Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
MAÇOS NA GAVETA:
REFLEXÕES SOBRE A MÍDIA
Niterói, 2009
Comissão Editorial
Presidente: Mauro Romero Leal Passos
Ana Maria Martensen Roland Kaleff
Gizlene Neder
Heraldo Silva da Costa Mattos
Humberto Fernandes Machado
Juarez Kuayer
Livia Reis
Luiz Sérgio de Oliveira
Editora filiada à
Marco Antonio Sloboda Cortez
Renato de Souza Bravo
Silvia Maria Baeta Cavalcanti
Tania de Vasconcellos
Beatriz Kushnir
por Alberto Dines, Os idos de março e a queda em abril, editada nos
primeiros dias após o 31 de março. As ponderações de “Imprensa
Alternativa – Comentários sobre o Acervo”, de Sandra Horta, relatam
e analisam a política cultural de acumulação do acervo “Imprensa
Alternativa”, do Centro de Imprensa Alternativa e Cultura Popu-
lar da extinta Rioarte, e que se encontra em depósito no Arquivo Geral
da Cidade do Rio de Janeiro.
“Vencer e Convencer: a revista gente na antessala do golpe de
Estado de 1976”, de Norberto Osvaldo Ferreras, investiga, a partir de
reportagens publicadas no magazine voltado para as classes médias
Gente y La Actualidad, o processo de construção de consenso para o
golpe militar de 1976 na Argentina e o posicionamento desta impren-
sa no convencimento da população ao projeto militar. No âmbito da
América Latina, “Solicitando ao Pueblo Argentino: antagonismo de
classes e contendas entre trabalhadores e empresários nos comunica-
dos publicados na imprensa”, de Marina Maria de Lira Rocha, faz-nos
conhecer os comunicados publicados nos periódicos argentinos La
Nación, Clarín e La Opinión, entre junho de 1975 e março de 1976, por
organizações trabalhistas e empresariais, verificando os antagonis-
mos entre as classes e os projetos políticos para a solução da crise
no país.
O artigo de Roberto Elísio dos Santos mapeia a temática da
história em quadrinhos, como um produto de cultura de massas e que
teria por objetivo entreter e divertir, a partir do seu uso como veículo
de transmissão e persuasão de valores e ideias políticas. Para tal,
aborda momentos significativos da história mundial recente, com os
discursos oficiais e aqueles de questionamento. Ao passo que o artigo
“O papel da imprensa por ela mesma: golpe, ditadura e transição em
jornais e revistas brasileiros, entre 1984-2004”, de Flávia Biroli, analisa
os discursos sobre si na ditadura pelas reportagens dos jornais O Glo-
bo, Folha de S. Paulo, O Estado de São Paulo, Jornal do Brasil, Correio
da Manhã, e as revistas Veja, Isto É, Carta Capital e Época, durante os
períodos rememorativos do golpe, percebendo o enfoque na oposição
entre a repressão e a liberdade de expressão e de informação.
“Campo jornalístico, campo da saúde, e racionalidades políticas
a partir de um estudo de caso de um intelectual-jornalista”, de Mônica
Carvalho, infere a questão percebendo as narrativas científicas res-
paldadas por intelectuais. Procura verificar a inserção do “intelectual-
jornalista” no jornalismo, focando um estudo de caso do Dr. Drauzio
Varella, principalmente como cronista da Folha de S. Paulo. Por sua
vez, o meu artigo discute as questões prementes que envolvem a le-
gislação e o acesso aos documentos centrados na História do Tempo
1898-1908*
por dois ângulos distintos; e, por fim, a Avenida São Jerônimo, uma das
mais elegantes da cidade.26 Pode-se afirmar, desse modo, que Antônio
Parreiras inaugurou na administração municipal a fase das grandes
encomendas de pinturas, consolidando a imagem do intendente Le-
mos como mecenas e apreciador do requintado universo artístico. Em
apenas dez dias, Parreiras vendeu todos os seus quadros, guardando
em memória biográfica o feito entre os paraenses.27
Referências
2. O discurso jornalístico
Notas
* Este artigo foi elaborado a partir da dissertação de mestrado defendida no Pro-
grama de Mestrado em História da PUC-SP, intitulada: Os meios de comunicação na
memória e no discurso político em Uberlândia (1958 – 1963).
1 É interessante destacar que este prefeito foi eleito pelo nome Geraldo Ladeira
(cujo apelido se deve à semelhança deste com o apresentador César Ladeira, da
Rádio Nacional do Rio de Janeiro). Temos na documentação pesquisada seu nome
descrito de diversas formas: “Geraldo Motta Baptista, Geraldo Motta Batista,
Geraldo Mota Baptista” e outras variações possíveis. Preferimos, assim, utilizar
nas referências textuais, o nome que o popularizou, Geraldo Ladeira, utilizando
as outras formas apenas nas citações literais da documentação.
dez. 1958.
25 “Aprovado o orçamento apresentado: prefeito”. Correio de Uberlândia, Uberlândia,
30 nov. 1958.
26 “Gabinete do Prefeito”. Correio de Uberlândia, Uberlândia, 14 jul. 1959.
27 “Câmara inclinada a decretar afastamento do Prefeito”. Correio de Uberlândia,
Uberlândia, 21 jan. 1960.
28 O processo se desenrolou em termos legais de forma lenta, e, quase ao final do
ano, a comissão ainda não havia conseguido apurar devidamente os fatos, rolan-
do ainda mais o prazo para averiguação das contas da prefeitura (“Prefeito na
Lei Responsabilidades: perda do cargo”. Correio de Uberlândia, Uberlândia, 9 maio
1961).
29 “Candidatura desta casa”. Correio de Uberlândia, Uberlândia, 13 maio 1962.
30 “Vitoriosa a chapa de Raul e Chico Rivalino”. Correio de Uberlândia. 11/10/1962.
31 “No ar a Rádio Cultura de Uberlândia”. O Triângulo, [S.l.], 5 set. 1958.
32 “Toninho Rezende agradece à mulher uberlandense pela Rádio Cultura”. O Triân-
gulo, [S.l.], 21 set. 1958.
33 “Uberlândia deu 6.612 votos para o candidato paraquedista e apenas 15.148 dos
seus 25 mil votos para Afrânio e Rondon”. O Triângulo, [S.l], 15 out. 1958.
34 “Alô, alô, Sr. G. Ladeira”. O Triângulo, [S.l], 1 mar. 1959.
35 Jornalistas passaram por Uberlândia dizendo-se representantes da editora norte-
americana H.W. Company, com o objetivo de relacionar o nome de pessoas ilustres
para publicar sua biografia no livro: “Who’s who in Latin America”, o que custaria
a cada biografado a quantia de 20 dólares. No entanto, o fato foi descoberto pela
Delegacia de Furtos e Roubos de Belo Horizonte, que afirmou tudo não passar
de uma fraude. Encabeçando a lista dos que caíram no “conto” da biografia está
o sr. prefeito municipal, Geraldo Ladeira, seguido dos vereadores Valdir Melgaço
Barbosa, Moacyr Lopes de Carvalho e outros 50 personalidades locais. “‘Dinheiro
de trouxa, matula de malandro’, e muita gente boa foi no ‘Conto da Biografia’”. O
Triângulo, 11 abr. 1961.
36 “Prefeito deixa a cidade em verdadeiro abandono”. O Triângulo, [S.l.], 22 jul. 1961.
37 “Renato de Freitas candidato a Prefeito”. O Triângulo, [S.l.], 14 jan. 1962.
38 “Posse do novo prefeito”. O Triângulo, [S.l.], 27 jan. 1963.
39 DUARTE, Celina Rabelo. Imprensa e redemocratização no Brasil: um estudo de duas
conjunturas: 1945 e 1974-1978. Dissertação (Mestrado)–Pontifícia Universidade
Católica, São Paulo, 1987. p. 155.
40 CALDAS, Waldemir. Cultura de massa e política de comunicação. São Paulo: Global,
1986. p. 85.
Referências
Áureo Busetto
Áureo Busetto
definitivamente não seriam da ordem da programação, mas diferenças
político-eleitorais. Próximo politicamente do presidente JK, Simonsen
apoiava a candidatura presidencial do marechal Lott. Moura fechava
com a de Jânio. Como resultado final do embate, Simonsen comprou
as ações de Moura e pôde, assim, colocar a emissora a favor da
candidatura situacionista. Mesmo com sua opção político-eleitoral
vencida, Simonsen não encontraria dificuldades em se aproximar do
presidente eleito, o que era, e continua sendo, de grande valia para todo
concessionário de radiodifusão. Sua aproximação com Jânio devia-se
ao fato de Saulo Ramos, advogado de Simonsen e da Excelsior, ter sido
nomeado chefe de gabinete do governo janista.
Não tardaria e Simonsen compraria as cotas dos outros dois
sócios minoritários da Excelsior, bem como colocaria seu filho Walla-
ce Cochrane Simonsen Neto, o Wallinho, à frente da emissora. A TV
Excelsior era a única empresa de Simonsen na área de comunicação
social e estava longe de ter o poder do condomínio Diários e Emissoras
Associados, de propriedade de Assis Chateaubriand, ou de se igualar
ao da rádio e tevê Record, de Paulo Machado de Carvalho. Porém, tal
posição não impedira o crescimento e o êxito da TV Excelsior. Sucesso
obtido em razão dos amplos investimentos aplicados na emissora,
em grande medida oriundos de outros negócios de Simonsen, e do
estabelecimento de uma programação arrojada e inovadora.
Entre o fim de 1962 e o início de 1964, a Excelsior se encontrava
em plena expansão. No início de 1963, Simonsen adquire de Assis Chau-
teuabriand o Canal 2 e instala a TV Excelsior do Rio de Janeiro. Logo
depois, compra 1/3 das ações da TV Vila Rica, de Belo Horizonte, e
adquire metade da TV Gaúcha, de Porto Alegre, além de firmar acordos
com emissoras de Curitiba, Recife, Uberlândia e Cuiabá para exibição
de parte da produção da Excelsior. A tevê de Simonsen propriamente
se tornava a primeira rede de televisão brasileira, pois boa parte de
sua programação era exibida em várias regiões do país. Expediente
possível graças ao recurso do videoteipe (VT) e do transporte rápido
e sem custos adicionais das fitas de programas da Excelsior pelos
vôos da Panair do Brasil.
Em termos da produção televisiva, a direção da TV Excelsior
contratou ótimo elenco de artistas e igual quadro de técnicos, so-
bremaneira profissionais vinculados às suas concorrentes diretas:
TV Tupi, TV Record e TV Rio. Implementou a grade de programação
vertical e horizontal – uma sequência diária com programa infantil,
telenovela, telejornal, shows e filmes. Lançou um casal de bonequinhos
animados como mascote da emissora e que era utilizado em vinhetas
da programação, procedimento que possibilitava aos telespectadores
Áureo Busetto
banqueiro vinculado a Bancos internacionais e ligado aos negócios da
cafeicultura, acusava Mário Simonsen de realizar operações econômi-
cas ilícitas e vantajosas com o governo federal. Denúncia que gerou a
abertura de uma CPI, que, instalada para investigar a política cafeeira,
acabaria sendo conduzida de maneira tendenciosa, sobretudo após
o Golpe de 1964, e devassaria apenas uma entre todas as firmas de
café: a COMAL (Companhia Paulista de Comércio do Café), fundada,
em 1926, por Roberto Simonsen e há muito, então, capitaneada pelo
seu sobrinho Mário Wallace Simonsen.
Com a deposição de Jango, a TV Excelsior passaria a viver dias
difíceis. Seu proprietário, alinhado ao presidente deposto, não quei-
ria aceitar, pelo menos tão cedo, a vitória dos militares e ser alijado
das vantagens que usufruía junto ao poder federal. Não por acaso, a
Excelsior carioca não exibiria em seus noticiários os acontecimentos
ligados ao golpe. E a paulista retiraria do ar, no dia 1o de abril, seus
telejornais para não ter de informar sobre o movimento golpista, dei-
xando de atender, dessa forma, à solicitação do governador Adhemar
de Barros para que todas as rádios e tevês paulistas divulgassem os
acontecimentos da “Redentora”. A única imagem ligada ao golpe que
fora exibida pela Excelsior não era, entretanto, favorável ao golpe, pois
apresentava a cena do assassinato de um garoto de 12 anos que, em
frente ao Clube Militar da cidade do Rio de Janeiro, gritara o nome
de Jango. Ato contínuo, o garoto fora alvejado na cabeça por um tiro
disparado pela pistola de um homem com estereótipo de militar.
Exibição ousada, uma vez que a matéria fora apresentada na edição
carioca do Jornal de Vanguarda, então líder de audiência. No dia se-
guinte ao golpe militar, a direção da emissora carioca era inquirida por
não ter feito a cobertura dos acontecimentos. Em São Paulo, o mesmo
ocorreria. Entretanto, um mês depois, jornalistas e profissionais da
Excelsior paulista seriam presos sob alegação de terem promovido
greve no dia 1o de abril, com a finalidade de boicotarem a divulgação
da “Revolução de 31 de Março”.
Mesmo com as dificuldades geradas pelo golpe, a TV Excelsior
continuava, até por força de compromissos comercias assumidos,
exibindo a sua programação normal, exceto na produção dos tele-
jornais. As informações e comentários veiculados nos noticiários
passavam pelo expediente da autocensura, o que resultava na perda
da autenticidade dos telejornais da emissora. Porém, a Excelsior
tentava denunciar a censura sofrida. Seus diretores não reeditavam,
salvo as telenovelas, os programas que tinham partes vetadas pela
censura, e, vez ou outra, exibiam, no lugar das partes censuradas, os
seus mascotinhos com as bocas e os ouvidos tapados, acompanhado
Áureo Busetto
e, depois, outra menor seria concedida à empresa Cruzeiro do Sul.
Sem os negócios da COMAL e sem os voos da Panair, a TV Excelsior
dificilmente se manteria no ar, ou nas mãos de Simonsen. Com tais
medidas, perdia Mário Simonsen, ceifado de importantes sustentá-
culos econômicos. Sofria a Excelsior, cujas finanças e funcionamento
eram feridos de morte. O telespectador deixava de usufruir de ino-
vações qualitativas no setor da produção televisiva promovidas pela
Excelsior. Ganhava a ditadura militar, inclusive com a encampação de
instalações aeronáuticas do empresário. Eram beneficiadas, também,
empresas que concorriam diretamente com as de Simonsen, notada-
mente a Varig, de propriedade de Rubem Berta, o Chase Manhathan
Bank, cujo presidente, David Rockefeller, e o seu representante local,
Walter Moreira Salles, disputavam espaço no comércio internacional
do café e tinham interesses ligados aos negócios da Varig. Ademais,
indústrias norte-americanas de aviação e de tecnologia televisiva
favoreciam-se indiretamente, dado que a Panair, dispondo apenas de
aeronaves fabricadas por empresas europeias, sobretudo de origem
francesa, e a Excelsior, valendo-se apenas de equipamentos da inglesa
Marconi, deixavam de figurar como ótimos veículos de propaganda
indireta da qualidade de marcas europeias na acirrada concorrência
daqueles dois setores que se ampliavam no Brasil.
Por conta de ações políticas do governador Carlos Lacerda
contra as finanças de Simonsen, as ações da TV Excelsior foram se-
questradas pelo poder central. A Excelsior estava fora do controle da
família Simonsen. Lacerda, assim como Adhemar de Barros em São
Paulo, cobiçava a Excelsior e sonhava com seu palanque eletrônico.
Porém, o governo de Castello Branco procurara impedir a realização do
sonho de ambos os governadores, uma vez que reservaria um grande
lote de ações da emissora em nome da União. Apesar do sequestro
das ações, a administração da Excelsior pouco se alteraria. Apenas a
emissora do Rio de Janeiro contaria com um interventor federal, Carlos
Manga. Ademais, funcionários da Excelsior promoviam campanhas
para evitar um possível fechamento da emissora, bem como tentavam
transformá-la em uma Fundação. Projeto natimorto, uma vez que não
encontrava amparo legal.
Com a morte de Mário Simonsen, em Paris, e a apresentação de
garantias à dívida da sua família com o Banco do Brasil, o controle da
Excelsior voltava às mãos de Wallace Neto, agora como bem herdado.
O herdeiro, inicialmente, dava provas de que faria a emissora voltar à
situação anterior. Mas ele talvez desconhecesse que o regime militar
também lhe reservara uma herança: a perseguição política pela via
econômica. Dentro da lógica desta herança, a TV Excelsior encontrava
Áureo Busetto
que, assim, se tornaria vítima da sordidez da ditadura militar e de
alguns de seus colaboradores, como naquele momento parecia ser o
caso do Grupo Frical.
Por ironia, o CBT, alterado pelo Decreto 236/67 – dispositivo
que o tornava mais centralizador e lhe dava roupagem autoritária –,
não seria aplicado pelo governo federal para impedir a retomada da
Excelsior por Wallace Neto. Ademais, Frias e Caldeira conseguiram
que ele firmasse um contrato leonino, pois o documento lhe transferia
a concessão e os equipamentos da Excelsior, mas não os imóveis da
rede de TV.
Wallace Neto volta ao Brasil e reassume a Excelsior que, então,
definhava em enorme crise. Sobravam atrasos em pagamentos de
contas milionárias a distribuidoras de filmes e seriados. Até mesmo
greve de funcionários ocorrera, movimento grevista que, em pleno
processo de endurecimento do regime, fora facilmente autorizado
pelo Ministério do Trabalho. A crise da TV Excelsior aumentava e a
sua audiência desabava, fruto da reação do público diante da queda
de qualidade e da impontualidade da programação da emissora.
Sem condições de gerir a Excelsior, que já contava com 16
pedidos de falência, inclusive por parte da Previdência e da Receita
Federal, Wallace Neto vende, em 31 de março de 1970, sua rede de
tevê a Dorival Masci Neto, ex-deputado e dono da rádio Marconi. En-
tretanto, a escritura de compra e venda é lavrada no nome da esposa
de Masci Neto.
Nessa transação o CBT fora exemplarmente aplicado, uma vez
que o Executivo federal vetara a venda da Excelsior, alegando como
motivo da decisão o fato de Masci Neto ter os seus direitos políticos
cassados, tanto por questões de ordem política como de corrupção.
Preso por 24 horas para prestar esclarecimentos, Wallace Neto fora
solto e forçado a retomar a propriedade da Excelsior. Em meio a tudo
isto, funcionários da empresa promovem campanha, com o apoio de
artistas e técnicos de outras tevês, para manter em funcionamento
a emissora e colherem fundos para atender os empregados mais ne-
cessitados, cujos salários estavam em atraso, bem como decidiram,
em assembleia conjunta, colocar na chefia operacional da Excelsior os
jornalistas Ferreira Neto e Blota Gonzaga, empossar na chefia adminis-
trativa o coronel do Exército Geraldo Martins e entregarem a direção
financeira a Raul Joviano de Almeida. Em julho, estúdios da Excelsior de
São Paulo localizados na Vila Guilherme sofrem um incêndio. O sinistro
é considerado como proposital, mas a autoria é desconhecida.
A Excelsior via crescer, dia a dia, suas dívidas com Bancos,
agências do poder oficial, fornecedores e funcionários, embora esses
Áureo Busetto
tivesse efetivado, em 1967, algumas alterações de cunho autoritário
no Código, mediante inclusão do temível Artigo 53. De qualquer forma,
o episódio de perseguição à TV Excelsior serviu para manter conces-
sionários de canais de TV bem sintonizados com a programação de
governos militares. Ainda que, por vezes, ocorressem pequenos emba-
tes de um ou outro concessionário com o regime militar – geralmente
em razão de intervenções pontuais na produção televisiva –, eles não
foram significativos o bastante para ameaçar nenhuma concessão ou
repetir o esquema de perseguição sofrido por Simonsen.
A única constância do
Universo é a mudança.
(Miguel Falabella)
1 – Apresentação
4 – Comentários finais
Notas
1 ROLLEMBERG, Denise. A ditadura militar em tempo de radicalização e barbárie
(1968–1974). In: MARTINHO, Francisco Carlos Palomanes (Org.). Democracia e di-
tadura no Brasil. Rio de Janeiro: EdUERJ, 2006. p. 151.
2 Cf. KUSHNIR, Beatriz. Cães de guarda: jornalistas e censores, do AI-5 à Constituição
de 1988. São Paulo: Boitempo, 2004.
3 REIS, Daniel Aarão. Ditadura militar, esquerdas e sociedade. 3a ed. Rio de Janeiro: J.
Zahar, 2005. p. 61.
4 RIDENTI, Marcelo. Em busca do povo brasileiro. Rio de Janeiro: Record, 2000. p. 332.
5 NAPOLITANO, Marcos. Cultura brasileira: utopia e massificação (1950-1980). 2. ed.
São Paulo: Contexto, 2004. p. 90.
6 CLARK, Walter. O campeão de audiência: uma autobiografia. São Paulo: Best Seller,
1991. p. 228.
7 Ibid., p. 199.
8 Ibid., p. 263.
9 HAMBURGUER, Esther. Teleficção nos anos 70: intepretação da nação. In: AA. VV.
Anos 70: trajetórias. São Paulo: Iluminuras: Itaú Cultural, 2005. p. 49.
10 BORELLI, Silvia H. Simões. Cultura brasileira: exclusões e simbioses. In: AA. VV.
Anos 70: trajetórias. São Paulo: Iluminuras: Itaú Cultural, 2005. p. 57.
11 Ibid.
12 SIRINELLI, Jean-François. Os intelectuais. In: RÉMOND, René (Org.). Por uma
história política. 2a ed. Rio de Janeiro: FGV, 2003. p. 257.
13 Ibid., p. 257–258.
14 RIDENTI, Marcelo. Em busca do povo brasileiro. Rio de Janeiro: Record, 2000. p. 323.
15 LABORIE, Pierre. Les français des années troubles: de la guerre d’Espagne à la
Libération. Nouvelle édition. Paris: Desclée de Brower, 2003.
16 RIDENTI, Marcelo. Em busca do povo brasileiro. Rio de Janeiro: Record, 2000. p. 324.
17 RIDENTI, Marcelo. Em busca do povo brasileiro. Rio de Janeiro: Record, 2000. Mar-
celo Ridenti caracteriza todo o espectro do “romantismo revolucionário” baseado
em sua leitura da obra de Michael Löwy, Revolta e melancolia, o romantismo na
contramão da modernidade. Cf. p. 25.
18 Ibid., p. 128.
19 GASPARI, Elio. Alice e o camaleão. In: GASPARI, Elio; HOLLANDA, Heloisa Buarque
de; VENTURA, Zuenir. Cultura em trânsito: da repressão à abertura. Rio de Janeiro:
Aeroplano, 2000
Referências
João Amado
João Amado
de depoimento histórico. Para o prefaciador, apesar de ser um híbrido
de jornalismo, literatura e história, a obra seria eminentemente jorna-
lística, pois “um livro desta espécie não passa, em última análise, de
um prolongamento do jornalismo”.6
Os textos, organizados sob a forma de coletânea, não foram publi-
cados no periódico, o que teoricamente ofereceria maior independência
aos autores, já que os profissionais da imprensa não estavam ali como
empregados do jornal, diretamente sob as ordens do proprietário do
veículo. Entretanto, essa condição não significa que aqueles jornalistas
estivessem descolados da realidade que os cercava, nem que o conteúdo
dos textos fosse contraditório com a visão oferecida pelo órgão no qual
trabalhavam, mas sim que se pode presumir que o livro forneça pistas
para melhor compreendermos suas reflexões e que o conjunto da obra
agregue novos elementos aos estudos sobre a atuação dos jornalistas
na legitimação da derrubada do presidente João Goulart.
Quando se pretende examinar a atuação da imprensa no golpe de
1964 é usual nos debruçarmos sobre os periódicos daquele momento
histórico. Mas se a rigor o objeto da investigação não for exatamente a
imprensa, e sim o profissional que nela trabalha, o livro preparado por
jornalistas no calor da hora é fonte inestimável para tal empreitada.
Por outro lado, não podemos perder de vista o destacado papel que
o Jornal do Brasil desempenhou no processo que levou ao golpe de
1964. O livro foi coerente com o posicionamento de quase toda “grande
imprensa” da época e do JB em especial. Afinal, o periódico participou
ativamente do golpe civil-militar que derrubou João Goulart.
Há mais de duas décadas a academia tem se dedicado ao estudo
do livro, enxergando-o não só como fonte, mas também como objeto.
Para descobrir o que liam os franceses no século XVIII, o historiador
Robert Darnton pesquisou documentos de editores do Antigo Regime,
relatos de leitores, processos e inquéritos. Assim, intercalando a aná-
lise do texto propriamente dito com a do contexto social, econômico e
político do século XVIII, buscou entender como os franceses daquele
século liam e, portanto, pensavam.
Roger Chartier, por sua vez, frisou a necessidade do historia-
dor refletir sobre as fontes e os meios que permitem abordar esse
ato efêmero e misterioso que é a apropriação de um texto. Chartier
é contrário à ideia que supõe a servidão dos leitores às “mensagens
inculcadas”. Para ele a recepção é criação e o consumo é produção. No
entanto, não acredita na liberdade absoluta dos indivíduos e na força
de uma imaginação ilimitada. Desta forma, toda apropriação estaria
encerrada nas condições de possibilidade historicamente variáveis e
socialmente desiguais.
João Amado
meçou a motivar todo mundo... Primeiro para que houvesse a eleição
das pessoas entrevistadas... [...] E chegou-se aos personagens que aí
estão”.8 A respeito da produção do livro no calor dos acontecimentos,
Wilson Figueiredo, outro autor, também deu seu depoimento:
João Amado
Foi o “czar da imprensa brasileira nos bastidores, mandou na imprensa
brasileira de 60 até setenta e poucos, pelo Banco Nacional de Minas
Gerais”.18
Dines afirmou que “meu primeiro papagaio foi ele quem me deu
em 58, quando eu ainda estava na Manchete”. José Luiz seria amigo
íntimo de Nascimento Brito, proprietário do Jornal do Brasil.19 Ainda
de acordo com Dines, José Luiz foi um importante informante para a
confecção de Os idos de março e era muito ligado a vários dos auto-
res: “Araújo Neto, assim com Zé Luiz, Castelinho, assim com Zé Luiz,
Wilson Figueiredo, assim com Zé Luiz”.20
Quando Os idos de março foi publicado, logo após o golpe, não
estava claro que o regime militar duraria mais duas décadas – naquele
momento, o livro poderia ajudar a sedimentar a liderança de Magalhães
Pinto junto à sociedade civil. Magalhães não abandonou o sonho de
chegar à presidência. Seu projeto político, alentado desde aqueles tem-
pos, permaneceu vivo até o final da década de 1970, quando começou
o ensaio da abertura política em nosso país. Para tal, continuou con-
tando com o apoio, por exemplo, do colunista político Carlos Castello
Branco, na época ainda escrevendo no Jornal do Brasil.21
Se entre os jornalistas foi significativo o apoio à deposição
de João Goulart, podemos observar que as trajetórias desses pro-
fissionais da imprensa não foram homogêneas. Em especial, vale a
pena refletirmos sobre a participação de Antonio Callado no volume
que inspira este artigo. Autor de numerosas obras, Callado produziu
engajadas reportagens publicadas em livro, dentre as quais devem
ser destacadas Os industriais da seca e os galileus de Pernambuco:
aspectos da luta pela reforma agrária no Brasil, de 1960; Tempo de
Arraes – a revolução sem violência, publicada em 1965, e Vietnã do
Norte, de 1969.22
No entanto, na sua bibliografia completa, constante no site da
Academia Brasileira de Letras, onde estão mais de 20 títulos de sua
autoria, Os idos de março e a queda em abril não foi incluído.23 Teria
esta ausência se devido ao fato de que Callado, um opositor do regime
militar, sentiu-se desconfortável com os ataques feitos por ele contra
o presidente deposto, publicados no referido livro logo depois do
golpe? Crítico do governo Goulart, mais de uma vez Callado foi preso
pelo regime militar.
Em O Estado de S. Paulo de 6 de dezembro de 1997, Ruy Castro
escreveu que o livro Os idos de março e a queda em abril teria sido
“assinado por vários jornalistas que, no futuro, prefeririam omitir esse
livro de suas obras completas”. Segundo Castro, isto ocorreu “porque,
dentro da ‘objetividade’ dos artigos, ele pode ser lido hoje como uma
João Amado
Para Alberto Dines, a trajetória de Antonio Callado se explica da
seguinte forma: “como grande parte da intelectualidade e da classe mé-
dia liberal brasileira foi virando esquerdista por causa da ditadura”27 De
fato, ele teria apoiado o movimento guerrilheiro de Caparaó, chegando
até mesmo a transportar armas em determinada ocasião.28
Dentre as diversas obras historiográficas que tratam do assun-
to, vale destacar o livro Cães de Guarda – Jornalistas e censores, do
AI-5 à constituição de 1988, no qual Beatriz Kushnir trata da censura
à imprensa e da relação, por vezes promíscua, entre jornalistas e cen-
sores, e relata diversos casos de colaboração entre os profissionais
da imprensa com o regime militar.29
O Jornal do Brasil foi um dos veículos destacados pela historiado-
ra. A censura era “compreendida como um pacto de responsabilidade”,
e o JB seria um veículo que mantinha este pacto.30 Kushnir afirma
que houve uma mudança de rota no jornal após o AI-5, e descreve
a circular interna de cinco páginas, do dia 29/12/1969, que o diretor
do jornal, José Sette Câmara envia para o editor chefe Alberto Dines.
Na circular há um elenco de normas intituladas “Instruções para o
controle de qualidade e problemas políticos”. Nas questões militares
a diretriz era ter a “máxima discrição e o maior cuidado”. O jornal
definia-se como católico, mas afirmava “que não daria apoio aos pa-
dres francamente comprometidos com atividades subversivas”. As
atividades políticas e a rearticulação do movimento estudantil seriam
tratadas com o máximo cuidado. Também não receberiam apoio do
jornal “as atividades de luta armada, intituladas de subversivas, e as
maquinações de esquerda”.31
Kushnir cita também um artigo de Janio de Freitas, publicado
na Folha de S. Paulo, no dia 15 de dezembro de 1998, na semana em
que se rememorava o AI-5. Neste artigo, Janio de Freitas salientou que
os jornais reagiram contra a censura determinada pelo AI-5 porque
“a imprensa faz questão de que seja seu, localizado nos dirigentes de
cada publicação, o poder de liberar e de vetar”. Mas para Janio de Freitas
“ser contra a censura não significou ser contra o sentido geral do AI-5,
senão contra um dos seus muitos aspectos”. Janio de Freitas destacou
que a imprensa foi uma arma essencial da ditadura e que naqueles
tempos, e desde 1964, o Jornal do Brasil “foi o grande propagandista
das políticas do regime, das figuras marcantes do regime, dos êxitos
verdadeiros ou falsos do regime”. Segundo Janio, “os arquivos guardam
coisas inacreditáveis, pelo teor e pela autoria, já que se tornar herói
da antiditadura tem dependido só de se passar por tal”.32 Em recente
entrevista, Janio de Freitas ofereceu sua visão do comportamento dos
jornalistas no golpe e durante a ditadura.
João Amado
Embora não devamos esquecer que entre os grupos da esquer-
da armada havia os que se autointitulavam terroristas, sem o caráter
pejorativo comumente associado ao termo, pode-se averiguar a
existência de diferentes memórias, em disputa, a respeito da atuação
dos jornalistas no período da ditadura. Grupos diferentes parecem
ter memórias diferentes, e cada grupo constrói a sua. Maurice Hal-
bwachs afirma que para a nossa memória se auxiliar das lembranças
dos outros é necessário que haja pontos de contato suficientes entre
uma e outra para que a lembrança possa ser reconstruída sobre um
fundamento comum.39
Então, em que foi baseada a memória de resistência ao regime
militar? Para essa construção, foi importante o fato de que em fins
de 1968, a ditadura endureceu de vez e até aqueles jornalistas que a
apoiavam enfrentaram problemas: “mesmo figuras tradicionalmente
ligadas ao governo eram censuradas, se assumissem posições mais
críticas ou dissidentes”.40 Por essa razão, muitos jornalistas que na
maior parte do tempo apoiaram o regime militar conseguem passar por
vítimas. É uma outra modalidade de “bolsa-ditadura”, pois usufruem da
memória construída de resistência ao regime de exceção, esquecendo
os momentos de cumplicidade com o governo e lembrando somente
as vezes em que o criticaram.
Atualmente são raros os jornalistas que assumem sua simpatia
pelo regime à época ou querem de alguma forma se identificar com
a ditadura. Na maior parte das vezes, até mesmo jornalistas que con-
quistaram prestígio e “e se projetaram à sua sombra, e que devem a
ela a Sorte”, prestígio, poder e influência que ainda desfrutam, não
defendem a ditadura e tentam construir uma imagem de resistentes
e não de coniventes e/ou colaboradores.41
Além do mais, a “revolução” tomou rumos que desagradaram
até mesmo muitos daqueles que apoiaram com entusiasmo o golpe
de 1964. Portanto, ter participado de uma forma ou de outra do movi-
mento que derrubou o presidente João Goulart, ou ter dado qualquer
sustentação ao regime que estabeleceu como norma o rompimento
autoritário da normalidade constitucional, é uma lembrança que
muitos prefeririam apagar da memória – e da história. Afinal, sejamos
francos, quem gostaria de ser publicamente responsabilizado por ter
ajudado a abrir esta Caixa de Pandora?
Notas
1 GOMES, Pedro em DINES, Alberto et al. Os idos de março e a queda em abril. Rio de
Janeiro: José Álvaro, 1964. p. 124.
2 DUARTE, Eurilo em DINES, Alberto et al. Os idos de março e a queda em abril. Rio
de Janeiro: José Álvaro, 1964. p. 159.
3 BRANCO, Carlos Castelo em DINES, Alberto et al. Os idos de março e a queda em
abril. Rio de Janeiro: José Álvaro, 1964. p. 306.
4 DINES, Alberto em BRANCO, Carlos Castelo em DINES, Alberto et al. Os idos de
março e a queda em abril. Rio de Janeiro: José Álvaro, 1964. p. 352–353.
5 DINES, Alberto em BRANCO, Carlos Castelo em DINES, Alberto et al. Os idos de
março e a queda em abril. Rio de Janeiro: José Álvaro, 1964. p. 353.
6 RESENDE, Otto Lara em Ibid., p. 9–11.
7 CRIKSHANK, Julie. Tradição oral e história oral: revendo algumas questões. In:
AMADO, Janaína; FERREIRA, Marieta de Moraes. Usos e abusos da história oral. 2o
ed. Rio de Janeiro: Fundação Getúlio Vargas, 1998. p. 156.
8 MELO E SOUZA, Cláudio. Entrevista concedida ao autor em 6 de março de 2007, no
Rio de Janeiro.
9 FIGUEIREDO, Wilson. Entrevista concedida ao autor em 7 de maio de 2007, no Rio
de Janeiro.
10 OS IDOS de março. Jornal do Brasil, Rio de Janeiro, 7 jun. 1964. Caderno B, p. 5.
11 GOMES, Pedro. Minas: do diálogo ao front. In: DINES, Alberto et al. Os idos de março
e a queda em abril. Rio de Janeiro: José Álvaro, 1964. p. 71.
12 DINES, Alberto et al. Os idos de março e a queda em abril. Rio de Janeiro: José Ál-
varo, 1964. p. 74.
13 DINES, Alberto et al. Os idos de março e a queda em abril. Rio de Janeiro: José Ál-
varo, 1964.
14 Ibid., p. 76.
15 FREITAS, Janio de. Entrevista concedida ao autor no dia 8 de março de 2007, no
Rio de Janeiro.
16 STARLING, Heloísa Maria Murgel. Os senhores das Gerais: os novos inconfidentes e
o golpe de 1964. 2. ed. Petrópolis, RJ: [s.n.], 1986. p. 139.
17 CONTI, Mario Sergio. Notícias do Planalto. São Paulo: Companhia das Letras,
1999. p. 414.
Janio de Freitas confirmou esta informação em entrevista ao autor no Rio de Ja-
neiro, em 8 de março de 2007. O próprio Alberto Dines também acredita que “pode
ter sido sugestão dele”, José Luiz Magalhães Lins, que o teria indicado para dirigir
o JB, conforme entrevista ao autor no Rio de Janeiro, em 28 de fevereiro de 2007.
18 ABREU, Alzira Alves de et al. Eles mudaram a imprensa: depoimentos ao CPDOC.
Rio de Janeiro: FGV, 2003. p. 107.
19 Alberto Dines, em entrevista ao autor no Rio de Janeiro, em 28 de fevereiro de 2007,
e Janio de Freitas, em entrevista ao autor no Rio de Janeiro em 8 de março de 2007,
confirmam que Carlos Castello Branco foi indicado para o JB por José Luiz Magal-
hães Lins.
20 DINES, Alberto. Entrevista concedida ao autor em 28 de fevereiro de 2007, no Rio
de Janeiro.
21 BRANCO, Carlos Castello. Retratos e fatos da história recente. 2a ed. Rio de Janeiro:
Revan, 1996. p. 150–153.
João Amado
luta pela reforma agrária no Brasil. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1960. Este
livro tratava da luta dos camponeses em Pernambuco. As reportagens que Callado
escreveu e que foram publicadas no livro Tempo de Arraes, foram primeiro publi-
cadas pela José Álvaro Editora. CALLADO, Antonio. Tempo de Arraes: a revolução
sem violência. 2. Ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1979. p. 31; CALLADO, Antonio.
Vietnã do Norte. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1969.
23 Disponível em: <http://www.academia.org.br/cads/8/antonio.htm>. Acesso em: 5 abr.
2006.
24 CASTRO, Ruy. Entrevista concedida ao autor em 29 de março de 2007, no Rio de
Janeiro.
25 CALLADO, Ana Arruda. Entrevista concedida ao autor em 15 de maio de 2007, no
Rio de Janeiro.
26 Idem.
27 Alberto Dines. Entrevista concedida ao autor em 4 de outubro de 2003 no Rio de
Janeiro.
28 Antonio Callado realizou tarefas no “sentido de informações que me davam e tal”
(sic). Mas afirmou que nunca entendeu muito bem “o que eles esperavam com
aquilo”. Outro trecho de seu depoimento a Marcelo Ridenti: “eles pediam a ligação,
a informação, entre eles e, digamos aqui, a cidade, o governo o que eles podiam
fazer... Mas aí que me deu aquela impressão catastrófica de que as ligações eram
muito tênues: se me prendessem e torturassem, eles acabavam me matando, iam
pensar que eu era um herói – quando na realidade eu não sabia de nada. Eu só
sabia que tinha um grupo, lá em Caparaó, tentando fazer alguma coisa, e esperava
que eles fizessem”. Callado teria transportado armamentos trazidos pelo poeta
Thiago de Mello para um local indicado pelo poeta, mas ambos desconheciam de-
talhes operacionais. Marcelo Ridenti. Em busca do povo brasileiro. Rio de Janeiro:
Record, 2000, p. 145-146.
29 KUSHNIR, Beatriz. Cães de guarda: jornalistas e censores, do AI-5 à constituição de
1988. São Paulo: Boitempo, 2004.
30 Ibid., p. 48.
31 KUSHNIR, Beatriz. Cães de guarda: jornalistas e censores, do AI-5 à constituição de
1988. São Paulo: Boitempo, 2004. p. 49.
32 Ibid., p. 50-51.
33 FREITAS, Janio de. Entrevista ao site Fazendo Mídia. Disponível em: <http://www.
fazendomedia.com/novas/politica210905a.htm>. Acesso em: 8 ago. 2006.
34 FREITAS, Janio de. Entrevista concedida ao autor em 8 de março de 2007, no Rio
de Janeiro.
35 ABREU, João Batista de. As manobras da informação. Rio de Janeiro: Mauad: EdUFF,
2000. p. 25.
36 Leneide Duarte, então trabalhando para o Jornal do Brasil, afirmou que “o Globo
já em 1966 recorria ao termo ‘terrorismo’ para se referir a atentados políticos.
Em editorial intitulado ‘Terrorismo, não’ reproduzido no livro, o jornal, um ade-
sista de primeira hora, defendia o ponto de vista dos militares classificando a re-
sistência armada ao regime como ‘terrorismo’”. (A guerra da informação. <http://
observatorio.ultimosegundo.ig.com.br/artigos/al201220003.htm>. Acesso em: 10
jun. 2007).
37 ABREU, João Batista de. As manobras da informação. Rio de Janeiro: Mauad: EdUFF,
2000. p. 25.
38 SILVEIRA, José. Depoimento concedido ao autor em 18 de maio de 2007, no Rio
de Janeiro.
que se encontram tanto no nosso espírito como no dos outros, porque eles pas-
sam incessantemente desses para aquele e reciprocamente, o que só é possível se
fizeram e continuam a fazer parte da mesma sociedade. Somente assim podemos
compreender que uma lembrança possa ser ao mesmo tempo reconhecida e re-
construída.” (HALBWACHS, Maurice. A memória coletiva. Tradução de Laís Benoir.
São Paulo: Centauro, 2004).
40 PEREIRA, Álvaro SEABRA, Roberto. Jornalismo político. Rio de Janeiro: Record,
2006. p. 95.
41 REIS FILHO, Daniel Aarão. Ditadura militar, esquerdas e sociedade. 3. ed. Rio de
Janeiro: J. Zahar, 2005. p. 7.
Referências
João Amado
derno B, p. 5.
Notas
1 PREFEITURA DO RIO DE JANEIRO. Secretaria Municipal de Cultura. Relatório do
RIOARTE. Rio de Janeiro, 1984. p. 2.
2 Ibid.
3 PREFEITURA DO RIO DE JANEIRO. Secretaria Municipal de Cultura. Relatório do
RIOARTE. Rio de Janeiro, 1984. p. 1.
4 Ibid., p. 3.
5 MARCONI, Paolo. A censura política na imprensa brasileira – 1968-1978. São Paulo:
Global, 1980. p. 136.
6 CALLADO, Antonio em MARCONI, Paolo. A censura política na imprensa brasileira
– 1968–1978. São Paulo: Global, 1980.
7 “O Circo das Eleições”. O Trabalho, São Paulo, no 10, p. 1, 26 set./ 10 out. 1978.
8 “O Partido dos Trabalhadores avança”. O Trabalhador, São Paulo, no 3, p. 1, 10-31
out. 1979.
9 “Hora de censurar a censura”. Crítica, Rio de Janeiro, ano 1, no 47, p. 1, 30 jun./ 6 jul.
1975.
10 “O ritual da aflição nos cárceres políticos”. De Fato, Belo Horizonte, ano 3, no 21, p.
17, mar. 1978.
11 “Cada vez mais difícil ter uma ‘Opinião’ em ‘Movimento’”. Lampião, Porto Alegre,
ano 1, no 1, p. 1, 10 mar. 1976.
12 BARROS, Patrícia Marcondes de. Stultíferas Navis: a imprensa alternativa como
antídoto ao regime militar. In: SEMANA DA HISTÓRIA – O GOLPE DE 1964 E OS
DILEMAS DO BRASIL CONTEMPORÂNEO, 22., 2004, Assis. Anais Eletrônicos... Di-
sponível em: <www.assis.unesp.br/semanadehistoria>. p. 3.
13 KUCINSKI, Bernardo. Jornalistas e revolucionários nos tempos da imprensa alterna-
tiva. São Paulo: EDUSP, 2003. p. 36.
14 AZEDO em KUCINSKI, Bernardo. Jornalistas e revolucionários nos tempos da imp-
rensa alternativa. São Paulo: EDUSP, 2003.
15 AZEVEDO, Reinaldo. O fim da Primeira Leitura, um recomeço. Observatório da Imp-
rensa. Entrevista a Luis Antônio Magalhães, em 20/6/2006. Disponível em: <http://
observatorio.ultimosegundo.ig.br/artigos.asp?cod=386IMQ003>.
16 PREFEITURA DO RIO DE JANEIRO. Secretaria Municipal de Cultura. Relatório do
RIOARTE. Rio de Janeiro, 1993. p. 2.
17 MACIEL, Luis Carlos. Nossa consciência: jornalismo contra cultural – 1970–1972.
Rio de Janeiro: Eldorado, 1973.
18 PREFEITURA DO RIO DE JANEIRO. Secretaria Municipal de Cultura. Relatório do
RIOARTE. Rio de Janeiro, 1993. p. 3.
19 PREFEITURA DO RIO DE JANEIRO. Secretaria Municipal de Cultura. Relatório do
RIOARTE. Rio de Janeiro, 1992. p. 4.
20 PREFEITURA DO RIO DE JANEIRO. Secretaria Municipal de Cultura. Relatório do
RIOARTE. Rio de Janeiro, 1992. p. 3.
21 COLLING, Ana Maria. A resistência da mulher à ditadura militar no Brasil. Rio de
Janeiro: Rosa dos Ventos, 1997. p. 45.
22 “O curso do movimento feminino pela anistia”. Brasil Mulher, Londrina, ano 1, no 0,
p. 1, 9 out. 1975.
23 “Você mulher”. Brasil Mulher, Londrina, ano 1, no 2, p. 8-9, 1975.
Referências
Notas
1 No dia 12 de outubro de 1936 o filósofo espanhol Miguel de Unamuno, na frente de
um auditório povoado de partidários do golpista Francisco Franco, sintetizou, na
frase do epígrafe, o dilema que acompanha todos os governos autoritários.
2 O papel do semanário infantil Billiken durante a Ditadura foi analisado por GUITEL-
MAN, Paula. La infancia en dictadura: modernidad conservadurismo en el Mundo
de Billiken. Buenos Aires: Prometeo Libros, 2006.
3 Sobre o affaire Graiver, ver GASPARINI, Juan. El crimen de Graiver. Buenos Aires:
Ed. B, 1990.
Para o caso de Papel Prensa ver DUHALDE, Eduardo Luis. El estado terrorista ar-
gentino: quince años después una mirada crítica. Buenos Aires: EUDEBA, 1999. p.
92-93, que cita Horacio Verbitsky.
4 Sobre o caso Timmerman: TIMMERMAN, Jacobo. Prisionero sin nombre, celda sin
número. Buenos Aires: El Cid, 1982; para o fechamento de La Razón ver NOVARO,
Marcos; PALERMO, Vicente. Historia Argentina 9: la dictadura militar 1976/1983: del
golpe de estado a la restauración democrática. Buenos Aires: Paidós, 2003. p.145.
5 ANGUITA, Eduardo; CAPARRÓS, Martín. La voluntad: una historia de la militancia
revolucionaria en la Argentina 1973–1976. Buenos Aires: Norma, 1998. t. 3, p. 37–38.
6 Para maiores detalhes, uma aprofundada apresentação das desavenças no interior
das Forças Armadas, ver NOVARO, Marcos; PALERMO, Vicente. Historia Argentina
9: la dictadura militar 1976/1983: del golpe de estado a la restauración democráti-
ca. Buenos Aires: Paidós, 2003. p. 80–106.
7 “La agenda de la Señora Presidente de Enero a Abri”l. Gente, no 494, p. 9–10, 9 jan.
1975.
8 São as seguintes as análises políticas de GRONDONA, Mariano. “Lo que dejó el ’74:
lo que promete el ’75”. Gente, no 495, p. 14–16, 16 jan. 1975; “¿Por qué no hablamos
del presente?”. Gente, no 502, p. 8–9, 8 mar. 1975; “Datos para interpretar los co-
micios en Misiones”. Gente, n. 507, p. 13, 10 abr. 1975; “Diez conclusiones sobre el
comicio misionero”. Gente, no 508, p. 11, 17 abr. 1975; “¿Qué significa la visita de
Kissinger?”. Gente, p. 12–13, no 509, 17 abr. 1975; “1o de Mayo: Memoria, Balance”.
Gente, no 511, p. 4–5, 8 maio 1975.
9 “Argentina pregunta: ¿Por qué andan mal los teléfonos?”. Gente, no 497, p. 8–9,
30 jan. 1975; “Las amas de casa preguntan, Alloatti responde”. Gente, no 497, p.
96–99, 30 jan. 1975 e “Carta abierta a las amas de casa as três”. Gente, no 497, p.
98–99, 30 jan. 1975; Alloatti era o Secretário de Comércio de Isabel Perón. “Pre-
guntas y respuestas para entender el hoy argentino. “El tema $$$$$$”. Gente, n.
516, p. 4–6, 12 jun. 1975. “La loca, loca carrera de los precios”. Gente, n. 521, p.12-
14, 17 jul. 1975 e “Diálogo entre un obrero y un patrón”. Gente, no 521, p. 16–18, 17
jul. 1975; “El mundo, hoy, visto con ojos jóvenes”. Gente, no 522, p. 36–39, 24 jul.
1975; “Julio de 1975, así sienten el hoy los argentinos”. Gente, no 522, p. 70–81, 24
jul. 1975; a extensão desta segunda reportagem se justifica pelo fato de que são
entrevistadas pessoas em diferentes comércios: cabeleireiro, mercearia, farmá-
cia, ônibus e taxi.
10 “Coronel Camilo Arturo Gay”. Gente, no 496, p. 323/1/1975; “Tucumán: la lucha con-
tra la guerrilla”. Gente, no 500, p. 8–11, 20 fev. 1975; “Informe sobre lo que está
pasando en Tucumán”. Gente, no 502, p. 96–97, 8 mar. 1975.
esto, Señor pesimista”. Gente, no 501, p.10–12, 27 fev. 1975; “Leímos los diarios con
Taccone”. Gente, no 501, p. 14–15, 27 fev. 1975; “El encuento de dos presidentes”. Gente,
no 509, p. 4–5, 24 abr. 1975; “En el subte con el nuevo Ministro de Economía”. Gente, no
515, p. 4–7, 5 jun. 1975; “Con Calabró de la mañana a la noche”. Gente, no 518, p.108–109,
26 jun. 1975. Casildo Herreras era o Secretário-geral da CGT e Juan José Taccone era
um ex-dirigente sindical e presidente da companhia de eletricidade de Buen. s Aires
(SEGBA). Os dois presidentes mencionados eram Isabel e Pinochet, a quem chamou
de “irmão”. O ministro no metrô era Celestino Rodrigo, responsável por uma desvalo-
rização da moeda argentina sem precedentes e Victório Calabró era o governador da
província de Buenos Aires e um dos mais ferrenhos anticomunistas.
12 “El Senador De la Rúa y la realidad nacional. De vacaciones, un político pasa revis-
ta al país”. Gente, no 497, p.72–75, 10 jun. 1975; “Las cosas que Balbín dijo el lunes
a la Noche”. Gente, no 506, p. 86-89, 3 abr. 1975; “Con Balbín, hablando de su vida y
del país”. Gente, no 509, p. 6–11, 24 abr. 1975.
13 “¿Y qué dice Manrique de las cosas que pasan?”. Gente, no 521, p. 76–77, 17 jul.
1975. Manrique tinha sido membro do primeiro governo ditatorial posterior a
Perón e também do último governo prévio ao seu retorno, ao tempo que liderava
um partido que poderia ser considerado de direita institucional.
14 “Crónica de una semana agitada”. Gente, no 518, p. 4–7, 26 jun. 1975. Juan e Jorge
Born eram os principais diretivos de Bunge & Born.
15 “El momento que vive el país”. Gente, n. 519, p. 4-7, 26 jul. 1975; “La crisis e una
familia como la suya, como la nuestra”. Gente, no 520, p. 4–13, 10 jul. 1975. Nesta re-
portagem sobre a crise, aparece pela primeira vez, no momento da sua designação
como Comandante em Chefe do Estado Maior, o General Videla. O crescendo está
relacionado com a mega desvalorização da moeda encomendada por Celestino
Rodrigo, o austero ministro que andava de metrô.
16 A queda de López Rega, assessor privilegiado de Perón e de Isabel, ministro pleni-
potenciário de Isabel, embora numa posição aparentemente menor, foi produto da
crítica da cúpula do sindicalismo à pífia gestão do Ministro da Economia, o homem
do metrô, Celestino Rodrigo, que tinha sido colocado no cargo por sugestão de
López Rega. López Rega, criador das 3A, ocupava um ministério que parecia uma
brincadeira orwelliana: o Ministério de Bem-Estar Social.
17 “José López Rega, el hombre clave de la crisis: crónica fotográfica de su actuación”.
Gente, no 521, p. 4–9, 17 jul. 1975; “Los libros de López Rega”. Gente, no 524, p.
76–79, 7 ago. 1975 (livros esotéricos, escritos por ele); “¿Qué hace López Rega en
España?”. Gente, no 527, p. 8–9, 28 ago. 1975; “Cómo un periodista busca a López
Rega y jamás lo encuentra”. Gente, no 529, p. 12–13, 11 set. 1975.
18 “Cuando la segunda autoridad del país usaba pantalón corto”. Gente, no 521, p.
10–11, 17 jul. 1975.
19 “Usted jamás la vió. Esto es una bomba”. Gente, no 524, p. 6–9, 7 ago. 1975.
20 “La noche que el país tuvo miedo”. Gente, no 523, p. 122–127, 31 jul. 1975, sendo que
na página 124 está o editorial apresentado: “Para ganar esta guerra”.
21 “Eufóricos de socialización matamos la sociedad”; “Terrorismo económico, ¿pero
de quién?” e “Para saber dónde vamos, tenemos que saber que queremos”. Gente,
no 524, p. 3–57, ago. 1975; “Para saber dónde vamos, tenemos que saber que quer-
emos (2a parte)”. Gente, no 525, p. 4–5, 14 ago. 1975 e “Qué se puede hacer hoy con
100.000 pesos”. Gente, no 525, p. 11–12, 14 ago. 1975.
22 “Neustadt y Grondona ponen las cartas sobre la mesa”. Gente, no 525, p. 14–17, 14
ago. 1975.
23 “Alsogaray habla de este ‘Invierno’”. Gente, no 525, p. 68–69, 14 ago. 1975.
24 “Con Cafiero a 10.000 metros de altura”. Gente, no 526, p. 68–71, 21 ago. 1975; “Al-
sogaray versus Cafiero”. Gente, no 527, p.72–73, 28 ago. 1975; “Así piensa Guido di
Tella: ‘Argentina no tiene un cáncer, solo una pierna fracturada’”. Gente, no 529, p.
4–6, 11 set. 197; “Habla el Ministro Robledo”. Gente, no 531, p. 80–81, 25 set. 1975.
Referências
PUBLICADOS NA IMPRENSA
Notas
1 BAKHTIN, Mikhail. Marxismo e filosofia da linguagem. São Paulo: HUCITEC, 1981. p. 95.
2 GRIMSON, Alejandro; VARELA, Mirta. Culturas populares, recepción y política: geneal-
ogías de los estudios de comunicación y cultura en la Argentina. [200-]. Disponível
em: <htpp://sala.clacso.org.ar>.
3 A ideologia é entendida como um campo de atividade cuja orientação está funda-
mentada na realidade e na função desenvolvida pelo indivíduo ou grupo social em
determinado contexto.
4 MOTTA, Luiz Gonzaga. Imprensa e poder. In: ______. (Org.). Imprensa e poder. São
Paulo: Imprensa Oficial do Estado, 2002. p. 13–31.
5 KUSHNIR, Beatriz. Cães de guarda: jornalistas e censores do AI-5 à Constituição de
1988. São Paulo: Boitempo, 2004.
6 VERÓN, Eliseo. Cuando leer es hacer: la enunciación en el discurso de la prensa
gráfica. In: ______. Fragmentos de un tejido. Buenos Aires, Gedisa, 2004. p. 171–183;
______. Prensa Gráfica y teoría de los discursos sociales: producción, recepción,
regulación. In: ______. Fragmentos de un tejido. Buenos Aires, Gedisa, 2004. p. 193–
211.
7 GRIMSON, Alejandro; VARELA, Mirta. Culturas populares, recepción y política: geneal-
ogías de los estudios de comunicación y cultura en la Argentina. [200–]. Disponível
em: <htpp://sala.clacso.org.ar>.
8 DI TELLA, Guido. Perón-Perón (1973–1976). Buenos Aires: Editorial Sudameri-
cana, 1983.
9 ROUGIER, Marcelo; FISZBEIN, Martín. La frustración de un proyecto económico: el
gobierno peronista de 1973–1976. Buenos Aires: Mantial, 2006. p. 94–106.
Referências
Conclusão
Notas
1 CIRNE, Moacy. A explosão criativa dos quadrinhos. 5a ed. Petrópolis, RJ: Vozes,
1977. p. 20.
2 OUTCAULT, Richard F. The Yellow Kid: a centennial celebration of the kid who started
the Comics. Northampton: Kitchen Sink Press, 1995. p. 125.
3 GARCIA, Nelson Jahr. O que é propaganda ideológica. São Paulo: Brasiliense, 1982.
p. 10–11.
4 MURRAY, Chris. Popaganda: Superhero Comics and Propaganda in World War Two.
In: MAGNUSSEN, Anne; CHRISTIANSEN, Hans-Christian (Ed.). Comics and culture:
analytical and theoretical approaches to Comics. Copenhagen: Museum Tuscula-
num Press: University of Copenhagen, 2000. p. 142.
5 Cf. EISNER, Will. Quadrinhos e arte seqüencial. São Paulo: Martins Fontes, 1989.
6 CIRNE, Moacy. A explosão criativa dos quadrinhos. 5a ed. Petrópolis, RJ: Vozes,
1977. p. 15–16.
7 CIRNE, Moacy. Uma introdução política aos quadrinhos. Rio de Janeiro: Achiamé,
1982. p. 37.
8 MURRAY, Chris. Popaganda: Superhero Comics and Propaganda in World War Two.
In: MAGNUSSEN, Anne; CHRISTIANSEN, Hans-Christian (Ed.). Comics and culture:
analytical and theoretical approaches to Comics. Copenhagen: Museum Tuscula-
num Press: University of Copenhagen, 2000. p. 141.
9 VIANA, Nildo. Heróis e super-heróis no mundo dos quadrinhos. Rio de Janeiro: Achia-
mé, 2005. p. 19–20.
Referências
Paulus, 2003.
Flávia Biroli
Introdução
Flávia Biroli
pensamento iluminista parecem-nos particularmente interessantes
para esta reflexão.
No processo histórico em que se estabelece a contestação
da submissão da moral privada à autoridade do Estado, colocando
em questão a divisão entre homem e cidadão, que caracterizou o
período absolutista, ganham relevância as noções de crítica, julga-
mento e opinião. A crítica se estabelece como o movimento da moral
privada em direção à esfera pública, constituindo, paulatinamente, a
legitimidade do ato de julgar as decisões do Estado. Dos súditos, cuja
liberdade consistia na manutenção de seus julgamentos e valores em
sigilo, passa-se ao cidadão como o portador dos valores que definem
a autoridade pública.
Nesse caminho, complexo e não homogêneo, o segredo teria sido
a chave por meio da qual se organizou a atividade crítica. Nas lojas ma-
çônicas ou nos salões, a sensibilidade que nasceu da insatisfação com
o regime absolutista protegeu-se do Estado pelo segredo, cuja função
protetora “encontrava seu correlato espiritual na separação entre moral
e política”.4 A transição de uma liberdade interior moral para uma liber-
dade exterior política teria sido encoberta pelo segredo, não apenas para
o Estado, mas também para aqueles que a viveram. Se foi por meio do
segredo que a consciência privada pôde ampliar-se,5 foi também nesse
movimento que se constituiu uma atividade crítica que se apresenta
como fundada em juízos morais universais e em uma competência que
deles nasceria para julgar, de fora, o domínio da política. Desse modo,
Flávia Biroli
uma mesma dinâmica. Nela, seria representada a superioridade de uma
crítica que, de fora da política e, como tal, do próprio presente, seria
capaz de julgá-la e trazer à luz a verdade ocultada (pelo Estado, pela
autoridade). A crise como instante de indeterminação seria, assim, ocul-
tada pela crise vista como episódio de um desenvolvimento já previsto
rumo ao futuro, que asseguraria ao crítico seu pertencimento aos “no-
vos” tempos, na medida em que ele seria portador da ação que denuncia
os obstáculos a uma verdade anunciada, localizada no futuro.
Flávia Biroli
e busca pela liberdade de expressão e informação. Em 1984, no ma-
terial relativo aos 20 anos do golpe, e em 1985, no material relativo
à campanha pelas diretas e à eleição do primeiro presidente civil,
pelo Colégio Eleitoral, após 21 anos de ditadura, nenhuma matéria
explicita tal envolvimento. Em 1994, a Folha de S. Paulo o faz, ainda
que com representações que não desestabilizam a polarização entre
censura e liberdade de imprensa, ditadura e resistência. Em meio
aos lugares comuns sobre o combate entre ditadura e imprensa e ao
cultivo recorrente da memória relacionada aos episódios da publi-
cação de receitas de bolo em lugar de material jornalístico, o texto
traz a seguinte passagem:
Flávia Biroli
O jornal O Estado de S. Paulo não menciona sua participação no
golpe em nenhum dos textos analisados na pesquisa. Em 2004, como
em 1994, o jornal tematiza a censura sofrida e destaca a atuação de
Júlio de Mesquita Filho e a repressão contra o jornal.17 O marco inicial
das narrativas não é 1964, mas 1968, quando o Estado passa a sofrer a
censura do regime. No texto, 12 de dezembro de 1968 marca o início
de “um dos piores períodos de censura à imprensa no país”. Durante
o governo Castelo Branco, a censura e a repressão teriam sido focadas
em “jornais de tendência política mais à esquerda”, mas teria prevale-
cido “uma certa liberdade”: “na oficina do Estado, naquela madrugada
[de 12/12/1968], até ela começava a desmoronar”.18
Assim, predominantemente, as referências ao tema, em 1994 e
2004, oscilam entre a negação e o reconhecimento da participação da
imprensa no golpe de 1964 (e da complexidade de suas relações com
o regime), mas sem romper com uma oposição simplista entre repres-
são e liberdade, que orienta sua inserção no presente. Há dois textos,
no entanto, que, de maneiras diferenciadas, ultrapassam a oposição
simples entre ditadura/passado e democracia/presente.
Um deles é um artigo publicado, em 1994, pelo jornalista Fernan-
do Pedreira, no Jornal do Brasil. É menos interessante para a discussão
feita neste trabalho, por não tocar na relação específica entre veícu-
los de imprensa e a ditadura, ou nos limites estruturais à liberdade
de expressão e à liberdade de informação, mas trata criticamente a
liberdade que teria sido conquistada.
Flávia Biroli
função, documentando cada lance, cada fato. Como cidadão, revela,
sentiu-se triste, profundamente triste por estar diante de um futuro
incerto, ainda inatingível pelas lentes da sua Rolleyflex”.
Nos vários artigos, notas e reportagens publicados, baseados
em testemunhos, não há qualquer discussão mais abrangente ou mini-
mamente contextualizada a respeito das relações entre a imprensa e a
queda de Jango, entre a imprensa e o regime. Em geral, a estrutura é:
“fulano” esteve presente durante tais “fatos”, “beltrano” arriscou-se para
conseguir informações durante a repressão exercida pelo regime.
A edição de 4 de abril de 1984 da revista Isto é publicou 24 de-
poimentos sobre o golpe e a ditadura, dados por políticos, jornalistas,
poetas, militares, artistas. São, em geral, críticos ao golpe e à ditadura,
como os do jornalista Raul Ryff (“a revolução de 1964 inviabilizou o
Brasil”), do poeta Carlos Drummond de Andrade (“a vida pública
nesses vinte anos deteriorou-se [...] a revolução prejudicou todos os
brasileiros [...] foi um grande erro histórico”), de Miguel Arraes (“eles
elitizaram o país. Interromperam o avanço para a horizontalidade da
renda [...] temem o reclamo das grandes massas marginalizadas”),
do comediante Renato Aragão (“quero escolher o presidente do meu
país e não deixam”) e do jogador de futebol Sócrates (“nosso povo
perdeu tudo”).
Entre eles, chama a atenção o depoimento da mais jovem entre
as “personagens” da matéria, um rapaz de 20 anos, nascido em 31 de
março de 1964. O título, “Sem culpar ninguém”, reflete o tom dos enun-
ciados que compõem o depoimento publicado: “Não sei se todos esses
governos foram chefiados por militares ou civis [...] Os militares são
todos meio furados [...] Não creio que a Revolução tenha influído na
minha vida” e, finalmente, “Não quero responsabilizar ninguém”.22
Essa percepção, contrastante com o cultivo da imagem de en-
gajamento – sobretudo dos próprios jornalistas – no passado recente,
reapareceria em outros momentos. Em 1994, uma matéria publicada
no jornal O Globo traz um “box” assinado pelo jornalista Luciano
Trigo, nascido em 1964 (informação que consta no final do texto),
discutindo criticamente um suposto saudosismo de jovens que não
viveram a ditadura e suas percepções sobre o presente e o passado
recente. A partir de uma pergunta, que teria sido feita por um jovem
em um encontro sobre a ditadura realizado na PUC-Rio, falando da
“inveja” que sua geração sentia daqueles que viveram a ditadura, o
jornalista levanta hipóteses para explicar esse saudosismo. Uma série
de lugares comuns sobre o período constrói o discurso – a riqueza
ímpar da cultura brasileira, a definição de uma identidade coletiva
pela confrontação com o “inimigo comum”; depois, recentemente, uma
A democracia pela qual se lutou está aí faz tempo. Não existe mais
censura, a não ser a da falta de talento. Já é hora de parar de culpar
a ditadura pela crise de criatividade e ousadia. Ou então admitir
que neste país a cultura não se dá bem com a democracia.23
Flávia Biroli
Um dos principais marcos dos discursos que compõem os
debates consiste na afirmação de que não há mais censura por parte
do Estado e, portanto, há liberdade de imprensa, uma vez que seriam
quase inexistentes as restrições por parte das empresas. Alexandre
Garcia afirma que “pode haver insinuação, mas não chega ao ponto
de ser caracterizada como censura”.
[...] a TV Manchete hoje, desde que foi ao ar, não tem sentido
restrições de espécie alguma para a sua cobertura. O que há
são recomendações de ordem geral que mais dizem respeito à
responsabilidade da TV do que outra coisa [...] Na cobertura
política se evita fazer proselitismo das coisas. Trazer o comício
para dentro da televisão, isso não. Existe uma campanha para
eleições diretas, muito bem. Existe, há notícia e vamos noticiar.
Agora, não vamos fazer proselitismo disso.24
Flávia Biroli
convém ao órgão de imprensa”, “a imprensa se tornou muito empre-
sarial, desapareceram os jornais de opinião”).
A revista, no entanto, assume o discurso da superação da cen-
sura, da manipulação e dos equívocos por meio do aprimoramento da
imprensa, indicando, inclusive, que as percepções das pessoas que
responderam à pesquisa estariam incompletas e distorcidas.28 Dedica
vários parágrafos ao aprimoramento técnico e profissional, visto como
fator importante rumo a uma menor “distorção” da realidade. “Liber-
tada da censura em 1976”, a imprensa poderia, então, exibir seu “vigor
em defesa do bem comum e à custa de embates com o poder”.29
Conclusão
Notas
1 Trabalhamos com textos escritos nos meses de março e abril de 1984, 1994 e 2004
(relacionados aos aniversários do golpe de 1964) e 1985 (relacionados à eleição do
primeiro presidente civil, pelo Colégio Eleitoral). O material coletado consiste em
1.314 matérias, das quais 72 foram agrupadas sob a temática “imprensa”. Foram
analisados os jornais O Globo, Folha de S. Paulo, O Estado de S. Paulo, Jornal do
Brasil e Correio da Manhã e as revistas Veja, Época, Carta Capital e Isto É.
2 Para um mapeamento das perspectivas predominantes nas ciências sociais e na
história sobre o golpe e a ditadura recente, cf. FICO, Carlos. Além do golpe: versões
e controvérsias sobre 1964 e a ditadura militar. Rio de Janeiro: Record, 2004; FICO,
Carlos. Versões e controvérsias sobre 1964 e a ditadura militar. Revista Brasileira
de História, São Paulo, v. 24, no 47, Dossiê Brasil: do ensaio ao golpe (1954–64), p.
29–60, 2004; DELGADO, Lucilia de Almeida Neves. 1964: temporalidade e interpre-
tações. In: RIDENTI, Marcelo; MOTTA, Rodrigo Patto Sá (Org.). O golpe e a ditadura
militar: 40 anos depois. Bauru: Edusc, 2004. p.15–28.
3 Autores como Darnton, Habermas, Koselleck e Nascimento, no século XX, e como
Tarde e Tocqueville, no século XIX, para citar apenas alguns deles, apresentam
perspectivas e análises relacionadas a essa problemática.
4 KOSELLECK, Reinhart. Crítica e crise. Rio de Janeiro: Contraponto, 1999. p. 66.
5 Ibid., p. 74.
6 Ibid., p. 92.
7 Segundo Koselleck, este seria o modus operandi da crítica mesmo quando o pro-
gresso não se apresenta como movimento ascendente, mas aponta para o futuro
como destruição e decadência, o que observa por meio da análise do pensamento
de Pierre Bayle.
8 KOSELLECK, Reinhart. Crítica e crise. Rio de Janeiro: Contraponto, 1999. p. 97.
9 KOSELLECK, Reinhart. Crítica e crise. Rio de Janeiro: Contraponto, 1999. p. 138.
10 Para análises que retomam o debate a partir das décadas de 1940–50, cf. BIROLI,
Flavia. Liberdade de imprensa: margens e definições para a democracia durante o
governo de Juscelino Kubitschek (1956–60). Revista Brasileira de História, São Pau-
lo, v. 24, n. 47, p. 213–240, 2004; BIROLI, Flavia. Técnicas de poder, disciplinas do
olhar: aspectos da construção do ‘jornalismo moderno no Brasil. História, Franca,
v. 26, no 2, p. 118–143, 2007.
11 Tradução livre da autora. No original, “le consensus est le corrélat de l’imprécision
sémantique et de la dilution du concept” (D’ALLONNES, Myriam Revault. Le dépérisse-
ment de la politique: généalogie d’un lieu commun. Paris: Alto-Aubier, 1982. p. 259).
12 BIROLI, Flavia. Jornalismo, democracia e golpe. Revista de Sociologia e Política,
Curitiba, v. 22, p. 87–99, 2004.
13 Censores proibiam até noticiário sobre a epidemia de meningite. Folha de S. Paulo,
São Paulo, 27 mar. 1994. Especial, p. B–10.
14 A esse respeito, cf. KUSHNIR, Beatriz. Cães de guarda: jornalistas e censores. São
Paulo: Boitempo, 2004.
Flávia Biroli
abr. 1994. Caderno Mais!, p. 6.
16 CONY, Carlos Heitor. 40 anos depois. Folha de São Paulo, São Paulo, p. A2, 28 mar.
2004. Grifos da autora.
17 Em carta datada de 12 de maio de 1964, dirigida a Carlos Lacerda e assinada pelo
próprio Júlio de Mesquita Filho, o diretor do Estadão elogia a atuação de Lacerda
na Europa, enviado para a divulgação da nova ordem que se constituíra com o
golpe. Mesquita fala nas proporções assumidas pelo “nosso movimento”, elogia
Castelo Branco (“finalmente pusemos a mão numa personalidade de primeira or-
dem”) e expressa seu apoio à intenção de Carlos Lacerda de suceder Castelo na
presidência da República (“da sua eleição dependerá, segundo estou convencido,
o resultado final do nosso movimento”). Mesquita expressa, no entanto, sua opin-
ião de que a presidência de Castelo não deveria estender-se apenas até a data,
estabelecida inicialmente, de outubro de 1965 – assunto ao qual Francis se referiu,
no próprio jornal dos Mesquita, em 1994. Essa posição é relativamente conhecida:
o mandato do primeiro presidente militar deveria ser prorrogado por três anos. O
que chama a atenção é a maneira como a explicita, com a intenção de convencer
Lacerda de que a prorrogação não comprometeria sua candidatura, como “líder
incontestável da nova democracia”. Suas palavras: “precisamos queimar até o úl-
timo cartucho em defesa de uma oportunidade como a vitória de 31 de março, que
não se repetirá nestes próximos cinqüenta anos”. Carta de Júlio de Mesquita Filho
a Carlos Lacerda, 12/5/1964. Arquivo Carlos Lacerda, UnB. Documento doado pelo
Acervo Histórico da S. A. O Estado de S. Paulo.
18 “É permitido proibir – A liberdade de imprensa sumiu, entre 68 e 75” e “Os jornais
reagiram com receitas, poesia e outros truques”. O Estado de S. Paulo, São Paulo,
p. H8, 31 mar. 2004.
19 PEDREIRA, Fernando. O funil da liberdade. Jornal do Brasil, Rio de Janeiro, p. 11, 13
mar. 1994.
20 CARVALHO, Aloysio Castelo de. A opinião pública e a CPI da Última Hora: o governo
Vargas (1951–54). Tese (Doutorado em História) – Faculdade de Filosofia, Letras e
Ciências Sociais, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2000.
21 CARVALHO, Aloysio Castelo de. A imprensa golpista: o papel dos jornais cariocas
da Rede da Democracia na queda de Jango. Carta Capital, São Paulo, 31 mar. 2004.
22 A revolução revisitada. Isto É, São Paulo, 4 abr. 1984.
23 “Anos verde-oliva seduzem os jovens”, na reportagem “Os vivos e os mortos de
64”. O Globo, Segundo Caderno, p. 1.
24 “Vivemos uma lua-de-mel com a abertura”. Correio Braziliense, Rio de Janeiro, p.
17–18, 27 mar. 1984.
25 Ibid.
26 É preciso consciência e responsabilidade. Correio Braziliense, Rio de Janeiro, p.
24–25, 28 mar. 1984.
27 “Os entrevistados pelo Instituto Gallup acham que a imprensa é benevolente com
os políticos ligados ao governo, com o próprio governo e também com as em-
presas [...] acreditam que os jornais ignoram ou atacam em demasia a polícia, os
sindicatos, os políticos da oposição e os criminosos”. Não se diz nada, no entanto,
sobre as relações complexas entre imprensa e política, entre imprensa e poder
econômico (A imprensa julgada. Veja, Rio de Janeiro, p. 42, 11 abr. 1984).
28 A partir da pesquisa, “resulta lógico supor que, para o brasileiro, a imprensa está
mais perto dos fortes do que dos fracos. Pode ser uma visão incompleta, até mes-
mo distorcida, mas, sem dúvida, trata-se de uma má notícia” (A imprensa julgada.
Veja, Rio de Janeiro, p. 50, 11 abr. 1984).
29 Ibid., p. 46.
Referências
CONY, Carlos Heitor. 40 anos depois. Folha de São Paulo, São Paulo,
p. A2, 28 mar. 2004.
DE UM INTELECTUAL-JORNALISTA
Mônica Carvalho
Introdução
Contextualização da discussão
Mônica Carvalho
científico. A abordagem evolucionista tem origem na teoria do “gene
poupador”, do geneticista americano James Neel. Ele concebia que,
nos primeiros anos de vida, o gene da diabetes era poupador, ou seja,
era altamente eficiente na utilização da comida, conferindo vantagem
de sobrevivência em tempos de escassez de alimentos nas sociedades
que subsistiam através da caça ou das sociedades agrícolas pré-
industriais. Contudo, após a Segunda Guerra Mundial, as sociedades
teriam passado por mudanças em relação à produção de alimentos,
levando-as da escassez para a abundância, o que tornaria o gene
poupador uma desvantagem atualmente, pois seus portadores seriam
mais susceptíveis à obesidade e à diabetes.3
Porém, a concepção evolucionista generaliza o conceito de gene
poupador de Neel e explica a tendência à obesidade a partir da evo-
lução da espécie humana, segundo a qual seríamos descendentes de
homens e mulheres que sobreviveram a situações de penúria. Segundo
afirma a teoria da evolução aplicada ao ganho de peso, na história da
humanidade sobreviveram os indivíduos que tinham grande capaci-
dade de acúmulo de energia ou caloria, associada a uma competência
fisiológica para economizar essa mesma energia acumulada. Este
mecanismo possibilitou a nossos ancestrais enfrentar os tempos de
escassez alimentar. Por sermos o resultado dessa evolução – ou da
adaptação do ser humano à histórica instabilidade da oferta de ali-
mentos –, também teríamos essas mesmas características fisiológicas:
acumulamos e poupamos energia com facilidade.
Apesar de distinta da concepção socioeconômica, o evolucionis-
mo conduz ao pensamento de que a melhor – talvez única – alternativa
para o problema da obesidade é a mudança na conduta alimentar do
indivíduo. Se o peso da responsabilidade pessoal poderia parecer
menor, contudo, a característica determinista desta concepção nos
remete à obesidade como um problema incontornável e, portanto, à
necessidade de o indivíduo apoiar-se muito mais no esforço pessoal
para resistir ao universo de excessos da atualidade.
Mas a perspectiva evolucionista também tem outras impli-
cações:
(a) Ela é uma maneira de naturalizar a obesidade quando pen-
sada em par com a pobreza. Isto quer dizer que indivíduos
pobres acima do peso ou obesos constituem-se um fenômeno
“natural”, embora isto, ainda assim, seja um problema.
(b) Ela também mostra-se determinista do ponto de vista fisio-
lógico. No caso da obesidade em geral, a condição do obeso
é a de quem precisa se esforçar para manter seu peso ideal;
ele deve ser mais obstinado. Para os que têm mais recursos
Mônica Carvalho
outros. Assim, as populações revelam-se por suas estatísticas e
apresentam suas próprias regularidades, ocorrências de mortes e
doenças etc., cujos efeitos econômicos são mensurados. Logo, a partir
da teoria da evolução, as populações são entendidas organicamente
e os habitantes de uma nação vistos como uma “forma de vida”: eles
adquirem unidade em função de suas diversas características que
se reproduzem através das gerações. Ou seja: as características e os
destinos das populações de modo geral, seus traços físicos, inclina-
ções morais, qualidades estéticas, talentos e capacidades intelectuais
seriam forjados pelas leis da biologia evolucionista.5
Mônica Carvalho
Para Bourdieu, tais “escolhas” levam à filtragem e até censura
do que deve ganhar visibilidade ou não, do que importa ou não no
imenso universo do que se produz nos diversos campos.
cada vez mais sua cotação, dentro e fora do campo de que fazem parte
e, inclusive, no interior do próprio campo jornalístico. Dessa maneira,
surgem em cena o que o autor chama de intelectuais-jornalistas.
O intelectual-jornalista é uma figura híbrida, meio jornalista e
meio especialista, que se insere no jornalismo como uma outra forma
de o campo jornalístico exercer certa influência sobre outros campos.
A partir de seus pareceres ou julgamentos acerca de determinada ques-
tão de seu campo de especialidade, o intelectual-jornalista também
permite que o público não especialista tenha acesso a um discurso
com o qual não está acostumado e que pode auxiliá-lo no processo
de tomada de decisões individuais e até colectivas.
Mônica Carvalho
Os intelectuais-jornalistas são especialistas aos quais se atribui,
ou que atribuem a si, a função de comentar temas de seu campo – e
até mesmo de outros campos – que estão além dos limites de sua
especialidade. Mas, quando o fazem, é sempre de forma dissimulada
de si mesmos, do vulgo e de agentes do campo jornalístico. Daí sua
propensão à alodoxia, ou seja, a tomar uma coisa por outra e, assim,
reforçar esta mesma tendência em muitos consumidores.
O intelectual-jornalista está voltado ao mercado de grande
produção e por isso opõe-se ao produtor cultural autônomo. Este é
representado pelo sujeito que investe em capital específico e está vol-
tado para o “mercado restrito no qual se tem por clientes apenas seus
próprios concorrentes”. Segundo Bourdieu, quanto mais o intelectual-
jornalista volta-se para as práticas heterônimas, de modo a “vender-se”
mais facilmente, menos ele é reconhecido por seus pares. Ao contrário,
quanto mais autônomo é o produtor cultural, mais reconhecimento
tem em seu próprio campo. Por esta razão, ele seria menos inclinado
do que o primeiro a colaborar com os poderes externos ao próprio
campo, tais como Estado, partido, jornalismo etc.15
Mônica Carvalho
com o cineasta Walter Salles – aconteceu em maio daquele ano, no con-
junto das mudanças provocadas pelo novo projeto gráfico do jornal.
Naquele momento, o médico muda de descrição: de cancerologista e
diretor do Centro de Pesquisas e Tecnologia da UNIP (Universidade
Paulista) passa a ser designado como infectologista e escritor de best-
seller. Dessa forma, fica evidente que o sucesso de seu livro eleva sua
“cotação” na “bolsa dos valores intelectuais”, como diria Bourdieu,18
a ponto de ser contratado pelo veículo.
Mônica Carvalho
do pacote do filho, pedaço de pudim esquecido na geladeira.
Impiedosa, a balança trava e você se queixa: “Passo fome e
não adianta nada”.
Algumas semanas depois, você observa consternado que a me-
nor extravagância alimentar é punida imediatamente com ganho
de peso; o sacrifício de dias consecutivos é malbaratado por um
deslize [sic] mínimo no fim de semana. Com a auto-estima em
baixa, você desanima: “Não aguento mais fazer regime”. Num
piscar de olhos, engorda tudo o que perdeu e ainda ganha mais
alguns quilos, de castigo [sic]!
Por que razão é tão difícil manter o peso ideal, se todos alme-
jam ficar esguios e sabem que a obesidade aumenta o risco
de hipertensão, diabetes, osteoartrite, ataques cardíacos e
derrames cerebrais?27
Mônica Carvalho
Nove meses de gravações de uma série sobre gravidez, rea-
lizadas para a TV em cinco cidades brasileiras, fortaleceram
em mim a convicção de que, se não tomarmos providências
imediatas, a violência urbana nas próximas décadas nos fará
sentir saudades da paz que ainda desfrutamos em lugares como
São Paulo e Rio de Janeiro. (grifos nossos)
Mônica Carvalho
dimensão biológica da vida humana. Desse modo, o médico dá sua
contribuição a modelos políticos que propõem “administrar” questões
de governo, a partir do desinvestimento crescente do Estado para,
entre outras coisas, diminuir gastos públicos. Desse modo, ao menos
em princípio, sua recusa ao Ministério da Saúde pareceu bastante
coerente.
Certamente, Varella não é o único intelectual-jornalista no Brasil
a desempenhar este papel. No entanto, deve-se destacá-lo em função
de sua capacidade de atrair para si manifestações de apoio explícito
a seus pensamentos. O espaço para a moralização dos hábitos, das
práticas sociais quotidianas e dos problemas do país abre-se cada
vez mais à participação coletiva por meio de seu discurso. Sobretudo
na internet, apenas em pesquisa rápida no sistema de busca Google,
“Dráuzio Varella” aparece cerca de 220.000 vezes, e em grande parte
das referências, vê-se que é objeto de admiração. Suas frases, por vezes
classificadas como uma das melhores frases ou “a frase do ano”, são
reproduzidas em diversos blogues.
Neste sentido, deve-se destacar de Varella sua adesão e ratifi-
cação da atual ordem neoliberal e de sua colaboração na construção
de um Estado no Brasil com tais característica. Suas possibilidades,
inclusive, parecem expandir-se concretamente, já que, com sua didáti-
ca particular para divulgação de certa racionalidade médico-científica,
ele ganha cada vez mais adesões de parte do vulgo e de representantes
do poder político.
Notas
1 CARVALHO, M. Obesidade e pobreza na imprensa: epidemiologia de uma questão
social. Tese (Doutorado em Comunicação e Cultura)–Escola de Comunicação, Uni-
versidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2007.
2 OMS. Obésité: prévention et prise en charge de l’épidemie mondiale: rapport d’une
consultation de l’OMS. Genève, 2003.
3 MCDERMOTT, R. Ethics, epidemiology and the thrifty gene: biological determinism
as a health hazard. Social Science and Medicine, [S.l.], v. 47, no 9, p. 1.189, 1998.
4 SPENCER, H. The Man versus the State with Six Essays on Government, Society and
Freedom. The Online Library Of Liberty, 2004. p. 51. Disponível em: <http://www.
dominiopublico.gov.br>.
5 ROSE, N. Powers of freedom: reframing political thought. Cambridge: Cambridge
University Press, 1999. p. 112–115.
6 Ibid., p.115.
7 Ibid., p.115–116.
8 CARVALHO, M. Obesidade e pobreza na imprensa: epidemiologia de uma questão
social. Tese (Doutorado em Comunicação e Cultura) – Escola de Comunicação,
17 jan. 2006.
Mônica Carvalho
31 VARELLA, D. Raízes biológicas da obesidade. Folha de São Paulo, São Paulo, p.
E9, 27 jul. 2002. Disponível em: <http://www1.folha.uol.com.br/folha/arquivos/>.
Acesso em: 17 jan. 2006.
32 VARELLA, D. Obesidade paulistana. Folha de São Paulo, São Paulo, p. E15, 16 out.
2004. Disponível em: <http://www1.folha.uol.com.br/folha/arquivos>. Acesso em:
17 jan. 2006.
33 CARVALHO, M. Obesidade e pobreza na imprensa: epidemiologia de uma questão
social. Tese (Doutorado em Comunicação e Cultura) – Escola de Comunicação,
Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2007.
34 O “historicamente” aqui posto refere-se a um percurso do PT e do próprio presi-
dente ligados aos movimentos sindicalistas e socialistas do período da ditadura
militar (1964–1985). Contudo, a manutenção da posição de esquerda de Lula, ainda
hoje, é aspecto muito discutível, em função da implantação de políticas que deram
continuidade às propostas neoliberais do governo anterior.
Referências
FOLHA muda para ficar mais prática. Folha de São Paulo, São Paulo,
07 maio 2000. Caderno 1, p. 14. Disponível em: <http://www1.folha.uol.
com.br/folha/arquivos>. Acesso em: 01 ago. 2006.
SPENCER, H. The Man versus the State with Six Essays on Government,
Society and Freedom. The Online Library Of Liberty, 2004. Disponível
em: <http://www.dominiopublico.gov.br>.
Beatriz Kushnir
Beatriz Kushnir
das pesquisas acadêmicas e, por outro, a possibilidade de legalizar
situações jurídicas a partir das informações ali contidas.
Os acervos documentais em depósito nos arquivos públicos
incorporam essa dupla função. Tal premissa é fundamental e aceitá-
la auxilia e justifica a proposta de disponibilizar amplamente, e sem
restrições, as informações arquivadas, sem diferenciar o acesso entre
pesquisadores e advogados dos “fichados”. Eis aí um ponto relevante
de uma agenda de debates que ainda está longe de ser equacionada.
Nos idos de 1996, o estado de atonia em que mergulhara, pela diversi-
dade de possibilidades e impossibilidades, a consulta aos documentos
da polícia política motivou-me a procurar a origem da legislação regula-
dora dessa matéria. Compreender as regras que gerem tanto a guarda
dos documentos como sua utilização tornou-se condição prévia para o
prosseguimento de pesquisas com foco na história do tempo presente.
Somente assim seria possível avaliar a documentação acessível de cada
um dos arquivos dos DOPS/DEOPS. Além disso, o estado dos acervos
das polícias políticas, fora do eixo Rio-São Paulo, permanecia, ainda
em fins da década de 1990, um tema pouco conhecido.
Para se compreender a dimensão desse fato, basta lembrar que o
Jornal do Brasil, de 12 de abril de 1998, noticiou que, até então, apenas
três acervos – os dos DOPS dos estados do Paraná, de Pernambuco
e de Goiás – haviam sido recolhidos em seus respectivos arquivos
públicos estaduais. Em matéria intitulada “Fichas do extinto DOPS
desafiam Minas”, denunciava-se também que, nesse último estado, o
acervo fora incinerado pelos antigos agentes da Polícia Federal – em-
bora papeletas com fotos e dados pessoais estivessem sendo enviadas
às redações de jornais em Belo Horizonte.6
Na teia do “que se pode conhecer”, a questão, naquele momento,
circunscrevia-se às discussões à respeito das alterações na Lei de Ar-
quivos, a 8.159, de 1991. Isto porque, no início de 1997, se estabeleceu
o decreto no 2.134, que regulamenta o art. 23 da referida lei. Discutida
desde fins da década de 1970 pelo Arquivo Nacional e tendo na figura
tanto de José Honório Rodrigues,7 na época não mais o seu diretor,
como na de Celina Vargas do Amaral Peixoto, diretora da instituição
entre 1980 e 1990, a Lei de Arquivos foi proposta à Câmara Federal em
1984 e aprovada sete anos mais tarde. A Lei 8.159/91 dispõe sobre a
política nacional de arquivos públicos e privados em um texto curto,
de seis capítulos, que versam sobre: as disposições gerais, os Arquivos
Públicos, os Arquivos Privados, a Organização e Administração de Ins-
tituições Arquivísticas Públicas, o Acesso e o Sigilo dos Documentos
Públicos e as disposições finais.
Beatriz Kushnir
Assim, a partir de aprovação ministerial e presidencial, o Decre-
to 2.134/97, em seu capítulo I (Das Disposições Gerais), fixou que
Beatriz Kushnir
sentiam-se as pressões e resistências, dos setores militares, que agiam
sem cumprir uma legislação específica sobre o tema.
Em 1991, instituída a Lei 8.159, a Secretaria de Assuntos Estra-
tégicos (SAE), sucessora do Serviço Nacional de Informações (SNI)
e uma das antecessoras da atual Agência Brasileira de Inteligência
(ABIN), elaborou um projeto para uma nova redação da Lei de Ar-
quivos. Controlada por militares, a SAE desejava que os prazos para
manutenção de sigilo da documentação contassem a partir da sua
classificação, definindo a categoria de sigilo, e não da sua produção,
como o decreto no 2.134/1997 instituiu.
Nessa perspectiva, o prazo para liberar um documento datado
de 1970, por exemplo, mas que recebeu classificação, com um carim-
bo, em 1995, começaria a contar, a partir desse ano, e não daquele.
Malograda esta tentativa, a SAE perdia para o texto das Leis de 1991
e 1997. Questão tensa que voltou à tona no segundo ano do primeiro
mandato de Fernando Henrique Cardoso, ao se elaborar decreto no
4.553/2002. Segundo o jornal Folha de S. Paulo, de 24 de abril de 2003,
este decreto não foi produzido pela Casa Civil, mas originou-se do
Gabinete de Segurança Institucional (GSI) da Presidência, comandado
à época pelo general Alberto Cardoso. Na mesma matéria, afirma-se
que há divergências sobre os motivos que levaram Fernando Henrique
Cardoso a editá-lo e alterar as normas que estiveram em vigor durante
o seu governo, e também sobre o porquê de o presidente Lula manter
o decreto de dezembro.
A matéria expõe, entretanto, que, desde sua posse, o presidente
vinha recebendo pressões para não revogar o decreto assinado por
seu antecessor. Acreditando que o novo governo não ratificaria as dis-
posições do decreto 4.553/2002, houve pouca mobilização no âmbito
acadêmico. A Lei de Arquivos é clara ao estabelecer o prazo máximo
para o acesso restrito aos documentos sigilosos, qual seja, 30 anos
renováveis por mais 30.11 Assim, juristas compreendem que o decreto
que regulamenta a referida lei deve obedecer aos parâmetros e limites
por ela impostos, bem como respeitar o prazo máximo estabelecido
pela Lei 8.159/1991, sob pena de “incidir no vício da ilegalidade”, fato
que ocorre quando o decreto 4.553/2002 amplia os limites de todas
as classificações (reservado, confidencial, secreto e ultrassecreto),
criando o prazo de 50 anos prorrogáveis até a eternidade – portanto,
acima do que a lei prevê. Em seu art. 7o, inciso I, o decreto estipula que:
“os prazos de duração da classificação a que se refere este Decreto
vigoram a partir da data de produção do dado ou informação e são
os seguintes: ultrassecreto: máximo de cinqüenta anos”.
Art. 7o
§1o: o prazo de duração da classificação ultra-secreto poderá
ser renovado indefinidamente, de acordo com o interesse da
segurança da sociedade e do Estado. (Grifo meu).
Beatriz Kushnir
eles produzidas, cujo sigilo seja imprescindível à segurança
da sociedade e do Estado, bem assim a possibilidade de seu
acesso quando cessar a necessidade de manutenção desse
sigilo, nos termos da parte final do inciso XXXIII do art. 5o da
Constituição.
Art. 5o O acesso aos documentos públicos classificados no
mais alto grau de sigilo poderá ser restringido pelo prazo e
prorrogação previstos no § 2o do art. 23 da Lei no 8.159, de 8
de janeiro de 1991.
§ 1o Vencido o prazo ou sua prorrogação de que trata o ca-
put, os documentos classificados no mais alto grau de sigilo
tornar-se-ão de acesso público, podendo, todavia, a autoridade
competente para dispor sobre a matéria provocar, de modo
justificado, a manifestação da Comissão de Averiguação e
Análise de Informações Sigilosas para que avalie, antes de ser
autorizado qualquer acesso ao documento, se ele, uma vez aces-
sado, não afrontará a segurança da sociedade e do Estado, na
forma da ressalva prevista na parte final do inciso XXXIII do art.
5o da Constituição. (Grifos nossos)
Beatriz Kushnir
estruturação de uma polícia política, que abrigava departamentos de
investigação e repressão à vadiagem e aos “estrangeiros perigosos”
− muitas vezes anarquistas ou organizadores do embrionário movi-
mento sindical.14 Precursoras dos DOPS, desde o início da República
as Quartas Delegacias de Polícia foram responsáveis por esse gênero
de segurança pública. Era atribuição da polícia em geral e, em parti-
cular, dos DOPS, como um dos seus braços políticos, manter a ordem
pública. Assim, a essa instituição compete
Beatriz Kushnir
deração de fronteiras, as informações e idéias por qualquer
meio de expressão.
Beatriz Kushnir
de “vestígios do passado”, ao incluir a história oral na metodologia de
trabalho. O cerne da preocupação é o questionamento da “verdade
histórica”. Ou seja, em que situação o historiador se sente mais seguro:
no registro escrito ou no depoimento a posteriori?
Com a instituição do habeas-data, em meados da década de 1980,
em meio ao processo de recolhimento da documentação de policia po-
lítica, essa norma jurídica buscava resolver a situação civil de muitos
familiares de desaparecidos políticos, assim como de indivíduos que
sofreram a repressão do Estado ditatorial brasileiro pós-1964. Essa
medida e a necessidade de consulta do material do DOPS apressaram
a liberação do acervo, inicialmente para um público restrito, fato que,
de algum modo, resultou na liberação desses documentos e permitiu
que fossem consultados de forma mais ampla.
Se essa via legal possibilitou aos pesquisadores o acesso à
documentação, permaneceu a dúvida de como ordenar a consulta ao
material como pesquisa histórica. Durante esse debate foi promul-
gada, em 1991, a Lei de Arquivos. No início da década de 1990, com
a transferência do acervo do DEOPS de São Paulo para o Arquivo do
Estado, foi editado o decreto no 34.216, de 19 de novembro de 1991, que
instituiu uma comissão especial encarregada de receber a “papelada”
do extinto órgão. No início de 1997, institui-se o decreto 2.134, que,
como já exposto, alterava a classificação e as formas de arquivamento
de papéis sigilosos.
Para Vianna, Lissovsky e Sá, da esfera do jurídico à da consti-
tuição de um acervo, o arquivo é, basicamente, um locus privilegiado
de construção de memória. Para os autores, existem dois processos
que transformam um “amontoado de papéis” em “arquivo”. O primeiro
é realizado pelo arquivador e o segundo pela instituição de guarda
que recebe, organiza e torna disponível o acesso. O arquivador é um
colecionador. Sua função é instituir uma memória, sempre de maneira
positiva. Organiza e coleciona os papéis pensando a posteriori. Assim,
o arquivador
Beatriz Kushnir
Há, portanto, que se levar em conta a distância entre as ativi-
dades políticas outrora realizadas e o conteúdo das fichas policiais
elaboradas, compreendendo-se que foi a lógica da desconfiança de um
Estado autoritário que produziu o acervo. Por outro lado, foi a lógica
da democracia da informação que os transformou em arquivos públi-
cos, abertos à consulta. Essa abertura é uma forma positiva de falar
de um “silêncio”, como também de permitir ao pesquisador rediscutir
a constituição de uma memória.
Beatriz Kushnir
Notas
* Uma versão anterior deste texto foi publicada em: KUSHNIR, Beatriz. Pelo buraco
da fechadura: o acesso à informação e às fontes. In: CARNEIRO, Maria Luiza Tucci
(Org.). Minorias silenciadas: história da censura no Brasil. São Paulo: Edusp, 2002.
A alteração do quadro legislativo e o convite do Arquivo Público Mineiro fizeram-
me atualizá-lo e publicá-lo em: KUSHNIR, Beatriz. Decifrando as astúcias do mal.
Revista do Arquivo Público Mineiro, Belo Horizonte, v. 42, no 1, 2006. Retomei a
questão em 2008 para participar da 60a Reunião da SBPC, realizada na Unicamp
de 13 a 18/7, na mesa-redonda “Comunicação, Censura e Meios de Comunicação”
organizada pela Prof. Dra. Maria Cristina C. Costa (ECA/USP), e que também teve a
participação de Olga Futema (Cinemateca Brasileira).
1 A Divisão de Segurança e Informação era a versão civil dos órgãos de informação
dos ministérios militares e existia em todos os outros de cunho livre. Foi instituída
pelo Decreto no 64.416, de 28 de abril de 1969, que também reorganizou o Ministério
da Justiça. Tratava-se de uma assessoria de assistência direta de cada ministério,
vinculado, portanto, ao gabinete do ministro. O primeiro material encontrado e
transferido para o Arquivo Nacional (RJ) de uma DSI foi o do Ministério da Justiça.
Mas, como todas as DSIs e os demais órgãos de informação faziam circular seus doc-
umentos, há uma gama de material do interior da “Comunidade de Informações”.
2 KUSHNIR, Beatriz. Cães de guarda: jornalistas e censores, do AI-5 à Constituição de
1988. São Paulo: Boitempo, 2004.
3 Cf. VERNANT, Jean-Pierre. A bela morte e o cadáver ultrajado. Discurso, São Paulo,
v. 9, 1978. O original francês encontra-se em “Entre mythe et politique”, 1996.
4 RIBEIRO, Renato Janine. Memórias de si, ou... Estudos Históricos, Rio de Janeiro, v.
21, no 1, 1998.
5 Isto porque, em 1996, dava início ao doutoramento, que se desenvolveu junto ao
Programa de Pós-Graduação em História da Universidade Estadual de Campinas
(UNICAMP). Meu objeto de reflexão centrou-se nos mecanismos da censura e nos
pactos da grande imprensa com os órgãos de repressão. Mapeei, entre outros as-
pectos, os colaboradores, no interior das empresas de comunicação, que optaram
pelo expediente de autocensura.
6 Fichas do extinto DOPS desafiam Minas. Jornal do Brasil, Rio de Janeiro, p. 5, 12 abr. 1998.
7 José Honório Rodrigues (20/9/1913 – 6/4/1987), carioca, historiador, cujas pesquisas
e publicações versaram sobre os mais variados temas e épocas da história brasile-
ira. Graduou-se em Direito na Universidade do Brasil, em 1937, e publicou três anos
depois Civilização Holandesa no Brasil, em coautoria com Joaquim Ribeiro – livro
que receberia o Prêmio de Erudição da Academia Brasileira de Letras. Entre 1943-
1944, patrocinado pela Fundação Rockefeller, residiu e pesquisou nos Estados Uni-
dos, frequentando a Universidade de Columbia. Ao retornar ao Brasil, ingressou nos
quadros do Instituto Nacional do Livro. Entre 1946-1958, foi diretor da Sessão de
Publicações e Obras Raras da Biblioteca Nacional. Em 1958, foi nomeado diretor
do Arquivo Nacional, permanecendo no cargo até 1964. Paralelamente a essas fun-
ções, exerceu ainda, entre 1948-1951, o cargo de diretor da Seção de Pesquisas do
Instituto Rio Branco. Ao longo da sua carreira, foi professor em diversas instituições
de ensino superior e programas de pós-graduação no Rio de Janeiro e membro da
Academia Brasileira de Letras e do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro.
8 O CONARQ é um órgão colegiado, vinculado ao Arquivo Nacional e instituído pela
Lei de Arquivos. Sua finalidade é definir a política nacional de arquivos públicos
e privados, como órgão central de um Sistema Nacional de Arquivos, bem como
exercer orientação normativa visando à gestão documental e à proteção especial
aos documentos de arquivo. Uma reflexão crítica sobre a atuação do CONARQ, ver:
SILVA, Sergio Conde de Albite. A preservação da informação arquivística governa-
mental nas políticas públicas brasileiras. Tese (Doutorado) – Universidade Federal
Fluminense, Niterói, 2008.
9
Nas teias da lei: limites e interditos no acesso à informação
Beatriz Kushnir
J. Boutier; JULIA, D. (Org.). Passados recompostos: campos e canteiros da história.
Rio de Janeiro: Ed. da UFRJ: FGV, 1998. p. 161.
27 CAMARGO, Ana Maria de Almeida. Informação, documento e arquivo: o acesso
em questão. Boletim da Associação dos Arquivistas Brasileiros, São Paulo, no 11,
1993.
28 ROUSSO, Henry. A memória não é mais o que era. In: AMADO, Janaína; FERREIRA,
Marieta de M. (Org.). Usos e abusos da história oral. Rio de Janeiro: FGV, 1996.
29 LOWENTHAL, David. Como conhecemos o passado. Projeto História, São Paulo, no
17, nov. 1998.
30 ROUSSO, Henry. “A memória não é mais o que era”, in: AMADO, Janaína; FERREIRA,
Marieta de Moraes (orgs.). Usos e abusos da história oral. Rio de Janeiro: FGV,
1996. pp. 93-102.
31 Enquanto revia esse texto para a publicação foi divulgada a notícia de que durante
o Seminário Internacional sobre Direito de Acesso a Informações Públicas, realizado
em Brasília nos dias 1º e 2 de abril de 2009, a Casa Civil da Presidência da República
anunciou que a Presidência da República encaminhará, para discussão e aprova-
ção no Congresso Nacional, um Projeto de Lei que “regula o acesso a informações
previsto no inciso XXXIII do art. 5º, no inciso II do § 3º do art. 37 e no § 2º do art.
216 da Constituição...”.
Referências
ROUSSO, Henry. A memória não é mais o que era. In: AMADO, Janaína;
FERREIRA, Marieta de M. (Org.). Usos e abusos da história oral. Rio de
Janeiro: FGV, 1996a.
Francisco Fonseca
Introdução e problematização
Francisco Fonseca
versões a respeito de acontecimentos, questões e pessoas, propagar
boatos e imagens, influenciar comportamentos, dentre inúmeras
outras possibilidades, paralelamente ao seu papel de “informar”.
Observe-se que não tratamos aqui o processo de informar como algo
neutro, pois ele próprio está submetido ao “processo produtivo da
notícia”, o que implica uma imbricada relação entre: os que narram
os “fatos”, os que os testemunham (as fontes), os que os redigem
e editam, sem contar a própria percepção dos que “consomem” as
notícias. Mas, para além da impossibilidade intrínseca de “neutrali-
dade objetiva”, dado que os que testemunham, narram e editam, por
exemplo, possuem valores, (pré)conceitos e vinculações de classe, o
fato marcante é que os interesses políticos, econômicos e sociais dos
proprietários privados dos meios de comunicação – e de suas bases
de representação – são determinantes da maneira de ser e de agir dos
meios de comunicação.5
Não se pode, portanto, negligenciar os impactos de um poder
desmedido e em larga medida sem controles (controles democráticos,
ressalte-se) sobre a formação e a informação da opinião, poder este
cada vez mais concentrado em escala internacional por meio dos
grandes conglomerados oligopolistas, como é o caso da mídia. Em
consequência, a questão que se coloca refere-se a quem controla –
efetiva e democraticamente – o poder da mídia e quais instituições
lhe servem de contrapeso.
Ainda quanto ao caráter mercantil da notícia, essa mercadoria
é – como aludimos – de um tipo especial e, como tal, necessita ser
tratada de forma igualmente especial, tendo em vista as inúmeras
consequências que pode acarretar, consequências essas que assumem
cada vez mais dimensões planetárias, reitere-se. Como ilustração da
repercussão social que as notícias podem ter – de forma estrita, ou
como boato, versões, insinuações, entre outras modalidades –, basta
citarmos as elevações e quedas das bolsas de valores e das moedas
em função de especulações muitas vezes iniciadas e/ou estimuladas
pela mídia6. Mais ainda, a exposição da vida privada de personagens
públicos vem, frequente e crescentemente, ocasionando danos morais
à sua imagem, levando até à interrupção de carreiras e ao estigma
social. A notícia cada vez mais se confunde com o entretenimento e
com o espetáculo, pois, além do mais, as próprias empresas midiáticas
se organizam de tal forma que notícia e entretenimento são negócios
empresarialmente fundidos. Além disso, o chamado tratamento jorna-
lístico das notícias é perversamente substituído pelo seu potencial de
audiência (em qualquer modalidade de comunicação), o que implica
seu crescente enquadramento à luz de seu potencial espetacular; logo,
Francisco Fonseca
do pluralismo, do dissenso e do direito das minorias se manifestarem,
como veremos adiante.
Mas não se pode negligenciar que, no século XX, possuir um meio
de comunicação, sobretudo com abrangência razoável, requer imensos
recursos econômicos, tornando-se proibitivo à maioria absoluta dos
grupos sociais, o que implica que “liberdade de opinião” sujeita-se ao
poder dos conglomerados capitalistas. Assim, é paradoxal observar que
justamente as empresas de comunicação sejam as menos controladas
(em termos democráticos, reitere-se) em relação aos outros tipos de
empresa produtoras de outros tipos de mercadoria. Afinal, obter a hege-
monia sempre foi o objetivo dos grupos detentores das diversas formas
de poder nas sociedades em que o Estado tornou-se “ampliado”.10 Mais
ainda, uma das mais fortes críticas desferidas aos regimes socialistas
dizia respeito justamente à impossibilidade do dissenso, em razão do
controle estatal dos meios de comunicação. Ou, em outras palavras,
do “pensamento único”, na esteira do partido único e do monopólio
produtivo do Estado, supressor das iniciativas particulares, entre as
quais a liberdade de imprensa. Ora, a situação não seria semelhante
em países capitalistas, como o Brasil, dentre inúmeros outros, em que
há verdadeiros monopólios e oligopólios da comunicação – formais e
informais –, sem que o Estado e a sociedade possuam instrumentos
eficazes para contê-los, que não o jogo do mercado e a Justiça?11
Afinal, num mercado tão pouco competitivo como o brasileiro,
particularmente nos meios de comunicação, o mercado certamente
não é o motor de democratização do acesso à informação: aliás, difi-
cilmente possui per se essa função. Quanto ao Poder Judiciário, dado
inexistir, na prática, uma lei de imprensa no Brasil, cabe à Justiça
julgar os crimes específicos da imprensa por meio das leis gerais
dos crimes contra a honra, o que faz com que, por exemplo, o direito
de resposta, crucial à democracia e à própria honra dos atingidos,
seja praticamente nulo no Brasil. Não bastasse isso, a lei e o aparato
judiciário são condições necessárias, mas jamais suficientes para a
democratização dos meios de comunicação.
Pode-se concluir, dessa forma, que a grande mídia, concebida
como ator político/ideológico, deve ser compreendida “[...] fundamental-
mente como instrumento de manipulação de interesses e de intervenção
na vida social.”12 Afinal, a mídia representa, por meio de seus órgãos,
uma das instituições mais eficazes quanto à inculcação de ideias em
relação tanto a grupos estrategicamente reprodutores de opinião –
constituídos pelos estratos médios e superiores da hierarquia social
brasileira, isto é, leitores, no Brasil, de jornais e revistas – quanto à
massa dos indivíduos, fundamentalmente informada pela televisão
Francisco Fonseca
medida em que mutáveis historicamente –, no sentido de configurar
o que é público, portanto, pertencente aos interesses “comuns” de
todos, e o que diz respeito apenas às individualidades. Como assevera
Bobbio, em busca de uma compreensão da política moderna, cotejada
à antiga, à guisa de Benjamin Constant:
Francisco Fonseca
Quanto às agências noticiosas, estas distribuem “as notícias”
internacionais por todo o planeta, estabelecendo não apenas a
hierarquia dos acontecimentos noticiáveis como, principalmente,
a visão sobre os mesmos. O fato de haver mais de uma agência
noticiosa não parece suficiente para contrariar esta assertiva, pois,
fundamentalmente, atuam de forma semelhante; estão estabelecidas
nos países capitalistas centrais e obedecem à lógica privada de seus
proprietários.19 O aspecto principal, contudo, refere-se à ausência
de controles democráticos pelas sociedades (em escala internacio-
nal, portanto) acerca da mercadoria notícia comercializada por tais
agências, entre outras modalidades de informação. A inexistência
de mecanismos fiscalizatórios é, aliás, um fator característico do
mundo empresarial midiático.20
Por seu turno, a mídia, enquanto ator político, ideológico e eco-
nômico detentor de poder (majoritariamente privado, reitere-se, pois,
fundamental), é uma realidade detectada desde o século XX, a ponto de
ser considerada um verdadeiro “quarto poder”. A referência implícita aos
outros três poderes estatais – que representam a moderna formatação
do Estado Constitucional de Direito, inspirado na tradição republicana
de dividir para controlar o poder do Estado – é, por si só, a demons-
tração da capacidade de influência adquirida por este meio. Afinal, se
a mídia ocupa o papel de fiscalizar e controlar os poderes Executivo,
Legislativo e Judiciário, contribuindo para sua publicização – uma das
características fundamentais do Estado moderno, notadamente em seu
veio republicano, ressalte-se –, ela própria constitui agente de poder
que deve, portanto, ser fiscalizado e controlado.
É nesse sentido que podemos compreender a famosa sentença
de outro liberal clássico, Madison (no contexto dos escritos de Os
Federalistas) acerca da natureza humana, e que certamente pode (e
deve) estender-se à mídia:
Considerações finais
Francisco Fonseca
Notas
1 CASTELLS, Manoel. A política informacional e a crise da democracia. In: ______. O
poder da identidade. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2000.
2 Analisei o papel político/ideológico da mídia – notadamente os periódicos diários
O Globo, Jornal do Brasil, O Estado de S. Paulo e Folha de São Paulo entre 1985
e 1992 – no livro FONSECA, Francisco. O Consenso Forjado: a grande imprensa e a
formação da agenda ultraliberal no Brasil. São Paulo: Hucitec, 2005.
3 GRAMSCI, Antonio. Cadernos do cárcere. 5. V. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira,
2000.
4 COUTINHO, Carlos Nelson. Marxismo e política: a dualidade de poderes e outros
ensaios. São Paulo: Cortez, 1994. p. 54–55. Preferimos a definição do principal
exegeta de Gramsci no Brasil, dada a capacidade de síntese deste em contraste
com as notas esparsas do próprio pensador italiano nos Cadernos do Cárcere,
assim efetuadas, como se sabe, em razão das condições em que foram escritas.
Observe-se, por outro lado, que esta perspectiva gramsciana distancia-se dos
“aparelhos ideológicos de Estado”, formulados por Louis Althusser, devido justa-
mente à ausência de autonomia desses aparelhos em relação ao aparelho estatal.
Cf. ALTHUSSER, Louis. Idéologie et appareils idéologiques d’État. Paris: Éditions So-
ciales, 1976.
5 Como, além do mais, esses interesses são potencializados pela ausência de con-
troles sociais democráticos sobre a “mercadoria notícia”, há um verdadeiro abis-
mo entre impossibilidade de neutralidade e determinação de classe do processo
produtivo da notícia..
6 Note-se que, para diversos autores, o mundo estaria passando por uma verdadeira
compressão do espaço e do tempo, que se configuraria como uma das caracterís-
ticas da contemporaneidade. Em outras palavras, as informações são cada vez
mais transmitidas em tempo real – on line –, encurtando brutalmente o tempo de
sua “geração” assim como (especialmente) de sua propagação (transmissão) em
escala planetária. Dessa forma, nesse mundo encurtado por satélites, fibras óticas,
tvs a cabo, agências noticiosas, jornais e revistas (em inglês, língua cada vez mais
falada, e mesmo traduzida para as línguas nativas) impressos simultaneamente
em diversos países, a mídia vem crescentemente extrapolando mais ainda sua in-
fluência. É claro que não falamos de qualquer mídia, isto é, das que se encontram
na periferia do sistema. A grande mídia, aquela que influencia suas congêneres
nacionais e em consequência a população mundial, encontra-se na sede do capi-
talismo internacional. Mais ainda, se a esfera pública emergiu e se desenvolveu
em perspectiva eminentemente nacional, a partir da explosão informacional vem
tornando-se cada vez mais planetária, isto é, uma dada informação, acerca por
exemplo do mercado financeiro, pode contribuir para desestruturar inúmeras eco-
nomias. Exemplos disso são vistos frequentemente quando (reitere-se) a simples
publicação de uma declaração de uma alta autoridade monetária do G-7 ou do
FED norte-americano é capaz de derrubar bolsas e moedas no mundo inteiro, com
consequências trágicas para as populações locais.
7 É em razão da “sociedade midiática do espetáculo” que a figura dos “paparazzi” é
emblemática, tanto da “invasão da privacidade” como do advento de indivíduos
formados para serem ávidos pelo espetáculo, o que inclui necessariamente o âm-
bito político-institucional.
8 No Brasil, órgãos como os Procons, a Secretaria de Direito Econômico (SDE), as
Agências de Regulação (setoriais, como por exemplo a Anatel e a Aneel), entre
outros órgãos, além de entidades privadas sem fins lucrativos, como o Instituto
de Defesa do Consumidor (IDEC), apenas para citar alguns, cumprem o papel de
fiscalizar, controlar e eventualmente punir empresas que abusam de seu poder ou
não dão garantias aos consumidores. A mídia, contudo, está fora do alcance des-
sas entidades.
Francisco Fonseca
Referências
ela só pode ser exercida sobre uma organização de base que visa res-
guardar a ordem estabelecida como tal, em tal época ou lugar.
Assim sendo, a vigilância é instrumento de disciplinaridade,
trabalhando esse eterno casamento entre disciplina e controle: a
disciplina visa o controle do campo sobre o qual incide, de forma
a administrá-lo a contento, e não há controle sem que dispositivos
disciplinares sejam estrategicamente colocados e ativados.
Ocorre, então, que o exercício da vigilância no jornalismo o qua-
lifica como dispositivo disciplinar, rebatendo em seu espaço, digamos,
novamente, que este seja o espaço público, as normas pelas quais se
organiza o espaço social com suas instituições. Assim sendo, antes de
ser um papel ativo na defesa do cidadão, a vigilância é uma operação
ativa de disciplinaridade, de consolidação das coordenadas vigentes.
Sob a rubrica Esporte, um critério especial foi adotado: foram con-
sideradas nacionais as ações de esportistas brasileiros mesmo quando
realizadas fora do país. Esta classificação era necessária já que nosso
objetivo é demonstrar a relevância dada ao evento, não pelo evento em
si, mas pelo seu papel enquanto lugar de representação do Brasil.
Sob Estatísticas/Bem-Estar/Reportagens Educativas arrolamos
todas as matérias, em geral de iniciativa do próprio veículo, que cor-
respondem a um projeto amplo de informação a serviço da comunidade
visando esclarecimento sobre suas condições de vida, seus recursos,
seus possíveis direitos etc.
Por Modos de Vida compreendemos notícias que falam sobre
o cotidiano de pessoas notórias ou da vida, como ela é em outros
países; as notícias vinculam-se a um projeto cultural, ao mostrar ou-
tras experiências de mundo, mas também servem de chamariz pelo
exotismo que muitas vezes é explorado.
Em Notícias/Eventos: Cultura, Ciência, Personagens de Destaque,
encaixamos o que chega aos noticiários esporadicamente, como os
espetáculos teatrais, como as pesquisas científicas, que encontram
alguma ressonância com situações vividas no momento, como as
ocorrências ligadas a personagens midiáticos.
Por Opinião sobre Projetos e Efeitos compreendemos a matéria
exclusivamente voltada à entrevista ou ao repasse de discursos que
manifestam pontos de vista sobre uma situação. Relembramos, entre-
tanto, que opinativas, de um modo ou outro, são todas as matérias.
Por Política entendemos os embates efetuados pelos representantes
da população em postos públicos.
A eleição e a nomeação dos tópicos em sua individualidade se
devem, então, além da diferença dos fatos tratados, ao número de ocor-
rências que os apontava como uma situação em sua especificidade.
Notas
1 FOUCAULT, Michel. Microfísica do poder. Rio de Janeiro: Graal, 2001. p. 244.
2 FOUCAULT, Michel. Microfísica do poder. Rio de Janeiro: Graal, 2001. p. 105.
3 Ibid., p. 106.
4 FOUCAULT, Michel. Microfísica do poder. Rio de Janeiro: Graal, 2001. p. 111.
5 FOUCAULT, Michel. Vigiar e punir. Petrópolis, RJ: Vozes, 1999. p. 166.
6 FOUCAULT, Michel. Microfísica do poder. Rio de Janeiro: Graal, 2001. p. 133.
7 FOUCAULT, Michel. Microfísica do poder. Rio de Janeiro: Graal, 2001. p. 289.
Referências
Elson Lima
Elson Lima
Somente aos poucos a perplexidade foi-se dissipando e as respostas
puderam apresentar-se para perguntas mais pertinentes, como “No
que estamos sendo atacados?”.
No domínio da imagem, a nova face do terrorismo foi capaz de
demonstrar a vulnerabilidade do Estado, ao perceber neste âmbito
uma parte indispensável do aparelho de autorreprodução de for-
mas de contestação violenta. A eficiência da ação terrorista resulta
da capacidade de contestar a hegemonia americana, atacando-a
subversivamente no próprio aparelho de produção dessa mesma
hegemonia. No 11 de Setembro os terroristas tiveram o mérito de
enxergar e explorar a ausência de controle vertical, que caracteriza
as sociedades democráticas, chamando desse modo a atenção para
um aspecto da contingência do poder americano, o que levou os Es-
tados Unidos a verem que na sua própria força estavam contidos os
germes de sua fraqueza (aqui, encontram-se os elementos para uma
fundamentação teórica do terrorismo enquanto guerra assimétrica,
isto é, na disposição e utilização de recursos não convencionais em
ações terroristas).
Ao se fazer uma retrospectiva do dia em que a ação decorreu,
serão encontradas muitas chaves para nossa abordagem. Do momento
em que a primeira torre é atingida por um dos aviões, pela manhã,
até o início da noite, quando o presidente americano George W. Bush
declarou que os responsáveis iriam “sofrer as consequências” de tais
atos, a rotina dos americanos mudou significativamente. Instalações
governamentais e diplomáticas são evacuadas, a agenda política dos
governantes é suspensa, o Serviço de Imigração decreta alerta máximo
nas fronteiras dos Estados Unidos com o Canadá e o México. Declara-
se estado de emergência na cidade de Washington e o presidente
americano embarca no seu avião (Air Force One), rumo a local não
divulgado. Ao mesmo tempo, atividades esportivas são suspensas e
na internet ocorre um verdadeiro congestionamento de usuários. En-
quanto isso, o medo já se espalhava numa colônia árabe dos Estados
Unidos, receosa de represálias, devido aos atentados.
A duração da “miopia” (uma visão de curto alcance) ajuda a
entender talvez a demora de os americanos responderem o porquê de
estarem sendo atacados, determinando a potencialidade do espetáculo
cuja força se definiu pelo tempo de repercussão da insegurança gene-
ralizada, até que o governo pudesse reunir condições para assumir
uma postura a fim de contornar a crise.
Mas, para isso, o poder institucional precisava apresentar o
gerenciamento de crises, tanto mais como a única alternativa por meio
da qual a restrição dos direitos civis fazia-se necessária, quanto menos
Elson Lima
de suas fronteiras. Formulada segundo os preceitos da nova guerra,15
o terrorismo da Al Qaeda naquela ocasião acompanhou as vicissitudes
do espetáculo e flagrou uma deficiência existente e apontada por Guy
Debord há quase três décadas. O espetáculo já não diz: o que aparece
é bom, o que é bom aparece. Diz apenas: é assim.16 E exatamente por
assim ser permitiu ao terrorismo desmascarar sua incapacidade em
atender ilusões camufladas em necessidades, utilizando-se dos media
globalizados para potencializar o efeito da violência simbólica.
Claramente houve uma distância muito grande entre a cobertu-
ra dos jornais americanos nos momentos iniciais dos atentados – na
ênfase por uma retaliação imediata exemplificada pelo articulista do
New York Post, Steve Dunleavy, ao deixar escapar que “o governo deve
simplesmente matar os bastardos responsáveis pelo crime [com]
um tiro entre os olhos ou envenenamento”17 – e os pronunciamentos
governamentais – “não faremos distinção entre os terroristas que
cometeram estes atos e aqueles que os protegeram”.18 Quer dizer, se
por um lado os media, mesmo sob efeito da incerteza provocada pelas
ações violentas, mostravam-se incisivos em suas críticas e dispostos
a pressionarem inclusive as autoridades políticas, do outro lado o go-
verno, sem um plano de ação imediato, acenava com frases retóricas
e vazias de sentido pragmático.
Mal havia começado a se contabilizar o número de vítimas, os
media americanos já exigiam medidas governamentais de gerencia-
mento de crises em moldes conservadores. As exigências realizadas
pelos jornais e pelas emissoras de televisão lembravam um pouco os
apelos que no passado – como, por exemplo, o surgimento dos regi-
mes fascistas, na Itália e na Alemanha, da primeira metade do século
XX – geraram catástrofes ao deixar que a política fosse conduzida por
supostos interesses do “País” ou da “Nação”, abstratamente à frente
daquilo que deveria ser feito em nome dos indivíduos, dos cidadãos
para quem os media americanos faltavam com o compromisso ao
apoiar deliberadamente as ações governamentais.
Dizia um representante daqueles jornais, já deixando entrever
o apoio a soluções autoritárias dadas pelo governo, que “os ataques
poderão convencer os americanos de que todo o possível deve ser feito
para proteger a nação. Caberá a Bush decidir”.19 Em vez de uma crítica
às alternativas de que o governo dispunha naquele momento sob pena
de elas gerarem distúrbios no estado de direito dos cidadãos e/ou
para a ordem internacional, ao dependerem exclusivamente de seus
media – o que verdadeiramente aconteceu –, os americanos viram-se
preocupados simplesmente em responder aos ataques fazendo de sua
Elson Lima
nem força aérea que alguém possa combater. Não têm cidades com
bens valiosos que temam perder. Alguns países que estão escondendo
terroristas têm, sim, alvos valiosos. Têm cidades e exércitos”.23 Portan-
to, fechando o silogismo (com um mero exercício lógico e sem grande
esforço teórico) pode-se deduzir que esses mesmos países tornar-se-
iam alvos potenciais de ações militares dos Estados Unidos.
O efeito mediático, ao ser apropriado pelo governo, fazia de
conta que os americanos viviam realmente em um contexto “pós-
ideológico”. 24 Como se isso realmente fosse possível, não houve
espaço, por exemplo, para a defesa ou a cogitação de reações não
militares aos ataques. Pelo contrário, a imprensa fazia-se pródiga em
solicitações e exigências de bombardeios aos responsáveis pelo 11 de
Setembro. Ainda que os mesmos sequer tivessem sido identificados.25
As ideias de intelectuais como Noam Chomsky, embora trouxessem
grande oposição, não encontravam expressão junto ao grande público
naquele contexto. Não tinham espaço nos jornais dos media ameri-
canos. Nesse sentido, encontram-se publicações feitas pelo jornal O
Globo que não encontraram lugar nos media americanos, a exemplo
de um texto assinado por um jornalista dos Estados Unidos, que vai de
encontro à postura que a imprensa teve naquele contexto de apoio
deliberado ao governo norte-americano.
A instrumentalização dos media pelo terrorismo foi feita reunin-
do horror e poder encerrados na natureza espetacular da violência
observada. Mas a cobertura mediática mudou o sentido dessa ins-
trumentalização. Se ainda nas mãos dos terroristas ela trazia como
significado a possibilidade de chamar a atenção da opinião pública
para as implicações da política externa dos Estados Unidos – ou seja,
por meio de media interligados globalmente, os terroristas empre-
garam um tipo de ação (violência física, simbólica etc.) –, ao lançar
mão desse recurso mediático os terroristas, entretanto, forneceram
subsídios para um revide governamental que incorporasse a política
do espetáculo nos discursos oficiais. E mais, ao redirecioná-la para o
gerenciamento de crises subsequentes, a política do espetáculo não
só escamoteava as condições históricas que levaram à ocorrência do
11 de Setembro, mas fazia com que os interesses26 por trás da solução
conservadora de limitação dos direitos civis, por exemplo, aparentasse
ser a única alternativa viável e, portanto, necessária aos americanos
naquele momento.
É disso que estamos falando quando o vice-presidente, Dick
Cheney, faz apelos aos consumidores dizendo: “Eu espero que os
americanos ponham o dedo na cara dos terroristas e digam que têm
grande confiança no país, grande confiança na nossa economia e que
Elson Lima
11 de Setembro, V. Safatle chamou de “paixão pelo real”, uma paixão
estético-política pela ruptura, niilismo ativo apaixonado pela trans-
gressão, pela radicalidade da violência como signo do aparecimento
de uma nova ordem cujo programa positivo nunca foi exaustivamente
tematizado.28 Sem legitimidade no Ocidente e tão caro às democracias
liberais, as imagens de destruição trouxeram consigo essa arquitetura
de violenta reivindicação.
Enquanto instrumento político e com um propósito bem de-
finido, o significado do efeito mediático para os terroristas e para o
governo americano, respectivamente, caminhou para duas direções
distintas, ainda que paralelamente: representou insegurança gene-
ralizada de um lado e confiança recuperada de outro. Além disso,
o efeito mediático veste um outro significado também. Mais geral e
sem se submeter definitivamente a um partido ou a uma instituição,
ele comportou-se como pura dialética – ao contrário do “espetáculo”
– fazendo da compreensão histórica o endosso para quem procura
dele se apropriar.
Notas
* O presente texto constitui uma adaptação de trabalho monográfico produzido em
2007 sob a orientação do professor e doutor Francisco Carlos Teixeira da Silva. A
pesquisa, na ocasião, contou com o financiamento da Fundação Carlos Chagas de
Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro (FAPERJ).
1 Cf. ZIZEK, S. Bem-vindo ao deserto do real!: cinco ensaios sobre o 11 de setembro e
datas relacionadas. São Paulo: Boitempo, 2003.
2 Cf. BENEGAS, J. M. Diccionario espasa: terrorismo. Madrid: Espasa Calpe, 2004.
3 HUNTINGTON, S. P. Choque de civilizações?. Política Externa, São Paulo, v. 2, no 4,
mar. 1994.
4 Cf. BORRADORI, G. Filosofia em tempo de terror: diálogos com Jürgen Habermas e
Jacques Derrida. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2004.
5 DEBORD, G. A sociedade do espetáculo: comentário sobre a sociedade do espe-
táculo. Rio de Janeiro: Contraponto, 1997.
6 CLARK, T. J. O Estado do Espetáculo. Folha de São Paulo, São Paulo. Disponível
em: <http://www1.folha.uol.com.br/folha/ilustrada/ult90u69295.shtml>. Acesso:
19 mar. 2007.
7 Palavras de um jornalista britânico, Rupert Cornwell, comentando o cinismo com
que os americanos reúnem interesse e moral. Cf. HERTSGAARD, M. A sombra da
águia: por que os Estados Unidos fascinam e enfurecem o mundo. Rio de Janeiro:
Record, 2003.
8 ZIZEK, S. Bem-vindo ao deserto do real!: cinco ensaios sobre o 11 de setembro e
datas relacionadas. São Paulo: Boitempo, 2003.
9 Traduzindo livremente (assim como as seguintes): “Aviões sequestrados destroem
World Trade Center e alcançam o Pentágono”.
10 “EUA sob ataque”.
12 “EUA atacados”.
13 “Ato de guerra”.
14 “É guerra”.
15 Cf. COSTA, D. Guerra assimétrica. In: TEIXEIRA DA SILVA, F. C. (Coord.). Enciclopé-
dia de guerras e revoluções do século XX. Rio de Janeiro: Campus, Elsevier, 2004.
16 Cf. DEBORD, G. A sociedade do espetáculo: comentário sobre a sociedade do espe-
táculo. Rio de Janeiro: Contraponto, 1997.
17 O Globo, Rio de Janeiro, 13 set. 2001. Especial, p. 18.
18 Ibid., p. 02.
19 Ibid., p. 22
20 Cf. CARDOSO, C. F. S.; VAINFAS, R. (Org.). Domínios da história: ensaios de teoria e
metodologia. Rio de Janeiro: Campus, 1997.
21 HERTSGAARD, M. A sombra da águia: por que os Estados Unidos fascinam e enfure-
cem o mundo. Rio de Janeiro: Record, 2003.
22 Cf. DEBORD, G. A sociedade do espetáculo: comentário sobre a sociedade do espe-
táculo. Rio de Janeiro: Contraponto, 1997.
23 O Globo, Rio de Janeiro, 18 set. 2001. Especial, p. 11.
24 Cf. HERTSGAARD, M. A sombra da águia: por que os Estados Unidos fascinam e
enfurecem o mundo. Rio de Janeiro: Record, 2003.
25 O Globo, Rio de Janeiro, 17 set. 2001. Especial, p. 8.
26 Cf. HERTSGAARD, op cit.
27 O Globo, Rio de Janeiro, 17 set. 2001. Especial, p. 7.
28 Cf. ZIZEK, S. Bem-vindo ao deserto do real!: cinco ensaios sobre o 11 de setembro e
datas relacionadas. São Paulo: Boitempo, 2003.
Referências
Elson Lima
do espetáculo. Rio de Janeiro: Contraponto, 1997.
Cruéis paisagens
Ângela Maria Dias de Brito Gomes