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Material didático das aulas de Psicanálise do

Canal Márisson Fraga, no Youtube

A DINÂMICA DA
TRANSFERÊNCIA
(1912)

por Márisson Fraga


A Dinâmica da Transferência (1912) por Márisson Fraga

Pg. 134

Freud inicia dizendo que vai acrescentar observações que


facilitem o entendimento sobre o surgimento da
transferência na terapia analítica e qual o seu papel no
tratamento.

A transferência acontece pela ação conjunta de disposição


inata (constitutiva) do sujeito combinada com influências
experimentadas na infância.

Esta combinação configura um certo modo característico


de condução da vida amorosa. Ou seja, quais seriam as
condições para o estabelecimento do amor, satisfação dos
instintos e objetivos.

Pg. 135

Isto resulta em um clichê (estereótipo) que se repete


regularmente ao longo da vida do sujeito na medida em
que os fatores externos o permitem, bem como a
natureza dos objetos amorosos.

Apenas uma parcela dos impulsos que influenciam nossa


vida amorosa constituem o desenvolvimento psíquico. Esta
parcela que, por sua vez, é dirigida à realidade, fica à
disposição da personalidade consciente.

A outra parte desses impulsos libidinais é desconhecida


para a personalidade consciente, bem como da realidade,
pois foi detida em seu desenvolvimento, expandindo-se na
fantasia. Ou seja, permanece no inconsciente.

A necessidade de amor do sujeito que não foi


completamente satisfeita pela realidade se voltará para
toda nova pessoa com expectativas libidinais
inconscientes.

Pg. 136

Provavelmente, as duas porções libidinais (consciente e


inconsciente) participam deste processo.
A Dinâmica da Transferência (1912) por Márisson Fraga

Pg. 136

É normal que o investimento libidinal parcialmente


insatisfeito se volte para a figura do analista.

O paciente incluirá o analista em um dos modelos que o


mesmo formou ao longo do tempo.

Uma das características reais da figura do analista combina


com a "imago paterna".

Imago em Freud: Fixação erótica relacionada com


traços reais de objetos primários.

A transferência também pode ocorrer conforme a imago


da mãe, irmão e etc...

Essas variações sobre a transferência para o analista que


excedem em gênero e medida são compreensíveis pois não
são apenas conscientes.

Pg. 137

Freud afirma que, no momento, há dois pontos


inexplicados sobre a transferência na análise.

Primeiro: A transferência em indivíduos neuróticos em


análise ocorrem de forma mais intensa do que os que não
fazem análise.

Segundo: Na análise, a transferência se apresenta como a


forma mais forte de resistência.

Ocorre com frequência que, quando a associação livre


falha (não considerando o silêncio por um sentimento
de desprazer), tal interrupção é substituída por um
pensamento a respeito do analista.

Qual tal esclarecimento a respeito da transferência é


feito, a interrupção acaba ou dá lugar ao silenciamento
do que ocorre ao paciente.
A Dinâmica da Transferência (1912) por Márisson Fraga

Pg. 137

Freud explica o primeiro ponto: Não é correto afirmar que,


na psicanálise, a transferência surja de modo mais intenso
que fora dela, pois em instituições de tratamentos não
analíticos, observa-se transferências eróticas tão intensas
que beiram à servidão.

Pg. 138

Logo, as transferências ocorrem por causa da neurose e


não por causa da psicanálise.

Momento em que Freud começa a abordar a segunda


questão: a transferência como resistência na análise.

A Introversão da libido (Jung) é precondição regular e


indispensável para todo adoecimento neurótico.

A porção da libido voltada para a realidade


(consciente) diminui de forma inversamente
proporcional ao aumento da porção afastada da
realidade, inconsciente, que ainda alimenta a fantasia
da pessoa.

A libido (parcial ou totalmente) faz o movimento de


regressão reanimando as imagos infantis.

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A análise segue este movimento de regressão das imagos


infantis, procurando identificá-las e torná-las acessíveis à
consciência.

Logo, as forças que provocaram a regressão da libido se


levantam como forma de resistência.

Freud acrescenta que a regressão da lidibo (introversão) se


justifica pela frustração da satisfação não oferecida pelo
mundo exterior. Mas, esta não é a única origem das
resistências, nem mesmo a mais forte.
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Pg. 139

A libido é mais atraída pelos complexos que pertencem ao


inconsciente em detrimento da atração da realidade.

Para libertar a libido dessa disputa, a repressão dos


instintos inconscientes precisam ser eliminadas.

Este processo (atração da libido pelos complexos que


pertencem ao inconsciente) faz a "doença" persistir.

O analista precisa lidar com as resistência das duas fontes:

Regressão das imagos infantis pela frustração da


satisfação não oferecida pelo mundo exterior.

Disputa de forças as quais a libido é submetida.

Pg. 140

Ao seguir um complexo patogênico desde sua


representação no consciente (sintomas ou de forma
discreta) até sua raiz inconsciente, chega-se a uma região
de resistência clara.

Neste momento, geralmente, surge a transferência,


principalmente quando o material é adequado para a
figura do analista.

Essa respectiva ideia transferencial chegou até a


consciência, pois satisfaz também a resistência.

Sempre que se chega ao complexo patogênico, a parte


deste referido complexo capaz de transferência é
compelida para a consciência e defendida
veementemente.

OBS.: Nem sempre, o elemento escolhido para a


resistência transferencial tem importância patogênica.

Exemplo: Soldados defendendo a posse de uma igreja


ou uma propriedade.
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Pg. 141

Quanto maior o tempo da análise e quanto mais


claramente o analisante perceber que as distorções do
material patogênico não o defendem de interpretações,
mais ele busca as vantagens oferecidas pelas distorções
pela transferência.

A transferência sempre aparece na análise como a mais


poderosa arma de resistência, pois a mesma é o efeito da
expressão da resistência.

Freud pergunta: Por que a transferência se presta a servir


como meio de resistência?

A resposta mais simples seria: A confissão de um desejo


proibido é dificultada pelo próprio indivíduo, pois tais
desejos parecem inviáveis ao mundo real. Quando o
analisando transfere ao analista seus impulsos afetivos,
busca proteger-se desses conteúdos. Mas, é preciso refletir
sobre isso de forma mais atenciosa.

Pg. 142

Não é possível entender a utilidade da transferência para a


resistência se pensarmos apenas na "transferência".

Para melhor compreensão, é preciso separar a transferência


negativa da transferência positiva.

Transferência Positiva: Sentimentos ternos, afetos de


simpatias, amizade, confiança etc...

Transferência Negativa: Sentimentos hostis.

A transferência positiva remonta a fontes eróticas e ligam-


se à sexualidade e desenvolvem-se por enfraquecimento
da meta sexual, por mais que não se apresentem desta
forma à nossa auto percepção consciente.

O indivíduo só conhece objetos sexuais.


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Pg. 143

A psicanálise entende que pessoas estimadas e


respeitadas em nossa vida podem ser objetos sexuais para
o inconsciente.

Solução do enigma da transferência como forma de


resistência: Transferências negativas ou transferências
positivas de impulsos (moções) eróticos reprimidos.

Os resultados da psicanálise se basearam na sugestão,


entendo sugestão como "influência" sobre o indivíduo por
meio de fenômenos transferenciais possíveis.

Por meio desta sugestão, o analisando realiza um trabalho


psíquico que produz melhora em sua situação psíquica.

Freud ressalta novamente que a transferência não ocorre


apenas na psicanálise, mas também em instituições.
Entretanto, o fenômeno em indivíduos institucionalizados
apresenta particularidades.

Pg. 144

Em instituições, quando a transferência negativa ocorre, o


indivíduo abandona o tratamento. Já as transferências
eróticas, assim como na vida, são atenuadas, em vez de
reveladas.

Em várias psiconeuroses, a transferência negativa se acha


ao lado da transferência positiva. Este fenômeno pode ser
chamado de "ambivalência".

Sobre o termo "ambivalência" utilizado por Freud:


Stekel havia sugerido anos antes o termo "bipolaridade".
Freud utiliza o mesmo termo usado por Bleuler em 1910
e 1911.

Uma das particularidades da neurose é um alto grau de


ambivalência de sentimentos.
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Pg. 145

A melhor explicação para a transferência a serviço da


resistência é a ambivalência nas inclinações afetivas por
parte dos neuróticos.

Nos paranoicos, a transferência torna-se essencialmente


negativa, o que impede a possibilidade de influência e
cura.

Ao buscar a porção da libido que se extraviou do


consciente, penetra-se no inconsciente. Percebe-se aqui
semelhanças com o que já havia sido descoberto no estudo
dos sonhos.

Pg. 146

O analisando atribui realidade e atualidade aos conteúdos


que despertam seus impulsos inconscientes, assim como
nos sonhos, pois deseja "dar corpo" (alimentar, atuar) a suas
paixões, desconsiderando a situação real.

Já o analista precisa levar o analisando a inserir os


impulsos afetivos no tratamento e na sua história,
submetendo-os a considerações intelectuais para que o
paciente os "conheça" (entenda, reconheça, aprecie)
conforme seu valor psíquico.

Tal disputa entre médico e paciente, entre intelecto e


instinto, entre o "conhecer" e o "dar corpo" se desenrola a
partir da transferência quase que exclusivamente.

Inegavelmente, o fenômeno da transferência oferece as


maiores dificuldades para o analista, mas é a partir da
análise das transferências que os impulsos amorosos
ocultos e esquecidos dos pacientes se manifestam.

Fonte:
Freud, Sigmund, 1856-1939. Obras completas, volume 10: Observações
psicanalíticas sobre um caso de paranoia relatado em autobiografia ("o
caso schreber"), Artigos sobre técnica e outros textos (1911-1913) / Sigmund
Freud; tradução Paulo César de Souza — 7a ed. — São Paulo: Companhia das
Letras, 2020.

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