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UNIVERSIDADE FEDERAL DE CAMPINA GRANDE – UFCG

CENTRO DE CIÊNCIAS JURÍDICAS E SOCIAIS – CCJS


UNIDADE ACADÊMICA DE DIREITO - UAD
CURSO DE BACHARELADO EM DIREITO
COMPONENTE CURRICULAR: ECONOMIA GERAL E POLÍTICA
DOCENTE: ANDERSON VIEIRA

DISCENTES:

VICTORIA RYANNE BARBOSA DE ARAUJO


IGOR PEREIRA DE LIMA
CLÉCIO DIEGO DA SILVA
FRANCINALDO DA SILVA SOUSA

TRABALHO AVALIATIVO
PRINCÍPIO DA DEMOCRACIA ECONÔMICA, SOCIAL E CULTURAL
E A CONSTITUIÇÃO BRASILEIRA DE 1988.

SOUSA - PB
2022
Princípio da democracia econômica, social e cultural e a Constituição
brasileira de 1988.

1. Introdução

O presente trabalho tem o objetivo de analisar o Princípio da democracia


econômica, social e cultural de acordo com o o artigo, “ Princípio da democracia
econômica, social e cultural e a Constituição brasileira de 1988” publicado pela
Revista de Direito Econômico e Socioambiental, o qual encontra-se dividido em três
partes: aspectos do princípio da democracia econômica, social e cultural;
considerações conceituais sobre a ordem econômica e Constituição econômica e
por fim trata dos temas mencionados de acordo com a própria Constituição vigente
no país.
Desse modo, dissertaremos sobre cada um dos fundamentos, princípios,
normas e conceitos englobados pelo artigo, adotando sempre uma visão crítica a
cerca das especificações trazidas, a fim de fazer um paralelo entre o que se têm na
teoria e o que se encontra na prática, visto que, nem tudo que a Constituição prega
é seguido veemente, especialmente no tocante ao Princípio da democracia
econômica, social e cultural dentro do território nacional, posto que o Brasil é um
país democrático.

2. O Princípio da democracia econômica, social e cultural

Aparentemente o que se pode notar, é que o mundo pouco se preocupava


com a dignidade humana até o fim da segunda guerra mundial, e os motivos que
levaram a duas grandes guerras estão diretamente atrelados a essa temática. Os
países europeus surfando a onda da segunda revolução industrial possuíam um
défice de matéria-prima, havendo a necessidade de explorar outros países em
busca da mesma, os principais países de onde se extraia essa matéria eram os
países do continente africano. No final do século XIX, a Alemanha unificada
tardiamente entra para essa cota por meio da Conferência de Berlim, se tornando
uma importante colonizadora da África e anexando várias partes do território,
usufruindo das riquezas desses países e colocando a população colonizada a
serviço dos interesses do seu colonizador, por muitas vezes exercendo um trabalho
análogo a escravidão e levando seus tesouros sem nada em troca. Desta forma, a
Alemanha se industrializou rapidamente e se desenvolveu a ponto de não só
competir com as grandes potências europeias como podendo se tornar a maior de
toda Europa, isso gerou uma tensão nas outras nações que começaram a se armar
para uma possível invasão. Mas o que tudo isso tem haver com democracia
econômica, social e cultural?
Todas as pessoas que foram escravizadas e saqueadas pelos seus
colonizadores se quer teve um protagonismo na história, houveram muitas
atrocidades cometidas durante o período de exploração contra dignidade humana,
ficando pior durante a segunda guerra, pessoas foram usadas para experimentos
científicos e mortas em campos de concentração só por pertencer a um determinado
grupo religioso, ou ter o tom de pele escuro, ou ainda não compactuar com a guerra
etc. As duas revoluções industriais e as duas grandes guerras escancaram a falta
dos direitos humanos, e com isso, fica evidente a importância de se compreender
primeiramente esse período tão sombrio da historia da humanidade, para depois se
falar em direitos sociais, culturais e econômicos.
Com o pós-guerra surgiu a Organizações das Nações Unidas, essa
organização foi criada para promoção da cooperação internacional, atuando na
defesa da dignidade humana e traçando estratégias para o crescimento econômico
e o desenvolvimento humano. Em 1960 construiu-se um pacto internacional sobre
os direitos econômicos, sociais e culturais, valendo ressaltar o papel da cultura da
libertação do medo por meio da implementação de condições que permitam a cada
pessoa desenvolver suas potencialidades e de desfrutar dos direitos econômicos,
sociais e culturais, bem como dos direitos civis e políticos.
Seguindo essa mesma vertente, Portugal consagrou o princípio da
democracia econômica, social e cultural em sua constituição de 1976 em seu artigo
2º que diz “A República Portuguesa é um Estado de direito democrático, baseado na
soberania popular, no pluralismo de expressão e organização política democrática,
no respeito e na garantia de efetivação dos direitos e liberdades fundamentais e na
separação e interdependência de poderes, visando a realização da democracia
econômica, social e cultural e o aprofundamento da democracia participativa.”
Esses princípios positivados na constituição do país, servem para limitar o
retrocesso dos direitos econômicos e sociais como os direitos dos trabalhadores,
direito à assistência, direito à educação, dentre outros. A criação e aplicação desses
direitos foram de extrema necessidade humana, visto que ao longo da história povos
menos desenvolvidos economicamente tiveram suas vidas arruinadas, para saciar a
ganância do capitalismo dos países mais desenvolvidos. Indubitavelmente, as
adoções dessas medidas, impactaram positivamente os direitos subjetivos dos
indivíduos que vivem em situações de vulnerabilidade socioeconômica, por exemplo:
a distribuição de renda mínima para essas pessoas, o acesso gratuito a cultura,
educação, serviços de saneamento básico e saúde.
Esse princípio se encontra constituído em inúmeros preceitos dos direitos
subjetivos dos cidadãos, porém é considerado princípio jurídico fundamental objetivo
e não uma norma de prestação subjetiva, sendo tarefa do poder legislativo, não dos
tribunais. No entanto, tem natureza vinculante para alguns casos sendo possível
falar em “inconstitucionalidade da lei por violação do princípio da sociabilidade”.
O princípio a qual já foi supracitado é reputado como “organizatório” dos
deveres do poder público para com organizações político privado ou por entidades
autônomas, sem a obrigatoriedade de prestação direta pelo Estado, mas garantindo
a universalidade de acesso das pessoas aos bens indispensáveis a um mínimo de
existência. Nesse sentido, Portugal adotou que os serviços de interesse econômico
geral passassem a serem prestado por empresas privadas, no entanto, a Carta
Europeia de Direitos Fundamentais os eleva a direito fundamental, estabelecendo
que devam ser igualitários e progressivos, com tarifas redistributivas, com acesso à
rede de forma objetiva, transparente e não discriminatória. O princípio da
democracia econômica e social se concretiza por meio da:
Constituição econômica – Os princípios da mesma traduzem uma
conformação de ordem fundamentais da economia, impondo limite e impulso ao
legislador. Limite no sentido de impossibilitar o legislador de executar uma política
social contrária às demais normas constitucionais, já o impulso exige do legislador e
de órgãos concretizadores a execução dessas políticas em conformidade com as
normas dispostas na constituição.
Constituição do trabalho – A Constituição portuguesa não dedicou capítulos
específicos a constituição do trabalho, contudo, essa matéria foi alocada entre os
direitos fundamente, visto que preceitos relativos ao direito ao trabalho, do direito de
trabalho e o direito dos trabalhadores tem dimensão subjetiva e caráter de direitos
fundamentais. No entanto, a Constituição atribuiu ao trabalho, emprego e direitos
dos trabalhadores em instrumento constitutivo da ordem constitucional global e
instrumento realizador do princípio da democracia econômica e social.
Constituição Social – Caracterizada por todo um apanhado de princípios de
natureza social, organizados na Constituição, sendo um superconceito, pois engloba
reúne os mais variados princípios fundamentais conhecidamente por direitos sociais.
É garantido a todos os portugueses e residentes de Portugal direitos como:
segurança social, saúde, habitação, ambiente e qualidade de vida entre outros.
Ademais, estabelece de forma tácita o princípio da democracia social sua derivação
do princípio da dignidade humana e do princípio da igualdade.
Constituição cultural – conjuntos de normas alusivo ao direito à educação,
cultura, ensino e ao desporto respaldam a constituição cultural, comprovando que o
princípio econômico e social não se resume apenas a simples dimensão econômica,
mas a prestações existenciais para assegurar a existência digna de expressão
cultural.
Com relação a princípio da socialidade e o Estado regulador, o Estado
Social assumiu forma moderna de Estado Regulador de serviços públicos
essenciais, tendo por base o fato de que muitos serviços econômicos de interesse,
ou seja, a execução de tarefas que estão no núcleo duro das tarefas do Estado
necessita de recursos financeiros, saberes e competência técnica e profissional que
se encontram fora do aparelho do Estado. Essa forma de atuação com a liberação e
privatização não significa a despedida do Estado e inexistência de regras públicas
ou abandono da responsabilidade estatal, mas uma combinação entre a
autorregulamentação privada e a intervenção pública reguladora. Ratificando a
importância do Estado, possui este: capacidade econômica, poder de distribuir os
bens, educação, cultura, convenções sociais, a ética econômica e religiosa, dentre
outros, são pressupostos de direitos fundamentais que, condicionam de forma
positiva ou negativa a existência e a proteção dos direitos econômicos, sociais e
culturais.
A Constituição portuguesa 1976 trouxe consigo grandes avanços para o
desenvolvimento do ser humano enquanto pessoa, dadas as mudanças que essas
normas proporcionaram a sociedade, levando a todos mais inclusão e dignidade.
Diferente da Constituição Portuguesa, que logo no art. 2º trata de forma expressa
sobre o princípio da democracia econômica, social e cultural, como objetivo do
Estado democrático de direito, a Constituição brasileira, não explicitar da mesma
forma, porém, contempla vários dispositivos com os mesmos propósitos, sendo
possível traçar um paralelo entre as duas nações quanto às suas normas
fundamentais.

3. Ordem Econômica e Constituição Econômica.

Ordem econômica e Constituição econômica são importantes elementos


para a concretização da democracia econômica e social. Logo, faz-se necessário
evidenciar cada um dos termos citados. A priori, a ordem econômica volta-se a
manutenção e estruturação da vida econômica do Estado, em outras palavras, ela
busca controlar a atuação dos agentes econômicos e as diferentes atividades
econômicas existentes.
Nesse ínterim, cabe frisar que, de acordo com o artigo “ O princípio da
democracia econômica e social e a Constituição brasileira de 1988”, a ordem
econômica é definida por Eros Grau como a ordem jurídica da economia, a qual se
apresenta sobre duas vertentes, a primeira é um vertente de ordem de fato, inerente
ao mundo do ser, ou seja, ao que nós encontramos de modo concreto no cenário
econômico, e já a segunda é uma vertente de ordem de direito, inerente ao mundo
do dever ser, isto é, ao que nós não temos de forma concreta e que ao mesmo
tempo é o que nós almejamos através dos ordenamentos jurídicos, visto que, o
direito possui aquilo como o correto.
Ademais, nesse sentido, cabe ressaltar que, Eros Grau estabeleceu tal
definição a partir do conceito de ordem econômica dado anteriormente por Vital
Moreira, o qual estabelecia que a mesma era definida através de três sentidos: o
primeiro era o conceito de mundo do ser, semelhante a primeira vertente de Eros, a
do mundo do ser, inerente ao que se encontra de fato na economia; o segundo era o
sistema normativo no sentido sociológico, semelhante a segunda vertente de Eros, a
do mundo do dever ser e da ordem de direito, pois, esse sentido se referia ao
conjunto de normas e regras positivas que tinham o objetivo de regular os
comportamentos existentes na economia; e já o terceiro sentido era o de ordem
jurídica da economia, meio pelo qual se alcançava a ordem econômica, uma vez
que, o conjunto de normas e regras se efetivavam aqui.
A posteriori, no que tange a Constituição econômica, definida como
tratamento constitucional que regula a vida econômica, cabe frisas que, a mesma
atua como parte da Constituição Federal que rege as relações econômicas por meio
dos seus preceitos, normas e instituições jurídicas que organizam e direcionam o
funcionamento da economia. Desse modo, a Constituição econômica é tida como o
meio pelo qual a ordem econômica se constitui, pois nela contém todos os direitos
que legitimam a atuação dos agentes econômicos, o conteúdo, os limites desses
direitos e a responsabilidade do exercício da atividade econômica.
Sob essa ótica, ordem econômica e constituição econômica encontram-se
diretamente relacionadas, sendo interessante mencionar ainda que, ambas são
interdependentes, uma vez que, a primeira Constituição econômica surgiu da
dificuldade existente de se manter a própria ordem na economia frente a guerra e os
inúmeros problemas sociais surgidos, fazendo com que no final do século XX, após I
Guerra Mundial, as Constituições escritas trouxessem normas destinas a regular os
fatos econômicos, e esse continua sendo o seu objetivo.
Porém, apesar da existência da Constituição econômica ser algo que advém
de muito tempo, ainda se percebe que nem tudo que é assegurado pela lei ocorre de
fato na prática, assim a ordem econômica ainda enfrenta problemas relacionados a
o que produzir, quanto produzir e para quer produzir; problemas advindos do
descumprimento da legislação, a exemplo, corrupção, sonegação de impostos,
pratica de cartel; problemas de dependência tecnológica e econômica, crises
econômicas e inflação.

4. Constituição econômica brasileira. A ordem econômica na Constituição


de 1988.

Tendo ciência dos conceitos de ordem econômica e Constituição econômica


se abordará aqui como a Constituição econômica se apresentou pela primeira vez
na Constituição brasileira, bem como sua evolução até a Constituição de 1988.
Desse modo, trataremos da evolução da Constituição econômica de acordo com a
percepção de Filomeno Morais Filho trazida pelo artigo em análise.
Segundo Filomeno, desde a Constituição Política do Império do Brasil de
1824, já existiam algumas disposições a cerca de ordem econômica, porém estas se
encontravam de forma explícita e ainda não eram nomeadas propriamente de
“ordem economia”, embora já tratassem de termos como o trabalho e a propriedade
privada e impedissem qualquer tipo de proibição a gêneros de trabalho, cultura,
industria ou comércio.
Já a Constituição Federal de 1934 até a Constituição de 1967, trataram
ordem econômica de maneira explícita e a trouxeram em conjunto com a ordem
social, assim existia um título que versava de “ordem econômica e social”. No mais,
no tocante a Constituição Federal de 1988, ordem econômica já passou a ser
tratada separadamente de ordem social, embora ambas continuassem tendo uma
direta relação e permanecessem com o objetivo de manter o bem- estar da
população e garantir a justiça social. Dispondo, ainda, a Constituição atual de um
titulo que versa sobre “ ordem econômica e financeira” e outro que dispõe sobre
“ordem social”, sendo válido analisar os trechos a seguir, os quais foram retirados da
Constituição Federal de 1988:

“ TÍTULO VII
DA ORDEM ECONÔMICA E FINANCEIRA
CAPÍTULO I
DOS PRINCÍPIOS GERAIS DA ATIVIDADE ECONÔMICA
  Art. 170. A ordem econômica, fundada na valorização do trabalho humano e na
livre iniciativa, tem por fim assegurar a todos existência digna, conforme os ditames
da justiça social, observados os seguintes princípios:”

“TÍTULO VIII
DA ORDEM SOCIAL
CAPÍTULO I
DISPOSIÇÃO GERAL
  Art. 193. A ordem social tem como base o primado do trabalho, e como objetivo o
bem-estar e a justiça sociais.”

Dispondo cada um dos títulos de suas atribuições específicas. De modo que


a ordem social volta-se a manutenção do planejamento das políticas sociais e a
ordem econômica volta-se a garantia dos seus fundamentos - valorização do
trabalho, livre iniciativa, existência digna e justiça social - observando o seu conjunto
de princípios.
4.1. Valorização do Trabalho

A valorização do trabalho é um dos fundamentos da ordem econômica, o


qual se refere ao conjunto de direitos sociais que visam garantir condições de
trabalho dignas e benefícios trabalhistas. Assim, a valorização do trabalho busca
boas condições no ambiente de trabalho, tais como infraestrutura e condições
salubres que não ponham em risco a integridade física do trabalhador, além dos
benefícios trazidos pela Constituição Federal nos seus arts. 6° e 7°.
Os artigos mencionados garantem a renda mínima, que atualmente é de mil
duzentos e doze reais; as férias remuneradas, que prega que nas férias o
trabalhador tem direito a receber o seu salário normalmente mais o adicional de
férias; a aposentadoria; o 13° salário; jornada diária de trabalho, que deve ser de 8
horas; repouso semanal remunerado, que geralmente é aos domingos; a licença
gestante, que deve ser sem prejuízo do emprego e do salário e deve ter 120 dias; a
licença paternidade que pode variar de 5 a 20 dias, entre outros.
É através do trabalho que o homem é visto como digno perante a sociedade
e é por meio da sua valorização que o direito a dignidade humana é garantido. No
entanto, apesar da frase: “ O trabalho dignifica o homem”, de Max Weber, e de todas
as disposições trazidas na Constituição vê-se que o trabalho não é tão valorizado na
prática, pois nem tudo que a lei impõe é seguido.
Nesse viés, se o trabalho é o meio pelo qual o homem obtém o seu sustento e
torna-se digno, todas a profissões deveriam ser bem remuneradas e valorizadas
perante a sociedade, mas isso não se observa na prática, haja vista os cortes
salariais ocorridos, trabalhos em que o trabalhador não tem direito a férias, não
recebe um salário mínimo, trabalha longas jornadas diárias, diferença salarial
expressiva entre as diferentes profissões e até mesmo trabalha em condições
análogas a escravidão, a exemplo, o caso de Madalena, mulher de Patos de Minas
que passou cerca de 38 anos vivendo sob condições semelhantes as escravistas, e
que comprova que a valorização do trabalho ainda é falha e enfrenta vários
impasses.

4.2. Livre Iniciativa


A livre iniciativa por sua vez é o fundamento da ordem econômica que permite
o exercício de qualquer atividade econômica desde que esta não ponha em risco a
sociedade. Por ela todos os cidadãos dotados de liberdade e gozando de igualdade
podem exercer uma atividade econômica sem restrição do Estado, pois essa é vista
como uma forma de dignidade e exercício do próprio princípio da livre iniciativa.
Ademais, a livre iniciativa encontra-se disposta no art. 1°, IV da Constituição
Federal e segundo o artigo analisado é uma forma de manifestação do liberalismo, a
qual de acordo com Luis Roberto Barroso se desdobra em liberdade de industria e
comércio, envolvendo desde a liberdade de empresa até a liberdade de livre
concorrência. Além de esta ser considerada ainda o princípio do qual surge as
demais liberdades desde de que não seja violada a própria Constituição, haja vista o
estabelecido no art. 5° da mesma.
No entanto, é válido pautar que, a livre iniciativa, apesar de fornecer a
liberdade para todos os cidadãos adentrarem no âmbito econômico, acaba
enfrentado alguns problemas, a exemplo, o desenvolvimento econômico privado,
pois este se configura como um fator que dificulta a expansão de empreendedores,
ou até mesmo a existência de grandes empresas nacionais e internacionais, a
exemplo, a Coca Cola, a qual é conhecida mundialmente e acaba limitando a
atuação de novas empresas no mesmo ramo, visto a preferência pela marca e a
existência da concorrência no mercado que faz com que novas marcas por não
serem conhecidas fiquem para trás.

4.3. Existência Digna

A existência digna é o fundamento da ordem econômica que se consolida


através do trabalho, posto que este dignifica o homem, porém, a dignidade humana
é muito mais ampla. Segundo a percepção de José Afonso da Silva, a dignidade
humana é o valor supremo que atrai todos os direitos do homem, assim a
Constituição Federal a considera uma cláusula pétrea e determina que essa é uma
função do Estado, o qual deve buscar erradicar a pobreza, através dos direitos
sociais e de políticas públicas de distribuição de renda, a exemplo, o bolsa família
que visa dar subsídio as famílias mais carentes, a fim de contribuir com a
erradicação da pobreza e a diferença social existente no país.
Dado o exposto, fica evidente a relação entre dignidade humana e
constituição econômica. Porém, haja vista o cenário brasileiro atual percebe-se que
a mesma assim como os dois fundamentos já supracitados enfrentam problemas
para a sua efetivação, assim falhas nos sistemas de saúde, educação, saneamento,
previdência social, assistência social, moradia e entre outros, fazem com que exista
uma disparidade alarmante em relação a igualdade dos membros de uma sociedade
e faz assim com que muitos vivam sob condições mínimas de existência.
Cabendo frisar que, segundo o estudo “ Mapa da Pobreza” desenvolvido
pela Fundação Getulio Vargas no ano de 2019 e 2021, cerca de 62,9 milhões de
brasileiros vivem com menos de quinhentos reais por mês, o que evidência a
pobreza existente no Brasil e o quão é alarmante o cenário encontrado, pois este
representa cerca de 29,6% da população total do país. Mostrando mais uma vez, o
quão falho é o sistema e o quão injusta é a distribuição de renda de um país
capitalista, onde enquanto uns são muitos ricos, ou em compensação são bem
pobres e vivem sob péssima condições.

4.4. Justiça Social

A justiça social busca garantir a efetivação da ordem econômica. Assim,


justiça social é a integração entre o aspecto econômico e o social, a qual busca a
igualdade de direitos, principalmente entre os menos favorecidos para que se
diminua as disparidades existentes no tocante ao trabalho, propriedade, meio
ambiente, contratos e empresas. Nesse norte, Eros Grau afirma que a justiça social
volta-se a superação das injustiças permitindo a efetividade do desenvolvimento
sócio econômico, pois a justiça social é uma forma de alcançar a existência digna,
visto que, por ela todos são iguais em direitos e deveres.
Logo, a justiça social busca um mundo mais justo e menos desigual, através
da efetivação de valores morais e políticos no que tange a desigualdade. Sendo,
portanto, de suma relevância analisar os princípios que contribuem para a efetivação
da justiça social e consequentemente para o alcance da existência digna como
pressuposto para o alcance da ordem econômica e os quais serão elencados a
seguir:

4.5 Princípio da soberania nacional


Ao abordar os Princípios Gerais da Atividade Econômica, o Art. 170 da
Constituição brasileira trata a soberania nacional como um dos seus elementos
principais, onde mostra que além da soberania política e da independência nacional,
para alcançar a condição de país soberano, são necessárias as condições de
dependência tanto econômica quanto tecnológica dos países desenvolvidos. Em
palavras mais claras, podemos afirmar que a soberania descrita caracteriza-se como
o poder do Estado, em interferir e dirigir a ordem econômica, nos aspectos em que
for de seu interesse ou da coletividade.

4.5. Princípio da propriedade e princípio da função social da propriedade

Assim como no Art. 5.º, XVII, o Art. 170, II e III, tratam a propriedade como
direito fundamental,  garantindo a todos a apropriação de bens e meios de produção,
devendo cumprir sua função econômica que é gerar riqueza, empregos, tributos ao
Estado, trabalho, e desenvolvimento econômico. É uma condição que está
interligada com o exercício da livre iniciativa, pois determina o respeito pela
propriedade alheia e limita a ação do Poder Estatal, que só está autorizado a
restringir a propriedade privada nos casos expressamente legais.

4.7. Princípio da livre concorrência e controle do abuso do poder econômico

Neste ponto, a abordagem está contida em vários trechos da CF,


destacando o absoluto direito de qualquer empreendedor o exercício da atividade
comercial e de seus preços, garantindo a todos a liberdade para escolher a atividade
que desejam desenvolver para seu sustento, de forma a limitar a atuação do Estado
nas suas opções econômicas. 
Mas, como controle do abuso, cabe ao Estado assegurar a disputa entre os
concorrentes, garantindo o equilíbrio entre a oferta e a procura, conforme prevê o
Art. 173, §4º: “a lei reprimirá o abuso do poder econômico que vise à dominação dos
mercados, à eliminação da concorrência e ao aumento arbitrário dos lucros”.

4.8. Princípios de integração: defesa do consumidor, defesa do meio ambiente,


redução das desigualdades regionais e sociais e a busca do pleno emprego.
Os Incisos V, VI, VII e VIII buscam abranger vários direitos sociais,
destacando o primeiro deles - defesa do consumidor - contido em várias normas da
legislação brasileira, almejando proporcionar igualdade de oportunidade e
tratamento entre os atores econômicos. A defesa do meio ambiente é necessária
para a sobrevivência de todos os seres, e direito da coletividade.
Porém, os meios utilizados para o crescimento econômico vêm danificando o
ambiente, o que faz com que a legislação infraconstitucional estabeleça várias
condições para a liberação de algumas atividades que causem impacto ao meio
ambiente, em que pese ser alvo de críticas de determinados setores, que veem
“desnecessidades” de algumas normas estatais.
A redução das desigualdades regionais e sociais pode ser traduzido como
os atores econômicos, e fundamentalmente o Estado, têm o dever de evitar as
diferenças de cada localidade, considerando as dimensões continentais do Brasil,
buscando promover o desenvolvimento mais equilibrado possível entre as diferentes
regiões do país e determinadas atividades econômicas.
Seria então necessária a melhor distribuição de renda, o que gera um
paradoxo com o sistema econômico adotado, o sistema capitalista, que acumula
muito capital nas mãos de poucos. Contudo, com o aumento da produção há maior
geração de emprego e de renda, o que estimula cada vez mais o consumo.
Consumo este que não se limita mais à subsistência, mas que se expande para que
as pessoas possam satisfazer os seus desejos. Assim, a redução das desigualdades
tem como objetivo principal assegurar uma existência digna.
Enquanto que a busca do pleno emprego é o princípio que tenta assegurar a
dignidade do cidadão através da estabilidade econômica, possibilitando o sustento
dos seus.

4.9. Tratamento favorecido às empresas de pequeno porte

O último dos princípios elencados no Art. 170 da CF, este fala da busca pela
igualdade ou equidade entre os atores da atividade econômica, pois são as
pequenas empresas que geram milhares de empregos, mas esbarram em normas
que as impedem de desenvolver atividades mais abrangentes. A luta pela proteção
das mesmas, ante o poderio das multinacionais é alvo a ser tentado
permanentemente, como forma de garantia de sua sobrevivência.

4.10. Democracia econômica

No conceito do italiano Giovanni Sartori (1994, p. 30), o termo está ligado a


um sistema cuja meta política é a redistribuição da riqueza e a equalização das
condições e oportunidades econômicas, caso em que pode compreendê-la como
complemento da democracia política; e na acepção da democracia industrial
considera tratar-se da igualdade de controle sobre o processo produtivo econômico,
à medida que confere, também ao trabalhador, controle sobre a economia. Assim, a
democracia econômica surge como perspectiva da garantia de participação livre e
igualitária de todos os agentes econômicos no ambiente de mercado.

4.11. Intervenção direta do estado no domínio econômico


Esta previsão está contida no Art. 174. da CF: “Como agente normativo e
regulador da atividade econômica, o Estado exercerá, na forma da lei, as funções de
fiscalização, incentivo e planejamento, sendo este determinante para o setor público
e indicativo para o setor privado” e § 2º: “A lei apoiará e estimulará o cooperativismo
e outras formas de associativismo”.
Numa compreensão mais clara do texto constitucional, podemos afirmar que
a fiscalização citada no Caput do referido artigo fala do poder do Estado para
acompanhar as práticas econômicas, garantir que as leis sejam obedecidas pelos
agentes econômicos e, caso seja necessário, punir os transgressores, enquanto que
o disposto do §2° assegura o incentivo através de créditos e benefícios fiscais.

4.12. As novas conformações da ordem econômica

Mesmo com todas as “garantias” contidas na CF para a atividade econômica


no Brasil, a partir de Emendas aprovadas, tornou-se possível a entrada do capital
internacional em nosso território, o que, no contexto descrito por Eros Grau (2008, p.
177) “cedem ao assim chamado neoliberalismo” a partir de discurso de que a
Constituição inviabilizava a estabilidade e o crescimento econômico e que tornava o
País ingovernável.
Dessa forma, possui o objetivo de transformar a sociedade brasileira, tendo
ainda como fundamentos a valorização do trabalho e da livre iniciativa, proteção da
mercado interno, desenvolvimento e erradicação da pobreza extrema e
desigualdades sociais e regionais, favorecendo assim a busca desenvolvimento
econômico e social. Porém, a "Constituição e Estado continuam a se alienar",
insistindo na "separação" entre eles.

Conclusões

Conclui, pois, este trabalho, compreendendo que a Constituição de 1988


buscou inserir em seu texto garantias sólidas de exercício da atividade econômica
com dignidade e direitos pétreos, primando, também, pelas políticas sociais com a
intenção de assegurar aos mais necessitados mecanismos mínimos de
sobrevivência, mas abriu espaços para injustiças sociais que perduram até os atuais
dias.
Referências:

POMPEU, Gina Marcilio; PONTES, Rosa Oliveira de. O princípio da democracia


econômica e social e a Constituição brasileira de 1988. Revista de Direito
Econômico e Socioambiental, Curitiba, v. 8, n. 2, p. 230-256, maio/ago. 2017.

CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL DE 1988. Disponível


em: <https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/Constituicao.htm>. Acesso
em: 11, dez de 2022.

‌Mapa da nova pobreza: Estudo revela que 29,6% dos brasileiros têm renda
familiar inferior a R$ 497 mensais. Disponível em:
<https://portal.fgv.br/noticias/mapa-nova-pobreza-estudo-revela-296-brasileiros-tem-
renda-familiar-inferior-r-497-mensais>. Acesso em: 11, dez de 2022.

Problemas econômicos nos países subdesenvolvidos. Disponível em:


<https://mundoeducacao.uol.com.br/geografia/problemas-economicos-nos-paises-
subdesenvolvidos.htm>. Acesso em 11, dez de 2022.

OLÍVIO, Karoline. Princípios da ordem econômica brasileira. Disponível em


https://karololivio.jusbrasil.com.br/artigos/279051237/principios-da-ordem-
economica-brasileira#:~:text=I%20–%20Soberania%20nacional%3A%20Trata-,seus
%20interesses%20ou%20da%20coletividade. Dez 2015. Acesso em 12 dez de 2022

SARTORI, Giovani. A teoria da democracia revisitada: as questões clássicas.


São Paulo: Ed. Ática, 1994

GRAU, Roberto Eros. A ordem econômica na constituição de 1988. 13. ed. São
Paulo: Malheiros Editores, 2008.

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