O documento discute a evolução do conceito de transferência na psicanálise, desde Freud até Lacan. Inicialmente, Freud conceituou a transferência como uma repetição de experiências infantis vividas com intensidade no presente. Posteriormente, Lacan postulou que a transferência se baseia no "sujeito suposto saber", a suposição de que o analista detém o saber do paciente. Por fim, o documento aborda como o amor de transferência pode representar um desafio ético para os analistas.
O documento discute a evolução do conceito de transferência na psicanálise, desde Freud até Lacan. Inicialmente, Freud conceituou a transferência como uma repetição de experiências infantis vividas com intensidade no presente. Posteriormente, Lacan postulou que a transferência se baseia no "sujeito suposto saber", a suposição de que o analista detém o saber do paciente. Por fim, o documento aborda como o amor de transferência pode representar um desafio ético para os analistas.
O documento discute a evolução do conceito de transferência na psicanálise, desde Freud até Lacan. Inicialmente, Freud conceituou a transferência como uma repetição de experiências infantis vividas com intensidade no presente. Posteriormente, Lacan postulou que a transferência se baseia no "sujeito suposto saber", a suposição de que o analista detém o saber do paciente. Por fim, o documento aborda como o amor de transferência pode representar um desafio ético para os analistas.
O presente artigo tem o objetivo de fazer um percurso histórico acerca do conceito da
transferência na psicanálise apontando suas principais transformações e articulação com a própria mudança da técnica analítica. Tal percurso tem caráter essencialmente superficial, sem aprofundamentos acerca do tema supracitado, pois tais aprofundamentos demandariam não apenas mais conhecimento, como também mais espaço para instalar debates e ideias acerca desse aspecto da técnica psicanalítica. Dessa forma, convido-os a caminhar pelos principais pontos chave que marcaram o trajeto da transferência no contexto analítico.
Antes de começarmos a falar deslocamento, de substituição de um
sobre a transferência no contexto da lugar para outro (Nunes, 2004). psicanálise, é importante termos em Diante disso, mesmo que a mente que a transferência não é um transferência tenha sido trabalhada por termo específico da psicanálise, não é Wilhelm Stekel, num estilo estritamente um domínio desta. O conceito da descritivo, é com Freud que este conceito transferência é utilizado em diversos entra de fato nos caminhos trilhados pela campos, entretanto tendo sempre em psicanálise. Nesse sentido, Freud vem comum uma denotação de transporte, de conceituar a transferência no âmbito psicanalítico "como uma repetição de utilize de palavras em sua manifestação, protótipos infantis vividos com uma e é então surpreendido quando ele se sensação de atualidade acentuada" apresenta em forma de afeto, de (Laplanche & Pontalis, 1992, p. 514). transferência (Elia, 1999).
A partir de então, se torna um Estaria aí então justificada como
consenso dos psicanalistas que a a transferência se configurou a mola transferência é o modus operandi da mestra da terapia analítica, pelo seu psicanálise, a mola mestra da cura, seu caráter de ser um modo de acesso a ideias motor terapêutico e o próprio princípio e afetos inconscientes. A transferência de seu poder (Miller, 2002). É então a seria, de acordo com Lacan, uma partir dessa colocação que podemos nos atualização da realidade do inconsciente, questionar, de que forma a transferência que tem seu valor porque permite ver o passou a ocupar um lugar tão importante funcionamento de um mecanismo na psicanálise? inconsciente na própria atualidade da sessão (Miller, 2002). Sigmund (1912) vem nos trazer que fenômeno da transferência toma Dito isso, não é apenas o saber do forma quando a catexia libidinal de inconsciente, a psicanálise, que exige a alguém que se acha parcialmente transferência como modo de acesso. Pois insatisfeito dirige-se a protótipos, e, no como o já salientado, a transferência caso do analista, incluindo o médico perpassa todos os aspectos do humano, numa série psíquica já formada pelo logo, todo saber sobre quaisquer paciente. Dessa forma, ela é estabelecida fenômenos da natureza, da vida ou do não só por ideias antecipadas homem, se contamina de transferência, conscientes, mas também por aquelas de igual modo (Beividas, 1999). que são inconscientes. É importante também entender a Ao estabelecer a regra transferência quando manifesta na mais fundamental da psicanálise – a poderosa resistência ao tratamento, isto associação livre –, Freud então é, quando a ideia transferencial penetrou qualificava o sujeito do inconsciente e o na consciência à frente de quaisquer convocava a aparecer. O interessante é o outras associações possíveis pois ela que acontece depois que ele convoca o satisfaz a resistência. Esse evento não se sujeito, quando se espera que este se perde na análise, pelo contrário, ele se inéditas. E que formulações seriam repete inúmeras vezes (Sigmund, 1912). estas? (Miller, 2002).
É então quando se aproxima de Lacan então postula o que chama
um complexo patogênico, que a parte sujeito suposto saber que seria para ele o desse complexo capaz de transferência é pivô no qual se articula tudo o que se empurrada em primeiro lugar para a relaciona com a transferência, onde a consciência e defendida com a maior suposição de que o analista está de posse obstinação, é aqui que a transferência do saber que lhe concerne, e como resistência mais poderosa atinge o progressivamente descobre que não é seu ápice (Sigmund, 1912). Dito de outra assim e é isso que fornece uma base para forma, a transferência quando se a análise. Lacan funda então a manifesta em resistência aparece como transferência no próprio dispositivo da uma formação de compromisso: ela cura, no qual o sujeito suposto saber seria assinala que o inconsciente foi atingido. uma consequência direta desse Imediatamente ela pode, então, se procedimento, seria o princípio manifestar através de uma infração à constitutivo da transferência (Miller, regra fundamental da psicanálise: um 2002). silêncio do paciente (Miller, 2002). Outro aspecto da transferência Depois que, com muito trabalho, bastante conhecido não só no dito meio essa forte expressão de resistência for popular, mas é também um ponto vencida, há uma tendência para que se comum de discussão para os teóricos atinja pouco a pouco uma situação na psicanalistas. De forma geral, o amor de qual, finalmente e inevitavelmente, todo transferência se dá quando uma paciente conflito tem de ser combatido na esfera demonstra, mediante indicações da transferência (Sigmund, 1912). indiretas, ou declara abertamente que se Avançando um pouco mais, os apaixonou pelo médico que a está psicanalistas estão sempre se articulando analisando (Sigmund, 1996). com os termos que Freud nos deixou, Dito isso, é importante salientar sempre voltando a ele. Lacan também antes de entrar numa discussão mais voltou ao texto de Freud, mas com o voltada para o âmbito psicanalítico que tempo, operou de tal forma sobre ele que essas situações consistem também em fez surgir uma temática, uma um conflito ético para os psicólogos, na conceituação e até uma formulação medida em que o amor de transferência capacidade de amor acha-se prejudicada pode se constituir como algo de interesse por fixações infantis, deve adquirir pleno pessoal para o psicanalista, prejudicando controle de uma função que lhe é de tão a sua competência no seu desempenho inestimável importância; que ela não enquanto profissional e colocando em deve, porém, dissipá-lo no tratamento, risco a pessoa com quem ele desenvolve mas mantê-la pronta para o momento em a análise (Panizza, 2011). que, após o tratamento, as exigências da vida real se fazem sentir” (Sigmund, Dessa forma, o médico precisa 1996). não perder de vista que o fenômeno significa um esclarecimento valioso e Dito de outra forma, não só nos uma advertência útil contra qualquer contextos onde o amor de transferência tendência a uma contratransferência que se instala, mas também nas mais diversas pode estar presente em sua própria situações provocadas pela análise, o mente, ele deve saber que tal fenômeno é psicanalista sabe que está lidando com induzido exclusivamente pela situação forças altamente explosivas. Ele precisa analítica (Sigmnd, 1996). avançar com muita cautela, tanto quanto ou mais do que um químico age em seus Logo, “motivos éticos unem-se experimentos científicos (Sigmund, aos técnicos para impedi-lo de dar à 1996). paciente seu amor. O objetivo que tem de manter em vista é que a essa mulher, cuja Referências
Beividas, W. (1999). Pesquisa e transferência em psicanálise: lugar sem
excessos. Psicologia: reflexão e crítica, 12(3), 00-00.
Elia, L. (1999). A transferência na pesquisa em psicanálise: lugar ou
excesso?. Psicologia: Reflexão e Crítica, 12(3), 00-00.
FREUD, S. (1996). Observações sobre o amor transferencial (Novas
recomendações sobre a Técnica da Psicanálise III (1915 [1914]). Obras completas, 173- 187.
Laplanche, J., & Pontalis, J. B. (1988). Vocabulário da psicanálise.
In Vocabulário da psicanálise. Martins Fontes.
Miller, J. A. (2002). A transferência de Freud a Lacan. Percurso de Lacan: uma
Introdução. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed, 55-71.
Nunes, M. R. M. (2004). Psicanálise e educação: pensando a relação professor-
aluno a partir do conceito de transferência. COLOQUIO DO LEPSI IP/FE-USP, 5.
Panizza, E. (2011). Amor de transferencia.
Sigmund, F. R. E. U. D. (1912). A dinâmica da transferência. Edição Standard
Brasileira das obras completas de. Rio de Janeiro.