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Comissão aprova

fundão eleitoral
dobrado e emendas
turbinadas, ampliando
poder na eleição de
2024
Projeto de Orçamento tira poder da
articulação política de Lula; proposta precisa
ser votada pelo plenário do Congresso
21 .dez.2023 às 1 9h26
Atualizado: 21 .dez.2023 às 21 h43

Thiago Resende

BRASÍLIA O Congresso
Nacional avançou na aprovação do
projeto que amplia o fundão eleitoral e
as emendas parlamentares em 2024.
Isso expande o poder dos partidos
políticos, dos deputados e dos
senadores em ano de eleição municipal,
além de fortalecer os presidentes da
Câmara dos Deputados, Arthur Lira
(PP-AL), e do Senado, Rodrigo Pacheco
(PSD-MG).

A verba turbinada está prevista no


Orçamento do próximo ano, cujo texto
foi aprovado pela CMO (Comissão Mista
de Orçamento) na noite desta quinta
(21). Agora, o texto seguirá para análise
em sessão conjunta do Congresso,
marcada para essa sexta-feira (22).
Após uma disputa entre a Câmara e
o Senado, o valor do fundo que financia
as campanhas eleitorais foi fixado em
quase R$ 5 bilhões, o que é
praticamente o dobro do último pleito
municipal, em 2020.

Até 2015, as grandes empresas, como


bancos e empreiteiras, eram as
principais responsáveis pelo
financiamento dos candidatos. Naquele
ano, o STF (Supremo Tribunal Federal)
proibiu a doação empresarial sob o
argumento de que o poder econômico
desequilibrava o jogo democrático.

Rodrigo Pacheco (PSD-MG), presidente do Senado,


o presidente Lula (PT), e Arthur Lira (PP-AL),
presidente da Câmara - Ueslei
Marcelino/REUTERS

A partir das eleições de 2018, foi então


criado o fundo eleitoral, que usa
dinheiro público para bancar as
atividades de campanha dos candidatos.
Os presidentes de partidos e a cúpula da
Câmara articularam para repetir o valor
do fundão da eleição de 2022, que
também foi de aproximadamente R$ 5
bilhões. Mas no ano passado, a corrida
era para a Presidência da República,
governos estaduais e cargos de
deputado estadual, federal e senador.

Na avaliação de senadores, não haveria


justificativa plausível para distribuir a
candidatos a prefeitos e vereadores —
que percorrem apenas seus municípios
— o mesmo montante usado em uma
corrida para presidente, governadores,
senadores e deputados federais.

O relator do Orçamento de 2024 é o


deputado Luiz Carlos Motta (SP), que é
do PL e é próximo do presidente da
sigla, Valdemar Costa Neto. O partido
de Jair Bolsonaro tem a meta de
conquistar mais de 1.000 prefeituras no
próximo ano e terá direito à maior fatia
do fundão.

O Senado, porém, evitou um embate


direto com a Câmara na votação desta
quinta em relação ao valor para
financiamento de campanha —a eleição
municipal tem mais peso para os
deputados. Pacheco tentou articular um
valor intermediário, próximo de R$ 3
bilhões, mas não houve apoio no
Congresso.
A principal discussão na votação foi em
torno da expansão das emendas
parlamentares, aqueles recursos que
deputados e senadores enviam para
obras e projetos em seus redutos
eleitorais e, com isso, colhem capital
político.

O projeto aprovado prevê o patamar


recorde de R$ 53 bilhões para emendas
em 2024. Atualmente, no primeiro ano
desse governo Lula (PT), foram
reservados R$ 46,3 bilhões para atender
aos parlamentares. O aumento nesse
tipo de verba dá mais poder às cúpulas
da Câmara e do Senado, que usam as
emendas para conquistar mais
influência entre os parlamentares.

Além disso, há um cronograma para o


Palácio do Planalto fazer alguns desses
repasses. Essa medida é vista como uma
forma de tirar poder da articulação
política do Executivo.

"Na verdade, os investimentos do


governo vão ser inferiores às emendas
parlamentares", disse o deputado
Lindbergh Farias (PT-RJ). "Os senhores
tiraram R$ 17 bilhões do Executivo na
mão grande", afirmou.

O petista se referia ao corte que foi feito


no PAC (Programa de Aceleração do
Crescimento) e de outros projetos dos
ministérios do governo Lula para que o
Congresso conseguisse expandir as
emendas. "O governo deveria ter
mandado no Orçamento essas emendas
e não mandou. Então a comissão teve
que decidir de onde ia tirar", respondeu
Motta.

O líder do governo na Comissão Mista


de Orçamento, deputado Carlos
Zarattini (PT-SP), disse que o acordo
costurado foi necessário para balancear
as agendas de Lula e do Legislativo.

"É muito contraditório. A gente enfrenta


dificuldades enormes. O governo tem
um foco. O Parlamento tem outros
focos que, muitas vezes, têm que ser
equilibrados. É isso que estamos
fazendo, avançamos naquilo que é
essencial", declarou Zarattini.

Existem três tipos de emendas: as


individuais (que todo deputado e
senador têm direito), as de bancada
(parlamentares de cada estado definem
prioridades para a região), as de
comissão (definida por integrantes dos
colegiados do Congresso).

Líderes do Congresso admitem que as


emendas de comissão vão funcionar
como as extintas emendas de
relator, que eram a principal moeda de
troca nas negociações do governo
Bolsonaro e do Legislativo. O
mecanismo das emendas de relator,
porém, foi derrubado pelo STF no fim
do ano passado.

Em 2022, as emendas de comissão


representaram apenas R$ 330 milhões.
Para 2024, o Congresso prevê R$ 16,6
bilhões.

De olho nessa verba, partidos políticos


travaram um embate nessa quinta em
relação à divisão desse dinheiro entre as
comissões da Câmara e do Senado. Isso
atrasou a votação do Orçamento.

"Não temos a mínima condição de


apoiar qualquer projeto com R$ 800
mil", reclamou o senador Carlos Viana
(Podemos-MG), que preside a comissão
de Ciência e Tecnologia do Senado. Ele
citou que a Comissão de
Desenvolvimento Regional terá R$ 4,5
bilhões e a CCJ, de Constituição e
Justiça, R$ 800 milhões –essa última é
comandada por Davi Alcolumbre (União
Brasil-AP), um dos campeões do envio
de emendas no Congresso.

Auxiliares de Lula estão preocupados


com as medidas aprovadas pelo
Congresso, que reduzem ainda mais o
poder do presidente nas negociações
políticas com deputados e senadores.

Uma delas trata de impor a Lula um


cronograma para que o governo libere o
dinheiro de emendas para as obras e
municípios escolhidos pelos
parlamentares.

Isso reduzir a margem de manobra para


acordos em momentos decisivos no
plenário da Câmara e do Senado.

Hoje não existe uma previsão de


quando a emenda será autorizada e,
historicamente, os governos usam isso
como moeda de troca em negociações
com o Congresso. É comum haver um
grande volume desses repasses às
vésperas de votações de interesse do
Palácio do Planalto.

Outra mudança aprovada no Orçamento


enfraquece o ministro-chefe da
Secretaria de Relações
Institucionais, Alexandre Padilha (PT),
que cuida da articulação política.

O Congresso quer encurtar o caminho


para o governo liberar algumas
emendas parlamentares. Por isso, há a
previsão de que os parlamentares
informem diretamente a cada ministério
qual será o projeto ou obra financiado
com o dinheiro da emenda.

Atualmente, Padilha foi empoderado


por Lula, que determinou que essa
comunicação fosse concentrada na
Secretaria de Relações Institucionais. O
ministro então se encarrega de repassar
os pedidos a cada pasta.
A demora nos repasses das emendas foi
recorrente ao longo desse ano entre os
líderes do centrão e outros partidos do
Congresso.

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