ATENTE - Indicador de Rumos da Informação 1

2 ATENTE - Indicador de Rumos da Informação

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4 ATENTE - Indicador de Rumos da Informação

Editorial | Carlos Mascarenhas
Desespero...
D
esde os rumores da instalação da CPI da Covid-19(do Geno-
cídio, para alguns), e a recuperação dos direitos políticos do
presidente Lula, Bolsonaro não esconde seu desespero. No
caso da CPI fez de tudo pra esta não ser instalada e Renan Calheiros
(MDB-AL) não ser seu relator. Mas deu tudo errado pra Jair B. A Co-
missão Parlamentar de Inquérito foi instalada e tem Renan como seu
relator. Enquanto Lula da Silva cresce em progressão geométrica nas
pesquisas, o governo amarga rejeição, desce o aterro sanitário... A CPI
é composta por sete parlamentares experientes, e quatro da chamada
“tropa de choque” do desgoverno, uns “covardes” na boca do povo,
preferem apostar na defesa do indefensável.
Mas a população está atenta às manobras... A cada sessão da CPI os
sete parlamentares não têm dado mole pro inquilino do Planalto. Com
os fatos na frente, demonstram que Bolsonaro foi o propagador-mor
do vírus em nosso país, e por causa dessa desumanidade a tragédia
sanitária chega a 458 mil mortos, pelo menos até a data que escrevo
este editorial (29/5). É fato que o fascista não conseguirá apagar das
suas digitais a terra que cobriu os corpos ceifados por sua omissão,
negligência, namoro com a morte através da sua necropolítica.
A propósito, como lembra o presidente do Instituto Ação
Integrada(INAI), entre as linhas da entrevista que nos concedeu, o que
se ler nas página 6 e 7, diz: “Haveremos de vencer, o mal jamais vencerá
o bem. E nós precisamos encontrar caminhos que nos permitam agir
cada vez mais com vigor e firmeza. Não nos falta criatividade, força e
trabalho, determinação e, principalmente, espírito de luta contra todos
os negacionistas e obscurantistas. Sem esquecer as 457 mil vidas cei-
fadas pela mão dos incompetentes e irresponsáveis. A luta continua”.
Se o que faltava para o impeachment de Jair B era o povo na rua,
o dia de ontem (29/5), volta com fôlego pra reafirmar “quem sabe faz
hora, não espera acontecer...” O país assistiu a classe trabalhadora, os
estudantes, o povo sair da sua letargia pra exigir “Fora Bolsonaro!”,
“Fora Genocida...!”. O grito preso na garganta explodiu: “Ei Bolsonaro,
vai tomar no c...”.
O atual presidente da Câmara dos Deputados, Artur Lira(PP-AL),
está com seu bundão em cima dos pedidos de impeachment, no total
120, vindos dos mais variados fragmentos da sociedade, tudo pra be-
EDITOR: Francisco Carlos Mascarenhas - DRT-PI: 1696
REVISTA atentemascarenhas@gmail.com
Edição: Nº 25 | Piauí http://revistaejornalatente.com.br
Editorial/Reportagens: Carlos Mascarenhas
Contato: (86) 99472-3958
PROJETO GRÁFICO/DIAGRAMAÇÃO
Jornalista Giovani Castro - DRT-PI: 1709
Contato: 98878-1162
FOTO/CAPA: Arquivo Marcelino Fonteles
Os textos assinados são de inteira
responsabilidade de seus autores.
ATENTE - Indicador de Rumos da Informação
Imagem: G1Piauí
neficiar o genocida. Mas as coisas começam a tomar outro rumo. Com
o povo na rua os poderosos borrarem-se nas calças. A cada depoimen-
to dos seguidores do genocida na CPI, a mentira e a contradição são
desmascaradas, inclusive na tela da Globo, o que deixa Jair B acuado.
A CPI quer saber por que o mafioso não comprou as vacinas no tem-
po certo? Por que preferiu investir no tratamento precoce quando o
mundo já havia abandonado tal ideia? Mas o que o charlatão fez foi
receitar o uso da cloroquina, ameaçar os estados que adotassem o iso-
lamento social com intervenção das forças armadas, contrariando a
orientação da ciência. Dá até pra desconfiar desse apego a esse remé-
dio. Mas no rastro da dinheirama advindo desse espetáculo da cloro-
quina, a verdade haverá de aparecer nua e crua. É questão de tempo.
Jornalistas investigativos, competentes estão em campo para...
Engrossando o caldo da crítica a esse governo, o professor e cien-
tista social Marcelino Fonteles, em entrevista nesta edição, entre as pá-
ginas 8 a 11, explica que “... a situação mais grave é o genocídio, onde,
dos aproximadamente 500 mil mortos, cerca de 300 mil óbitos é de
responsabilidade do desgoverno Bolsonaro. E ele, o genocida, tem que
pagar por isso”. Sobre sua expectativa da CPI, acrescenta: “Espero que
essa CPI se estenda para a abertura do processo de impeachment de
Bolsonaro. É justo e urgente a cassação do mandato do atual chefe do
executivo federal”. Outro que aponta luz no fim do túnel é o historia-
dor Manuel Domingos Neto ao refletir sobre o papel (sujo, grifo meu)
que cumprem as forças armadas no desgoverno
Bolsonaro, explicando que “O retorno dos militares O Esquerdista
ao mando político é o mais completo desastre. Uma
tragédia sem data para terminar. As bases da cons-
trução do desenvolvimento estão sendo destruídas.
Esse governo é criminoso...”.
O leitor(a) tem em mãos esta 25ª edição que
traz além dos entrevistados, já citados, reflexões
dos colaboradores, uma reportagem sobre os 86
anos de A.A. no mundo, além do toque artístico do
Jornalista Diagramador Giovani Castro ao deixar a
diagramação leve, boa de se ler. O leitor(a) tire suas
conclusões. Atente! Boa leitura.
Editorial Paulo César Lima | Entrevista
Fascista ou mafioso? O mal jamais vencerá o bem
Martha Medeiros Marcelino Fonteles | Entrevista
O genocida tem que pagar por isso...
Uma bandeira destruída
Fernando Morais MANUEL DOMINGOS | Entrevista
Cuba responde à Folha Bolsonaro é criminoso
5

A escravidão no Piauí e no Brasil
A população escrava no Piauí atingiu índices tão elevados quanto ao resto do
Brasil: mais da metade dos habitantes
U
ma das formas mais desumanas
de exploração do trabalho é,
sem dúvida, a escravidão, cuja
existência remonta à Idade Medi-
eval. Em todo o Brasil, o trabalho es-
cravo foi a forma predominante para
implementar a colonização, sendo
abolida, oficialmente, apenas em
1888, após a luta incessante dos es-
cravos, pela liberdade e bandeira do
movimento abolicionista. Todo dia 13
de maio, marca a data da assinatura
da Lei Áurea, que oficializou o fim da
escravidão no Brasil.
É mais uma data no calendário
da história oficial, um símbolo para
legitimar ações de autoridades
que passaram para a história como
heróis, minimizando o papel de uma
imensa massa anônima, sem rosto,
que lutou durante séculos contra a
escravidão, pela liberdade. É lugar
comum dizer que a escravidão ai-
nda não acabou e que a famosa Lei
Áurea apenas amenizou o calvário e
o martírio de centenas de milhares
de seres humanos, explorados como
animais, pelo carcomido sistema
colonial escravista, nas fazendas,
engenhos, lavouras, lares do Brasil
nosso de cada dia, que tem uma dív-
ida histórica com a população negra.
6 ATENTE - Indicador de Rumos da Informação
Pensar Piauí Claudete Maria Miranda Dias | Professora, no Facebook
A questão da escravidão no Bra-
sil ainda não foi de todo resolvida:
há 133 anos depois de abolida, per-
manece sob outras formas de ex-
ploração. Mas, sempre haverá uma
esperança de um dia ter fim, comple-
tamente, apesar de reconhecer que
o sentimento/prática da exploração
está entranhado na mente dos gov-
ernos e nas relações sociais, devido,
exatamente, à longa duração da es-
cravidão que deixou marcas indel-
éveis na sociedade brasileira.
Em três séculos de regime es-
cravista, milhões de africanos entr-
aram no Brasil, por meio do tráfico,
cuja população negra alcança, atu-
almente, mais de 40%. A escravidão
é uma mancha na história do Brasil,
a ponto de Rui Barbosa, enquanto
ministro de estado, tentar apagá-la,
ao ordenar a queima dos arquivos
pelo Brasil afora. No entanto, muitos
vestígios desse passado violento,
que marcaram a sociedade brasileira
a ferro quente, deixaram cicatrizes
profundas nos costumes, na cultura,
nos hábitos, na memória, corações e
mentes.
A escravidão predominou como
sustentação da estrutura econômica
e social da colonização portuguesa,
no Brasil, onde foi implantada em
um momento de transição do feudal-
ismo para o mercantilismo. Paradox-
almente, a escravidão trazida para
o Brasil, era a forma de exploração
de trabalho que os colonizadores
entenderam mais lucrativa para a
acumulação de riquezas: a utilização
do trabalho assalariado era encarada
como pouco produtiva para os inter-
esses mercantilistas da época, que
exigiam a expansão e renovação de
mercados e grande contingente de
trabalhadores. Isto explica o rent-
ável tráfico de africanos e o que é
mais intrigante, a formação de uma
“ideologia escravista”, um conjunto
de ideias, tradições e valores que
remontam à época da Antiguidade,
com os filósofos Aristóteles e Platão,
defendendo a escravidão como im-
prescindível: uns nasceriam para a
submissão outros superiores.
Importantes estudos de pesqui-
sas de mestrado e doutorado abor-
dam a escravidão no Piauí que des-
montam a ideia de que, diferente de
outras regiões brasileiras, não teria
havido escravidão ou que ela teria
sido mais amena, devido ao fato da
economia pecuarista extensiva pre-
cisar de reduzida mão de obra e ter
características livres: o vaqueiro tra-
balhava em vastos domínios de ter-
ras, podendo se locomover com as
boiadas e a pastagem ocupar amplas
áreas. Porém, a população escrava
no Piauí atingiu índices tão elevados
quanto ao resto do Brasil: mais da
metade dos habitantes. O mito de
um Piauí sem escravidão foi construí-
do por uma minoria branca.
A escrupulosa pesquisa, em
relatos de viajantes, inventários,
testamentos, processos civis e
criminais e correspondências ajuda
a desmascarar o amplo significado
da escravidão no Piauí: não existe
escravidão amena, a violência é in-
trínseca e no Piauí não foi diferente.
Os mecanismos repressores, o con-
strangimento físico como castigos
e maus tratos, a inexistência de
rendimentos, são características da
escravidão, verificadas em todo o
Brasil, e no Piauí não foi diferente:
os africanos desempenharam varia-
das atividades - desde vaqueiros,
roceiros, ferreiros, carpinteiros,
oleiros, domésticos, entre outros.
Outro mito que vigorou no Brasil
é de que o africano foi usado como
escravo devido ao fato dos nativos
(índios) serem preguiçosos e selva-
gens e pela resistência demonstrada
em aceitar serem escravos. Mito que
foi igualmente desmontado: desde
quando houve escravidão negra e
nativa houve resistência e luta. A
Nova História esclareceu, de uma
vez por todas, que os nativos eram
livres, viviam em harmonia com a na-
tureza, não ambicionavam acumular
riquezas, por isso, não aceitavam ser
escravos, seus valores, costumes e
cultura eram mais valiosos. Mesmo
assim, muitos foram escravizados,
aldeados, expropriados, mortos, na
guerra da colonização, que, no Piauí,
durou quase duzentos anos,. Os afri-
canos, por sua vez, resistiam desde
o momento de sua captura por trafi-
cantes avarentos e ambiciosos; resis-
tiam nos navios, por isso eram acor-
rentados, resistiam ao desembarcar
nos portos brasileiros, nas fazendas
e lavouras de todo o Brasil.
O fim da escravidão deve-se, não
apenas a essa ou aquela autoridade,
aos fatores externos, ao movimento
abolicionista ou à Lei Áurea, mas
sobretudo à resistência e ás várias
formas de lutas : rebeliões, insur-
reições, revoltas, quilombos, fugas,
assassinatos, suicídios, abortos, em
manifestações culturais e folclóricas,
em fim, demonstraram que nunca
aceitaram ser escravos.

N
ão sou de me ufanar,
mas é difícil segurar a
emoção quando vejo
um atleta receber uma meda-
lha olímpica enquanto nosso
hino toca e a bandeira do país
é hasteada. Nesses momen-
tos, sou tomada de um orgu-
lho raro, já que são poucas as
vitórias do Brasil e muitas as
suas derrotas. Uma delas foi
quando permitimos que um
bando de alucinados tomas-
sem a nossa bandeira como
símbolo de sua ignorância e
desse governo que de patriota
não tem nada.
Arredondando, foram 57
milhões de pessoas que vota-
ram neste homem que aí está.
ATENTE - Indicador de Rumos da Informação
Uma bandeira
destruída
É muita gente, e entre elas es-
tão os que votaram por iden-
tificação e com os quais não
há o que conversar, é um voto
autoexplicativo que tende a se
repetir.
No entanto, há milhões de
homens e mulheres corretos,
sensatos, de boa índole, que
não desejaram votar nele,
mas que entraram na onda de
blindar a esquerda a qualquer
custo, preferindo apostar em
terra arrasada. Não são ho-
mofóbicos, nem racistas, nem
fascistas, nem milicianos, nem
fanáticos religiosos. São boas
pessoas que, embalados pelo
endeusamento do Moro (pois
é) e por medo do socialismo
Martha Medeiros | Escritora aforista,
(!!!), deram seu voto a uma
criatura que torceram para
que fosse apenas um bravatei-
ro, enquanto tapavam o nariz.
Dois anos de nariz tapado
deu em asfixia, não só meta-
fórica. Os que tentaram evitar
o cheiro de podre que viria do
Planalto contribuíram para
que hoje contabilizemos uma
quantidade trágica de vítimas
do coronavírus, esgotando os
profissionais de saúde e a ca-
pacidade de atendimento dos
hospitais. Não quiseram en-
xergar o que era nítido, trans-
parente, perceptível. Não hou-
ve enganação: ele nunca fingiu
que era outra coisa que não
um homem sem responsabi-
cronista e poetisa brasileira
lidade social, sem ideias, sem
projeto, sem visão de mundo,
sem cultura, sem compaixão,
sem educação, sem inteligên-
cia, sem humor, sem amigos.
Todos pressentiram o perigo,
mas taparam o nariz, fecha-
ram os olhos e cá estamos.
Nossa bandeira foi deson-
rada por quem não tem com-
promisso com o país. Nossa
bandeira virou símbolo de
desrespeito à nação, uma
contradição que só mesmo
amalucados conseguem pro-
mover. O presidente não usa
máscara, despreza a vacina,
dá péssimos exemplos e ergue
a bandeira como se amasse
os brasileiros. Só uma currio-
la fanática ainda diz amém.
Esses estão abduzidos, mas se
você foi um dos que votou ta-
pando o nariz dois anos atrás,
tem o dever cívico de ajudar
o Brasil a respirar melhor e a
recuperar o orgulho pátrio.
É hora de construirmos uma
transição para longe de quem
transformou nossa bandeira
num trapo sujo. Em qualquer
governo, de qualquer país,
coisas dão certo e dão errado,
mas o que está acontecendo
conosco não se enquadra em
certo e errado. É uma mons-
truosidade que temos, juntos,
a obrigação de reparar.
7
 Cuba respon
Fernando Morais, jornalista e escritor

“ Vejam nossos indicadores

de saúde, de educação, de
segurança, nossos resultados
científicos, a igualdade de
oportunidades para todos.
Não renunciaremos a essas
conquistas, apesar do blo-

“
queio e das agressões contra
nosso projeto revolucionário.

A verdade
está nos fatos

A
Embaixada de Cuba
acompanha o portal de
notícias da Folha dia-
riamente, por ser um
meio transcendente no cenário
informativo do Brasil. Mas nos
deixou indignados o editorial
"Nuances da ditadura" (22/4),
que calunia o nosso país. Não
vale nem a pena discutir o ter-
mo "ditadura" do título.
Poderia ser objeto de escla-
recimentos em outro momento.
Temos um sistema político
que goza de ampla participa-
ção popular, desde a adoção
de suas leis, incluindo a Cons-
tituição, até o aproveitamen-
to dos direitos primordiais de
todos os cidadãos, sem exclu-
são, ao trabalho, à moradia e
aos serviços e direitos, como a
saúde, a educação, a seguran-
ça. Em todos os planos, a dig-
nidade plena.
Não temos crianças nas ruas
pedindo dinheiro ou trabalhan-
do nem desnutrição infantil. To-
dos estudam e são felizes. Um
projeto diferente que merece
respeito e é apoiado e defendi-
do pela imensa maioria do povo
cubano. Se a Revolução Cubana
não fosse profundamente livre
e democrática não estaria no
poder, nem os cubanos have-
riam resistido mais de 60 anos
a bloqueios e agressões, nem
praticado a solidariedade com o
mundo, nem saberíamos apre-
ciar a dignidade que nos man-
tém e a vida que se nos negam.
As referências à “sempre
claudicante economia cubana”,

8 ATENTE - Indicador de Rumos da Informação

onde à Folha
https://www.google.com.br/url?sa=i&url=https%3A%2F%2Fwww.dw.com%2Fpt-br%2Fcuba-inicia-fase-avan%25C3%25A7ada-de-testes-da-sua-
-vacina-contra-covid-19%2Fa-56776953&psig=AOvVaw0Joq1axRe72J9W6-btoK68&ust=1620361957113000&source=images&cd=vfe&ved=0CA
IQjRxqFwoTCPCkiuuctPACFQAAAAAdAAAAABAD
“o único modo previsível de ti-
rar apoio interno (ao governo
cubano) é mediante o desen-
canto e a insatisfação que sur-
jam do mal-estar econômico
e das dificuldades materiais…
Há que empregar rapidamen-
te todos os m eios possíveis
para debilitar a vida econô-
mica de Cuba… uma linha de
ação que… consiga os maiores
avanços na privação à Cuba de
dinheiro e suprimentos, para
reduzir seus recursos financei-
ros e os salários reais, provocar
fome, desespero e a queda do
governo”.
Esse propósito qualifica
como genocídio na Convenção
das Nações Unidas para a pre-
venção e a sanção desse deli-
to de genocídio, que entende
como tais os atentados graves
contra a integridade física ou
mental dos membros de um
grupo humano e a submissão
intencional do grupo a condi-
ções de existência que levarão
a sua destruição física total ou
parcial (Art.1.b y 1.c).
Esse bloqueio criminal cau-
sou danos imensos à economia
cubana em 60 anos, superiores,
a preços constantes de ouro, a
um trilhão de dólares. Seu ca-
ráter extraterritorial e violador
“um país que vivenciou déca- declarada dos Estados Unidos do direito internacional e da
das de fracassado planejamen- da América e de seus aliados carta das Nações Unidas gerou
to estatal”, sem mencionar a contra Cuba, cujo principal a condenação quase unânime
causa principal de nossos pro- expoente é o "bloqueio" ge- da comunidade internacional.
blemas, ignora e deturpa nossa nocida que pretende, em vão, Também por seu caráter injus-
realidade. render nosso povo pela fome e to, abusador e eticamente ina-
As penúrias económicas de doenças. ceitável.
Cuba e a angústia de seu povo Seu propósito estava claro Fomos, antes da Revolução,
pela escassez e dificuldades em um documento oficial do uma ilha neocolonizada, mo-
têm como causa essencial a governo norte-americano que noprodutora, monoexportado-
guerra não convencional nem perdeu o sigilo e que dizia que ra, analfabeta, submetida ao
ATENTE - Indicador de Rumos da Informação
desígnio ianque. A Revolução
a transformou. Nossos indica-
dores de saúde, de educação,
de segurança; nossos resulta-
dos científicos e esportivos; a
felicidade das nossas crianças;
a igualdade de oportunidades
para todos... Tudo são conquis-
tas a que não renunciaremos,
apesar das graves consequên-
cias do bloqueio e das agres-
sões contra nosso projeto revo-
lucionário. Pelo bem de Cuba e
dos cubanos.
Não conseguimos ter uma
economia robusta sobretu-
do pelo bloqueio e agressões
desde o início da Revolução,
porém alcançamos uma eco-
nomia capaz de defender-se
da primeira potência militar e
econômica do mundo e manter
e consolidar conquistas sociais
que hoje são um idílio, inclusive
para países desenvolvidos.
Analisem os indicadores de
desenvolvimento humano do
nosso país e os resultados frente
à pandemia. Eles falam por si só.
Embaixador Rolando Gómez
González, encarregado de Negócios
da República de Cuba no
Brasil (Brasília, DF)
9
 ENTREVISTA | Paulo César Lima | Presidente do INAI

“O mal jamais
vencerá o bem”

D
iz o presidente do Instituto Ação Integrada-INAI, Paulo César
Lima, Auditor Fiscal do Trabalho durante 35 anos. Um dos
pioneiros no combate ao trabalho escravo. César, na entrevista
que segue, sentencia: “Haveremos de vencer, o mal jamais vencerá
o bem (...) Não nos falta espírito de luta contra todos os negacionistas e obscu-
rantistas. Sem esquecer as mais 457 mil vidas ceifadas pela mão dos incompe-
tentes e irresponsáveis. A luta continua”. Confira. Boa leitura.

Carlos Mascarenhas

iniciativas de Ação Integrada foi

Vamos iniciar esta entrevista
pedindo que fale um pouco da sua
trajetória – acadêmica, sindical...,
a palavra está com você, fique à
vontade.
Paulo Cesar Lima - Sou enge-
nheiro civil e engenheiro de se-
gurança do trabalho, durante 35
anos atuei como Auditor Fiscal do
Trabalho, assumi minhas funções
em setembro de 1983 e fiquei até
maio de 2019, quando me aposen-
tei. Sempre fui lotado na cidade
de Parnaíba-PI onde chefiei a sub-
delegacia por 4 anos. Quando saí
da chefia em Parnaíba, fui atuar
no Combate ao Trabalho Escravo
onde fiquei até 2005, tive a opor-
tunidade de ser coordenador de
Grupo Móvel de Fiscalização.
O Senhor é Presidente do INAI,
pode nos esclarecer exatamente o
que é esse Instituto? O que quer
dizer “... Ação Integrada” na visão
do INAI?
PCL - O Instituto Ação Integrada
(INAI) é uma associação sem fins
lucrativos criada por instituições
que atuam nacionalmente no com-
bate ao trabalho escravo e que
apoiam iniciativas de Ação Integra-
da para a prevenção ao trabalho
escravo e a assistência às suas ví-
timas, a saber: a Associação Nacio-
nal dos Magistrados da Justiça do
Trabalho (ANAMATRA), o Conse-
lho Nacional de Justiça (CNJ), a De-
fensoria Pública da União (DPU),
os Ministérios Públicos Federal e
do Trabalho (MPF e MPT), o Minis-
tério do Trabalho (MTb), o Ministé-
rio dos Direitos Humanos (MDH),
o Sindicato Nacional dos Audito-
res Fiscais do Trabalho (SINAIT)
e o Tribunal Superior do Trabalho
(TST). O compromisso formal para
o fortalecimento e expansão d as
estabelecido em Termos de Co-
operação Técnica que criaram e
ampliaram o Movimento Ação In-
tegrada (MAI). O INAI deve formar
equipes em condições de realizar
as ações de formação dos traba-
lhadores resgatados e que possam
promover a alteração da situação
anterior que levou o trabalhador
“cair” nas malhas do explorador.
Como você situa historicamente o
INAI nesses tempos de pandemia
da COVID-19?
PCL - O INAI tem um grande de-
safio pela frente e precisamos
enfrentá-lo de forma serena e
tranquila sem, jamais, esquecer o
espírito de luta e as necessidades
dos trabalhadores. Neste momen-
to em que vemos cada dia os direi-
tos dos trabalhadores sendo usur-
pados e “roubados”, precisamos
nos fazer presentes, fincar pé nos
propósitos do INAI, e tentar impe-
dir que situações de exploração
se repitam.
É fato que tanto o SINAIT quanto o
INAI tem enfrentado dificuldades
no combate ao trabalho escravo
contemporâneo, estratégia visível
do governo federal na tentativa
de frear a atuação da Fiscalização
Trabalhista, além de outras medi-
das no mesmo rumo. Neste sen-
tido, que dificuldades são essas e
como essas duas entidades tem
enfrentado tal prática, que pode-
mos chamar de degradação huma-
na, em pleno início de século XXI?
PCL - Não foi surpresa pra ninguém
do mundo do trabalho que os direi-
tos e conquistas dos trabalhadores
seriam objeto da gula e ganância
deste (des)governo. Entretanto,
não imaginávamos que eles iriam
com tanta sede ao pote, e que o
congresso agisse de forma tão trai-
çoeira e descarada. Nem tampou-
co seriam (o governo e o congres-
so) tão benevolentes com a parte
podre do capital nacional. Todas
as “reformas trabalhistas” que
foram impostas desde os tempo

10 ATENTE - Indicador de Rumos da Informação

de Temer, sempre visaram reduzir
direitos, eliminar conquistas e des-
mantelar o mundo sindical. Todas
as medidas foram nesse sentido.
Não há o que negar.
O freio imposto à Fiscalização
do Trabalho veio muito rápido,
tão logo o novo governo assumiu,
desfez o Ministério do Trabalho,
transformando-o em uma simples
secretaria com pouco ou nenhum
poder decisório. Aliado a isso veio
corte de verbas. Isso inviabiliza o
trabalho de fiscalização e no caso
do combate ao trabalho escravo,
as ações foram cada vez dimi-
nuindo e os grupos móveis sendo
desfeitos. Chegando ao ridículo de
não realizar ações por absoluta fal-
ta de recursos para pagamento de
diárias, passagens e combustível.
Isso é inaceitável.
Que ações serão implementadas
na sua gestão, à frente do INAI,
pra assegurar as causas que de-
fende?
PCL - Pretendemos dar continui-
dade ao bom trabalho feito por
minha antecessora Vera Jatobá
e ampliar o arco de parceiros e
entidades engajadas no mesmo
processo e que comunguem com
os nossos objetivos. Mas sem, con-
tudo, esquecer de denunciar toda
e qualquer forma de ataque que o
mundo do trabalho venha sofrer.
E, principalmente, continuar a luta
pela recuperação do exército de
desvalidos que foram fruto da ga-
nância dos escravagistas, quer se-
jam no campo ou na cidade.
Quem são os beneficiados dessas
ações?
PCL - Os trabalhadores vítimas do
trabalho escravo. A situação do
trabalhador, de modo geral, pio-
rou. Não há emprego, não há au-
xílio, para enfrentar a pandemia,
digno proposto pelo governo. Há
um retorno à situação de miséria.
ATENTE - Indicador de Rumos da Informação
A retirada de direitos está quase
autorizando a exploração pelo es-
cravagista. O INAI tem que se apre-
sentar como instituição capaz de
evitar a tragédia maior, escravidão!
Como se dá a parceria do INAI com
o SINAIT?
PCL - O SINAIT é para o INAI como
uma mãe e pai ao mesmo tempo.
Brincadeira à parte, o SINAIT é uma
das entidades parceira do INAI. De-
verá ajudar a estruturação do INAI,
assim como qualquer outro parcei-
ro. O SINAIT, que mantem em sua
diretoria e quadro de associados,
auditores fiscais do trabalho alta-
mente capacitados no reconheci-
mento e resgate de trabalhadores
escravizados, poderá ajudar com
essa expertise no objetivo de im-
pedir que mais exploração ocorra.
Qual sua análise da Reforma Ad-
ministrativa em curso? Que (ou
quais) prejuízos a tal RA (Reforma
Administrativa) trará aos profis-
sionais Auditores Fiscais do Traba-
lho, caso seja aprovada?
PCL - O SINAIT já definiu muito bem
o nosso posicionamento. Transcre-
vo abaixo, o que diz o SINAIT, fala
que nos contempla absolutamente
e com a qual concordamos total-
mente.
“A reforma administrativa tem
sido pauta permanente para o SI-
NAIT e todo o conjunto de entida-
des que representam os servido-
res públicos há pelo menos cinco
anos. Entra governo sai governo, o
assunto sempre está colocado de
forma negativa para o funcionalis-
mo. O discurso de Estado mínimo,
máquina inchada, salários altos e
altos gastos, tantas vezes repeti-
do, acaba por ganhar eco em par-
cela da sociedade, especialmente
entre a população que depende
mais diretamente de serviços pú-
blicos e que nem sempre é aten-
Verificação física, Fazenda Nova Baianinha, sul do Pará, 2002
dida a contento. A solução para a
melhoria dos serviços públicos en-
tregues à população é justamente
o contrário do que se propõe com
os vários projetos apresentados
no passado e em tramitação atu-
al, com destaque para a Proposta
de Emenda à Constituição – PEC
32/2020. É necessário mais inves-
timentos, concursos públicos para
recompor as carreiras, valorização,
modernização das ferramentas de
gestão para que o Estado chegue
onde e para quem precisa chegar,
de maneira eficiente e ágil. A pro-
posta de reforma administrativa
que atualmente tramita no Con-
gresso Nacional coloca em perigo
a prestação de serviços à popula-
ção. O governo insiste em fragilizar
o setor público e atender o capital,
mesmo depois da demonstração
incontestável, em 2020, com a
pandemia da Covid-19, da essen-
cialidade do Estado, da excelência
dos serviços de pesquisa – mesmo
com tão poucos recursos, e do
alto nível de comprometimento
dos profissionais da saúde do Sis-
tema Único de Saúde – SUS e da
Fiscalização do Trabalho, que con-
tinuaram suas atividades mesmo
em condições desfavoráveis. Foi
o serviço público que “segurou a
peteca”, enquanto o setor privado
tirou o corpo fora e só atuou onde
identificou que poderia aumentar
seus lucros. Fique bem claro que
não estamos falando de pequenos
comerciantes ou microempresá-
rios, que foram bastante prejudica-
dos pelas restrições impostas pela
pandemia. Muitas coisas precisam
ser bem explicadas à população,
como a importância do concurso
público e da estabilidade dos servi-
dores públicos e os altos percentu-
ais de contribuição previdenciária
– mesmo depois da aposentado-
ria, por exemplo. Servidor público
é aliado, não inimigo. O SINAIT
está, como sempre esteve, pronto
para agir em defesa dos Auditores-
-Fiscais do Trabalho e dos traba-
lhadores. A PEC 32 apresenta um
conjunto de medidas mais agres-
sivo e coroa um processo que já
vem sendo feito, por meio de mu-
danças administrativas e outros
projetos de menor monta. A PEC
vai começar a tramitar na Câmara
e todas as formas de atuação lícita
disponíveis serão utilizadas para
impedir que a rede de prestação
de serviços do Estado seja descon-
figurada, desconstruída. Esse é um
caminho ruim para os servidores,
para a população e para o País”.
O estado não deve ser deficiente,
o Servidor Público não é um peso,
mas aquele que está apto a levar,
como dissemos anteriormente, o
Estado para quem precisa de esta-
do. O Estado não é para socorrer
bancos, e nem para proteger os
ganhos do capital.
Como você recebe o resultado da
eleição que o elegeu presidente
do INAI?
PCL - É um grande desafio, princi-
palmente neste momento de pan-
demia. Mas conto com meus cole-
gas de diretoria e os fortes braços
do SINAIT e do MAI.
Que reflexão você pode deixar aos
membros do INAI e a categoria
Auditoria-Fiscal do Trabalho em
tempos de obscurantismo, nega-
cionismo, de quase meio milhão
de mortos pela COVID-19?
PCL - Haveremos de vencer, o mal
jamais vencerá o bem. E nós pre-
cisamos encontrar caminhos que
nos permitam agir cada vez com
mais vigor e firmeza. Não nos fal-
ta criatividade, força de trabalho,
determinação e, principalmente,
espírito de luta contra todos os ne-
gacionistas e obscurantistas. Sem
esquecer as 457.000 vidas ceifadas
pela mão dos incompetentes e ir-
responsáveis. A luta continua.
11
 ENTREVISTA | Marcelino Fonteles | Cientista Social

mil mortes
por Covid-19
O GENOCIDA tem que pagar por isso

D iz o professor e cientista social Marcelino Fonteles (foto), na entre-

vista abaixo, concedida por e-mail, entre as linhas de sua reflexão:
"... a situação mais grave é o genocídio, onde, dos aproximadamen-
te 500 mil mortos, cerca de 300 mil óbitos é de responsabilidade do
desgoverno Bolsonaro. E ele tem que pagar por isso”. Atente para suas reflexões.
Siga em frente. Boa leitura.

Carlos Mascarenhas

Vamos iniciar esta entrevista
pedindo que fale um pouco da
sua trajetória – acadêmica, sindi-
cal... esteja à vontade.
MARCELINO FONTELES - Vou
abreviar o currículo Lattes. Sou
Mestre em Educação, Especia-
lista em Gestão Pública, e em
Educação em Direitos Humanos,
Bacharel e Licenciado em Ciên-
cias Sociais. Sou professor do
Instituto Federal e fui Coordena-
dor-Geral dos Planos Municipais
de Educação do Ministério da
Educação – MEC (2011-2012). Fui
Presidente da Fundação Centro
de Pesquisas Econômicas e So-
ciais do Piauí – CEPRO, Presiden-
te da COHAB/PI, Diretor Geral da
Agência de Desenvolvimento Ha-
bitacional –ADH/PI e Superinten-
dente de Relações Institucionais
do governo Wellington Dias. Fui
Professor da UESPI, NOVAFAPI
(UNINOVAFAPI), Faculdade San-
to Agostinho (FSA) e de colégios
da Educação Básica. Publiquei os
livros: “O Reencantamento do
Mundo: Educação Não-Formal
e o Protagonismo dos Novos
Movimentos Sociais”, organizei
o livro “O NOVO PLANO NA-
CIONAL DE EDUCAÇÃO: Instru-
mento de Desenvolvimento do
Brasil” e publiquei, em 2019, o
livro “EDUCAÇÃO POPULAR E O
NOVO SINDICALISMO BRASILEI-
RO: utopias e distopias ”. Presidi
a Associação do Pessoal da Cai-
xa Econômica Federal -APECEF;
fui diretor de Formação Política
e Estudos Socioeconômicos do
Sindicato dos Bancários do Piauí.
Fundador e primeiro Presidente
da Federação das Associações de
Moradores e Conselhos Comuni-
tários do Piauí. Fui Presidente do
Conselho de Desenvolvimento
Urbano do Piauí - CEDUR e Dire-
tor para a Região Nordeste da
Associação Brasileira de COHABs
e Associadas – ABC. Além disso,
Fui Presidente do PT/PI e do PT/
The. Participei das Comunidades
Eclesiais de Base – CEBs (Círcu-
los Bíblicos), fui coordenador
da Pastoral Universitária (PU),
fui Secretário Geral do Centro
Acadêmico de Engenharia Civil/
UFPI, Vice-Presidente do Diretó-
rio Setorial do Centro de Ciên-
cias da Natureza – CCN/UFPI e
Diretor do Sindicato dos Soció-
logos do Piauí. Sou casado com
Adriana Nadja Lélis Coutinho e
pai de Rebeca Lemos Fonteles,
Vanessa Maria Lemos Fonteles,
Letícia Dias Fonteles e Marcel
Lélis Coutinho Fonteles. E Te-
nho muita fé em Deus e no povo
brasileiro que vamos superar o
neofascismo.
Qual sua análise desse momento
que vive o Brasil, nos aspectos
econômico, político e social?
MF - A conjuntura brasileira no
governo Bolsonaro, em todos os
aspectos, representa uma grave
crise: política, econômica, social
e ética. Mas a situação mais gra-
ve é o genocídio. Considero que,
do número de aproximadamen-
te 500 mil mortos, cerca de 300
mil óbitos sejam de responsa-
bilidade do governo Bolsonaro.
Portanto, é preciso agilizar a CPI
do genocídio e complementá-la
com o impeachment.
Como situa o PT dentro desse ce-
nário de desgoverno Bolsonaro?
MF - O PT, que liderou excelen-
tes gestões no governo federal,
gestões democráticas, de inclu-
são e justiça social, infelizmen-
te, sofreu um golpe das elites

12 ATENTE - Indicador de Rumos da Informação


neoliberais e de extrema direita,
essas mesmas elites que pariram
Bolsonaro, esse desgoverno de-
sastroso. Cabe ao PT se articular
com todas as forças antifascistas
para impedir o golpe totalitário
que Bolsonaro e suas milícias
planejam realizar no Brasil. Para
isso, há duas frentes de lutas:
uma no Congresso Nacional e
nas mobilizações de ruas para
que se efetive o impeachment de
Bolsonaro pelos diversos crimes
cometidos por ele. E, por outro
lado, articular um amplo leque
de forças antifascistas para der-
rotar o bolsonarismo e toda a
extrema direita nas próximas
eleições presidenciais e parla-
mentares.
O deputado federal Merlong So-
lano (PT/PI), votou a favor dos
empresários pra comprarem va-
cinas, contrariando orientação
do partido. E até onde se sabe,
não explicou por que votou em
favor dos empresários nessa
questão. Como analisa essa posi-
ção do deputado petista?
MF - O deputado Merlong, no
geral, acompanhou a posição do
PT. Mas, em relação a esse jeiti-
nho, esse atalho para se adquirir
ATENTE - Indicador de Rumos da Informação
a vacina e se vacinar quem puder
comprá-la (entidades, empre-
sas), ele cometeu um erro. Votar
a favor de legitimar essa política
do jeitinho brasileiro, ou do “fura
fila” da vacinação, fugindo à or-
dem do plano nacional de vacina-
ção, foi um tremendo equívoco
político. Mas, ressalte-se que o
deputado até então sempre vo-
tou em defesa do povo brasileiro.
Dentro do PT você é um dos
entusiastas da candidatura do
presidente Lula pra 2022. Neste
sentido, lhe pergunto: essa sua
posição independe de alianças
com aqueles(as) que participa-
ram do golpe de 2016?
MF - Entendo que enfrentamos
uma conjuntura política muito
pior do que em 2010 ou 2014.
Estamos enfrentando retroces-
sos. O próximo governo, no meu
entendimento, deve ser um go-
verno que, primeiro, resgate a
democracia brasileira que está
bastante agredida. Em segundo
lugar, deve resgatar alguns di-
reitos e garantias da classe tra-
balhadora. E, em terceiro lugar,
deve impulsionar o crescimento
econômico com inclusão e jus-
tiça social. Não há, portanto, a
perspectiva de que o próximo
governo seja um governo revolu-
cionário, ou mesmo de grandes
reformas ou transformações.
Por isso, considerando esse en-
tendimento, eu tenho uma ava-
liação muito objetiva de como
enfrentar o bolsonarismo e der-
rotá-lo. E esse é o principal ob-
jetivo: derrotar Bolsonaro e der-
rotar o bolsonarismo. Às vezes,
precisamos dar um passo atrás
para depois darmos dois passos
à frente. Nesse momento, en-
tendo que o objetivo de todas
as forças políticas antifascistas
deve ser se unirem para derro-
tar Bolsonaro, antes que ele dê
um golpe e imponha a ditadura.
Qualquer vacilo, sectarismo ou
estreitamento e fechamento da
política de alianças por parte das
esquerdas tende a levar à derro-
ta dessas forças. E perder para
Bolsonaro em 2022, por estrei-
teza política, é contribuir, pro-
vavelmente, para a ascensão do
golpe totalitário em nosso país.
DITADURA NUNCA MAIS!!! Con-
siderando esses aspectos, sou
entusiasta e defendo que o Lula
seja o candidato não só do PT, e
não só das esquerdas, mas de to-
das as forças antibolsonaristas/
antifascistas, com a perspecti-
va não só de ganhar as eleições
para Presidente da República,
mas que essa base eleitoral e po-
lítica seja a mesma base que lhe
dará maioria no Congresso Na-
cional para poder governar, com
condições de resgatar o Estado
Democrático de Direito, reto-
mar o crescimento da economia
com justiça social e desconstruir
alguns ataques que a classe tra-
balhadora brasileira sofreu em
termos de direitos e garantias,
assim como voltar a priorizar no
orçamento da União as políticas
sociais como, saúde, educação,
Ciência e Tecnologia, assistência
social, segurança alimentar, mo-
radia, infraestrutura, agroecolo-
gia e agricultura familiar etc.
Como analisa a decisão do STF
de restabelecer os direitos po-
líticos do presidente Lula e con-
firmar o óbvio – a suspeição do
então juiz Sérgio Moro?
MF - A decisão, apesar de tardia,
pois Lula deveria ter essa con-
dição em 2018, foi muito justa.
Antes tarde do que nunca. Mas
não tenho dúvidas de que essa
decisão do STF, em grande parte,
deu-se pelo receio que os mem-
bros do STF têm desse poder ser
“FECHADO” por Bolsonaro. So-
mado a isso, o depoimento infe-
liz e debochado do general Villas
Boas, afirmando que mandou o
então Presidente do STF, Dias
Toffoli, manter o Lula preso e
impedir o Lula de ser candidato...
Essas ameaças, somadas a esse
deboche público, feriu os brios
dos membros do STF. Além dis-
so, a decisão do retorno dos di-
reitos políticos do Ex-Presidente
Lula deve-se à comprovação do
STF de que o Lula, nos seus dois
mandatos como Presidente da
República, sempre respeitou a
democracia e os demais poderes,
ao contrário do governo Bolso-
naro, um governo negacionista,
que consiste numa usina de Fake
News, e que, com suas falanges
do ódio, vivem ameaçando a de-
mocracia e o STF. Ou seja, a liber-
dade do Lula corresponde à pró-
pria necessidade de autodefesa
e de sobrevivência do STF diante
das ameaças neofascistas. Assim
como se tem percebido, alguns
setores das elites brasileiras não
querem apoiar a aventura totali-
tária. Portanto, nesse sentido, o
Lula é a solução real. Outro Bra-
sil, democrático, justo, livre, fra-
terno e solidário é possível.
E sobre a decisão do TCU (Tri-
bunal de Contas da União) de
inocentar a presidenta Dilma
Roussef, após 5 anos de golpe
num escancarado conluio entre
mídia, parlamento, judiciário,
MPF..., como analisa?
13
MF - A Presidenta Dilma Rousseff
nunca cometeu crime algum em
sua gestão. Pode ter cometido
erros em sua administração polí-
tica, mas jamais qualquer crime.
Aliás, na votação do seu impea-
chment pelo Congresso Nacio-
nal, esse afastou a Presidenta,
mas conservou os direitos polí-
ticos dela. Essa atitude do Con-
gresso já foi uma confissão de
que o afastamento da Dilma foi
exclusivamente político, as elites
já não aceitavam as graduais re-
formas sociais que os governos
democrático populares estavam
implementando. E o golpe foi
para colocar pessoas, como o Te-
mer, que pudessem implemen-
tar as reformas selvagens do ne-
oliberalismo. Essas reformas do
interesse das elites econômicas
já foram implementadas, em sua
maioria, pelos governos Temer e
Bolsonaro. Quanto à decisão do
TCU, espero que ela sirva, pelo
menos, para que a Ex-Presidenta
Dilma Rousseff receba a indeni-
zação devida. Quanto à indeniza-
ção da classe trabalhadora bra-
sileira, essa, infelizmente, será
mais difícil e demorada, através
da organização, das mobiliza-
ções e das lutas e vitórias políti-
cas e sociais.
Como avalia o papel (diga-se:
sujo) que cumpriram essas ins-
tituições na derrubada de uma
presidenta eleita democrati-
camente, e agora, o resultado
fruto dessa armação dos pode-
rosos, não sabem o que fazer
com o monstro que elegeram,
se vê em alta o negacionismo, o
obscurantismo..., chegando-se a
meio milhão de mortos pela CO-
VID-19. É de lamentar, não?
MF - O governo Bolsonaro é essa
monstruosidade perversa, que
representa uma parte da elite
econômica brasileira, uma par-
te da classe média, uma parte
dos fundamentalistas religiosos
e uma parte do chamado povão
14
que cumpre a Servidão Voluntá-
ria. Em sua essência, é um gover-
no negacionista, que semeia o
ódio, a mentira, o desmonte dos
direitos sociais e das políticas
públicas, a privatização das esta-
tais, a redução significativa dos
recursos para a ciência, e que fez
o Brasil retroceder da posição de
8ª economia do mundo para a 12ª
posição entre as nações de maior
PIB do mundo. É importante lem-
brar que, nos governos de Lula e
Dilma, o Brasil, que na época do
FHC ocupava a 14ª posição, subiu
para a 7ª, chegando até a 6ª po-
sição entre os maiores PIBs das
nações do mundo. Além disso,
o Brasil mantinha excelentes re-
lações diplomáticas e comerciais
com todas as nações do mundo,
sem discriminar nenhuma delas.
Nosso país nunca foi tão bem
visto pelo mundo afora e nosso
povo, conforme as pesquisas da
época, nunca foi tão feliz e tão
otimista.
Qual sua posição sobre a campa-
nha nacional encabeçada pelos
movimentos sociais pleiteando
anistia para o hacker Walter
Delgatti Neto, por trazer à tona
a podridão de partes do judiciá-
rio, MPF, PF... O citado harcker é
considerados por muitos como
o verdadeiro HERÓI, diferente
de Moro, um “herói” de pés de
barro, construído pela mídia,
apesar de hoje, como se vê, a
verdade vencendo a mentira,
sua “glória” está jogada na lata
do lixo da história?
MF - Eu sou plenamente favorá-
vel à campanha pela anistia de
Delgatti Neto. Agiu com muita
coragem ao revelar várias con-
versas que desvendaram a arma-
ção que a organização criminosa,
denominada Lava Jato, fez con-
tra o Ex-Presidente Lula. Essas
revelações contribuíram muito
para que o Ex-Presidente pudes-
se ter anulado todo o processo e
a condenação que a Lava Jato de
Sérgio Moro e Dallagnol armou
contra ele. Revelar o gravíssimo
crime do bando da Lava Jato me-
rece é um Prêmio especial. É pre-
ciso que algum parlamentar crie
um projeto de Lei, com urgência,
para aprovar uma justa homena-
gem a esse ato heroico de Walter
Delgatti Neto.
Como docente, como analisa a
política de educação do governo
Bolsonaro?
MF - A política educacional do go-
verno Bolsonaro visa à mordaça,
via Escola sem Partido ou milita-
rização das escolas públicas mu-
nicipais e estaduais. É a política
que busca produzir a alienação, o
negacionismo o obscurantismo,
a obediência cega e o servilismo.
Não é uma política que tenha
como objetivo formar cidadãos
e cidadãs conscientes e prota-
gonistas de sua história. É por
isso que os bolsonaristas odeiam
tanto Paulo Freire, pois este tem
uma pedagogia da conscientiza-
ção e da cidadania. Mas, graças
a Deus, os educadores e as edu-
cadoras têm resistido a esses
ataques ideológicos dos nega-
cionistas e, dentro do possível,
preservado uma educação cida-
dã. E, quanto à política de finan-
ciamento público educacional
praticada pelo governo Bolso-
naro, a cada ano, são reduzidas,
proporcionalmente, as verbas
para a educação. No orçamento
para o ano de 2021, já aprovado,
houve um corte de 27% para a
educação, comparando-se aos
recursos executados nessa área
no ano de 2020. E na área dos re-
cursos em Ciência e Tecnologia,
o corte foi de 28,7%. Ou seja, o
governo Bolsonaro é um desas-
tre completo em relação às polí-
ticas públicas educacionais e em
relação aos investimentos em
Pesquisa, Ciência e Tecnologia.
Não podemos esquecer também
do genocídio promovido por Bol-
sonaro, mandando a população
enfrentar “essa gripezinha” do
coronavírus de peito aberto ou
com a ineficaz cloroquina. E, o
orçamento de 2021 para a saúde,
houve um corte do governo da
escandalosa ordem de 34 Bilhões
de reais na comparação com o
que foi executado para a saúde
no ano passado. O governo Fe-
deral é sinônimo de desastre nas
áreas social, cultural, econômica
e política...
"Nunca antes
na história
do Brasil
houve um
governo tão
desastroso!"
E sobre as denúncias de “cor-
rupção” no governo Wellington
Dias, de desvio de verbas fede-
rais que vieram para o Piauí pra
ajudar a saúde no combate a Co-
vid-19, a seu juízo, isso procede?
MF - Tem certas denúncias piro-
técnicas que parecem mais com
armação diversionista para des-
viar a atenção do desastroso
desgoverno Bolsonaro. Primei-
ro, disseram que tinham desvia-
do vacinas. Recentemente en-
contraram as supostas vacinas
desviadas no próprio depósito
do governo federal. Mas o circo
já foi armado e as insinuações e
as Fake News já correram sol-
tas. Porém, de fato, nada foi
verificado de desvio de recur-
sos para saúde pelo governo do
Piauí.
Qual sua expectativa sobre a CPI
do GENOCÍDIO, como muitos
gostam de chamar?
MF - Espero que essa CPI se es-
tenda para a abertura do proces-
so de impeachment de Bolsona-
ro. É justo e urgente a cassação
do mandato do atual chefe do
executivo federal.
ATENTE - Indicador de Rumos da Informação
"O Brasil precisa
voltar a ter paz
e respirar
democracia e
desenvolvimento
econômico e
social."
Ano passado você lançou um
livro em que esboça sua preo-
cupação com os rumos dos mo-
vimento popular/sindical, suge-
rindo dentre outras questões a
formação destes pra disputar/
conquistar mentes e corações
MOMENTOS HISTÓRICOS - Arquivo Marcelino Fonteles
ATENTE - Indicador de Rumos da Informação
dos trabalhadores – nos locais
de trabalho, nos bairros, peri-
ferias..., pra não serem presa
fácil da alienação religiosa – de
segmentos evangélicos (neo-
petencostais), católicos (ala
conservadora), reforçando os
princípios originários do PT. Na
sua avaliação, como situa o mo-
vimento sindical nessa conjun-
tura, como sair do imobilismo,
qual seu papel junto a socieda-
de, seus representados? Fique
à vontade para.
MF - Os movimentos sociais e
o movimento sindical precisam
se reinventar e se renovar. No
geral, suas direções estão há
mais de uma década no poder e
estão distantes das bases. Qua-
se não se tem trabalho, forma-
ção e organização de base, sal-
vo raríssimas exceções. Ainda
há uma certa mobilidade para
suas lutas corporativas, mas,
em relação às lutas mais gerais
do interesse da sociedade, há
uma desmobilização e aliena-
ção profundas. Parece que, em
sua maioria, predomina a apa-
tia, a acomodação, um aneste-
siamento geral. Pode-se alegar
que hoje se tem a pandemia e
que não é recomendável fazer
grandes aglomerações. E não
é mesmo. Grandes aglomera-
ções, nesse momento, são um
crime contra a saúde da popu-
lação. Mas essa apatia e esse
comodismo e alheamento não
nasceram com o início da pan-
demia... já vêm de muito mais
tempo.... É importante também
ressaltar que esses proble-
mas têm perpassado a grande
maioria das categorias e dos
movimentos sociais. Portanto,
não diz respeito a uma direção
específica, ao contrário, é um
problema que o movimento
como um todo precisa repen-
sar, inovar e reinventar-se para
ter perspectiva de superação
de seus desafios. E é preciso re-
novar tanto as teorias como as
formas de luta, de organização
e formação de base...
15
 ENTREVISTA | Manuel Domingos Neto | Historiador

Bolsonaro é um governo

criminoso
E
m entrevista concedida por e-mail, para esta edição, o professor Manuel Do-
mingos Neto conta um pouco da sua trajetória acadêmica, “tumultuada” se-
gundo ele. Sobre o governo Bolsonaro sentencia: “O retorno dos militares ao
mando político é o mais completo desastre. Uma tragédia sem data para ter-
minar. As bases da construção do desenvolvimento estão sendo destruídas. Esse
governo é criminoso...”. Manuel Domingos Neto é Doutor em História pela Universidade de
Paris III. Atente para suas genuínas reflexões. Boa leitura.

Carlos Mascarenhas

É praxe pedirmos aos nos-
sos entrevistados que inicie a
entrevista falando um pouco
de sua trajetória – acadêmi-
ca..., neste sentido que fique
à vontade para.
MANUEL DOMINGOS
NETO - Minha vida acadêmica
foi tumultuada. Com minha
prisão, em 1971, fui expulso da
Universidade Federal do Cea-
rá pelo Decreto 477. Depois
da cadeia retomei meus estu-
dos em Paris. Estava proibido
de frequentar qualquer uni-
versidade no Brasil. Quando
voltei, em 1979, tinha defendi-
do minha tese de doutorado.
Fui pesquisador da Casa Ruy,
no Rio, e técnico da Fundação
CEPRO. Entrei na UFC apenas
em 1991, depois de meu meio
mandato de deputado fede-
ral. Organizei o Observatório
das Nacionalidades, que edita
a revista “Tensões Mundiais”.
Passei 4 anos na direção do
CNPq. Depois trabalhei na
Universidade Federal Flumi-
nense. Fundei a Associação
Brasileira de Estudos de De-
fesa. Hoje, estou aposentado.
Leio e escrevo diariamente. A
conselho de Osmar Jr., toco
piano. E jogo xadrez com meu
neto...
Olhando para o Brasil de
hoje, de pandemia com mais
400 mil mortos, de governo
Bolsonaro, qual sua análise?
MDN - Vivemos uma situação
inacreditável. O retorno dos
militares ao mando político
é o mais completo desastre.
Uma tragédia sem data para
terminar. As bases da cons-
trução do desenvolvimento
estão sendo destruídas. Esse
governo é criminoso. Acabou
com nossa diplomacia. Liqui-
dou o esforço de integração
sul-americana. Transformou
o Brasil em pária internacio-
nal. Está estraçalhando nos-

16 ATENTE - Indicador de Rumos da Informação

sas instituições científicas.
A Amazônia está entregue à
sanha de grileiros e desmata-
dores. O governo incentiva a
destruição da floresta. Muita
gente sem perspectiva, sem
emprego e passando fome. A
economia brasileira vai de mal
a pior. Estão fechando nossas
portas para o futuro. Tudo
sob o comando supremo da
especulação financeira.
Como estudioso/pesquisador
das forças armadas, como
situa essa instituição dentro
desse cenário, podemos di-
zer: de conluio com o gover-
no Bolsonaro? Ademais, você
corrobora com aqueles que
acreditam que corremos ris-
cos de um golpe militar pra
manter Bolsonaro na presi-
dência da República? Se sim,
diga por quê?
MDN - O governo Bolsonaro
resultou da decisão dos mi-
litares de retorno ao mando
no país. Bolsonaro não seria
presidente sem o empenho
da alta hierarquia. O projeto
dos militares é antes de tudo,
uma iniciativa geopolítica:
para favorecer a posição dos
Estados Unidos, agirão contra
a multipolaridade. Os ataques
à China fazem parte do jogo.
Uma asneira, um malefício ao
país. Estávamos numa rota
de projeção mundial. Nossa
economia crescendo, nossa
capacidade científica e tec-
nológica se firmando. As de-
sigualdades sociais estavam
sendo enfrentadas. A integra-
ção sul-americana, vital para
nosso futuro, foi dizimada
num piscar de olhos.
Não creio que a hierarquia
militar conte com apoio para
uma nova ditadura. Mas quan-
do vejo os generais anuncian-
ATENTE - Indicador de Rumos da Informação
do que não haverá golpe, fico
preocupado. Golpistas enco-
brem suas intenções. Golpe
para que? Para garantir Bolso-
naro? Não creio. Os generais
estão desorientados. Estão
se desgastando com as trope-
lias deste governo. Bolsona-
ro não tem capacidade para
articular golpe. Isso é algo
muito complexo, demandam
articulações multifacetadas,
que excedem sua capacidade.
Milicianos não dão golpes. Fa-
zem arruaças, badernas, con-
fusão. Causam tumultos. Não
creio que as elites brasileiras
endossem aventuras golpis-
tas. Seus negócios não serão
beneficiados com a instabili-
dade política. Além disso, a
parcela majoritária dos brasi-
leiros mais conscientes revela
maturidade e força, tanto que
o prestígio de Lula persiste
muito elevado. Um golpe so-
freria grande resistência e se-
ria mundialmente repudiado.
Na sua avaliação, qual deve-
ria ser o papel das forças ar-
madas?
MDN - Cuidar da defesa do
Brasil contra eventuais agres-
sores estrangeiros. Forças Ar-
madas não podem se confun-
dir com forças policiais, como
no tempo do Império. Os
militares deveriam estar in-
tegrados num projeto de de-
senvolvimento do país. Não
poderiam se envolver em po-
lítica. Os militares perderam a
noção de seu papel precípuo.
Sairão desta aventura desgas-
tados, desmoralizados. Pre-
cisamos de Forças Armadas
respeitadas.
Para alguns pesquisadores
do tema, com o avanço tec-
nológico nessa área de identi-
ficar os inimigos externos, as
forças armadas já não fazem
mais sentido existir. Neste
sentido, qual sua opinião so-
bre essa premissa?
MDN - Discordo radicalmente.
Sempre precisaremos de For-
ças Armadas. Nenhum Estado
pode prescindir de instrumen-
tos de força, do contrário, se
autoliquida. Como já disse, as
Forças Armadas devem parti-
cipar do esforço de desenvol-
vimento. Agora, devem estar
subordinadas ao poder políti-
co. Este é um fundamento do
regime democrático. Quan-
do o militar se candidata ao
mando a democracia deixa de
existir. O jogo é fraudado.
Você fala em “pesquisado-
res do tema”. Lido com isso
há mais de quarenta anos.
Conheço toda a comunidade
de pesquisadores. É uma co-
munidade pequena e isso pre-
judica à democracia. É preciso
estudar os assuntos de De-
fesa e os negócios militares,
do contrário jamais o poder
político poderá se sobrepor
às veleidades castrenses. Os
militares brasileiros e as cor-
porações armadas persistem
desconhecidas. Ninguém
pode controlar o desconhe-
cido!
Polícia Militar, milícias...,
caso recente – chacina do
Jacarezinho no RJ, qual sua
reflexão?
MDN - Os militares prejudica-
ram a montagem de um es-
quema de segurança pública.
As polícias militares consti-
tuem uma aberração. Militar
se prepara para exterminar
inimigos. Policiais lidam com
cidadãos. A distinção entre o
militar e o policial nunca pode
ser claramente estabelecida
devido ao eterno dilema das
corporações militares: não
sabem se se preparam para
enfrentar estrangeiros ou se
cuidam da segurança pública.
O Exército é estruturado para
enfrentar movimentos con-
testadores, não para enfren-
tar estrangeiros cobiçosos de
nossas riquezas.
No mais, nenhum país em
que as desigualdades sociais
sejam muito elevadas pode
ter segurança e paz. O Estado
brasileiro continua reprimindo
os mais pobres, como no tem-
po do regime escravocrata.
Como você analisa a decisão
do STF de devolver os direi-
tos políticos do ex-presiden-
te Lula, e considerar Moro
parcial, suspeito?
MDN - O Judiciário tenta se
recuperar do grande desgas-
te sofrido com o seu envolvi-
mento em manobras políticas
escusas. Torço para que este
esforço prossiga. A desmora-
lização do Judiciário interessa
aos candidatos à ditador.
Na sua avaliação, o que foi a
Lava Jato?
MDN - Uma farsa orientada
pelo imperialismo e apoiada
pelo que há de mais reacio-
nário no Brasil. Todos os en-
volvidos no esquema devem
responder na Justiça. Moro
merece cadeia.
Você foi deputado federal
constituinte pelo PC do B e de
acordo com o DIAP (Departa-
mento Intersindical de As-
sessoria Parlamentar) foi um
parlamentar atuante, nota
10. Que nota de zero a 10 você
17
 ENTREVISTA - Lucas Reis da Silva | Auditor Fiscal do Trabalho
daria para os parlamentares
piauienses que apoiaram o
golpe da presidenta Dilma
Rousseff e agora defendem
Bolsonaro, pouco se impor-
tando de sujar as mãos de
(com) sangue?
MDN - Não fui constituinte.
Fiz muita força para conse-
guir o mandato, mas fiquei
na suplência. Participei ativa-
mente dos debates. Tentei
esclarecer o povo piauiense
sobre a importância dos te-
mas que estavam em jogo na
Constituinte. Assumi o man-
FOTOS: ARQUIVO PC do B/The
18
dato depois que o Heráclito
Fortes foi eleito prefeito de
Teresina.
A bancada federal do Piauí
não honra os interesses dos
eleitores piauienses. A maio-
ria está ao lado do governo
regressista. Piorou, depois
da morte de meu amigo Assis
Carvalho, um parlamentar ex-
periente e firme. Ao que me
consta, Assis era o deputado
mais preocupado com o avan-
ço do fascismo. Trocamos
ideias sobre isso em diversas
ocasiões.
Quanto a minha experiên-
cia parlamentar, foi totalmen-
te vinculada aos movimentos
populares. Acompanhei a luta
dos trabalhadores rurais pelo
acesso a terra. Empenhei-me
na elevação da cultura políti-
ca do povo. Sem que os mais
pobres tenham consciência
de seus direitos e disposição
de luta, não haverá mudanças
significativas no Brasil.
Qual sua expectativa sobre
a CPI da COVID (para muitos
CPI DO GENOCÍDIO)?
MDN - A CPI (Comissão Par-
lamentar de Inquérito) pode
resultar na criminalização do
governo. Mas o futuro depen-
de da consciência e da mobi-
lização popular. Vejo a socie-
dade um tanto anestesiada. A
confusão gerada pela guerra
de mentiras através das mí-
dias eletrônicas (fake news)
é muito grande. Provoca o
chamado "pânico moral", a
descrença e a apatia. O tra-
balho da CPI terá resultados
limitados sem a mobilização
popular.
ATENTE - Indicador de Rumos da Informação
https://midias.jb.com.br/_midias/jpg/2021/05/23/pazuello_discursou-602351.jpg
O destino de Pazuello
N
otícias e opiniões se amon-
toavam quando fui dormir.
Pazuello transgredira o regu-
lamento. Atendera ao Presidente, de-
sonrara a farda e irritara o Comando,
reunido extraordinariamente. Quatro
integrantes da cúpula pretenderiam
sua prisão. O general Paulo Sérgio te-
ria dito que o mandaria para a reserva.
Até comunistas, preocupados com a
imagem da Corporação clamavam tal
providência reparadora. A CPI o cha-
maria novamente para desmascarar
suas mentiras... Noite animada.
Acordei pensando ser útil alinhar
pontos eventualmente obscurecidos
no fragor do noticiário caudaloso. Vai
que ajudem a refletir sobre os fatos...
1. O Presidente da República é pro-
duto castrense. Sem apoio das fileiras
não chegaria onde ch gou. Segundo a
maior autoridade militar do país na
ocasião, Villas-Bôas, Bolsonaro, ao
lado de Moro e Braga Netto, tiraram
o Brasil do mau caminho e abriram
perspectiva alvissareira para a pátria.
2. Alguns oficiais podem não gos-
ATENTE - Indicador de Rumos da Informação
Manuel Domingos Neto
tar das atitudes de Bolsonaro, mas
de longa data conheciam seu naipe
moral, intelectual e comportamental.
Bem poderia ter mais modos, mas
isso seria querer demais.
3. O governo do Capitão é assegu-
rado pelas fileiras; oficiais ocupam
postos-chave do governo e endos-
sam suas proposições, inclusive a po-
lítica sanitária. Se oficiais abandonas-
sem seus cargos, o governo poderia
se acabar por déficit de responsabi-
lidade.
4. Integrantes das fileiras foram
beneficiados pelo Capitão, mas a lis-
ta de benefícios pretendidos não se
esgota nunca. Fileiras são sempre as-
sim: sempre querem mais!
5. Bolsonaro pode ser “renuncia-
do” quando os comandantes quise-
rem. Ninguém sabe mais que Braga
Netto das proezas do Capitão nas
quebradas do Rio de Janeiro.
Registrados estes pontos de domí-
nio público, mesmo que não consensu-
ais, caberia considerar outros não tão
perceptíveis aos paisanos.
Pazuello não é bobalhão impul-
sivo. Gente assim não ganha estre-
las. Pazuello foi ao palanque de caso
pensado e combinado. Ao longo da
semana, recebera aplausos efusivos
do ativismo político castrense por seu
comportamento na CPI. Os de cima fi-
caram aliviados; os de baixo o aclama-
ram como herói.
Pazuello não blindou Bolsonaro,
isso seria uma quimera. Blindou, de
fato, sua corporação. Mesmo envolvi-
do no desmonte do Estado e no fiasco
da política sanitária, o Exército ficou
bem na fotografia da CPI. Senadoras
e senadores foram pródigos com a
farda.
Indo ou não para a reserva, Pa-
zuello será protegido. Fileiras que se
respeitam não abandonam os seus,
quaisquer que sejam as circunstân-
cias. Seria fácil exemplificar a práti-
ca deste princípio básico do espírito
corporativo, mas isso pode ficar para
depois.
Na promoção hierárquica, Pa-
zuello chegou onde podia chegar. Pelo
regulamento, intendente não ganha
quatro estrelas. Se for para a reserva,
conforme o zum-zum-zum, sairá no
lucro.
Punição não representa necessa-
riamente uma derrota, como muitos
pensam. Pode até impulsionar o traje-
to do político castrense.
Vide Bolsonaro e Mourão. O pri-
meiro não foi expulso do Exército
(como dizem jornalistas desinforma-
dos) e receberia votos da família mili-
tar a vida toda. O segundo, destituído
de um comando militar depois de uma
manifestação fascista, projetou-se
para vice-presidência. Hoje, o “puni-
do” fica espreitando os píncaros da
glória, diria o velho e maravilhoso Vi-
cente Celestino.
Parece que o Comandante não
sabia onde colocar Pazuello depois de
seu afastamento do Ministério. Entre-
tanto, jamais o deixaria na mão.
Ontem, as coisas ficaram mais fá-
ceis para Paulo Sérgio. Pazuello iniciou
sua campanha eleitoral, numa mani-
festação inspirada por Mussolini. Buzi-
nas de motocicletas se misturavam ao
choro de famílias enlutadas.
19
 A.A 86
a ndo vidas
Sa lv
Uma mensagem transmitida por seus
membros na esperança de recuperação
dos que sofrem de alcoolismo.
D
esde que o homem es-
premeu as uvas, pela
primeira vez, trans-
formando-a em vinho,
parece que o espectro do alcoolis-
mo ronda a humanidade, ou parte
dessa, se considerarmos que 10%
da população (de bebedores) que
faz uso de álcool, de forma habi-
tual desenvolve a obsessão, uma
loucura que a condena beber con-
tra seu desejo, e nessa estranha
condição segue muitas vezes até
as portas da loucura ou da morte,
como tentarei mostrar nesta re-
portagem, com foco na prática de
recuperação delineada pelos Alco-
ólicos Anônimos.
Dito de outro modo. De cada 10
bebedores, 1 (um) será presa fácil
dessa doença que mata indepen-
dentemente de cor, raça, posição
social, jovem ou adulto, homem/
mulher, esgarçados na escuridão
do seu ser. Sorte daquele(a) se al-
cançado pela mensagem de A.A.,
que por tradição seus membros
não “fazem discursos, fala-se de
maneira simples a respeito das
próprias experiências e das expe-
riências daqueles(as) que os ro-
deiam”, segundo seu cofundador
20
REPORTAGEM | Carlos Mascarenhas
. anos
Bill W (in memoriam), sobre quem
falaremos mais adiante.
Hoje, funcionando em mais
de 180 países, quase 3 milhões de
membros, entre homens e mulhe-
res, ao completar em 10 de junho
86 anos, “salvando vidas”, A.A.
continua firme no seu propósito
de transmitir sua mensagem – “lin-
guagem do coração” àquele(a)
que sofre de alcoolismo, uma do-
ença progressiva, irreversível e de
consequências fatais, a terceira
doença que mais mata no mundo,
em número de mortes perde ape-
nas para as doenças do câncer e do
coração, segundo a OMS (Organi-
zação Mundial da Saúde). Está des-
crita no CID F-10 (Classificação Esta-
tística Internacional de Doenças).
O termo “linguagem do coração”
é título de um livro da lavra de A.A.
Em tempos de Covid-19, com
quase 500 mil mortos, o uso de be-
bidas alcoólicas aumentou sobre-
maneira. É fato que para a maioria
das pessoas normais, a bebida sig-
nifica vida social, companheirismo
e imaginação fértil... Mas para
os portadores de alcoolismo que
têm que enfrentar os Quatro Ca-
valeiros abomináveis – terror, con-
fusão, frustração e o desespero
– as coisas não são bem assim, se
esvaem com a deprimente névoa
da solidão, cada vez mais escura
eleva-se em progressão geomé-
trica. Ressalte-se, que, de acordo
com o preâmbulo de A.A., este “...
não apoia nem combate quaisquer
causas...”.
Alcoólicos Anônimos desde
seus primórdios, sempre contou
com a prestimosa atenção de pro-
fissionais da medicina, imprensa,
religião..., sem estes, A.A. não se-
ria o que é hoje, uma irmandade
reconhecida mundialmente pelo
método eficaz na recuperação dos
acometidos pela doença alcoolis-
mo. É forjado na sua experiência
histórica através de três legados:
RECUPERAÇÃO, UNIDADE e SER-
VIÇO, delineados nos livros Doze
Passos, Doze Tradições e Doze
Conceitos. O primeiro escrito em
dezembro de 1938, trata da re-
cuperação individual. O segundo
aborda como seus membros per-
manecem em unidade, formuladas
e publicadas pela primeira vez em
1946. O terceiro, publicado em
1962, escrito por Bill W, explica
como A.A. funciona e serve a seu
Bill W e Dr. Bob S confundadores de Alcoólicos A
propósito fundamental, transmitir
sua mensagem para aqueles(as)
que precisam e querem.
Os Três Legados durante 20
anos estiveram sob administração
dos primeiros membros – Dr Bob e
Bill W... Essa história muda no 20º
aniversário de A.A., realizado em
St Louis, EUA, em julho de 1955,
quando Bill declara na 5ª Confe-
rência de Serviços Gerais-CGS, que
A.A. atingiu sua “maioridade”,
não porque se tornou “adulto”,
mas pela capacidade que adquiriu
para “tomar posse completa e per-
manente dos Três Legados - Re-
cuperação, Unidade e Serviços”.
A quem possa interessar, indico
como leitura indispensável o Livro
AA atinge a maioridade – uma bre-
ve história de AA - aliás, fonte des-
ta modesta reportagem.
Gratidão. Nas entrelinhas das
obras editadas, Bill W expressa sua
eterna gratidão a todos(as) que
contribuíram para que a sociedade
conhecesse a dinâmica de recupe-
ração de A.A., um alcoólico falan-
do com outro sem julgamento ou
preconceito, pois quem conhece
a personalidade do alcoólico mais
de perto, sabe que este não para
ATENTE - Indicador de Rumos da Informação

Levou a mensagem de A.A. a mais de 5 mil homens e mulhe-
res alcoólicos, prestando seus serviços médicos sem cobrar. Para
este serviço contou com a valiosa assistência da Irmã Ignatia, do
Hospital St. Thomas, em Akron, Ohio, uma das maiores “amigas
da nossa Irmandade, em todos os tempos”
licos Anônimos
de beber sem que sofra uma pro-
funda mudança de personalidade,
“só um alcoólico compreende ou-
tro alcoólico”, pérola repetida nas
reuniões de A.A.
Contudo, boa parte da socieda-
de ainda vê este ser humano como
“irresponsável”, “homem fraco,
sem caráter”..., coisas do gênero.
Mas trata-se de uma doença, e
este ser aparentemente frágil, mo-
ído pelo álcool é recebido com ca-
rinho, compreensão e AMOR nas
salas de reuniões do A.A., onde
seus membros sempre voltam pra
agradecer o “Poder Superior” na
compreensão de cada um/a, pelas
24 horas longe do primeiro gole.
A.A., ao longo da sua trajetó-
ria sempre compartilhou suas ex-
periências, seu método com todos
que desejam o que ele tem, sem
se afiliar ou emprestar seu nome a
qualquer empreendimento alheio
à irmandade, na esperança de que
o alcoólatra pare de sofrer, volte a
andar com suas próprias pernas,
torne-se cidadão, e admitindo sua
impotência perante o álcool, suge-
rido pela irmandade, todos serão
beneficiados, inclusive a socieda-
de que muitas vezes o estimulou
a se afundar na escuridão da vida,
ATENTE - Indicador de Rumos da Informação
“O gentil homem baixinho expli-
cou que minha maneira de beber,
uma vez se tornado hábito, ficou
https://www.paraentender.com.br/wp-content/uploads/2016/04/bill-bob-825x542.jpg
sendo uma obsessão, uma verda-
deira loucura que me condenava a
beber contra meu desejo”. Louis:
“Doutor, o que podemos fazer?”.
O médico, segundo Bill, respondeu
que “eu teria de ser mantido inter-
nado, do contrário ficaria louco ou
morreria”.
Ebby, o primeiro a levar a men-
sagem a Bill. No Dia do Armistício,
em 1934, as coisas desabaram pra
Bill que se encontrava algum tem-
po sem ingerir bebidas alcoólicas.
Com a concordância de Louis pra
ir jogar golfe, Bill atravessou a es-
trada de ferro e pegou um ônibus.
Sentou ao lado de um homem que
carregava um rifle tiro ao alvo. A
conversa entre os dois rolou solta
até o ônibus se chocar com outro
que ia na frente. Enquanto aguar-
davam outro veículo, decidem
entrar num bar. O homem do rifle
pede uma dose de uísque escocês
e Bill prefere uma gim ale. “Você
e ao vê-lo definhar, o despreza. não bebe?”, perguntou o homem.
Mas para o A.A. pouco importa “Não. Sou daquelas pessoas que
inclusive os crimes que o pretenso não podem controlar a bebida”.
ingressante tenha cometido. Dese- Pegam outro buzu. Encurtando a
ja-se, apenas, que tenha a mesma conversa, por volta do meio-dia,
oportunidade que “nós tivemos, acomodados em outro bar reple-
admita que é impotente perante o to de gente, porque era Dia do
álcool – que perdeu o domínio da Armistício, Bill bebe para espanto
sua vida” (Primeiro Passo). Ao ma- do amigo viajante. “Você é louco,
nifestar que deseja fazer parte de depois de tudo que me falou sobre
pronto é abraçado, apadrinhado o alcoolismo...? Bill responde “sou
pra caminhar nas fileiras da grande louco”. Resumo da ópera. Às 5h
família Alcoólicos Anônimos. da manhã do dia seguinte, Louis
Bill W, um caso sem esperan- o encontrou inconsciente com um
ça foi diagnosticado pelo primeiro grave ferimento no couro cabelu-
amigo da irmandade no campo do e as mãos segurando a bolsa de
da medicina, Dr William Duncam golfe, na entrada do portão de sua
Silkworth, médico psiquiatra com casa. Voltando a si, Bill continuou
quem o cofundador de A.A. apren- a beber desesperadamente, uma,
deu a natureza exata da doença – duas, três garrafas diárias de gim
obsessão mais a alergia. Silkwort, caseira. Não conseguia parar e sa-
“o bondoso médico baixinho” tra- bia disso. Tal experiência pretérita
tou de 40 mil alcoólicos. À época confirma a máxima presente: “o
era diretor-chefe do Hospital To- álcool é sutil e traiçoeiro”.
wns Charles B, em New York, local A tarde o telefone toca. Bill
onde nos idos do verão de 1934, atende. Era Ebby, amigo de far-
Bill estivera acamado no andar ra das antigas. “Venha já para cá,
de cima, e aí tomou conhecimen- conversaremos sobre os bons tem-
to da sua enfermidade, através pos”. O presente de Bill estava um
da conversa que o médico tivera estoque vazio, cacos emocionais
com Louis, sua esposa, no andar espalhados a esmo, segundo o
térreo, dizia que seu caso era sem próprio “insuportável”. Sentados
“esperanças”. Nas palavras de Bill: à mesa, Bill oferece um trago mas
o visitante recusa alegando ter “re-
ligião”, o que deixa Bill espantado.
“Ebby e religião!... Vaidoso inte-
lectualmente, Bill acreditava que
o homem era Deus. “Que religião
você encontrou, Ebby?”. “Não tem
nenhum nome especial. Simples-
mente me encontrei com um gru-
po de pessoas, dentro dos Grupos
Oxford. Não estou de acordo com
tudo o que eles ensinam, mas aque-
las pessoas têm me dado algumas
ideias maravilhosas... Eu tinha de
admitir que estava derrotado, que
devia fazer um inventário de mim
mesmo e confessar meus defeitos
a outra pessoa...”. Nas palavras de
Ebby, que eu as encurto, “... assim
que decidir tentar com a mente
aberta, parece-me que meu proble-
ma de bebida desapareceu. Nessa
ocasião me sentir livre do desejo e
há meses não tomo um só gole”.
Depois disso Ebby foi embora. Bill
continuou bebendo por vários dias,
apesar das palavras do amigo não
saírem da sua mente, segundo Bill
na afinidade do sofrimento comum
“um alcoólico tinha estado conver-
sando com outro alcoólico”.
Dr. Carl Jung diagnostica o Sr.
Holland H, membro dos Grupos
Oxford e amigo que levou a men-
sagem a Ebby, um caso de “alcoo-
lismo sem esperanças”. Bill ouvira
o mesmo... do seu médico Dr. Si-
lkworth. Mas para Bill: “É provável
que somente o testemunho do Dr
Silkworth nunca fizesse com que
eu aceitasse completamente o ve-
redicto, mas quando Ebby chegou
e um alcoólico começou a falar com
outro alcoólico, a coisa deu certo”.
Bill, de volta ao hospital tem
seu despertar. Ulterior a sua cru-
zada pelos Grupos Oxford, Bill
decide voltar para o hospital onde
tantas vezes tomou medicação pra
se desintoxicar. Chegou daquele
jeito, como informa: “Seguran-
do a última garrafa pelo gargalo,
entrei no Hospital Towns, onde o
Dr. Silkworth veio me encontrar
na entrada”. O médico vendo sua
situação disse: “Bem, meu rapaz,
não está na hora de subir e ir para
a cama?”. Sua situação não era
tão ruim como das outras vezes.
Passados três ou quatro dias, não
precisava mais tomar sedativos,
apesar de se sentir muito deprimi-
21
do e sufocado com o assunto de
Deus. Como lembra, numa manhã
de sol Ebby apareceu e ficou de pé
na porta do seu quarto sorrindo,
arrancando de Bill a pergunta: “...
qual é a sua fórmula para não be-
ber mais?”. Ebby repetiu o que já
tinha dito quando da primeira visi-
ta: “Você admite que está derrota-
do...” conversou um pouco mais e
se retirou.
Sem suportar sua depressão,
Bill apela: “Se existe um Deus, que
Ele se manifeste! Estou pronto para
fazer qualquer coisa, qualquer coi-
sa!” Conta que de repente o quarto
se encheu de uma forte luz, levan-
do-o a mergulhar num êxtase, sem
palavras para descrevê-lo. Mesmo
com a sensação de que era um
homem livre, pensava que estava
tendo alucinações. Após várias per-
guntas Dr. Silkworth disse: “Não
Bill, você não está louco. Aconte-
ceu aqui algum fato, em nível psi-
cológico ou espiritual. Tenho lido
a respeito dessas coisas nos livros.
Às vezes as experiências espirituais
libertam pessoas do alcoolismo”.
Dia seguinte ao diálogo com
seu médico, mais uma luz sobre
o ocorrido. Bill crê ter sido Ebby
quem lhe trouxera o Livro Varie-
dades da Experiência Religiosa, do
psicólogo William James. Apesar
de considerar uma leitura difícil, a
devorou do começo ao fim. Dessas
experiências espirituais, adveio os
pensamentos de querer trabalhar
levando a mensagem a outros al-
coólicos. O que fez assim que re-
cebeu alta do hospital e se juntou
aos Grupos Oxford. “Trabalhamos
na Missão do Calvário, de Sam
Shoemaker, e também no Hospital
Towns. Ebby veio morar comigo e
Louis, no Brooklyn. Comecei a sair
atrás dos bêbados, a jato”.
Em maio de 1935 Bill foi a tra-
balho da empresa que prestava
serviços, para Akron, Ohio. Hos-
pedou-se no Hotel Mayfower com
apenas dez dólares no bolso. Sá-
bado, véspera dos Dias das Mães,
inquieto andava de um lado para o
outro na sala de espera do hotel,
pensando no que poderia fazer.
Lembrou que tentando ajudar ou-
tras pessoas, tinha permanecido
sóbrio. “Pela primeira vez com-
preendi isso profundamente...”.
22
Telefonou para um padre episco-
pal, Walter Tunks, “grande amigo
da irmandade...”, que lhe deu uma
lista com o nome de 10 pessoas que
pudessem lhe orientar. Como era
véspera dos Dias das Mães não teve
sucesso com os nove da lista. Mas,
para surpresa sua, o último da lista
atendeu. “Tinha uma voz jovem,
sotaque sulino, era a nora do Sr.
Seiberling”. Bill explicou seu pro-
pósito: Era um alcoólico dos Grupos
Oxford de New York que precisava
ajudar outro alcoólico para poder
permanecer sóbrio... De pronto
Henrietta disse: “Conheço alguém
a quem você talvez possa ajudar.
Você quer vir pra cá, imediatamen-
te? Eu moro na casa de frente, de
propriedade dos Seiberlings”.
Encontro de Bill e Dr Bob. Ao
chegar a casa, Bill descreveu Hen-
rietta como uma pessoa “encan-
tadora e compreensiva”. Após
contar sua história... Henrietta
disse: “Conheço o homem certo
para você. Ele é médico. Nós o
chamamos de Dr. Bob. Anne(...) é
uma grande esposa. Bob tentou
de tudo. Sabemos que ele quer
parar de beber(...). Henrietta liga
pra Anne convidando o casal pra
sua casa conversar com Bill. Anne
responde dizendo: “Sinto muito
Henrietta, acho que não pode-
mos ir hoje. Bob sempre me faz
grandes alardes no Dia das Mães.
A propósito, ele acaba de chegar
trazendo-me um grande vaso de
flores”. Segundo Bill, o que Anne
não dissera era que o vaso de flo-
res estava em cima da mesa e Bob
estava debaixo dela, “tão embria-
gado que não podia se levantar”.
Henrietta insistiu para que o casal
viesse no dia seguinte “... que tal
amanhã? Por que vocês dois não
vêm jantar?”. Anne responde que
fariam o possível.
Às 5h da tarde do dia seguinte,
“aquele maravilhoso casal, Dr Bob
e Anne, chegava à casa de Henriet-
ta”. Nas palavras de Bill “esse era o
maravilhosos amigo, com quem eu
nunca haveria de ter uma palavra
dura. Esse era o Dr. Bob que viria
a ser o confundador de AA...”. Às
17h daquele domingo Bob estava
tremendo muito. Disse que pode-
ria ficar somente uns quinze minu-
tos. Depois do jantar Henrietta os
levou para sua pequena biblioteca
onde os dois conversaram até às
onze da noite.
Na conversa com Dr Bob Bill
lembrou das recomendações do
Dr. Silkworth, por isso foi devagar
com sua experiência religiosa. Co-
meçou a falar do seu próprio caso,
o que Dr Bob confirmava “... é isso
mesmo. Eu sou assim”. Bob falou
com Bill sobre ele como nunca an-
tes. Tinha 55 anos na época desse
primeiro encontro. Mais velho do
que o amigo uns 15... Confessou a
Bill que sempre bebeu. Quando fi-
cava muito nervoso para operar ou
para ver pacientes, tomava doses
fortes de sedativos. Quando falha-
va esse recurso, ele desaparecia
por uma semana ou mais para de-
sintoxicar-se em algum lugar, a fim
de que pudesse começar tudo no-
vamente. “Naqueles raros momen-
tos em que ficava completamente
sóbrio, a necessidade insaciável do
álcool nunca o deixava. Um fenô-
meno físico que o atormentou du-
rante seus primeiros anos de A.A.,
uma época em que levar a mensa-
gem a outros alcoólicos, dia e noi-
te, era a única coisa que fazia com
que se esquecesse disso...”.
Segundo Bill, na conversa com
Bob houve total reciprocidade.
“Eu tinha abonado a pregação. Sa-
bia que precisava desse alcoólico
como ele precisava de mim... Essa
reciprocidade de dar e receber é
hoje a alma do trabalho do Décimo
Segundo Passo de todos os AAs
... O elo final que estava faltando
foi encontrado aqui mesmo, em
minha conversa com o Dr. Bob”,
disse Bill.
Três ou quatro semanas de-
pois do Dia das Mães, numa certa
manhã, Bob o olhou e disse: “Bill,
durante muitos anos tenho ido a
Atlantic City para assistir à nossa
convenção médica. Não tenho
perdido nenhuma... durante todo
esse tempo. Você acha que seria
bom eu ir?”. Anne se antecipa,
preocupada responde: “Oh não,
não!”. Mas para Bill, Bob tinha de
enfrentar seu problema: “Bem,
por que você não vai?”. “Talvez
você tenha razão”. Bob foi pra sua
convenção... Durante vários dias
não deu notícias, deixando Anne
e Bill apavorados com o que pode-
ria ter acontecido. Certa manhã o
inesperado. A enfermeira do seu
consultório liga avisando “ele está
aqui comigo. Meu marido e eu o
recolhemos na estação de trem,
às 4h da madrugada. Por favor, ve-
nham e vejam o que podem fazer”.
Uma descoberta alarmante.
Bill e Anne trazem Bob pra casa.
Após colocarem na cama, fazem
uma descoberta alarmante. O mé-
dico tinha programado uma cirur-
gia que somente ele poderia fazer.
Seria para três dia depois. Segundo
Bill, “Bob tremia como uma folha”.
Revezava com Anne tentando pôr
o “menino grande” em forma. Na
manhã da cirurgia, Bob estava qua-
se sóbrio. Bill conta que nunca es-
quece da maneira como lhe olhou,
dizendo: “Bill, eu vou acabar com
isso”. Bill pensou que estivesse se
referindo à cirurgia. “Não, ele dis-
se, quero dizer dessa coisa sobre a
qual temos conversado”. Às 9h Bill
e Anne chegavam com Dr. Bob ao
hospital onde este faria a cirurgia.
Bill deu-lhe uma garrafa de cerveja
para acalmar seus nervos e poder
segurar o bisturi, “e assim ele en-
trou...” Bill e Anne voltaram pra
casa pra lhe esperar.
Bob liga avisando que tudo ti-
nha saído bem, para alívio de am-
bos. “Mas depois disso demorou
muito pra voltar pra casa”. Segun-
do Bill, apesar da grande tensão
que se encontrava, deixou o hos-
pital, entrou em seu carro e come-
çou a visitar seus credores e outras
pessoas a quem ele tinha ofendi-
do com seu comportamento. Isso
aconteceu no dia 10 de junho de
1935. Até o dia da sua morte em
novembro de 1950, 15 anos mais
tarde, Dr. Bob nunca mais tomou
uma gota de álcool. Ademais, pra-
ticando o Décimo Segundo Passo,
levou a mensagem de A.A. a mais
de 5 mil homens e mulheres alco-
ólicos, prestando seus serviços
médicos sem cobrar. Para este ser-
viço contou com a valiosa assistên-
cia da Irmã Ignatia, do Hospital St.
Thomas, em Akron, Ohio, uma das
maiores “amigas da nossa Irman-
dade, em todos os tempos”, infor-
ma Bill W. Enfim, é nessa travessia
do deserto alcoólico que A.A., em
10 de junho, completa 86 anos, sal-
vando vidas.
ATENTE - Indicador de Rumos da Informação
 " Mot ivo de ce leb ra çã o"
Quando você conheceu A.A.?
CARLOS S - Tornei-me mem-
bro de Alcoólicos Anônimos no
ano de 1996.
O que o motivou procurar aju-
da de Alcoólicos Anônimos?
CS - Uma situação de deses-
pero. Àquela altura de minha
vida, depois de já ter tentado
parar de beber sozinho sem
conseguir, obtive ajuda daque-
las pessoas que estavam sem
beber porque não conseguiam
para de beber sozinhas.
Pode contar um pouco como
era sua vida na ativa do alcoo-
lismo?
CS - Experimentei bebida al-
coólica a primeira vez com 15
anos e já nas primeiras bebe-
deiras apresentei uma estra-
nha obsessão por beber cada
vez mais. Isso resultou em
distanciamento das pessoa,
que temiam alguma atitude
"A . A. é cri aç ão de De us "
Quando você conheceu o AA?
Jô - Em fevereiro de 2002.
O que a motivou procurar ajuda
em A.A.?
Jô - Um quadro desesperador,
de total descontrole da vida me
fez procurar ajuda em A.A.
Pode contar um pouco como
era sua vida na ativa do alcoo-
lismo?
Jô - Eu já estava bebendo dia-
riamente; bebia por qualquer
razão, fosse tristeza ou alegria.
Queria uma desculpa pra beber.
Bebia para dormir e acordava
para beber.
Com quantos anos você come-
çou a beber?
Jô - Experimentei bebida aos
14 anos, mas não gostei. Só vim
beber pra valer na fase adulta, lá
ATENTE - Indicador de Rumos da Informação
fora do considerado normal,
até por pessoas que bebem.
Eu mesmo já nos primeiros
anos desconfiava que havia
algo de errado comigo quan-
do entrava em contato com a
bebida. Desde cedo persegui a
busca por beber como as ou-
tras pessoas que tinham ple-
no controle sobre o número
de doses que deveriam tomar.
Comprometi as relações fami-
liares, amigos e profissionais,
de modo que vivia trocando
de emprego por não ter esta-
bilidade, era uma vida cheia
de mais baixos do que altos.
Cheguei ao fundo poço. A luz
no fim do túnel foi Alcoólicos
Anônimos.
Quanto tempo passou nas gar-
ras do alcoolismo?
CS - Bebi ininterruptamente até
os 29.
Quem indicou AA pra você?
pelos 32 anos...por aí. Aos 40 eu
estava totalmente dependente.
E os últimos 5 anos foram terrí-
veis.
Quanto tempo você está sem in-
gerir bebidas alcoólicas?
Jô – Há 17 anos.
Como é sua vida hoje, pratican-
do o programa de recuperação
do A.A.?
Jô - Tenho uma vida pacífica e
útil ao próximo nos dias de hoje.
Minha família ganhou muito
com o retorno da harmonia no
lar. Sinto-me livre da escravidão
do álcool. Melhorei como ser
humano, como mãe, como pro-
fissional, como filha... enfim, ga-
nhei vida nova.
Quem sugeriu o A.A. pra você?
Jô - Cheguei ao A.A. por reco-
Carlos S membro de A.A. (The/PI) há 17 anos. Confira.
CS - Minha esposa, em um dia
de domingo, após uma grande
bebedeira no sábado, ao fazer
compras na panificadora, ouviu
sobre Alcoólicos Anônimos em
uma rádio comunitária e con-
seguiu um cartão de um gru-
po, o qual colocou em minha
carteira. No dia seguinte ainda
confuso sem lembrar do que
havia acontecido, ao me dirigir
pro trabalho, notei o cartão na
carteira.
Como é sua vida hoje, pratican-
do o programa de recuperação
de A.A.?
CS - Aprendi em A.A. que deve-
ria dedicar pelo menos a me-
tade do entusiasmo que tinha
quando corria atrás da bebida
alcoólica. Meus companheiros
asseguraram que tal disposi-
ção seria convertida em so-
briedade. Fiz reparações com
meus familiares, amigos e uma
Jô, membra de A.A. (The/PI) há 17 anos. Confira.
mendação de um padre pároco
da igreja onde funcionava um
grupo perto da minha casa.
O programa de recuperação de
A.A. é pra homens e mulheres.
Neste sentido, já sentiu alguma
dificuldade na sua recuperação,
considerando que no A.A. a
maioria é de homens?
Jô - Sim, em alguns momentos
eu me sentia tolhida quando
tentava mostrar algum serviço
na Irmandade. Alguns poucos
companheiros não conseguem
ainda perceber que nós mulhe-
res somos tão doentes quanto
eles. E buscamos a mesma ajuda
que eles buscaram. Mas estes
são minoria. A grande maioria
dos companheiros agem com
respeito e gentileza com as mu-
vez sóbrio pude me tornar um
profissional digno de confiança.
Hoje faço parte do legado de
serviço da irmandade, um tra-
balho voluntário, transmitindo
a mensagem de Alcoólicos Anô-
nimos para aqueles que ainda
sofrem desta doença crônica
chamada alcoolismo.
Em 10 de junho o A.A. comple-
tará 86 anos de existência no
mundo. O que significa está
data para você?
CS - Motivo de celebração. Os
grupos de A.A. se voltam para
essa data e nós os membros,
nas reuniões, procuramos ex-
pressar nossa gratidão a Deus
por ter voltado seu olhar para
os Alcoólicos e ter permitido a
existência de uma irmandade
de Alcoólicos, pois, só existe
uma pessoa que pode enten-
der o dilema de um Alcoólico,
um outro Alcoólico.
lheres. Preconceito eu enfren-
tei fora de A.A. também.
Qual sua avaliação sobre os 86
anos de A.A., a ser completado
em 10 de junho?
Jô - Eu agradeço a Deus diaria-
mente por ter encontrado uma
sala de A.A. aberta. Tinha um
grupo de pessoas esperando por
mim com as mãos estendidas.
Para mim a Irmandade Alcoóli-
cos Anônimos é criação de Deus,
que usou dois homens bêbados
para ajudar pessoas bêbadas a
se recuperarem de uma doença
incurável (o alcoolismo). Simples-
mente ouvindo uns aos outros e
reformulando suas vidas um dia
de cada vez. Considero essa data
como importantíssima para a mi-
nha história de sobriedade.
23
 "... A. A. mu do u min ha vid a"
Quando você conheceu o A.A.?
Auro - Em 2004
O que o motivou procurar ajuda
no A.A.?
Auro - A falta de controle perante o
álcool. Percebi algo errado quando
ingeria álcool e tentava ficar sem
beber, porém não conseguia.
Pode contar um pouco como era
sua vida na ativa alcoólica?
Auro - Na ativa, não encontrei ou-
tra coisa senão o vazio, solidão,
remorso. E tudo isso porque fazia
muitas coisas com as quais não
concordava, dentre elas está ma-
goando as pessoas que amo.
Com quantos anos você começou
a beber? E quanto tempo passou
nas garras do alcoolismo?
Auro - O meu primeiro contato
com o álcool foi por volta dos 11
anos de idade. Aconteceu no
casamento de minha irmã mais
velha. Eu brincava, juntamente
+
GERACINO, 65, começou a beber
Superação do alcoolismo
adulto e nessa condição passou mais
ou menos uns 10 anos, tempo suficiente
para perder o controle da sua vida. Con-
ta que nesse período de dependência
do álcool, perdeu uma oficina mecânica
que tinha conseguido montar com muita
dificuldade, “então só tive perdas nesse
mundo de completa escuridão”. Quando
bebia perdia o sentido da vida. “Muitas
vezes eu dizia que ia tomar só uma cer-
veja, mas ao tomar o primeiro gole meu
pensamento mudava completamente,
me levando a beber mais e mais sem con-
seguir parar, por isso procurei ajuda de
um amigo que estava parado de beber há
uns 3 meses, porque estava em Alcoóli-
cos Anônimos”. O amigo ficara de passar
na sua casa para lhe levar a uma reunião,
e não passou. “Mas eu fui e ingressei no
dia 30 de dezembro de 1989, e estou até
hoje, em dezembro deste ano completo
32 anos que não bebo, vou pra qualquer
lugar onde têm bebidas alcoólicas e não
sinto vontade de beber, porque hoje eu
sou consciente de que não posso nem
devo ingerir bebidas alcoólicas”. Para
Geracino, os 86 anos de A.A comprovam
que os dois homens “Bill e Dr. Bob fo-
ram iluminados por Deus pra fundarem
essa Irmandade maravilhosa, que vem
salvando vidas, como salvou a minha.
Posso garantir que vivo bem em todos os
sentidos, porque hoje eu não bebo, nem
amanhã, porque só vivo o hoje, se assim
24
com os meninos amigos, paren-
tes, e passávamos correndo por
entre as mesas com comida e be-
bidas. Foi aí que tivemos a ideia
de tomar uma bebida parecida
com refrigerante, mas na verda-
de era vinho. De sabor agradável
e aparência inocente, bebi aque-
le vinho como se fosse a coisa
mais normal da vida. No entanto,
esse primeiro contato já não foi
a melhor recepção. Passei mal,
fiquei tonto. O tempo passou e
logo voltei a encontrar o velho
álcool, desta feita de forma mais
profissional (risos). O apogeu
dessa amizade insólita se deu dos
16 aos 31 anos, que foi quando
cheguei na irmandade pondo um
fim, dentro das 24h, nessa parce-
ria tão degradante.
Quanto tempo sem beber...?
Auro - 17 anos.
Como é sua vida hoje, pratican-
o meu Poder Superior me permitir”. Mui-
to obrigado pela oportunidade de poder
falar sobre como estou me recuperando
de alcoolismo no A.A.”
AMAURY, 45, teve sua primeira ex-
periência com bebidas alcoólicas aos 16
anos. Em 2013, conta que sofreu dois fa-
tos que muito lhe marcaram. O primeiro
foi um acidente de trabalho quando caiu
de um prédio de 1,50m de altura, quan-
do o andaime descarrilhou até o décimo
primeiro andar onde bateu com a cabeça
num dos ferros do próprio andaime. Foi
levado ao Hospital da Primavera pra fa-
zer tomografia computadorizada, mas
como o hospital não fazia tal exame, dei-
xou o hospital e foi beber. Quatro meses
depois saiu da empresa sem justa causa,
recebendo todos os seus direitos e com
dinheiro no bolso tomou fôlego pra con-
tinuar bebendo. Em novembro do mes-
mo ano, quando estava num bar, levou
uma garrafada, ironia do destino, no
mesmo lado que levou a pancada na ca-
beça quando o andaime descarrilhou. Às
5h da tarde chegou à sua casa e tomou
mais dois “cervejões”. Avisou sua mãe
da pancada que levara no bar, mas como
não tinha sangue, relaxou. Por volta das
4h da manhã caiu no banheiro. Foi socor-
rido por sua mãe que o levou às pressas
para a Unidade Básica de Saúde do Sa-
télite de onde foi encaminhado para o
HUT (Hospital de Urgência de Teresina),
Auro, membro de A.A. (The/PI) há 17 anos. Confira.
do o programa de recuperação
do A.A.?
Auro - Exatamente o contrário da
ativa. Hoje tenho uma paz interior.
Aquela depressão, o desequilíbrio
emocional são coisas do passado.
Tenho problemas como todo mun-
do tem, mas nada que me deixe
envergonha ou angustiado. Isso
graças a um Poder Superior e à Ir-
mandade de A.A.
Como você encontrou o A.A.?
Auro - É aqui onde entra o mila-
gre. Nunca conheci um membro
de A.A., nunca fui abordado por
algum companheiro. Eu via as
placas com o nome e telefone de
A.A. e sentia um certo alívio quan-
do via aquela propaganda, falan-
do comigo mesmo que ali dava
certo pra mim, mas logo passava
e seguia a vida na ativa. Quando
um dia de grande ressaca e de-
pressão pedi a minha namorada
sendo operado imediatamente. Mesmo
em desmaio, ouviu o médico dizer pra
sua mãe que teria só 5 minutos de vida,
devido ao traumatismo craniano que so-
frera. Após a operação, o médico disse
pra sua mãe que Amaury ficaria com se-
quelas, não sabia em que parte do corpo.
De fato ficou sem voz e um dos lados do
corpo – pernas e braços sem movimen-
tar. Desde então Amaury faz tratamen-
to de fonoaudiologia, musicoterapia...
no CEID(Coordenadoria Estadual para
Inclusão da Pessoa com Deficiência). O
tratamento tem ajudado muito. Já recu-
perou o movimento dos braços e da per-
na, a voz tem voltado aos poucos. Com
tudo isso que lhe aconteceu, Amaury
continuou bebendo por dois mais dois
anos: 2013 e 2014, até vir para o A.A. em
27 de março de 2015, onde ingressou no
Grupo A.A. Sem Fronteiras, e está há 6
anos sem ingerir bebidas alcoólicas. “Se
não fosse o A.A. eu teria morrido. Agra-
deço a Deus por ter enviado aqueles dois
companheiros – Raimundo S e Edson pra
me levarem a mensagem de A.A. e por
isso estou vivo até hoje, quem não tinha
nem 5 minutos de vida, está aqui ainda
contando história, só pode ser a graça de
Deus e de Alcoólicos Anônimos”, disse
Amaury.
que fizesse uma pesquisa sobre
A.A. e me levasse até lá. E assim
aconteceu o que eu considero um
milagre.
Qual sua avalia sobre os 86 anos
de A.A. no mundo?
Auro – Avalio que a existência de
A.A. mudou minha vida, mudou
o mundo para mim. Portanto,
10 de junho de 1935 é uma data
importante, 86 anos salvando
vidas inclusive a minha. Significa
86 anos dando uma oportunida-
de de vida a milhões de pessoas
portadoras dessa terrível do-
ença, que é o alcoolismo, e não
viam uma alternativa, uma espe-
rança até a criação de A.A., nessa
data. Esse acontecimento veio
pra mudar o mundo, veio pra
mudar os mundos de cada porta-
dor dessa doença, trazendo-lhes
vida nova e abundante em todos
os sentidos.
William Griffith Wilson,
também conhecido por Bill
Wilson ou Bill W.
(Nov/1895 a 24 Jan/1971).
Dr. Robert Holbrook Smith,
mais conhecido como Dr. Bob S.
ou Dr. Bob. (8 de
Ago/1879 a 16/nov 1950).
A.A. chegou ao Brasil
em setembro de 1947.
No Piauí A.A. chegou no
dia: 18 de março de 1976.
Problemas com bebibas
alcoólicas? Ligue: 3221-8112
www.aapiaui.org.br
JUNAAB-Junta de Serviços
Gerais de Alcoólicos
Anônimos do Brasil.
aa@aa.org.br
Tefone: 55 11 3229-3611
Linha de ajuda
24h: 55 11 3315-9333
ATENTE - Indicador de Rumos da Informação