Você está na página 1de 15

DIREITO PREVIDENCIÁRIO – Profa: Leticia Sesquim

ASSISTÊNCIA SOCIAL

1 - Introdução

A Assistência Social faz parte dos pilares da Seguridade social, sendo os outros dois
Previdência e Saúde. A Constituição prevê a Assistência Social em seu art. 203:

Constituição Federal

Art. 203. A assistência social será prestada a quem dela necessitar,


independentemente de contribuição à seguridade social, e tem por objetivos:
I - a proteção à família, à maternidade, à infância, à adolescência e à velhice;
II - o amparo às crianças e adolescentes carentes;
III - a promoção da integração ao mercado de trabalho;
IV - a habilitação e reabilitação das pessoas portadoras de deficiência e a promoção
de sua integração à vida comunitária;
V - a garantia de um salário mínimo de benefício mensal à pessoa portadora de
deficiência e ao idoso que comprovem não possuir meios de prover à própria
manutenção ou de tê-la provida por sua família, conforme dispuser a lei.

Assim, a Assistência se mostra como um direito disponível a quem dela necessitar, ou seja, não é
universal, é prestada para indivíduos que comprovem a necessidade de usufruto de tais atividades
sociais, sem necessidade de contribuição à seguridade social. Ela, como um dos pilares da Seguridade
que visa garantir o bem-estar universal, se apresenta para preencher lacunas que são deixadas pela
previdência social.

Tal relação pode ser vista principalmente no fato de que a previdência é prestada àqueles que
contribuem com ela, em contrapartida, a assistência é prestada àqueles que necessitam, mas não podem
contribuir. Assim, busca abarcar situações que não são contempladas pela previdência, visando a
efetivação do Princípio da Universalidade da Seguridade Social.

Os objetivos, apresentados nos incisos do art. 203, apresentam também os benefícios


assistenciais, uma vez que a partir da ideia de proteção, promoção e garantia, há a implementação
dos benefícios para atingir os propósitos. No decorrer do material, serão destrinchados de forma
mais precisa cada um dos incisos.
A implementação da Assistência é prevista no art. 204, da CF/88.

Há duas diretrizes constitucionais para a organização da Assistência Social e uma está


presente na Lei Orgânica da Assistência Social.

A primeira diretriz é a descentralização político-administrativa, inciso I do artigo acima, que


se mostra como uma forma de trazer celeridade a efetivação da assistência, uma vez que a
especificação de competências para os entes federativos, principalmente na execução, contribui com o
alcance dos programas sociais. Contudo, para fins de uniformidade e organização do sistema, há a
necessidade de que a esfera federal seja responsável pela coordenação das normas gerais.

A segunda diretriz é a participação da população, amplamente valorizada pela seguridade social,


de forma que reflete na assistência, e se dá por meio de organizações representativas da sociedade e
pela participação na formulação das políticas públicas e no controle das ações em todos os níveis.

Essa característica pode ser vista no Conselho Nacional de Assistência Social, que há a
participação da sociedade em sua composição.

A terceira diretriz, trazida pela LOAS em seu art. 5º, é a primazia da responsabilidade do Estado
nas conduções de políticas de assistência social. Ou seja, o Estado tem a função de organizar as
políticas, aplicar a assistência e, mesmo quando há a contribuição da esfera privada, como
Organizações sem fins lucrativos, fiscalizar essa implementação.

O parágrafo único do art. 204, incluído a partir da Emenda Constitucional nº 42 de 2003, traz a
possibilidade de os estados e o Distrito federal vincularem a programas de apoio à inclusão e promoção
social até 0,5% das suas receitas tributárias líquidas, trazendo maior possibilidade de implementação e
efetivação, por meio de fomentos econômicos maiores.

2 – Princípios da Asistência Social

Os princípios estão previstos na Lei Orgânica da Assistência Social, no art. 4º da Lei 8742/93:

Art. 4º A assistência social rege-se pelos seguintes princípios:


I - supremacia do atendimento às necessidades sociais sobre as exigências de
rentabilidade econômica;
II - universalização dos direitos sociais, a fim de tornar o destinatário da ação
assistencial alcançável pelas demais políticas públicas;
III - respeito à dignidade do cidadão, à sua autonomia e ao seu direito a benefícios e
serviços de qualidade, bem como à convivência familiar e comunitária, vedando-se
qualquer comprovação vexatória de necessidade;
IV - igualdade de direitos no acesso ao atendimento, sem discriminação de qualquer
natureza, garantindo-se equivalência às populações urbanas e rurais;
V - divulgação ampla dos benefícios, serviços, programas e projetos assistenciais, bem
como dos recursos oferecidos pelo Poder Público e dos critérios para sua concessão.

Para além desses elencados acima, os princípios da Seguridade Social também regem a
assistência social. Para destrinchar os princípios, seguiremos os incisos acima referidos:

Iniciando pelo I, temos a supremacia do valor social sobre o valor econômico, ou seja, para a
assistência social, há prioridade no atendimento às necessidades sociais diante das exigências de
rentabilidade econômica.

No inciso II, como a assistência é prestada aos indivíduos que mais necessitam dos direitos
sociais, assim, a universalização dos direitos sociais tem como finalidade tornar o indivíduo que
recebe a assistência apto a alcançar os direitos pelas demais políticas públicas.

No inciso III, ao passo que a assistência tem caráter seletivo, necessitando uma comprovação
burocrática, o respeito à dignidade se mostra como prioridade, fazendo com que não haja criação de
barreiras intransponíveis devido à situação de vulnerabilidade.

No inciso IV, embora a assistência não seja prestada a todos, existe uma igualdade no direito ao
acesso e ao atendimento, ou seja, todos possuem esse direito ao acesso, mesmo que não sejam
beneficiários efetivos da assistência. Ainda, ressalta-se a equivalência às populações urbanas e rurais,
uma vez que os benefícios podem não ter os mesmos valores ou requisitos entre as populações, para
suprir com as necessidades de cada um.

No inciso V, a assistência precisa ser divulgada à população que necessita para que seja efetivada,
dessa forma, o atendimento se mostra como uma das maneiras de promover a ampla divulgação dos
serviços e benefícios assistenciais, resultando em acesso aos direitos sociais.
3 – CNAS - Conselho Nacional de Assistência Social

O Conselho Nacional de Assistência Social é o órgão superior de deliberação colegiada, e


embora possa haver conselhos de caráter estadual ou municipal, o CNAS carrega a competência
superior. Portanto, é um órgão de deliberação federal, construído por um conselho composto por
membros representantes da sociedade e do governo, que são vinculados ao órgão e à Administração
Pública Federal, responsável pela coordenação da Política Nacional de Assistência Social. Sua
normativa se apresenta no art. 17, da LOAS.

Art. 17. Fica instituído o Conselho Nacional de Assistência Social (CNAS),


órgão superior de deliberação colegiada, vinculado à estrutura do órgão da
Administração Pública Federal responsável pela coordenação da Política
Nacional de Assistência Social, cujos membros, nomeados pelo Presidente da
República, têm mandato de 2 (dois) anos, permitida uma única recondução por
igual período.

§ 1º O Conselho Nacional de Assistência Social (CNAS) é composto por 18


(dezoito) membros e respectivos suplentes, cujos nomes são indicados ao órgão
da Administração Pública Federal responsável pela coordenação da Política
Nacional de Assistência Social, de acordo com os critérios seguintes:

I - 9 (nove) representantes governamentais, incluindo 1 (um) representante


dos Estados e 1 (um) dos Municípios;

II - 9 (nove) representantes da sociedade civil, dentre representantes dos


usuários ou de organizações de usuários, das entidades e organizações de
assistência social e dos trabalhadores do setor, escolhidos em foro próprio sob
fiscalização do Ministério Público Federal.

§ 2º O Conselho Nacional de Assistência Social (CNAS) é presidido por um de


seus integrantes, eleito dentre seus membros, para mandato de 1 (um) ano,
permitida uma única recondução por igual período.
§ 3º O Conselho Nacional de Assistência Social (CNAS) contará com uma
Secretaria Executiva, a qual terá sua estrutura disciplinada em ato do Poder
Executivo.
§ 4º Os Conselhos de que tratam os incisos II, III e IV do art. 16, com
competência para acompanhar a execução da política de assistência social,
apreciar e aprovar a proposta orçamentária, em consonância com as diretrizes
das conferências nacionais, estaduais, distrital e municipais, de acordo com seu
âmbito de atuação, deverão ser instituídos, respectivamente, pelos Estados, pelo
Distrito Federal e pelos Municípios, mediante lei específica.

A composição do Conselho se dá por 18 membros e suplentes, sendo dentro desse número, 9


representantes governamentais e 9 representantes da sociedade civil. No primeiro grupo, de
representantes governamentais, deve haver pelo menos um representante dos estados e pelo menos um
representante dos municípios.

Já no grupo da sociedade civil, são três categorias: usuários ou organizações de usuários; entidades
ou organizações de assistência social; e trabalhadores do setor. A escolha desses representantes é feita
por meio das centrais das referidas categorias, sendo fiscalizadas pelo Ministério Público Federal para
que não haja fraudes.

A nomeação do Conselho é feita pelo Presidente da República, e os membros possuem mandato


de 2 anos, permitida uma única recondução por igual período. Já para o cargo de Presidência do
Conselho, um dos membros é eleito para mandato de 1 ano, permitida uma recondução por igual
período, caso não haja, repete-se a eleição dentro dos mesmos indivíduos para a ocupação do cargo.

As Conferências Nacionais de Assistência Social são de competência do CNAS, de forma que,


a partir de 1997, há a convocação ordinária, de 4 em 4 anos, da Conferência, para avaliar a situação
da assistência social, propor novas diretrizes e aperfeiçoar o sistema.
4 - SUAS – Sistema Único de Assistência Social

O objetivo do Sistema Único de Assistência Social é implementar e tentar efetivar a estrutura


necessária para que seja possível o cumprimento dos direitos assistenciais. Trata-se de um sistema
descentralizado, ou seja, há instituições da assistência nos municípios, nos estados e na União, de forma
que há a participação desses entes na implementação da assistência.

Possui como objetivos, apresentados no art. 6º da Lei Orgânica de Assistência Social:

• Consolidar a gestão compartilhada, o cofinanciamento e a cooperação técnica entre os entes


federativos, isto é, devido ao fato de que há competências diferentes entre os entes federativos,
havendo a necessidade de cooperação para que a assistência seja efetiva como um todo, além da
gestão compartilhada e do cofinanciamento, sendo a assistência financiada pelos municípios,
estados e Distrito Federal;

• Integrar a rede pública e privada de serviços, programas, projetos e benefícios da


assistência social, por meio de proteção básica e especial, isto é, devido ao fato de a assistência
social não visar apenas os indivíduos que estão em situação de vulnerabilidade, há também a
atividade preventiva da assistência, sendo dividida em proteção básica e especial;

• Estabelecer as responsabilidades dos entes federativos na organização, regulação,


manutenção e expansão das ações de assistência social, isto é, devido à descentralização e ao
cofinanciamento da assistência, há uma geração de responsabilidade para cada ente, a fim de criar
segurança jurídica e integridade do serviço;

• Definir os níveis de gestão, respeitadas as diversidades regionais e municipais, ou seja, a


assistência possui uma divisão de benefícios e serviços muito relacionada às necessidades e
diversidades regionais, principalmente pela grande área do território brasileiro, que se desenvolve
de maneiras distintas, sendo a base de organização, o território;

• Implementar a gestão do trabalho e educação permanente na assistência social, traz o


enfoque da necessidade de trazer investimentos para a gestão do trabalho e da educação, visto que
direitos sociais são respaldados a partir desses dois pilares;

• Estabelecer a gestão integrada de serviços e benefícios, por mais que exista uma equidade,
que vise respeitar as diversidades na aplicação da assistência social, há um equilíbirio entre a
diversidade regional e a gestão integrada a partir da normativa nacional;

• Afiançar a vigilância socioassistencial e a garantia de direitos, ou seja, é preciso trazer a


implementação da assistência, contudo é imprescindível que haja vigilância para prezar pela
qualidade dos serviços prestados.

O SUAS é organizado em ações de proteção social básica e proteção social especial.

A Proteção Social Básica é prestada pelo CRAS (Centro de Referência de Assistência Social) e é
destinada a prevenção de riscos sociais e pessoais, ou seja, a atuação nas situações de vulnerabilidade
social que não ocorreu o impacto social ainda, mas existe grande possibilidade. Trata-se de
fortalecimento de vínculos familiares, vínculos comunitários, implementação dos direitos sociais por
meio de oferta de programas, projetos, serviços e benefícios. O CRAS possui previsão legal e tem a sua
atuação limitada por base territorial, como podemos ver a seguir:

Lei 8.742/93

Art. 6º-C. As proteções sociais, básica e especial, serão ofertadas


precipuamente no Centro de Referência de Assistência Social (Cras) e no
Centro de Referência Especializado de Assistência Social (Creas),
respectivamente, e pelas entidades sem fins lucrativos de assistência social
de que trata o art. 3o desta Lei.

§ 1º O Cras é a unidade pública municipal, de base territorial, localizada em


áreas com maiores índices de vulnerabilidade e risco social, destinada à
articulação dos serviços socioassistenciais no seu território de abrangência e
à prestação de serviços, programas e projetos socioassistenciais de
proteção social básica às famílias.

Em caso de efetiva situação de vulnerabilidade social, a Proteção Social Especial, prestada pelo CREAS
(Centro de Referência Especial de Assistência Social), é destinada a famílias e indivíduos que estão em
situação de risco e tiveram seus direitos violados. Objetiva contribuir com a reconstrução de vínculos
familiares, vínculos comunitários, reintegração na sociedade e proteção de famílias e indivíduos para o
enfrentamento das situações de violação de direitos. o CREAS também é previsto pelo art. 6º-C, onde
podemos ver que a sua abrangência varia do município até a região que trespassa a unidade da
federação em que se localiza:
§ 2º O Creas é a unidade pública de abrangência e gestão municipal, estadual
ou regional, destinada à prestação de serviços a indivíduos e famílias que se
encontram em situação de risco pessoal ou social, por violação de direitos ou
contingência, que demandam intervenções especializadas da proteção social
especial.

O CRAS (Centro de Referência de Assistência Social) é uma unidade pública municipal que, devido à
função de fiscalização assistencial, a sede deve se localizar em locais de maior vulnerabilidade social,
de forma que consiga estar disponível para quando a sociedade necessitar para atuar na efetivação dos
direitos sociais.

O CREAS (Centro de Referência Especial de Assistência Social) atua com as situações especiais e
possui unidade pública de abrangência e gestão municipal, estadual ou regional, a depender da
demanda, respeitando o princípio da diversidade entre as regiões. É destinado à prestação de serviços a
indivíduos e famílias que já estão em situação de risco, com violação de direitos, com estruturas mais
complexas.

5 – Outras formas de atendimento assistêncial

As outras formas de atendimento assistencial, além da Proteção Social Básica e da Proteção Social
Especial, se apresentam como sistemas que proporcionam a efetivação dos objetivos da assistência
social apresentados na CF/88.

1. PAIF (Serviço de Proteção e Atendimento Integral à Família) e PAEFI (Serviço de Proteção e


Atendimento Especializado a Famílias e Indivíduos): em analogia às ações básicas, o PAIF funciona a
partir da prestação de serviços básicos, como o CRAS, destinado à prevenção e a situação de possível
vulnerabilidade, já o PAEFI promove a prestação de serviços especiais, como o CREAS, quando os
vínculos já foram rompidos ou direitos violados;
2. PETI (Programa de Erradicação do Trabalho Infantil): dialoga com o direito do trabalho, visto que
possui como pilar a proteção do trabalho infantil, sendo, em regra, aquele indivíduo que exerce
trabalho com menos de 16 anos, ressalvada a condição de aprendiz, a partir dos 14 anos. Portanto, o
PETI busca fiscalizar as atividades caracterizadas como trabalho infantil e, a partir disso, retirar
crianças e adolescentes dessa situação, por meio de benefícios e auxílios prestados, como educação e
conscientização dos familiares.

3. Projetos de Enfrentamento da Pobreza: trata-se de investimentos econômico-sociais nos grupos


populares, com o objetivo de financiar novas técnicas, novos meios de produção, que resultem em
aumento da capacidade produtiva de tais grupos ou em aumento da qualidade de vida;

4.Benefícios assistenciais: BPC, previsto constitucionalmente, e benefícios eventuais;

5. Auxílio de entidades sem fins lucrativos de assistência social.

Além das formas clássicas, é preciso enfatizar dois serviços assistenciais prestados à
população:

Centro POP (Centro de Referência Especializado para Pessoas em Situação de Rua): deve,
necessariamente, ofertar o Serviço Especializado para Pessoas em Situação de Rua, que realiza
atendimentos individuais e coletivos, oficinas e atividades de convívio e socialização. A unidade
funciona como um espaço de referência para o convívio social e ponto de apoio para pessoas que
sobrevivem nas ruas, podendo servir como ponto de referência do usuário;

Centro-Dia (Centro-Dia de Referência para Pessoa com Deficiência): deve, necessariamente,


oferecer o Serviço de Proteção Social Especial para Pessoas com Deficiência e suas famílias e,
assim como o Centro POP, funciona como um espaço de socialização, desenvolvimento, apoio
integral às pessoas com deficiência.

6 – Beneficio de prestação continuada (BPC)


Características do Benefício e seus Beneficiados

Também conhecido como LOAS, uma vez que sua normativa está presenta na referida lei, o BPC não
é previdenciário, uma vez que está dentro da assistência e possui requisitos distintos. Assim, em termos
jurídicos, não é correto dizer que o indivíduo é aposentado por meio do BPC. Contudo, é compreensível
que uma das razões pelas quais há a confusão se dá pela competência do INSS em administrar e pagar
tanto o benefício quanto a aposentadoria.

O art. 20 do LOAS traz a definição do BPC nos seguintes termos:

Lei 8.742/93

Art. 20. O benefício de prestação continuada é a garantia de um salário-mínimo mensal à pessoa com
deficiência e ao idoso com 65 (sessenta e cinco) anos ou mais que comprovem não possuir meios de
prover a própria manutenção nem de tê-la provida por sua família.

Em 2017, o Supremo Tribunal Federal, no acórdão do RE 587970/SP, de relatoria do Min. Marco


Aurélio, compreendeu que o BPC pode ser prestado a estrangeiros residentes no Brasil, desde que
comprovem os requisitos exigidos.

A fim de cumprir tais requisitos de forma plena, é necessário compreender os conceitos que os
envolvem.

PESSOA COM DEFICIÊNCIA

Para a legislação do BPC, entende-se como aquela pessoa que possui impedimento a longo prazo, ou
seja, mínimo de 2 anos, de natureza física, mental, intelectual ou sensorial, o qual, em interação com uma
ou mais barreiras externas, causa obstrução da sua participação plena e efetiva na sociedade em igualdade
de condições com as demais pessoas. A comprovação se dá por meio de avaliação médica e social por
peritos do INSS.

FAMÍLIA

Uma vez que o BPC é pago ao indivíduo que prove que sua família não possui condições de sustentá-
lo, entende-se como composta pelo requerente, o cônjuge ou companheiro, os pais, a madrasta ou
padastro, na ausência dos pais, os irmãos solteiros, os filhos e enteados solteiros e os menores tutelados,
desde que vivam sob o mesmo teto.
INCAPACIDADE DE PROVER SUA PRÓPRIA MANUTENÇÃO

• Critério objetivo: a renda mensal per capta inferior a ¼ do salário mínimo. Contudo, esse critério
foi avaliado pelo STF em 2013, por meio do RE 580963 PR, que julgou inconstitucional por meio do
controle incidental de inconstitucionalidade, o que não gera vinculação erga omnes. Assim, exigiu-se que
o Congresso se manifestasse sobre a questão, o que não ocorreu, resultando na continuidade da aplicação
desse critério por parte do INSS.

• Critério subjetivo: presente no art. 20, § 11 da LOAS, que possibilita o uso de outros elementos
probatórios da condição de miserabilidade do grupo familiar. O INSS é bastante objetivo no
entendimento desses critérios, de forma que muitas vezes é necessário recorrer à judicialização para tal
comprovação. Ainda, o STJ vem aceitando outros critérios com base no referido parágrafo.

O art. 20 § 4º da LOAS traz que o BPC não pode ser acumulado pelo beneficiário com qualquer outro
no âmbito da seguridade social, ou seja, tanto assistencial quanto beneficiário, salvo em casos de
assistência médica ou de pensão especial de natureza indenizatória, sendo um exemplo, as grávidas de
talidomida. Contudo, mais de um BPC pode ser pago a uma mesma família, uma vez que não integra o
cálculo da renda familiar.

Já o art. 20 § 5º da mesma lei determina que o fato de um idoso ou pessoa com deficiência estar em
condição de acolhimento em instituições de longa permanência não prejudica o direito ao benefício de
prestação continuada.

Por fim, o art. 21 traz o seguinte texto:

Lei 8.742/93

Art. 21. O benefício de prestação continuada deve ser revisto a cada 2 (dois) anos para avaliação da
continuidade das condições que lhe deram origem.

Ou seja, há a necessidade de revisão bienal uma vez que não há direito adquirido, o que configura uma
diferença em relação à aposentadoria. Nos parágrafos, apresenta o momento de cessamento do benefício
em caso de superação das condições do caput ou de morte, sendo benefícios assistenciais não
transferíveis aos herdeiros, ainda o cancelamento em caso de irregularidade na concessão ou na
utilização.

INCENTIVO AO TRABALHO
Ainda na compreensão da normativa do benefício, o art. 21-A traz que:

Lei 8.742/93

Art. 21-A. O benefício de prestação continuada será suspenso pelo órgão concedente quando a pessoa
com deficiência exercer atividade remunerada, inclusive na condição de microempreendedor individual.

Isso se dá principalmente pelo incentivo ao trabalho, devido à característica emancipadora e de


inclusão social. Ou seja, a impossibilidade de acúmulo de benefícios vê aqui uma exceção,
principalmente porque em caso de extinção da relação trabalhista ou da atividade empreendedora, há a
possibilidade de retorno do benefício suspenso, sem necessidade de perícia médica ou qualquer
reavaliação (§ 1º do art. 21-A).

Ainda no sentido de incentivo ao trabalho, o § 2º coloca que a contratação de pessoa com deficiência
como aprendiz não suspende o BPC, havendo a limitação de 2 anos de recebimento simultâneo da
remuneração e do benefício. Devido ao surto de Zika vírus e os casos de microcefalia decorrentes disso,
em 2016, foi promulgada a Lei 13.301/2016 que dispõe sobre a adoção de medidas de vigilância em
saúde quando verificada situação de iminente perigo à saúde pública pela presença do vírus da dengue,
do vírus da chikungunya e do vírus da Zika. Em seu art. 18, há a seguinte disposição:

Lei 13.301/16

Art. 18. Fará jus ao benefício de prestação continuada temporário, a que se refere o art. 20 da Lei nº
8.742, de 7 de dezembro de 1993, pelo prazo máximo de três anos, na condição de pessoa com
deficiência, a criança vítima de microcefalia em decorrência de sequelas neurológicas decorrentes de
doenças transmitidas pelo Aedes aegypti.

Ou seja, possibilita o BPC em decorrência da deficiência causada pela doença do Zika, sendo posterior
ao salário maternidade, por três anos, diferente da regra geral, inclusive com diferenças probatórias.

7 – Beneficíos eventuais e serviços

O art. 22 da LOAS define os benefícios eventuais como provisões suplementares e provisórias que
integram organicamente as garantias do SUAS e são prestadas aos cidadãos e às famílias em virtude de
nascimento, morte, situações de vulnerabilidade temporária e calamidade pública.
Lei 8.742/93

Art. 22. Entendem-se por benefícios eventuais as provisões suplementares e


provisórias que integram organicamente as garantias do Suas e são prestadas aos
cidadãos e às famílias em virtude de nascimento, morte, situações de
vulnerabilidade temporária e de calamidade pública.

§ 1º A concessão e o valor dos benefícios de que trata este artigo serão definidos
pelos Estados, Distrito Federal e Municípios e previstos nas respectivas leis
orçamentárias anuais, com base em critérios e prazos definidos pelos respectivos
Conselhos de Assistência Social.

§ 2º O CNAS, ouvidas as respectivas representações de Estados e Municípios dele


participantes, poderá propor, na medida das disponibilidades orçamentárias das 3
(três) esferas de governo, a instituição de benefícios subsidiários no valor de até
25% (vinte e cinco por cento) do salário-mínimo para cada criança de até 6 (seis)
anos de idade.

O §1º apresenta a discricionariedade dos entes federativos em estipular os benefícios da maneira que
melhor auxilie a implementação a assistencial para casos específicos. No que tange aos serviços, o
art. 23 determina:

Lei 8.742/93

Art. 23. Entendem-se por serviços socioassistenciais as atividades continuadas que


visem à melhoria de vida da população e cujas ações, voltadas para as
necessidades básicas, observem os objetivos, princípios e diretrizes estabelecidos
nesta Lei.

Sendo assim, os serviços não são prestações pecuniárias, mas sim uma estrutura fornecida pelo SUAS
para prestar melhorias na situação da população. São relacionados com necessidades básicas. A
LOAS apresenta como prioridades na prestação desses serviços:
• As crianças e adolescentes em situação de risco pessoal e social;
• As pessoas em situação de rua.

Na assistência social brasileira, há ainda serviços de acolhimento, abordagem social,


assistência social no atendimento à microcefalia, calamidade pública, entre outros.
Finaciamento da Assistência Social
O financiamento da assistência social é proveniente do Fundo Nacional de Assistência Social (FNAS),
que foi instituído pela LOAS. A gerência do FNAS é de responsabilidade do Ministério de
Desenvolvimento Social, órgão que vincula o SUAS.

O CNAS é responsável pela estipulação das políticas nacional de assistência social, já estudado nesse
curso.

Há três fontes de financiamento da Assistência Social:


• Cofinanciamento dos entes federativos: recursos da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos
Municípios (Art. 28, §3º)
• Contribuições sociais da seguridade, dispostas no art. 195 da CF/88 (Art. 28);
• Fundo Nacional de Assistência Social – FNAS (Art. 29).

Lei 8.742/93

Art. 28. O financiamento dos benefícios, serviços, programas e projetos estabelecidos nesta lei far-se-á
com os recursos da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, das demais contribuições
sociais previstas no art. 195 da Constituição Federal, além daqueles que compõem o Fundo Nacional de
Assistência Social (FNAS).

§ 3º O financiamento da assistência social no Suas deve ser efetuado mediante cofinanciamento dos 3
(três) entes federados, devendo os recursos alocados nos fundos de assistência social ser voltados à
operacionalização, prestação, aprimoramento e viabilização dos serviços, programas, projetos e
benefícios desta política.

Art. 29. Os recursos de responsabilidade da União destinados à assistência social serão automaticamente
repassados ao Fundo Nacional de Assistência Social (FNAS), à medida que se forem realizando as
receitas.

Parágrafo único. Os recursos de responsabilidade da União destinados ao financiamento dos benefícios


de prestação continuada, previstos no art. 20, poderão ser repassados pelo Ministério da Previdência e
Assistência Social diretamente ao INSS, órgão responsável pela sua execução e manutenção.

Art. 30. É condição para os repasses, aos Municípios, aos Estados e ao Distrito Federal, dos recursos de
que trata esta lei, a efetiva instituição e funcionamento de:

I - Conselho de Assistência Social, de composição paritária entre governo e sociedade civil;

II - Fundo de Assistência Social, com orientação e controle dos respectivos Conselhos de Assistência
Social;
III - Plano de Assistência Social.

Parágrafo único. É, ainda, condição para transferência de recursos do FNAS aos Estados, ao Distrito
Federal e aos Municípios a comprovação orçamentária dos recursos próprios destinados à Assistência
Social, alocados em seus respectivos Fundos de Assistência Social, a partir do exercício de 1999.

Você também pode gostar