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CONTRATRANSFERÊN Psicanalítica -
D. Zimerman
CIA
EPÍGRAFE
Bion (1963)– em seus trabalhos com grupos que ele realizava na década
de 40, fundamentado naquelas ideias kleinianas – fez a importante
observação de que a identificação projetiva, mais do que uma mera
descarga de sentimentos intoleráveis, conforme enfatizava M. Klein,
também tinha a função de uma forma de comunicação primitiva, não
verbal, por meio dos efeitos contratransferenciais.
CONTRATRANSFERÊNCIA COMO
FERRAMENTA
No entanto, um estudo mais sistemático e consistente do fenômeno
contratransferencial surgiu somente 40 anos após a primeira menção de
Freud, a partir de dois analistas também kleinianos, P. Heimann, na
Inglaterra, e H. Racker, na Argentina, os quais, sem que um soubesse do
outro, quase que simultaneamente apresentaram trabalhos em que
destacavam a possibilidade de o analista utilizar a sua
contratransferência como um importante instrumento psicanalítico,
especialmente para a sua função de interpretação, sendo que ambos
distinguiram esse uso útil daquilo que pode ser uma resposta
contratransferencial patológica.
RESPOSTA EMOCIONAL AO PACIENTE
Não resta dúvida de que Racker foi o autor que mais consistentemente
estudou e divulgou o fenômeno contratransferencial. Há registros que
atestam a sua primeira apresentação referente ao tema na Sociedade
Psicanalítica de Buenos Aires, em 1948, que, no entanto, somente foi
publicado após alguns anos.
Muitos apontam para o risco de que tudo o que o analista venha a sentir
seja atribuído às projeções do paciente, o que nem sempre seria uma
verdade.
O que acontece é que ele fica impregnado com as maciças cargas das
identificações projetivas do paciente e fica sendo, passivamente, dirigido
a sentir e a executar determinados papéis que o paciente “colocou” e
despertou dentro do terapeuta.
TRÍPLICE ASPECTO DA
CONTRATRANSFERÊNCIA
Na atualidade, predomina entre os psicanalistas a aceitação do tríplice
aspecto da contratransferência:
“Há muitos anos – após um importante êxito que uma paciente obtivera
na sua vida profissional, graças ao que me parecia ser fruto de uma
exaustiva análise dos fatores inibitórios que antes a vinham impedindo
de ser bem-sucedida, para uma enorme perplexidade e desconcerto
inicial de minha parte, ela começou a me fazer fortes acusações, dizendo
que “apesar de você, de seus boicotes contra o meu crescimento, de sua
descrença em minhas capacidades [...] minha tese foi aprovada e eu fui
promovida [...]”.
EXEMPLO
Caso o analista não possua essa condição, torna-se bem provável que ele
vá preencher o vazio de sua ignorância com pseudo-interpretações que
visam mais a aliviar a ele mesmo do que qualquer outra coisa.
Quando isso ocorre – o que não é nada raro – o analista trabalha com
um grande desgaste emocional, é invadido por sentimentos contra
(oposição) o paciente, por um estado de confusão e de impotência,
podendo levá-lo a cometer contra-actings, somatizações e inadequadas
interpretações, do tipo “superegóico”.
De alguma forma, toda essa situação corresponde e deriva daquilo que
Racker conceituou como “contratransferência complementar”.
TERROR SEM NOME
Bem mais adiante na sessão, ao falar da sua esposa e filha, esse paciente
exclamou que elas estão comendo demais, que estão engordando, e que
não sabe mais o que fazer com elas, que está temeroso de que elas
adoeçam, atribuindo isso a um hábito de muitas pessoas tentarem sair de
um estado de angústia e de depressão por meio de comer demasiado.
Fica evidente o quanto o paciente ligou o conceito de fome com o de
depressão, de forma que o seu comentário inicial de que a “analista
deveria estar com fome” traduz a sua sensação de que poderia estar
deprimida".
Nesse caso não se trata de uma estafa, sono atrasado ou algo equivalente,
porquanto as sessões seguintes com outros pacientes decorrem
normalmente.
SONOLÊNCIA
Nem tudo que o analista sente ou pensa deve ser significado como sendo
uma contratransferência promovida pelo paciente. Tal recomendação
vale principalmente para aqueles que, diante de qualquer dificuldade na
situação analítica, logo responsabilizam “a minha contratransferência
me impediu de...”.
A contratransferência costuma surgir em uma dessas três possibilidades:
a) em relação à pessoa do paciente; b) em relação ao material clínico que
o paciente esteja narrando e sentindo; c) à reação que o paciente esteja
manifestando de forma negativa em relação ao analista.
Deve ficar bastante claro para todos nós que os difíceis sentimentos
contratransferenciais não são exclusivos dos analistas iniciantes, como
equivalentes às conhecidas “dores do crescimento”. Qualquer analista,
por mais veterano e experimentado que seja, também está sujeito a isso;
no entanto, a provável diferença é que esses últimos têm mais facilidade
de não ficar envolvido de forma patológica, pelo contrário, é bem
possível que consiga transformá-la em empatia.
Os seguintes fatos justificam a importância da contratransferência no
campo analítico:
[...] a opinião de que o analista não seja afetado por estas experiências
não só é falsa, como indicaria ao paciente que, para o analista, a sua
situação, sua dor e conduta não têm valor do ponto de vista emocional
[...] Isso representaria não neutralidade, mas hipocrisia ou
insensibilidade [...] O que aparenta ser falta de paixão na realidade pode
vir a ser a morte do amor e do cuidado.
Um outro aspecto referente a isso é o que diz respeito a se o analista deve
verbalizar explicitamente para o analisando esses seus sentimentos, em
uma forma algo confessional, ou se os admite no bojo de sua atividade
interpretativa.
Penso que isso depende do estilo pessoal de cada um, desde que se
mantenha a condição básica de que o analista se mantenha verdadeiro e
honesto com o seu analisando.
Particularmente, entendo que diante de uma percepção do paciente (por
exemplo, de que o analista estava desligado, preocupado com algum
problema particular, etc.), adoto a tática de, sem fazer detalhadas
confissões explicativas, reconhecer a alta probabilidade de que o
paciente esteja certo nas suas observações e, em cima dessa verdade
objetiva, continuar analisando normalmente.
Por outro lado, é indispensável lembrar a afirmação de H. Segal (1983),
para quem: