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CURSO: FUNDAMENTOS DA PSICANÁLISE: teoria e clínica

TURMA: LONDRINA – 2022

ALUNO: Giuliano Almeida Gallindo

MÓDULO: AMBIENTAÇÃO – TÓPICOS INTRODUTÓRIOS EM PSICANÁLISE

INCONSCIENTE E REPETIÇÃO
A proposta desse trabalho é falar sobre a Repetição, partindo de Freud em sua
publicação de 1914, Recordar, repetir e elaborar e explora-la de forma a complementar seus
pensamentos relacionando a publicação O inconsciente de 1915.
Freud relata que os caminhos levavam a compreender que a tarefa central do trabalho da
Psicanálise é a de tentar descobrir o que o paciente deixava de recordar, nesse caso a partir da
associação livre, técnica que ele reforça a sua importância na publicação de 1914..
Ao falar sobre a associação livre, Freud diz que há certos casos que se comportam como
sob a técnica hipnótica até certo ponto, e mais tarde deixam de fazê-lo, mas outros conduzem-
se diferentemente desde o início do tratamento. Para esse segundo, diz que o paciente não
recorda coisa alguma do que esqueceu e reprimiu, mas expressa-o pela atuação ou atua-o (acts
it out), reproduz não como lembrança, mas como ação, repete, sem saber que está repetindo
(Freud, 1914).
Freud fala que o paciente pode apresentar essa repetição nos sonhos, na transferência e
através da resistência. Desse último ele diz “quanto maior a resistência, mais extensivamente
a atuação (acting out) substituirá o recordar” (Freud, 1914). São as repetições dessas ações
que nos permitirão percorrer caminhos familiares até o despertar da lembrança do paciente,
para além da resistência. A repetição em sua verdadeira natureza, está sempre velada na
análise, pela sua identificação com a transferência. A transferência aparece como fragmento
da repetição, uma transferência do passado esquecido. O papel da resistência também é
facilmente identificável, pois quanto maior for a resistência, mais extensivamente o acting out
substituíra o recordar.
O autor diz que o analista precisa estar preparado para descobrir que o paciente se
submete à compulsão a repetição, que agora passou a substituir o impulso a recordar, em cada
atividade e relacionamento que ocupe sua vida na ocasião. E o que se repete? De alguma
maneira se repetem contéudos já conhecidos, eles aparecem sem dificuldades, após a
resistência ter sido superada. O paciente repete sob condições da resistência, tudo o que
avança a partir das fontes do reprimido (Inconsciente) para sua personalidade manifesta, suas
inibições, suas atitudes inúteis e seus traços patológicos de caráter. Repete também todos os
seus sintomas no decurso do tratamento.
O repetir, induzido no tratamento analítico, implica evocar um fragmento da vida real,
são esses conteúdos que o paciente precisa direcionar sua atenção, os fenômenos de sua
moléstia. Freud acredita, nesse momento, que o instrumento principal para reprimir a
compulsão do paciente à repetição e transformá-la num motivo para recordar reside no
manejo da transferência. A partir desse processo tornamos a compulsão inofensiva e útil,
concedendo-lhe um campo definido. A transferência serviria como esse ambiente onde será
possível apresentar tudo que diz respeito a instintos patogênicos, que se encontram ocultos na
mente do paciente (Freud, 1914).
Através do processo de análise alcançaremos sucesso em fornecer a todos os sintomas
um novo significado transferencial e em substituir sua neurose comum por uma ‘neurose de
transferência’, que poderá ser curada através do trabalho terapêutico. As resistências serão
superadas com auxílio do analista ao revelá-las, familiarizar o paciente com ela, ao terapeuta
então, o que resta é esperar e deixar as coisas seguirem seu curso, em seu tempo.
Na produção O inconsciente, Freud revela em detalhes pela primeira vez a estrutura do
que ele passa a chamar de aparelho psíquico, deixa claro que esta, nada tem a ver com a
estrutura neurológica até então conhecida. Aqui ele fala em uma formação mental composta
por diferentes camadas e fatores que funcionam de maneira similar, simultânea e em
constante troca.
Freud se questiona sobre o curso que os procesos conscientes tomam, e problematiza a
partir disso, de onde as ideias surgem? Qual a sua origem? A conclusão a que chega é a de
que nem tudo que ocorre na mente deve ser conhecido pela consciência, há possivelmente
uma parte inconsciente, que só tomamos conhecimento após ter sofrido transformação.
Utilizando o termo latência, ele diz que todo o nosso conhecimento encontra-se nesse estado,
pronto para podermos tomar conhecimento. Para ele a única diferença entre os estados
latentes e o de consciência é a ausência de consciência no primeiro (Freud, 1915).
A “consciência inconsciente”, o estado mental latente, indica a existência de atos
psíquicos que carecem de consciência, e que a busca do nosso aparelho psíquico é por
reconhecer os objetos internos como menos nocívos que os externos. Para Freud, o
inconsciente abrange atos meramente latentes, também processos reprimidos. Ele diferencia
esses estados mentais em dois, subdividindo-os em 3. Consciente (Cs); Pré-Consciente (PCs);
Inconsciente (Ics). Acredita assim que os conteúdos transitam entre esses 3 sistemas, porém
há uma censura em cada passagem de “nível”. Tudo aquilo que não passa por essa censura,
fica reprimido no estádo ICs, aquilo que passa pela censura poderá se tornar Cs, desde que, a
censura do PCs assim autorize. A essa divisão Freud deu o nome de “topografia psíquica”.
Sobre a transição da imagem (o autor usa diferentes nomes para se referir aos conteúdos
que transitam entre as camadas do aparelho psíquico) entre os diferentes sistemas, ele acredita
que ela sempre irá formar um novo registro, visto que há atuação de censura nesses processos.
Apenas a ideia que representa o instinto é que se torna consciente, novamente é importante
ressaltar, que isso é repetidamentte igual em todos os níveis. Ações e atitudes que parecem ser
vistas como impulsivas, são na verdade impulsos mal interpretados. A verdadeira finalidade
da repressão é suprimir o desenvolvimento do afeto, ou seja, controlar a forma como os afetos
tornam-se conscientes, e assim seus efeitos. Os afetos são formados a partir de forças
operativas que misturam os sistemas, nesse ponto, Freud (1915) remete a primeira vez a ideia
da líbido. Na repressão há uma ruptura entre o afeto e a ideia consciente.
Freud nesse momento apresenta energia mental sob o termo catexia, ele diz que a
repressão portanto é uma retirada da catexia. Ela pode se dar no tipo de retenção, substituição
ou mesmo retirada. Toda transição de ideia entre os sistemas passa por transformação, por um
processo de teste. E a isso ele chama de anticatexia, pensando na topografia do aparelho
mental, se a ideia percorre 3 sistemas, ela irá passar por 2 momentos de censura, onde o
primário (passagem do Ics para Pcs) sofre a retirada da catexia, e no segundo uma anticatexia,
uma nova significação do conteúdo para por fim apresentá-lo ao Cs. A isso é dado o nome de
Metapsicologia, uma ciência que estuda o ser humano e seu funcionamento mental de modo
dinâmico, topográfico e econômico (energético), conforme Freud, 1915.
Sobre a repressão, o autor diz que ela esta presente nas 3 diferentes neuroses de
transferência. A histéria da ansiedade, quando a catexia libidinal da ideia rejeitada é
descarregada sob forma de ansiedade, ela busca na segunda fase dominar o desenvolvimento
do processo, a anticatexia vinda do Cs leva a formação do subtituto. E na 3ª fase o processo
encontra finalidade posterior na tarefa de inibir o desenvolvimento da ansiedade proveniente
do substituto. Quando uma pequena liberação de desprazer atua como sinal para impedir uma
liberação maior podemos ter o desenvolvimento da Fóbia, ela se da na totalidade da
construção da muralha em torno da ideia substitutiva (Freud, 1915).
O papel da anticatexia nos outros dois tipos de neurose são explicavéis como sendo uma
inervação do sintoma, para a neurose de conversão, ou seja, o sintoma se instaura no nível Cs.
E para a meurose obsessiva podemos perceber a predominancia de anticatexia e ausência de
recarga, a formação de reação a ideia inconsciente, tentando barrá-la de tornara-se ICs.
No núcleo do ICs temos representantes instintuais que procuram descarregar sua
catexia. Impulsos, carregados de desejo e que foram censurados em seus processos de
movimentação. A negação aparece como um substituto em grau mais eleado da repressão. Ou
seja, no inconsciente só há conteúdo catexizado, e seus processos são intemporais (Freud,
1915).
Freud explica que atenção é uma energia catexial móvel que se mostra a disposição do
PCs, ou mesmo do aparelho mental como um todo. A primeira censura é contra o
inconsciente, e posteriormente contra seus derivados no PCs. Tornar-se consciente é uma
hipercatexia, avanço na organização psíquica, chegando até o nível do conhecimento. O ICs
também é constituido por todas as informações externas, a censura para ele, ocorre apenas no
que sai. E finaliza: Se existe nos humanos formações mentais herdadas – algo análogo ao
instinto nos animais – elas constituem o núcleo do ICs. Junta-se o que foi descartado durante
o desenvolvimento da infância como sendo inútil (Freud, 1915).
O que podemos perceber nos dois textos é a apresentação de Freud sobre o Aparelho
Psíquico, seus atos e conteúdos que os compõe. Esses 2 textos, que podem ser vistos ainda
como primários na obra Freudiana são dignos de grande atenção. A estrutura de aparelho
psíquico apresentada por Freud, dividida em ICs, PCs, e Cs, com todos outros nomes que
posteriormente veio a ganhar, ou ser classificada, ela marca a separação clara entre estados
mentais, revelando-os tão complexos e completos em todos os níveis de “consciência”. O
tema da repetição é facilmente encaixado na leitura acerca do inconsciente, pois de maneira
simples, podemos afirmar que se repetem todos aqueles conteúdos, afetos, atos, ações,
impulsos, tudo aquilo que advem do inconsciente, e que, a partir do processo de censura
tornar-se-ão conscientes ou passíveis de serem.

REFERÊNCIAS
FREUD, S. O Inconscientes Em Edição Standard Brasileira das Obras Psicológicas
Completas de Sigmund Freud [ESB]. v. XIV. Rio de Janeiro: Imago, 1996.
FREUD, Sigmund. Recordar, repetir e elaborar (1914). Em Edição Standard Brasileira das
Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud [ESB]. v. XII. Rio de Janeiro: Imago, 1996.

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