores do SUAS,
uma unidade de recepção para o BPC e programas eventuais,
prioridade de acesso aos beneficiários do PBF, diagnóstico de áreas
de risco e de maior vulnerabilidade social, secretaria exclusiva no
conselho, conselhos implementados e funcionando, como o Conselho
Municipal de Assistência Social (CMAS), Conselho Municipal dos
Direitos da Criança e do Adolescente (CMDCA) e Conselho Tutelar;
sistema municipal de monitoramento e avalição por nível de proteção
social, declarar a capacidade instalada de alta complexidade, cumprir
os pacto do resultado, gestor do fundo nominado e lotado no órgão
gestor de assistência social, política de recursos humanos com
carreira para os trabalhadores do SUAS (NOB/SUAS, 2005).

Na gestão inicial, constitui o início da organização da Assistência


Social, como política nos municípios, por meio de serviços ainda
muito limitados. Os municípios que estão nesta fase de gestão inicial
têm o encargo de:

[...] municiar e manter atualizadas as bases de dados


dos subsistemas e aplicativos da Rede SUAS [...];
inserir no Cadastro Único as famílias em situação de
maior vulnerabilidade social e risco, conforme critérios

83
SiSTEmA ÚNiCo DE ASSiSTÊNCiA SoCiAL

do Programa Bolsa Família [...] preencher o plano de


ação no sistema SUAS-WEB e apresentar o relatório
de gestão como forma de prestação de contas (NOB/
SUAS, 2005, p. 50).

Analisando o referencial acima, percebe-se que os níveis de gestão básica e


plena aumentam expressivamente as exigências de condições para a participação
no Sistema, aumentando as responsabilidades municipais.

Cada município poderá solicitar a gestão básica, a partir do momento que


começar a executar as ações citadas, acrescentando algumas atividades, para
atender sua demanda de forma mais efetiva, podendo requerer o co-financiamento
dos serviços, programas e projetos socioasssistenciais.

A gestão básica é um importante progresso na representação do SUAS.


Pois, entre as requisições desacatam-se a implantação do CRAS e a manutenção
de uma secretaria exclusiva do conselho de assistência social, conforme o porte
de cada município, realizar o diagnóstico de áreas de maior concentração de
vulnerabilidade.

Conforme a NOB/SUAS, para estruturar Centros de Referência


de Assistência Social (CRAS), de acordo com o porte do município,
em áreas de maior vulnerabilidade social, para gerenciar e executar
ações de proteção básica no território referenciado, deve-se seguir
os critérios a seguir:
• Pequeno Porte I – mínimo de 1 CRAS para até 2.500 famílias
referenciadas.
• Pequeno Porte II – mínimo de 1 CRAS para até 3.500 famílias
referenciadas.
• Médio Porte – mínimo de 2 CRAS, cada um para até 5.000
famílias referenciadas.
• Grande Porte – mínimo de 4 CRAS, cada um para até 5.000
famílias referenciadas.
• Metrópoles – mínimo de 8 CRAS, cada um para até 5.000
famílias referenciadas.

FONTE: <http://www.mds.gov.br/assistenciasocial/arquivo/norma-
operacional-basica-do-suas.pdf/view>. Acesso em: 20 set. 2020.

84
Capítulo 2 O SISTEMA ÚNICO DE ASSISTÊNCIA SOCIAL NO BRASIL

O município, neste nível, deverá executar ações para:

[...] prevenir situações de risco por meio do


desenvolvimento de potencialidades e aquisições. Por
isso deve responsabilizar-se pela oferta de programas,
projetos e serviços socioassistenciais que fortaleçam
vínculos familiares e comunitários que promovam
os Benefícios de Prestação Continuada (BPC) e
transferência de renda e que vigiem direitos violados no
território (NOB/SUAS, 2005, p. 51).

O nível de gestão do SUAS nos municípios se elava, na medida em que


eles começam a assumir novas ações, como também aumenta as suas
responsabilidades, recursos, refletindo em um aumento na abrangência de
acolhimento e atendimento dos usuários da Política de Assistência Social,
podendo chegar no terceiro nível de gestão, a plena.

Através da gestão plena, os gestores municipais passam a se


responsabilizarem pelas atividades e ações dos outros dois níveis de gestão, e
na organização e implementação da Proteção Social Especial de Média e Alta
Complexidade.

Através da descentralização da assistência social para os estados e


municípios foi necessária uma coordenação estratégica, que tinha capacidade de
articular e organizar o sistema de gestão, por meio da pactuação de regras claras
e objetivas, garantindo a efetivação das ações em todos os níveis.

É importante destacar que nem todo município pode aderir ao nível de gestão
Básica ou da Gestão Plena, a adesão aos níveis mencionados acima depende e é
realizada em conformidade com o porte de cada município.

Na legislação estão previstas diretrizes e ações com critérios fundamentais


para a implementação e desenvolvimento da Política de Assistência Social. Nesse
sentido, é necessário que aconteça a descentralização político-administrativo
dentre as esferas governamentais.

Existe uma diferença entre descentralizar e municipalizar as políticas públicas


na sua totalidade, sendo:

85
SiSTEmA ÚNiCo DE ASSiSTÊNCiA SoCiAL

• Descentralizar: quando se distribui, compartilha e/ou divide os recursos


destinados a uma determinada política pública.
• Municipalizar: quando acontece uma transferência de responsabilidade,
porém sem partilhar do poder de decisão.

Uma das maiores provações na implementação do SUAS, nos municípios,


acontece através da descentralização, pois acontece entre todos os entes
federados, ou seja, em âmbito da União, Estados, Distrito Federal e os Municípios.

Os municípios são os responsáveis pela elaboração, formulação e


implantação das ações que estão relacionadas diretamente com os usuários,
através da oferta de serviços, programas e projetos, devido à aproximação da
própria relação entre os vínculos comunitários e poder público.

Em muitas ações municipais estão sendo utilizados os dados do Cadastro


Único para Programas Sociais (CadÚnico).

O CadÚnico foi disciplinado pelo Decreto nº 6.135 de 36 de junho de 2007 e


regulamentado pela Portaria nº 376, de 16 de outubro de 2008, tornando-se um
instrumento da PNAS, de coleta de dados e informações, buscando a identificação
de todas as famílias com vulnerabilidades sociais e de baixa renda no país, sendo
considerado como porta de entrada para os programas e serviços sociais.

No CadÚnico deverão serem cadastradas as famílias com renda mensal


de até meio salário mínimo por pessoa, as famílias com uma renda superior a
esse critério poderão ser incluídas no cadastro se a inclusão estiver vinculada a
uma seleção ou acompanhamento em algum programa social, desenvolvido pela
União, estados ou municípios.

Os dados das famílias são coletados através do preenchimento


do formulário do CadÚnico, sendo um formulário por família e as
principais informações cadastradas são:

• Características do domicílio (número de cômodos, tipo de


construção, tratamento da água, esgoto e lixo).
• Composição familiar (número de componentes, existência de
pessoas com deficiência).
• Identificação e documentação de cada componente da família.
• Qualificação escolar dos componentes da família.
• Qualificação profissional e situação no mercado de trabalho.

86
Capítulo 2 O SISTEMA ÚNICO DE ASSISTÊNCIA SOCIAL NO BRASIL

• Remuneração.
• Despesas familiares (aluguel, transporte, alimentação e
outras).

FONTE: <http://www.mds.gov.br/programabolsafamilia/cadastro_
unico/o-que-e-1 Acessado em />. Acesso em: 13 set. 2020.

O CadÚnico é utilizado pelo Governo Federal para identificar possíveis


potencialidades dos beneficiários dos programas sociais, como Bolsa Família,
Projovem Adolescente/Agente Jovem, Tarifa Social Elétrica e Programa de
Erradicação do Trabalho Infantil (PETI).

Quando uma família é cadastrada no CadÚNICO, não significa que ela


será incluída nos programas sociais, sua inclusão acontecerá após a seleção,
atendimento e acompanhamento por tais programas conforme os critérios e
procedimentos de cada um.

O CadÚNICO necessita da participação dos três níveis governamentais,


atuando de forma articulada para cumprir as suas responsabilidades e
competências para combater a pobreza e as desigualdades sociais.

Dessa forma, compete a cada esfera de governo e Agente


Operador do CadÚnico o seguinte:

Compete aos municípios:


• Identificar as famílias que compõem o público-alvo do Cadastro
Único e registrar seus dados nos formulários específicos.
• Analisar os dados e zelar pela qualidade das informações
coletadas.
• Digitar, em sistema específico, e transmitir os dados das famílias
cadastradas, acompanhando o retorno do processamento pela
Caixa (arquivo-retorno).
• Manter atualizada a base de dados municipal do Cadastro Único.
• Dispor de infra-estrutura e recursos humanos permanentes para
a execução das atividades inerentes à operacionalização do
CadÚnico.
• Estimular a utilização dos dados do Cadastro Único para o
planejamento e gestão de políticas públicas locais voltadas à

87
SiSTEmA ÚNiCo DE ASSiSTÊNCiA SoCiAL

população de baixa renda, executadas no âmbito do governo


local.
• Prestar apoio e informações às famílias de baixa renda sobre o
Cadastro Único.
• Arquivar os formulários em local adequado por um período
mínimo de 5 anos.

Compete aos estados:


• Coordenar o processo de cadastramento em âmbito estadual.
• Analisar os dados do Cadastro Único e verificar as principais
necessidades das famílias.
• Constituir legalmente e com funcionamento regular um colegiado
intersetorial ou uma coordenação, do PBF e do CadÚnico, com
pelo menos um representante de cada uma das seguintes áreas,
sem prejuízo de outras: a) assistência social; b) educação; c)
saúde; d) planejamento.
• Contribuir para a ampliação do acesso da população pobre,
inclusive indígenas e quilombolas, à documentação civil, com
prioridade para o registro civil de nascimento.
• Promover atividades de capacitação aos municípios, apoiando-os
técnica e logisticamente.
• Contribuir para a identificação e o cadastramento de populações
tradicionais e específicas.
• Estimular o uso do cadastro pelos programas das demais
Secretarias Estaduais e dos municípios.
• Motivar os municípios a manter atualizada a base de dados do
Cadastro Único.

Compete à Secretaria Nacional de Renda de Cidadania –


Senarc, do Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à
Fome – MDS:
• Coordenar, acompanhar e supervisionar, no âmbito federal, a
gestão, a implantação e a execução do CadÚnico.
• Emitir regulamentos e instruções operacionais sobre o CadÚnico,
para subsidiar procedimentos que se verificarem necessários à
operacionalização dele.
• Articular os processos de capacitação de gestores e de outros
agentes públicos envolvidos com a operação do CadÚnico.
• Avaliar a conformidade e qualidade do CadÚnico, definindo
estratégias para buscar a veracidade e aumentar a qualidade das
informações nele registradas.
• Tornar disponível atendimento aos governos locais para
esclarecimentos de dúvidas referentes ao CadÚnico.

88
Capítulo 2 O SISTEMA ÚNICO DE ASSISTÊNCIA SOCIAL NO BRASIL

• Estimular o uso do cadastro por outros órgãos do Governo


Federal, pelos estados, Distrito Federal e municípios.
• Disponibilizar para os estados, periodicamente, a base de dados
dos municípios situados em sua área de abrangência.
• Adotar procedimentos de fiscalização e controle, com intuito de
detectar falhas ou irregularidades.
• Autorizar o envio de formulários de cadastramento aos governos
locais.

Compete ao Agente Operador do CadÚnico – CAIXA:


• Fornecer e remeter os formulários utilizados para o cadastramento
das famílias, mediante autorização do MDS.
• Desenvolver, sob supervisão do MDS, os aplicativos necessários
à digitação e à transmissão dos dados cadastrais.
• Processar os cadastros enviados pelos municípios, identificando
e atribuindo o Número de Identificação Social (NIS) para as
pessoas cadastradas.
• Capacitar gestores e técnicos no sistema operacional, mediante
autorização do MDS.
• Manter atendimento operacional e suporte técnico próximo aos
municípios.

FONTE: <http://www.mds.gov.br/programabolsafamilia/
cadastro_unico/o-que-e-1>. Acesso em: 13 set. 2020.

A inscrição no Cadastro Único ou atualização dos dados cadastrais ou


quando for necessário é um direito de toda a população de baixa renda, cabe
aos municípios e ao Distrito Federal manter uma estrutura física e humana
para acolher a demanda populacional em um tempo ágil, mesmo através de
agendamento de entrevistas, como hora e data marcada.

Os municípios e o DF precisam dispor de uma equipe técnica de trabalho


qualificada e de uma estrutura física adequada para desenvolver as atividades.

Para conhecer melhor como deve ser composta a equipe técnica do


CadÚnico e da infraestrutura necessária, acesse o link: <http://mds.gov.br/
assuntos/cadastro-unico>.

Um exemplo de prática da descentralização da Política de Assistência Social


acontece através da implementação dos Centros de Referências de Assistência
Social (CRAS) nos territórios municipais, em especial aos que contêm uma maior

89
SiSTEmA ÚNiCo DE ASSiSTÊNCiA SoCiAL

vulnerabilidade social e também dos Centros Especializados de Referências


de Assistência Social (CREAS), permitindo assim um atendimento integral,
territorialidade, intersetorial, através de um trabalho de rede de atendimento
socioassistencial.

O cuidado que se deve ter com a descentralização é de não isolar as famílias


em vulnerabilidade social e sim garantir o direito ao acesso a cidades, fortalecendo
e ampliando os conhecimentos dos seus direitos sociais.

O SUAS precisa garantir toda uma infraestrutura necessária para atender às


demandas nos territórios e atender às necessidades dos usuários que necessitem
da Política de Assistência Social através da proteção social.

A NOB/SUAS (2005) preconiza que a Proteção Social de Assistência Social,


ao ter um foco voltado para a emancipação dos usuários, através de um processo
de desenvolvimento humano e social e na conquista de seus direitos, tem como
princípios fundamentais:

• A matricialidade sociofamiliar.
• A territorialização.
• A proteção pró-ativa.
• A integração à seguridade social.
• A integração às políticas sociais e econômicas.

Com isso, a Proteção Social tem por assegurado a segurança de acolhida,


a segurança social de renda, a segurança do convívio ou vivência familiar,
comunitária e social; a segurança do desenvolvimento da autonomia individual,
familiar e social; e a segurança de sobrevivência a riscos circunstanciais.

O SUAS estabelece os serviços socioassistenciais a partir dos seguintes


desempenhos:

• Vigilância sociassistencial: consiste na metodologia de gestão da informação


da realidade social das famílias analisando os territórios onde convivem; implica
na competência de lançar informações sobre vulnerabilidades territorialidades
que se sucedem sobre as famílias nos diferentes ciclos de vida.
• Proteção social: consiste no conjunto de ações, cuidados, atenções,
benefícios e auxílios ofertados pelo SUAS para redução e prevenção do impacto
das vicissitudes naturais ao ciclo de vida, a dignidade humana e a família como
núcleo básico de sustentação afetiva, biológica e relacional (NOB/SUAS, 2005, p.
92).
• Defesa social e institucional: incide na segurança ao acesso aos direitos
socioassistenciais e seu amparo, necessitando ser por meio de instrumentos

90
Capítulo 2 O SISTEMA ÚNICO DE ASSISTÊNCIA SOCIAL NO BRASIL

como: ouvidorias, centros de referência, centros de apoio sócio jurídico, conselhos


de direitos.

O SUAS institui uma maneira de organizar as ações de Proteção Social, da


Política de Assistência Social, conforme a complexidade dos serviços efetuados,
que foram classificadas em:

• Proteção Social Básica.


• Proteção Social Especial, que foi subdividindo-se em: Proteção Social
Especial de Média e Alta Complexidade.

Os serviços efetuados como os Benefícios Assistenciais continuaram a ser


desenvolvidos conforme critérios da Política de Assistência Social.

A organização do SUAS mediante os dois tipos de proteção social está


consolidada através dos equipamentos públicos chamados de:

• Centros de Referência de Assistência Social (CRAS).


• Centros de Referência Especializados de Assistência Social (CREAS).
• Centros de Referência para População de Rua (CENTROPOP).

As responsabilidades desses equipamentos são dos gestores municipais,


podendo ser ou não cofinanciados pelo Governo Federal. Os CRAS, CREAS e
CENTROPOP são unidades públicas e estatais e que percebem e identificam
a presença do Estado nos diferentes territórios, em especial os que possuem o
maior nível de vulnerabilidade social, como espaço para intervenção profissional
no cotidiano da população, buscando uma nova história de vida para os usuários
da Assistência Social.

Os serviços, programas, projetos e benefícios são organizados através do


SUAS, através da referência territorial, levando em consideração as necessidades
e as demandas dos usuários, porém, o principal foco de atenção deve ser a
família.

A modalidade diferencia os benefícios sociais da seguinte maneira:

• Benefícios de Prestação Continuada (BPC): é um direito constitucional


para idosos e pessoas com deficiência no Brasil, que visa promover a participação,
a autonomia e a inclusão eficaz destes cidadãos na sociedade. Por ser um
benefício que possibilita, de maneira articulada com outras políticas de direitos,
a garantia de renda, constitui-se como um trabalho contínuo com os beneficiários
e suas respectivas famílias, visando à superação das vulnerabilidades através da
inserção deles nos serviços socioassistenciais.
91
SiSTEmA ÚNiCo DE ASSiSTÊNCiA SoCiAL

O BPC é um benefício individual, não vitalício e intransferível, que garante


a transferência mensal de 1 (um) salário mínimo para pessoa idosa, com 65
(sessenta e cinco) anos ou mais, e para pessoa com deficiência de qualquer
idade, que comprove não possuir meios de se sustentar ou de ser sustentada pela
família.

O BPC é um benefício da política de Assistência Social, que agrega a


Proteção Social Básica do Sistema Único de Assistência Social (SUAS). Para ter
direito a ele, não é necessário ter contribuído com a Previdência Social. De acordo
com o Art. 21 da LOAS, o BPC deve ser revisto a cada dois anos para avaliação
da continuidade das condições que lhe deram origem.

Os programas de assistência social integram atividades integradas


e complementares, conforme a LOAS, e são definidos pelos Conselhos de
Assistência Social, sendo eles:

• Benefícios Eventuais: esses benefícios estão previstos na LOAS


(1993) sob a responsabilidade de provisões da gestão municipal, através de
financiamento e prestação, e estadual, por cofinaciamento.

Esses benefícios são caracterizados pelas atitudes suplementar e provisória


e são ofertados às pessoas e famílias, em alguma eventualidade, como
nascimento, morte, calamidade pública e outras vulnerabilidades sociais.

Atualmente os Benefícios Eventuais estão garantidos pelo Art. 22 da Lei nº


8.742, de 7 de dezembro de 1993, Lei Orgânica de Assistência Social (LOAS), e
que foi alterada pela Lei nº 12.435, de 6 de julho de 2011.

Em conjunto com os serviços socioassistencias, associam as garantias do


Sistema Único de Assistência Social (SUAS), por meio dos embasamentos dos
princípios de cidadania e dos direitos sociais e humanos.

Os benefícios passaram por diversas e importantes mudanças para se


chegar na forma que está hoje, em 1954. Através do Decreto nº 35.448, foram
criados, na conjuntura da Previdência Social, o auxílio-maternidade e o auxílio-
funeral, propostos aos segurados e aos dependentes.

Eles eram oferecidos no valor de um salário mínimo, por meio de uma


carência mínima de 12 contribuições mensais ao Sistema da Previdência Social.
O auxílio-maternidade era prestado à mulher segurada da Previdência ou ao
segurado em virtude do parto de sua esposa. O auxílio-funeral era coberto a
quem comprovasse pagar as despesas de funeral com um certo segurado da

92
Capítulo 2 O SISTEMA ÚNICO DE ASSISTÊNCIA SOCIAL NO BRASIL

Previdência Social e não havia tempo mínimo de contribuição para ter acesso ao
auxílio.

A Lei n° 3.807, aprovada em 28 de janeiro de 1960, chamada de Lei


Orgânica da Previdência Social (LOPS), causou alterações no auxílio-funeral, que
passou a ser fixado em duas vezes o valor do salário mínimo vigente, repassado
aos dependentes do segurado falecido, para auxiliar nas despesas do funeral,
conforme o Art. 44, da LOPS, e Art. 105, do Decreto nº 48.959-A/1960.

Esses benefícios sofreram alterações novamente, através da aprovação da


Lei nº 8.213, de 24 de agosto de 1991, que dispõe sobre os Planos de Benefícios
da Previdência Social, introduzindo o início da seletividade, nomeando como
beneficiários os segurados com renda, de até Cr$ 5.000,00 (cinco mil cruzeiros),
valor equivalente a três salários mínimos da época. A da Previdência Social ficou
com essa prestação até 1996.

Somente quando a Assistência Social começou a garantir a cautela às


pessoas por circunstância de nascimento ou morte, na configuração de benefícios
eventuais, sem a requisição de contribuições prévias e como uma segurança
afiançada por essa Política, que a Previdência Social não ficou mais responsável
por esses benefícios.

Os Benefícios Eventuais vêm se consolidando e adotando forma à medida


que a política de assistência social se concretiza e materializa como um direito do
cidadão e dever do Estado.

Através da Resolução nº 212, de 19 de outubro de 2006, o Conselho


Nacional de Assistência Social (CNAS) e a União, por intermédio do Decreto nº
6.307, de 14 de dezembro de 2007, constituíram critérios com orientação para a
regulamentação e a providência de Benefícios Eventuais, na esfera da Política
Pública de Assistência Social nos municípios, nos estados e no Distrito Federal.

O Decreto nº 6.307/2007 define como modalidades de


Benefícios Eventuais:

• Natalidade para atender preferencialmente:


• Necessidades do bebê que vai nascer.
• Apoio à mãe nos casos em que o bebê nasce morto ou morre
logo após o nascimento.
• Apoio à família no caso de morte da mãe.

93
SiSTEmA ÚNiCo DE ASSiSTÊNCiA SoCiAL

• Funeral para atender preferencialmente:


• Despesas de urna funerária, velório e sepultamento.
• Necessidades urgentes da família advindas da morte de um de
seus provedores ou membros.
• Ressarcimento no caso da ausência do Benefício Eventual, no
momento necessário.

• Vulnerabilidade Temporária para o enfrentamento de situações


de riscos, perdas e danos à integridade da pessoa e/ou de sua
família.
• Calamidade Pública para o atendimento das vítimas de
calamidade pública, de modo a garantir a sobrevivência e a
reconstrução da autonomia delas.

Os programas, serviços, projetos e benefícios que são vinculados com as


políticas de saúde, educação e outras políticas setoriais, mediante o Art. 9 do
Decreto nº 6.307/07, não se configuram como Benefícios Eventuais da Assistência
Social.

O Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome realizou,


em outubro de 2009, um Levantamento Nacional dos Benefícios Eventuais,
possibilitando uma ação conjunta com outros segmentos.

Em outubro de 2009, o Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à


Fome (MDS) realizou o Levantamento Nacional sobre os Benefícios Eventuais
o qual permitiu obter uma visão geral do fornecimento desses benefícios, como
também um levantamento dos progressos e problemas que a maioria dos
municípios enfrentam.

Através dos critérios utilizados na coleta de dados deste levantamento, no


ano de 2010, o CNAS criou o Grupo de Trabalho Benefícios Eventuais através da
Resolução CNAS nº 21 de julho de 2010, objetivando a discussão do resultado
do Levantamento Nacional dos Benefícios Eventuais/2009 e propor diretrizes
para concessão dos benefícios, diante das demandas atribuídas da política de
assistência social e de saúde.

Através do resultado deste grupo de trabalho, formado por representantes


do MDS, MS, CNAS e CNS, foi aprovada a Resolução CNAS nº 39, de 9 de
dezembro de 2010, que dispõe sobre o novo processo de reordenamento dos

94
Capítulo 2 O SISTEMA ÚNICO DE ASSISTÊNCIA SOCIAL NO BRASIL

Benefícios Eventuais da Política de Assistência Social relacionado com à Política


de Saúde.

No Art 1º desta resolução, dispõe que não são de responsabilidade da política


de assistência social instrumentos que se referem à órtese e prósteses, cadeiras
de roda, muletas, óculos, leites, dietas de prescrição especiais, como também o
fornecimento de fraldas descartáveis para pessoas que necessitam.

O consentimento e o valor dos Benefícios Eventuais devem ser decididos


pelos estados, pelo Distrito Federal e pelos municípios e previstos na lei
orçamentária anual, baseados em critérios e prazos definidos pelos Conselhos de
Assistência Social.

Os Benefícios Eventuais podem ser ofertados através da exposição de


demandas dos indivíduos e sua família em situação de vulnerabilidade ou então
por identificação das demandas durante o atendimento e acompanhamento
sociofamilair dos usuários(as) nos serviços de Proteção Social Básica e Proteção
Social Especial.

As Resoluções do CNAS nº 18, de julho de 2013, e nº 32, de 31 de outubro


de 2013, constituem as prioridades e as metas para a gestão municipal, estadual,
e Distrito Federal e as obrigações do Governo Federal.

O Governo Federal dispõe de alguns Programas Sociais, não podendo


esquecer que programa não é uma política social, podendo ser extintas conforme
o interesse de cada gestão.

Como exemplo, pode-se citar o Programa Bolsa Família, que colabora


e contribui para combater a pobreza e a desigualdade social em todo território
brasileiro. Foi criado em 2003, no governo do Luiz Inácio Lula da Silva, está
firmado através Lei Federal nº 10.836, de 9 de janeiro de 2004 e foi regulamentado
pelo Decreto nº 5.209, de 17 de setembro de 2004, e outras normas.

É um programa de transferência de renda direta ao usuário, com


condicionalidades (compromissos assumidos nas áreas de educação, de saúde e
de assistência social), focado nas famílias em situação de pobreza e de extrema
pobreza em todo o Brasil. Ele está incluído no Plano Brasil Sem Miséria (BSM),
fundamentado na garantia de renda, na inclusão produtiva e no acesso aos
serviços da área social.

95
SiSTEmA ÚNiCo DE ASSiSTÊNCiA SoCiAL

O Bolsa Família possuí três eixos principais, sendo eles:

• Complemento da renda: todos os meses, as famílias atendidas


pelo Programa recebem um benefício em dinheiro, que é
transferido diretamente pelo governo federal. Esse eixo
garante o alívio mais imediato da pobreza.
• Acesso a direitos: as famílias devem cumprir alguns
compromissos (condicionalidades), que têm como objetivo
reforçar o acesso à educação, à saúde e à assistência
social. Esse eixo oferece condições para as futuras
gerações quebrarem o ciclo da pobreza, graças a melhores
oportunidades de inclusão social.
• Articulação com outras ações: o Bolsa Família tem capacidade
de integrar e articular várias políticas sociais a fim de estimular
o desenvolvimento das famílias, contribuindo para elas
superarem a situação de vulnerabilidade e de pobreza.

FONTE: <http://mds.gov.br/assuntos/bolsa-familia/o-que-e>. Acesso em: 13 set. 2020.

As condicionalidades impostas pelo programa não se configuram como uma


punição e sim na lógica de que os direitos sociais básicos sejam acessados por
toda a população que se encontre em condições de vulnerabilidades sociais,
pobreza ou extrema pobreza. Diante disso, todos os níveis de governo devem
assegurar a oferta de serviços socioassitenciais.

O Bolsa Família, como programa social, tem a competência de agregar e


articular com outras políticas públicas, focando na estimulação do desenvolvimento
da autonomia familiar. A gestão do programa é descentralizada, todos
Para saber mais os entes federados têm suas atribuições na sua execução.
sobre o Programa
Bolsa Família,
acesse: Para saber mais sobre o Programa Bolsa Família, acesse:
<http://mds.gov. <http://mds.gov.br/assuntos/bolsa-familia>
br/assuntos/bolsa-
familia> A responsabilidade de realizar as ações socioassistencial
de Proteção Social Básica e Especial pertence às organizações
governamentais, através de convênios, parcerias e ajustes com entidade e
instituições de Assistência Social.

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Capítulo 2 O SISTEMA ÚNICO DE ASSISTÊNCIA SOCIAL NO BRASIL

O objetivo da Proteção Social Básica, conforme a PNAS (2004,


p. 33):

[...] prevenir situações de risco por meio do


desenvolvimento de potencialidades e aquisições, e o
fortalecimento de vínculos familiares e comunitários.
Destina-se à população que vive em situação de
vulnerabilidade social decorrente da pobreza, privação
(ausência de renda, precário ou nulo acesso aos
serviços públicos, dentre outros) e, ou, fragilização
de vínculos afetivos – relacionais e de pertencimento
social (discriminações etárias, étnicas, de gênero ou
por deficiências, dentre outras).

Conforme a NOB/SUAS (2005, p. 23-24), a Política de Assistente Social


deverá ser operada por intermédio de:

a) Centros de Referência de Assistência Social (CRAS), territorialidades de


acordo com o porte do município.
b) Rede de serviços socioeducativos direcionados para grupos geracionais,
intergeracionais, grupos de interesse, entre outros.
c) Benefícios eventuais.
d) Benefícios de Prestação Continuada.
e) Serviços e projetos de capacitação e inserção produtiva.

O CRAS, como equipamento da Política de Assistência Social, deve executar


os serviços de Proteção Básica, pois é um equipamento estatal do SUAS, visando
trabalhar as famílias, por meio de uma visão e ações de empoderamento, o que
significa que, em toda a história da assistência social, trabalhou-se de maneira
emergencial e com atitudes vocalista, e por meio do SUAS inicia-se um trabalho
voltado para a prevenção.

O CRAS tem como função oferecer suporte para que o cidadão que se
encontra em condições de vulnerabilidades social e que acaba sendo envolvido
em um ciclo de exclusão social, que é originado do modelo de acumulação
capitalista.

O trabalho realizado pelo CRAS tem como foco central o atendimento à


família, uma vez que ela se encontra em um contexto de vulnerabilidade e de
exclusão social, e necessitam de amparo, proteção e sustentabilidade.

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SiSTEmA ÚNiCo DE ASSiSTÊNCiA SoCiAL

Para as famílias, o CRAS deve ser considerado uma referência, pois será
através desse equipamento que elas terão possibilidade de acessar outras
políticas públicas, como também viabilizar a garantia de seus direitos sociais.

Para realizar as ações previstas no CRAS, é necessário que ele tenha uma
equipe de referência e que consiga realizar o trabalho de maneira interdisciplinar.
A ampliação de CRAS nos municípios depende da realização das etapas que eles
deverão seguir, que abrangem a aceitação formal através do sistema informatizado
como o Governo Federal, e adotam o cofinanciamento federal. Através deste ato,
o município passa a aceitar os compromissos elencados pelo Governo Federal,
através do Ministério do Desenvolvimento Social, por meio de demonstração de
condições e capacidade de implementação do Serviço de Proteção e Atendimento
Integral à Família (PAIF).

A Tipificação Nacional de Serviços Socioassistenciais, conforme anexos,


organizados por níveis de complexidade do SUAS: Proteção Social Básica e
Proteção Social Especial de Média e Alta Complexidade, será apresentada no
próximo tópico.

A ampliação de CRAS tem como objetivo a sua universalização, ponderando


as particularidades e especificidades das diversas realidades econômicas,
culturais, étnicas e sociais de cada região do Brasil.

Sobre os Serviços de Proteção Social Especial é importante ressaltar que


eles têm como foco de intervenção as famílias e indivíduos em situação de risco
pessoal ou social, ou seja, em situação de violência, em que seus direitos são
violados, ameaçados, ou não há acesso a eles.

Esse nível de proteção tem estreita conexão com o sistema de garantia de


direitos, atuando nas situações de maus-tratos físicos e ou psíquicos, abandono,
cumprimento de medidas socioeducativas, uso de substâncias psicoativas,
situação de rua ou de trabalho infantil, e outras situações de violação de direitos.

Na maioria das situações em que ocorre a violação dos direitos,


vulnerabilidade e risco social, elas afetam os núcleos familiares e suas relações,
como também os vínculos comunitários, causando conflitos, discórdias,
tensões, rupturas, exigindo um atendimento especializado e demandando de
uma articulação entre os instrumentos de defesa de direitos, como Ministério e
Defensoria Pública, Conselhos Tutelares, Juizados, Delegacia Especializada e
outros, como também outras políticas públicas, Saúde, Habitação, Educação e
outras.

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Capítulo 2 O SISTEMA ÚNICO DE ASSISTÊNCIA SOCIAL NO BRASIL

A Proteção Social Especial está subdividida em Serviços de Média e Alta


Complexidade.

Conforme a NOB/SUAS (2005, p. 24), a Proteção Social


Especial, por ter como referencial de atuação as situações de risco
ou violação de direitos, inclui:

a) Crianças e adolescentes em situação de trabalho.


b) Adolescentes em medida socioeducativa.
c) Crianças e adolescentes em situação de abuso e/ou
exploração sexual.
d) Crianças, adolescentes, pessoas com deficiência, idosos,
migrantes, usuários de substâncias psicoativas e outros indivíduos
em situação de abandono.
e) Famílias com presença de formas de negligência, maus-
tratos e violência.

A responsabilidade de executar os Serviços de Proteção Social Especial


de Média Complexidade cabe ao Centros Especializados de Assistência Social
(CREAS), sendo unidades públicas estatais e que dispõe de atendimento às
famílias e ao indivíduos em situação de risco, em que os vínculos familiares e
comunitários não foram interrompidos.

O CREAS realiza serviços especializados para as famílias ou indivíduos


vitimados e em situação de violação de direitos, através de atendimento e proteção
imediata. Esses serviços são oferecidos por meio de uma equipe multiprofissional,
através de acompanhamento técnico especializado, e contínua articulação com
toda a rede de serviços socioassistenciais e outras políticas públicas, como
também em conjunto com o Sistema de Garantia de Direitos, como Conselho
Tutelar, Vara da Infância e da Juventude, Ministério Público, Defensoria Pública
e outros.

Os Serviços de Proteção Social Especial de Alta Complexidade são os que


garantem a proteção integral, ou seja, alimentação, moradia, higienização e
proteção, para os indivíduos ou famílias que se encontram em situação de ameaça
ou sem referência familiar, quando necessitam ser retirados do seu núcleo familiar
ou comunitário. Estes equipamentos de proteção integral podem ser: Atendimento

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SiSTEmA ÚNiCo DE ASSiSTÊNCiA SoCiAL

Integral Institucional, Família Substituta, Família Acolhedora, Casa Lar, Casa


de Passagem, Repúblicas, Medidas Socioeducativas Restritivas e Privativas de
Liberdade e Trabalho Protegido.

Esses serviços precisam garantir o fortalecimento dos vínculos familiares e/


ou comunitários e o desenvolvimento da autonomia dos usuários.

Diante das observações descritas anteriormente, os CRAS e CREAS são


instrumentos fundamentais na efetivação do SUAS, pois concretizam de forma
coerente e correta a descentralização das Políticas de Assistência Social, fazendo
com que os serviços, programas e projetos consigam estar mais perto dos
usuários que necessitarem dessa política pública.

Os CRAS e CREAS, sendo implementados nos territórios das famílias, com


maior vulnerabilidade social, tornam-se equipamentos em que os profissionais da
Política de Assistência Social, não só o Assistente Social, possam conhecer as
demandas sociais de cada núcleo familiar, facilitando assim o acesso e a garantia
dos direitos.

Leitura Complementar

A Política Pública de Assistência Social Enquanto


Estratégia na Garantia dos Direitos Humanos

Tiago Gomes Cordeiro

A divisão das atenções por categorias perpassa a perspectiva


compensatória de entendimento provida pela assistência social, a
partir do risco já instalado, conforme destaca Sposati (2006, p. 112):

O Suas, ao propor a proteção social básica além da


especial, ultrapassa o “caráter compensatório” do
entendimento corrente da proteção social provida pela
assistência social como política de seguridade social
por ocorrer, via de regra, após a gravidade do risco
instalado.

À proteção social básica cabe prevenir situações de risco,


desenvolvendo potencialidades, por meio do fortalecimento
dos vínculos familiar e comunitário. Essa proteção prevê o
desenvolvimento de serviços, programas e projetos de acolhimento

100
Capítulo 2 O SISTEMA ÚNICO DE ASSISTÊNCIA SOCIAL NO BRASIL

para a convivência e socialização das famílias e indivíduos, com o


objetivo de prevenir situações de risco. Tem como foco populações
que estejam em situação de vulnerabilidade social decorrente da
pobreza, privação ou fragilização de vínculos afetivos. As execuções
desses serviços acontecem de forma direta, por meio do Cras, por
outras unidades públicas de assistência social, ou até mesmo de
forma indireta pelas organizações.

No que tange à proteção social especial, tem-se como foco a


atenção voltada a famílias e indivíduos em situações de risco pessoal
e social, sendo essas caracterizadas como: situação de abandono,
maus-tratos físicos ou psíquicos, abuso sexual, uso de substâncias
psicoativas, cumprimento de medidas socioeducativas, situação de
rua, situação de trabalho infantil, entre outras (PNAS, 2004).

Quanto aos serviços da proteção social especial, a Pnas (2004,


p. 31) define que: sociais conveniadas “Têm estreita interface com
o sistema de garantia de direito exigindo, muitas vezes, uma gestão
mais complexa e compartilhada com o Poder Judiciário, Ministério
Público e outros órgãos e ações do Executivo”.

Essa categoria de proteção requer acompanhamento individual,


com mais ênfase nas famílias e indivíduos. Por tratar de risco pessoal
e social, deve ser tomada com mais precaução e atenção, sendo
que muitos casos têm relação próxima com o Poder Judiciário e o
Ministério Público. Esse modelo de proteção classifica-se em duas
modalidades, de média e de alta complexidade.

Com relação à alta complexidade, os serviços são: “Aqueles que


garantem proteção integral – moradia, alimentação, higienização e
trabalho protegido para famílias e indivíduos que se encontram sem
referência e/ou em situação de ameaça, necessitando ser retirados
de seu núcleo familiar e/ou comunitário (PNAS, 2004. p. 32).

Nessa proteção, os serviços concedidos são: atendimento


integral institucional; casa/lar; república; casa de passagem; albergue;
família substituta; família acolhedora; medidas socioeducativas de
privação de liberdade e trabalho protegido (PNAS, 2004). No que se
refere à média complexidade, a Pnas (2004, p. 32) define que:

São considerados serviços de média complexidade


aqueles que oferecem atendimentos às famílias e
indivíduos com seus direitos violados, mas cujos
vínculos familiar e comunitário não foram rompidos.

101
SiSTEmA ÚNiCo DE ASSiSTÊNCiA SoCiAL

Neste sentido, requerem maior estruturação


técnico-operacional e atenção especializada e mais
individualizada e/ou acompanhamento sistemático e
monitorado.

Os serviços oferecidos na proteção de média complexidade são:


serviço de orientação e apoio sociofamiliar; plantão social; abordagem
de rua; cuidado no domicílio; serviço de habilitação e reabilitação na
comunidade das pessoas com deficiência; medidas socioeducativas
em meio aberto – Prestação de Serviços Comunitários (PSC) e
Liberdade Assistida (LA).

Entre os serviços ofertados, destacamos que o Centro de


Referência Especializado da Assistência Social (Creas) encontra-se
situado nessa categoria. Conforme define a PNAS (2004, p. 32):

A proteção especial de média complexidade envolve


também o Centro de Referência Especializado da
Assistência Social, visando a orientação e o convívio
sociofamiliar e comunitário. Difere-se da proteção
básica por se tratar de um atendimento dirigido às
situações de violação de direitos.

O Creas diferencia-se dos serviços da proteção social básica,


por dar ênfase ao trabalho especializado, atendendo a situações de
violação de direitos, mas cujos vínculos familiar e comunitário não
foram rompidos.

O Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome


(MDS), para dinamizar o Creas, criou o Guia de Orientação no 1
– Creas (primeira versão) e o documento de Orientações sobre a
Gestão do Creas (primeira versão, formato didático).

Nesses documentos, encontra-se todo o conteúdo de


desenvolvimento do Creas, como: a caracterização, organização,
gestão, o financiamento, a estrutura de equipe, os serviços ofertados,
entre outros temas.

Com relação à característica do serviço, observa-se que este


deve ser uma unidade pública estatal de atenção especializada
à população com direitos violados. Suas ações devem fomentar
o atendimento e o acompanhamento a partir de um conjunto de
profissionais especializados.

O Creas constitui-se numa unidade pública estatal, de


prestação de serviços especializados e continuados
a indivíduos e famílias com seus direitos violados,
102
Capítulo 2 O SISTEMA ÚNICO DE ASSISTÊNCIA SOCIAL NO BRASIL

promovendo a integração de esforços, recursos e meios


para enfrentar a dispersão dos serviços e potencializar
a ação para os seus usuários, envolvendo um conjunto
de profissionais e processos de trabalhos que devem
ofertar apoio e acompanhamento individualizado
especializado (GUIA DE ORIENTAÇÃO Nº 1, 2005, p.
3).

Entre os eixos norteadores do trabalho do Creas, destacam-se o território,


a localização da unidade de atendimento, que deve ser de fácil acesso para as
pessoas, e a rede de serviços socioassistenciais.

Quanto ao atendimento, esse deve ter como centralidade da atenção a família,


potencializando os recursos e o protagonismo na participação social a partir de
uma atenção especializada, objetivando o acesso a direitos socioassistenciais.

Quanto à orientação para o desenvolvimento do trabalho, a acolhida e a


escuta especializada devem proporcionar, entre outros aspectos:

• O fortalecimento da função protetiva da família.


• A interrupção de padrões de relacionamento familiares e
comunitários com violação de direitos.
• A potencialização dos recursos para a superação da situação
vivenciada e reconstrução de relacionamentos familiares,
comunitários e com o contexto social, ou construção de novas
referências, quando for o caso.
• O acesso das famílias e indivíduos a direitos socioassistenciais e à
rede de proteção social.
• O exercício do protagonismo e da participação social.
• A prevenção de agravamentos e da institucionalização
(ORIENTAÇÕES SOBRE A GESTÃO DO CREAS, primeira
versão, formato didático, 2005, p. 6).

Na perspectiva de articulação da rede de serviços, cabe ao Creas ainda ser


um dos articuladores da rede de proteção de média complexidade em interface
com a básica e a especial, junto com as demais políticas públicas e outros setores,
a fim de que sejam realizadas ações integradas. Nesse sentido, deve articular
reuniões e encontros periódicos com a rede de serviços local.

O Creas deve articular os serviços de média


complexidade e operar a referência e a contra-
referência com a rede de serviços socioassistenciais
da proteção social básica e especial, com as demais
políticas públicas e demais instituições que compõem o
Sistema de Garantia de Direitos e movimentos sociais.
Para tanto, é importante estabelecer mecanismos de
articulação permanente, como reuniões, encontros ou
103
SiSTEmA ÚNiCo DE ASSiSTÊNCiA SoCiAL

outras instâncias para discussão, acompanhamento e


avaliação das ações, inclusive as intersetoriais (GUIA
DE ORIENTAÇÃO Nº 1, 2005, p. 5).

Tanto a PNAS quanto o Suas apresentam importantes


contribuições para a consolidação da política de assistência
social, principalmente ao tratarem da centralidade da política na
matricialidade familiar, garantindo, assim, as convivências familiar e
comunitária dos indivíduos.

Um importante atributo refere-se ao conjunto de serviços,


programas e projetos que constituem o Suas, que pode ser prestado
de forma direta – pelo Estado – ou por meio de convencimento com
instituições da sociedade civil.

Outra consideração é quanto à divisão das proteções sociais,


a partir de níveis de complexidades. Dessa forma, diferencia a
atenção a ser fornecida, ultrapassando o caráter compensatório
que denotaram historicamente as práticas de assistência social e
afiançando, no caso da média complexidade, o Creas como lócus
para as ações e intervenções especializadas direcionadas às famílias
e aos indivíduos.

FONTE: <http://www.encontro2014.andhep.
org br/resources/anais/1/1397489466_ARQUIVO
Apoliticapublicadeassistenciasocialenquantoestrategianagarantiadosdireitoshumanos
.pdf>. Acesso em: 11 set. 2020.

1 O SUAS define três níveis de gestão inicial, básica e plena e


organiza as ações em Proteção Social Básica (PSB) e Proteção
Social Especial (PSE) de média e alta complexidade. Quais são
os objetivos de cada tipo de proteção?

2 Pesquise qual é a realidade do SUAS em seu município. Qual é o


nível de gestão da Política de Assistência Social? Quantos CRAS
existem e qual é o porte de seu município? Foram implementados
CREAS e o Serviço de Alta Complexidade? Se existe a gestão da
política de assistência social, quantos têm e quantas famílias são
atendidas em ambos os Serviços?

104
Capítulo 2 O SISTEMA ÚNICO DE ASSISTÊNCIA SOCIAL NO BRASIL

2.2 A LINHA DO TEMPO DA


ASSISTÊNCIA SOCIAL
Será apresentada neste subtópico uma síntese dos marcos legais que
construíram a linha do tempo da assistência social, desde a Constituição de
1988 até os dias de hoje. Essa síntese se dá pela importância de pontuar as
principais legislações que marcaram a implementação do SUAS, oferecendo
assim contribuições e subsídios para que os trabalhadores, usuários, entidades,
conselheiros e gestores se qualifiquem para discutir sobre o SUAS que temos e o
SUAS que queremos.

Em 1988 ocorreu a publicação da Constituição Federal, dispondo nos artigos


203 e 204 a Assistência Social como direito garantido a quem dela precisar.

Em 1993 foi publicada a Lei Orgânica da Assistência Social (LOAS), Lei nº


8.742/93, que dispõe sobre a organização da Assistência Social no Brasil.

Em 1995 aconteceu a convocação da I Conferência Nacional de Assistência


Social, com o tema: A Assistência Social como um direito do cidadão e dever do
Estado, sendo realizada entre os dias 20 e 23 de novembro de 1995.

Em 1997 houve a convocação para a II Conferência Nacional de Assistência


Social, tendo como tema: O Sistema Descentralizado e Participativo da Assistência
Social – Construindo a Inclusão – Universalizando Direitos.

Em 2003 foi criado o Ministério de Assistência Social; aconteceu, em


dezembro, a IV Conferência Nacional de Assistência Social, com o tema:
Assistência Social como Política de Inclusão: Uma Nova Agenda para a Cidadania
– LOAS 10 anos, que aprovou a criação do Sistema Único de Assistência Social.
Através de Medida Provisória, foi criado o Programa Bolsa Família, que unificou
todos os programas que existiam de transferência de renda.

Em 2004 foi criado o Ministério Social de Combate à Fome (MDS),


fortalecendo a regulamentação da LOAS e a construção do SUAS; houve a
suspensão da exigência da Certidão Negativa de Débitos, que impossibilitava o
MDS a repassar para os municípios o valor aproximado de 25 milhões mensais;
houve a publicação da Política Nacional de Assistência Social (PNAS/2004),
através da Resolução CNAS nº 145, de 15 de outubro de 2004, definindo assim as
diretrizes para a efetivação do novo modelo de gestão para a assistência social;
com a aprovação da Lei nº 10.836, de 9 de janeiro de 2004, o Programa Bolsa
Família foi instituído como lei.

105
SiSTEmA ÚNiCo DE ASSiSTÊNCiA SoCiAL

Em 2005, em dezembro, aconteceu a V Conferência Nacional de Assistência


Social, com o tema: SUAS Plano 10: Estratégias e Metas para a Implementação
da Política Nacional de Assistência Social; foi publicada a Norma Operacional
Básica de Assistência Social (NOB/SUAS/2005), que foi aprovada através da
resolução CNAS nº 130, em que se cria a Rede SUAS e o Sistema Nacional de
Informação do SUAS. Neste mesmo ano, houve a promulgação da Lei n° 11.258,
de 30 de dezembro de 2005, que retifica a LOAS, acrescentando o serviço de
atendimento a pessoas que vivem em situação de rua; foi publicada a Resolução
CNAS nº 191/2005, que regulamenta o Art. 3º da LOAS, que aborda as entidades
e organização das entidades e organizações de assistência social. Neste mesmo
ano também foi publicada a Resolução CNAS nº 209/2005, que estabelece o
Código de Ética do CNAS.

Em 2006, em dezembro, através da Resolução CNAS nº 269/2006, a Norma


Operacional Básica de Recursos Humanos (NOB-RH/SUAS/2006), foi publicada
a Portaria MDS nº 148/2006 que instituiu normas, critérios e procedimentos de
base para a gestão do PBF e do CadÚnico de Programas Sociais do Governo
Federal e estabelece o IGD. Neste mesmo ano foram publicadas as seguintes
resoluções: Resoluções do CNAS nº 23 e 24, que regulamentam o acordo acerca
dos trabalhadores do setor e dos representantes dos usuários; Resolução da
CNAS nº 212/2006, que sugere critérios para a regulamentação da providência de
benefícios eventuais; Resolução nº 237, que propõe diretrizes para estruturação,
reformulação e funcionamento dos Conselhos de Assistência Social.

Em 2007 aconteceu a VI Conferência Nacional de Assistência Social,


entre os dias 14 a 17 de dezembro de 2007, tendo como tema: Compromissos
e Responsabilidades para assegurar a Proteção Social pelo Sistema Único
de Assistência Social (SUAS); foi difundido o Decreto nº 6.307, de 14 de
dezembro de 2007, sobre os Benefícios Eventuais que estão na LOAS, no Art.
22, o Plano Decenal SUAS; que estruturou ações para 10 anos; Plano 10, que
expõe as metas e as estratégicas do Plano Decenal que foram deliberadas da V
Conferência Nacional e as Metas do Governo Federal; e, com aprovação destas
Metas Nacionais pela Resolução CNAS nº 210/2007, através do Decreto nº
6.214, que regulamenta o Benefício de Prestação Continuada – BPC, destinado à
pessoa com deficiência e ao idoso, citado na Lei nº 8.742, de 7 de dezembro de
1993, outro decreto publicado foi o de nº 6.308, de 14 de dezembro, que dispõe
sobre as entidades e organizações de assistência social, que dispõe o Art. 3
da Lei nº 8.742/93. Neste ano foi lançado o Programa de Acompanhamento e
Monitoramento do Acesso e Permanência na Escola das Pessoas com deficiência
e que são beneficiárias do BPC e BPC na Escola; deu-se início ao Monitoramento
dos CRAS, Censo CRAS 2007; e foi instituída a Carteira do Idoso, com ferramenta
para a comprovação para o acesso aos benefícios conforme o Estatuto do Idoso.

106
Capítulo 2 O SISTEMA ÚNICO DE ASSISTÊNCIA SOCIAL NO BRASIL

Em 2008 iniciou-se um novo procedimento para a ampliação do Programa


de Atenção Integral à Família (PAIF), centralizado no CRAS, sendo este
acompanhado pelo governo Federal e Estado; através de um ambiente virtual,
foi criado o primeiro indicador de acompanhamento dos CRAS – IDCRAS; houve
também a definição do programa de monitoramento e avaliação do Benefício de
Prestação Continuada; através de sistema computadorizado, foi publicada a Lei nº
11.692 que dispõe sobre o Programa Nacional de Inclusão de Jovens – Projovem;
iniciou-se o Levantamento Nacional das Crianças e Adolescentes em serviços
de acolhimento institucional e família; o Decreto do BPC sofreu nova alteração,
através do Decreto nº 6.564, de 12 de setembro.

Em 2009 foi finalizado o processo de transição dos serviços de educação


infantil para o setor de educação, conforme a PNAS e a LDB; aconteceu a VII
Conferência Nacional de Assistência Social, entre os dias 30 de novembro a 3
de dezembro, tendo como tema: Participação e Controle do SUAS; foi criada a
Rede Nacional de Monitoramento da Assistência Social (RENMAS); no dia 23 de
dezembro, foi realizada a publicação do Decreto nº 7.053, que institui a Política
Nacional para a População de Rua e seu Comitê Intersetorial de Acompanhamento
e Monitoramento; aconteceu a implementação do Cadastro Nacional do SUAS.
Neste ano foi lançada a coletânea CapacitaSUAS; foi aprovada a Tipificação
Nacional dos Serviços Socioassistenciais, Resolução CNAS nº 109/09, que
foi publicada no Diário Oficial da União, o Protocolo de Gestão Integrada entre
os serviços e benefícios, objetivando a integração do PBF e do PAIF. Também
foi aprovada neste ano a Lei nº 12.101/09, que dispõe sobre a certificação das
entidades beneficentes de assistência social, que regula os procedimentos de
inserção de contribuições para a seguridade social; e foi lançada a Pesquisa
MUNIC, da qual os resultados foram disseminados somente em 2010.

Em 2010 foram aprovadas as seguintes resoluções: Resolução CNAS nº


16/10, que dispõe sobre os parâmetros nacionais para inscrição das entidades e
organizações de assistência social, bem como os serviços, programas, projetos e
benefícios socioassistenciais nos Conselhos de Assistências Sociais municipais e
do DF; Resolução CNAS nº 31/10, que destina recursos do FNAS para ações de
capacitação de profissionais que atuam nos CRAS e CREAS; Resolução CNAS nº
39/10, que dispõe sobre o processo de 2010, que regulamenta a Lei nº 12.101, de
27 de novembro de 2009, alterado pelo Decreto nº 7.300, de 14 de setembro de
2010, dispondo sobre o processo de certificação das entidades beneficentes de
assistência social e para obtenção da inserção das contribuições para seguridade
social. Ainda neste ano foi publicado o Decreto nº 7.334, de 19 de outubro, que
institui o Censo SUAS.

Em 2011 foi publicada a Lei nº 12.435, que altera a Lei nº 8.742/1993 (LOAS),
integrando ao texto o SUAS; foi aprovado o Decreto nº 7.617, de 17 de novembro,

107
SiSTEmA ÚNiCo DE ASSiSTÊNCiA SoCiAL

que altera o Regulamento do Benefício da Prestação Continuada, que foi aprovado


em 2007 pelo Decreto nº 6.214, de 26 de setembro de 2007; aconteceu a VII
Conferência Nacional de Assistência Social, no período de 7 a 10 de dezembro,
tendo como tema geral: Avançando na consolidação do Sistema Único de
Assistência Social – SUAS, com a valorização dos trabalhadores e a qualificação
da gestão dos serviços, programas, projetos e benefícios; foi publicado o Decreto nº
7.636, de 7 de dezembro, que dispõe sobre o apoio financeiro da União ao Estado,
Distrito Federal e Município proposto ao aprimoramento dos serviços, programas
projetos e benefícios, com base no IGDSUAS; foram aprovadas as seguintes
resoluções: Resolução do CNAS no 17/11, que retifica a equipe de referência
definida pela NOB – RH/SUAS, reconhecendo as categorias profissionais de nível
superior para atender às especialidades dos serviços socioassistenciais e das
funções essenciais de gestão do SUAS; Resolução CNAS no 32/11, que constitui
um percentual dos recursos do SUAS, cofinanciados pelo governo federal, e que
poderão ser gastos no pagamento de profissionais que formam e integram as
equipes de referências, conforme o Art. 6º da Lei nº 8.742/93, inserido pela Lei
nº 435/11; Resolução CNAS nº 33/11, que dispõe sobre a ação da Integração ao
Mercado de Trabalho no campo da assistência social e estabelece seus requisitos;
Resolução do CNAS nº 34/11, que define a Habilitação e Reabilitação da pessoa
com deficiência e a promoção de sua integração à vida comunitária no campo da
assistência social e estabelece seus requisitos.

Em 2012 houve a aprovação da nova Norma Operacional Básica do Sistema


Único de Assistência Social (NOB/SUAS); através da Resolução CNAS nº 33/12,
foi aprovada a Resolução CNAS nº 08/12, que estabelece o Programa Nacional
de Capacitação do SUAS – CapacitaSUAS; e a última resolução aprovada em
2012 foi a Resolução CNAS nº 18/12, que estabelece o Programa Nacional de
Promoção do Acesso ao Mundo do Trabalho – ACESSUAS – TRABALHO.

Em 2013 foram aprovadas as seguintes resoluções: Resolução CNAS


nº 01/13, que dispõe sobre o reordenamento do Serviço de Convivência e
Fortalecimento de Vínculos (SCFV); Resolução nº 18/13, que dispõe sobre as
prioridades e metas específicas para a gestão municipal do SUAS; Resolução
nº 31/13, dando ênfase aos princípios e diretrizes da regionalização no SUAS,
através de novos parâmetros para a oferta do Serviço de Proteção e Atendimento
Especializado a Famílias e Indivíduos (PAEFI), e do Serviço de Acolhimento
para Crianças, Adolescentes e Jovens até 21 anos, como também critérios de
elegibilidade e divisão dos recursos de cofinanciamento federal para a ampliação
dos Serviços; Resolução nº 32/13, dispondo sobre o Pacto de Aprimoramento
da Gestão dos Estados e do Distrito Federal no âmbito do SUAS, estabelecendo
a revisão das prioridades das gestões estaduais e do Distrito Federal e dos
compromissos da União, que foram estabelecidos na Resolução nº 17, de
novembro de 2010, da Comissão Intergestores Tripartites (CIT). No SUAS, foi

108
Capítulo 2 O SISTEMA ÚNICO DE ASSISTÊNCIA SOCIAL NO BRASIL

realizada a IX Conferência Nacional de Assistência Social, no período de 16 a 19


de dezembro, com o tema: A Gestão e o Financiamento na efetivação do SUAS.

Em 2014 foram aprovadas as seguintes resoluções: Resolução nº 4/14, que


determina o Programa Nacional de Aprimoramento da Rede Socioassistencial
Privada no SUAS – Aperfeiçoa a Rede e delimita critérios e procedimentos
visando incentivar e qualificar os serviços e programas, projetos e benefícios
socioassistenciais que formam a contribuição das entidades privadas no âmbito
do SUAS; Resolução nº 9/14, reconhecendo as ocupações profissionais de
ensino médio e fundamental do SUAS, em consonância com via NOB-RH/
SUAS; Resolução nº 13/14, que inclui na Tipificação Nacional de Serviços
Socioassistenciais, a faixa etária de 18 a 59 anos no Serviço de Convivência
Fortalecimento de Vínculos; Resolução nº 14/14, que determina parâmetros
nacionais para a inscrição das entidades e/ou organizações de Assistência Social,
serviços, programas, projetos nos Conselhos de Assistência Social; Resolução nº
27/14, que altera a Resolução do CNAS nº 18/12, que institui o Programa Nacional
de Acesso ao Mundo do Trabalho; Resolução nº 28/14, que altera a Resolução
CNAS nº 8/12, que delibera sobre o Programa Nacional do SUAS.

Em 2015 o SUAS comemorou seus dez anos de existência, ou seja, uma


década de um Sistema Único de Assistência Social no Brasil. Essa experiência de
implantação de um Sistema público procede na decisão política de dar prioridade,
na agenda federal, através de maior atenção para as populações com maiores
vulnerabilidades sociais, com o compromisso e comprometimento dos entes
federados e com a participação da sociedade civil. Diante disso, o SUAS passou
a integrar um projeto de país que queira uma sociedade mais justa e igualitária,
através de uma economia inclusiva. Neste período de 10 anos, o SUAS passou
por processo de estruturação e implementação do esplendor normativo e legal.

Na NOB/SUAS – 2012, foi refletido sobre novos desafios para a década


seguinte, por meio de um patamar de novas qualidades, como a qualificação
e aprimoramento da gestão e dos serviços ofertados, e também a providência
da proteção social não contributiva em um panorama que enfatiza e traz para
o debate novas questões desafiadoras, como as alterações climáticas e
ambientais, sociodemográficas em uma conjuntura econômica. Perante as novas
responsabilidades para a década seguinte, o CNAS convocou a X Conferência
Nacional de Assistência Social, tendo como tema geral: Consolidar o SUAS de
vez rumo a 2026, que foi realizada no período de 7 a 10 de dezembro de 2015 em
Brasília/DF.

Caro acadêmico, agora cabe a você, como futuro profissional, dar


continuidade na Linha do Tempo da Assistência Social. Seja você também um

109
SiSTEmA ÚNiCo DE ASSiSTÊNCiA SoCiAL

protagonista dessa Política, sem esquecer, jamais, quais são os PRINCÍPIOS


ÉTICO-POLÍTICOS DO SERVIÇO SOCIAL.

2016 – foi aprovado o II Plano Decenal da AssistênciaSocial (2016/2026), O


CONSELHO NACIONAL DE ASSISTÊNCIA SOCIAL CNAS; em reunião ordinária
realizada nos dias 17, 18, e 19 de maiode 2016, no uso da competência que lhe
conferem os incisos II, V, IX e XIV do artigo 18 da Lei nº 8.742, de 7 de dezembro
de 1993 – Lei Orgânica da Assistência Social – LOAS, através da RESOLUÇÃO
Nº 7, DE 18 DE MAIO DE 2016.

Foi instituído por meio do Decreto nº 8.869, de 5 de outubro de 2016,


e alterado pelo Decreto nº 9.579, de 22 de novembro de 2018, de caráter
intersetorial e com a finalidade de promover o desenvolvimento integral das
crianças na primeira infância, considerando sua família e seu contexto de vida.
O Programa tem como objetivos promover o desenvolvimento humano a partir
do apoio e do acompanhamento do desenvolvimento infantil integral na primeira
infância; apoiar a gestante e a família na preparação para o nascimento e nos
cuidados perinatais; colaborar no exercício da parentalidade, fortalecendo os
vínculos e o papel das famílias no desempenho da função de cuidado, proteção e
educação de crianças na faixa etária de até seis anos de idade; mediar o acesso
da gestante, das crianças na primeira infância e das suas famílias às políticas e
aos serviços públicos de que necessitem; integrar, ampliar e fortalecer ações de
políticas públicas voltadas para as gestantes, crianças na primeira infância e suas
famílias.

Nos últimos anos, as políticas públicas, a Assistência Social assim como


as demais, vêm sofrendo com os ataques neoliberais e neoconservadores de
políticos descomprometidos com a realidade da população brasileira, valorizando
os setores econômicos em detrimento do social.

1 Realize uma pesquisa e aponte quais foram as deliberções da


X Conferência Nacional de Assistência Social, tendo como tema
geral: Consolidar o SUAS de vez rumo a 2026, que ocorreu em
2015, no Brasil.

2 Aponte três delibarações da X Conferência Nacional de


Assistência Social, tendo como tema geral: Consolidar o SUAS
de vez rumo a 2026, que você considera mais importantes e
justifique-as.

110
Capítulo 2 O SISTEMA ÚNICO DE ASSISTÊNCIA SOCIAL NO BRASIL

3 ALGUMAS CONSIDERAÇÕES
Durante as últimas três décadas, o Brasil assistiu a um progressivo
adensamento de sua proteção social, envolvendo a expansão de redes universais
de serviços, a ampliação de benefícios monetários e a promoção da equidade.
Essa construção abrangeu avanços expressivos na definição das circunstâncias
sociais, das responsabilidades protetivas e das ofertas da política de assistência
social, além da consolidação de arranjos institucionais e operacionais. A política
de assistência social passou a ocupar um lugar estratégico no sistema de proteção
social brasileiro. O processo de implementação do SUAS, mesmo permeado por
conflitos e disputas e dependente da interação de grande número de atores,
dinâmicas políticas e territórios diversificados, tem sido capaz de operar expressivo
volume de benefícios monetários e ampla rede de serviços, especialmente devido
ao desenvolvimento de múltiplas dimensões de capacidades institucionais e
normativas.

As mobilizações em torno da destituição de Dilma Rousseff da presidência


da república favoreceram uma nova agenda de reformas que ganhou corpo
rapidamente, embasada em novos horizontes normativos. A oposição ao sistema
de proteção social constituído no país desde 1988 conseguiu mobilizar-se quando
a crise política de 2016 abriu uma janela de oportunidades, com possibilidade
de reversão da trajetória de construção de capacidades estatais na política de
assistência social abordada neste capítulo.

Nesse novo contexto político, destaca-se a Emenda Constitucional nº


95/2016, que institui um Novo Regime Fiscal (NRF) no âmbito da União para
os próximos vinte anos, com congelamento, em termos reais, das despesas
primárias, e projeta redução real dos gastos nas quatro principais políticas sociais,
configurando um movimento de transformações de longo alcance e profundidade
na saúde, educação, previdência social e assistência.

A restrição da proteção previdenciária e a perspectiva de pressão sobre


as ofertas da assistência social indicam um modelo liberal, uma inflexão em
relação à perspectiva abrangente que ainda organiza normativamente a proteção
social brasileira. Se até recentemente mantinha-se, com tensões, o horizonte de
focalização nos mais pobres como instrumento complementar em um padrão
referenciado à universalidade efetiva de políticas sociais, incluindo no radar
da proteção social o compromisso da equidade e o resgate de populações
historicamente invisíveis para o poder público, o contexto atual sinaliza em direção
a uma perspectiva restritiva e residual da proteção social.

Em síntese, se, cabalmente implementado, esse programa reformista


de grande envergadura implicará alterações profundas no perfil do sistema de
111
SiSTEmA ÚNiCo DE ASSiSTÊNCiA SoCiAL

proteção social e no lugar da assistência social, reduzindo expressivamente a


responsabilidade pública pela política de assistência social ao mesmo tempo em
que fragiliza sua capacidade protetiva. A crítica ao alto patamar de gasto social
e a opção por um Estado minimalista já estão embasadas em um novo regime
fiscal, ao passo que avançam declarações e iniciativas calcadas em exigência
de maior comprometimento com o trabalho e desenvolvimento de ativos, com
ênfase na responsabilidade individual, sinalizando reformas também no âmbito da
assistência social.

Uma vez que não existe um caminho inexorável de “evolução” de programas


sociais, são propostas que refletem uma outra visão dos horizontes da proteção
social. Saem de cena a perspectiva de integração entre políticas sociais, a busca
ativa de grupos urbanos e rurais ainda distantes dos benefícios e sinaliza-se
com o reforço da necessidade de comprovação de meios, além de reforçarem
argumentos meritocráticos e perspectivas morais em torno da pobreza e da
desigualdade.

Propostas como a “premiação” de gestores municipais pela saída de


beneficiários do programa e o suposto estímulo à inserção de beneficiários no
mercado de trabalho ignoram tanto os indicadores recentes que apontam aumento
da pobreza e da desigualdade no Brasil, bem como a deterioração das condições
do mercado de trabalho. Saem do radar considerações sobre a volatilidade de
renda dos mais pobres e sobre os perfis de inserção profissional dos atuais
beneficiários. Em síntese, sob a roupagem de maior “fiscalização e eficiência”,
esconde-se uma visão liberal e focalizadora da proteção social. Resta observar
como será o balanço de forças entre a capacidade política do atual governo de
impor sua agenda — pela via legislativa, por falta de recursos e investimentos em
capacidades, por modificações normativas no nível das burocracias e também via
modificação de instrumentos de políticas públicas — e a capacidade de reação
e resistência por parte das comunidades de políticas públicas e demais atores
interessados.

REFERÊNCIAS
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AVELAR, Lúcia. Participação política. In: AVELAR, Lucia; CINTRA, Antônio


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Fundação Konrad-Adenauer-Stiftung; São Paulo: Fundação Unesp, 2004.

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112
Capítulo 2 O SISTEMA ÚNICO DE ASSISTÊNCIA SOCIAL NO BRASIL

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Caráter Público da Política de Assistência Social. Ministério do Desenvolvimento
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as Leis nos 8.069, de 13 de julho de 1990 (Estatuto da Criança e do Adolescente);
7.560, de 19 de dezembro de 1986, 7.998, de 11 de janeiro de 1990, 5.537,
de 21 de novembro de 1968, 8.315, de 23 de dezembro de 1991, 8.706, de 14
de setembro de 1993, os Decretos-Leis nos 4.048, de 22 de janeiro de 1942,
8.621, de 10 de janeiro de 1946, e a Consolidação das Leis do Trabalho (CLT),
aprovada pelo Decreto-Lei no 5.452, de 1o de maio de 1943. 2012a. Disponível
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113
SiSTEmA ÚNiCo DE ASSiSTÊNCiA SoCiAL

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114
Capítulo 2 O SISTEMA ÚNICO DE ASSISTÊNCIA SOCIAL NO BRASIL

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Disponível em: http://portalsocial.sedsdh.pe.gov.br/sigas/Arquivos/capacitacao/
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115
SiSTEmA ÚNiCo DE ASSiSTÊNCiA SoCiAL

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democrática: análise dos setores saúde e assistência social em Ponta Grossa –
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Apolinário et al. Política Social, Família e Juventude: uma questão de direitos.
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Assistência Social: Serviço de Combate ao Abuso e Exploração Sexual –
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116
C APÍTULO 3
GESTÃO SOCIAL DO SISTEMA ÚNICO
DE ASSISTÊNCIA SOCIAL – NOVOS
DESAFIOS DA ATUAÇÃO DO SERVIÇO
SOCIAL

A partir da perspectiva do saber-fazer, são apresentados os seguintes


objetivos de aprendizagem:

• Compreender os impactos sociais e macroeconômicos das reformas do Estado


e os reflexos sobre as políticas públicas.
• Detalhar os processos de gestão pública nas políticas sociais.
• Apresentar as formas de atuação do Serviço Social na administração dos
programas e projetos sociais.
• Realizar um levantamento histórico dos debates teóricos e metodológicos na
avaliação da gestão social.
• Instrumentalizar os profissionais para realizar a avaliação das politicas,
programas e projetos.
• Apresentar os indicadores utilizados para o monitoramento e avaliações das
Políticas e Projetos Sociais.
• Apresentar os procedimentos sociais que derivaram a redução da função do
Estado na área das políticas sociais e quais as atribuições do Estado perante
as desigualdades sociais no Brasil.
• Avaliar as ações do Serviço Social nas demandas da gestão de programas e
projetos sociais.
• Minimizar o entendimento dos processos na demanda da gestão das políticas
sociais.
• Ofertar a capacidade do assistente social na atuação profissional e como gestor
das políticas sociais.
SiSTEmA ÚNiCo DE ASSiSTÊNCiA SoCiAL

118
GESTÃO SOCIAL DO SISTEMA ÚNICO DE ASSISTÊNCIA SOCIAL – NOVOS DESAFIOS
Capítulo 3
DA ATUAÇÃO DO SERVIÇO SOCIAL

1 CONTEXTUALIZAÇÃO
Este capítulo consiste em apresentar uma reflexão crítica das atuais
tendências da gestão social no âmbito das políticas sociais, levando em
consideração o despeito que houve com a dispersão e generalização, na década
de 1990, com o uso da expressão gestão social no país. Isso se deu através
de uma visão multidisciplinar, em que a expressão passou a ser mecanismo de
intervenção profissional do Serviço Social desde a gênese profissional durante
a década de 1930, porém com formas de abordagens diferentes e de projetos
societários contrários.

Sobre essa temática, Silva (2013, pp. 33-34) apresenta a seguinte


abordagem:

a) O conservadorismo católico sob a pretensa equidistância


entre o liberalismo e o socialismo.
b) A consolidação da sociedade burguesa em diferentes
estágios (o “espírito social” do empresariado das primeiras
décadas do século XX, o controle social do Estado, visa
o desenvolvimentismo, a modernização conservadora da
ditadura militar, a reforma e a contrarreforma da década de
1980, o projeto neoliberal).
c) E a perspectiva de questionamento e ruptura com os modos
dominantes de pensar a sociedade e suas influências na área
profissional, buscando alternativas no âmbito de um projeto
societário ancorado em valores democráticos de horizonte
socialista.

Para o Serviço Social um dos aspectos importantes e históricos a serem


considerados entre o período de 1930 e 1999 é a Reforma do Estado, sendo
considerado um marco nas mudanças que ocorreram nas políticas públicas
sociais.

Todas essas mudanças refletiram diretamente na relação entre o Estado e


a sociedade, na participação da população, nas relações internas de poder entre
as classes sociais, atingindo a ação do profissional nas suas atividades diárias
em sua atuação nas áreas sociais. Nesta unidade será apresentada a redução
da função do Estado diante das demandas sociais e quais são suas atribuições
perante as desigualdades sociais.

119
SiSTEmA ÚNiCo DE ASSiSTÊNCiA SoCiAL

2 OS IMPACTOS SOCIAIS NAS


POLÍTICAS PÚBLICAS DIANTE
DAS REFORMAS DO ESTADO
BRASILEIRO E A FUNÇÃO DO
SERVIÇO SOCIAL
Os antecedentes históricos que sustentavam a ideologia neoliberal e
sua erradicação no mundo, em especial na América Latina e no Brasil, são
fundamentados em um exemplo de desenvolvimento econômico, no qual
predomina o fortalecimento do mercado, através de um mercado livre e forte que
abandona a influência do estado na economia, fortalecendo no final da década de
70 um cenário de recessão da economia.

Neste cenário se apresentaram muitos elementos da Reforma do Estado, em


que esta precisava criar mecanismos e arranjos que conseguissem dar respostas
ao novo modelo econômico, através de ações eficientes, eficazes e efetivas.

O modelo neoliberal se fortaleceu mundialmente no governo de Margaret


Thatcher (1979 a 1990) na Inglaterra e de Ronald Reagn (1981 a 1989) nos EUA,
tendo uma maior adesão nos países que tinham seus fundamentos no modelo do
Estado do Bem-estar Social, Welfare State.

De acordo com Olivera (1998, p. 19-20), WelfareState

[...] pode ser sintetizado na sistematização de uma


esfera pública, onde a partir de regras universais e
pactuadas, o fundo público em suas diversas formas,
passou ao pressuposto do financiamento da acumulação
do capital, de um lado, e do outro, o financiamento da
reprodução da força de trabalho, atingindo globalmente
toda população por meio de gastos sociais.

A sugestão neoliberal trazia promessas de liberdade econômica como


também de prosperidade financeira, mesmo sendo contrárias às formas
nacionalistas e desenvolvimentista de governar.

120
GESTÃO SOCIAL DO SISTEMA ÚNICO DE ASSISTÊNCIA SOCIAL – NOVOS DESAFIOS
Capítulo 3
DA ATUAÇÃO DO SERVIÇO SOCIAL

No começo da década de 80, através da marca de instituições financeiras


como o Fundo Monetário Internacional – FMI e do Banco Mundial, os prazos de
pagamento das dívidas externas que foram contraídas devido à crise fiscal e
econômica acabaram sendo dilatados e os países da América Latina, no caso o
Brasil também, tiveram que se adequar ao novo modelo econômico que estava
sendo implementado.

A década 1970 marca o início do período do chamado “milagre


econômico brasileiro”. Empréstimos e investimentos estrangeiros
alavancam o processo de desenvolvimento.

Novos empregos e inflação baixa trazem euforia à classe média


e ao empresariado. Ao mesmo tempo, vive-se o auge da repressão,
com censura à imprensa e violência contra a oposição.

É o momento da linha-dura no poder, que tem no presidente


da República, Emílio Garrastazu Médici, seu grande representante.
Em seu governo, a inflação anual ficou abaixo dos 20 por cento e o
crescimento do PIB em 1970 foi de 10,4 por cento, chegando a 14
por cento em 1974.

A ênfase da presença do Estado na economia alinhava-se ao


projeto Brasil Potência, que o governo militar vislumbrava para o
país. Iniciativas econômicas grandiosas somadas a uma propaganda
competente culminaram no governo Medici com o chamado “Milagre
Econômico” (1968 a 1973). Seu principal artífice foi o economista
Antônio Delfim Netto, que já tinha sido ministro da Fazenda no
Governo Costa e Silva.

A crise internacional do petróleo, em 1973, levou a economia


mundial a uma retração. O Brasil não seguiu essa orientação, optou
por manter sua política de crescimento. O presidente Ernesto Geisel
também incentivou os megaprojetos, sobretudo no setor hidrelétrico.
Em 1975, assinou com a Alemanha um acordo nuclear de US$ 10
bilhões para instalar oito usinas atômicas no Brasil.

A iniciativa foi atacada pelo péssimo momento econômico


para o investimento e pela aquisição de uma tecnologia obsoleta e
defeituosa. Além disso, em nada interessava, externamente, que o
Brasil avançasse na área nuclear.

121
SiSTEmA ÚNiCo DE ASSiSTÊNCiA SoCiAL

A decadência do regime militar esteve associada à crise


econômica e à má administração dos governos Medici, Geisel e
Figueiredo. A oposição ao sistema criticava a intervenção e as
imposições ditadas pelo FMI. Depois disso, o alvo das oposições foi
o imperialismo norte-americano, representado pelo governo e pelo
empresariado.

As multinacionais eram acusadas de ser o escoadouro das


riquezas do Brasil. As auditorias do FMI nas contas do país eram
uma dura interferência na soberania nacional.

A transição para a democracia, com o governo José Sarney


(1985 a 1990), em um período de caos econômico, antes de mais
nada teve de recuperar a confiança nacional e internacional.

FONTE: Adaptado de <https://www.algosobre.com.br/historia/


milagre-economico-o.html>. Acesso em: 30 set. 2020.

O ano de 1989 foi marcado no Brasil como sendo um ano da retomada


de sonhos, em que poderia se construir um país democrático e com menos
desigualdades sociais, pois a ditadura tinha acabado fazia quatro anos, com o
término do último governo com um presidente general, este em seus discursos
dizia que preferia o cheiro de cavalo ao cheiro de gente.

O ano de 1989 foi um ano marcado mundialmente por diversos


acontecimentos que mudaram a conjuntura da época e que refletem até hoje, tais
como:

• Queda do Muro de Berlim.


• Morte de três mil pessoas na Praça Celestial da Paz, em Pequim.
• Prêmio Nobel da Paz concebido ao Dalai Lama.

No início da década de 1990, o Brasil enfrentava alguns desafios e


contradições que estavam centralizadas em um modelo de regime a alta inflação
e de incertezas referentes às condutas políticas diante do modelo econômico.
Neste sentido buscou-se uma maneira de igualar a situação econômica,
consequentemente, abriu-se espaço para um novo modelo de acumulação de
capital, a financeira. Perante esta conjuntura, o país passa a ser envolvido em
uma nova etapa do capitalismo mundial.

122
GESTÃO SOCIAL DO SISTEMA ÚNICO DE ASSISTÊNCIA SOCIAL – NOVOS DESAFIOS
Capítulo 3
DA ATUAÇÃO DO SERVIÇO SOCIAL

Diante das novas formas e concepções de como gerenciar um Estado


e qual é seu papel diante dessa nova realidade que foi imposta, a percepção
de mundo vencedora derrubou as antigas bases políticas que compõem as
áreas governamentais. Mediante um novo paradigma econômico, esse modelo
neoliberal se infiltrou com intensidade em todas as áreas das políticas e gerências
públicas, em que foi possível apenas se adaptar à nova realidade.

Através do reflexo das reformas que foram aplicadas ao setor econômico,


será fundamentado como e quais foram as razões para a ideologia neoliberal se
instalar no Brasil e na América Latina, ressaltando suas implicações diante das
políticas sociais nos governos dos anos de 1990, enfatizando os mandatos de
Fernando Henrique Cardoso.

O objetivo deste tópico é apresentar a conformação do Neoliberalismo com


a Reforma do Estado, enfatizando a participação dos segmentos não públicos nas
demandas sociais.

De acordo com Armando Boito Jr, “a pobreza não é um dado


natural com o qual se deparam os governos neoliberais; ela é
produzida pela própria política econômica neoliberal, que reduz o
emprego e os salários e reconcentra a renda” (BOITO JR, 2003, p. 77).

A América Latina foi considera a terceira civilização a ser cenário das


experiências neoliberais. Para adaptar a ideologia na América Latina, alguns
ideólogos defendem que o modelo de governo utilizado é de ideologias
nacionalistas e desenvolvimentistas.

Mesmo após ocorrer um imenso processo de privatização em massa, em


especial nos países europeus, o continente latino-americano foi o primeiro a
experimentar o modelo neoliberal sistemático do mundo. O Chile, apesar dos
governos ditatoriais de Pinochet, foi o primeiro país a aderir, de maneira rigorosa,
ao neoliberalismo.

A entrada do modelo neoliberal nos países desse continente aconteceu


através da renegociação das dívidas externas, pois eles foram obrigados a colocar
em prática um ajuste fiscal a fim de quitar as dívidas com os países credores,
portanto ocorreu uma grande adesão financeira para os países que aderiram a
esse modelo.

123
SiSTEmA ÚNiCo DE ASSiSTÊNCiA SoCiAL

As instituições financeiras multilaterais como FMI (Fundo


Monetário Internacional) e os Bancos Mundiais tiveram um
papel importante nessa conjuntura, pois colocaram à disposição
empréstimos como um prazo maior para o pagamento das dívidas e
os países acabaram cedendo as prescrições.

No Brasil as políticas neoliberais foram implantadas a partir do


governo Collor e o Plano Real foi constituído no governo de Itamar
Franco, no qual suas metas e diretrizes foram impostas ao Estado.

De acordo com Fiori (1997, p. 14):

FHC é que foi concebido para viabilizar no Brasil


a coalizão de poder capaz de dar sustentação e
permanência ao programa de estabilização do FMI, e
viabilidade política ao que falta ser feito das reformas
preconizadas pelo Banco Mundial.

O modelo neoliberal e sua lógica foram aderidos no Brasil de maneira mais


retardatária. A partir desse chamado “atraso”, consegue-se apresentar um fator de
grande importância na maneira de adiar a chegada do modelo neoliberal no país.

Para Figueiras (2000), o aumento da frente política de oposição ao regime


militar no momento final da crise desse regime, dos acordos para a eleição direta de
Tancredo Neves e José Sarney, estreitou as probabilidades da política econômica.
Do mesmo modo a crescente mobilização social durante os anos 70 e 80 através da
representação no Novo Sindicalismo, no Movimento dos Sem Terra e, em seguida,
no Partido dos Trabalhadores, que fizeram oposição para que o projeto neoliberal
não fosse implementado Brasil, como foi na Argentina e no Chile, diminuiu as
chances da política econômica.

No ano de 1989, o povo brasileiro, após muitos anos, voltou às urnas para
eleger, por meio do voto direto, o presidente e o vice-presidente da República.

124
GESTÃO SOCIAL DO SISTEMA ÚNICO DE ASSISTÊNCIA SOCIAL – NOVOS DESAFIOS
Capítulo 3
DA ATUAÇÃO DO SERVIÇO SOCIAL

No período da eleição, o povo brasileiro estava com um sentimento de


frustação em relação ao governo Sarney, pois ele havia fracassado nas suas
promessas repetidamente proclamadas, como: o controle da inflação, a retomada
do crescimento econômico, a distribuição de renda e a resolução da dívida externa.

Através de uma disputa bem acirrada, o candidato pelo Partido de Renovação


Nacional (PRN), Fernando Collor de Mello, o qual era desconhecido, teve sua
imagem construída pelas grandes mídias, recebeu apoio eleitor delas e infiltrou-se
em todos os setores mais elevados do capitalismo no país.

Para Brum (2002), o fracasso do plano econômico Brasil Novo 2 (Plano Collor)
foi a derrota da mudança econômica, que era fundamentada no pensamento
neoliberal e tinha como foco uma reorganização do desenvolvimento e do
crescimento do Brasil, como também uma redefinição do papel do Estado. Ou seja,
tratava-se de pensamentos e ideias divulgadas por grande parte dos políticos e da
burguesia, em relação às necessidades do país com um “choque de capitalismo”.

O Plano Collor foi caracterizado por ser um programa de estabilização


articulado a um projeto de mudanças estruturais de longo prazo.

Como seu plano econômico não teve o desempenho esperado, no qual a alta
inflação foi mantida, Collor teve seu nome ligado a um processo de corrupção, que
o levou a ser retirado do cargo de presidente e, consequentemente, postergando
a impetração do modelo neoliberal no país. Com o processo de impeachment
concluído, seu vice-presidente, Itamar Franco, assumiu a presidência do país.

Itamar Franco tinha como orientação resgatar a ética na política e preparar


o país para um novo plano econômico de estabilização. À frente desse projeto
estava um grupo de economistas, que foram comandados na época pelo Ministro
da Fazenda, Fernando Henrique Cardoso.

Qual era a ideia?

Fernando Henrique Cardoso tinha como fundamentação a tese de uma


“liberalização” dos cadeados corporativos que impediam o nascimento de um
segmento de empresários mais dinâmicos. E o sucesso da sua estratégica
econômica, o Plano Real, o fez vencer as eleições em 1994, dando andamento
aos seus projetos.
125
SiSTEmA ÚNiCo DE ASSiSTÊNCiA SoCiAL

O Plano Real contava com uma série de medidas que objetivavam a


estabilização monetária e o fim de um regime de hiperinflação. O foco desse
plano era o ajustamento das economias periféricas, que estavam sobre chancelas
de órgãos internacionais como o FMI e Banco Mundial (FIORI,1997).

A estratégia adota por Fernando Henrique Cardoso tinha como objetivos: o


combate à inflação, por meio da dolarização da economia e juntamente com a
valorização das moedas nacionais, considerando uma evidência na necessidade
de um ajuste fiscal; a reforma do Estado, na qual continha as privatizações
e a reforma administrativa, visando à desregulamentação dos mercados e
liberalização comercial e financeira.

Socialismo e neoliberalismo são, sem dúvida, duas das


maiores questões da nossa época. No livro intitulado Crise do
socialismo e ofensiva neoliberal, os temas são tratados sob uma
perspectiva fortemente crítica. A crise do socialismo é abordada
não como signo do ‘fim da história’, mas como esgotamento de
um padrão da transição social que se revelou incapaz de realizar
a dupla socialização que compete ao período pós-revolucionário: a
socialização do poder político e a socialização da economia. Já a
ofensiva neoliberal é enfocada como expressão da incompatibilidade
entre o capitalismo contemporâneo e as instituições democráticas.
Uma tese fundamental articula os dois ensaios deste livro: enquanto
a sociedade estiver subordinada ao capital, a história continuará
mobilizada pelas lutas dos trabalhadores na direção de uma ordem
societária sem exploração, sem opressão e sem alienações

FIGURA – CAPA DO LIVRO CRISE DO SOCIALISMO E OFENSIVA NEOLIBERAL

FONTE: <https://images-na.ssl-images-amazon.com/images/I/41M25N81-
+L._SX334_BO1,204,203,200_.jpg>. Acesso em: 12 jan. 2021.

126
GESTÃO SOCIAL DO SISTEMA ÚNICO DE ASSISTÊNCIA SOCIAL – NOVOS DESAFIOS
Capítulo 3
DA ATUAÇÃO DO SERVIÇO SOCIAL

A reforma do Estado é um tema que vem sendo discutido nas agendas


políticas internacionais desde as primeiras décadas dos anos 80. A reformulação
do aparelho estatal se tornou uma demanda quase que universal, como resposta
à crise econômica que neutralizou economicamente e politicamente os países nas
últimas décadas do século XX.

Diante dessa conjuntura, formou-se um paradigma de reforma do Estado, no


qual o Brasil foi marcado por quatro grandes problemas diante desse processo de
reformulação do Estado brasileiro. Veja a seguir quais são eles.

Um problema econômico-político – a delimitação do


tamanho do Estado; um outro também econômico-
político, mas que merece tratamento especial – a
redefinição do papel regulador do Estado; um
econômico-administrativo – a recuperação da
governança ou capacidade financeira e administrativa
de implementar as decisões políticas tomadas pelo
governo; e um político – o aumento da governabilidade
ou capacidade política do governo de intermediar
interesses, garantir legitimidade, e governar (BRESSER
PEIRERA, 1998, pp. 49-50).

As reformas do Estado no país iniciaram de forma tímida no governo do


ex-presidente Fernando Collor de Mello, incialmente começaram com algumas
privatizações e muita discussão sobre os serviços públicos, que era considerado
um dos principais problemas do Estado, diante dessas novas medidas.

Porém, foi no governo de Fernando Henrique Cardoso que a Reforma do


Estado teve ênfase como uma condição para o capital voltar ao crescimento
econômico e dar continuidade na estabilização da economia brasileira.

Foi constituído o Ministério da Administração e Reforma do Estado (MARE)


e era encabeçado por Luís Carlos Bresser Pereira, sendo este o administrador de
todo o processo de reformulação do Estado brasileiro.

Como uma das partes indispensáveis do processo que visava criar um novo
modelo econômico baseado nos princípios neoliberais e que foram estimulados, a
partir do Consenso de Washington, a reforma do Estado foi efetuada. De acordo
com seus idealizadores, seria uma alternativa para potencializar e liberar a
economia para uma nova fase de crescimento.

127
SiSTEmA ÚNiCo DE ASSiSTÊNCiA SoCiAL

O Consenso de Washington trata-se de uma reunião sem caráter deliberativo,


que aconteceu em 1989, entre acadêmicos e políticos norte-americanos e
latino-americanos com o objetivo de apresentar soluções que findassem com a
estagnação soberana por mais de vinte anos na América Latina.

Mesmo de formas diferentes, o alcance que houve em cada país e que


estava condicionado às relações centro/periferia de suas cidades passou por
duas etapas. Na primeira etapa ocorreu a retomada ofensiva do neoliberalismo
que se estendeu até 1990.

Para Silva (2003, p. 12), “O Estado foi fortemente criticado pelo


seu caráter intervencionista, exigindo-se a redução do seu “tamanho”
como uma condição ao livre funcionamento do mercado”.

Silva (2003) afirma que a disputa ficou sobre a distinção exclusiva e não
exclusiva do Estado. A primeira solução que foi efetivada pelo governo federal
foi a racionalização dos recursos fiscais, por meio da abertura de mercados,
das privatizações de empresas estatais. A segunda etapa foi marcada por uma
provável alternativa ao fracasso das políticas neoliberais, considerando uma
transformação parcial diante da situação socioeconômica.

Na segunda etapa houve outros objetivos, como a eficiência


dos serviços públicos a ser alcançada através da otimização dos
recursos humanos e financeiros, efetividade de democratização
(SOUZA; CARVALHO, 1999).

Com o grande aumento da carestia oriundo de décadas e do desempenho


pouco valorizado do social e do econômico; e com a orientação das políticas
neoliberais de cortar investimentos com gastos públicos em determinadas políticas
sociais, o problema da pobreza no Brasil agravou-se mais ainda.

128
GESTÃO SOCIAL DO SISTEMA ÚNICO DE ASSISTÊNCIA SOCIAL – NOVOS DESAFIOS
Capítulo 3
DA ATUAÇÃO DO SERVIÇO SOCIAL

Nesse sentido, foi chamada a atenção para a promoção das políticas sociais,
em destaque para o problema do desemprego, da pobreza e para a necessidade
emergente de regulamentar o movimento do capital no país, em que alguns
projetos de enfrentamento a essas demandas foram criados.

Um exemplo que pode ser estudado nesse contexto, entre política, programa
e projetos, é o Projeto Programa Fome Zero, uma proposta de Política de
Segurança Alimentar para o país, para enfrentar a fome através de caminhos
considerados analíticos e com ângulos diferentes em suas análises, ou seja,
caminhos diversos e com diferentes visões.

Esse projeto pode ser considerado um através de três aspectos: o significado


político face à questão social brasileira; a gestão e as polêmicas de ordem técnica
e política e a lógica que o preside em tempos de neoliberalismo.

O Programa Fome Zero foi apresentado como uma proposta de Programa


de todo o Governo Federal e envolvia em suas ações estratégicas todos os
Ministérios, sendo que na época foi estruturado o Ministério Extraordinário de
Segurança Alimentar e Combate à Fome (MESA) e o Conselho Nacional de
Segurança Alimentar e Nutricional (CONSEA) para propor políticas e combate
à fome. A proposta política do Programa Fome Zero era alinhar as políticas
específicas e locais, com uma grande visibilidade pública efetiva.

Para saber mais sobre o Programa Fome Zero,


acesse o site: <https://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0104-
12902003000100007&script=sci_arttext&tlng=pt>. Acesso em: 30
set. 2020.

Porém esses enfretamentos não significaram uma crítica às ideias das


políticas neoliberais, mas ao contrário, avaliou-se que foram insuficientes para
realizar um novo ciclo de desenvolvimento socioeconômico no Brasil, sendo
necessário melhorá-las.

Diante dos ideários neoliberais, outro processo foi delimitado perante a


atuação do Estado, que foi a terceirização dos setores governamentais para o
setor privado, por meio de licitação pública e de contratos de serviços de apoio.
Um exemplo é a terceirização da merenda escolar em diversos municípios
brasileiros, que antes era oferecida pelo poder público e passou a ser fornecida
pela iniciativa privada.
129
SiSTEmA ÚNiCo DE ASSiSTÊNCiA SoCiAL

Foi através do Programa Nacional de Publicização (PNP) que


o governo federal passou para “o setor público não estatal”, terceiro
setor, a produção e o gerenciamento de serviços considerados
competitivos ou exclusivos do Estado, estabelecendo-se um sistema
de parceria entre Estado e sociedade para seu financiamento e
controle (BRASIL, 1995). Essa terceirização abrangeu também
outras demandas como os serviços de saúde (SILVA, 2003).

A Reforma do Estado que ocorreu no governo de FHC acabou manifestando


medidas legislativas, regulatórias e ações governamentais para um novo
redirecionamento estratégico da função do Estado.

O Estado deveria passar de impulsionador do desenvolvimento para


impulsionador da competitividade da economia.

Porém o que aconteceu foi a transferência do patrimônio público para


o mercado privado, mudando toda relação do Estado com o setor privado e a
sociedade, o Estado passou a ser um mecanismo complementar ao mercado
privado.

É importante ressaltar um aspecto essencial nesse contexto que é a


política social, pois é considerada uma dimensão fundamental da efetivação da
democracia nas sociedades modernas e pelo seu conceito estar interligado aos
valores de equidades sociais.

No meio institucional, as políticas sociais fazem parte de


um sistema de ação com uma dimensão muito complexa, que é o
resultado de muitas causalidades e diferentes atores e áreas da ação
social e pública, como: proteção contra riscos, combate à miséria,
desenvolvimento de capacidades que possibilitem a superação das
desigualdades e o exercício pleno da cidadania (IVO, 2004).

130
GESTÃO SOCIAL DO SISTEMA ÚNICO DE ASSISTÊNCIA SOCIAL – NOVOS DESAFIOS
Capítulo 3
DA ATUAÇÃO DO SERVIÇO SOCIAL

Considerando assim as políticas sociais como mecanismos e instrumentos


institucionais fomentados para garantir a cada pessoa condições materiais de vida
que consintam ao cidadão exercer seus diretos sociais e civis com toda dignidade
de um ser humano.

No Brasil, as políticas sociais começaram a se devolver a partir do século XX,


durante um longo período de 80 anos, como um modelo de proteção social que foi
modificado somente com a Constituição Federal de 1988.

Para Fleury e Fleury (2004), o modelo do sistema de proteção


social brasileiro, que era vigente até o final da década de 80, parecia
com um modelo de seguro social na área de previdência, incluindo a
atenção à saúde, como um modelo assistencial para população que
não tinha vínculos trabalhistas formais.

A Constituição Federal de 1988 é considerada um marco institucional


relevante por apresentar um novo modelo de seguridade social.

Esse modelo de seguridade social procurou romper com as noções de


cobertura restrita a setores que estão inseridos no mercado formal e diminuir
os vínculos entre contribuições e benefícios, gerando instrumentos mais
redistributivos e solidários entre contribuintes.

Os benefícios passaram a ser vistos a partir da ótica das


necessidades, com fundamento nos princípios da justiça social,
o que tornou compulsória a extensão da cobertura da população
(FALEIROS, 2004).

Esse modelo estruturou a organização e o formato da proteção social no


Brasil em busca da universalização e da consagração dos direitos sociais.

131
SiSTEmA ÚNiCo DE ASSiSTÊNCiA SoCiAL

Segundo Fleury e Fleury (2004, p. 113),

A inclusão da previdência, da saúde e da assistência


no âmbito da seguridade social introduziu a noção de
direitos sociais universais como parte da condição
de cidadania. Antes, esses direitos eram restritos à
população beneficiária da previdência.

Dessa maneira, esse novo padrão constitucional de política social diferenciou-


se pela universalização da cobertura e sobretudo pelo reconhecimento dos
direitos sociais, afirmação do Estado perante as políticas sociais, submissão das
ações privadas à regulação do estatal diante da função de grande importância
pública das ações e serviços prestados nessas áreas.

O novo modelo de seguridade social estava submisso a dois outros


componentes essenciais: a participação da sociedade e a descentralização
político-administrativa.

Para a cientista política Sonia Draibe (2003), mesmo acontecendo o


fortalecimento de algumas áreas das políticas públicas, como a saúde e a
assistência social, o modelo do sistema de proteção que se aquiesceu no período
posterior teve as mesmas características de momentos anteriores, sendo assim,
o mesmo modelo de sistema historicamente constituído desde à década de 30,
através de uma base com conceitos categorial e meritocrático.

Draibe (2003) afirma ainda que essa medida foi uma forma retórica dos
ideólogos neoliberalista, quando assumiram o poder presencial na metade
da década de 90, de disseminar a ideia que o modelo estatal era ineficiente e
necessitava de algumas reformas que colocassem o país na rota do crescimento
econômico e diminuiria as desigualdades sociais existentes no Brasil.

O assessor da área social, Sérgio Tiezzi, do governo de Fernando Henrique,


descreve a medida acima como:

O sistema de proteção social consolidado ao longo do


tempo acabou se caracterizando por um esforço de
gasto relativamente elevado (cerca de 18% do PIB),

132
GESTÃO SOCIAL DO SISTEMA ÚNICO DE ASSISTÊNCIA SOCIAL – NOVOS DESAFIOS
Capítulo 3
DA ATUAÇÃO DO SERVIÇO SOCIAL

grande centralização administrativa, escasso controle


democrático, grandes ineficiências operacionais e
por uma estrutura de benefícios com baixo conteúdo
distributivo. (...) Neste sentido, era absolutamente
indispensável assegurar as condições de estabilidade
macroeconômica, realizar a reforma do Estado (TIEZZI,
2004, pp. 49-50).

Porém, a correlação de forças políticas que na época favoreceram a


promulgação da Constituição de 1988 era outra. As ideias neoliberais, vindas do
grupo conservador que apoiavam a candidatura de Fernando Collor de Mello,
ganharam força e espaço no contexto político e econômico, minando dessa forma
os avanços sociais que estavam propostos pela Constituição.

Um exemplo a ser citado é o da Seguridade Social, pois foi um dos alvos


privilegiados dessa ofensiva conservadora. Ao mesmo tempo que no país
instituíam-se mecanismos políticos e democráticos de regulação do modelo
capitalista, no campo político e econômico, em todo mundo estes mecanismos
estavam perdendo sua validade e estavam prestes a serem trocados pela
ideologia neoliberal, visando a desregulação, a flexibilização e a privatização,
sendo esses objetos essências para a globalização do capital.

O início do ano de 1995 foi marcado por um governo controlado pelo grupo
de centro direita e, consequentemente, a reforma do sistema de proteção social
passou a ser discutida novamente.

Para Draibe (2003), mesmo em outro ambiente intelectual


e valorativo e diante das restrições fiscais que estavam junto com
o programa de estabilização e as reformas pró-mercado, um novo
ciclo de transformações chegou para mudar a fisionomia do sistema
brasileiro.

133
SiSTEmA ÚNiCo DE ASSiSTÊNCiA SoCiAL

A estratégia de desenvolvimento social do Executivo Federal que foi apontado


em 1996 visava a mudanças que estavam estruturadas em três eixos centrais:

O reforço dos serviços básicos de caráter universal; a ênfase


nos programas de trabalho, emprego e renda; o destaque a
programas prioritários, voltados para o combate à pobreza,
porém concebidos com a mescla entre políticas universais e
políticas focalizadas (DRAIBE, 2003; TIEZZI, 2004).

Essas definições apresentadas pelos autores citados acima foram realizadas


por meio da classificação das dificuldades sociais que existiam na época. Um
aspecto decisivo para a efetivação da estabilização da economia e da Reforma
do Estado acabou envolvido como sendo a reforma administrativa, fiscal e da
previdência, sem esquecer os serviços básicos universais, sendo eles: educação,
saúde, previdência social e assistência social.

O foco dessa reestruturação e a reforma de todas essas


políticas públicas necessitavam da extinção de desperdícios, do
aumento das eficiências delas, de promover a descentralização e
a universalização, sempre que necessário e quando fosse legítima,
focando na melhoria da qualidade e na reestruturação dos benefícios
e dos serviços para gerar um aumento do impacto redistributivo. Por
fim, os programas de curto prazo, que são considerados as ações e
os programas relevantes para afrontar os assuntos mais dramáticos,
como a redução da mortalidade infantil (TIEZZI, 2004).

Neste sentido, Boito Jr (1999) percebe que as políticas públicas de cunho


sociais acabaram sendo permeadas pela falta de recursos, pela descentralização
participativa e pela focalização dos serviços públicos. Como também a
terceirização dos serviços públicos para o setor privado.

Essas ideias foram oriundas e levadas pelas agências internacionais, como o


Banco Mundial e o FMI, as quais poderiam fazer das políticas social neoliberal um
mecanismo para o fortalecimento e erradicação da pobreza em toda a América
Latina, pois as fundamentações são decorrentes do neoliberalismo.

Durante o governo de FHC, pontuar as políticas públicas sociais na visão


neoliberal era questionar qual amplitude desses setores e a responsabilidade do
Estado nas áreas sociais.
134
GESTÃO SOCIAL DO SISTEMA ÚNICO DE ASSISTÊNCIA SOCIAL – NOVOS DESAFIOS
Capítulo 3
DA ATUAÇÃO DO SERVIÇO SOCIAL

Com o processo de terceirização dos serviços que o governo FHC via como
fundamental, o aspecto competitivo no setor social, essas políticas públicas
acabaram sendo vistas como mercadoria.

O caráter de direito social fica confuso neste processo, pois estava disponível
somente para quem possuísse condições e recursos econômicos e financeiros para
adquiri-los. Com as políticas sociais sendo focalizadas, através do racionamento
dos custos e dos gastos, com a redução da responsabilidade do Estado como
provedor dos direitos sociais para a população, as políticas neoliberais foram
o resultado da negação de uma política social inclusiva, resultando em uma
população miserável e dependente cada vez mais das políticas sociais que não
atendiam às demandas necessárias.

O Brasil como toda a América Latina, durante a década de 90, aderiu aos
programas compensatórios, como solução para as vulnerabilidades sociais
decorrentes do modelo capitalista e do modo de produção. Neste período esses
programas sociais compensatórios eram deliberados através de critérios políticos
e partidários, por meio das emendas parlamentares, de transferência de recursos
financeiros para o estado e municípios, resultando em ações pontuais.

Com a transferência gradual das execuções das políticas públicas federais


para os estados e municipais, começaram a aparecer pilares que deram
sustentabilidade a essa nova forma descentralizada de governar, com aspectos
legais, disposições institucionais e mecanismo e instrumentos de gestão.

Como aspectos legais podemos citar as leis complementares que instituem e


regulamentam as políticas públicas e as suas descentralizações, sendo algumas
delas as seguintes: a Lei nº 8080/90 que institui o Sistema Único de Saúde (SUS),
a Lei nº 8.742/93, que foi alterada pela Lei nº 12435/11, ou a Lei Orgânica da
Assistência Social (LOAS), que instituem o Sistema Único de Assistência Social,
e também da Lei nº 9.394/96, Lei de Diretrizes de Base (LDB). Fora a importância
dessas leis, é preciso considerar as resoluções dos Conselhos das respectivas
áreas, as Portarias e as Normas Operacionais.

No que se refere à Assistência Social, a sua consolidação enquanto política


pública na Constituição Federal de 1988, a Constituição Cidadã, assim conhecida,
foi o resultado da organização e da luta dos movimentos sociais e das categorias
dos profissionais organizados.

135
SiSTEmA ÚNiCo DE ASSiSTÊNCiA SoCiAL

O artigo 203 da Constituição Cidadão refere-se à Assistência


Social:

ART. 203. A assistência social será prestada a quem dela


necessitar, independentemente de contribuição à seguridade social,
e tem por objetivos:

I - A proteção à família, à maternidade, à infância, à adolescência


e à velhice.

II - O amparo às crianças e aos adolescentes carentes.

III - A promoção da integração ao mercado de trabalho.

IV - A habilitação e reabilitação das pessoas portadoras de


deficiência e a promoção de sua integração à vida comunitária.

V - A garantia de um salário mínimo de benefício mensal à


pessoa portadora de deficiência e ao idoso que comprovem não
possuir meios de prover a sua própria manutenção ou de tê-la
provida por sua família, conforme dispuser a lei.

Art. 204. As ações governamentais na área da assistência social


serão realizadas com recursos do orçamento da seguridade social,
previstos no art. 195, além de outras fontes, e organizadas com base
nas seguintes diretrizes:

I - Descentralização político-administrativa, cabendo a


coordenação e as normas gerais à esfera federal e a coordenação
e a execução dos respectivos programas às esferas estadual e
municipal, bem como a entidades beneficentes e de assistência
social.

II - Participação da população, por meio de organizações


representativas, na formulação das políticas e no controle das ações
em todos os níveis.

136
GESTÃO SOCIAL DO SISTEMA ÚNICO DE ASSISTÊNCIA SOCIAL – NOVOS DESAFIOS
Capítulo 3
DA ATUAÇÃO DO SERVIÇO SOCIAL

Na LOAS está evidenciado nos seus artigos a fundamentação de organização


das ações socioassistenciais em um Sistema Único de Assistência Social (SUAS),
sendo este cofinanciado e executado por todos os entes federados. Esse processo
deu início a uma intensa regulamentação dos instrumentos e até mesmos dos
conceitos de gestão da Assistência Social de forma universal.

1 As ideias neoliberais estão fundamentadas em um modelo de


desenvolvimento socioeconômico baseado no fortalecimento do
mercado e no que ele gera, ou seja, a lei de oferta e procura. Há
necessidade de um mercado livre e forte, não sendo necessária
a intervenção do Estado para o crescimento econômico. Perante
este fundamento, descreva como que esse modelo interferiu na
efetivação das políticas sociais.

2 No início dos anos 80, por meio das instituições financeiras


mundiais, todos os prazos de pagamento das dívidas externas
foram obtidos diante da crise fiscal e econômica, sendo essas
dilatadas. Todos os países, especialmente os da América Latina,
passaram por um processo de adaptação do novo modelo
econômico que estava sendo implementado mundialmente.
Analise as questões a seguir e assinale a alternativa correta, que
corresponde ao nome desse novo modelo econômico.

a) ( ) Social democrático.
b) ( ) Neoliberalismo.
c) ( ) Liberalismo.
d) ( ) Militarismo.

137
SiSTEmA ÚNiCo DE ASSiSTÊNCiA SoCiAL

3 O SERVIÇO SOCIAL COMO


MECANISMO DE GESTÃO NOS
PROCESSOS E METODOLOGIAS DE
GERENCIAMENTO DAS POLÍTICAS
DE ASSISTÊNCIA SOCIAL NÍVEIS DE
GESTÃO E PROTEÇÃO SOCIAL NO
SUAS
O Serviço Social, na sua trajetória histórica como profissão, dedica-se à
implementação das políticas públicas sociais em todas as esferas governamentais,
resultando assim em uma relação entre o Estado e suas demandas sociais.

Desde o surgimento da profissão, o Serviço Social se fez presente na


maioria das áreas em que possuía intervenção do Estado, sendo mediador e
executor das políticas sociais, que são desenvolvidas e implementadas visando o
enfrentamento e o controle das desigualdades sociais no Brasil.

O assistente social, como profissional, em âmbito governamental, sempre


interviu nas demandas sociais em diferentes áreas do poder público, como nas
políticas sociais de saúde, de assistência social, educação, habitação e outras.

O Estado brasileiro, no que se refere ao enfrentamento das desigualdades


sociais sempre legitimou às instituições, as políticas sociais e profissionais,
dentre eles os assistentes sociais, sendo reconhecido como profissional que está
apto para intervir nas demandas sociais e na atuação da gestão de tais políticas
públicas citadas anteriormente, isso ocorre em todos os níveis governamentais.

Neste sentido, o Estado é o maior empregador de profissionais do Serviço


Social, constituindo-se um espaço privilegiado de contratação de assistentes
sociais. De acordo com Iamamoto (1999, p. 119):

O setor público tem sido o maior empregador de assistentes


sociais, sendo a administração direta a que mais emprega,
especialmente na esfera estadual, seguida da municipal.
Constata-se uma clara tendência à municipalização da
demanda, o que coloca a necessidade de maior atenção à
questão regional e ao poder local.

138
GESTÃO SOCIAL DO SISTEMA ÚNICO DE ASSISTÊNCIA SOCIAL – NOVOS DESAFIOS
Capítulo 3
DA ATUAÇÃO DO SERVIÇO SOCIAL

As demandas se interiorizam nos municípios, pois esses são os


implementadores das políticas públicas sociais e, como isso, os governos
municipais contratam mais assistentes sociais para realizar a implementação da
gestão dos programas e projetos sociais relacionados a essas políticas.

Conforme a Constituição Federal de 88, a descentralização política-


administrativa das políticas públicos, para âmbito municipal, define uma nova
dimensão de ações profissionais para o assistente social. Com o aumento
considerado dos espaços sócio-ocupacionais, decorrentes da responsabilização
que os municípios têm no que diz respeito aos provimentos dos serviços
prestados aos usuários de tais políticas sociais, os assistentes sociais acabam
desenvolvendo uma função fundamental na implantação, no desenvolvimento, na
operacionalização e na gestão das políticas públicas sociais.

A atuação do assistente social mediante a gestão das políticas públicas


sociais vem se destacando cada vez mais na implantação das políticas públicas
sociais. Porém, a complexidade das demandas estatal requer um profissional de
serviço social, que tenha uma atuação a mais do que só a execução dos programas
e projetos alocados nos serviços públicos, que atuem juntamente na formulação,
no planejamento, na avaliação e, em especial, na gestão dos programas, dos
projetos e dos serviços sociais ofertados para a população usuária.

Para o autor Lewgoy (2010, p. 198), o momento atual necessita


de um profissional que:

[...] saiba planejar, avaliar, implantar e executar os


serviços incutidos nas políticas sociais. Que também
se evidencie na esfera dos planos, programas e
projetos sociais e na prestação de serviços no âmbito
de benefícios e serviços sociais, nas habilidades de
elaborar, implementar, organizar, administrar, pesquisar,
encaminhar, coordenar e assessorar.

O desenvolvimento de competências técnicas e habilidades gerenciais


voltadas à realização do trabalho profissional na esfera da gestão pública das
políticas sociais contribuem para a substituição do agente subalterno e executivo
por um profissional competente e qualificado para as novas funções requisitadas
ao assistente social.

139
SiSTEmA ÚNiCo DE ASSiSTÊNCiA SoCiAL

Neste sentido, as novas competências técnicas e habilidades gerencias


focadas na efetivação da atuação profissional no contexto da gestão das políticas
sociais cooperam para a requisição de um profissional qualificado e competente,
para atender a essas novas ações e funções que são solicitadas ao serviço social.

Essas novas modificações nas funções do assistente social são consequência


das novas formas de agir que requerem dos profissionais do serviço social novas
configurações de concretizar sua atuação profissional.

Ponderando a afinidade constituída mediante as transformações contextuais


analisadas no modelo de organização dos mecanismos de produção e de
reprodução da vida social e material e nas áreas que acontecem a inserção da
atuação do assistente social, vai requerer e exigir um profissional que esteja
articulado com as formas de organização e gestão do trabalho que estão surgindo
para a profissão.

Diante das transformações analisadas anteriormente e com o crescimento


efetivo dos espaços sócio-ocupacionais que estão surgindo dentro do Estado,
que necessita da atuação profissional do assistente social no que se refere à
gestão das políticas sociais, os profissionais enfrentam desafios que estão sendo
propostos para a Reforma do Estado.

Com todas essas transformações que vem acontecendo na sociedade


brasileira e na máquina e/ou aparelho estatal, requer-se que o profissional não
seja apenas executor final das políticas públicas sociais e sim:

É necessário ser um profissional qualificado na execução,


gestão e formulação de políticas sociais públicas, com uma
postura crítica e, ao mesmo tempo, criativa e propositiva, ou seja,
um profissional que possa responder com ações qualificadas
que detectem tendências e possibilidades impulsionadoras de
novas ações, projetos e funções, rompendo com atividades
rotineiras e burocráticas (SARMENTO, 1999, p. 100).

Com isso, para a efetivação do trabalho do assistente social no quesito


da gestão pública, é fundamental que o profissional tenha como base de ação
um planejamento organizado com as diretrizes das políticas sociais e esteja
fundamentado com um conhecimento teórico-prático, que seja amplo e crítico
sobre a gestão do seu trabalho como profissional nas políticas sociais. Dessa
forma contribui para direcionar a atuação profissional, muito além das ações de
execução final das políticas públicas sociais.

Os assistentes sociais, que atuam nas políticas sociais, deverão transcorrer


a inquietação dessas novas configurações de trabalho e das probabilidades que
a gestão oferece, superando as práticas conservadoras e minimalistas que até
então eram instrumentos de ação profissional.
140
GESTÃO SOCIAL DO SISTEMA ÚNICO DE ASSISTÊNCIA SOCIAL – NOVOS DESAFIOS
Capítulo 3
DA ATUAÇÃO DO SERVIÇO SOCIAL

Segundo Sarmento (1999, p. 100), as novas configurações de


gestão que são verificadas no campo das políticas sociais:

Vem exigindo um nível de conhecimento técnico


bem mais amplo, tanto para a compreensão crítica
das condições políticas em que estas exigências
são colocadas, principalmente no que se refere ao
desmonte das políticas sociais por parte do Estado –
como da fragilização dos direitos sociais.

Este processo de assimilação de novos conhecimentos sobre os


contextos de gestão requer conhecimento e capacidade técnica do
profissional de serviço social para realizar as atividades gerenciais
que foram propostas no seu campo de trabalho, devendo sempre
considerar a conjuntura real que cerca a realização das suas ações
diárias como assistente social.

Os (as) assistentes sociais trabalham com as mais diversas


expressões da questão social, esclarecendo à população seus
direitos sociais e os meios de ter acesso a eles.

O significado desse trabalho muda radicalmente ao voltar-se aos


direitos e deveres referentes às operações de compra e da venda. Se
os direitos sociais são frutos de lutas sociais e de negociações com o
bloco do poder para o seu reconhecimento legal, a compra e venda
de serviços no atendimento a necessidades sociais de educação,
saúde, renda, habitação, assistência social, entre outras pertencem a
outro domínio – o do mercado, mediação necessária à realização do
valor e, eventualmente, da mais valia decorrentes da industrialização
dos serviços.

Historicamente, os assistentes sociais dedicaram-se à


implementação de políticas públicas, localizando-se na linha de
frente das relações entre população e instituição ou, nos termos
de Netto (1993), sendo “executores das políticas sociais”. Embora
esse seja ainda o perfil predominante, não é mais o exclusivo, sendo
abertas outras possibilidades.

O processo de descentralização das políticas sociais públicas,


com ênfase na sua municipalização, requer dos assistentes sociais
– como de outros profissionais – novas funções e competências.
Os assistentes sociais estão sendo chamados a atuar na esfera da

141
SiSTEmA ÚNiCo DE ASSiSTÊNCiA SoCiAL

formulação e avaliação de políticas e do planejamento, gestão e


monitoramento, inscritos em equipes multiprofissionais.

Eles ampliam seu espaço ocupacional para atividades


relacionadas ao controle social, à implantação e orientação de
conselhos de políticas públicas, à capacitação de conselheiros,
à elaboração de planos e projetos sociais, ao acompanhamento e
avaliação de políticas, programas e projetos.

Tais inserções são acompanhadas de novas exigências de


qualificação, tais como: o domínio de conhecimentos para realizar
diagnósticos socioeconômicos de municípios, para a leitura e
análise dos orçamentos públicos, identificando seus alvos e
compromissos, assim como os recursos disponíveis para projetar
ações; o domínio do processo de planejamento; a competência
no gerenciamento e avaliação de programas e projetos sociais; a
capacidade de negociação, o conhecimento e o know-how na área
de recursos humanos e relações no trabalho, entre outros. Somam-
se possibilidades de trabalho nos níveis de assessoria e consultoria
para profissionais mais experientes e altamente qualificados em
determinadas áreas de especialização. Registram-se, ainda,
requisições no campo da pesquisa, de estudos e planejamento, entre
inúmeras outras funções.

FONTE: IAMAMOTO, Marilda. O serviço social na cena


contemporânea. CFESS, ABEPSS. Serviço Social: direitos sociais
e competências profissionais. CEAD/UnB. Brasília. 2009.

Os assistentes sociais que estão inseridos na gerência das políticas


sociais, em especial da Política de Assistência Social, precisam realizar suas
ações profissionais nos princípios, diretrizes e ética que norteiam a profissão. A
temática gestão das políticas sociais e todo o seu aporte teórico-metodológico é
inserido dentro de recomendações e normas técnicas, pois vêm de uma área de
administração pública.

142
GESTÃO SOCIAL DO SISTEMA ÚNICO DE ASSISTÊNCIA SOCIAL – NOVOS DESAFIOS
Capítulo 3
DA ATUAÇÃO DO SERVIÇO SOCIAL

Para Paiva (1999, p. 90):

A conceituação de noções como eficiência, eficácia e


efetividade; o detalhamento das diferentes funções
gerenciais, planejamento, organização, direção
e controle; a caracterização dos diferentes níveis
organizacionais – estratégicos, tático, operacional
– encontram na bibliografia pertinente uma série de
orientações, análise e exercícios que podem ser úteis
e facilitadores da organização do projeto de intervenção
do assistente social, que desempenha a função de
gestor na área social, dependendo do uso que se faça
deles.

Neste contexto, é necessário entender que a administração se concretiza


como uma técnica essencial a qualquer ação que abranja recursos e que tenha
um objetivo para se chegar. Pode-se concluir que a gestão é todo processo que
tem como objetivo a eficiência e a eficácia das ações realizadas.

A administração e/ou a gestão incide em uma ação que não pode ser
realizada separadamente de qualquer atividade que envolva pessoas, recursos e
que tenha um objetivo fim.

Na área administrativa esse processo é compreendido em cinco funções


essências para que uma entidade ou organização consiga chegar em seus
objetivos fins, sendo eles: planejamento, organização, direção e controle.

O planejamento tem função em seu conceito de determinar e constituir ações


e situações futuras e almejadas, considerando os recursos necessários para
realizar a ação proposta, com detalhamento definido, através de responsabilidades
para a efetivação e distribuição dos recursos disponíveis. A função de direção se
compreende o processo como forma de mobilizar e acionar os recursos tanto
material como humano para efetivação dos objetivos meios.

Já a função do controle tem como foco a garantia da realização dos objetivos,


podendo identificar se existe a necessidade de mudanças no decorrer das ações.
O controle, normalmente, surge das avaliações contínuas que influenciam no
desenvolvimento do trabalho dos profissionais e de outras pessoas envolvidas no
processo, visando a uma melhor qualidade nos resultados desejados.

143
SiSTEmA ÚNiCo DE ASSiSTÊNCiA SoCiAL

A administração é considerada como uma ciência organizada através de


várias teorias, que são fundamentadas em conceitos que versam diretamente
as pessoas em sua totalidade. Essas teorias que são o alicerce teórico e
fundamentam a administração evidenciam que as funções de gestão poderão
ser realizadas por qualquer pessoa capacitada e responsável por alguma ação
organizada no seio organizacional.

O assistente social nessa diretriz se torna um agente que interfere


absolutamente em todas as relações e contextos sociais. O profissional tem uma
certa autonomia para planejar e formular as suas ações de trabalho.

O profissional de serviço social necessita de competências e habilidades


para elaborar modalidades de intervenção profissional no seu cotidiano e, com
isso, precisa estar apto para adquirir novos conhecimentos voltados para as
competências e habilidades na área de gestão, pois se torna um instrumento de
atuação e de domínio do assistente social.

Os instrumentos usados na gestão das políticas sociais podem se tornar


instrumentos de competência e de habilidade para o a Política de Assistência
Social, analisando que estes podem ajudar na elaboração das ações de trabalho
e na efetivação dessa política. Ressaltando que o assistente social deverá estar
aberto para congregar os princípios da gestão no cotidiano de seu campo de
trabalho.

Esse processo de apropriação da gestão das políticas sociais requer a


necessidade de aperfeiçoamento dos conhecimentos dos conceitos e princípios
que dão fundamentação para essa ação profissional. Se faz necessário ter
uma determinada competência de forma crítica para distinguir as exigências
burocráticas exclusivas dessas funções de gerenciamento das ações das políticas.

O trabalho do assistente social é constituído por particularidades que


requerem uma atitude crítica e comprometida com a garantia dos direitos sociais
e não somente com a execução burocrática dos programas e projetos na área
pública.

Os assistentes sociais precisam desenvolver funções gerenciais que


deverão estar alinhadas com os princípios e valores descritos no Projeto Ético
Político profissional, fundamentado sempre em prerrogativas legais que regulam
a profissão de assistente social, buscando retirar das suas abordagens cotidianas
ações funcionalistas ou então apenas executivas.

144
GESTÃO SOCIAL DO SISTEMA ÚNICO DE ASSISTÊNCIA SOCIAL – NOVOS DESAFIOS
Capítulo 3
DA ATUAÇÃO DO SERVIÇO SOCIAL

1 A metodologia utilizada para a formulação e implementação das


políticas sociais é considerada um campo privilegiado de atuação
do assistente social, além de ter suas práticas profissionais
fundamentadas em conceitos e princípios teóricos e práticos
da gestão de tais políticas, contribuindo dessa forma desde o
início da formulação e implementação dos serviços públicos que
atendem às demandas do serviço social. Perante essa afirmação,
descreva algumas das ações de gestão que você conhece na sua
atuação profissional.

3 O PROCESSO DE AVALIAÇÃO
DAS POLÍTICAS, PROGRAMAS E
PROJETOS SOCIAIS PERANTE A
ATUAÇÃO DO PROFISSIONAL DE
SERVIÇO SOCIAL
O Serviço Social no Brasil tem suas atribuições e competências em diversos
espaços sócios-ocupacionais orientadas pelos princípios, direitos e deveres que
estão inseridos nos documentos: Código de Ética Profissional de 1993, Lei de
Regulamentação da Profissão (Lei nº 8.662, de 7 de junho 1993) e nas Diretrizes
Curriculares da Associação Brasileira de Ensino e Pesquisa em Serviço Social
(ABEPSS, 1996).

Os documentos citados anteriormente se tornam instrumentos essenciais


e legais na inserção do profissional de serviço social nos espaços de gestão,
planejamento, execução e avaliação de políticas e programas sociais,
considerando sempre as diretrizes do projeto ético-político da profissão.

Neste sentido vale destacar a atuação do assistente social na área de gestão


e avaliação das políticas sociais em algumas políticas públicas sociais como nas
áreas de Assistência Social, Educação e Saúde.

Na Política de Assistência Social, a atuação do Serviço Social requer


atribuições nas atividades de gestão, planejamento, avaliação e execução

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SiSTEmA ÚNiCo DE ASSiSTÊNCiA SoCiAL

diretamente dos programas, projetos e serviços aos usuários dessa política,


dessa forma potencializa o atendimento aos diretos de cada cidadão.

Os assistentes sociais contribuem na Política de Saúde através do


planejamento, gestão, avaliação e execução de programas e projetos desta área
visando à inserção da população usuária e dos trabalhadores que atuam nesta
política, no que diz respeito às deliberações e participação social na gestão.

Já na Política de Educação, o profissional de Serviço Social atua


diretamente com os estudantes e famílias, além dos órgãos de deliberação,
como os conselhos deliberativos. Os assistentes sociais nesta política, de
forma coletiva, intervêm juntamente com os movimentos sociais em prol de uma
educação pública e de qualidade.

Os profissionais de Serviço Social visam neste sentido a inserção da


profissão nos espaços democráticos e que buscam o controle social da Política
de Educação.

As atribuições do assistente social no processo de gestão e avaliação das


políticas sociais, em especial nas três áreas citadas anteriormente, são exemplos
de gestão social. Segundo Carvalho (2014, p. 33),

Ancora-se em princípios constitucionais que dão forma e


conteúdo às políticas, aos programas e aos serviços públicos,
reconhecendo o Estado como autoridade reguladora das ações
públicas. Nesta perspectiva, a gestão social tem significado
abrangente, não se reduzindo apenas à gerência técnico-
administrativa de serviços e programas sociais. Refere-se
fundamentalmente à governança das políticas e programas
sociais públicos; à qualidade de bem-estar ofertada à nação e
à cultura política impregnada ao fazer social.

As ponderações em relação à atuação profissional do assistente social no


processo de gestão e avaliação das políticas públicas sociais têm como objetivo
entender e apreender qual o cotidiano da ação profissional no cumprimento das
ações para o desenvolvimento, implementação e efetuação de tais políticas,
através do contexto de um Estado democrático e de direito e que está respaldado
por meio de uma Constituição que distingue a primazia do Estado na direção das
políticas públicas e com a participação da sociedade civil.

Será enfatizado neste tópico a atuação do assistente social na Política de


Assistência, sendo este o maior campo de atuação profissional.

A Assistência Social, quando foi reconhecida através do estatuto de políticas


públicas e quando começou a integrar o tripé que compõe a seguridade social

146
GESTÃO SOCIAL DO SISTEMA ÚNICO DE ASSISTÊNCIA SOCIAL – NOVOS DESAFIOS
Capítulo 3
DA ATUAÇÃO DO SERVIÇO SOCIAL

que está inserida na Constituição Federal, possibilitou a abertura de várias frentes


de atuação do Serviço Social, juntamente com a Lei de Regulamentação da
Profissão no país.

O Conselho Federal de Assistência Social (CFESS), explanando sobre


o dispositivo legal que regula a profissão no Brasil, determinou e sistematizou
alguns Parâmetros para a atuação do profissional de Serviço Social na Política de
Assistência Social, lançou a Série Trabalho e Projeto Profissional para o trabalho
dos assistentes sociais. Esta publicação contém reflexões em relação à prática
profissional do Serviço Social em diferentes espaços sócio-ocupacionais. Esses
parâmetros têm como referência:

[...] as normas reguladoras do Serviço Social, sobretudo


os valores e princípios do Código de Ética Profissional,
as atribuições e competências asseguradas na lei de
regulamentação da profissão (Lei nº 8662/1993), na Resolução
CFESS 493/06 e nas Diretrizes Curriculares do Serviço Social
elaborada pela Associação Brasileira de Ensino e Pesquisa em
Serviço Social ABEPSS (CONSELHO FEDERAL DE SERVIÇO
SOCIAL, 2010, p. 1-2).

Nas ações cotidianas do assistente social diante da Política de Assistência


Social, as atribuições dele são conduzidas pelas Normas Operacionais Básicas
procedidas do Sistema Único de Assistência Social, que tem como foco regular
e orientar as diretrizes que concordam com o desenvolvimento operacional desta
política.

As atribuições dos assistentes sociais são ações de formulação, gestão,


implementação, execução, monitoramento e avaliação dessa política social, que
é materializada através de uma luta histórica da profissão para o reconhecimento
da assistência social como política pública que tem como objetivo assegurar os
direitos conquistados dos cidadãos e em resposta a contrariar a lógica da caridade
e da benemerência que assinalou em épocas passadas o trabalho do assistente
social. Sendo assim:

[...] a concepção da assistência social como direito impõe


aos trabalhadores da política que estes superem a atuação
na vertente de viabilizadores de programas para a de
viabilizadores de direitos. Isso muda substancialmente o
processo de trabalho. [...] Exige dos trabalhadores da área o
conhecimento profundo da legislação implantada a partir da
Constituição de 1988 (BRASIL, 2004, p. 47).

Na área da assistência social a conquista do estatuto de política pública em


15 de outubro de 2004, por meio da Resolução nº 145 do Conselho Nacional
de Assistência Social Social (CNAS), reforça os termos de responsabilidade

147
SiSTEmA ÚNiCo DE ASSiSTÊNCiA SoCiAL

do Estado com os setores sociais em condições de vulnerabilidade, visando à


garantia de direitos e o reconhecimento da condição do cidadão diante de sua
cidadania.

Em consonância com LOAS, no seu capítulo II, seção I, artigo


4º, a Política Nacional de Assistência Social (PNAS) é conduzida
pelos seguintes princípios básicos:

1. Supremacia do atendimento às necessidades sociais sobre


as exigências de rentabilidade econômica.

2. Universalização dos direitos sociais, tornar o destinatário da


ação assistencial alcançável pelas demais políticas públicas.

3. Respeito à dignidade do cidadão, a sua autonomia e ao seu


direito a benefícios e serviços de qualidade, bem como à convivência
familiar e comunitária, vedando-se qualquer comprovação vexatória
de necessidade.

4. Igualdade de direitos no acesso ao atendimento, sem


discriminação de qualquer natureza, garantindo-se equivalência às
populações urbanas e rurais.

5. Divulgação ampla dos benefícios, serviços, programas e


projetos assistenciais, bem como dos recursos oferecidos pelo poder
público e dos critérios para a sua concessão (BRASIL, 2004, p.26).

Fundamentadas nestes princípios as competências


consideradas específicas dos assistentes sociais no quesito da
Política de Assistência Social, perante os parâmetros que foram
estabelecidos para atuação do profissional em Serviço Social,
esta área atinge diferentes dimensões que se tornam interativas,
complementares e indissociáveis da prática diária:

148
GESTÃO SOCIAL DO SISTEMA ÚNICO DE ASSISTÊNCIA SOCIAL – NOVOS DESAFIOS
Capítulo 3
DA ATUAÇÃO DO SERVIÇO SOCIAL

[...] uma dimensão que engloba as abordagens individuais,


familiares ou grupais na perspectiva de atendimento às
necessidades básicas e acesso a direitos [...] uma dimensão
de intervenção coletiva junto a movimentos sociais, na
perspectiva da socialização da informação, mobilização e
organização popular [...] uma dimensão voltada para inserção
nos espaços democráticos de controle social e construção de
estratégias para fomentar a participação [...] uma dimensão
de gerenciamento, planejamento e execução direta de bens e
serviços [...] uma dimensão que se materializa na realização
sistemática de estudos e pesquisas sobre as reais condições de
vida e demandas da classe trabalhadora, e possam alimentar
o processo de formulação, implementação e monitoramento da
política de assistência social [...] uma dimensão pedagógica-
interpretativa e socializadora de informações e saberes no
campo dos direitos, da legislação social e das políticas públicas
(CONSELHO FEDERALDE SERVIÇO SOCIAL, 2010, p. 18-19).

Sendo assim, pode-se perceber que essas dimensões expressam a


ampliação do campo de intervenção do assistente social na área da Política de
Assistência Social, porém reforça o compromisso político e ético do profissional
com as demandas pertencentes a esta referida política, como exemplo podemos
citar: crianças e adolescentes, mulheres vítimas de violência doméstica, idosos e
outros.

As ações dos assistentes sociais que dizem respeito à gestão e avaliação da


Política de Assistência Social acabam compreendendo um conjunto de acúmulo
de saberes e de experiências que são, de alguma forma, articulados com o
desempenho dessa política.

As ações realizadas conforme a correlação de forças e de condições


sociais, políticas, econômicas e culturais são relacionadas à agenda pública
governamental.

A ação dos profissionais do Serviço Social na área da gestão da Política de


Assistência Social é uma parte que integra uma equipe multidisciplinar formada por
outras áreas de atuação profissional, como advogados, psicólogos e educadores
sociais; e que focam na materialização intersetorial do profissional.

Essa intersetorialidade é entendida como um empenho para realizar parcerias


com instituições que são essenciais para garantir o sucesso das ações planejadas
na Política de Assistência Social, evitando assim o assistencialismo diante das
demandas sociais.

149
SiSTEmA ÚNiCo DE ASSiSTÊNCiA SoCiAL

Isolada do conjunto das políticas públicas e nem se


pode reforçar a perspectiva de que o enfrentamento
das desigualdades estruturais pode se dar pela via
da resolução de problemas individualizados e que
desconsiderem as determinações objetivas mais
gerais da sociabilidade. Os desafios que se colocam
demandam dos/as profissionais, e dos/as assistentes
sociais especialmente, uma articulação
na defesa do SUAS e de todas as políticas sociais, a
partir de uma leitura crítica da realidade e das demandas
sociais (CONSELHOFEDERAL DE SERVIÇO SOCIAL,
2010, p. 27).

A atuação dos assistentes sociais na Política de Assistência Social requer


ações na área da Proteção Social Básica e Especial. Na proteção básica as
ações realizadas têm como foco a prevenção de riscos sociais e isso acontece
através dos procedimentos que desenvolvem a potencialidade e o fortalecimento
dos vínculos familiares. Os assistentes sociais que atuam na Proteção Básica
estão centralizados nos Centros de Referências em Assistência Social (CRAS) e
tem como fundamento das ações a matricialidade familiar.

A Proteção Social Especial é o atendimento assistencial que se oferece


às famílias e aos indivíduos que estão e se encontram com seus direitos
violados através da situação de risco, podendo ser pessoal ou social. Vários
exemplos podem ser citados, como abandono, trabalho infantil, maus tratos
físicos e psíquicos, abuso sexual. O assistente social faz parte de uma equipe
interdisciplinar que visa o acompanhamento individual e social das famílias e dos
indivíduos em situação de violação dos direitos. Os profissionais que atuam na
Proteção Social Especial desenvolvem seu trabalho nos Centros de Referências
Especializados de Assistência Social (CREAS).

A Proteção Social Especial requer uma maior articulação profissional com


todo o sistema de garantia de direitos, o que requer uma gestão dos programas
e projetos mais ampla e compartilhada com outras instituições, como Poder
Judiciário, Ministério Público e outros.

As atribuições e as competências dos assistentes sociais que atuam na


Proteção Social Básica ou na Proteção Social Especial requerem, na sua inserção
profissional nas atividades de gestão, planejamento e avaliação, sendo ações

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GESTÃO SOCIAL DO SISTEMA ÚNICO DE ASSISTÊNCIA SOCIAL – NOVOS DESAFIOS
Capítulo 3
DA ATUAÇÃO DO SERVIÇO SOCIAL

fundamentais para analisar o desempenho da política em sua implementação e


articulação com as demandas apresentadas.

Sendo assim, as contribuições das análises e estudos de avaliação, que


visam ao aperfeiçoamento da gestão das políticas públicas, fazem com que o
Estado redirecione e aperfeiçoe as políticas sociais de sua responsabilidade. Na
Política de Assistência Social este ato representará um resgaste da dívida social
com os cidadãos excluídos socialmente ao longo da história.

1 O Serviço Social no Brasil apresenta um vasto campo de atuação


profissional, em destaque nas políticas públicas sociais. O Serviço
Social é a profissão que faz a mediação entre os interesses do
Estado e da população. Nesse sentido contextualize a afirmação
anterior relacionada com sua prática profissional.

2 De acordo com Armando Boito Jr (1999, p. 77) “a pobreza não é


um dado natural com o qual se deparam os governos neoliberais;
ela é produzida pela própria política econômica neoliberal, que
reduz o emprego e os salários e reconcentra a renda”. Os países
da América Latina foram considerados a terceira civilização das
experiências neoliberais e, para adaptar a ideologia na América
Latina, muitos ideólogos defendem que foram utilizadas algumas
ideologias para contextualizar esse fato. Com base nessas
informações, analise as questões a seguir e assinale quais
ideologias foram utilizadas nesse contexto.

a) ( ) Nacionalista e desenvolvimentista.
b) ( ) Positivista e nacionalistas.
c) ( ) Estruturalista e desenvolvimentistas.
d) ( ) Positivistas e desenvolvimentistas.

4 ALGUMAS CONSIDERAÇÕES
Como pudemos perceber, a atuação profissional dos assistentes sociais no
Brasil se dá de forma relevante em torno das políticas públicas. O profissional
tem em sua essência de atuação desenvolver a mediação entre as políticas
sociais implementadas pelo Estado e os interesses dos usuários destas políticas,
enquanto demanda que necessita de programas, projetos e investimentos.
151
SiSTEmA ÚNiCo DE ASSiSTÊNCiA SoCiAL

A consolidação desse processo de mediação profissional acontece no seio


de uma sociedade desigual, na qual o Estado assume as políticas públicas de
forma compensatória perante a dívida social que cada vez mais se acumula diante
do modelo capitalista no qual estamos inseridos.

Nessa conjuntura, ao avaliar os espaços sócio-ocupacionais que foram


ocupados pelos assistentes sociais nas instituições públicas, é destacado um
novo campo de atuação profissional, a gestão e avaliação das políticas públicas
sociais.

Em cumprimento a essas atribuições específicas, gestão e avaliação não


podem acontecer de forma separada das demais ações relacionadas com o
planejamento e execução das políticas públicas, como artifício total que permeiam
os interesses contraditórios que vão além do campo institucional e acaba refletindo
na realidade social dos cidadãos.

Os parâmetros e subsídios que orientam a atuação do assistente social


têm como objetivo estratégico a análise crítica da realidade, fomentando nesse
sentido a adoção de políticas sociais que efetivem os direitos dos cidadãos e que
conduzam a uma melhor qualidade de vida, principalmente, para a maioria da
camada da sociedade, os excluídos.

Os assistentes sociais, além de intervirem na realidade que lhe capacitam,


precisam atuar no processo de formulação das políticas socais, nesse sentido,
os profissionais passam a acumular competência teórica, política e técnica, que
dão habilidades para exercer a profissão na área da gestão, execução e avaliação
direta das políticas públicas, focando em uma perspectiva de garantia ao acesso
dos direitos sociais para todos cidadãos brasileiros como sujeitos políticos e
sociais.

Nos espaços sócio-ocupacionais, que são compostos por equipes


interdisciplinares, os assistentes sociais acabam fundamentando suas práticas
através de direitos e deveres, atribuições e competências contidas no Código de
Ética Profissional, na Lei de Regulamentação da Profissão e na formação técnica
profissional fundamentada em diretrizes curriculares estabelecidas pela ABEPSS.

Diante disso, os assistentes sociais acabam atuando tanto no campo do


planejamento e gestão, como na execução direta e avaliação das políticas sociais,
através de um posicionamento crítico e com compromisso político e ético com as
demandas de sua intervenção profissional diária.

A ação profissional do assistente social se materializa com o entrosamento


político dos profissionais e de toda sua competência teórica e técnica

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GESTÃO SOCIAL DO SISTEMA ÚNICO DE ASSISTÊNCIA SOCIAL – NOVOS DESAFIOS
Capítulo 3
DA ATUAÇÃO DO SERVIÇO SOCIAL

fundamentada em uma formação profissional solidificada e que direciona a


atuação profissional no país.

Considerando todas as políticas públicas sociais que demandam de atuação


de um profissional do Serviço Social, este visa dimensionar a sua atuação
profissional na perspectiva da defesa dos direitos sociais e do reconhecimento
da cidadania para todos em conformidade com a Constituição Federal e com o
Projeto Ético Profissional, sendo este um dos desafios dos profissionais.

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