Você está na página 1de 16

Vítimas do Abuso Narcisista e

Psicanálise

MONOGRAFIA DE CONCLUSÃO DE CURSO

Nome Completo: Marisol Baglioni

E-mail: marisolbaglioni@hotmail.com

Conclusão: 2º SEMESTRE / 2021

Curso: Formação em Psicanálise Clínica

Unidade: Campinas (SP)

Professores: André Figueira e Paulo Vieira

Campinas (SP), 05/09/2021


Dedicatória
Dedico este trabalho a todas as pessoas que sofrem, sofreram e sofrerão abuso
narcisista. Desejo que, possam restabelecer um vínculo sadio com a pessoa
mais importante, eles mesmos…

Agradecimentos
Agradeço aos amores da minha vida, minha filha L e a meu marido F, porque
sempre me apoiam para cumprir as minhas metas.

Monografia de Conclusão do Curso de Formação em Psicanálise - psicanaliseclinica.com - pág. 2


Citação
Somos nossa memória, somos aquele museu quimérico de formas
mutáveis, aquela pilha de espelhos quebrados.

Jorge Luis Borges.

Monografia de Conclusão do Curso de Formação em Psicanálise - psicanaliseclinica.com - pág. 3


Introdução

Neste trabalho, exporemos o conceito de narcisismo, e do narcisismo


patológico, para maior compreensão do mecanismo utilizado pelo indivíduo com
n. patológico para abusar das suas vítimas. Esse abuso pode ocorrer em
qualquer âmbito, no seio de uma família, no ambiente académico ou laboral.
Neste artigo, abordaremos particularmente a metodologia do abuso, as sequelas
nas vítimas, especificamente no vínculo amoroso, e como elas podem se
restabelecer através da psicoterapia, no particular com ajuda da psicanálise.
Considero de grande importância a divulgação das consequências catastróficas
provocadas pela persona com Transtorno Narcisista da Personalidade, seja qual
for seu grau de narcisismo patológico, na psique das suas vítimas. Note-se que,
mesmo que o psicanalista não diagnostique transtornos, sim, reconhece
estruturas mentais, e efetua hipótese diagnóstica. Dito isso, é de singular
relevância que reconheça a uma vítima de abuso narcísico. Com o fim de efetuar
um correto tratamento, do contrário poderia pensar que está com um analisando
envolvido em uma relação tantalizante, onde o sujeito entra na relação com já
com uma fragilização do ego, este não é o caso do vínculo com um narcisismo
patológico. De fato, o abusado poderia ter um ego muito bem estruturado,
arrombado pelas incessantes técnicas manipulativas, das quais foi alvo, após o
abuso.

Esta abordagem é relevante porque é possível que as interpretações


do Psicanalista sejam errôneas, e baseado no conceito de implicar ao sujeito na
sua fala, nos seus atos, pode não perceber que está frente a uma vítima com
estresse pós traumático, um indivíduo cujo princípio da realidade foi distorcido
pelo abusador. Efetivamente, isso jamais seria feito com uma vítima de estupro,
por exemplo. Porém, sem às vezes as vítimas deste particular abuso sofrem
essa categoria de interpelação quando procuram ajuda. Do mesmo modo, que

Monografia de Conclusão do Curso de Formação em Psicanálise - psicanaliseclinica.com - pág. 4


ela é mal interpretada na sua busca por ajuda profissional, é julgada pela
sociedade.

Na atualidade, além de viver num paradigma baseado principalmente no


individualismo onde o narcisismo é potenciado pela cultura do êxito e do não
sofrimento. Onde o investimento libidinal no objeto é efêmero, volátil, e é
fundamentalmente visto como uma mercadoria. Assim, como expressou Erich
Fromm no arte de amar, “nesta época o objeto de amor é visto como uma
mercadoria, todo mundo quer encontrar o melhor no mercado”. Portanto, as
relações interpessoais se entrelaçam com conceitos atuais que fragilizam nosso
ego e nossa autoestima. Nas redes sociais, tudo se mostra perfeito. Estamos
envolvidos em crenças errôneas onde o sofrimento de qualquer classe é
vergonhoso e humilhante, não é permitido sofri. A vulnerabilidade é mal vista, e
somos forçados a responsabilizar-nos de todo o nosso mal-estar, e repará-lo
imediatamente, do contrário poderíamos ser julgados como frágeis e
preguiçosos. Em consequência, e para satisfazer a demanda externa, devemos
atuar com onipotência, com a certeza que tudo será reparado se assim o
desejarmos. Supondo que, alguém seja violentado na rua, por exemplo, parte da
sociedade julga os atos da vítima, que usava, que efetuou, etc.

Deste modo, quando a vítima de abuso narcísico expressa seu


sofrimento, muitas vezes escutará que ela tem que se responsabilizar e tentar
conciliar a situação. Esta interpretação só lhe dará mais sofrimento.
Seguramente, escutará em algum momento “São precisos dois para o Tango”,
como frase confirmatória da sua responsabilidade no ciclo abusivo do qual foi
vítima.

Como objetivos, buscaremos neste trabalho divulgar o abuso narcísico, e


plantear que não tem importância o acionar da vítima, de todos os modos o
abusador procurará aniquilá-la, reduzi-la, ou deixá-la em pedaços. De fato, não é
simples reconhecer um indivíduo com transtorno Narcisista da Personalidade,
mesmo assim deveria ser mais divulgado o proceder deste (categoria) de
indivíduos, deste modo, talvez suas vítimas consigam reconhecê-los antes de

Monografia de Conclusão do Curso de Formação em Psicanálise - psicanaliseclinica.com - pág. 5


ficar devastadas. Uma vez sejam reconhecidos, fugir e estabelecer contato
zero, sendo isso o único modo de não ficar preso numa teia de aranha
destrutiva.

Na primeira parte do trabalho, abordaremos o conceito de narcisismo,


esclarecendo os termos primário, secundário e patológico. Na segunda parte,
falaremos sobre narcisismo patológico, sua estrutura e etiologia. Enquanto a
terceira, descreve-se o mecanismo de abuso narcísico nas suas quatro
instâncias. Durante a quarta etapa, se especificaram as sequelas que esta
categoria de abuso tão específico deixa nas vítimas. O quinto fragmento, é uma
sugestão de abordagem da clínica psicanalítica nomeadamente para quem
padeceu ou padece do abuso narcísico.

Para atingir esses objetivos, a metodologia empregada foi de pesquisa


bibliográfica, foram utilizados livros, artigos científicos e vídeos de YouTube com
terapeutas especialistas na matéria.

1. Narcisismo — conceito.

Narcisismo Primário

S. Freud fala do narcisismo primário no seu artigo de 1914, “Sobre o


Narcisismo, uma introdução”. Nesse artigo, ele o descreve como um estado
precoce onde a criança faz uma catexia com toda sua libido sobre si mesma,
este estado é inerente a todo ser humano. Neste sentido, S. Freud descarta o
narcisismo como sendo patológico. Especifica que a libido é dirigida para o
objeto só quando tem uma energia capaz de exceder o próprio ego. Assim
mesmo, depois do complexo de édipo e quando o complexo castração é
superado, começa a escolha objetal do indivíduo. Todo sujeito passa pelo
narcisismo antes de investir a libido num objeto de eleição. No seu artigo, se lê
textualmente “Dizemos que um ser humano tem originalmente dois objetos
sexuais — ele próprio e a mulher que cuida dele-”.

Monografia de Conclusão do Curso de Formação em Psicanálise - psicanaliseclinica.com - pág. 6


Efetivamente, na mesma publicação ele tem como hipóteses que o sujeito ao
não poder abandonar o narcisismo da infância onde ele mesmo era concebido
como perfeito, no decorrer da vida, o olhar do mundo exterior dá o surgimento ao
ego ideal. “O que ele projeta diante de si como sendo seu ideal é o substituto do
narcisismo perdido da sua infância onde ele era seu próprio ideal”. Este “ ego
ideal'', segundo David. E. Zimerman, é o“ Eu sou”. Aqui o “Eu sou”, seria o plano
imaginário, como ver se a si mesmo como onipotente. Ele está muito ativo no
narcisismo patológico, especialmente segundo minha pesquisa no “Narcisista
que chamamos aberto”, termo que desenvolvemos a ‘posteriori’ neste artigo.

Para Lacan, a primeira expressão do narcisismo é quando a criança


entre os seis e os dezoito meses se reconhece frente ao espelho, como
expressado na sua teoria do espelho. Ele se reconhece na totalidade, se
identifica com a imagem como uma representação conectada a ele. Assim
mesmo, realizando esta identificação especular, se levanta a identificação
imaginária. Na sua teoria, o corpo será um organismo mais uma imagem.
Contudo, isto não é suficiente para construir um corpo, para isso é preciso a
identificação imaginária, já nomeada, e também um registro simbólico. No
simbólico, precisamos de outro que nos reconheça através da sua mirada, e da
linguagem. Na identificação imaginária, essa criança frente ao espelho, seria o
narcisismo primário, esse se auto reconhecer. O narcisismo secundário é a
identificação com a identidade simbólica, o reconhecimento, a mirada a
linguagem de outro.

Narcisismo secundário

O Narcisismo secundário é a volta da libido para o eu, segundo S.


Freud, onde o investimento libidinal é retirado das catexias objetais. Este
estado, seria um estado regredido, é uma estrutura permanente do indivíduo. As
catexias do objeto não eliminam as catexias do eu, há um equilíbrio entre as
duas. Ele remarca que se o desenvolvimento libidinal sofreu algum transtorno,
em um estádio posterior na vida, a escolha do objeto não será sua mãe, mas sim
seu próprio eu. Esta categoria de escolha objetal é denominada de “narcisista”.

Monografia de Conclusão do Curso de Formação em Psicanálise - psicanaliseclinica.com - pág. 7


Narcisismo Patológico

Após introduzir os conceitos básicos do Narcisismo, tanto primário como


secundário, explicaremos um termo contemporâneo que é o Narcisismo
perverso ou patológico, o escopo central deste artigo. Segundo o DSM 5, o
narcisismo patológico é diagnosticado como Transtorno Narcisista da
Personalidade. Como já mencionado, o psicanalista não diagnostica, porém,
reconhece estruturas psíquicas, este transtorno deveria ser considerado, para
ter recursos com a intenção de dar acolhimento às vítimas. Para o DSM 5, os
indivíduos que padecem desse transtorno têm o senso grandioso de
importância, necessitam de admiração excessiva, um senso de direito a todo, e
carecem de empatia. No transtorno existem duas categorias de Narcisistas, o
encoberto, e o aberto.

2. Narcisismo patológico
Transtorno narcisista da personalidade

Na bibliografia consultada, o narcisista se caracteriza por um indivíduo


que tem um senso de extrema importância, a necessidade excessiva de
admiração, e uma crença com direito inato ao sucesso, assim como também, ele
carece de empatia. Existem dois tipos de narcisismo, o narcisismo aberto que
é um tipo de indivíduo que a maioria de algum modo reconhece. Ele utiliza esse
senso de superioridade para esconder suas crenças centrais de dúvida e
vergonha sobre si mesmo. Seu discurso está cheio da sua grandiosidade.
Enquanto no narcisismo coberto, os sujeitos são vistos como introvertidos, têm
uma tendência ao um pobre manejo da ira, humor volátil e padecem de
retraimento social. Nos dois casos, no seu imaginário, eles são especiais e são
merecedores de todo o sucesso, só pela pessoa excepcional que eles creem

Monografia de Conclusão do Curso de Formação em Psicanálise - psicanaliseclinica.com - pág. 8


que são. Além disso, eles são arrogantes e internamente explodem e manipulam
os outros para se beneficiar e alcançar seus objetivos. Esta conduta de
manipulação é sistemática, ainda que ele seja do tipo aberto, a manipulação é
encoberta, para assim alcançar seus objetivos. Esta metodologia serve para
coagir a sua família e assim acreditar que seu accionar é saudável. Não possui
empatia, e não reconhece as necessidades e os sentimentos das outras
pessoas, o outro para o narcisista é só um meio para atingir as suas metas. Eles
projetam seus sentimentos de inadequação nos outros. Deste modo, eles
criticam e menosprezam qualquer erro ou falta que preservem. Estas projeções
se baseiam na falsa representação que eles possuem das pessoas do seu
entorno. Este accionar, será explicado detalhadamente na estrutura e no ciclo de
abuso narcísico posteriormente.

Estrutura

Certamente, para tentar desvendar a estrutura da personalidade


narcisista é necessária a introdução do termo “self”. O self, segundo David E.
Zimerman é a representação do eu dentro do ego. Em termos coloquiais seria a
imagem de si mesmo. As pessoas narcisistas criam um “self falso”, uma imagem
grandiosa de si mesmos que é imaginária. Este “self falso” é criado como
substituto ao verdadeiro na infância, se cree que a etiologia dele poderia dever
se a introjeção de sentimentos de inadequação projetados pelos pais ou tutores
para a criança. Uma das suas funções é a defesa, já que este “self falso” projeta
sentimentos de inferioridade, de raiva, de inveja, e outros sentimentos impróprios
que reconhece em si mesmo nos outros. Deste modo, ele libera os afetos que
esses sentimentos produzem nele, no objeto da sua eleição. Portanto, na sua
estrutura o outro é constantemente alvo das suas projeções de afetos
desagradáveis.

Etiologia

Como nomeado, existe a teoria que o “self falso”, núcleo central do


transtorno narcisista da personalidade, poderia ser criado em decorrência de

Monografia de Conclusão do Curso de Formação em Psicanálise - psicanaliseclinica.com - pág. 9


introjeções patológicas na infância. Como consequência, de um ego ideal
demasiado inflado nos pais ou cuidadores, com os quais a criança tenha se
identificado. Esse ego ideal desproporcionado exerceria pressão no ego para
atingir um ideal inalcançável, em sua defesa o Ego no lugar do self cria um self
artificial. Segundo David E Zimerman, o surgimento do transtorno poderia ser
ocasionado por um estado de indiferenciação, quando o bebé não consegue se
diferenciar da mãe apropriadamente, quando ele não pode estabelecer a
diferenciação entre ele e um outro, poderia creerse portador das atitudes da
mãe, e assim achar se onipotente, o que S. Freud chamou de “sua majestade o
bebe”. No momento de identificar a dependência dos outros, passaria por um
medo imenso que levaria ele à recusa desta dependência, instaurando-se na
onipotência. Para S. Freud a origem poderia estar no impedimento da evolução
da libido, quando a posteriori no decorrer da sua existência o objeto de seleção
não será a mãe, porém seu “eu”. Certamente, as teorias de origem são diversas,
e ainda não se confirma nem se descarta nenhuma em particular.

3. Mecanismo de abuso narcísico.

Ciclo do abuso.

Como expressado, o indivíduo com transtorno narcisista da


personalidade não possui empatia, no seu imaginário ele é grandioso e espera
toda a admiração. Para satisfazer a demanda que a sua estrutura psíquica
precisa, ele necessita de outro que sirva de “bode expiatório" (aquele que leva a
culpa em lugar do outro) em quem projetar todas as suas frustrações e
sentimentos de inadequação. Esse “outro” de acordo com algumas pesquisas
pode não ter uma estrutura mental predefinida, por conseguinte qualquer
indivíduo, independente da sua estrutura mental poderia ser alvo de um
narcisismo patológico, inclusive, outras estruturas mentais de caráter perverso.
Naturalmente, cada sujeito reagirá de modos diferentes e as sequelas serão
distintas, mas, existe certa categoria de comportamentos e repercussões

Monografia de Conclusão do Curso de Formação em Psicanálise - psicanaliseclinica.com - pág. 10


similares na maioria das vítimas desse abuso tão particular. Esses
comportamentos e sequelas tem estreita relação com o mecanismo que utiliza o
narcisismo patológico, que tem quatro estádios, idealização, inferiorização,
descarte, e “hoovering”, em inglês aspiração, como termo para expressar a
tentativa do abusador de entrar novamente na vida da vítima.

1. Idealização

O estádio de idealização ou também chamado de “bombardeio de amor”


ou “love bombing”, em inglês, também conhecida como fase de idealização, se
refere ao começo duma relação com o narcisista, momento onde a vítima
percebe a realidade como “demasiado boa para ser verdade”.

Ela é alvo de elogios, presentes, e uma demonstração de amor não


concordante, geralmente, com o tempo do relacionamento. O que estaria
acontecendo na psique do abusador seria uma captação de um objeto que ele
crê que a vítima é, geralmente a vítima é uma pessoa que o narcisista admira,
mas ele admira a representação do sujeito. O sujeito no seu imaginário, que
veria a suprir as suas carências, e a entregar para ele o que se denomina
suprimento narcísico. Este período de idealização poderia durar pouco ou
poderia perdurar por anos.

2. Inferiorização

Logo após o período de idealização, começa a inferiorização, sendo uma


época muito difícil para a vítima, onde ficarão as maiores sequelas. Nesta etapa,
a vítima tentará colocar algum limite, como em qualquer relacionamento
saudável, que o abusador não aceitará. Além disso, ele começará a perceber
seu objeto como ele é, sem a representação imaginária que ele tinha da vítima.
Deste modo, começa em primeiro lugar toda categoria de manipulações para
manter a vítima no seu controle, as mentiras e o "gaslighting" serão frequentes.
Consequentemente, o alvo, terá um sentido da realidade difuso. No segundo

Monografia de Conclusão do Curso de Formação em Psicanálise - psicanaliseclinica.com - pág. 11


lugar, iniciará uma contínua projeção de seus sentimentos de inadequação, no
particular, diminuirá seu objeto para sentir-se superior e assim obter seu
suprimento. A desvalorização pode ser tanto sutil como exagerada. Em ambas
situações, serão devastadoras para o ego da vítima. Esta desvalorização será
intercalada com momentos de reconhecimentos breves para justamente
confundir e manter o senso incompreensão do seu par. Se o abuso fosse
contínuo sem estes reforços intermitentes, a manipulação e a coerção poderiam
aflorar facilmente, e ele ficaria sem seu suprimento.

3. Descarte

Muitas das vítimas só reconhecem que o relacionamento era tóxico no


momento do “descarte”, quando o NP abandona o parceiro. Este afastamento
está geralmente motivado pelo fato de que a vítima, seu objeto, já não oferece o
suprimento que ele precisa. Justamente, a vítima está tão fragilizada pelos
abusos que perde as características da pessoa que era no começo do
relacionamento. A manipulação foi tão grande, que ela tem traços do abusador,
introjeta traços patológicos, além de ter sua autoestima minimizada pelas
constantes projeções das quais foi alvo. Nesta instância, ela já não tem o que
fornecer, mas que seus fragmentos, o que outrora foi e já não é, e o que nesse
momento é, e não que ser. Apresenta um ego completamente fragilizado por
uma realidade excruciante planteada por esse ser perverso.

4. Hoovering “aspiração”

Nomeadamente, é uma técnica de manipulação para que a vítima


volte a relação de abuso. Com o intuito de ter novamente seu suprimento, o
sujeito com narcisismo patológico terá contato de novo. Muitas vezes, o
relacionamento se restabelece e o ciclo abusivo começa uma vez mais.

Monografia de Conclusão do Curso de Formação em Psicanálise - psicanaliseclinica.com - pág. 12


4. Sequelas
Uma das sequelas mais comuns é o sentimento de vergonha e
humilhação que se sente depois por ter passado pela devastadora experiência
do abuso narcísico. O ego da vítima está totalmente fragilizado, ela ainda está
processando a realidade, tantas mentiras e “gaslighting” deixam a vítima com
um princípio da realidade confuso, existe uma pressão aguda do seu ego ideal,
debido a que entende que seu estado não se assemelha com seu “ideal”, e o
superego está inflado devido às constantes críticas e o menosprecio que sofreu.
Existe uma grande quantidade de afeto livre e separado das representações
recalcadas devido a o intenso trauma, esse afeto pode desencadear: síndrome
de estresse pós traumático severo, síndrome do pânico, todo tipo de fobias,
extrema baixa autoestima, entre outros. Resumindo, o sujeito não está em
condições de “amar e trabalhar”, utilizando os termos de S. Freud para nomear
alguém que consegue conciliar o que deseja com a imagem de si mesmo e se
tornar funcional e autônomo, para sentir e fazer, logrando um equilíbrio nas
funções do seu ego.

5. Abordagem psicanalítica da vítima de


abuso narcísico.
Somos nossa memória, somos aquele museu quimérico de formas
mutáveis, aquela pilha de espelhos quebrados.

Jorge Luis Borges.

Como já expressado na introdução deste artigo, é essencial que no


decorrer do tratamento o psicanalista reconheça que no “setting" há uma vítima,
frágil e vulnerável. O acolhimento deveria ser similar ao dado a cliente com
personalidades regredidas, de fato, estaria frente a alguém regredido
momentaneamente, minimizado e voltado a estados primitivos, indefensos,

Monografia de Conclusão do Curso de Formação em Psicanálise - psicanaliseclinica.com - pág. 13


iguais aos de uma criança. Especialmente, no começo do tratamento o “setting”
deveria oferecer uma condição de maternagem, onde o analisando senta que
seus relatos de vítima não levantaram nenhum julgamento, nem será
responsabilizada pelos abusos cometidos na sua pessoa.

Uma vez o analisando através da sua fala, e das devoluções das


interpretações do analista, compreenda o trauma ao qual foi submetido, assim
como às pressões constantes suportadas sobre seu ego e seu superego,
começará a se restabelecer. Em primeiro lugar, liberando a angústia no decurso
da sua fala, para “ab-reagir” os afetos traumáticos. Logo, quando o inconsciente
se torna consciente, e aqueles sentimentos de inadequação, que foram
introjetados, sejam compreendidos como externos, poderia começar o
restabelecimento do ego.

Em nosso entender, com as funções do ego restituídas quando se pode


conciliar o que deseja com a imagem de si mesmo, conseguirá preservar a sua
organização e manter a sua autonomia.

Conclusão
Para concluir, evidenciamos neste artigo o aniquilador mecanismo de
abuso efetuado pelo narcisismo patológico, e as consequências na psique das
suas vítimas. Desvendamos as origens do narcisismo primário expondo as
teorias de S. Freud e J. Lacan, passando pelo narcisismo secundário elucidado
por S. Freud, e chegamos ao n. patológico termo de atualidade, nomeado como
“Transtorno Narcisista da Personalidade” segundo o DSM-5. Citamos a possível
etiologia do transtorno e a sua estrutura. Efetivamente, detalha-se o mecanismo
de abuso utilizado, com os quatro estádios. Sendo assim, uma ferramenta para
reconhecer este padrão patológico. Muitas pessoas se encontram vinculadas a
relações tantalizantes desse (ordem), e não encontram respostas a sua
perpetuidade. Admitindo que, falta divulgação sobre modelos de abuso que não
sejam de violência física. Na nossa cultura, a violência física está bem

Monografia de Conclusão do Curso de Formação em Psicanálise - psicanaliseclinica.com - pág. 14


especificada e condenada, cada dia temos avances para erradicá-la, ainda que
falte muito para ser eliminada. Contudo, a violência psíquica é pouco divulgada
como método de aniquilamento do sujeito. Baseado no plausível estrago que
pudesse ocorrer na vida psíquica das pessoas ao debruçar com indivíduos que
padecem esta classe de transtorno, seria de extrema relevância que se estude a
possibilidade de implementar nas escolas, especificamente, no ensino médio,
uma matéria que permita aos estudantes reconhecer quando uma relação é
saudável e quando não.

Basicamente, alerta-os sobre a violência psicológica, e a importância de


buscar ajuda com um terapeuta, podendo ser um psicanalista, quando
considerem que não se sentem bem numa relação, e que não tem as
ferramentas para conseguir sair dela. Neste ponto, é importante que o
psicanalista reconheça e valide a vítima. Em resumo, o “setting” deveria ser um
local reparador. Por outras palavras, não poderia ser aplicada a referência de
Lacan “ Por nossa posição de sujeito, sempre somos responsáveis" . Porque
segundo a pesquisa realizada, não tem uma estrutura mental que se
predisponha a ser vítima de um narcisismo perverso. Também a nossa escolha
se vê distorcida pelas mentiras e o "gaslighting" aplicado. Enquanto a
possibilidade de sair da relação como sujeito livre que somos, devemos citar a
S. Freud “O eu não é senhor na sua própria morada”, lembrando que o ego está
fragilizado, e a vítima tem identificações, e introjeções projetivas do abusador
com recalques de representações de constante desvalorização. O afeto que está
livre, gera angústias que afloram como sintomas patológicos. A autoestima do
indivíduo está diminuída, já que segundo S. Freud a auto estima expressa o
tamanho de ego, ao ego estar fragilizado a autoestima também está.

Por conseguinte, o psicanalista deveria estar capacitado para atuar no


acolhimento de vítimas de abuso narcísico, pesquisando e se informando
conforme os últimos achados e descobertas sobre as consequências desse
transtorno para a sociedade.

Monografia de Conclusão do Curso de Formação em Psicanálise - psicanaliseclinica.com - pág. 15


Referências bibliográficas
Blazquez, A., La Comunicación Paradójica del Perverso Narcisista |
Terapia Grupal Youtube. 2021. [online] Available at:
<https://youtu.be/oszdUd5FJwc> [Accessed 5 September 2021].

XIV, F., 2021. Freud - Obras Completas XIV. [online]


Psicanalisebiblica.blogspot.com. Available at:
<https://psicanalisebiblica.blogspot.com/2017/02/freud-obras-completas-
xiv.html> [Accessed 5 September 2021].

Labatut, E., 2021. The Effects of Parental Narcissistic Personality


Disorder on Families and How to Defend “Invisible Victims” of Abuse in Family
Court. [online] Papers.ssrn.com. Available at:
<https://papers.ssrn.com/sol3/papers.cfm?abstract_id=3815027> [Accessed 5
September 2021].

Jusmet, l., 2021. NARCISISMO Y ESTRUCTURAS CLÍNICAS EN


LACAN.Luisroca13.blogspot.com .Available at:
http://luisroca13.blogspot.com/2012/10/que-es-el-yo-algunos-apuntes-desde-
el.html> [Accessed 5 September 2021].

Ojeda, C. Narcisismo Lacan,Jacques Lacan - Estadio del espejo


Youtube. 2021. [online] Available at: <https://youtu.be/oszdUd5FJwc> [Accessed
5 September 2021].

Zimerman, D., 2004. Manual de técnica psicanalítica. Porto Alegre:


Artmed.

Monografia de Conclusão do Curso de Formação em Psicanálise - psicanaliseclinica.com - pág. 16

Você também pode gostar