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Resumo
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Introdução
Para um entendimento inicial do que está a ser tratado aqui, é mister que se entenda
como a Constituição Federal pode ser alterada. Estas especificações estão contidas dentro de
seus próprios dispositivos, transcritos a seguir:
No parágrafo 4° estão elencadas as conhecidas cláusulas pétreas, aqueles temas que são
intocáveis, imutáveis dentro do diploma legal de maior importância no ordenamento jurídico
brasileiro. Salvo essas exceções, nota-se que, de fato, a Constituição brasileira pode sofrer
mudanças. Contudo há de ser chamada a atenção de quão exigente é o processo de aprovação e
promulgação de uma Emenda Constitucional em relação a uma lei que precisa de menos turnos
e menos votos para que entre em vigor, como dispõe os artigos constitucionais abaixo:
Art. 65. O projeto de lei aprovado por uma Casa será revisto pela outra, em um
só turno de discussão e votação, e enviado à sanção ou promulgação, se a Casa
revisora o aprovar, ou arquivado, se o rejeitar.
Parágrafo único. Sendo o projeto emendado, voltará à Casa iniciadora.
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Art. 66. A Casa na qual tenha sido concluída a votação enviará o projeto de lei ao
Presidente da República, que, aquiescendo, o sancionará.
§ 1º Se o Presidente da República considerar o projeto, no todo ou em parte,
inconstitucional ou contrário ao interesse público, vetá-lo-á total ou parcialmente, no
prazo de quinze dias úteis, contados da data do recebimento, e comunicará, dentro de
quarenta e oito horas, ao Presidente do Senado Federal os motivos do veto.
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Pode ser observado no texto do ministro que, na teoria, poderia se dizer que o referido
projeto é irretocável. Mas será que a realidade fática corresponde ao que está sendo proposto?
Esta é uma questão que este artigo ousa trazer à reflexão, entregando bases para uma resposta
individual com a devida criticidade que uma menção de mudança da Constituição Federal exige
ter.
Essa nova proposta, chamada pelo Poder Executivo Federal de PEC da Nova
Administração Pública, pretende alterar 27 artigos já existentes na Constituição e incluir outros
87 novos. De forma sucinta, a Câmara dos Deputados, em seu site oficial, esclarece em matéria
publicada em 04 de setembro de 2020, portanto, um dia exato após a apresentação da PEC-32,
o que se pretende ser alterado:
Pontos polêmicos
Atual estruturação dos cargos públicos, quanto à garantia conferida ao ocupante, está
assim definida: Vitalícios, Efetivos e em Comissão. A PEC 32 propõe alterar essa estrutura para
3 (três) outros tipos de cargos a seguir: CVPI – Cargos com Vínculo por Prazo Indeterminado;
CTE – Cargos Típicos de Estado (Concurso Público + vínculo de experiência + classificação
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final dentro do efetivo previsto no edital do concurso público); CLA – Cargo de Liderança e
Assessoramento (substitui os cargos em comissão – função de confiança)
Para o novo CLA a PEC não deixa clara as diferenças atuais entre os Cargos em
Comissão e as Funções de Confiança, parece que ambos os cargos serão transformados em
Cargos de Liderança e Assessoramento. Embora haja atualmente uma garantia constitucional
que um percentual dos Cargos em Comissão, que mesmo sendo de livre nomeação e livre
exoneração, seja destinado para servidores de carreira, e, que Funções de Confiança sejam
apenas para Cargos Efetivos. A proposta deixa, ainda, a cargo de Ato do Chefe do Executivo
regulamentar quem vai ocupar os Cargos de Liderança e Assessoramento. A exigência de
funções técnicas, prevista na PEC-32 para essa categoria CLA já foi declarada inconstitucional
pelo STF, pois não se pode exigir tal qualificação de quem tem um vínculo precário com o
Poder Público, mas apenas dos concursados/efetivos.
No que tange o CTE – não está definido quais seriam esses cargos. Outra lei deverá
regulamentar dizendo quais são esses Cargos Típicos de Estado. Novamente nota-se uma
fragilidade em possibilitar regramentos posteriores e mais flexíveis sem o rigor de um processo
de aprovação à emenda constitucional.
Ainda sobre o CTE, existe uma grande polêmica acerca deste tema, no que se refere à
estabilidade, pois, no art. 37, II-B, c), dispõe que mesmo o ocupante, tendo atendido os demais
requisitos, inclusive o cumprimento dos 2 (dois) anos de vínculo de experiência com
desempenho satisfatório, ele pode vir a não ser efetivado por conta de uma avaliação final
subjetiva que só aproveitarão os “mais bem avaliados ao final do período do vínculo de
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experiência”. Isto notadamente abre um precedente para um mau gestor “melhor avaliar”
aqueles servidores que sejam do agrado dele, seja por ideologia partidária, seja por
permissividade nos atos de corrupção, ou quaisquer que sejam seus outros motivos, em
detrimento dos demais.
Existem questões abordadas pela proposta de emenda constitucional que vão além da
garantia conferida aos ocupantes dos cargos, elas versam, e comprometem, a própria existência
dos cargos em si. Um exemplo disso é de como está sendo tratada a terceirização das atividades
profissionais no setor público. Veja o que dispõe os primeiros parágrafos do art. 37-A da PEC:
Este dispositivo deixa uma margem muito ampla para os estados, municípios e Distrito
Federal criarem suas próprias leis, regulando o quanto da administração pública poderá ser
terceirizada, quantos cargos poderão ser destinados a serem exercidos pelos terceirizados, o que
compromete a lisura das contratações e a impessoalidade atualmente exigida e garantida através
dos concursos públicos. Além disso, com a rotatividade de servidores terceirizados que estariam
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constantemente aprendendo as atividades de seu cargo, não se teria a especialidade esperada de
um servidor de carreira, estável e longevo em sua função.
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Institui os fins de supersalários, férias de 60 (sessenta) dias, entre outros
“penduricalhos”. Ressaltando que essa medida só alcança um pequeno número de servidores, a
exemplo de juízes e procuradores.
Mudança do termo “típicos” nos Cargos Típicos de Estado para “exclusivos”, ficando
Cargos Exclusivos de Estado, devido à expressão “funções Típicas de Estado” estar relacionada
à educação, saúde e assistência social. Há uma redução significativa de quem, de fato, terá a
estabilidade. Como já visto anteriormente, ao ser analisada a estabilidade do servidor na
proposta, fragiliza-se o bom funcionamento da administração pública e a qualidade de seus
serviços prestados à sociedade.
Conclusões
Diante de tudo o que foi aqui apresentado, sem a pretensão de se esgotar o tema, fica
constatada a razão de tanta polêmica, debates e alterações de textos. Isto porque existe uma
intenção formalmente positiva na necessidade de uma reforma administrativa, embora essa
parte boa encontre-se muito mais na Exposição de Motivos à propositura da emenda, do que no
próprio teor proposto para os novos dispositivos constitucionais.
O que mais ficou evidente durante a análise exposta foi a quantidade de incertezas e de
falta de clareza em seus textos. Tais situações evidenciam como legislações inferiores,
posteriores a uma eventual aprovação da PEC-32 poderão regulamentar diversos pontos
importantes de caráter constitucional, sem que para isso precisem ter o mesmo rigor formal da
aprovação de uma emenda constitucional, com suas apreciações em 2 (dois) turnos em cada
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casa legislativa do Congresso Nacional, além da exigência de ambas as aprovações por um
mínimo de 3/5 (três quintos) dos seus Deputados Federais e Senadores.
O que realmente não se pode concluir aqui, e pelo visto, muito menos, na própria
Câmara dos Deputados, é de quando esse impasse terá fim, de qual será o texto que mais agrade
a todos os envolvidos e, até mesmo, se um dia essa reforma administrativa chegará a entrar em
vigor.
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Referências:
BRASIL. Emenda Constitucional – 2022. Brasília, DF. Senado Federal, [2022]. Disponível
em: https://www12.senado.leg.br/noticias/glossario-legislativo/emenda-constitucional, 2022,
acessado em: 09 de out. 2022.
BRASIL. [Câmara dos Deputados], PEC muda regras para futuros servidores e altera
organização da administração pública, Brasília, DF, [2021]. Disponível em:
https://www.camara.leg.br/noticias/690350-pec-muda-regras-para-futuros-servidores-e-altera-
organizacao-da-administracao-publica/. Acessado em: 09 de out. 2022.
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CORREIO BRAZILIENSE, Parada desde setembro na Câmara, PEC da Reforma
administrativa perde força, Brasília, DF [2021]. Disponível em:
https://www.correiobraziliense.com.br/economia/2021/12/4970306-parada-desde-setembro-
na-camara-pec-da-reforma-administrativa-perde-forca.html. Acessado em: 09 de out. 2022.
DIEESE.
Reforma administrativa: mudanças na PEC 32 ignoram demandas dos trabalhadores.
Brasil, [2021]. Disponível em:
https://www.dieese.org.br/outraspublicacoes/2021/sinteseEspecial5Pec32.html. Acessado em:
09 de out. 2022.
PROF. DIOGO MOREIRA. Entenda o que é a PEC 32/2020 e como ela impacta os
concursos, Brasil [2022]. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=Fm7fa9Or0cY.
Acessado em: 09 de out. 2022.
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