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Políticas Públicas de Assistência Social

- O termo política pode ser compreendido de duas formas: 1. Remete aos temas
clássicos, como eleições, votos, parlamento e governo; 2. Definição mais recente,
atribui o termo às ações executadas pelo Estado a fim de atender as demandas e
necessidades da sociedade.

- Política pública é a forma como a proteção social de responsabilidade do Estado se


caracterizou na Constituição Brasileira de 1988.

- A Constituição é concebida em conformidade com um modelo democrático-social.


Esse modelo teórico tenta conciliar dois grandes tipos de democracia: 1. a liberal,
protegendo as liberdades públicas contra os abusos de poder dos governantes; e 2. a
social, buscando eliminar desigualdades econômicas entre as condições de vida das
pessoas que integram a nação.

- A Constituição, a um só tempo, estabelece como objetivos da federação, entre outros


aspectos, garantir o desenvolvimento e erradicar a pobreza e as desigualdades sociais.

- A dimensão social ganha mais amplitude porque, ao mesmo tempo em que a


Constituição afirma a igualdade de todos perante a lei, também concede as ferramentas
para efetivá-la. Isso significa criar mecanismos que eliminem as desigualdades, e,
assim, assegurem a igualdade quanto aos direitos sociais.

- Os direitos sociais materializam-se por intermédio das políticas de proteção


social, que surgem como meio para responder às dificuldades individuais e como
importante ferramenta de controle e manutenção das classes trabalhadoras e de
expansão do capitalismo. Surgem, também, para assegurar renda mínima e
segurança às famílias nas situações de agravamento.

- Uma das formas que as políticas de proteção social tomaram e que se consolidou por
meio do conceito de políticas públicas foi muitas vezes creditada a ações do governo.

- As políticas públicas decorrem de processo histórico no qual se constituiu uma forma


específica de se exercer o poder político nas sociedades democráticas contemporâneas, a
saber, a mediação das necessidades de valorização e acumulação do capital e as
necessidades de manutenção da força de trabalho disponível. Somem-se a essa
dimensão histórica as influências das declarações dos direitos humanos.

- As políticas sociais são configurações de um formato de Estado que vigorou-se como


mediador político e econômico, assegurador de bens sociais e zelador do bem-estar
social. Esse modelo nem sempre vigorou, mas se viabilizou em um tempo histórico
específico no qual se trava a luta entre capital e trabalho.

- As políticas sociais são ações que favorecem a sociedade burguesa, são, portanto,
marcas do capitalismo.

- Esse tempo histórico é o século XIX, no qual se criam as primeiras legislações e


medidas de proteção social que têm lugar em alguns países da Europa, mas cuja
expansão só ocorre após a Segunda Guerra Mundial.
- Liberalismo -> Intervenção mínima do Estado

- Keynesianismo -> Associado ao taylorismo/fordismo, propiciou uma aliança entre o


capital, o trabalho e o Estado.

- Coube ao Estado controlar a economia, criar políticas públicas que favorecessem o


crescimento da produção e do consumo, garantir emprego pleno, complementar o
salário social, com gastos de seguridade social (educação, saúde e habitação).

- Com o keynesianismo, o mercado é capaz de assegurar a produção, o que implica


aplicação pelo Estado de meios infraestruturais para garantir as demandas dos setores
produtivos e o crescimento da produção.

- No início da década de 70, o capitalismo vivencia complexas transformações com o


esgotamento do ciclo de crescimento econômico ocidental. Trata-se da crise do Welfare
State.

- Crise do Welfare State -> Impossibilidade de se compatibilizar capitalismo e


equidade; acumulação e garantia de direitos políticos e sociais básicos.

- Crise de caráter econômico (tamanho do Estado), burocrático (centralização),


quebra do pacto político (capital e trabalho), perda da eficácia distributiva ->
Crise de caráter financeiro-fiscal (diminuição das receitas públicas, devido à crise
econômica, ocasiona a diminuição dos financiamentos para os programas sociais).

- Resposta à crise -> Reorganização do capital com o advento do neoliberalismo


(privatização do Estado, desregulamentação dos direitos do trabalhador,
reestruturação da produção e do trabalho).

- A partir da reorganização do capital (resposta à crise), emerge a desregulamentação de


mercados, pelo advento de formas de organização produtiva, como a subcontratação, a
terceirização, o pequeno negócio -> processo de reestruturação e flexibilização
associada a uma sofisticação tecnológica e organizacional.

Evolução da Política de Assistência Social

- Alguns países europeus iniciaram uma política de contenção de gastos de ajustes


fiscais, mas não conseguiram totalmente pôr fim à crise, pois o desemprego aumentava
e com ele a carência de medidas de proteção social.

- No Brasil e em toda a América Latina, o neoliberalismo chega depois.

- Construção histórica das políticas públicas no Brasil é marcada por três etapas: 1.
Relativa ao modelo de desenvolvimento do Brasil; 2. Marcada pelo fim da ditadura
militar; 3. Sustentada na ideia de reforma do Estado.

- Primeiras formas de Assistência no Brasil -> Trajetória marcada pela dependência ao


império lusitano na época da colonização do Brasil. Os índios e africanos eram
explorados pela sua força de trabalho, e disciplinados por meio da evangelização e
adequação aos costumes dos portugueses, o que era feito pelos jesuítas. Essa relação de
dependência constituiu-se como a primeira forma de assistência efetivada pela caridade,
sendo regida pelos princípios da Igreja católica.

- Desse modo, a assistência oferecida à sociedade foi, em princípio, encarada como uma
prática de caridade ou filantropia.

- Processo de formação dos direitos:


1. No século XVII, os direitos civis (igualdade e liberdade perante a lei) estavam
relacionados com os direitos da burguesia, de ir e vir, para exercer a sua força de
trabalho;
2. No século XIX, emergiram os direitos políticos, como resposta às dificuldades
enfrentadas pelos trabalhadores, na busca por seus direitos de participação na vida
política e no exercício do poder, antes reservada aos proprietários.
3. Os direitos, nos séculos XVIII e XIX, eram restritos aos proprietários e homens
livres, logo a outra parte da sociedade (escravos, mulheres, índios, crianças) era
excluída.
4. A partir desse processo de exclusão, a sociedade passa a lutar pela conquista dos seus
direitos. Assim, o surgimento dos direitos sociais, no século XX, foi um reflexo dessa
luta, em especial realizada pela classe trabalhadora.
5. Tais direitos refletem a luta pela garantia dos direitos à saúde, alimentação, habitação,
assistência, educação e melhor qualidade de vida para todos.

- A partir das lutas e conquistas dos trabalhadores, no século XX, o Estado ganha nova
configuração em relação à sua implicação na área social e pública. Nessa nova
configuração, a sociedade teve um papel importante na luta pela qualidade de vida e
garantia dos direitos, principalmente no período de 1980 e 1990.

- Tais movimentos políticos e sociais incluíram as lutas pela redemocratização do país,


os movimentos estudantis e docentes, o feminismo, as lutas pela anistia, o surgimento
da Nova República, a promulgação da Constituição de 1988, o ECA, entre outros
marcos essenciais.

- A partir dos embates políticos, ocorre a aprovação da Constituição de 1988. Com ela, a
participação da sociedade na “coisa pública” ganha novas dimensões, modificando-se as
formas centralizadas e autoritárias, o que representou grande avanço na democratização
do país e na garantia de direitos à população.

- No fim dos anos 80, paradoxalmente, o Brasil começa a sofrer as influências do


neoliberalismo (redução do Estado) e, por outro lado, amplia a proteção social garantida
constitucionalmente como direito social.

- No Brasil, é nesse contexto do fim de 80 e início de 90, que se configuram, a partir da


Constituição, as políticas de proteção social como políticas públicas de responsabilidade
do Estado.

- Políticas públicas são então compreendidas como políticas necessárias e fundamentais


para garantir os direitos assegurados às pessoas e à coletividade – saúde, educação,
segurança, habitação, lazer, assistência social, cultura.
- A Constituição é a lei geral que subsidia as ações em âmbito nacional, havendo
também as leis complementares, que ressaltam os aspectos específicos.

- A Constituição (art. 194) dispõe à respeito da Seguridade Social -> conjunto de ações,
por parte tanto do poder público quanto da sociedade, a fim de assegurar os direitos à
saúde, à previdência e à assistência social.

- Lei Orgânica da Seguridade Social (1991; nº. 8.212) -> Organização da Seguridade
Social, estabelecendo, entre seus princípios, a universalidade no atendimento e a
democratização e descentralização da administração, levando em conta a
participação comunitária.

- Com a entrada das políticas de assistência social no âmbito da seguridade social,


desfaz-se seu caráter assistencialista, e impõe-se o caráter de universalidade, de direito e
de obrigatoriedade do Estado.

- Quanto à assistência social, a Constituição (art. 203) estabelece que esta deve ser
prestada a todos que necessitem, independentemente de contribuir ou não à seguridade
social.

- Lei Orgânica da Assistência Social (1993; nº. 8.742) -> Estabelece a assistência
social como um direito de todos e dever do Estado, tendo como objetivos: proteção
à família, à maternidade, à infância, adolescência e velhice; amparo às crianças e
adolescentes carentes; integração ao mercado de trabalho; assistência às pessoas
com deficiência; garantia de um salário mínimo mensal como benefício à pessoa
com deficiência e ao idoso, desde que comprovem não possuir meios de manterem-
se ou de serem providos pela família.

- A assistência social une-se à saúde e previdência social, constituindo-se o tripé da


seguridade social, pautada pelos princípios do Bem-Estar Social.

- Leis Complementares:

1. Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA; 1990; lei nº. 8.069) -> Garantia de
direitos econômicos e sociais a serem assegurados à família, pela sociedade e pelo
Estado -> Direito à vida, saúde, alimentação, educação, lazer, profissionalização,
cultura, dignidade, respeito, liberdade, convivência familiar e comunitária, além de
colocá-los à salvo de toda forma de negligência, discriminação, exploração, violência,
crueldade e opressão.

- O ECA contempla um esquema de cooperação entre União, estados e


municípios, estendendo-se a organizações não governamentais e à sociedade
civil organizada. Essa articulação pressupõe uma rede de serviços de responsabilidade
compartilhada entre os entes políticos da federação.

- A Constituição de 1988 e o ECA criaram um Sistema de Garantias de Direitos


que se apoia em 3 eixos:
1. Promoção de Direitos: Visa à realização do direito; (Fazem parte do eixo
setores públicos, conselhos de direitos da criança e do adolescente e
conselhos setoriais).
2. Defesa: Visa à responsabilização no caso de omissão, falta ou oferta irregular
dos direitos por parte da família, do Estado ou da sociedade; (Ministério Público,
Ministério do Trabalho e Emprego, Conselho Tutelar, Defensoria Pública,
Centros de Defesa dos Direitos Humanos).
3. Controle Social: Visa ao acompanhamento e fiscalização do cumprimento dos
direitos; (Entidades da sociedade civil).

2. Política Nacional do Idoso (PNI; 1994; lei nº. 8.842) e o Estatuto do Idoso (2003; lei
nº. 10.741)

- PNI -> Prescreve que a família, a sociedade e o Estado têm o dever de assegurar ao
idoso todos os direitos da cidadania, garantindo sua participação na comunidade,
defendendo sua dignidade, bem-estar e direito à vida.

- Estatuto do Idoso -> Prescreve que as medidas de proteção são aplicáveis sempre que
os direitos reconhecidos naquela lei forem ameaçados ou violados por ação ou omissão
da sociedade ou do Estado, por falta, omissão ou abuso da família, do curador ou da
entidade de atendimento, e em razão de sua condição pessoal.

- No que diz respeito ao atendimento ao idoso, em especial nos serviços da política


pública de assistência social, este se desenvolve nos dois níveis de proteção social:
básica e especial (média e alta complexidade).

3. Lei Orgânica da Assistência Social (LOAS; 1993)

- “Política de Seguridade Social não contributiva, que provê os mínimos sociais,


realizada através de um conjunto integrado de ações de iniciativa pública e da
sociedade, para garantir o atendimento às necessidades básicas”.

- Princípios da LOAS:
1. Supremacia do atendimento às necessidades sociais;
2. Universalização dos direitos;
3. Respeito à dignidade e à autonomia dos cidadãos;
4. Igualdade de direitos;
5. Primazia da responsabilidade do Estado;
6. Participação da sociedade civil organizada;
7. Descentralização político-administrativa;

- Em 2003, realizou-se a IV Conferência Nacional de Assistência Social, que


impulsionou a efetivação das diretrizes estabelecidas pela LOAS, tendo sido
aprovada a construção e implementação do Sistema Único de Assistência Social
(SUAS) para operacionalizar a Política Nacional de Assistência Social (PNAS).

- A PNAS foi aprovada em 2004 e trouxe como projeto político a radicalização dos
modos de gestão e financiamento da política de Assistência Social.

- É a partir da LOAS que a assistência social (como uma política de proteção


social) oferece serviços, programas e projetos especializados para combater a
exclusão social e promover uma melhor qualidade de vida para os sujeitos.
- Ordenamento dessa assistência em rede, de acordo com os níveis de proteção
social e complexidade: básica e especial, de média ou alta complexidade.
- A construção da política pública de assistência social precisa ter em conta três aspectos
de proteção social: as pessoas, o contexto em que estão inseridas, e o seu núcleo de
apoio, a família.

- A PNAS possibilitou a análise dinâmica da realidade de diversos municípios e o


atendimento à população em situação de risco e vulnerabilidade.

4. Sistema Único de Assistência Social (SUAS; 1993)

- Modelo de gestão cuja configuração é descentralizada e participativa;

- Regula e organiza em todo território nacional a rede de serviços


socioassistenciais;

- Divide a gestão entre as três esferas: federal, estadual e municipal;

- Materializa, dá forma e concretiza a LOAS na operacionalização dos direitos


garantidos na Constituição e assegurados como mecanismos de proteção social;

- Efetiva-se por meio de serviços, programas, projetos e benefícios, cujo foco


prioritário é a atenção às famílias, seus membros e indivíduos;

- Define os elementos essenciais à execução da política de assistência social:


matricialidade sociofamiliar; descentralização político-administrativa e territorialização;
financiamento; controle social; participação popular; política de recursos humanos;
informação, monitoramento e avaliação.

- O SUAS é organizado segundo as referências:


1. Vigilância social: Produção, sistematização de informações e indicadores e
índices territoriais das situações de vulnerabilidade e risco pessoal e social que
afetam famílias e pessoas em diversos aspectos destas, e lhes impossibilita exercer
autonomia e integridade. Também se configura a vigilância sobre os serviços de
assistência social que operem na forma de albergues, abrigos, residências,
moradias provisórias.

2. Proteção social: Serviços de proteção básica e especial que devem garantir a


segurança de sobrevivência, segurança de convívio e segurança de acolhida.

3. Defesa social e institucional: Serviços devem garantir aos usuários o acesso ao


conhecimento dos direitos socioassistenciais e sua defesa.

- O SUAS estabeleceu dois níveis de atenção distintos:


1. Proteção Social Básica (baixa complexidade): Concretizado a partir do
equipamento público Centro de Referência de Assistência Social (CRAS) -> Oferta
de serviços continuados de proteção e de assistência social a famílias, grupos e
pessoas em situação de vulnerabilidade social.
- Atuação ocorre dentro da lógica do trabalho em rede, articulado, permanente,
reconhecendo a realidade local em sua complexidade e em suas possibilidades de
alteração.

- Psicólogo no CRAS -> Atuação voltada para a atenção e prevenção a situações de


risco, objetivando atuar nas situações de vulnerabilidade por meio do
fortalecimento dos vínculos familiares e comunitários e por meio do
desenvolvimento da autonomia e empoderamento dos indivíduos. Investe-se na
apropriação do lugar de protagonista do sujeito na conquista e afirmação dos seus
direitos.

2. Proteção Social Especial (média e alta complexidade): Concretizado a partir do


equipamento público Centro de Referência de Assistência Social Especializada
(CREAS).

Média complexidade -> Estes serviços envolvem a oferta de orientação e apoio


especializados e continuados de assistência social a indivíduos e famílias com seus
direitos violados, mas sem rompimento de vínculos.

Atuação do psicólogo na MC -> Atua de modo interdisciplinar, junto a indivíduos e


famílias, priorizando o trabalho coletivo e em rede; Escuta sobre a dimensão subjetiva
dos indivíduos, o que favorece seu desenvolvimento e autonomia; Deve procurar
compreender os processos psicossociais dos usuários e neles intervir.

Alta complexidade -> Serviços que garantem a proteção integral aos cidadãos,
individual ou coletivamente, no caso de famílias que se encontram em situações de
abandono ou com seus vínculos familiares e comunitários rompidos. Objetivam
oferecer moradia, alimentação, higienização e trabalho àqueles que não se
encontram mais em seu núcleo familiar.

- Conclusões:

1. Psicologia comprometida sociopoliticamente; prática voltada para a garantia e


restabelecimento de direitos; prática comprometida com a transformação social,
fortalecimento de indivíduos e superação das situações de vulnerabilidade.
2. Psicologia implicada com a questão social, não mais direcionada a uma prática
elitista;
3. Atuação pautada na compreensão da dimensão subjetiva dos fenômenos sociais e
coletivos, com o objetivo de problematizar e propor ações no âmbito social.
4. Perspectiva de apropriação do lugar de protagonista e do fortalecimento dos usuários
como sujeitos de direito;
5. Atuação pautada numa perspectiva crítica e contra-hegemônica.

- Problemas/Entraves da atuação:

1. Deficiências na formação superior (perspectiva clínica);


2. Falta de recursos para o serviço;
3. Falta de equipe consolidada e capacitada;
4. Desarticulação da rede;
5. Conhecimento reduzido;
Políticas Educacionais

- O processo de discussão no interior da Psicologia acerca das práticas biologizantes e


individualizantes vai tomando corpo em um momento político nacional bastante
propício para a discussão teórico-metodológica em uma perspectiva emancipatória e
enraizada na realidade social.

- Nessa época intensificam-se os movimentos sociais pela redemocratização do país;

- A Constituição de 1988 abre caminhos para a institucionalização de espaços


democráticos e para a recuperação de direitos civis e sociais. A ela seguem-se o ECA
(1990), a Declaração de Educação para Todos (1990), a Declaração de Salamanca
(1994) e a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (1996), importantes
iniciativas institucionais de introduzir mudanças estruturais nas relações sociais.

- É no bojo da redemocratização do Estado, da descentralização do poder para os


municípios e estados, que a educação passa a ter autonomia para planejar, implementar
e gerir suas políticas educacionais.

- A discussão crítica no campo da Psicologia Escolar insere um novo eixo de análise no


processo de escolarização: o papel das políticas públicas educacionais na constituição
do cotidiano escolar e do aluno que aprende, na relação do professor com a docência,
nas condições objetivas que permitem que a escola possa realmente cumprir as suas
finalidades sociais.

- É fundamental para que o psicólogo atue no campo da educação que ele conheça como
as políticas são implantadas, quais as questões postas pelos educadores com relação às
concepções e práticas, bem como as condições de trabalho para sua implementação.

- Dificuldades que precisam ser enfrentadas quanto à implementação de políticas


públicas em educação:
1. Manutenção de formas hierarquizadas e pouco democráticas de implementação
das políticas educacionais;
2. Desconsideração da história profissional e política dos atores educacionais;
3. Implantação de políticas educacionais sem a devida articulação com a necessária
infraestrutura para sua efetivação;
4. Manutenção de concepções à respeito de alunos e suas famílias, oriundos das
classes populares;
5. Desconhecimento das reais finalidades das políticas educacionais;
6. Aprofundamento da alienação do trabalho pedagógico;
7. Busca quase desumana de significado e sentido pessoal.

- Nos anos 1980, a constatação de práticas psicológicas adaptativas da criança em uma


escola que não correspondia às necessidades educativas fez com que muitas redes de
ensino retirassem psicólogos da área de atuação educacional para o campo da saúde.

- O argumento para essa transferência centrou-se no fato de que os psicólogos atuavam


em uma prática clínica e diagnóstica e não educacional.
- Não obstante, a noção de saúde no trabalho do psicólogo estava vinculada à
perspectiva médico-assistencial; este fato enfraqueceu outras áreas de atuação existentes
na Psicologia, a exemplo da área educacional.

- As discussões desencadeadas na década de 1980 desembocaram na articulação


nacional que norteou a elaboração das Diretrizes Curriculares para o Curso de
Graduação em Psicologia, cujas ideias são discutidas na nova Lei de Diretrizes e Bases
da Educação Nacional (LDBEN).

- As Diretrizes comparecem no cenário nacional em 2004, trazendo mudanças


significativas em relação ao Currículo Mínimo. Dentre as inovações previstas, destaca-
se a ruptura com a concepção de áreas de atuação profissional no interior da formação.
As áreas tradicionais deveriam ser substituídas por “ênfases curriculares”.

- A Psicologia no campo da educação tem construído elementos pautados numa


perspectiva crítica. Tal construção se baseia no tripé: a) compromisso com uma
escola democrática e com qualidade social; b) ruptura epistemológica em relação à
visão adaptacionista; c) construção de uma práxis psicológica frente à queixa
escolar.

- Como aproximar essas práticas com os desafios das Diretrizes Curriculares em


Psicologia?
Construção de um perfil crítico e comprometido com a transformação das condições
sociais e de trabalho que permeiam o contexto escolar e educacional, articulando-se
coletivamente e defendendo a utilidade das intervenções.

- Atuação do psicólogo nas políticas educacionais -> Construção de estratégias que


favoreçam políticas públicas vinculadas à experiência concreta de coletivos;

- Estratégia -> Humanização como política pública que deve criar espaços de
construção e troca de saberes, investindo nos modos de trabalhar em equipe. A partir
desse processo, os sujeitos mobilizados são capazes de transformar realidades e
transformarem a si mesmos.

- Democracia como política pública, ou seja, de interferência coletiva, que se exerce nos
movimentos sociais, nas organizações de classes, e também no cotidiano de vida e
trabalho nas instituições sociais.

- A participação da Psicologia é vital nesse momento em que se encontra a escola


brasileira, sob o risco de continuarmos formando gerações de excluídos, de adolescentes
e jovens que, por não se apropriarem do conhecimento socialmente acumulado, estarão
à mercê das ideologias e do avanço do capital e cada vez mais distantes dos direitos
sociais, da melhoria da condição de vida e da construção de uma educação
emancipatória e cidadã.

- A participação do psicólogo no campo legislativo das políticas educacionais deve


considerar alguns princípios:
1. Dimensão institucional de sua atuação: Coletivização das práticas e envolvimento
de diversos setores e atores educacionais;
2. Realização de atividades de cunho interdisciplinar e multiprofissional, articulando
várias esferas (escola – comunidade – redes de apoio e de produção de saúde e
cultura).
3. Elaboração do PPP da escola;
4. Fortalecer a elaboração de políticas públicas que de fato se articulem com as
finalidades emancipatórias da educação escolar;
5. Formação permanente dos profissionais que atuam na educação (conhecimento e
atualização do campo);
6. Ampliar a articulação das equipes escolares, levando em conta a construção
coletiva e o PPP como instrumento de democratização das práticas escolares.

Políticas Públicas de Saúde

- O SUS resultou de um longo processo de mobilização por parte da população.

- SUS (Sistema Único de Saúde) -> 1990 (Lei nº. 8.080)

- Foi fundamental nesse processo a VIII Conferência Nacional de Saúde (1986), que
pautou a inclusão da saúde como direito no novo texto constitucional.

- Constam na Constituição os princípios básicos do SUS, reiterados na Lei Orgânica da


Saúde (1990) e operacionalizados por meio de Normas Complementares (NOBS) e de
elaboração de políticas específicas.

- Princípios que norteiam o SUS:


1. Universalidade -> Assegura o direito de acesso aos serviços a todos os cidadãos,
em todos os níveis de complexidade: atenção básica, ambulatorial e de alta
complexidade, fornecida por hospitais gerais e especializados.

2. Integralidade -> Sustentada no pressuposto de que a atenção deve contemplar as


diferentes dimensões do processo saúde-doença e o fornecimento de ações e
serviços que garantam a promoção da saúde, e a proteção, cura e reabilitação.

3. Equidade -> Visa à oferta de ações promotoras de saúde, de modo a considerar


necessidades específicas de cada segmento da população.

- Quatro diretrizes organizativas:


1. Descentralização -> Ênfase na responsabilidade dos municípios na prestação
direta dos serviços.

2. Regionalização -> O desenho organizacional é completado pela regionalização


dos serviços, tendo em vista as diferenças regionais quanto aos recursos
assistenciais.

3. Hierarquização -> Visa estabelecer fluxos assistenciais entre níveis de atenção.

4. Participação comunitária (ou controle social) -> Se concretiza por meio das
conferências de saúde e dos conselhos de saúde, ou seja, pela intervenção direta na
gestão de sistemas e serviços de saúde.
- Análise do princípio da Integralidade:
Obedece a três dimensões, segundo Rubem Mattos (2001):

1. Como característica das práticas dos profissionais de saúde: Aqui, a integralidade


implica compreender os usuários dos serviços de saúde como pessoas com corpos,
afetos, sentimentos, com uma história, que vivem em determinados contextos de
vida. Assim, a integralidade requer práticas de cuidado ampliadas, que
ultrapassam ações apenas de eliminação de sintomas.

2. Como organizadora do modo de funcionamento das equipes e dos serviços: É


preciso compreender o conjunto das necessidades dos usuários e fazer dessas a
prioridade do serviço. Ou seja, criar meios para que o cuidado integral em saúde
ocorra.
3. Como um dos elementos fundamentais das políticas de saúde: O princípio da
integralidade também procura garantir que as políticas de saúde tenham um foco
ampliado, respondendo às demandas de diferentes grupos específicos. Para tanto, é
preciso que os governos criem políticas específicas.

- Humanização em saúde -> Centralidade do humano em todas as ações de saúde,


incluindo também as políticas públicas.

- Embora a humanização das práticas de saúde possa ser considerada um desdobramento


do princípio da integralidade, foi formulada e aprovada a Política Nacional de
Humanização da Atenção e da Gestão na Saúde (2003).

- Essa política tem caráter transversal, pois perpassa todas as políticas e programas de
saúde, a fim de efetivar os princípios do SUS no cotidiano das práticas de atenção e de
gestão.

- A composição das equipes de trabalho na atenção básica, em serviços de média e alta


complexidade e na vigilância em saúde, é feita de forma a agrupar profissionais com
diferentes saberes, tais como: médico, enfermeiro, assistente social, psicólogo,
psiquiatra, odontólogo, nutricionista, educador físico, agentes de saúde e fisioterapeuta.

- Tipos de Equipes:
1. Multidisciplinar: Realiza atividades diretamente relacionadas à sua formação
disciplinar, sem interferir na ação um do outro; não estabelece condutas comuns.

2. Pluridisciplinar: Semelhante à multi, mas é possível perceber algum grau de


colaboração entre os profissionais na execução dos serviços.

3. Interdisciplinar: Realiza trabalho integrado, com articulação entre os diversos


saberes, com trocas contínuas; envolve mais horizontalidade e menos hierarquização
entre os diferentes profissionais.

4. Transdisciplinar: Não há fronteira entre as disciplinas.

- A atenção à saúde necessita de equipes interdisciplinares.


- Constituição de equipes de referência e de apoio matricial -> Na perspectiva de
trabalho interdisciplinar, matriciar é compartilhar práticas, atuar em rede e
intersetorialmente. Trata-se de um procedimento fundamentado na clínica
ampliada, já que se considera que nenhum especialista pode assegurar, de modo
isolado, um atendimento integral.

- Atuação do psicólogo nas políticas de saúde -> Profissional capacitado para


abordar questões subjetivas; Identificam como ideias, crenças, sentimentos e
pensamentos são parte dos processos de prevenção e tratamento; Atuam na
humanização do atendimento e na qualificação das relações.

- Fatores que contribuíram para que os serviços de saúde se tornassem opções para o
trabalho do psicólogo:
1. Reconfiguração do conceito de saúde, que incorporou aspectos sociais e subjetivos;
2. Priorização da Atenção Básica;
3. Definição da Estratégia de Saúde da Família como eixo central à atenção à saúde.

- É fundamental formar profissionais capazes de compreender a complexidade do


campo da saúde e de desenvolver estratégias de atuação em consonância com os
princípios do SUS.

- O próprio SUS incluiu em suas diretrizes a formação profissional em duas vertentes


principais: 1. Formação permanente, para os profissionais que atuam no sistema; e 2.
Programas de formação para graduandos e recém-graduandos.

- Por que o SUS é considerado um sistema?

O SUS é um modelo reconhecido internacionalmente, e é resultado de todo um


processo democrático de discussão das necessidades da população brasileira, o que
envolve diversos atores sociais. Seus princípios e diretrizes buscam viabilizar a
atenção integrada à saúde, possibilitar o acesso universal e garantir a equidade por
meio da formulação de políticas setoriais. Esse sistema está em permanente
processo de construção, formulando novas políticas e fomentando a participação
comunitária nos conselhos de saúde e ações de formação profissional.

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