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Transferência

Joviane Moura

A transferência é um fenômeno que ocorre na relação paciente/terapeuta, onde o desejo


do paciente irá se apresentar atualizado, com uma repetição dos modelos infantis, as
figuras parentais e seus substitutos serão transpostas para o analista, e assim
sentimentos, desejos, impressões dos primeiros vínculos afetivos serão vivenciados e
sentidos na atualidade.
O manuseio da transferência é a parte mais importante da técnica de análise. Em Um
Estudo Autobiográfico Freud (1925) faz uma explanação geral do mecanismo de
transferência. A transferência logo que surge substitui na mente do paciente o desejo de
ser curado, e, enquanto for afeiçoada e moderada, torna-se o agente da influência do
médico e nem mais nem menos do que a mola mestra do trabalho conjunto de análise
Posteriormente, quando se tiver tornado arrebatada ou tiver sido convertida em
hostilidade, torna-se o principal instrumento da resistência. Poderá então acontecer que
paralise os poderes de associação do paciente e ponha em perigo o êxito do tratamento.
Não é possível falar em análise sem transferência. Não se deve supor, todavia, que a
transferência seja criada pela análise e não ocorra independente dela. A transferência é
meramente descoberta e isolada pela análise. Ela é um fenômeno universal da mente
humana, decide o êxito de toda influência médica, e de fato domina o todo das relações
de cada pessoa com seu ambiente humano.
Em A História do Movimento Psicanalítico (1914) fala que o surgimento da transferência
sob forma francamente sexual- seja de afeição ou hostilidade – no tratamento das
neuroses, apesar de não ser desejada ou induzida pelo médico nem pelo paciente,
sempre lhe pareceu a prova mais irrefutável de que a origem das forças
impulsionadoras da neurose está na vida sexual. E ainda que a transferência seja ponto
de partida do trabalho da psicanálise.
Se o paciente coloca o analista no lugar do pai (ou da mãe), está também lhe concedendo o poder
que o superego exerce sobre o ego, visto que os pais foram, como sabemos , a origem do seu
superego. O novo superego dispões agora de uma oportunidade para uma espécie de pós-
educação do neurótico. (Freud, 1930, pág. 49)
Na transferência o paciente produz com clareza plástica, uma parte importante da
história de sua vida, da qual de outra maneira, ter-nos-ia fornecido apenas um relato
insuficiente. Ele a representa diante de nós, por assim dizer, em vez de apenas nos
contar. (Freud, 1930)
A transferência permite que o analista se aproprie do saber inconsciente que se insinua
na fala do sujeito. A interpretação da transferência é perigosa, pois tal procedimento
pode até aliviar a angústia do sujeito, e com isso gratificar o analista, mas pode ser que
o analisando esteja apenas substituindo sua associações pelas interpretações do
analista, numa tentativa de recuperar a estabilidade que as defesas conferem à neurose.
Em A Questão da Análise Leiga Freud (1927) declara que toda análise digna dessa nome
institui uma neurose de transferência, que constitui o sintoma, um sintoma
analítico.uma responsabilidade maior do analista na condução da análise reside no
manejo da transferência, num manejo analítico da neurose de transferência. Ele dizia
que o neurótico não quer curar-se, mais precisamente não quer curar-se dessa neurose
de transferência.
A transferência se constitui a partir da realidade psíquica do analisando, por meio dos
seus desejos, medos e outros aspectos da sua subjetividade. Em Recordar, Repetir e
Elaborar, Freud (1914) esclarece que a transferência cria uma região intermediária entre
a doença e a vida real, através da qual a transição de uma para a outra é efetuada. A
nova condição assumiu todas as características da doença, mas representa uma
doença artificial, que é, em todos os pontos acessível à nossa intervenção. Trata-se de
um fragmento que foi tornado possível por condições especialmente favoráveis, e que é
de natureza provisória

Fonte: https://psicologado.com/abordagens/psicanalise/transferencia ©Psicologado.com

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