REVOLUÇÃO, GOVERNO OPERÁRIO E COMUNISMO
ANO 43 • Nº 1.201
NÃO SÃO AS CHUVAS,
MAS OS GOLPISTAS
QUE MATAM SEM DÓ
NEM PIEDADE
Com gastos públicos congelados por 20 anos
desde o golpe de 2016, não há investimento na
infraestrutura necessária ao combate às enchentes
Mais de 110 pessoas mor-
reram e outras 100 desapa-
receram depois das chuvas
e deslizamentos de terra na
cidade de Petrópolis (RJ), na
última semana. A verdadei-
ra chacina que se repete ano
após ano em várias cidades
é o resultado da combina-
ção das chuvas, totalmente
previsíveis nesta época do
FEDERAÇÕES PARTIDÁRIAS
Burguesia
em busca
da 3ª via A3
ANÁLISE
Deve haver um
limite para a
liberdade de
expressão? A4
POLÊMICA A6
O lobby sionista
e a liberdade de
expressão
Os companheiros do cole-
tivo Judeus pela Democra-
cia atuam de forma calu-
niosa ao acusar o Partido
da Causa Operária tanto de
antissemitismo quanto de
negacionismo, que dão a en-
tender ser do Holocausto.
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Se você assina, o povo lê!
jornal.causaoperaria.org.br
ano, com a falta obras de
infraestrutura, saneamen-
to e condições adequadas
de moradia. Essa situação
atinge milhões de pessoas
em todo o País. A situação
se agravou com o golpe que
derrubou a presidenta Dil-
ma Rousseff. Desde então,
não param de crescer os
cortes nas urgentes obras de
Amigo de Boulos
espionou Vale
para empresário
israelense
O advogado Walfrido War-
de, grande amigo de Gui-
lherme Boulos, organizou
a defesa de um dos homens
mais poderosos de todo o
Estado de Israel e está asso-
ciado à principal figura da
Lava Jato no Brasil, o pró-
prio Sérgio Moro. A6
OPINIÃO A2
O amigo do amigo de
Kim Kataguiri
VICTOR ASSIS
A censura das massas
avança a passos largos
FÁBIO PICCHI
Anatomia de
um xilique
RAFAEL DANTAS
21 A 27 DE FEVEREIRO DE 2022 R$ 6,00
infraestrutura e saneamen-
to, ao mesmo tempo em que
os banqueiros comemoram
os recordes de lucros. Nes-
tas condições, a população
se vê fragilizada diante das
intempéries e dos verdadei-
ros crimes ambientais pro-
vocados por especuladores
imobiliários e outros tuba-
rões capitalistas. A3
Lula e a defesa
da Eletrobrás:
cancelar todas
as privatizações
A luta em defesa não so-
mente da Eletrobrás, mas
também dos Correios e da
Petrobrás e outras empre-
sas públicas diz respeito ao
interesse de toda a nação,
Agência Brasil
mas principalmente aos tra-
balhadores e ao povo bra-
sileiro. A5 Petrópolis-RJ. Catástrofe é combinação de chuvas totalmente previsíveis e falta de obras públicas
Colocar nas ruas já LEIA NO CADERNO CULTURAL
a campanha por
100 anos da Semana de Arte Moderna
Lula presidente! Mesmo atacado, o
Lula só chegará à presidên- campanha de rua por Lula
Modernismo triunfou
cia e se manterá no poder Presidente, formar comitês,
apoiado na mobilização po- fazer mutirões, organizar
pular. Ciente disso, o Comitê um trabalho de mobilização
Central Nacional do PCO, que será uma das das prin-
reunido nos dias 12 e 13 de cipais atividades do partido
fevereiro, decidiu retomar a no próximo período. A8
A2 21 A 27 DE FEVEREIRO DE 2022

Anatomia de um xilique
Rafael Dantas
O Partido da Causa Operária (PCO) e
seus dirigentes vêm sendo acusados de
corrupção desde que o partido denunciou
que Guilherme Boulos trabalha com a di-
reita golpista em uma instituição financia-
da por organizações de fachada da CIA.
Juntamente com o esforço de desqualifi-
car a denúncia por meio da tentativa de
desmoralização dos denunciantes, é essa
a “explicação” dada pelo envolvido e seus
defensores.
Essa história ainda não acabou. Vou
falar aqui de um aspecto curioso dela, a
forma com que tentam provar o que dizem
do PCO. A ela poderíamos chamar “prin-
tologia”, a ciência de usar o fac-simile de
uma conversa tirada de contexto para in-
criminar um dirigente do partido.
Entrou na roda um Fernando Miller,
com um título escandaloso, eu diria até pi-
cante: “‘A gente estaria preso’: ‘dirigente’
do PCO invade meu WhatsApp e some”.
(sic), publicado no Diário do Centro do
Mundo.
É o caça-cliques ideal na campanha
contra o partido. De uma vez, dá a en-
tender que um dirigente do PCO estaria
confessando um crime e ao mesmo tempo
praticando outro ilícito (invadir o celular
do autor). Uma análise séria, no entanto,
mostra que, além de caça-cliques, a ma-
téria é somente um achaque.
Miller acusa o companheiro Henrique
Áreas, dirigente (sem aspas) do PCO de
ter… enviado uma mensagem de WhatsA-
pp. Sim, é essa a “invasão”, nada mais (a
não ser que eu tenha perdido alguma coi-
sa). Ele transcreve a conversa e adiciona
os “prints” de seu celular e… só!
Qual o conteúdo da conversa? Ora, nada
além do que se esperaria de um membro da
direção do partido que conhece a pessoa
que está assinando um artigo recheado de
insinuações e ilações contra o partido. O
artigo em questão diz: “Espécie de Quei-
roz, advogado do PCO tem negócios com
os filhos do dono do partido”.
“Por que não veio nos procurar, ou me
procurar pra esclarecer e ouvir a nossa po-
sição? Até onde sei nunca tive problema
com você”, disse Áreas. Esse é o motivo
da “invasão”: perguntar o porquê da acu-
sação de que o advogado do PCO é “uma
espécie de Queiroz”.
Estão fazendo a mesma campanha que
a direita contra o PT, usando os termos em
que ela foi feita contra Bolsonaro.
A resposta de Miller? Um faniquito.
Segundo ele, “nota-se uma leve tentativa
de intimidação” no questionamento feito
por Áreas. Sério? É sério isso? O cara que
disse que um advogado do partido é “uma
espécie de Queiroz” se sentiu intimidado
porque um dirigente do partido foi per-
guntar o porquê? Xilique puro e simples.
Segundo o acusador, não há nada de
político em uma denúncia de corrupção
contra um partido político… “Esse dis-
curso de ‘campanha da direita’ é falta de
argumentos para rebater as informações
que estão lá (…) qualquer informação que
esteja errada será devidamente corrigida,
à bem do rigor jornalístico”.
Ou seja, não é uma política direitista, é
“jornalismo”. Assim fizeram a Rede Globo,
a revista Veja, os jornais burgueses, toda a
imprensa golpista contra Dilma Rousseff,
Lula e o PT: “jornalismo”.
Assim reagem os que se alinharam na
defesa de Boulos: o PCO é corrupto, sei-
ta, a família Pimenta blá blá blá. E fim de
papo. A prova? Prints. A política não está
em questão. Não se importam em fazer
política como faz a direita, desde que se
considerem “jornalistas”.
Deixemos os prints e as insinuações de
lado por um momento.Valem tanto quanto
o documento que “provava” que Lula era o
dono do triplex do Guarujá. Servem apenas
como acessórios de uma acusação típica
da direita: o PCO é corrupto, é “proprieda-
de” de uma pessoa, tem um advogado que
é comparável ao Queiroz de Bolsonaro…
A questão é política, sempre foi. Os que
caluniam o PCO precisam responder poli-
A censura das massas
ticamente. Afinal, não é o PCO, mas a es-
trela do PSOL, que trabalha sob a direção
avança a passos largos
de Sérgio Etchegoyen, o general de con-
fiança de Michel Temer, Leandro Daiello, Fábio Picchi
o ex-diretor da Polícia Federal durante o
golpe de 2016 e Raul Jungmann, ex-mi- Ao mesmo tempo em que a imprensa diz. Cria-se então o conceito do “consenso
nistro de Temer e FHC. brasileira promove uma verdadeira cam- científico” para ostracizá-lo e, por conse-
Não é o PCO, mas Guilherme Boulos panha de difamação contra um dos líderes quência, perseguir Rogan. Sim, estamos
quem trabalha para o Instituto para Re- do podcast mais ouvido no Brasil, outra numa época em que não só a liberdade de
forma das Relações entre Estado e Em- ação similar ocorre no estrangeiro. Joe expressão é restrita, como a transmissão
presas (IREE). E não nos importa tanto Rogan, o apresentador do The Joe Rogan de informações indevidas torna o trans-
quanto ele ganha para fazer o que faz lá, Experience, também é alvo de perseguição. missor cúmplice no crime.
mas quem ganha com isso. A julgar pelo A imprensa monopolista mundial dedica A perseguição por veicular “desinfor-
silêncio sobre a questão e a tentativa de algumas manchetes por semana, há pelo mação” sobre a COVID-19 e suas vacinas,
fazer escândalo sobre o PCO, o proble- menos um mês, atacando o podcaster mais porém, caducou e foi substituída pela
ma é o fio liga Boulos, os financiadores ouvido do mundo. acusação de racismo. Oportunamente,
do IREE, a Global Americans, o National Para que tenhamos noção do alcance de alguém realizou uma montagem de Ro-
Endowment for Democracy (NED) e, fi- Rogan, trago os dados. Cada episódio de gan falando a palavra “nigga” por quase
nalmente, a CIA. Expliquem isso. seu programa na internet atrai mais de 11 5 minutos. Uma compilação sem con-
milhões de ouvintes. Rogan é tão popular texto de todas as vezes que o podcaster
que o principal serviço de streaming de falou o termo pejorativo em relação aos
áudio do mundo, o Spotify, comprou di- negros na língua inglesa. Em nenhuma

Boulos tem um amigo; e esse

amigo é amigo do Kim Kataguiri
Victor Assis
Em um primeiro momento, a denúncia
do Diário Causa Operária demonstrando
as relações de Guilherme Boulos com a
direita golpista, o imperialismo e a CIA
foi seguida de um absoluto silêncio. Sem
sucesso, o PSOL e todos os apoiadores
de seu pré-candidato ao governo de São
Paulo ficaram rezando para que a notícia
não se espalhasse.
Não deu jeito. Em poucos dias, deze-
nas de milhares de pessoas já tinham lido
a matéria e passaram a cobrar um posi-
cionamento de Guilherme Boulos. Julia-
no Medeiros, presidente do PSOL, tentou
conter a rebeldia de seu público nas redes
sociais, ameaçando bloquear quem fizesse
qualquer questionamento sobre a relação
entre Boulos e a CIA. A ameaça de “blo-
que”, contudo, também surtiu pouco efeito.
Eis que Boulos, então, decidiu, ele pró-
prio, pronunciar-se sobre o assunto. Para
isso, foi até o portal DCM, cujo dono lhe
apoia publicamente, e fez a sua defesa.
Uma péssima defesa, diga-se de pas-
sagem. Em resumo, toda a fala de Boulos
teve como base dois pontos: a tese de que
o PCO seria um bando de “malucos” e a de
que não haveria problema algum em se re-
lacionar com o advogado Walfrido Warde.
Quanto a chamar o PCO de maluco, é
uma cretinice. Primeiro, porque um “ma-
luco” pode falar coisas verdadeiras. Isto é,
mesmo que fôssemos um bando de malu-
cos, a denúncia não necessariamente seria
uma “maluquice”. Segundo, o PCO é um
partido respeitado pela esquerda e pelo
movimento operário, que vem se colocando
na vanguarda de todo o movimento contra
o golpe. Chamar-nos de “malucos” só mos-
tra o desespero do psolista, na medida em
que decidiu atacar o partido que serve de
direção e referência para os setores mais
combativos da esquerda.
Por si só, a tática de “matar o carteiro”
para que a mensagem não seja difundida
já mostra Boulos tem algo podre a escon-
der. Mas a sua defesa de Walfrido Warde
é ainda mais comprometedora.
Boulos poderia inventar que não sa-
bia que Warde era um direitista, que não
sabia de nada sobre suas ligações com a
Global Americans etc. No entanto, prefe-
riu dizer que tudo isso era normal. Disse,
literalmente, que “Walfrido é um amigo
querido”, que o conhece “há muitos anos”
e que ele “tem um grande escritório de ad-
vocacia e montou um grande instituto”. E
mais: “o Walfrido, particularmente, é um
cara de esquerda, do campo progressista.
Escreve um livro, que eu não sei se vocês
tiveram a oportunidade de ler — se não
tiveram, leiam. É um dos melhores livros
que desmistificou a Operação Lava Jato”.
Boulos escolheu defender Walfrido War-
de para se defender. Escolheu, para não
manchar sua reputação, atestar, com base
em suas palavras — e nada mais — a ido-
neidade de seu patrono.
Pegando carona na aventura suicida de
Guilherme Boulos, outros supostos esquer-
distas ligados ao IREE também fizeram
questão de posar junto a Walfrido Warde.
No final de 2021, Juliane Furno, se disse
“muito orgulhosa”e“imensamente honrada
de estar no IREE”. Bruna Brelaz, na mes-
ma época, publicou uma foto sorridente
ao lado de Walfrido Warde. O problema,
no entanto, é que suas palavras não são
suficientes para tornar Walfrido Warde o
que ele não é.
Em mais uma revelação exclusiva des-
te Diário, demonstramos que o “amigo” de
Boulos, o “progressista” Walfrido Warde
financiou a campanha de ninguém me-
nos que… Kim Kataguiri. Isto mesmo, o
fascista que impulsionou o projeto Escola
sem Partido, que defende até hoje a Lava
Jato e que é uma das principais figuras da
ofensiva golpista.
Se Boulos escolheu morrer abraçado
com Warde, agora não poderá mais soltar
o braço do garoto-propaganda do MBL.
reitos para reproduzir com exclusividade
seu podcast por US$100 milhões em 2020.
O programa de Rogan é similar ao Flow,
de Monark. Cada episódio consiste numa
entrevista com uma pessoa diferente, no
formato de conversa informal. Assim como
o Flow, as conversas de Rogan se estendem
às vezes por 3 ou 4 horas. Seus convida-
dos vão de celebridades, como o diretor
de cinema Oliver Stone, a políticos como
Bernie Sanders a até bilionários como Elon
Musk, que raramente concede entrevistas
à imprensa corporativa.
Os ataques da imprensa a Rogan tam-
bém se assemelham aos feitos a Monark.
A ideia central é que a liberdade de in-
formação não pode ser ilimitada. Rogan,
porém, não veiculou o caso hipotético da
legalização de um Partido Nazista que, por
curiosidade, existe em seu país, os EUA.
Rogan é atacado não pelo que disse, mas
por quem decidiu escutar em seu progra-
ma. Ele trouxe ao podcast o Dr. Robert
Malone, médico que participou dos estu-
dos iniciais envolvendo vacinas baseadas
em mRNA, no início dos anos 1970, e que
possui diversas patentes na área. Rogan
trouxe um especialista em imunologia que
possui uma visão diferente dos monopólios
farmacêuticos — e dos políticos burgueses
que os representam — sobre as vacinas
usadas no combate ao coronavírus, espe-
cialmente as da Moderna e da Pfizer. Ma-
lone também critica, de uma forma geral, a
política adotada quase que unanimemente
no combate à pandemia.
Certo ou não, o entrevistado claramente
tem credenciais para opinar sobre o assun-
to. Não que eu defenda que se deva tê-las
para falar sobre qualquer coisa! Mas, en-
fim, é difícil alegar que Malone deve ser ca-
lado sob o pretexto de que não sabe o que
Diário Causa Operária
causaoperaria.org.br
delas, obviamente, Rogan tinha a inten-
ção de ser racista, mas a infantilização
de problemas sociais chegou a tal ponto
que nos EUA não se pode mais nem falar
essa palavra.
Loucuras norte-americanas à parte, eu
acredito que o fato de Monark e Rogan
estarem sendo “cancelados” não é mero
acaso. O PCO já tratou do problema no
livro “A Era da Censura das Massas”, em
que explicamos com dados como certos
conteúdos na internet estão sendo sor-
rateiramente empurrados para baixo do
tapete. O Flow e o Joe Rogan Experience,
porém, não podem ser silenciados sem que
a sua ampla audiência perceba — eles pre-
cisam ser condenados publicamente por
uma dura campanha midiática para que
se adaptem, isto é, reproduzam apenas
conteúdo autorizado pela burguesia, ou
desapareçam dos meios de comunicação
eletrônicos.
A situação com a qual nos deparamos é
o enorme esforço da burguesia para tolher
essa que é uma das maiores conquistas
sociais e tecnológicas da humanidade: a
internet. Relacionando Rogan e Monark,
quero chamar a atenção do leitor para o
fato de que isso não é mero acaso. A ope-
ração acontece em escala global e avança
a passos largos, infelizmente com o apoio
de amplos setores da esquerda.
Colocar-se ao lado da censura de Ro-
gan, Monark e quem quer que seja na in-
ternet é colocar-se à favor dessa operação.
Não se trata de uma luta antifascista ou
em defesa da “ciência” como propalam a
grande imprensa e seus papagaios da pe-
quena-burguesia dão à entender. É um
esforço global para acabar com a livre
comunicação nos meios digitais, com es-
paços como este.
Acompanhe
a situação
política passo a
passo no jornal
diário do PCO
No ar desde 2003

Semanário nacional, operário e socialista, desde 1978 • nº 1..201 • 21 a 27 de fevereiro de 2022 • editor: Rui Costa Pimenta • tel.: (11) 2061-5203 • e-mail: contato@jornalcausaoperaria.com.br • www.jornalcausaoperaria.com.br • facebook.com/jornalcausaoperaria

Não são as chuvas, é o golpe que mata sem dó nem piedade
N
o fechamento desta edi-
ção, mais de 110 víti-
m a s f a t a i s j á h av i a m
sido contabilizadas, havia
ainda quase 100 desaparecidos e o risco
de novas chuvas e deslizamentos na cida-
de de Petrópolis, Rio de Janeiro. As fortes
tempestades do último dia 15 teriam sido
as maiores registradas na cidade em um
único dia nos mais de 90 anos desde a
criação do Instituto Nacional de Meteo-
rologia (Inmet). Dois terços das vítimas
fatais eram mulheres e 12 eram crianças.
Chuvas de tal intensidade poderiam
causar danos em qualquer localidade e
até mesmo alguma vítima, mas a verda-
deira chacina que se repete em Petrópolis
é o resultado da combinação das chuvas,
totalmente previsíveis nesta época do
ano, com a falta obras de infraestrutura,
saneamento e condições adequadas de
moradia de milhões de pessoas em todo
o País que, na “Cidade Imperial”, faz com
que mais 20% de sua população (quase
50 mil pessoas) viva em áreas de risco.
A situação se repete por todo o País
e também suas consequências para a
população pobre e trabalhadora. Desde
outubro passado, já são quase 250 mor-
tos, em meio às chuvas em todo o País.
Estados como a Bahia, Minas Gerais, São
Paulo, Espírito Santo e Rio de Janeiro
foram os mais fortemente atingidos e
tiveram mortes registradas em meio às
chuvas e enchentes. Em Minas há ainda
centenas de municípios em estado de
emergência.
A incansável busca pela terceira via
L E
onge de estar definido, o quadro
de candidatos disputando as elei-
ções presidenciais ganhou novos
elementos com pelo menos duas cartadas
de setores centrais da burguesia brasilei-
ra à procura de um nome que possa fazer
frente à polarização política entre Lula e
Bolsonaro.
Na terça-feira, 15 de fevereiro, os presi-
dentes do PSDB, MDB e União Brasil (fusão
do DEM e do PSL), repectivamente Bruno
Araújo, Baleia Rossi e Luciano Bivar se
comprometeram a definir até meados de
março a possibilidade da constituição de
uma federação entre os três partidos e ainda
o Cidadania. O acordo incluiria abrir mão
dos atuais pré-candidatos de cada partido
e buscar um nome de consenso, como ex-
plicitou Bruno Araújo do PSDB ao se re-
ferir à candidatura do governador de São
Paulo, João Doria: “Eu estou devidamente
autorizado pelo nosso pré-candidato a di-
zer que ele se submete à autoridade dessa
federação, eventualmente à essa constru-
ção”. (CNN Brasil, 15/2/22)
A ação das maiores máquinas da direita
no País não pá ra aí, simultaneamente está
se discutindo trazer novamente para a cena
política o governador do Rio Grande do Sul
Eduardo Leite como candidato do PSD de
Kassab em uma chapa identitária - muito
em voga no momento na luta da direita con-
tra a esquerda de tipo nacionalista, como
é o caso do PT -, tendo como vice Simone
Tebet, do MDB.
A burguesia ainda tem muitos recursos
e, inclusive, tempo. O jogo não está decidido
e ela se articula em torno de seu objetivo
que é derrotar Lula e o PT e isso não se dá
só pela direita.
Nesse sentido, a discussão sobre a cria-
ção de uma federação envolvendo o PT, o
O partido militar e o tribunal eleitoral
O
agravamento da crise econômica e
política intensifica a divisão no in-
terior da burguesia golpista, que se
uniu - provisória e parcialmente - para dar o
golpe de Estado e impedir que a esquerda,
por meio de Lula, voltasse ao governo em
2018. Para isso, se acertaram sobre conde-
nar e prender ilegalmente o ex-presidente,
cassar sua candidatura - também de forma
ilegal - e mantê-lo na cadeia por 580 dias, e
entregar o governo para o capitão fascista,
Jair Bolsonaro, diante da crise terminal dos
partidos da direita tradcional e dos seus
chefes políticos.
Um dos setores que expressam mais cla-
ramente essa crise é o que organiza e con-
trola as eleições, ainda mais fundamental
em um regime antidemocrático e golpista
como o atual. A direita tradicional controla
totalmente o processo por meio dos reacio-
nários juízes-ministros do TSE (Tribunal
Superior Eleitoral), os mesmo que coman-
dam o STF (Supremo Tribunal Federal), e
até mesmo por meio da empresa que forne-
ce as urnas eletrônicas (recebendo mais de
A venal imprensa burguesa, que
protesta sistematicamente contra o ine-
xistente excesso de gastos públicos e
defende o teto de gastos para garantir
os bilionários ou trilionários recursos
repassados sistematicamente para os
bancos e outros grandes monopólios,
agora fala de “uma ação ainda insufi-
ciente em áreas de risco” (O Estado de
S. Paulo, 17/2/22)
Depois da desgraça, políticos de di-
reita, como o governador fascista do Rio
de Janeiro, Cláudio Castro e o presidente
ilegítimo Jair Bolsonaro, fazem visitas,
pronunciamentos e promessas. Poucas
dias depois, nada acontece, como se viu
no caso recente do estado da Bahia, onde
o socorro anunciado pelo governo federal
para mais de 100 mil pessoas não seria
suficiente para repassar R$500 para cada
família atingida, se a verba fosse assim
distribuída.
Somente em Petrópolis, os mortos nas
chuvas já passam de 500 nas últimas três
décadas. Em toda a Região Serrana do
Rio de Janeiro, já são mais de 1.500.
Com base em dados do Sistema Inte-
grado de Informações sobre Desastres, a
Confederação Nacional dos Municípios
(CNM) apontou um total de 637 mortes
por desastres decorrentes das chuvas,
apenas nos seis últimos anos, ainda sem
os dados de Petrópolis.
A situação se agravou com o golpe de
Estado de 2016, que derrubou a presi-
denta Dilma Rousseff. No ano seguinte,
a direita unida no reacionário Congresso
PSB e outras legendas que se reivindicam
de esquerda, como a Rede, é instrumento
de ataque permanente dessa esquerda bur-
guesa à própria candidatura Lula.
No caso do PSB é fácil constatar que se
a federação ainda não foi inviabilizada está
em uma grande crise expressa nas exigên-
cias que os“socialistas”fazem para compor
com o PT e no encontro do governador do
Espírito Santo, Renato Casagrande, que
teria se comprometido em reunião com
o golpista e ex-juiz Sérgio Moro a não dá
palanque para Lula no estado.
As escaramuças não se restringem ao
PSB. O Partido Socialismo e Liberdade
(PSOL) de Guilherme Boulos está em ne-
gociações com a Rede Sustentabilidade de
Marina Silva em torno de fechar uma fede-
ração entre os dois partidos, inclusive com
a introdução de uma cláusula, que permite
à Rede a não apoiar a candidatura de Lula
no primeiro turno.
Pela direita e pela esquerda, a burguesia
articula contra o PT, como sistematicamente
tem demonstrado um dos seus principais
porta-vozes, o jornal O Estado de S.Paulo,
que em editorial no último dia 17, com o
título“Lula promete o atraso”voltou a atacar
o petista por ser “contra as reformas” - es-
sas, sim, fazem parte da destruição do País
-, além da acusação permanente da direita
golpista sobre a corrupção: “O declarado
desprezo do líder petista pelas reformas
deveria ser suficiente para antever um por-
vir sombrio, caso se confirme o favoritismo
de Lula e o PT volte ao poder, apesar do
histórico de corrupção e incompetência”.
Como se pode ver, para a burguesia, me-
lhor que seja seu candidato e ela trabalha
por isso, mas, caso não seja possível, seus
setores fundamentais já têm uma definição:
qualquer um menos Lula e o PT.
R$2,5 bilhões), o grupo Positivo, ligado ao
senador do Podemos Oriovisto Guimarães
(PR), mesmo partido do ex-juiz suspeito,
Sérgio Moro.
Na disputa para ter alguma parcela do
controle do órgão eleitoral e evitar a frau-
de contra si mesmo, o “partido militar”, que
apoia e integra o governo Bolsonaro (com
mais de 6 mil cargos indicados), tratou de
“indicar” para um dos mais altos cargos
administrativo do TSE, de coordenador téc-
nico da área de segurança do Tribunal, o
ex-ministro da Defesa, general Fernando
Azevedo e Silva, que antes de integrar o
ministério bolsonarista foi “assessor espe-
cial” do presidente do TSE, ministro Dias
Toffoli, durante o governo golpista de Temer
e quando se encaminhava a condenação e
prisão ilegal de Lula, sob direta ameaça de
golpe dos chefes militares.
Evidenciando a crise, o general Azeve-
do e Silva, anunciou que recusa assumir
o posto, alegando questões pessoais, não
sem antes agradecer a confiança que os
ministros Luiz Edson Facchin, presidente
Nacional, aprovou o congelamento dos
gastos públicos por 20 anos. Não param
de crescer os cortes nas urgentes obras de
infraestrutura e saneamento, ao mesmo
tempo em que os banqueiros comemoram
os recordes de lucros (veja na pág. A7).
A degradação das condições de vida
da imensa maioria dos trabalhadores,
por conta da expropriação dos salários
(graças à “reforma” trabalhista e outras)
e à explosão do desemprego que atinge
- de fato - dezenas de milhões de traba-
lhadores em todo o País, impede que boa
parte da população realize obras ele-
mentares de manutenção em suas casas
(como contenção de pequenas encostas)
e os investimentos públicos praticamente
desapareceram.
Nestas condições, a população se vê
fragilizada diante das intempéries e dos
verdadeiros crimes ambientais provo-
cados por especuladores imobiliários e
outros tubarões capitalistas.
Muito além de chorar os mortos e de
apoiar as cínicas campanhas de solida-
riedade da imprensa que apoia o regime
golpista e sua política de morte para o
povo (de fome, miséria, pandemia, chu-
vas etc.) é preciso organizar e mobilizar
o povo pobre e trabalhador - e todos os
que defendem seus direitos democráticos
- contra os capitalistas e a direita crimi-
nosa que ainda vai buscar tirar proveito
eleitoral da situação.
É preciso levantar um programa de
luta das vítimas para exigir o pagamento
de auxílio emergencial de, pelo menos
Bolsonaro e Putin
m nova evidência da crise do im-
perialismo, o presidente ilegítimo
do Brasil, Jair Bolsonaro, viajou
à Rússia, tendo sido recebido pelo pre-
sidente Vladimir Putin, no último dia 16.
Em Moscou, Bolsonaro almoçou com
Putin e aproveitou para estender-lhe uma
mensagem de “solidariedade”, posicio-
nando-se na contramão dos interesses
imperialistas que buscam isolar a Rús-
sia. Peculiar, mas nem tanto.
Embora tradicional capacho do im-
perialismo, Bolsonaro e sua base social
são especialmente ligados à ala trum-
pista da política norte-americana, de
onde saiu o aval para que a visita ocor-
resse. O próprio ex-presidente america-
no, Donald Trump, manifestou interesse
em melhorar as relações com a Rússia
durante seu mandato.
Inimaginável pensar que o brasilei-
ro iria indispor-se com os “patrões” da
Casa Branca sem alguém que o garan-
tisse. Mais fora da realidade ainda seria
supor que o fascista, alçado ao posto
máximo do País, se converteria em um
combatente anti-imperialista.
Entre os setores mais próximos ao im-
perialismo da imprensa nacional, chove-
ram críticas. “Excessivo” na CNN Brasil,
“criticado” no UOL, foram algumas das
manifestações. O sítio brasileiro da bri-
tânica BBC destaca que “a confirmação
da ida de Bolsonaro a Moscou causou
reações no governo norte-americano.
Nos bastidores, diplomatas dos EUA
demonstraram contrariedade em rela-
ção à visita” (“Em encontro com Putin,
Bolsonaro diz que é solidário à Rússia”,
Leandro Prazeres, 16/2/2022).
Em outra matéria do mesmo órgão,
“Como visita de Bolsonaro a Putin pode
do TSE da próxima semana até setembro, e
Alexandre de Moraes, presidente da Corte
durante as eleições presidenciais, teriam
depositado nele.
A desistência se deu em meio a um clima
de críticas do presidente em final de man-
dato do TSE, Luís Roberto Barroso, que em
sua última entrevista coletiva no cargo (17)
buscou, segundo a própria imprensa golpis-
ta “blindar” o general Heber Garcia Portella,
representante militar na comissão formada
por ele para acompanhar as urnas eletrô-
nicas. Isso diante do “vazamento interno”
das cerca de 70 perguntas enviadas pelas
Forças Armadas ao TSE sobre o funciona-
mento das urnas eletrônicas e dos sistemas
de segurança da instituição, em dezembro,
sob a classificação de “sigiloso”, a pedido
dos próprios militares.
Barroso buscou dar garantias de que as
informações não teriam sido vazadas por
servidores do tribunal, o que colocaria a res-
ponsabilidade pelo vazamento nos militares.
Mostrando agir como um político e não
como um “juiz imparcial”, Barroso compa-
rou Bolsonaro a Trump por supostamente
desacreditar o processo eleitoral. Na vés-
pera, a cúpula do TSE decidiu divulgar a
21 A 27 DE FEVEREIRO DE 2022 A3
um salário mínimo para todos os que
necessitem; a imediata ocupação pelos
desalojados dos imóveis destinados à
especulação e um plano de construção
de moradias populares em todo o País,
sustentado pela sobretaxação dos lucros
dos grandes capitalistas, pelos ganhos
com a imensa riqueza do petróleo do
nosso solo, que precisa ser nacionalizado
e colocado sob o controle do seu verda-
deiro e único dono, o povo brasileiro.
Para isso, é preciso também reestatizar a
Petrobrás (100% estatal) e cancelar todas
as privatizações das últimas décadas.
Se faltam verbas para obras populares
e sobram para os banqueiros, é preci-
so estatizar o sistema financeiro sob o
controle dos trabalhadores, criando um
banco estatal único que sirva, também,
para financiar a construção de milhões
de habitações populares, em condições
seguras, gerando empregos, melhores
condições de vida e moradia.
Estas e outras medidas só podem ser
conquistadas por meio da luta, da mobi-
lização nas ruas, pela derrota da direita
genocida. Nesta luta, uma arma muito
poderosa é a candidatura presidencia
de Luís Inácio Lula da Silva, que deve
ser apoiada de forma incondicional por
toda a esquerda classista, por todas as
organizaçoes de luta dos explorados,
como parte da luta por um governo dos
trabalhadores da cidade e do campo, que
ponha fim à situação de devastação atual
e aponte no sentido da expropriação da
burguesia e da conquista do socialismo.
afetar relação com EUA” (11/2/2022), des-
taca-se que a ida de Bolsonaro “abriu
um novo flanco de tensões na relação
com o governo dos Estados Unidos”. A
visita foi “insana e sem sentido”, conclui
a matéria, deixando claro qual o estado
de espírito dos americanos com a deci-
são de Bolsonaro. Obviamente, não foi
uma visita “sem sentido”.
Bolsonaro viajou à Rússia como can-
didato de uma base social que embora
americanófila, nutre uma certa simpatia
pelo direitista presidente russo. Posto
em uma posição de enfrentamento com
o imperialismo, o deslocamento de Pu-
tin à esquerda no aspecto da política
mundial deve-se à dinâmica própria da
luta de classes. Oriundo da antiga buro-
cracia stalinista, hoje a burguesia russa
que luta para não ser engolida, Putin
reconhecidamente tem pouca afeição a
qualquer política verdadeiramente pro-
gressista.
Em outro órgão da imprensa brasi-
leira, o portal R7 (de propriedade da
Record), a visita ganha uma conotação
jocosa, que destaca a “homenagem aos
soldados soviéticos”(“Ao lado de Putin,
Bolsonaro defende soberania dos paí-
ses”, Hellen Leite, 16/2/2022). Tal carac-
terização aparece também na esquerda
pequeno-burguesa nacional, que aposta
em tiradinhas supostamente espirituosas
sobre Bolsonaro homenagear “comunis-
tas”, o que não tem valor político algum.
Enquanto este setor se ocupa com um
vazio, Bolsonaro agrupa sua base social
e reforça seu alinhamento com Trump. O
norte-americano, por sua vez, reforça o
empreendimento político de Bolsonaro,
demonstrando por tabela, a fraqueza do
governo Biden e do imperialismo.
íntegra das perguntas e respostas diante
dos vazamentos e das declarações públicas
do presidente de que as Forças Armadas
teriam encontrado “diversas vulnerabili-
dades” nas urnas.
O presidente com seu militares e os mi-
nistros políticos do judiciário, disputam
claramente o controle das eleições, em um
processo que deveria ser controlado exclu-
sivamente pelos partidos políticos e pelas
organizações representativas da população,
dos eleitores.
A disputa e a suspeita, totalmente de-
vida, diante de um poder ditatorial, sem
qualquer controle popular e sem auditagem
real pelos partidos e pela população, torna
evidente que depositar a crença nesse pro-
cesso é algo tão ilusório como acreditar na
honestidade dos políticos da burguesia ou
em papai noel como o bom velhinho dos
presentes de Natal.
É preciso exigir a extinção do TSE e de
todos os tribunais de exceção que se colo-
cam acima do controle da sociedade. Que
as eleições sejam organizadas e controla-
das pelos partidos políticos e realizadas
com votação que possa ser conferida pelos
interessados.
A4 21 A 27 DE FEVEREIRO DE 2022

O verdadeiro limite às liberdades Lobby israelense é uma

vanguarda fascista
democráticas é o nazismo O debate sobre o caso
Monark colocou em pau-
-, algo de conhecimento
público.
ta uma situação extre- A ligação dos antigos
Identitários pavimentam a estrada para um regime fascista mamente grave, sobre nazistas com os gover-
uma organização muito nos que apoiaram e con-
poderosa e que esteve tinuam apoiando Israel
O caso Monark, resul- na linha de frente des- levanta uma questão:
tando em nova onda de res- ta campanha de lincha- a extrema-direita hoje,
trições à liberdades demo- mento: o poderoso lobby é antissemita? Trump,
cráticas, reforçou o fato de israelense, liderado pela Bolsonaro e outras figu-
estarmos vivendo uma era Associação Judaica do ras públicas deste setor
profundamente obscurantis- Brasil, algo que coloca político, famosos pelo
ta. Hoje a posição da burgue- uma situação problemá- ardor com que defen-
sia mundial é de que a liber- tica para a luta política. dem o Estado de Israel,
dade de expressão não pode Este lobby apoia-se no deixam claro que não.
ser absoluta. A consideração antissemitismo, indubita- O lobby judeu habi-
é de que “não exagere”. velmente uma coisa real- tuou-se a usar o patrimô-
Essa ideia ganhou um mente horrorosa, mas nio de sofrimento, o ho-
grande número de adeptos deve ser criminalizado? locausto de judeus sob
na esquerda, que ignoram Imaginemos os palesti- o regime nazista para
Reprodução

o fato de que nem todo som
é expressão de pensamento
próprio, de opinião, ou cor-
responde à defesa de uma
determinada ideia, ponto de
vista. Usam o chamado “di-
reito coletivo” para justificar
tal posicionamento, contu-
do, não se dão conta de que
esta inovação foi desenvol-
vida pela Alemanha nazista.
A importância de conhecer
a origem de determinadas
ideias é não sair defendendo
o que não corresponde a seu
próprio interesse.
Os juristas nazistas deba-
teram o problema da lei que
autoriza o cidadão a exercer
determinado direito, argu-
mentando que tal direito não
pode ser absoluto. Afirmou-
-se à época que se o cidadão,
ao exercer seu direito, con-
trariar o “interesse coletivo”
da sociedade, tal direito não
pode ser exercido. Os teó-
ricos da justiça do Terceiro
Reich estabeleceram que a
estrutura legal não é o impé-
rio da lei, que diz claramente
o que pode ou não ser feito,
mas da interpretação da lei.
Se a lei diz que pode, o juiz
pode interpretar e dizer que
não pode. A lei se transforma
numa interpretação arbitrá-
ria, na vontade do juiz.
Esta é a gênese do cha-
mado “direito coletivo”, uma
concepção nazista e nem de
longe democrática da justiça.
Estamos entrando na era do
direito nazista, pois as ale-
gações usadas atualmente
para a defesa da restrição
a liberdade, de expressão e
outras, são todas orientadas
por esse princípio.
É o caso da vacina. Seria
um direito não ser vacinado,
não ser forçado a tomar a
vacina, mas como contraria
o “direito coletivo”, da socie-
dade, é um direito passível de
ser suprimido. Muitos falam
disso conscientes, manipu-
lando a situação.
Também há os que repe-
tem tal ladainha de maneira
acrítica. Esses acham que,
como a palavra coletivo é bo-
nita, tem que ser defendida.
Ocorre que o direito não fun-
ciona assim, sendo o único
ente coletivo real o próprio
Estado.
Nesse sentido, não existe
Carl Schmitt, à direita. Filosofia do direito nazista embasa tese de direito relativo
a coletividade tal e qual, o
que tem são os indivíduos de
uma sociedade, que se apoia
sobre a base do Estado de Di-
reito para determinar quais
são os direitos desses indi-
víduos diante do Estado. Por
isso, quando alguém invoca
o direito coletivo, é por uma
motivação reacionária, por-
que finalmente, a ideia é rea-
cionária.
O direito do indivíduo é o
direito da coletividade, pois
quando uma lei estabelece
um direito, esse direito per-
tence a todos os indivíduos
do conjunto de determinada
sociedade. Não se fala em
direito da sociedade porque
coletividade não existe en-
quanto tal no mundo jurídi-
co, direitos políticos só po-
dem ser considerados para
indivíduos.
Então, direito coletivo
não existe e o único direito
coletivo é o Estado.
Nesse sentido, restringir
liberdades apenas reforça o
poder do Estado e tira a pro-
teção, o direito do cidadão,
do indivíduo diante da ver-
dadeira arbitrariedade.
Democracia e
comunismo
Os marxistas herdaram
os conceitos de democracia
da Revolução Francesa, in-
tegralmente, não o conceito
liberal que tem característi-
cas mais autoritárias.
Marx passa pelo ponto de
partida da democracia para
ir além. A primeira busca ga-
rantir os interesses do povo.
Quanto mais democrática a
sociedade, melhor para a de-
fesa dos explorados. O comu-
nismo ultrapassa a democra-
cia burguesa, consolidando
os direitos e as liberdades
dos cidadãos, pois liberta a
sociedade do jugo da pro-
priedade privada e da luta
de classes.
Retrocesso
Defender o oposto denota
um retrocesso ideológico. Se-
tores da esquerda pequeno-
-burguesa, principalmente de
mentalidade stalinista, pro-
curam opor as coisas como
extremas, defedendo “fuzi-
lar nazista”, mas ignorando
que estamos no capitalismo
e quem controla o Estado é
a burguesia, que colocou no
STF, figuras como o careca
fascista Alexandre de Mo-
raes. Ao pedir restrição da li-
berdade de expressão, estão
pedindo que o regime tenha
autoridade para esmagar um
grupo social qualquer e esta
é uma questão chave.
O PCO defende a mais
ampla liberdade, pois ao
contrário dos setores da es-
querda torcedores de su-
postos caçadores de nazis-
tas (Rede Globo, STF, PGR
e etc.) não acreditamos que
o regime político brasileiro
vai usar essa supressão das
liberdades contra nenhum
nazista. Veja-se que temos
na presidência da Repúbli-
ca Jair Bolsonaro que falou
em matar 30 mil comunistas.
Os atuais “caçadores de na-
zistas” ajudaram o fascista
Bolsonaro a chegar ao po-
der quando deram o golpe de
Estado de 2018, prendendo
Lula e proscrevendo sua can-
didatura. Setores da esquer-
da estão dando para essas
pessoas um poder arbitrá-
rio. Transformaram a classe
dominante numa força ain-
da maior, estão fazendo uma
gritaria para dar todo poder
aos inimigos do povo. Será
difícil imaginar que vão usar
esse poder para perseguir a
esquerda?
Usar o poder contra
a esquerda
A esquerda não está le-
vando em consideração a
realidade para traçar sua po-
lítica. O que estão fazendo é
o contrário da luta contra a
opressão, o fascismo. Estão
reforçando o massacre da
população.
No poder, a caça aos ju-
deus é uma das facetas do
regime construído por Hitler
e a burguesia alemã. Uma
característica fundamental
do fascismo é a destruição
da democracia, das organi-
zações operárias. Mas é pre-
ciso lembrar que o nazismo
chegou ao poder sem opo-
sição, apoiado pela burgue-
sia e também pela esquerda
bem pensante. A imprensa
apoiava e o Partido Comu-
nista Alemão nem saiu de
casa.
A sociedade foi sendo
transformada com mudan-
ças e restrições, de direitos
e liberdades democráticas.
Era preciso uma insurreição
para barrar o nazismo, quem
faria isso? O STF? A esquer-
da identitária?
Transição para
o fascismo
O que acontece é que, à
medida em que o Estado se
fortalece, transforma-se em
um Estado de transição para
o fascismo, o que está acon-
tecendo no mundo inteiro
hoje. O regime vai ficando
cada vez mais antidemocrá-
tico e dá lugar a um golpe
dado pelos “democratas”.
No Brasil, levantam-se
contra o Monark, algo muito
fácil já que é um jovem com
um programa na internet
apenas. Mas nunca se opu-
seram à ascensão de Hitler,
ao contrário, apoiaram. As-
sim como no Brasil apoia-
ram o golpe militar, o golpe
de 2016 e a prisão de Lula.
Teoria dos identitários
Quem está fazendo isso
são os identitários, que que-
rem educar o povo. Eles não
têm meios de comunicação,
nem mesmo um podcast com
audiência, apesar do dinhei-
ro estrangeiro que recebem,
mas são fiscais da opinião
alheia. Então, se uma pes-
soa fala uma coisa que eles
acham que é impopular, fa-
zem uma gritaria e essa é a
luta contra o nazismo. O que
na verdade não resolve nada.
Mas com essas boas inten-
ções, estão pavimentando o
terreno para um regime au-
toritário no Brasil.
nos na Faixa de Gaza, encobrir todo tipo de
seria possível imaginar política criminosa. Esse
que eles nutrem qualquer é um dos lobbies mais
tipo de sentimento além poderosos do mundo
de um ódio profundo aos atualmente, composto
judeus em geral? por setores muito pode-
A ação monstruosa rosos da burguesia im-
do Estado de Israel pro- perialista que mantêm
duz uma reação sobre as o Estado norte-america-
vítimas do genocídio pa- no e o Estado de Israel
lestino e das nações vi- umbilicalmente unidos.
zinhas, que manifesta-se Um poder que se escora
através de um antissemi- em eventos ocorridos há
tismo muito comum aos quase cem anos para im-
povos do Oriente Médio. por uma perseguição im-
A luta contra o antisse- placável aos opositores
mitismo é uma armadi- do imperialismo e abrir
lha muito séria. caminho à ditaduras tão
Na Inglaterra, a ala fascistas quanto a que
direita do Partido Tra- pariu o holocausto.
balhista, conduzida pelo Seus métodos estão
criminoso de guerra Tony presentes nos identi-
Blair, está expulsando a tários modernos, que
ala esquerda do partido, criaram um holocausto
baseando-se em uma apropriado a cada grupo
acusação de antissemi- alvo de ataques e de de-
tismo contra o principal magogia, o que é usado
representante desta ala: para apropriar-se da dor
Jeremy Corbin. A razão e do sofrimento, requi-
para acusá-lo deste su- sitos necessários para
posto “crime”? O apoio que se possa confundir
do líder da esquerda den- e impor pela força, qual-
tro dos trabalhistas ao quer coisa desejada pelo
povo palestino. imperialismo, incluindo
Corbin levou um re- também os interesses de
presentante do naciona- um número muito gran-
lismo palestino ao Par- de de empresários, da
lamento para que fosse imprensa, da burocracia
escutado, o que não fun- e setores oportunistas
cionou por não se tratar da pequena burguesia,
de convencer alguém. Is- uma das bases do “ati-
rael é aliado ao que exis- vismo” identitário, que
te de mais reacionário apregoam uma espécie
e obscuro no mundo. de “morte civil” (similar
Em decorrência desta à da Idade Média) mo-
situação, há hoje na In- derna, através do cance-
glaterra uma gigantesca lamento não apenas do
campanha contra o an- Monark, mas também do
tissemitismo. Partido da Causa Operá-
O antissemitismo ria e de quem colocar-se
nazista foi, de fato, um contra a turba.
dos episódios mais pa- O PCO se opôs a tudo
vorosos da história hu- isso, desde o início, por-
manidade. Fosse um go- que além do problema de
verno do PCO a ocupar princípio, tem muito cla-
a Alemanha nazista, ro que a luta pela liber-
muita gente perderia a dade de expressão e or-
cabeça pelo espetáculo ganização é uma questão
horripilante produzido de sobrevivência no re-
pelo nazismo. Como foi gime burguês. Essa tur-
o stalinismo, alguns bo- ba fatalmente se voltará
des expiatórios pagaram contra toda a esquerda,
com a vida, outros foram assim como tudo o que
presos, mas muitos fo- é antidemocrático e vem
ram colocados em car- sendo aplicado pela bu-
gos de responsabilidade rocracia, sob o comando
dos governos imperialis- direto do lobby israelen-
tas - na CIA por exemplo se e de seus filhotes.

A opinião favorável ao
Estado de Israel não é
universal
O que parte considerável da
população muçulmana no Oriente
Médio acha do Estado de Israel?
Os Palestinos, por exemplo. Para
essas pessoas os judeus são au-
tores de crimes contra sua pró-
pria existência, como cidadãos,
pessoas e nação. Seria o caso de
também reprimir essas pessoas?
Para elas o Estado de Israel é uma
monstruosidade, e com razão. So-
frem com atentados, assassinatos,
prisões, perseguições permanen-
tes. Então, não é uma coisa tão
simples estabelecer uma proibição
alegando antissemitismo. Seria
uma proibição tendo como base
um lobby poderoso, o do Estado
de Israel que é um braço do im-
perialismo norte-americano no
Oriente Médio.
Antissemitismo já
está sendo usado
contra a esquerda
O antisemitismo (ter, por
exemplo, uma opinião contra
os judeus), já está sendo usado
contra a esquerda. Na Inglaterra,
a direita do Partido Trabalhista
Britânico, persegue a ala esquer-
da do partido e mais diretamen-
te sua liderança Jeremy Corbyn
sob a alegação de antissemitis-
mo. Esta é uma pegadinha polí-
tica. Numa ação de contrarrevo-
lução, Corbyn está ameaçado de
expulsão pelo setor liderado pelo
criminoso de guerra Tony Blair.
A acusação é por ter levado ao
Congresso um muçulmano que
falou sobre a real situação con-
flito entre Palestina e Israel que
é uma das maiores forças reacio-
nárias do mundo hoje.
Abaixo os crimes
de opinião
No Brasil, não podemos ficar
intimidados diante da ofensiva au-
toritária, o correto é fazer uma
campanha para abolir da Cons-
tituição todo crime de opinião.
Opinião não é crime. Nesse sen-
tido, o PCO é favorável à Primei-
ra Emenda da Constituição dos
EUA; fale o que quiser, por pior
que seja. A opinião de nenhuma
pessoa, de nenhum brasileiro deve
ser controlada por ninguém, nem
pensar pelo Estado. Todos têm o
direito de pensar o que quiser, seja
o que for. A Constituição já nem
fala nada sobre o nazismo; o que
existe é uma lei aprovada depois
da Constituinte que proíbe sím-
bolos nazistas. Não tem nada a
ver com opinião, com discurso,
imprensa etc.
Campanha pela
subjugação do povo
A inexistência de lei que proí-
be falar sobre o nazismo e muito
menos da legalização de partidos
significa que o apresentador Mo-
nark não pode ser penalizado. No
entanto, a lei genérica do racismo
deve ser usada. Esta é mais uma
lei apoiada pela esquerda finan-
ciada pela CIA, assim como foi
a Lava Jato, a Ficha Limpa; os
defensores de tudo que há de au-
toritário no País. A burguesia co-
meça com o nazismo, mas o alvo
não é o nazismo. O que querem é
chegar ao povo, aos brasileiros.
Quem apoia, direita ou esquerda,
está a serviço de país estrangei-
ro, a serviço do imperialismo. É
uma operação de subjugação do
povo disfarçada de objetivos hu-
manitários.
Não flertar com o
autoritarismo
Um alerta importante ao PT.
Muito cuidado com o namoro com
o autoritarismo. A campanha em
vigor no País não é antinazista
é autoritária e não podemos dar
espaço ao autoritarismo. Por que
os filhos de Bolsonaro querem
a cassação de Kim Kataguiri, e
apresentaram projeto para tor-
nar crime o comunismo. Por que
depois que proíbe o nazismo os
outros vão juntos. Facilmente vão
enquadrar a URSS nas mesmas
considerações; e daí para chegar
no PCO é fácil. Sejamos demo-
cráticos, a favor da mais ampla li-
berdade de expressão, legalização
de qualquer partido. Estamos na
vigência de um golpe de Estado,
não dá para apoiar campanhas
como foi a da corrupção.
 21 A 27 DE FEVEREIRO DE 2022 A5

Lula e a defesa da Eletrobrás: para dizer que houve falha

em danos“complexos”, sem,
no entanto, oferecer solução
A luta em defesa da
Eletrobrás, dos Correios e
da Petrobrás e outras em-

cancelar todas as privatizações

para o problema que atingiu
quase 800 mil pessoas.
Lula e a defesa
da Eletrobrás
O governo neoliberal-di-
reitista do governo fraudu- Há poucos dias, o ex-pre-
lento de Jair Bolsonaro e sidente Lula, se pronuncian-
dos militares golpistas foi do sobre a decisão do TCU
apoiado, no segundo turno em autorizar a venda da
da eleição presidencial de estatal, disse, em sua con-
2018, por todos os setores ta no Twitter, em tom muito
mais reacionários do gran- moderado que: “eu espero
de capital nacional e inter- que os empresários sérios
nacional. que querem investir no se-
O caráter abertamente tor elétrico brasileiro não
antipopular e pró-imperia- embarquem nesse aranjo
lista do governo motivou esquisito que os vendilhões
uma parte dos capitalistas da pátria do governo atual
a apoiarem Bolsonaro, na estão preparando para a
expectativa de que seu go- Eletrobrás, uma empresa
verno aplicasse um progra- estratégica para o Brasil,
ma de ataques à economia meses antes da eleição”.
nacional, sendo as privati- Embora as palavras di-
zações, dentre outras inicia- tas pelo ex-presidente se co-
tivas (reforma trabalhista, loquem como importantes
Pilar Olivares/Reuters
presas públicas diz respeito
ao interesse de toda a na-
ção, mas em primeiro lugar
e principalmente aos traba-
lhadores e ao povo brasilei-
ro, particularmente as ca-
madas pobres da população,
que dependem dos serviços
prestados pelo Estado.
Cancelamento de
todas as privatizações
Neste sentido, a can-
didatura popular de Lula
deve servir como um eixo
de agrupamento e organi-
zação da luta não somente
em defesa das estatais que
estão na mira dos golpistas,
mas para levar adiante um
amplo movimento nacional
pelo cancelamento de todas
as privatizações já realiza-
das, pois todas aconteceram
de forma fraudulenta, em

reforma previdenciária e para afirmar sua oposição ataque aos interesses nacio-
administrativa), o carro- ao vendaval privatista que nais, onde somente os ca-
-chefe desta política. o governo deseja realizar, pitalistas se beneficiaram.
Embora não tenha sido Campanha contra as privatizações deve ser levada junto da campanha por Lula presidente é necessário um conjunto Não há outra alternati-
- por contradições internas de ações e iniciativas que va, pois nenhuma outra ini-
e motivos outros diversos - muito lucrativos, como tam- portantes em sua sanha pri- do ex-território federal às devem ir além das palavras ciativa, venha de onde vier,
totalmente consequente e bém cumprem um papel es- vatista, no último dia 15 de escuras por diversos dias. e intenções. O ex-presiden- será capaz de substituir a
levado adiante de forma ca- tratégico do ponto de vista fevereiro o Tribunal de Con- À época , o blackout foi te já se manifestou também mobilização popular em de-
bal essa política nesses mais da garantia do fornecimen- tas da União (TCU) apro- considerado um dos maio- em defesa do caráter estatal fesa dos seus próprios inte-
de três anos de governo, os to de serviços essenciais à vou, por 6 votos a 1, a au- res do Brasil desde o apa- da Petrobrás, outra empresa resses.
neoliberais que comandam população, além, obviamen- torização para a venda da gão de 1999, sob o governo pública que figura na lista
o projeto de destruição do te, de ser um elemento de estatal que está na alça de do presidente entreguista de privatizações do governo Sob o controle dos
País investem continua- afirmação da soberania do mira imediata dos golpis- FHC. O apagão teve seu entreguista de Bolsonaro e trabalhadores
mente na via de liquidação País. tas, a Eletrobrás, uma das início no dia 3 de novem- Guedes.
do patrimônio público. Fo- No Congresso Nacional, mais importantes empresas bro de 2020, atingindo 13 Lula, o candidato popular Desta forma, os traba-
ram várias as tentativas de se arrasta há meses os pro- públicas do País. A estatal dos 16 municípios do esta- que lidera todas as pesqui- lhadores das estatais e suas
aprovar no parlamento as jetos que têm por objetivo ocupa um papel de desta- do, incluindo a capital Ma- sas de intenção de voto para entidades representativas
reformas e outros ataques. autorizar a venda de impor- que no cenário econômico- capá. O início da retomada ocupar pela terceira vez a devem exigir de um even-
As privatizações, contudo, tantes estatais, entre elas -estratégico do País, sendo da energia elétrica somente cadeira presidencial, já se tual governo Lula o compro-
emperraram, mas não fize- Correios e Eletrobrás. A luta a responsável por todo o aconteceu em 7 de novem- pronunciou também contra misso claro e indeclinável
ram o governo desistir por intestina das diversas fra- complexo do parque elétri- bro, sendo que o restabele- a atual política de preços dos de não somente não enca-
completo do desejo de ata- ções e camarilhas que gravi- co nacional, junto com suas cimento total ocorreu tão combustíveis adotada pela minhar qualquer projeto de
car a economia nacional. tam em torno aos interesses subsidiárias (muitas já pri- somente após 22 dias. Nun- direção entreguista da Petro- privatização das empresas
Isso se vê na ofensiva de rapina do grande capital, vatizadas) nos Estados. ca é demais lembrar que foi bras. Lula advoga um outro públicas, como lutar em de-
que o governo vem fazen- no entanto, tem contribuído Um ensaio do que pode necessário acionar os técni- sistema de preços, que bene- fesa do patrimônio nacio-
do na tentativa de colocar para adiamentos sucessivos acontecer em todo o terri- cos da Eletrobrás para fazer ficie a população, o usuário nal, promovendo a demo-
à leilão importantes setores, em relação às decisões acer- tório nacional com a priva- os reparos no sistema, pois brasileiro e não os acionistas cratização da gestão das
sendo os mais destacados ca da liquidação do patri- tização do setor elétrico foi a Concessionária Linhas estrangeiros sanguessugas estatais, instituindo o me-
o setor do petróleo (Petro- mônio público. visto no Amapá, em novem- de Macapá Transmissora da empresa, uma das maio- canismo de eleição para os
brás) e da energia elétrica Nesta perspectiva, dei- bro de 2020, quando uma de Energia (LMTE), que à res e mais importantes do cargos de direção e chefia,
(Eletrobrás). xando claro que o governo pane no sistema deixou a época operava a subestação mundo na produção de de- com mandatos revogáveis,
São setores não somente não enfrenta obstáculos im- capital e algumas cidades incendiada, veio a público rivados do petróleo. nas empresas estatais.

Apoio ou disfarce para sabotar a candidatura Lula?
Na sexta-feira, dia 11 de feverei-
ro, a Executiva Nacional do PSOL
se reuniu e deliberou uma política
para as eleições de 2022. Apenas
três eixos foram aprovados nesta
reunião, que foi amplamente divul-
gada na imprensa golpista.
Para requentar a mesma políti-
ca, em um novo ato simbólico, os
psolistas anunciaram que aprova-
ram “pontos programáticos para
construção da unidade das esquer-
das nas eleições de 2022“.
A reunião aprovou uma comis-
são do Partido para negociar a pos-
sível adesão à única candidatura
da esquerda com condições de der-
rotar Bolsonaro e toda a direita, a
do ex-presidente Luiz Inácio Lula
da Silva, formada pelo presidente
do partido, Juliano Medeiros, além
da deputada federal Talíria Petrone
e Guilherme Boulos.
Para tirar proveito político da
decisão de caráter claramente
provisório – que não conta com
ampla maioria no partido – anun-
ciaram um ato, para as câmeras
da TV, em Brasília, com coletiva
de imprensa. Anunciando um con-
junto de exigências: “três princi-
pais itens programáticos aprova-
dos para basear as negociações
com o PT e apoio à candidatura
de Lula”, dentre elas “a revogação
das medidas implementadas após
o golpe de 2016 (...), o enfrenta-
mento à crise climática (...), ga-
rantia de direitos aos povos indí-
genas, tradicionais e quilombolas;
e a proposição de uma reforma
tributária (...) incluindo a cria-
ção de impostos dos super-ricos/
bilionários“, segundo divulgado
no sítio do Partido.
Que as “questões programá-
ticas” não são, e nunca foram, o
centro da atividade política do
PSOL, basta ver em suas articu-
lações, por exemplo, em torno da
conformação de uma federação
com a Rede, partido da golpista
Marina Silva. Esse debate indica
que para apoiar Lula haverá con-
dições, mas para uma federação
com partido golpista vale tudo. O
que ficou validado, inclusive, no
próprio congresso do PSOL, onde
se chegou a um acordo de não de-
cidir pelo apoio a Lula e permitir
que setores do partido lancem um
pré-candidato, justamente para
fazer campanha contra a unidade
da esquerda em torno da candi-
datura do ex-presidente.
Também não ficam claros quais
são os princípios e as exigências
no diálogo afetuoso que os psolis-
tas mantêm com o PDT, de Ciro
Gomes; partido que – dentre outras
proezas reacionárias - deu votos
necessários para aprovar a PEC
dos precatórios ou PEC da ree-
leição de Bolsonaro, como ficou
conhecida, em primeiro turno na
Câmara; ajudou a aprovar a pri-
vatização da água, teve seu líder
comemorando a prisão de Lula etc.
Apresentam suposta crítica ao
diálogo Lula-Alckmin, mas tam-
bém não foi por princípios políti-
cos – ao menos socialistas ou re-
volucionários – que defenderam a
presença de grupos e partidos de
direita nos atos convocados pela
esquerda pelo fora Bolsonaro e,
que um dos líderes do partido, Gui-
lherme Boulos, seja assalariado de
instituição dirigida pelo ministro-
-chefe do Gabinete de Segurança
Institucional da Presidência de Te-
mer, Sérgio Etchegoyen, e o ex-di-
retor da Polícia Federal no gover-
no Temer, Leandro Daielo, entre
outras figuras de proa do golpe
de Estado.
A manobra eleitoral e oportu-
nista da direção do PSOL, pressio-
nada pelo imenso apoio que têm a
candidatura Lula, inclusive entre
os setores de base que apoiam o
PSOL, em tudo se assemelha às
manobras de setores da burguesia
que encenam um apoio a Lula, que
na maioria dos casos tende a não
se concretizar. Querem desfrutar
do prestígio eleitoral de Lula, bus-
car controlar sua candidatura, que
vem apresentando posicionamen-
tos bem mais combativos do que a
política de recorrer às instituições
da burguesia como o STF e a Co-
missão de Ética da Câmara, em
90% dos problemas que encara,
semeando uma fé cega nas insti-
tuições do regime.
A candidatura Lula deve ser
apoiada, de forma incondicional
(mesmo que o apoio possa se dar
com críticas), porque ela é a úni-
ca que representa a luta da classe
trabalhadora diante do golpe, ca-
paz de mobilizar milhões de pes-
soas em todo o País, pela derrota
de Bolsonaro e de todos os golpis-
tas. Tudo mais é firula e uma polí-
tica de tirar vantagens – no menor
dos casos – e que prepara (como se
vê no caso explícito do PSB) uma
aberta traição e um apoio -como
em outras oportunidades – às ar-
mações da direita que virão (e já
se intensificam) contra Lula e toda
a esquerda.

Classe média com R$600? O aumento do desemprego, da

fome e da miséria no País é vista
fome e pobreza no Brasil não sig-
nifica essa ascensão, afinal, nem
específicas e uma mentalidade.
O avanço da pobreza que se
em todos os lugares. Nas grandes naquela época, menos ainda agora, generaliza no País não pode ser
Uma certa "lenda" contada por partir de R$22. Isso, quando até ou pequenas cidades, na zona ru- R$600 coloca uma pessoa nessa explicado com o rebaixamento da
setores da esquerda anuncia, com mesmo o DIEESE (Departamen- ral, em todos os lugares a pobre- posição de classe. suposta classe média dos gover-
bases totalmente questionáveis to Intersindical de Estatísticas e za cresce e se espalha. Um estudo Segundo a FAO 49,6 milhões nos petistas. Ela se ampliou após
que em 2012, a classe média teria Estudos Socioeconômicos) liga- publicado pela FAO (Organização de pessoas no Brasil sofriam com o golpe de Estado, está ligada à
se tornado uma maioria nacional e do aos sindicatos e organizações das Nações Unidas para a Agri- a fome em 2020. A renda de todo crise capitalista e também à pan-
seria "composta por 104 milhões de dos trabalhadores aponta que o cultura e a Fome) sobre a América mundo está diminuindo, e a po- demia, e atinge grandes parcelas
pessoas, o que correspondia a 53% salário mínimo necessário para Latina mostra que a situação se breza se expande. A classe mé- da população.
do total da população", conforme um trabalhador sustentar uma agravou nos últimos cinco anos. dia é uma classe parasitária, não Reverter esse quadro só é pos-
dados divulgados, entre outros, família trabalhadora deveria ser No Brasil o crescimento seria de produz riquezas e vive sobre a sível com um política que vá além
pelo sítio eletrônico do Partido dos de cerca de R$5.900, em janeiro “28% no número de pessoas vi- classe operária que tudo produz. de reformas e distribuição de ren-
Trabalhadores. passado. Ainda segundo estudos vendo com insegurança alimentar É uma classe intermediária, um da, é preciso expropriar os bancos
Tal "análise" baseia-se na ar- do DIEESE, esse valor toma como moderada ou grave entre 2016 e setor que os trabalhadores levam e capitalistas, reverter as privati-
bitrária divisão de que os com- base o fato de que uma única cesta 2020”. Em números da população nas costas, mas que a crise em- zações, gerar emprego, garantir
ponentes desta camada da po- básica estaria custando em média são 12,1 milhões de brasileiros vi- purra para baixo na escala social. educação entre outras medidas,
pulação comporiam a chamada algo em torno de R$670, sendo vendo com fome. Mas não é só um problema de não para garantir a existência ou
"classe C", "cuja renda per capi- necessárias - pelo menos - três Esses brasileiros não são exata- renda, por isso mesmo não dá ampliação da classe média, mas
ta vai de R$667,00 a R$3,7 mil". destas cestas para atender às ne- mente da classe média que supos- para considerar quem ganha para dar à classe trabalhadora,
Por essa designação sociológica, cessidades com os produtos dela tamente teria ascendido durante um salário mínimo atualmente maioria da população, aquilo que
a classe média estaria formada constantes, de uma família de qua- os governos petistas. A superação R$1.212 esteja na classe média, o é dela por direito.
por pessoas com renda diária a tro pessoas. de vários aspectos da situação de que tem a ver com funções sociais
A6 21 A 27 DE FEVEREIRO DE 2022

Warde espionou Vale para empresário israelense

Mecenas de Boulos foi contratado para extrair depoimentos de altos executivos da mineradora
Victor Assis
A mineradora brasileira
Vale S.A., uma das maio-
res empresas do ramo no
mundo, desistiu do proces-
so que abriria contra a em-
presa BSG Resources Limi-
ted (BSGR), do bilionário
israelense Benjamin Stein-
metz. A ação, que tramitava
na Justiça de Londres, exi-
gia uma indenização pelo
fracasso em um projeto na
República da Guiné. A par-
ceria entre a Vale e Benja-
min Steinmetz foi firmada
em 2010, com o objetivo de
explorar parte da gigantes-
ca reserva de minério de
ferro de Simandou, mas foi
interrompida definitivamen-
te em 2014, quando o então
presidente da Guiné, Alpha
Condé, revogou os direitos
minerários de ambos.
Dilma Rousseff e o ex-pre-
sidente Lula, como também
a infiltração de Sérgio Ma-
chado para tentar extrair
uma confissão de Romero
a agência Bloomberg. Filho Jucá (MDB).
de uma família de comer- Curiosamente, a impren-
ciantes de diamantes, o ca- sa brasileira procurou omitir
pitalista judeu é hoje um dos a participação de Warde na
homens mais poderosos na espionagem. Em matéria do
extração de minérios, tendo Valor Econômico, chegou-
feito sua fortuna assaltando -se a dizer que o escritório
países africanos miseráveis, Warde Advogados contratou
como a Guiné e Serra Leoa, diretamente o Black Cube.
possuindo ligações com a No entanto, poucas horas
maior empresa de comércio depois, a matéria foi edita-
de diamantes do mundo, a da e essa informação sumiu.
De Beers, e sendo um forte Note-se, inclusive, que não
concorrente de George So- se tratava de um “erro” —
ros em algumas áreas. neste caso, o jornal poderia
O que chama ainda mais e deveria, por questões éti-
a atenção na contratação de cas, fazer uma errata, como
Moro é que ela se deu por fez tantas vezes. Trata-se de
meio do escritório de advo- uma verdadeira manipula-
cacia Warde Advogados, li- ção, uma omissão delibera-
derado pelo empresário Wal- da de informações.
frido Jorge Warde Júnior. O O caso só mostra como
acordo entre Steinmetz e Walfrido Warde tem “as cos-
Warde rendeu a Moro um tas quentes”. Isto é, que é
Janaina Duarte

A justificativa para a re- pagamento de R$750 mil praticamente um“intocável”.

vogação foi a acusação de
que Benjamin Steinmetz
havia subornado uma das
esposas do ex-presidente
guineano, Lansana Conté,
para conseguir, em 2008, a
concessão da mina de Si-
mandou. Steinmetz obteve
a licença por apenas 165 mi-
lhões de dólares e revende-
ria 51% da concessão para
a Vale, dois anos depois, por
incríveis 2,5 bilhões de dó-
lares. O israelense, que fi-
cou conhecido como o “bi-
lionário do barulho”, acabou
condenado a cinco anos de
prisão pelo Tribunal de Ge-
nebra e a 1.246.580.846,00
de dólares de indenização
à Vale pelo Tribunal Inter-
nacional de Arbitragem, em
Londres, concedidos em au-
diência em que a BSGR pro-
positalmente não compare-
ceu. Somados outros custos
e despesas, esse valor po-
deria chegar a 2 bilhões de
dólares.
A BSGR, no entanto, de-
clarou falência. A Vale en-
trou com nova ação, para
garantir a execução da de-
cisão da Justiça de Londres.
A BSGR passou a alegar que
a Vale sabia de todo o esque-
ma corrupto e contratou,
para a sua defesa, ninguém
menos que o ex-juiz Sergio
Moro, hoje pré-candidato à
presidência da República
pelo Podemos. Até aí, nenhu-
ma novidade: Moro é um ini-
migo declarado das empre-
sas brasileiras, tendo levado
muitas à ruína com a Ope-
ração Lava Jato, e um notó-
rio agente do imperialismo
norte-americano, de quem
Benjamin Steinmetz é sócio.
Antes de sua condenação,
Steinmetz era o israelense
mais rico do mundo, com um
patrimônio estimado em 8
bilhões de dólares, segundo
para defender os interesses
do bilionário israelense con-
tra a empresa brasileira.
No parecer feito por
Moro em favor do bilionário
israelense, vê-se uma cons-
piração escandalosa para
destruir a empresa brasi-
leira. Moro é claro: a “fon-
te”que utilizou para compro-
var a suposta cumplicidade
da Vale com a corrupção da
BSGR foram “as entrevistas”
que “foram efetuadas em in-
vestigação privada contra-
tada pelo Consulente com
a empresa israelense Black
Cube”.
Acontece que o que Moro
chama de “entrevistas” nada
tem a ver com a conversa
em um talk show. Trata-se,
inconfundivelmente, de um
caso de espionagem escan-
carada.
A Black Cube é uma
agência de inteligência pri-
vada criada em Israel. Como
se sabe, “inteligência” é um
nome oficial para a espio-
nagem, seja dentro de um
mesmo país, como fora dele.
A Agência Brasileira de Inte-
ligência (Abin), que curiosa-
mente não teve“inteligência”
para desvendar o golpe de
Estado de 2016, se ocupou,
por exemplo, de organizar,
junto à Polícia Federal, a ri-
dícula Operação Hashtag,
que prendeu, no mesmo
ano da derrubada de Dilma
Rousseff, alguns pobres coi-
tados sob a acusação de “ter-
rorismo” por trocar algumas
mensagens no Telegram. Em
2018, Welington Moreira de
Carvalho, réu na Operação
Átila, confessou em cartas
e depoimentos às autorida-
des, que era colaborador da
ABIN. Seu papel era de re-
digir relatórios em que des-
crevia atividades, reuniões
e opiniões políticas de mu-
çulmanos que frequentavam
uma sala de oração no cen-
tro do Rio de Janeiro. Curio-
samente, após a confissão,
Welington Moreira de Car-
valho foi inteiramente ino-
centado, sob a alegação de
que sua confissão era infun-
dada.
Nenhum feito da Abin,
contudo, se compara aos da
Central Intelligence Agen-
cy (CIA). Fundada em 1947,
a agência norte-americana
esteve e continua envolvi-
da em milhares de conspi-
rações dentro dos EUA e em
todos os países da face da
Terra. É publicamente co-
nhecida a atuação da CIA no
desmantelamento do Partido
dos Panteras Negras, radical
organização do movimento
negro norte-americano, bem
como em todas as sanguiná-
rias ditaduras da América
Latina durante as décadas
de 1960, 1970 e 1980.
A palavra “privado” tam-
bém chama muito a atenção
no caso do Black Cube. Is-
rael, nas últimas décadas,
tem cumprido justamente o
papel de fornecer, no âmbi-
to privado, um verdadeiro
arsenal de guerra para os
aliados e sócios do imperia-
lismo. Armas, treinamento
militar, agências de espio-
nagem, entre tantos outros,
são oferecidos por empresas
israelenses para constituir
polícias cada vez mais bru-
tais em todo o mundo.
Em entrevista à Rede
Globo no ano de 2008, Mar-
cos do Val, que se dizia um
colaborador da SWAT no
Brasil e hoje é senador pelo
Podemos, disse:
Hoje, no mundo inteiro,
as pessoas têm que entender
que as academias de polí-
cia não estão formando mais
os policiais. As academias
de polícia não estão dando
as especializações suficien-
tes. Então, as empresas es-
tão conseguindo fazer isso,
porque são pegos os melho-
res policiais, os melhores do
mundo
O objetivo é claro: Israel,
que é uma espécie de 51º es-
tado dos Estados Unidos, es-
pecializado em fazer todos
os tipos de barbaridade com
os palestinos, exporta para
todo o mundo a excelência
na tecnologia e na técnica
da repressão. Suas agências
são uma escola do imperia-
lismo para formar uma po-
lícia que, como bem disse
Marcos do Val, não seja trei-
nada pelos governos nacio-
nais, por piores que esses
sejam, mas sim que tenham
seus comandantes mais des-
tacados financeiramente e
doutrinariamente ligados
ao Estado policialesco de
Israel.
A Black Cube coleciona
uma quantidade extraordi-
nária de crimes em sua fi-
cha. Entre eles, está a acu-
sação, feita pela revista
New Yorker, de ter espio-
nado assessores de Barack
Obama a mando de Donald
Trump, e de ter, segundo a
revista Politico, usado iden-
tidades falsas para extrair
confissões de delitos su-
postamente causados por
pessoas ligadas a George
Soros, interferindo nas elei-
ções presidenciais húngaras
em favor do direitista Vik-
tor Orbán. A integração do
Black Cube ao próprio Es-
tado de Israel é tão grande
que Vivian Bercovici, o ex-
-embaixador de Israel no
Canadá, trabalhou na agên-
cia de espionagem.
No caso da Vale, o méto-
do foi muito semelhante ao
que foi feito na Hungria. A
revista Piauí descreve, com
uma riqueza de detalhes,
como foi feita a operação.
Segundo a revista, a Black
Cube criou uma empresa fal-
sa — a Mersus — para asse-
diar altos executivos da Vale,
em reuniões gravadas, ten-
tando obter uma confissão.
Os encontros teriam sido re-
gados a muito luxo e viagens
internacionais.
Fica evidente que a espio-
nagem se deu, no mínimo,
por um acordo junto ao es-
critório de Walfrido Warde.
Se ele não estiver contratado
diretamente a Black Cube,
no mínimo sabia do que se
tratava e orientou Sérgio
Moro, que prestou o servi-
ço para o escritório em fa-
vor de Steinmetz, a fazer uso
dos relatórios clandestinos.
Afinal, a principal“prova”no
parecer do ex-juiz seriam as
tais “entrevistas”.
O método sujo é muito
semelhante ao que foi feito
na Operação Lava Jato: “de-
lações premiadas”que eram,
na verdade, uma forma de
legalização da tortura, na
medida em que as pessoas
eram presas previamente
e só saíam quando diziam
exatamente o que o juiz que-
ria, conduções coercitivas
como forma de aterrorizar
as figuras que estavam sen-
do perseguidas pelo regime
e até mesmo grampos e gra-
vações ilegais.Vale destaque
a divulgação completamente
ilegal de conversas envol-
vendo a então presidenta
Um empresário de grande
importância para o regime
político. E não é para me-
nos: ele organizou a defe-
sa de um dos homens mais
poderosos de todo o Estado
de Israel e está associado à
principal figura da Lava Jato
no Brasil, o próprio Sérgio
Moro.
As relações de Warde
com o imperialismo já fo-
ram assunto de várias outras
investigações na imprensa
do PCO. Em seu instituto, o
Instituto para Reforma das
Relações entre Estado e Em-
presa (IREE), Warde abriga
o general Sérgio Etchego-
yen, ex-ministro do sinis-
tro Gabinete de Segurança
Institucional (GSI), Leandro
Daiello, ex-chefe da Polícia
Federal e Raul Jungmann,
ex-ministro da Defesa de
Michel Temer. Ou seja, é
um velho amigo da Lava
Jato e da espionagem bra-
sileira. Suas ligações com o
imperialismo também são
notórias, como a parceria
que tem com a think tank
Global Americans, que é fi-
nanciada diretamente pelo
fundo de financiamentos da
CIA, o NED.
Chama a atenção que tal
figura seja, ao mesmo tem-
po, admirada, elogiada e in-
timamente ligada a figuras
que se dizem de esquerda.
Guilherme Boulos, pré-can-
didato do PSOL ao governo
de São Paulo, é funcionário
de Warde no IREE e defen-
de o empresário como uma
pessoa “progressista”. Não é
para menos: Boulos é con-
tratado para fazer, infiltrado
na esquerda, exatamente o
mesmo que fazem os parcei-
ros de Warde.
Publicado originalmente no
Diário Causa Operária (DCO).

Liberdade de expressão também é bandeira de judeus de esquerda

Os companheiros do coletivo
Judeus pela Democracia atuam de
forma caluniosa ao acusar o PCO
tanto de antissemitismo quanto
de negacionismo, que dão a en-
tender ser do Holocausto. Esca-
moteiam o debate e o conteúdo
das declarações do presidente do
nosso Partido, Rui Costa Pimen-
ta. Como marxistas, não achamos
algo racional, muito menos aceitá-
vel, ter qualquer tipo de preconcei-
to por razão de raça ou religião. O
caso do negacionismo é também
uma calúnia, o massacre de judeus
ocorreu bem como foi denunciado
pelos comunistas que descobriram
o horror nos campos.
O companheiro Rui foi crista-
lino na sua denúncia de um lobby
pró-Israel e em favor de determi-
nados interesses de capitalistas
judeus que não necessariamente
são israelenses. É inegável que os
capitalistas judeus e israelenses
montaram um poderoso aparato
de propaganda que influencia de
forma decisiva a política norte-a-
mericana.
Acusar um partido de esquerda
de ser antissemita por levantar os
mal-feitos do Estado de Israel e de
capitalistas intimamente ligados
ao imperialismo norte-americano
é um absurdo, ainda que não seja
novo. O líder da esquerda traba-
lhista no Reino Unido está sen-
do perseguido em uma falcatrua
similar.
Se o coletivo Judeus pela De-
mocracia se propõe a defender a
democracia no Brasil e os direitos
do povo, deveria fazê-lo primeiro
por se distanciar da política geno-
cida do Estado de Israel, depois
por distanciar-se dos fortes interes-
ses capitalistas envolvidos. Con-
fundir intencionalmente a nossa
crítica a um Estado genocida e a
interesses capitalistas (que, como
interesses capitalistas de qualquer
natureza, são profundamente ne-
gativos) com um negacionismo do
Holocausto e um preconceito por
razões étnico-religiosas acaba por
fazer justamente o contrário.
A nota é mais um triste capítulo
da reação de setores de esquerda
às nossas declarações defendendo
a liberdade de expressão e cons-
ciência. É importante lembrar que
somos defensores intransigentes
da liberdade de expressão, cons-
ciência e religiosa, bandeiras que
são muito caras a vários judeus
de esquerda como bem lembrou o
jornalista judeu Glenn Greenwald,
que tem posição bastante similar à
nossa. Sabemos que pessoas per-
seguidas sempre foram as maio-
res defensoras dos direitos, é triste
ver que entidades representantes
dos judeus tenham esquecido o
passado recente deste povo e esta
bandeira histórica.

Mostrando e discutindo o que

aconteceu e o que vai acontecer
O programa que traz os principais
às 9h
temas para toda a imprensa do
Partido da Causa Operária
 21 A 27 DE FEVEREIRO DE 2022 A7

ECONOMIA POLÍTICA

Com R$90,5 bi de lucro, banqueiros

têm o melhor ano desde 2006
Derrocada econômica do País desencadeia rapina explícita e reforça necessidade de estatização dos bancos

Os quatro maiores ban-
cos privados do Brasil acu-
mularam em 2021, R$90,5
bilhões de lucro combinado.
O resultado é 38,4% superior
ao lucro auferido em 2020,
auge da crise impulsionada
pela pandemia, quando Bra-
desco, Itaú, Banco do Bra-
sil e Santander obtiveram
ganhos líquidos de R$65,4
bilhões.
Segundo o balanço divul-
gado pelas principais insti-
tuições financeiras listadas
na bolsa de valores de São
Paulo, Itaú ganhou mais de
R$26,88 bilhões no ano pas-
sado, seguido pelo Bradesco
(R$26,22 bi), Banco do Brasil
(R$21,02 bi) e finalmente o
Santander (R$16,35 bi). A
carteira de crédito dessas
empresas cresceu 11,7%
em 2021, superando R$2,3
trilhões. Ao todo, segundo a
Federação Brasileira de Ban-
cos (Febraban), o mercado
de crédito nacional subiu
16,5% no último ano, supe-
rando R$4,68 trilhões.
Malandragem
É preciso considerar
também que para efeitos
de balanço, os bancos tra-
dicionalmente usam de uma
malandragem contábil que
implica em alocar recursos
para as chamadas“provisões
para devedores duvidosos”
(PDD), o que reduz artificial-
mente os lucros. Esta ope-
ração serve para criação de
uma reserva, em casos de
inadimplência. Ocorre que
o chamado spread bancá-
rio, a diferença entre o custo
do crédito e a taxa cobra-
da para os empréstimos, já
considera a inadimplência
(2,3% segundo o Panorama
de Crédito divulgado pela
Febraban no último mês de
dezembro) em seu cálculo,
e que terminam pagos pe-
los devedores adimplentes.
Mais concretamente,
ao longo de 2021, as PDDs
consumiram R$51 bilhões
("Bancos veem ano menos
animador", Por Álvaro Cam-
pos, Ricardo Bomfim e Cin-
dy Damascen, Valor Econô-
dar o já fabuloso lucro líqui-
do dos setores de ponta do
capitalismo.
No caso específico do
Bradesco, que mobilizou
R$15 bilhões para o PDD
("Lucro de Itaú, Bradesco
e Santander sobe 30% em
2021 e chega a R$69,4 bi-
lhões", Matheus Piovesana
e Altamiro Silva Junior, Es-
tado de S. Paulo, 11/2/2022),
o montante aprovisionado
- e não gasto - implica em
elevação dos lucros supe-
rior a 57,2%. Finalmente,
esse acréscimo eleva os lu-
cros líquidos reais dos qua-
tro maiores bancos brasi-
leiros para impressionantes
R$141,47 bilhões
Faria Lima lulista?
Em matéria de 2011, o jor-
nal golpista O Globo destaca
o tema do lucro dos bancos
durante a era Lula, apre-
sentando o encerramento
do governo do petista como
“fim com um recorde na
área financeira” ("Na Era
Lula, bancos tiveram lucro
recorde de R$ 199 bilhões",
Aguinaldo Novo, O Globo,
04/11/2011). Corrigido pela
inflação do período (2011 a
2022, 82,62% apurado pelo
IPCA), os R$199 bilhões se-
riam equivalentes a R$363,42
bilhões em valores atuais.
Embora seja verdade que
os bancos lucraram muito
durante o período petista,
em um único ano de governo
golpista, o mercado financei-
ro já mordeu quase 40% de
tudo o que ganhou durante
a era Lula. Repetindo-se a
soma do lucro líquido decla-
rado mais o montante aloca-
do a título de PDD em 2020
(R$68 bilhões), durante os
dois anos de período da pan-
demia (metade do governo
Bolsonaro, portanto), apenas
os quatro maiores bancos do
País embolsaram R$274,87
bilhões, 75,63% do total ga-
nho durante o governo Lula,
já corrigido a inflação. Por
fim, um levantamento rea-
lizado pelo sítio Poder 360
(“Grandes bancos listados
na B3 lucram R$ 90,5 bilhões
período entre 2003 a 2010.
A comparação ajuda a
derrubar o mito defendido
pelo ex-sócio de Paulo Gue-
des, o banqueiro Eduardo
Moreira, de que Lula pode
ser aceito pelo setor mais
poderoso da burguesia na-
cional. Além do antagonis-
mo inconciliável entre os in-
teresses desta classe social
e o dos trabalhadores, os
lucros dos banqueiros hoje
superam de maneira expres-
siva os obtidos durante a era
Lula, um argumento tradi-
cional usado para atacar o
ex-presidente pela esquerda.
Estatizar já!
Obtidos na contramão do
restante da economia nacio-
nal, o saldo positivo dos ban-
cos demonstram uma des-
conexão com a atividade
econômica real. Resultado
de um parasitismo explícito,
os lucros dos bancos estão
diretamente ligados à as-
fixia financeira que vive o
País, ocasionado pela políti-
ca de juros altos, defendida
com especial ênfase pelos
setores mais poderosos da
burguesia nacional.
A elevação dos juros bá-
sicos, a Selic (que saiu de 2%
ao ano para 9,25% ao final
de 2021), desencadeou uma
espiral de crescimento do
custo do crédito que levou
os juros comerciais médios
do País a atingirem 33,9%
ao ano. No cartão de crédi-
to, o juro praticado fechou o
mês de dezembro em 349,6%
ao ano, acumulando alta de
21,8 pontos percentuais ao
longo de 2021.
Tais números não deixam
dúvida de que o sistema fi-
nanceiro de conjunto é não
apenas um entrave à ativi-
dade produtiva, mas tam-
bém um fator de escraviza-
ção econômica em massa da
população. Torna-se urgente
uma reforma profunda e ra-
dical no sistema financeiro
nacional.
As organizações de van-
guarda do proletariado bra-
sileiro devem encampar a
luta pela unificação e esta-
Poder360

mico, 14/2/2022). Contudo, em 2021”, Hamilton Ferrari, tização do sistema financei-

como as perdas pela inadim-
plência já encontram-se co-
bertas pelo spread e dado
que os bancos não queima-
rão os bilhões alocados, es-
ses R$51 bilhões não terão
outro destino exceto engor-
15/2/2022) aponta que du-
rante o período pós-golpe,
2016 a 2021, os lucros líqui-
dos dos bancos (sem con-
siderar a manobra contábil
do PDD) acumulam R$434,4
bilhões, 19,53% superior ao
ro nacional. Já submetido a
um monopólio, é imprescin-
dível que os banqueiros se-
jam expropriados e o banco
oriundo do sistema financei-
ro unificado, seja posto sob
o controle operário.
Tema de um debate já an-
tigo entre os economistas
brasileiros, a estatização do
sistema financeiro deve ser
impulsionada, junto a luta
Lucros exorbitantes destoam do resto do País
contra o golpe e por um go- mento nacional, os quais são
verno dos trabalhadores, que resultado do controle ditato-
privilegie o interesse das rial exercido pelos banquei-
massas operárias e elimine ros, que atuam como parcei-
os entraves ao desenvolvi- ros do imperialismo no País.

Inflação atinge maior taxa para janeiro em 6 anos

A inflação nos últimos anos tem
batido recordes, isso não é mera
coincidência, pois o Golpe de 2016,
há 6 anos atrás, devastou a econo-
mia do Brasil e mostra seus resulta-
dos até hoje. A inflação de janeiro já
acumula o valor de 0,54%, a maior
alta de preços para o mês desde o
ano de 2016, isso mostra a que os
golpistas vieram liquidar o povo
brasileiro e todo o seu patrimônio.
A taxa acumulada no ano de
2021 foi de 10,06% em dezembro
para 10,38% em janeiro. A meta de
inflação de 2022 era de 3,5%, com
intervalo de tolerância de 2% a
5%. Observa-se que o ano de 2022
será muito mais penoso para os
trabalhadores, pois tiveram seus
salários arrochados.
O salário mínimo mesmo com
aumento apenas 10%, abaixo da
inflação, também devemos obser-
var o aumento da cesta básica, em
alguns estados chegou a R$713,86,
a conta de luz também aumentou
muito nesse último ano. O aluguel
residencial foi o responsável pela
maior alta de preços em janeiro
contra dezembro, os eletrodomés-
ticos e equipamentos 2,86%, do
mobiliário 2,41% e TV, som e in-
formática 1,38%. Alimentação e
bebidas também pressionaram a
alta do IPCA em janeiro, com va-
riação de 1,11% ao mês.
Segundo o próprio DIEESE,
o salário mínimo para sustentar
uma família segundo o aumento
dos preços é de quase 6 mil reais.
Com essa inflação e o aumento dos
produtos, os trabalhadores estão
amargando fome e miséria.
Esse cenário é consequência di-
reta do golpe de 2016. É a política do
imperialismo para a América Lati-
na: golpe e miséria. É preciso uma
ampla mobilização que coloque em
xeque os golpistas e sua política de
terra arrasada. A única forma de re-
verter isso é pela mobilização por
Fora Bolsonaro e Lula Presidente.
*Matéria originalmente publica-
da no Diário Causa Operária

todo sábado, 16h

A8 21 A 27 DE FEVEREIRO DE 2022

PARTIDO

Levar às ruas a campanha por Lula presidente exército, ou seja, as eleições

brasileiros estão na prática
sobre o controle do Depar-
tamento de Estado dos EUA.
PCO e Comitês retomarão mutirões de rua em todo o País e também no exterior O resultado será os golpis-
tas continuarem assolando
a vida do povo brasileiro.
Em nova pesquisa do É preciso dos comitês
PoderData, Lula lidera as não só uma campanha elei-
intenções de voto para pre- toral, mas travar uma verda-
sidente da República com deira guerra contra o golpe.
40%, enquanto Bolsonaro A militância do PT e os
tem 31%, mostrando, até ativistas de luta de esquerda
mesmo diante dos nada con- devem combater fortemente
fiáveis institutos da burgue- qualquer tentativa direitista
sia, que Lula é o principal de impedir que a luta pela
candidato das eleições. Ou- candidatura Lula não seja
tras pesquisas já apontaram feita nos comitês. E mesmo
vantagem maior, e algumas que esses elementos buro-
chegaram a indicar que Lula cratas consigam dificultar
venceria as eleições no pri- ou impedir a campanha, o
meiro turno. PCO não deixará de fazer
Muitos apoiadores de um amplo trabalho em de-
Lula podem achar que as fesa do candidato que a po-
eleições estão ganhas e que pulação quer.
estamos próximos de nos li- É importante destacar
vrarmos de Bolsonaro. Po- que os comitês não serão
rém, a situação é mais com- essenciais apenas para o pe-
plexa e há um longo e difícil ríodo de eleição. Para ser de
caminho até as eleições. fato um governo de traba-
Lula não é o candidato da lhadores, o governo petista
burguesia. Isso fica eviden- precisará estar apoiado na
te observando a imprensa população. Isto é, em qual-
Tiago Macambira

golpista, que já ensaia uma quer tentativa do imperia-

forte campanha contra Lula
e a constante tentativa de
alavancar uma terceira via.
O ex-presidente aponta
que o governo do PT será na-
cionalista, já deu declarações
abertamente anti-imperia-
listas, como, por exemplo,
quando disse em entrevis-
ta que o Brasil não é quin-
tal dos EUA. Tal posiciona-
mento o isola ainda mais de
uma aliança com a direita. E
aponta a necessidade de uma
aliança com a população.
Para atrapalhar uma
Comitês de luta devem mobilizar a militância para realizar uma verdadeira campanha nas ruas, nos bairros, nas fábricas, universidades, etc
aliança de esquerda em
apoio a Lula, partidos de
esquerda começaram a de-
clarar as suas candidaturas
à presidente, como já fez o
PCB. O PSOL tem coloca-
do inúmeras condições para
apoiar Lula — finalmente,
só estão procurando alguma
desculpa para não apoiar o
PT na presidência.
Lula só chegará à presi-
dência e se manterá no po-
der apoiado na mobilização
popular. Ciente disso, o Co-
mitê Central Nacional do
Partido da Causa Operária,
reunido nos dias 12 e 13 de
fevereiro, decidiu retomar a
campanha de rua por Lula
Presidente. Ou seja, o Partido
decidiu que formar comitês,
fazer mutirões, organizar um
verdadeiro trabalho de mobi-
lização, produzir milhões de
adesivos, cartazes, jornais e
outros materiais em apoio
a candidatura de Lula será
uma das principais ativida-
des do PCO no próximo pe-
ríodo. Sem isso, a candidatu-
ra de Lula tende ao fracasso.
A burguesia busca em-
placar algum de seus pa-
rasitas profissionais: Ciro,
Moro, Doria, Bolsonaro.
Para isso, o esquema do gol-
pe já está montado. O TSE
está sob controle do lava-ja-
tista Edson Fachin; durante
as eleições, estará nas mãos
do ministro do golpe Ale-
xandre de Moraes; as urnas
foram fabricadas por uma
empresa ligada ao Podemos,
partido de Sérgio Moro, e ao
PSDB; e a parte técnica da
eleição será controlada pelo
lismo e da direita contra o
governo, a população pre-
cisa ser rapidamente mo-
bilizada e os comitês são o
melhor caminho para a or-
ganização das mobilizações
populares.
É hora de ir aos bairros,
às fábricas, às escolas e uni-
versidades, aos terminais
do transporte público para
conversar com os trabalha-
dores sobre o risco de Lula
não ganhar as eleições e da
necessidade de uma ampla
mobilização.

O PCO é um “assassino de falsas reputações” Costa Pimenta respondeu a uma

O presidente do Partido da Cau-
sa Operária, Rui Costa Pimenta,
em sua esperada Análise Política,
programa transmitido pela TV 247,
e também simultaneamente pela
COTV, fez, na terça-feira, 15 de fe-
vereiro, mais um debate sobre o
problema da liberdade de expres-
são, entre outros temas.
Logo de início, Rui Pimenta foi
confrontado pelo apresentador do
programa Leonardo Attuch com
uma polêmica. Uma nota emitida
por entidades judaicas autodeno-
minadas progressistas o acusam
de “antissemitismo”, com base no
que foi dito na Análise Política da
Semana, veiculada no sábado, 12
de fevereiro, na COTV.
“Eu acho essa nota totalmente
absurda… Como poderia um par-
tido de esquerda ser negacionis-
ta do Holocausto?”, disse Rui ao
mesmo tempo em que enumerou
vários argumentos para justificar
sua posição a respeito. Segundo
ele, o PCO é um partido de es-
querda com 40 anos de militância
pela liberdade de expressão, pela
liberdade religiosa e pela defe-
sa radical de todas as reivindica-
ções democráticas. Além disso,
reafirmou que o PCO é um partido
marxista, trotskista, e os próprios
Marx e Trótski foram judeus. “O
clima que se abriu com o caso do
Monark, esse clima de histeria, é
que leva a isso. E isso é um abuso”,
analisou Rui Costa Pimenta. “Se
a coisa continuar assim, nós não
vamos poder discutir mais nada.
E a coisa está indo assim mesmo”,
acrescentou, em tempo que citou
passagens da análise de sábado,
dia 12, quando fez uma explana-
ção quanto aos conflitos entre o
Estado de Israel e os árabes e pa-
lestinos, onde também pontuou a
existência de um poderoso lobby
da burguesia judaica dos Estados
Unidos e dos demais países asso-
ciados ao imperialismo.
Na sequência, o tema do pro-
grama seguiu pela defesa do pre-
sidente do PCO quanto a outras
acusações de que tem sido alvo,
como racismo, homofobia, misogi-
nia etc. ”Essa ideologia possui um
fundo fortemente totalitário”, disse
Rui se referindo ao identitarismo.
“Eu acho que é a comprovação do
problema que tem essa ideologia,
que a gente poderia dizer, não só
identitária. Nos Estados Unidos,
ela vem sendo chamada de ideo-
logia Woke, que é um novo tipo de
método de ação para a luta dos ne-
gros, mas que está se espalhando
para um monte de outras coisas”.
”Eu sou a favor da luta do negro”,
disse em outra passagem sobre
o assunto. Nesse sentido, deixa
entrever que a defesa firme da li-
berdade de expressão seria o real
motivo dessas acusações.“O iden-
titarismo é uma espécie de polí-
cia do pensamento.Você não pode
pensar determinadas coisas, senão
você vai ser perseguido”, disse.“E
as organizações identitárias estão
sendo todas financiadas pelo im-
perialismo”, completou.
Quanto à questão da crise Rús-
sia-Ucrânia, Rui teceu vários co-
mentários sobre o desenrolar dos
eventos. “Os países europeus não
apoiaram a operação dos Estados
Unidos, com exceção da Inglater-
ra, por que eles viram nisso daí
um problema muito grave”, pon-
derou. “Temos que lembrar que a
Ucrânia é um país que se aproxi-
ma da Europa dita ocidental. Mais
um pouco e se está na Alemanha.
Depois há problemas econômicos
como o suprimento de gás. Putin
explorou essa brecha entre os dois
imperialismos, Europeu e norte-a-
mericano”, completou.
Outro ponto abordado por Rui
Costa Pimenta diz respeito à po-
sição de Lula quanto à invasão
da igreja do Rosário em Curitiba.
“Achei a posição dele perfeita, exa-
tamente o que eu acho. Não tem
que invadir igreja, tem que respei-
tar a religião dos outros, portanto
tem que respeitar o local onde a
pessoa pratica essa religião, mas o
fato do rapaz ter invadido a igreja
não é também um grande crime,
ele não foi lá pra depredar a igreja,
foi um pequeno erro que pode ser
resolvido com um pedido de des-
culpas sério e honesto. A posição
de Lula nesse sentido é muito boa.
Ele procura manter uma posição
equilibrada em relação ao proble-
ma do identitarismo”, disse.
Questionado sobre mais uma
polêmica que envolve o seu nome
enquanto presidente do PCO como
também contra o seu partido, Rui
pergunta de Attuch sobre as afir-
mações do youtuber Jones Manoel,
que o acusou de ser um “assassino
de reputações” e também quanto
à acusação de que o Partido da
Causa Operária seria financiado
por um milionário árabe.
Quanto à questão do“assassina-
to”de reputações, Rui afirmou que,
“Ele (Jones Manoel) está certo, o
PCO é um ‘assassino de reputações’
mesmo, ele só esqueceu de acres-
centar que nós somos ‘assassinos’
de falsas reputações”. Para exem-
plificar, Rui Pimenta acrescentou:
“O Ciro Gomes quer se apresentar
como sendo mais à esquerda que
Lula. Nós, em certo sentido, 'as-
sassinamos' a reputação dele com
uma série de declarações, análi-
ses etc.”. E continuou: “Aí vem o
Boulos. Ele não quer se apresen-
tar como a esquerda do Lula, ele
acha que é o novo Lula. Mas é fi-
nanciado por dinheiro que vem
diretamente da CIA, NED, Global
Americans, etc. Uma parte expres-
siva de nosso trabalho é liquidar
essas falsas reputações”, afirmou
Rui com mais um exemplo.
A última questão apresentada
durante o programa pedia consi-
derações sobre a decadência ideo-
lógica atual e a decadência da bur-
guesia. “A democracia burguesa,
não a democracia burguesa ideal,
mas a que existe de fato, por exem-
plo, nos Estados Unidos, atravessa
a maior crise de sua história.Veja-
-se que o Partido Republicano foi
liquidado por dentro pelo Trump e
o Partido Democrata, suando mui-
to, ganhou essa eleição com um
candidato tradicional direitista.
Há um esfacelamento desse regi-
me político, uma decadência com-
pleta”, disse Rui.
“Vamos ver o que acontece na
eleição francesa. Macron provavel-
mente vai ganhar, mas nós vamos
ver que a situação vai ficar muito
feia. Na Alemanha nós já estamos
vendo, na Espanha a extrema-di-
reita está ganhando terreno. A bur-
guesia está percebendo que ela
não consegue controlar a situação
através dos métodos pseudo-de-
mocráticos tradicionais. Então ela
está apelando para uma ideologia
antidemocrática”, acrescentou ain-
da para ilustrar suas ponderações.
“Quando as pessoas tiram do
túmulo uma pessoa como Karl Po-
pper, – que diz que não podemos
tolerar os intolerantes – já signi-
fica que a democracia tradicional
está seriamente comprometida. E
a esquerda, como está muito atre-
lada ao imperialismo, entra nesse
negócio anti-democrático”. Nesse
contexto, Rui expôs que a burgue-
sia, com isso tudo, está decretan-
do a falência da democracia; pois
está perdendo o controle do regime
político. E que, após isso, lançaria
mão de um regime de força tipo
fascista, exatamente como ocor-
rido no passado.
Por fim, Rui sugeriu a leitura
do livro “Revolução e Contra Re-
volução, de Leon Trótski, que fala
sobre os acontecimento históri-
cos da Alemanha pré-nazista a fim
de que as pessoas possam obter
um maior conhecimento sobre os
acontecimentos políticos daque-
la época, a qual, em sua opinião,
traz uma clara similaridade com
o momento atual.

Inscreva-se já:
 ANO 43 • Nº 1.201 • 21 A 27 DE FEVEREIRO DE 2022

Comboios da liberdade: ‘sem passaporte, sem vacinas

obrigatórias, liberdade para viajar e liberdade para se reunir’
Mobilizações de caminhoneiros causam pânico em governos da América, Europa e da Oceania, que reagem brutalmente
O primeiro-ministro do
Canadá, Justin Trudeau
(partido Liberal), decretou
estado de emergência no
Canadá no último dia 14. A
medida se deu em virtude
da crise provocada pela mo-
bilização de caminhoneiros,
que organizados nos cha-
mados “Comboios da Li-
berdade”, protestam contra
as medidas repressivas de
cunho sanitário adotadas
pelo governo federal contra
a categoria. Iniciados no dia
28 de janeiro, os comboios
bloquearam acessos do país
aos Estados Unidos, entre
elas a Ponte Embaixador,
que liga a cidade canadense
de Windsor à americana De-
troit, por onde trafegam 10
com o bloqueio, suspende- dards : The ‘Freedom’ Con-
ram as operações de suas voy in Montreal”, Mathieu
fábricas em Detroit. Entre Charbonneau, 16/2/2022).
as montadoras americanas, Paradoxalmente, a maté-
os prejuízos já ultrapassam ria destaca uma “notável
US$988 milhões. ausência do movimento
Apesar das medidas, 8 sindical e outros grupos
mil manifestantes conti- de esquerda”, sem nada a
nuam bloqueando acessos acrescentar sobre razões
na fronteira e na capital para tal, exceto que “preci-
canadense, que tem ruas e samos de uma mobilização
acesso ao parlamento ocu- de massa com os sindicatos
pados e protestos diários, e a esquerda para empurrar
mesmo com a promessa contra a direita populista”.
do governo de abandonar Na revista brasileira Jaco-
as medidas repressivas em bin sobram acusações de
março. tipo ideológica, tais como
“violência da extrema direi-
Repercussão mundial ta canadense”, “movimento
de uma pequena minoria de
As mobilizações de ca- caminhoneiros canadenses
minhoneiros contra o passa- com fortes influências na
REUTERS/Patrick Doyle

mil veículos, transportando porte sanitário rapidamen- extrema direita nacionalista

25% do comércio entre EUA
e Canadá, movimentando
cerca de US$360 milhões
diariamente.
A Lei de Emergência,
que estabelece os parâme-
tros jurídicos ao Estado de
sítio, fora usada nas duas
grandes guerras mundiais.
Em tempos de paz, esta é
a segunda ocasião em toda
a história canadense que o
Estado de sítio é decretado
fora de tempos de guerra.
Com ele o governo federal
dispõe de 30 dias para sus-
pender direitos democrá-
ticos da população cana-
dense, o que já vem sendo
usado para repressão dos
caminhoneiros e diversos
apoiadores da manifesta-
ção.
Antes mesmo do decreto,
a liberação forçada da pon-
te resultou na prisão de 25
manifestantes. Entre os be-
neficiados pela medida, es-
tão empresas imperialistas
como a Ford e Toyota, que
te alastraram-se à Europa e e racista do país”, “teor ra-
Oceania, adotando o nome cista, nacionalista e nega-
comum de “comboios da li- Protesto dos motoristas de caminhão em Ottawa, no Canadá: “não ao passaporte da vacina” cionista das manifestações”
berdade”, evidenciando o (6/2/22).
caráter impopular das medi- dirigiram-se à cidade, che- tros adjetivos do gênero, a festantes orientam-se ideo- Além do apoio a medidas
das repressivas defendidas gando na capital belga no mobilização dos caminho- logicamente pela extrema- repressoras e impopulares,
pelo imperialismo. último dia 14, encontrando a neiros ganha força, espa- -direita. caracterizações como as
Em Wellington, capital entrada da cidade bloquea- lha-se em diversas nações e O blog canadense Fight observadas mais ajudam a
da Nova Zelândia, desde o da pelas autoridades. Na mantém-se com a simpatia Back (hospedado no sítio empurrar o movimento dos
último dia 8, manifestantes França, a polícia reprimiu de apoiadores, igualmente marxist.ca), supostamen- caminhoneiros à direita do
bloqueiam o tráfego da ci- duramente a mobilização, criminalizados no Canadá. te de orientação marxista, que aproximá-los da esquer-
dade e já houve mais 122 com bombas de gás e até O embate entre os gover- além de reforçar denún- da. Em meio à crise, de ca-
prisões em meio às tentati- uso de tanques de guerra nos e os manifestantes dá cias do governo canaden- racterísticas terminais do
vas da polícia neozelande- no centro de Paris, onde 97 nova evidência das tensões se contra os bloqueios do imperialismo, é preciso sen-
sa de desobstruir as ruas. prisões foram efetuadas. políticas, aparecendo aqui Comboio sobre moradores sibilidade da esquerda para
Uma reportagem da emis- Nos EUA, mobilizações entre o setor imperialista “preocupados em deixar um separar as confusões ideo-
sora de TV árabe Al Jazee- similares já começam a se da burguesia e os demais movimento de direita acon- lógicas da ação efetiva do
ra traz uma uma apoiadora organizar na Califórnia. Os segmentos da sociedade, tecer em suas ruas”, indica comboio, que além de sus-
local do movimento, Nicky apoiadores norte-america- especialmente alas empo- (genericamente) um “duplo tentar-se em uma deman-
Booth, reclamando querer nos do movimento de cami- brecidas da pequena bur- padrão” de comportamento da popular, apresenta um
”liberdade”. “Isso signifi- nhoneiros planejam dirigir- guesia (caso de muitos pro- das forças de repressão em grande potencial de acen-
ca”, continua a entrevistada, -se à capital, Washington, prietários de caminhões) e relação aos 30 manifestan- tuar ainda mais a crise do
“sem passaporte, sem vaci- no dia 6 de março. a classe trabalhadora, que tes socialistas que protesta- capitalismo, cujos governos
nas obrigatórias, liberdade resistem a aceitar as medi- vam contra a mobilização se negam a adotar medidas
para viajar e liberdade para Crise terminal das repressivas adotadas a dos caminhoneiros: efetivas de combate à pan-
se reunir”, conclui (14/2/22). título de controle da pan- “Muitos de nossos mi- demia, como a quebra das
Em Bruxelas, mesmo Embora sob fogo pesa- demia. litantes receberam gritos patentes da vacina, e usam a
avisados de que não seriam do da propaganda impe- Imersos em confusão e de apoiadores do comboio pandemia para intensificar
autorizados, cerca de 30 ca- rialista, difamados como diante da falta de iniciativa para que tirassem suas más- a repressão contra o povo
minhoneiros e motoristas nazistas, extremistas e ou- da esquerda, muitos mani- caras”(“Police double stan- trabalhador.

O país mais rico do mundo assalta o mais pobre
Com a tomada do poder no Afe-
ganistão pelo Talibã, em setem-
bro do ano passado, o governo dos
EUA congelou o acesso aos cerca
de US$7 bilhões em títulos, papel
moeda e ouro que o Banco Central
do Afeganistão havia depositado
no banco do Sistema de Reserva
Federal norte-americano em Nova
Iorque. Pressionado pela crescente
crise humanitária no país asiático,
onde estima-se que 23 milhões de
pessoas estejam à beira da miséria
absoluta, o presidente norte-ameri-
cano Joe Biden emitiu uma ordem
presidencial no último dia 11 para
dar um fim a esse impasse. Um fim
em termos.
A ordem de Biden consolidou
os recursos afegãos em uma úni-
ca conta bancária e a ofereceu
para uma inusitada disputa judi-
seriam efetivamente os autores dos
atentados, o que à época ainda não
havia sido determinado.
cial. Segundo reporta o The New Nós estamos agindo de forma res- 5 anos de idade podem morrer Os EUA puniram não apenas
York Times, cerca de 150 famílias ponsável para com requerentes por inanição ou falta de servi- o Talibã, mas todo o povo afegão,
de vítimas dos atentados de 11 de dos EUA que têm exigências que ços básicos. com quase 40 milhões de habitan-
setembro de 2001, que anos atrás eles trouxeram à corte", decla- Em 2001, na época do atentado tes do país, com uma prolongada
venceram um processo contra o rou um oficial norte-americano às Torres Gêmeas em Nova Ior- ocupação militar por um crime que
Talibã e a Al Qaeda, persuadiram à reportagem do portal Axios, que, o Talibã também comandava nunca cometeram. Agora, privam-
a justiça norte-americana a reque- quando questionado sobre o pro- o governo do Afeganistão. Apesar -nos de recursos preciosos sob acu-
rer os recursos afegãos para que cedimento. disso, a organização responsável sação do mesmo crime.
fossem usados no pagamento de A desculpa esfarrapada para pelo ataque em solo norte-ameri- Biden recebeu críticas internas,
indenizações. A ordem presiden- reter os ativos do governo afegão cano foi a Al-Qaeda. Embora am- dentro de seu próprio partido, pela
cial facilitou o processo e pediu e oferecê-los a cidadãos norte-a- bos os grupos tivessem ideologias decisão. Uma figura que se posi-
"gentilmente" para que o juiz en- mericanos se soma aos auxílios similares e possuíssem atividade cionou de forma mais destacada
volvido no caso deixasse que ao que eram enviados constante- no Afeganistão, tratavam-se de or- foi Bernie Sanders, senador à es-
menos metade dos US$7 bilhões mente ao antigo governo do Afe- ganizações distintas. querda dentro do Partido Demo-
fossem enviados a fundos de au- ganistão, que também cessaram A invasão e ocupação militar crata. A medida foi criticada até
xílio à crise humanitária no Afe- após a ascensão do Talibã ao po- do Afeganistão pelos EUA se jus- mesmo por jornais imperialistas
ganistão. A decisão judicial ainda der. O apoio financeiro interna- tificou sob a base de que os talibãs como o britânico The Guardian.
está pendente e deve levar meses, cional representava 40% do PIB se recusaram a extraditar o Osa- Uma porta-voz da chancelaria
mas é certo que US$3,5 bilhões se- do Afeganistão. A crise no país ma Bin Laden, líder da Al-Qaeda, chinesa caracterizou a situação,
rão usados em indenizações. da Ásia Central é tamanha que, e expulsar seu grupo do país. Na acertadamente, como "o país mais
"Nós temos um judiciário inde- de acordo com a UNICEF, até um época, as autoridades afegãs exi- rico do mundo roubando o mais
pendente e um sistema legal aqui. milhão de crianças de entre 0 e giram provas materiais de que eles pobre".

Há uma ditadura narcoterrorista na América Latina e não é a Venezuela

Uma aliança investigativa en-
tre dois órgãos da imprensa co-
lombiana, Cambio e Noticias Uno,
trouxe à tona, no último dia 13,
uma gravação na qual o general
colombiano Jorge Hernando Her-
rera Díaz admitiu ter cooperado
com a organização criminosa Los
Pocillos. Segundo a reportagem, a
organização administra um cor-
redor por onde passam 150 tone-
ladas de cocaína por ano, 15% do
mercado mundial da droga.
O áudio divulgado remete a
uma reunião da 29ª Brigada do
Exército Nacional, realizada em
julho de 2019 na região de Po-
payán. Nela, Herrera Díaz admi-
tiu a seus subalternos que se reu-
nia com os chefes do narcotráfico
na região:
"Caliche era o da parte armada
e o das finanças, Pocillo. Este ho-
mem (Grillo) não está mais lá. Es-
ses dois homens (Pocillo e Caliche)
estão lá, além de Ramiro ou Ra-
mirito, que é da 29ª frente, Pronto.
O ELN está lá. Esses caras, quan-
do eu... irmão, entenda, os caras
continuam lidando com o tráfico
de drogas, continuam cometendo
crimes. Eu me encontro com eles,
eles vêm aqui, eles falam comigo",
relatou o general.
Herrera Díaz ainda se referiu
ao combate que suas tropas tra-
vavam contra as FARC como uma
"guerra" e deixou claro aos outros
oficiais que para "neutralizar essa
estrutura" era preferível matar a
prender os guerrilheiros. Após os
supostos acordos de paz de 2016,
diversos grupos das FARC rompe-
ram com as lideranças capitulado-
ras - muitas das quais acabaram
pagando com a vida pela concilia-
ção - e continuaram a travar uma
luta de guerrilha contra contra a
ditadura colombiana.
A atuação conjunta entre as au-
toridades e grupos criminosos e
paramilitares colombianos já foi
amplamente denunciada pela es-
querda colombiana e latino-ame-
ricana, mas são raras as vezes em
que evidências materiais vêm à
tona. O ministro da Defesa vene-
zuelano, Vladimir Padrino López,
aproveitou a oportunidade para
expor Diego Molano, seu contra-
partida colombiano: "cuide de suas
calamidades internas, consulte as
alianças estratégicas de seu exérci-
to com Los Pocillos para fazer sua
"p*** guerra" e pare de olhar para
os lados", declarou em seu Twitter.
López, em coletiva de impren-
sa no último dia 11, havia relata-
do os recentes êxitos das Forças
Armadas Nacionais Bolivarianas
(FANB) justamente contra grupos
terroristas armados do tráfico de
drogas colombiano, denominados
pelas autoridades venezuelanas
como Tancol. A Venezuela acusa os
grupos paramilitares de sabotarem
a infraestrutura do país.
Tropas da FANB ocuparam 16
campos improvisados que serviram
como bases para os Tancol onde fo-
ram apreendidos veículos, disposi-
tivos explosivos, equipamentos de
comunicação, maquinaria pesada
e até mesmo três aeronaves.
Molano, no início de fevereiro,
havia caracterizado as operações
como "interferência estrangeira"
por conta de um alegado apoio
russo e iraniano às tropas vene-
zuelanas. Molano deveria agra-
decer ao esforço das FANB; sua
reação apenas corrobora as re-
velações sobre o general Herre-
ra Díaz.
O imperialismo acusa o gover-
no chavista de ser uma "ditadu-
ra narcoterrorista". As recentes
revelações, porém, comprovam o
exato oposto: o principal aliado
imperialista na região, o gover-
no direitistas colombiano, é quem
anda de mãos dadas com podero-
sas organizações criminosas, e o
fazem para reprimir a esquerda e
sabotar o país vizinho.
B2 21 A 27 DE FEVEREIRO DE 2022
Abaixo a ditadura contra a população pobre e negra
Contra a PM e todas as forças de repressão, todos à conferência de negros, em março, no Rio de Janeiro
O ano de 2022 demonstra
uma situação de brutal ofen-
siva da burguesia e dos seus
governos golpistas contra o
povo negro e toda a popu-
lação explorada do País. O
que acontece especialmente
no Rio de Janeiro precisa
ser debatido, no caso, a rea-
ção do povo diante da PM.
Neste momento, cente-
nas de milhares de negros
do Rio de Janeiro encon-
tram-se sob um verdadei-
ro Estado de sítio, vivendo
como prisioneiros em suas
casas e bairros. Usando
como pretexto o combate
ao tráfico e amparado por
uma enorme campanha en-
ganosa dos poderosos mo-
nopólios da comunicação,
os governos estão ocupando
militarmente as comunida-
des operárias.
Muito além do que
mostra a imprensa gol-
pista, casas são invadidas
sem ordem judicial, famí-
lias trabalhadoras, mulhe-
res, crianças e homens são
STF faz demagogia com índios,
mas continua defendendo a grilagem
Na semana passada, o
Supremo Tribunal Federal
(STF), através do ministro
Luís Roberto Barroso deter-
minou a suspensão de um
ofício do governo Bolsonaro
que retirava da Fundação
Nacional do Índio (Funai)
a função de proteger o ter-
ritório de áreas não homo-
logadas. Barroso atendeu
o pedido da Apib (Articu-
lação dos Povos Indígenas
do Brasil) e determinou a
suspensão imediata da res-
trição à atuação da Funai
nas áreas homologadas, ou
seja, aquelas que já foram
demarcadas legalmente.
A medida do governo
Bolsonaro, apoiada por
todo o chamado “centrão”,
retirava a proteção da Fu-
nai e defesa dos indígenas
de aproximadamente 1/3 de
todas as terras indígenas no
Brasil que ainda não che-
garam ao final do processo
de homologação e ainda a
metade dos indígenas que
se encontram nessas áreas.
A medida criminosa de
Jair Bolsonaro foi “cassada”
pelo STF. No entanto, o ato
tratou-se mais uma figura-
ção dos ministros. Isso por-
que, na prática, o governo
Bolsonaro já age retirando
qualquer tipo de proteção
dos indígenas nessas áreas
em processo de homologa-
ção. Essas áreas estão to-
talmente desprotegidas e o
que Bolsonaro fez foi ape-
nas tentar institucionalizar
essa política e favorecer a
grilagem de terras.
Isso porque em 2020, o
presidente da Fundação
Nacional do Índio (Funai),
delegado da Polícia Fede-
Leia a cobertura e as principais
notícias todos os dias no
desrespeitados, ameaça-
dos, agredidos, roubados e
até submetidos a torturas,
como vem denunciando mo-
radores e organizações po-
pulares do Rio de Janeiro.
A imprensa e os governos
ocultam que toda esta vio-
lência, contra a população
operária e negra dessas co-
munidades, está destinada a
garantir os interesses de um
punhado de grandes capi-
talistas, que buscam lucrar
milhões com a especulação
imobiliária e os grandes ne-
gócios da burguesia.
A propaganda e os dis-
cursos de governantes, e
políticos à serviço dos ca-
pitalistas, escondem tam-
bém que toda essa repres-
são contra a população visa
tentar impedir as evidentes
tendências do povo negro
e trabalhador de se rebelar
contra a situação, como já
o demonstram os inúmeros
vídeos do povo em confron-
to com a polícia. Está em
marcha um recrudescimen-
to da repressão que lembra
os anos sinistros do regime
militar e a população negra
encontra-se na primeira li-
nha das vítimas desta ofen-
siva. A violência e o regime
ra,l Marcelo Xavier, emitiu
a Instrução Normativa nº
9/2020. Essa normativa al-
tera o regime de emissão
do documento chamado
“Declaração de Reconheci-
mento de Limites” e a Funai
certifica imóveis e até mes-
mo de posses (ocupações
sem escritura pública) que
estão em terras indígenas
em processo de demarca-
ção e que ainda não foram
homologadas. Ou seja, le-
galizando e incentivando
o processo de grilagem de
terras. A medida é tão ab-
surda que a “Declaração de
Reconhecimento de Limites
da propriedade privada”po-
derá ser emitida até mesmo
em terras indígenas com a
presença de índios isolados.
A medida do STF em
“cassar” o ofício apresen-
tado pelo governo de Jair
Bolsonaro é apenas uma fi-
guração porque na prática
isso ocorre em larga escala
sob o silêncio e cumplicida-
de do STF.
Esse silêncio não é ca-
sual, porque está claro que
o STF é aliado dos latifun-
diários e essa afirmação
é corroborada na votação
da chamada Tese do Marco
Temporal. A tese é basea-
da numa decisão do pró-
prio STF feita em 2009. Na
época, para demarcar a Ter-
ra Indígena Raposa Serra
do Sol, em Roraima, o STF
utilizou a premissa de que
as pessoas já lutavam por
aquela terra desde a pro-
mulgação da Constituição
Federal, em 5 de outubro
de 1988, e, portanto, a ter-
ra deveria ser demarcada.
Essa decisão, assim como
já era esperado do STF,
teve um porém: como vale
para uma terra demarcada,
isso deve valer para todas.
Desde quando foi adotada
a decisão, diversos latifun-
de verdadeiro apartheid so-
cial contra o povo negro é
visível, e está aprofundan-
do-se à medida que a direi-
ta golpista se estabiliza no
poder.
A cassação dos direi-
tos da população negra e
trabalhadora é uma ampla
realidade em todo o País.
Além do Estado de sítio
nas comunidades negras
do Rio e em outras capi-
tais, há a tentativa de cas-
sar o direito às greves em
diversas categorias ope-
rárias e a violenta repres-
são contra os movimentos
de luta, como os sem ter-
ra e sem teto. Estes e mui-
tos outros casos mostram
a necessidade da aliança
na luta de todos os setores
explorados da população,
operários, negros, jovens e
mulheres para por fim ao
regime de dominação da
burguesia golpista.
O povo já deu demons-
tração suficiente de que
está disposto a enfrentar
a opressão do Estado. Não
é a primeira vez e nem será
a última que a população
enfrenta a PM. Com paus
e pedras enfrentam cavei-
rões, fuzis, granadas, ar-
diários entraram na justiça
para aplicar o mesmo crité-
rio em outros casos de de-
marcação de terras — tudo
isso baseado em uma deci-
são do STF, que, a bem da
verdade, não está baseada
na Constituição.
No ano passado, o STF
adiou várias vezes a vota-
ção da tese do Marco Tem-
poral para beneficiar o la-
tifúndio. Enquanto o STF
não vota e empurra essa
decisão para posteridade,
os latifundiários estão in-
vadindo as terras indíge-
nas com essa possibilidade
de legalização da grilagem
e aumentando a violência
contra os indígenas e ainda
ganham tempo para mano-
brar no Congresso Nacio-
nal, dominado pelos lati-
fundiários, e articularem
novas propostas para vali-
dar o Marco Temporal.
No início deste ano, o
presidente do STF (Supre-
mo Tribunal Federal), Luiz
Fux, empurrou a votação do
Marco Temporal para o final
de sua presidência, em ju-
nho. Essa medida contras-
ta e mostra que a medida
adotada “contra” o governo
Bolsonaro é apenas figura-
ção, pois aquilo que é ver-
dadeiramente importante, o
STF não quer votar de ma-
neira nenhuma, empurran-
do para sabe-se lá quando a
decisão do Marco Temporal.
Um verdadeiro golpe.
Essa posição do STF
deixa claro que a Suprema
Corte não tem interesse em
defender os indígenas; ao
contrário, manobram siste-
maticamente para apoiar a
grilagem de terras, e na vo-
tação mais importante para
os indígenas no período re-
cente, o STF se recusa a vo-
tar e isso incentiva a grila-
gem e a violência contra os
povos indígenas.
mas automáticas, enfi m,
todo o aparato da burgue-
sia para estrangular a re-
volta do negro.
O Coletivo de Negros
João Cândido (Negros do
Partido da Causa Operá-
ria) coloca-se ao lado dos
negros e de toda a popula-
ção explorada, e por meio
de sua Conferência, a ser
realizada nos dias 19 e 20
de março, no Rio de Janeiro,
vai apontar para a necessi-
dade de organizar, bairro a
bairro, a luta do negro con-
tra a repressão da polícia e
pelos direitos fundamentais
do povo.
A esquerda pequeno bur-
guesa está acostumada a
"chorar", "lamentar" e "pedir
justiça", a falar que "vidas
negras importam". Chega! É
preciso lutar, fazer alguma
coisa contra a ditadura da
burguesia diante do povo
sofrido, diante do povo tra-
Divulgação
balhador carioca.
É preciso apontar o ca-
minho, apresentar um pro-
grama de luta e organizar a
população em torno daquilo
que é fundamental, no caso
das favelas do Rio, a expul-
são de todas as forças re-
pressivas, de todas favelas e
Esquerda abandona a juventude
e defende o passaporte vacinal
Na última sexta-feira
(11), foi publicada uma nota
de repúdio, assinada por
1.184 advogados, a exigên-
cia do comprovante de va-
cinação contra a COVID-19
na volta às aulas presenciais
nas universidades públicas
do País. Segundo o grupo
de advogados, denomina-
dos Advogados de Direita
do Brasil, o “passaporte sa-
nitário”, como é chamado
o documento, é um ataque
aos direitos fundamentais
dos estudantes.
Sobre os acontecimen-
tos em torno da nota, é im-
portante esclarecer que o
impedimento da entrada e
circulação de pessoas não
vacinadas nas universida-
des públicas do País é uma
medida definitivamente au-
toritária contra a população.
A vacinação da popula-
ção contra o vírus não é, e
nem deveria ser, politica-
mente, considerando reco-
mendações de políticas pú-
blicas de saúde, uma ação
de caráter autoritário, en-
tão, não tem caráter de obri-
gatoriedade. Para além dis-
so, o passaporte sanitário é
uma ação que interfere dire-
tamente no desenvolvimen-
to do estudante, na medida
em que impede o seu direito
democrático de ingresso à
universidade. Por fim, aca-
ba sendo uma medida que
favorece à direita, no senti-
do de esvaziamento da uni-
versidade e da escola, pois
pela lógica, o passaporte se
estenderia também às esco-
las, vetando a presença de
crianças no ensino básico.
Alguns grupos da es-
querda, seguindo a políti-
ca da burguesia e da direita,
argumentam que, se todos
que circulam no local esti-
verem vacinados, não ha-
veria contágio e podería-
mos, então, retomar todas
as atividades normalmen-
te num futuro próximo. A
própria experiência prática
demonstra que isso não se
confirma, pois, a vacina não
Conferência debaterá luta real do povo negro
bairros operários. Isso deve
ser feito diariamente, por
meio de uma imprensa do
povo, por meio de reuniões e
assembleias populares que
impede a contaminação,
mas faz com que o vírus se
manifeste de maneira mais
branda. Não é à toa que o
Brasil bate novos recordes
de contaminação e subno-
tificações no início de 2022.
Nesse sentido, por que, en-
tão, barrar pessoas não va-
cinadas se o risco àqueles
vacinados será exatamen-
te na mesma proporção, ou
menor, do que risco que elas
correm no dia a dia nos ba-
res, nas festas e no trans-
porte coletivo?
De certo, é preciso desta-
car que o interesse concreto
dos advogados direitistas
que assinaram a nota, não
é garantir os “direitos fun-
damentais” daqueles estu-
dantes. O objetivo é, no fim
das contas, jogar a esquer-
da dentro de uma armadi-
lha que leva a uma gran-
de confusão sobre o tema.
Desse modo, é possível en-
tender que, enquanto a di-
reita aproveita para fazer
demagogia, os trabalhado-
res entram em conflito com
o posicionamento confuso
e autoritário de grupos da
esquerda, e com setores que
deveriam se posicionar de
maneira progressista, como
a universidade. Essa dema-
gogia direitista, por fim,
acaba cooptando setores
da população e nesse caso
dos estudantes.
Desde o início da pan-
demia, os empresários e a
direita vêm exercendo uma
pressão imensa para que as
aulas, nos setores públicos
e privados, pudessem conti-
nuar a qualquer custo, pois
o que lhes interessava era o
lucro acima de toda e qual-
quer situação. Desse modo,
tivemos durante quase todo
2020, e todo o ano de 2021,
um sistema precário de edu-
cação, no qual os mais pre-
judicados foram os filhos
da classe trabalhadora, que
ficaram sem aulas no setor
público.
O mito do EAD entrou
em vigor financiado por
possam colocar em marcha,
finalmente, um movimento
negro, combativo, indepen-
dente da burguesia e dos ca-
pitalistas internacionais.
grandes empresários da
educação, apenas para ga-
rantir o lucro com algo que
“acontecia” a duras penas,
e abandonaram completa-
mente os estudantes. Diante
da situação, a União Nacio-
nal dos Estudantes (UNE)
e a União Brasileira dos
Estudantes Secundaristas
(UBES) foram cooptados
pela lógica empresarial,
e manifestaram apoio ao
EAD. Nos setores privados
a educação a distância não
funcionou, pois não houve
recursos tecnológicos e vir-
tuais suficientes para isso,
quem dirá na esfera públi-
ca, onde não havia celula-
res, internet e alimentação
para os estudantes, depen-
dentes da estrutura física
da escola. Em matéria nes-
te Diário, expusemos que
a vontade de grande parte
dos estudantes do setor pú-
blico era o cancelamento do
ano letivo.
A esquerda, portanto,
está se posicionando sobre
a questão de uma maneira
equivocada, sendo levados,
mais uma vez, pelos interes-
ses da burguesia. A univer-
sidade pública deveria ser
um lugar capaz de propor-
cionar um grande debate
político organizado da es-
querda em torno da vaci-
nação, pois é o lugar que
concentra grandes especia-
listas e estudos. No entanto,
alguns grupos, agindo de
maneira autoritária, afasta
a população da universida-
de, anulando exatamente
aquilo que ela teria condi-
ções de fornecer.
A nota dos advogados
direitistas termina sendo
uma maneira concreta de
cooptar a juventude e, de
fato, afastá-los da universi-
dade, e de um debate sério
sobre a pandemia organi-
zado por setores progres-
sistas. Como medida au-
toritária, o passaporte da
vacina nas universidades
deve ser repudiado por toda
a esquerda.

TCU libera entrega
da Eletrobrás
Os “ilustres” senhores mi-
nistros do Tribunal de Con-
tas da União (TCU) que de
pés juntos juram defender
os interesses nacionais e ze-
lar pelas contas públicas,
acabam de votar a favor da
entrega de um dos mais im-
portantes patrimônios do
País, a Eletrobrás.
Em sintonia com a bur-
guesia e seus governos, que
levam adiante uma política
de ataque e liquidação do
patrimônio público, o TCU
deu aval à “venda” (leia-se,
entrega) da estatal de ener-
gia. Foram 6 votos a favor e
somente 1 contra. A posição
adotada pelo TCU é a prova
cabal de que somente a mo-
bilização e a luta organizada
dos trabalhadores é capaz de
impor uma derrota aos pla-
nos sinistros do governo e do
congresso contra o interesse
nacional.
GO: Greve em
defesa do piso
salarial do
magistério
No município de Valpa-
raíso de Goiás, cidade que
faz parte do entorno do DF,
os servidores da educação
realizaram, na terça-feira
(15), uma paralisação geral
para exigir o pagamento do
reajuste no piso salarial do
magistério. Os manifestantes
cobraram ainda a abertura
de diálogo com a prefeitura
local para discutir a campa-
nha salarial da categoria e
tratar do déficit no quadro
de pessoal da rede pública
de ensino.
Como determina a Lei
nº 11.738/2008, “o piso sala-
rial profissional nacional do
magistério público da educa-
ção básica será atualizado,
anualmente, no mês de janei-
ro”. No entanto, o Sindicato
dos Servidores Públicos e
Empresas Públicas Munici-
pais de Valparaíso de Goiás
(SINDSEPEM/VAL) denun-
ciam que o reajuste ainda
não foi repassado à catego-
ria. Trata-se de mais um ata-
que dos golpistas contra o
direito do magistério nacio-
nal, que luta em todo o País
pela imediata instituição do
piso nacional da categoria,
recentemente sancionado e
agora com força de lei.
CE: Justiça ataca
direito de greve
Para defender os interes-
ses da prefeitura de Maraca-
naú, cidade do Ceará, cujo
atual prefeito é Roberto Soa-
res Pessoa (PSDB), a Justiça
do município, antes mesmo
do início da greve de profes-
sores que se daria a partir do
dia 16, declarou a ilegalidade
do movimento, estipulando
inclusive uma multa diária
de R$2 mil.
É assim, portanto, que
atua a justiça do Estado.
Quando se trata da defesa
dos direitos dos trabalhado-
res, como o direito à greve,
não há qualquer legalidade.
Aqui, no presente caso, a de-
sembargadora que tratou do
caso agiu rápido e antecipou
o golpe, decretando o caráter
ilegal da greve, ou seja, vio-
lando um dieito previsto na
Constituição Federal.
com Antônio Carlos Silva
21 A 27 DE FEVEREIRO DE 2022 B3
Fascismo de carne e osso precisa ser
enfrentado pelo movimento operário
Pistoleiros tentam matar liderança camponesa e executam seu filho de apenas nove anos
Em um ato de selvage-
ria fascista, na noite do
último dia 10, o pequeno
Jonatas de Oliveira dos
Santos, de apenas 9 anos,
foi brutalmente executado
a tiros, na frente dos pais,
no município de Barrei-
ros, Zona da Mata Sul de
Pernambuco.
Selvageria
O ato bárbaro ocorreu
no Engenho Roncadorzi-
nho, onde moram mais de
60 famílias, há mais de 40
anos, após a falência das
usinas onde os moradores
trabalhavam. O Engenho
foi propriedade da Usina
Central Barreiros, atual-
mente uma Massa Falida
sob administração do Po-
der Judiciário. Hoje abri-
ga mais de 400 pessoas,
150 delas são crianças.
O assassinato ocor-
reu por volta das 21 ho-
ras, quando sete homens
encapuzados e armados
invadiram a casa do pre- Pernambuco: Geovane da Silva Santos foi ferido no ombro por um tiro. Seu filho, Jonatas, foi morto enquanto se escondia
sidente da Associação do
Agricultores do Engenho o execução cruel de uma nação das fontes de água de verdade, que não são o direito de se defenderem
Rocandorzinho, Geovane criança“. e cacimbas do imóvel por atingidos por “idéias” ou de ações criminosas como
da Silva Santos. Segundo A Fetape e a CPT tam- meio da aplicação direcio- palavras, mas por balas as de Barretos.
relatos da mãe do menino bém denunciaram que há nada e criminosa de agro- de verdade. É absurdo que a CUT,
à CPT (Comissão Pasto- relatos sobre ataques an- tóxico de alta toxidade“. Contra essa face real, o MST e as organizações
ral da Terra), os facínoras teriores, e apontam que criminosa, do nazismo não que se reivindicam defen-
atiraram primeiro no ho- “a família e a comunidade Autodefesa já! se vê nenhuma disposição soras dos direitos dos tra-
mem. A mãe e o filho se estão aterrorizadas e em de luta. Pelo contrário, até balhadores não se colo-
esconderam embaixo da estado de choque“, como Enquanto setores da mesmo os atos pelo fim do quem na linha de frente
cama, mas os criminosos não poderia ser diferente, esquerda e da burocracia governo fascista, pelo Fora pela organização e mobi-
arrastaram o menino e ati- ante a crueldade do ocor- sindical mergulham na Bolsonaro, foram cance- lização dos trabalhadores
raram na cabeça dele. rido, que – infelizmente – campanha reacionária e lados como resultado da da cidade e do campo con-
A Federação dos Tra- não constitui uma novida- distracionista comandada pressão dos setores da tra a política permanente
balhadores Rurais e Agri- de, mas o modus operandi, pela direita de perseguir esquerda que defendem de massacre dos fascistas
cultores Familiares de das tropas de jagunços e elementos reacionários a frente ampla com a di- de carne e osso contra a
Pernambuco (Fetape) e policiais que atuam no secundários por supos- reita golpista, incluindo os população indefesa.
a Comissão Pastoral da campo na defesa crimi- tas posições nazistas, a representantes das orga- Contra a política rea-
Terra (CPT), divulgaram nosa dos latifundiários, direita fascista, assas- nizações que organizam cionária da direita e dos
nota em que exigem “que grileiros etc. sina pessoas de carne e ou apoiam o massacre no fascistas, é preciso defen-
investigações sejam ime- No caso de Barreiros, osso, continua a massa- campo e na cidade. der o direito à autodefesa
diatamente realizadas“, segundo as denúncias das crar, sem qualquer reação, Os que não defendem armada de todos os tra-
pedindo – de forma um entidades dos trabalhado- sem qualquer campanha a liberdade de expressão balhadores e a criação de
tanto quanto ingênua – res do campo “a violência real da parte das princi- e não se opõem à censura, comitês de autodefesa dos
que se apure se o crime e as ameaças são promo- pais organizações da es- também não se colocam trabalhadores do campo e
tem relação com conflitos vidas por empresas que querda em defesa dos sem na defesa do direito demo- da cidade, bem como mo-
agrários na região, e afir- exploram economica- terra, a população pobre e crático ao armamento de bilizar nas cidades com
mam que “é inadmissível mente a área, com inti- negras das comunidades todo o povo, para que os atos e outras iniciativas
e repugnante a invasão midações, destruição de operárias, os indígenas, trabalhadores do campo e pela punição dos assas-
da casa de uma família e lavouras e com contami- ou seja, os explorados, da cidade possam exercer sinos e seus mandantes.
Greve geral para conquistar o reajuste salarial sários concursos públicos.
Já passou da hora, portanto,
de continuar alimentando qual-
Já se arrasta há meses a tenta- tos públicos ‘EC 95’ etc.) não há dos banqueiros, o que representa quer ilusão na possibilidade de
tiva das entidades representativas sequer previsão orçamentária mais de 50% do orçamento na- uma mesa de negociação com o
dos servidores públicos em abrir para o reajuste dos trabalhado- cional. governo que é, declaradamente,
uma canal de negociação com o res do serviço público, pois o O ministro Paulo Guedes, em inimigo dos servidores, da popu-
governo direitista de Bolsonaro, em presidente direitista, miliciano, mais uma manifestação de puro lação, do serviço público e do País,
torno da recomposição das perdas contemplou somente o segmento cinismo, depois de ser procurado sem que haja um enfrentamento
salariais da categoria, há mais de 5 policial (PF, PRF, DPN) dos ser- para que recebesse os represen- contra sua política de rapina.
anos com os salários congelados, vidores no orçamento de 2022. tantes da categoria, pediu “com- As entidades representativas
ou seja, sem qualquer reposição Para os servidores federais ci- preensão aos sindicatos”. Guedes da categoria devem se lançar à
das perdas causadas pela corrosão vis e aposentados, nenhum tostão, - que já deu inúmeras declara- tarefa de mobilizar os servidores
inflacionária. nenhum centavo foi assegurado ções atacando o funcionalismo e para isso faz-se necessário um
Somente no governo do pre- na peça orçamentária. - ostenta, nesse momento, com o amplo trabalho de agitação e pro-
sidente impostor e fraudulento, Hoje, no Brasil, os federais cinismo que lhe é habitual, a des- paganda em todos os setores, em
os servidores federais acumulam representam um contingente de façatez de oferecer aos servidores todos os órgãos, em toda a admi-
perdas de 19,99%. Isso sem men- 1,257 milhão de trabalhadores um reajuste nos “benefícios”, ou nistração pública, nas três esferas
cionar o acumulado no período das mais diversas áreas. Enquan- seja, ao invés de um percentual de governo. Por jornadas de lutas
anterior, onde os pequenos rea- to não há previsão de reajuste que minimamente recomponha que preparem a categoria para o
justes conquistados (governos pe- para os servidores na Lei Orça- as enormes perdas da categoria, o enfrentamento com o governo;
tistas) mal foram suficientes para mentária, o governo destinou ministro serviçal dos bancos quer por uma greve geral nacional de-
recompor o poder de compra dos R$37,6 bilhões para emendas deixar cair algumas migalhas na flagrada pela maioria dos servi-
aviltados salários da categoria. parlamentares, dos quais R$16,5 mesa dos servidores, propondo dores, discutida e preparada por
Nesse momento, onde os fe- bilhões estão no “orçamento se- “estudos” para reajustar o auxílio plenárias nacionais presenciais,
derais enfrentam a maior ava- creto”. alimentação e o auxílio creche, com apoio da CUT, dos sindicatos
lanche de ataques aos seus di- A Lei também reserva um va- sendo que este último a maioria nacionais, das federações e confe-
reitos e conquistas (PEC 32, lor de R$1,9 trilhão para o refi- dos servidores sequer faz uso, por derações de entidades representa-
terceirizações, privatizações, nanciamento da dívida pública, conta do “envelhecimento” da ca- tivas da luta dos federais nas três
congelamento dos investimen- recursos que vão parar no cofre tegoria, pela ausência dos neces- esferas de governo.
B4 21 A 27 DE FEVEREIRO DE 2022

A SITUAÇÃO MUNDIAL

A influência dos lobbies sionistas na política mundial e todos os seus apoiadores

A política de um setor poderoso da burguesia judaica não combate o fascismo, mas o financia
Uma declaração realizada
por Bruno Aiub, um dos apre-
sentadores do podcast Flow,
abriu um debate no cenário
político brasileiro sobre o“na-
zismo”. Aiub, ou “Monark”,
como é conhecido na internet,
posicionou-se forma favorá-
vel sobre o direito à legali-
zação de um partido nazista
numa discussão abstrata que
teve enquanto entrevistava os
deputados federal Kim Ka-
taguiri (Podemos) e Tabata
Amaral.
O Partido da Causa Ope-
rária imediatamente inse-
riu-se no debate e colocou-
-se não apenas em defesa da
liberdade de expressão como
contra o “cancelamento” e a
perseguição contra Aiub. Co-
nhecido por sua posição direi-
tista, mas radicalmente libe-
ral, Aiub mostrou coerência
em suas ideias, mas foi con-
denado como um “apologis-
ta do nazismo”. O apresenta-
dor declarou reiteradamente
que de forma alguma apoia a
ideologia nazista, mas defen-
de, em tese, a sua organização
política.
A defesa categórica da li-
berdade de expressão pelo
PCO e pelo presidente do
Partido, Rui Costa Pimenta,
atraíram acusações de antis-
semitismo. Ademais, o por-
tal A voz da esquerda judai-
ca publicou uma resposta às
colocações feitas pelo com-
panheiro Rui em sua análi-
se política semanal que foi
ao ar na COTV no último dia
12. Entre outras críticas, ca-
racterizaram a denúncia dos
poderosos lobbies judeus que
atuam na política internacio-
nal como um mote “vulgar e
tradicional”dos antissemitas.
Lobbies em
defesa de Israel
Lobbies são grupos que
representam o interesse de
um determinado setor da so-
ciedade e que atuam de forma
legal nos EUA, e em outros
regimes políticos, para defen-
der tais pautas. Esses grupos
organizam campanhas - os
mais abastados frequente-
mente pagam profissionais
para dedicarem-se especifi-
camente a elas - para pressio-
nar, influenciar e até mesmo
lançar candidaturas políticas
em favor de seus objetivos.
Um dos principais lobbies
políticos no regime norte-a-
mericano é American Israel
Public Affairs Committee,
conhecido como AIPAC. Em
2014, a organização empe-
nhou mais de US$70 milhões
em suas campanhas. Em seu
próprio sítio na internet o
grupo se declara como “bi-
partidário”, ou seja, apoiam
tanto o Partido Democrata
como o Partido Republicano
em defesa dos interesses do
Estado de Israel.
O AIPAC, considerado o
lobby mais poderoso da socie-
dade norte-americana, é tido
por diversos analistas políti-
cos como um fator essencial
na eleição presidencial. Espe-
cula-se que nas últimas déca-
das nenhum presidente dos
EUA tenha sido eleito sem
seu apoio. Uma das evidên-
cias oferecidas como prova
dessa tese são os frequentes
apoios unânimes dos parla-
AIPAC: Comitê para Relações Públicas Americanas e Israelenses
mentares norte-americanos
à causas em favor de Israel.
Em julho de 2014, por
exemplo, o Senado dos EUA
aprovou o apoio militar a Is-
rael em sua ofensiva crimi-
nosa contra a faixa de Gaza.
Posteriormente, em 2017, os
senadores norte-america-
nos aprovaram, novamente
em consenso, uma resolu-
ção que pressionava o então
presidente Donald Trump a
mover a embaixada dos EUA
em Israel de Tel Aviv para
Jerusalém, parte do proje-
to da burguesia israelense
para transformar a cidade -
igualmente sagrada para as
fés cristã, judaica e islâmica
- em capital.
O AIPAC, apesar de ser o
mais poderoso, é apenas um
dos lobbies financiados por
um setor poderoso da bur-
guesia judaica em defesa da
opressão israelense contra
os povos árabes do Oriente
Médio, em especial os pales-
tinos. Se a denúncia dessas
atividades e do Estado de Is-
rael forem consideradas an-
tissemitismo, então a quali-
ficação perde seu valor e se
torna uma mistificação.
Antinazismo farsesco
Os EUA e Israel apoiam,
por exemplo, grupos armados
de extrema direita na Ucrânia
oriundos da ocupação nazis-
ta do país durante a Segun-
da Guerra Mundial. Até hoje
realizam manifestações em
memória de Stepan Bandera,
líder ucraniano que colabo-
rou com a ocupação alemã.
O Estado antinazista, por-
tanto, está relacionado com o
nazismo internacional. Esse
fenômeno é visível também
no apoio a DonaldTrump, que
favoreceu Israel significativa-
mente em seu governo, mas
que, nos EUA, é abertamente
apoiado por grupos suprema-
cistas e abertamente nazistas.
As acusações de antisse-
mitismo, não apenas ao PCO,
mas a outras figuras públicas
e políticas do mundo não pas-
sam de uma farsa. Essas or-
ganizações judaicas utilizam
mal o sofrimento de seu povo
nas mãos do nazismo alemão.
Se a preservação da memó-
ria dos trágicos acontecimen-
tos é perfeitamente legítima
e importante para a huma-
nidade, apoiar-se nisso para
levar adiante uma política an-
tidemocrática e, até mesmo,
genocida, é um abuso.
No Reino Unido, por
exemplo, a principal lideran-
ça da ala esquerda do Partido
Trabalhista, Jeremy Corbyn,
são alvo de uma campanha
caluniosa e de um expurgo.
Corbyn é acusado de antis-
semitismo apenas por defen-
der o povo palestino diante da
opressão israelense.Trata-se
da transformação do antisse-
mitismo numa ferramenta de
perseguição política.
Programa para
a Palestina
A classe operária judaica,
tanto em Israel como no resto
do mundo, não tem participa-
ção nessas campanhas, mas
corre o risco de ser vítima do
colapso dessa estrutura po-
lítica.
O regime político mundial
atravessa uma dura crise o
que leva à tendência de um le-
vante popular árabe não ape-
nas contra o Estado de Israel,
mas contra a população judia
na região.
A melhor oposição contra
essa eventualidade é criticar
os verdadeiros responsáveis
por essa política reacionária.
A formulação do PCO, que
é, tradicionalmente, a posição
marxista sobre o problema, é
contra a defesa de um estado
judeu de caráter confecional
na região. O Partido defende
um estado Palestino, demo-
crático, plurinacional onde
seja respeitada a liberdade
religiosa. Defendemos essa
posição - atacada como an-
tissemitismo por implicar o
fim do estado judaico - para a
conquista da paz entre os po-
vos da região, o que só pode
ser produto do fim da opres-
são do imperialismo norte-a-
mericano na região, do qual
o Estado sionista de Israel é
agente contra todos os povos
da região, inclusive, contra a
classe operária judia.

Impasse na Ucrânia reflui: vitória russa ou imperialista?
No dia 13, a embaixada norte-a-
mericana na Ucrânia publicou em
seu perfil no Twitter fotos de dois
aviões carregados de armamen-
tos enviados pelos EUA à Ucrânia
para “fortalecer suas defesas”. O
carregamento faz parte de um au-
xílio militar avaliado em US$200
milhões para que o exército ucra-
niano consiga lidar com a suposta
ameaça russa.
No dia seguinte, Anthony Blin-
ken, o secretário de Estado norte-
-americano, anunciou a migração
das operações de sua embaixada
em Kiev, capital da Ucrânia, para
Lviv, cidade localizada a 70 km da
fronteira com a Polônia. Segun-
do reportagem do The Wall Street
Journal, a evacuação envolveu a
destruição de todos os computado-
res no local, incluindo“equipamen-
to de rede e estações de trabalho
e o desmantelamento do sistema
de telefone da embaixada”, para
evitar que a Rússia tivesse acesso
a qualquer informação sigilosa du-
rante uma iminente invasão.
A antecipada agressão, porém,
não apenas não concretizou, como
retrocedeu. No último dia 15, vés-
pera da suposta invasão segundo
as agências de inteligência norte-
-americanas, o ministério da De-
fesa russo anunciou o retorno de
suas tropas que realizavam exer-
cícios militares conjuntos com a
Bielorrússia, próximos à frontei-
ra ucraniana. Esse destacamento,
relativamente próximo à Kiev, ha-
via sido usado por Blinken como
justificativa para a evacuação do
corpo diplomático norte-america-
no da capital.
“Conforme as forças comple-
tam seus exercícios militares, elas
irão, como sempre, completar uma
marcha multimodal de volta às
suas bases permanentes”, decla-
rou o Major General Igor Kona-
shenkov, o porta-voz chefe do mi-
nistério, em vídeo divulgado pelas
autoridades russas.
No dia seguinte, mais tropas
russas abandonaram um posto
considerado estratégico para ata-
car o país vizinho. O ministério da
Defesa anunciou o fim dos exer-
cícios militares realizados na Cri-
meia, região anexada pela Rússia
em 2014 na sequência do golpe de
Estado na Ucrânia.
Mesmo assim, os chefes impe-
rialistas mantiveram as provoca-
ções. “Infelizmente há uma dife-
rença entre o que a Rússia diz e o
que faz”, declarou o secretário de
Estado norte-americano em en-
trevista concedida à ABC News
logo após o posicionamento russo.
O secretário-geral da OTAN, Jens
Stoltenberg, ecoou a posição: “a
Rússia se mantém capaz de uma
invasão completa da Ucrânia sem
aviso prévio”.
“O que nós precisamos ver é
uma retirada real das tropas, que
seja duradoura e real, e não que
eles apenas movam as tropas”,
completou Stoltenberg.
As declarações cínicas de am-
bos os porta-vozes do imperialis-
mo demonstram que o perigo de
um conflito com a Rússia ainda
persiste. Com exceção da Bielor-
rússia, que recebeu o exército rus-
so pacificamente em seu território,
a Rússia jamais moveu suas tro-
pas em direção a outro País, nos
tempos atuais. A movimentação
e o recuo militar dentro de suas
fronteiras - totalmente legítimos
- se soma ao constante posiciona-
mento da diplomacia russa e do
presidente Vladimir Putin que rei-
teradamente afirmou que não há
planos de invasão do país vizinho.
Ainda assim, diante de uma
clara iniciativa de resolução do
impasse, o imperialismo mantém
a pressão como se quisesse ditar
onde os russos devem manter suas
tropas dentro de seu próprio ter-
ritório.
A ofensiva, porém, não é unitá-
ria no bloco imperialista. O presi-
dente francês, Emmanuel Macron,
visitou Putin para discutir a crise
e declarou que não havia inten-
ção russa de invadir a Ucrânia.
Olaf Scholz, o premier alemão,
também visitou o líder russo para
buscar um acordo de paz - para
uma guerra que sequer existe -,
mas não mencionou os gasodu-
tos que ligam seus dois países. A
Rússia é responsável por metade
do suprimento de gás natural à
Alemanha o que impõe uma dura
contradição ao país europeu caso
apoie a investida de seus aliados
imperialistas.
As contradições manifestaram-
-se até mesmo no próprio governo
ucraniano, que parece perceber
que está sendo usado como bucha
de canhão para um ataque contra
a Rússia. No dia 13 de fevereiro, a
BBC reportou que o embaixador
ucraniano no Reino Unido decla-
rou que seu país poderia fechar as
portas para a OTAN para evitar
uma guerra.
A declaração foi posterior-
mente retirada após intervenção
do executivo ucraniano, mas, no
dia seguinte, Volodymyr Zelensky
questionou a constante propagan-
da imperialista de uma guerra imi-
nente. “Temos a inteligência da
Ucrânia e eu não acho que ela seja
pior do que a de outros países”, dis-
se o presidente ucraniano em cole-
tiva de imprensa onde questionou
publicamente a informação de que
seu país seria invadido no dia 16.
Ainda é cedo para dar um ve-
redicto, mas caso a Ucrânia efe-
tivamente recuse a integração à
OTAN essa seria uma grande vi-
tória política para a Rússia. Até o
momento, através da ameaça do
uso da força e de uma ampla ati-
vidade diplomática, Putin parece
ter enfrentado a crise de forma
favorável para seu país, contendo
- por hora - a criminosa ofensiva
do imperialismo norte-americano.

Extrema direita
espanhola se fortalece
em eleições locais
No último dia 13, a população
da província de Castela e Leão,
na Espanha, foi às urnas decidir a
nova composição de seu parlamen-
to local. A votação, prevista para
2023, foi antecipada em dezembro
pelo governador local do Partido
Popular (PP) devido a um racha
em sua coalizão com o Cidadãos.
O Partido Socialista Obrero
(PSOE), que havia eleito a maior
bancada de 2019, perdeu sete de-
putados e com o único parlamen-
tar eleito pelo Podemos somam 29
assentos no parlamento. O Cida-
dãos perdeu 11 deputados, restan-
do-lhes apenas um, enquanto o PP
elegeu dois novos deputados para
formar a maior bancada, com 31
parlamentares.
O real vencedor das eleições,
porém, foi o Vox, que deve gover-
nar com o PP. O partido de extrema
direita elegeu 13 parlamentares, 12
a mais que em 2019. O resultado
local é um alerta para a esquerda
espanhola.
Monopólios sabotam
desenvolvimento
de novas vacinas
A empresa sul-africana Afri-
gen Biologics, em parceria com
pesquisadores da Universidade de
Witwatersrand, anunciou no últi-
mo dia 10 que seu processo de en-
genharia reversa da vacina contra
o coronavírus desenvolvida pela
norte-americana Moderna está
próximo de ser concluído. A em-
presa norte-americana, apesar de
ter suspendido suas patentes “ao
longo da pandemia”, se recusou
a oferecer a fórmula de seu medi-
camento e forçou os cientistas a
recriarem a tecnologia que salva
vidas em plena pandemia.
O medicamento, porém, de-
morará a chegar aos hospitais da
África do Sul. Os testes clínicos
devem levar 3 anos, por mais que
sua composição seja idêntica à
vacina já aprovada da Moderna.
Além disso, uma vez aprovada, a
vacina pode ter sua comercializa-
ção proibida caso a empresa nor-
te-americana detecte a violação
de uma de suas patentes.
Golpe no Partido
Trabalhista caminha
para ruptura
O líder trabalhista Jeremy Cor-
byn está próximo de ser impedido
de concorrer nas próximas elei-
ções gerais britânicas. Corbyn
representa o distrito de Islington
North desde 1983, onde possui
grande apoio do eleitorado local.
Ainda assim, segundo reporta o
The Sunday Times, um membro
do alto escalão do Partido Traba-
lhista declarou que consideram a
situação atual “insustentável” e es-
tão determinados “a trazer a ques-
tão à tona”. A direção blairista,
liderada por Keir Starmer, apoia
Mary Creagh como substituta de
Corbyn.
Corbyn está suspenso do parti-
do desde outubro de 2020, quando
foi alvo de acusações caluniosas de
antissemitismo. A situação abriu
uma crise entre os sindicatos, que
majoritariamente apoiam Corbyn,
e o Partido Trabalhista. Caso a can-
didatura de Corbyn seja substituí-
da, a crise pode evoluir para uma
ruptura.
Secretário de Estado
dos EUA organiza
frente contra China
Ao mesmo tempo que impulsio-
nam uma crise no Leste Europeu,
entre Rússia e Ucrânia, as auto-
ridades norte-americanas traba-
lham para desestabilizar relações
estabelecidas entre a China e seus
países vizinhos. No último dia 11,
Antony Blinken visitou a Austrá-
lia para uma reunião do “Quar-
teto”, grupo formado por Japão,
Índia, Austrália e EUA, com obje-
tivo aberto de combater a influên-
cia chinesa na região. De lá via-
jou para Fiji, onde cumpriu uma
agenda destinada a atrair países
vizinhos para sua política de boi-
cote à China.
No retorno aos EUA, Blinken
ainda se encontrou com os se-
cretários de Estado do Japão e
da Coreia do Sul no Havaí para
discutir planos militares para a
região do Pacífico. As autorida-
des chinesas repudiaram a ini-
ciativa. “A Guerra Fria acabou
há muito tempo”, declarou Zhao
Ligina, porta-voz da chancelaria
chinesa.

Apesar de atacado,
o Modernismo triunfou
Nesta quarta parte da
série de artigos dedicados
aos 100 anos da Semana
de Arte Moderna de
1922, analisamos a
repercussão imediata
dos eventos do Teatro
Municipal de São Paulo
na imprensa burguesa e
as perspectivas abertas
pela exposição das obras
dos modernistas
Na manhã seguinte às
conferências pronunciadas
por Mário de Andrade, Gra-
ça Aranha e outros (veja a
edição nº  1.200 de Causa
Operária), no dia 16 de fe-
vereiro de 1922, o jornal O
Estado de S. Paulo publicava
um pequeno artigo comen-
tando o evento:
“Realizou-se ontem no
Teatro Municipal o segun-
do festival da Semana de
Arte Moderna. Uma boa
concorrência, para a qual
certamente contribuiu em
grande parte a inclusão no
programa do nome da nossa
ilustre pianista Guiomar No-
vaes. Iniciou-se o sarau com
a conferência do sr. Menotti
del Picchia. Pouco a pouco,
a atmosfera do teatro foi-
-se transformando com a
colaboração das galerias, a
ponto de lembrar em certos
momentos a famosa noite
de estreia de Tortola Valen-
cia. Talvez isso também esti-
vesse nas intenções dos pro-
motores da reunião, embora
não figurasse no programa.
Espontânea manifestação
da galeria ou claque de novo
gênero, o certo é que as fra-
ses e atitudes menos respei-
tosas atingiram algumas
vezes artistas respeitáveis
pelo seu talento e o seu pas-
sado, que colaboravam no
festival. Mas, para os ‘verda-
deiros modernistas’, o pas-
sado das nações ou dos in-
divíduos não contam... Não
se lhes pode negar, nisso ao
menos, uma certa lógica...”
“Só a senhorita Guiomar
Novaes conseguiu ser ou-
vida em silêncio profundo,
mesmo quando executa-
va esse ‘arcaico musicista’
chamado Debussy, natural-
mente uma perfeita nulida-
de para os que querem ini-
ciar a Nova Era...”
A nota, em tom de ironia,
procurava desmoralizar os
novos artistas, atacando-os
de forma sorrateira e cheia
de insinuações. O artigo no-
ticia que foi realizada a pa-
lestra de Del Picchia, e não
deixa de dizer que a confe-
rência foi vaiada pelo públi-
co, com o comentário mali-
cioso de que “a atmosfera do
teatro foi-se transformando
com a colaboração das ga-
lerias”. A seguir, o jornal da
oligarquia reacionária insi-
nua cinicamente – quando
não fizeram isso - que os
próprios artistas talvez ti-
vessem organizado as vaias
em busca de algum tipo de
efeito publicitário oportunis-
ta: “talvez isso também esti-
vesse nas intenções dos
“
promotores da reunião,
embora não figurasse
no programa”. Ao final
do artigo, maliciosamen-
te o jornal sugere que o
“desrespeito” dos moder-
nistas pelo passado, se
devia provavelmente ao
fato de que eles mesmos
nunca fizeram nada de
valor, eram artistas sem
passado. Ironizando o
repertório tradicional de
Guiomar Novaes, o jor-
nal dá a entender também
que as reivindicações em de-
fesa de uma nova arte não
passariam de puro deboche
dos jovens artistas. A men-
sagem geral que O Estado
de S. Paulo dava aos seus
leitores é que tais artistas
não eram dignos de serem
levados a sério.
Nos dias que se seguiram
ao encerramento da Semana
de Arte Moderna no dia 18,
a imprensa quase nada co-
mentou sobre o evento. Fa-
zia-se um silêncio que não
se devia a outra coisa que a
intenção clara da burguesia
de abafar o evento do Mu-
nicipal, deixá-lo passar des-
percebido. Apesar disso, os
jornais mais conservadores
não conseguiram evitar um
ou outro pequeno ataque aos
artistas. O Estado de S. Pau-
lo foi um dos órgãos a colo-
O músico Heitor Villa-Lobos em 1922
ANO 43 • Nº 1201 • 21 A 27 DE FEVEREIRO DE 2022
car em prática essa estraté- dia 17, revelando que o pú-
gia. Após o ataque publicado blico direitista não se limi-
no dia 16, nos dias seguintes tou a vaiar e a latir contra
o jornal se limitou a publicar o compositor, mas também
pequenas notas debochadas atirou batatas contra ele e
na Seção Livre, dedicada às os demais músicos.
cartas dos leitores. No dia 17 Pouco mais tarde, no dia
o jornal publicava: 22, outro ataque ao músico
“Semana Futurista – O saiu na imprensa, lançando
direito de vaia e de pateada mão, uma vez mais, do argu-
é reconhecido de todos os mento infame de que os mo-
países civilizados. Será que dernistas eram na realidade,
não há mais batatas nesta pessoas mentalmente dese-
terra? Um paulista”. Naque- quilibradas. Oscar Guanaba-
la época, já se manifestavam rino, crítico de arte carioca,
os mesmos cretinos de hoje declarava em Pelo Mundo
em dia que são os seus her- das Artes, folhetim do Jor-
deiros. nal do Comércio publicado
Outra nota, com o mesmo em 22 de fevereiro, que a“em-
teor, foi publicada no dia 18: baixada de arte moderna”,
“Futurismo – Precisa-se que fora enviada do Rio para
de um moço honesto que sai- São Paulo, e entre os quais
ba fazer versos futuristas. estava Villa-Lobos e Ronald
Exige-se atestado de igno- de Carvalho, “não passa de
rância”. uma patacoada, procurando
imitar um grupo de dese-
quilibrados, que, capita-
A Semana de neados por Mallarmé em
Paris, criaram a escola do
Arte Moderna não absurdo com pretensão
apenas apresentou de desbancar a arte que
o modernismo para vem sendo aperfeiçoada
o grande público, como através
dos séculos”.
Esses ataques tive-
conferiu uma nova ram ecos também entre
força aos integrantes os modernistas, que pro-
curaram contra-atacar a
do movimento
campanha venenosa da
direita contra eles. Me-
notti del Picchia, escre-
Mais uma vez, no dia 19, vendo com o pseudônimo
outra nota anônima, de um Helios, respondia aos con-
suposto leito, aparecia im- servadores em termos nada
pressa no jornal: complacentes, a 18 de feve-
“Semana futurista – Fe- reiro, no Correio Paulistano:
lizmente foram vingados os “Com o triunfo de ontem,
brios paulistas. Na última terminou a gloriosa Semana
pagodeira da Semana Futu- de Arte Moderna. Que ficou
rista foi preciso fechar as ga- dela? De pé – germinando – a
lerias para evitar que o pal- grande ideia. Dos vencidos,
co se enchesse de batatas. alguns latidos de cães e ca-
Mesmo, porém, com as ga- carejos de galinhas...”
lerias interditadas, as coisas “Eu jamais supus, da alta
se converteriam em enorme educação do nosso povo,
patetada, se houvessem um que pudesse haver quem
dos tais discursos nefeliba- chegasse a descer à triste
tas e sem nexo como o das condição de um animal para
noites anteriores, a plateia manifestar seu ódio. Essa
estava preparada para os re- humilhante situação, eleita
ceber como mereciam. Na por alguns ‘ratés’, que deram
última noite houve só mú- suas demissões de homens,
sica e não é contra esta que foi bem o estalão da própria
nos revoltamos”. mentalidade”.
Esse último comentá- “De um lado, artistas de
rio se referia claramente às fama diziam versos, recita-
vaias contra Villa-Lobos no vam trechos de prosa, en-
Uma salva de vaias para Villa-Lobos
Na sexta-feira, dia 17 de fevereiro
de 1922, se encerraria a programa-
ção da Semana de Arte Moderna.
Ao contrário do que houve na
segunda e quarta-feira, esperava-se
um dia tranquilo, naquele encerra-
mento, pois ele era totalmente de-
dicado a apresentações musicais.
Um incidente inesperado, porém,
provocou uma nova onda de ataques
e vaias violentas do público.
Nesse dia seriam apresentadas
entre outras coisas, alguns solos
de piano, por Hernani Braga; pe-
ças apresentadas por um Quarte-
to simbólico; uma apresentação de
canto acompanhado ao piano,
com Maria Emma e Lucília Villa-
-Lobos; e um Trio Terceiro, para
violino, violoncelo e piano, que
era a atração principal da noite
e contava, entre os músicos, com
o compositor Heitor Villa-Lobos.
Poucos minutos antes de su-
bir ao palco, Villa-Lobos se deu
conta de que não conseguia cal-
çar um dos sapatos por conta de
um calo infeccionado. Sem saber
como resolver a embrulhada, o
compositor resolveu calçar um
chinelo em um dos pés, e foi as-
sim que ele subiu ao palco do
Municipal.
Quando a audiência viu aque-
Wikipedia
le músico, vestido de fraque e um
pé de chinelo, logo imaginou que
chiam o ambiente de harmo- e autoconfiança, ele pro-
nias. De outro lado, alguns clamava a longevidade do
indivíduos que chegaram a modernismo a despeito dos
envergonhar o gênero hu- ataques da oligarquia. Ao
mano, por dele conservarem contrário do que a leitura
apenas o ‘aspecto’, ladra- dos jornais daria a enten-
vam e cacarejavam”. der, a realização da Semana
“Cães só produzem mor- foi uma imensa vitória do
deduras. Galinhas, ovos. Em grupo modernista perante
vez de pensamentos, ladri- a burguesia paulista. Com
dos. Em lugar de ideias, a Semana, eles romperam
‘omeletes’... Foram esses uma importante barreira de
os que deram por morta a isolamento, que permitira o
causa gloriosa da Reforma. grande desenvolvimento do
É ridículo. Causa pena...” grupo no período seguinte.
No dia 19, Oswald de An- A Semana de Arte Moder-
drade escrevia também no na não apenas apresentou o
Jornal do Comércio, rebaten- modernismo para o grande
do as calúnias: “... já não se público, como conferiu uma
dirá, depois do veredito de nova força aos integrantes do
Graça Aranha, que a poe- movimento. O ano de 1922
sia de Mário de Andrade, a foi, nesse sentido, decisivo.
pintura de Di Cavalcanti, a As iniciativas que se segui-
escultura de Brecheret e a ram ao evento no Municipal
música de Villa-Lobos, são provariam isso: as importan-
casos de excepcionalidade tes publicações modernistas
mórbida ou reclamista. E a surgidas nos meses seguin-
semana de arte moderna virá tes, como a Paulicéia desvai-
mostrar como esses espíritos rada de Mário de Andrade na
de vanguarda são apenas os poesia e Os condenados de
guias de um movimento tão Oswald de Andrade na pro-
sério que é capaz de educar sa; e a organização da pri-
o Brasil e curá-lo do analfa- meira revista do modernismo
betismo letrado em que len- brasileiro, a Klaxon, que or-
tamente vai para trás”. ganizou e manteve ativo ao
Oswald de Andrade esta- longo de todo o ano o núcleo
va correto em seu parecer. central de agitação daquele
Com grande clarividência movimento.
aquilo se tratava de mais uma provo- tantos e tão cabeludos que nesta
cação futurista. O público em revolta semana conseguiram desopilar os
não se conteve e iniciou uma vaia es- nervos do público paulista, que rara-
trepitosa que inviabilizou qualquer mente ri a bandeiras despregadas”.
tentativa do grupo se fazer ouvir Que crítica genial!
naquela apresentação. A esse artigo anônimo, assinado
No transcorrer da Semana, a mú- simplesmente A. F., seguiu-se outro,
sica de Villa-Lobos já havia sido alvo publicado também em A Gazeta no
de mais de um ataque por parte da dia 16. Esse segundo texto atacava
imprensa conservadora. O jornal A especificamente a conferência de
Gazeta, se referindo à apresentação Graça Aranha do dia 13, criticando
do dia 13, publicava que“sons suces- sua reivindicação de liberdade na
sivos sem nexo estão fora da arte arte. O jornalista opinava venenosa-
musical: são ruídos, são estrondos; mente que tudo terminaria em um
palavras sem nexo lógico estão fora enorme vazio. Ele comenta que, pas-
do discurso: são disparates como sado “o período de mania, isto é, de
movimentos desordenados, virá
a fase de prostração e indiferen-
ça, até a imobilidade absoluta,
a mumificação”. Desse modo, a
“Suma Liberdade”, defendida por
Graça Aranha, “viverá cansada,
enfarada”. Essa arte estagnada
iria tristemente se recordar do
“tempo em que, relativamente
tolhida”, ela “bailava dentro de
um círculo luminoso e restrito”. A
tese do jornalista é banal, mostra
que, aqueles que estavam sen-
do pagos para defender a todo
custo o status quo não tinham
qualquer conhecimento aprovei-
tável sobre teoria de arte, como
foi sempre a norma na imprensa
conservadora das classes domi-
nantes e é até hoje.

100 anos da Semana de Arte Moderna
A emoção estética na arte moderna
Graça Aranha
Discurso proferido na
abertura da Semana de
Arte Moderna de 1922
Para muitos de vós a
curiosa e sugestiva expo-
sição que gloriosamente
inauguramos hoje, é uma
aglomeração de “horrores”.
Aquele Gênio supliciado,
aquele homem amarelo,
aquele carnaval alucinante,
aquela paisagem invertida
se não são jogos da fantasia
de artistas zombeteiros, são
seguramente desvairadas in-
terpretações da natureza e
da vida. Não está termina-
do o vosso espanto. Outros
“horrores” vos esperam. Da-
qui a pouco, juntando-se a
esta coleção de disparates,
uma poesia liberta, uma
música extravagante, mas
transcendente, virão revol-
tar aqueles que reagem mo-
vidos pelas forças do Passa-
do. Para estes retardatários
a arte ainda é o Belo.
Nenhum preconceito é
mais perturbador à concep-
ção da arte que o da Bele-
za. Os que imaginam o belo
abstrato são sugestionados
por convenções forjadoras
de entidades e conceitos es-
téticos sobre os quais não
pode haver uma noção exata
e definitiva. Cada um que se
interrogue a si mesmo e res-
ponda que é a beleza? Onde
repousa o critério infalível
do belo? A arte é indepen-
dente deste preconceito. É
outra maravilha que não é
a beleza. É a realização da
nossa integração no Cosmos
pelas emoções derivadas
dos nossos sentidos, vagos
e indefiníveis sentimentos
que nos vêm das formas,
dos sons, das cores, dos ta-
tos, dos sabores e nos levam
à unidade suprema com o
Todo Universal.
Por ela sentimos o Uni-
verso, que a ciência de-
compõe e nos faz somente
conhecer pelos seus fenô-
menos. Por que uma forma,
uma linha, um som, uma cor
nos comovem, nos exaltam
e transportam ao univer-
sal? Eis o mistério da arte,
insolúvel em todos os tem-
pos, porque a arte é eterna
e o homem é por excelên-
cia o animal artista. O sen-
timento religioso pode ser
transmudado, mas o senso
estético permanece inextin-
guível, como o Amor, seu ir-
mão imortal. O Universo e
seus fragmentos são sem-
pre designados por metáfo-
ras e analogias, que fazem
imagens. Ora, esta função
intrínseca do espírito huma-
no mostra como a função
estética, que é a de idear e
imaginar, é essencial à nos-
sa natureza.
A emoção geradora
da arte ou a que esta nos
transmite é tanto mais fun-
da, mais universal quanto
mais artista for o homem,
seu criador, seu intérprete
ou espectador. Cada arte
nos deve comover pelos seus
meios diretos de expressão
e por eles nos arrebatar ao
Infinito.
A pintura nos exaltará,
não pela anedota, que por
acaso ela procure represen-
tar, mas principalmente pe-
los sentimentos vagos e ine-
fáveis que nos vêm da forma
e da cor.
Que importa que o ho-
mem amarelo ou a paisa-
gem louca, ou o Gênio an-
gustiado não sejam o que se
ESPECIAL 100 ANOS DA SEMANA DE ARTE MODERNA DE 1922
chama convencionalmente
reais? O que nos interessa
é a emoção que nos vem
daquelas cores intensas e
surpreendentes, daquelas
formas estranhas, inspira-
doras de imagens e que nos
traduzem o sentimento pa-
tético ou satírico do artis-
ta. Que nos importa que a
música transcendente que
vamos ouvir não seja reali-
zada segundo as fórmulas
consagradas?
O que nos interessa é a
transfiguração de nós mes-
mos pela magia do som, que
exprimirá a arte do músi-
co divino. É na essência
da arte que está a Arte. É
no sentimento vago do In-
finito que está a soberana
emoção artística derivada
do som, da forma e da cor.
Para o artista a natureza é
uma “fuga” perene no Tempo
imaginário. Enquanto para
os outros a natureza é fixa e
eterna, para ele tudo passa
e a Arte é a representação
dessa transformação inces-
sante. Transmitir por ela as
vagas emoções absolutas
vindas dos sentidos e reali-
zar nesta emoção estética a
unidade com o Todo é a su-
prema alegria do espírito.
Se a arte é inseparável, se
cada um de nós é um artista
mesmo rudimentar, porque
é um criador de imagens e
formas subjetivas, a Arte nas
suas manifestações recebe
a influência da cultura do
espírito humano.
Toda a manifestação es-
tética é sempre precedida
de um movimento de ideias
gerais, de um impulso filosó-
fico, e a Filosofia se faz Arte
para se tornar Vida. Na anti-
guidade clássica o surto da
arquitetura e da escultura se
deve não somente ao meio,
ao tempo e à raça, mas prin-
cipalmente à cultura mate-
mática, que era exclusiva e
determinou a ascendência
dessas artes da linha e do
volume. A própria pintura
dessas épocas é um acen-
tuado reflexo da escultura.
No renascimento, em se-
guida à perquirição analítica
da alma humana, que foi a
atividade predominante da
idade média, o humanismo
inspirou a magnífica flora-
ção da pintura, que na figura
humana procurou exprimir
o mistério das almas. Foi de-
pois da filosofia natural do
século XVII que o movimen-
to panteístico se estendeu à
Arte e à Literatura e deu à
Natureza a personificação
que raia na poesia e na pin-
tura da paisagem. Rodin não
teria sido o inovador, que foi
na escultura, se não tivesse
havido a precedência da bio-
logia de Lamarck e Darwin.
O homem de Rodin é o an-
tropoide aperfeiçoado.
E eis chegado o grande
enigma que é o precisar as
origens da sensibilidade na
arte moderna. Este supremo
movimento artístico se ca-
racteriza pelo mais livre e
fecundo subjetivismo. É uma
resultante do extremado in-
dividualismo que vem vindo
na vaga do tempo há quase
dois séculos até se espraiar
em nossa época, de que é fei-
ção avassaladora.
Desde Rousseau o indi-
víduo é a base da estrutura
social. A sociedade é um ato
da livre vontade humana. E
por este conceito se marca
a ascendência filosófica de
Condillac e da sua escola.
O individualismo freme na
revolução francesa e mais
tarde no romantismo e na
revolução social de 1848,
mas a sua libertação não é
definitiva. Esta só veio quan-
do o darwinismo triunfante
desencadeou o espírito hu-
mano das suas pretendidas
origens divinas e revelou o
fundo da natureza e as suas
tramas inexoráveis. O espí-
rito do homem mergulhou
neste insondável abismo
e procurou a essência das
coisas.
O subjetivismo mais livre
e desencantado germinou
em tudo. Cada homem é um
pensamento independente,
cada artista exprimirá livre-
mente, sem compromissos,
a sua interpretação da vida,
a emoção estética que lhe
vem dos seus contatos com
a natureza. E toda a magia
interior do espírito se traduz
na poesia, na música e nas
artes plásticas. Cada um se
julga livre de revelar a natu-
reza segundo o próprio sen-
timento libertado. Cada um
é livre de criar e manifes-
tar o seu sonho, a sua fan-
tasia íntima desencadeada
de toda a regra, de toda a
sanção. O cânon e a lei são
substituídos pela liberdade
absoluta que os revela, por
entre mil extravagâncias,
maravilhas que só a liber-
dade sabe gerar. Ninguém
pode dizer com segurança
onde o erro ou a loucura na
arte, que é a expressão do
estranho mundo subjetivo
do homem. O nosso julga-
mento está subordinado aos
nossos variáveis preconcei-
tos. O gênio se manifestará
livremente, e esta indepen-
dência é uma magnífica fata-
lidade e contra ela não pre-
valecerão as academias, as
escolas, as arbitrárias regras
do nefando bom gosto, e do
infecundo bom-senso.Temos
que aceitar como uma força
inexorável a arte libertada.
A nossa atividade espiri-
tual se limitará a sentir na
arte moderna a essência da
arte, aquelas emoções vagas
transmitidas pelos sentidos
e que levam o nosso espírito
a se fundir no Todo infinito.
Este subjetivismo é tão
livre que pela vontade inde-
pendente do artista se tor-
na no mais desinteressado
objetivismo, em que desa-
parece a determinação psi-
cológica. Seria a pintura de
Cézanne, a música de Stra-
vinsky reagindo contra o li-
rismo psicológico de Debus-
sy procurando, como já se
observou, manifestar a pró-
pria vida do objeto no mais
rico dinamismo, que se pas-
sa nas coisas e na emoção
do artista.
Esta talvez seja a acen-
tuação da moda, porque nes-
ta arte moderna também há
a vaga da moda, que até cer-
to ponto é uma privação da
liberdade. A tirania da moda
declara Debussy envelheci-
do e sorri do seu subjetivis-
mo transcendente, a tirania
da moda reclama a sensação
forte e violenta da interpre-
tação construtiva da nature-
za pondo-se em íntima cor-
relação com a vida moderna
na sua expressão mais real
e desabusada. O intelectua-
lismo é substituído pelo ob-
jetivismo direto, que, levado
ao excesso, transbordará do
cubismo no dadaísmo.
Há uma espécie de jogo
divertido e perigoso, e por
isso sedutor, da arte que
zomba da própria arte. Des-
ta zombaria está impregna-
da a música moderna que
na França se manifesta no
sarcasmo de Eric Satie e que
o grupo dos “seis” organiza
em atitude. Nem sempre a
fatura desse grupo é homo-
gênea, porque cada um dos
artistas obedece fatalmente
aos impulsos misteriosos do
seu próprio temperamento, e
assim mais uma vez se con-
firma a característica da arte
moderna que é a do mais li-
vre subjetivismo.
É prodigioso como as
qualidades fundamentais da
raça persistem nos poetas e
nos outros artistas. No Bra-
sil, no fundo de toda a poe-
sia, mesmo liberta, jaz aque-
la porção de tristeza, aquela
nostalgia irremediável, que
é o substrato do nosso liris-
mo. É verdade que há um
esforço de libertação dessa
melancolia racial, e a poesia
se desforra na amargura do
humorismo, que é uma ex-
pressão de desencantamen-
to, um permanente sarcasmo
contra o que é e não devia
ser, quase uma arte de ven-
cidos. Reclamemos contra
essa arte imitativa e voluntá-
ria que dá ao nosso “moder-
nismo” uma feição artificial.
Louvemos aqueles poetas
que se libertam pelos seus
próprios meios e cuja força
de ascensão lhes é intrínse-
ca. Muitos deles se deixa-
ram vencer pela morbidez
nostálgica ou pela amargura
da farsa, mas num certo ins-
tante o toque da revelação
lhes chegou e ei-los livres,
alegres, senhores da maté-
ria universal que tornam em
matéria poética.
Destes, libertados da tris-
teza, do lirismo e do forma-
lismo, temos aqui uma plêia-
de. Basta que um deles cante,
será uma poesia estranha,
nova, alada e que se faz mú-
sica para ser mais poesia. De
dois deles, nesta promissora
noite, ouvireis as derradei-
ras“imaginações”. Um é Gui-
lherme de Almeida, o poeta
de Messidor, cujo lirismo se
destila sutil e fresco de uma
longínqua e vaga nostalgia
de amor, de sonho e de es-
perança, e que, sorrindo, se
evola da longa e doce triste-
za para nos dar nas Canções
gregas a magia de uma poe-
sia mais livre do que a Arte.
O outro é o meu Ronald
de Carvalho, o poeta da epo-
peia da Luz gloriosa em que
todo o dinamismo brasilei-
ro se manifesta em uma
fantasia de cores, de sons
e de formas vivas e arden-
tes, maravilhoso jogo de sol
que se torna poesia! A sua
arte mais aérea agora, nos
novos epigramas, não defi-
nha no frívolo virtuosismo
que é o folguedo do artista.
Ela vem da nossa alma, per-
dida no assombro do mundo,
e é a vitória da cultura so-
bre o terror, e nos leva pela
emoção de um verso, de uma
imagem, de uma palavra, de
um som à fusão do nosso ser
no Todo infinito.
A remodelação estética
do Brasil iniciada na música
de Villa-Lobos, na escultura
de Brecheret, na pintura de
Di Cavalcanti, Anita Malfat-
ti,Vicente do Rego Monteiro,
Zina Aita, e na jovem e ou-
sada poesia, será a liberta-
ção da arte dos perigos que
a ameaçam do inoportuno
arcadismo, do academismo
e do provincialismo.
O regionalismo pode ser
um material literário, mas
não o fim de uma literatura
nacional aspirando ao uni-
versal. O estilo clássico obe-
dece a uma disciplina que
paira sobre as coisas e não
as possui.
Graça Aranha (1868-1931), escritor e diplomata, autor, entre
outros, do livro Espírito Moderno, de 1925
Ora, tudo aquilo em que
o Universo se fragmenta é
nosso, são os mil aspectos do
Todo, que a arte tem que re-
compor para lhes dar a uni-
dade absoluta. Uma vibra-
ção íntima e intensa anima
o artista neste mundo para-
doxal que é o Universo bra-
sileiro, e ela não se pode de-
senvolver nas formas rijas
do arcadismo, que é o sarcó-
fago do passado. Também o
academismo é a morte pelo
frio da arte e da literatura.
Ignoro como justificar
a função social da Acade-
mia. O que se pode afirmar
para condená-la é que ela
suscita o estilo acadêmico,
constrange a livre inspira-
ção, refreia o jovem e árde-
go talento que deixa de ser
independente para se vasar
no molde da Academia. É
um grande mal na renova-
ção estética do Brasil e ne-
nhum benefício trará à lín-
gua esse espírito acadêmico,
que mata ao nascer a origi-
nalidade profunda e tumul-
tuária da nossa floresta de
vocábulos, frases e ideias.
Ah, se os novos escritores
não pensassem na Acade-
mia, se eles por sua vez a
matassem em suas almas,
que descortino imenso para
o magnífico surto do gênio,
enfim liberto de mais esse
terror. Esse “academicismo”
não é só dominante na lite-
ratura. Também se estende
às artes plásticas e à música.
Para ele tudo o que a nossa
vida oferece de enorme, de
esplêndido, de imortal, se
torna medíocre e triste.
Onde a nossa grande pin-
tura, a nossa escultura e a
nossa música, que não devia
esperar a magia da arte de
Villa-Lobos para ser a mais
sincera expressão do nosso
espírito divagando no nos-
so fabuloso mundo tropical?
E, no entanto, eis a paisa-
gem brasileira. É construí-
da como uma arquitetura,
são planos, volumes, mas-
sas. A própria cor da terra é
uma profundidade, os vastos
horizontes absorvem o céu
e dão a perspectiva do in-
finito. Como ela provoca a
transposição pela arte, que
lhe dê no máximo realismo
a mais alta idealidade! Eis
as nossas gentes. Saem das
florestas ou do mar… São os
filhos da terra, móveis, ágeis
como os animais cheios de
21 A 27 DE FEVEREIRO DE 2021
pavor, sempre em desafio do
perigo, e, no impulso do so-
nho, alucinados pela ima-
ginação, caminhando pela
terra na ânsia de conhecer
e possuir. Onde a arte que
transfigurou genialmente
essa perpétua mobilidade,
essa progressão infinita da
alma brasileira?
Da libertação do nosso
espírito sairá a arte vitorio-
sa. E os primeiros anúncios
da nossa esperança são os
que oferecemos aqui à vossa
curiosidade. São estas pintu-
ras extravagantes, estas es-
culturas absurdas, esta mú-
sica alucinada, essa poesia
aérea e desarticulada. Ma-
ravilhosa aurora! Deve-se
acentuar que, exceto na poe-
sia, o que se fez antes disso
na pintura e na música é ine-
xistente. São pequenas e tí-
midas manifestações de um
temperamento artístico apa-
vorado pela dominação da
natureza, ou são transplan-
tações para o nosso mundo
dinâmico de melodias mofi-
nas e lânguidas, marcadas
pelo metro acadêmico de
outras gentes.
O que hoje fixamos não
é a renascença de uma arte
que não existe. É o próprio
comovente nascimento da
arte no Brasil, e, como não
temos felizmente a pérfida
sombra do passado para ma-
tar a germinação, tudo pro-
mete uma admirável “flora-
da” artística. E, libertos de
todas as restrições, realiza-
remos na arte o Universo.
A vida será, enfim, vivida
na sua profunda realidade
estética. O próprio Amor é
uma função da arte, porque
realiza a unidade integral do
Todo infinito pela magia das
formas do ser amado.
No universalismo da
arte estão a sua força e a
sua eternidade. Para ser-
mos universais façamos de
todas as nossas sensações
expressões estéticas, que
nos levem a à ansiada uni-
dade cósmica. Que a arte
seja fiel a si mesma, renun-
cie ao particular e faça ces-
sar por instantes a dolorosa
tragédia do espírito humano
desvairado do grande exílio
da separação do Todo, e nos
transporte pelos sentimen-
tos vagos das formas, das
cores, dos sons, dos tatos e
dos sabores à nossa gloriosa
fusão no Universo.

A concepção materialista da história
Friedrich Engels
Nesta carta de Friedrich
Engels endereçada
ao acadêmico Joseph
Bloch, Engels explica
a interrelação entre a
legislação e o direito
no capitalismo, bem
como o papel do
Estado sobre a base da
concepção marxista
por ele desenvolvida
em conjunto com Karl
Marx. Trata-se de
uma exposição muito
interessante das ideias
fundamentais defendidas
pelos fundadores do
socialismo científico e
que são a base para uma
análise científica de todos
os fenômenos políticos e
sociais
De acordo com a concep-
ção materialista da história,
o elemento determinante fi-
nal na história é a produção
e reprodução da vida real.
Mais do que isso, nem eu e
nem Marx jamais afirma-
mos. Assim, se alguém dis-
torce isto afirmando que o
fator econômico é o único
determinante, ele trans-
forma esta proposição em
algo abstrato, sem sentido
e em uma frase vazia. As
condições econômicas são
a infraestrutura, a base,
mas vários outros vetores
da superestrutura (formas
políticas da luta de classes
e seus resultados, a saber,
constituições estabelecidas
pela classe vitoriosa após
a batalha, etc., formas jurí-
dicas e mesmo os reflexos
destas lutas nas cabeças dos
participantes, como teorias
políticas, jurídicas ou filo-
sóficas, concepções religio-
sas e seus posteriores desen-
volvimentos em sistemas de
dogmas) também exercitam
sua influência no curso das
lutas históricas e, em mui-
tos casos, preponderam na
determinação de sua forma.
Há uma interação entre to-
dos estes vetores entre os
quais há um sem número
de acidentes (isto é, coisas
e eventos de conexão tão re-
mota, ou mesmo impossível,
de provar que podemos to-
má-los como não-existentes
ou negligenciá-los em nos-
sa análise), mas que o movi-
mento econômico se assenta
finalmente como necessário.
Do contrário, a aplicação da
teoria a qualquer período da
história que seja selecionado
seria mais fácil do que uma
simples equação de primei-
ro grau.
Nós mesmos é que faze-
mos a história, mas o faze-
mos sob condições e suposi-
ções definidas. Entre estas,
os determinantes econômi-
cos são, ultimamente, deci-
sivos. Mas mesmo as condi-
ções políticas, etc., e mesmo
tradições que assombram as
mentes humanas também
desempenham o seu papel,
embora não sejam deci-
sivos. O Estado prussiano
também surgiu e se desen-
volveu por causas históri-
cas, mas de modo final, por
causas econômicas. Da mes-
ma forma, seria difícil de se
argumentar sem pedantis-
mo que muitos dos peque-
nos Estados da Alemanha
do Norte, Bradenburg, fo-
ram especificamente deter-
minados por necessidades
econômicas para se tornar
grandes potências econô-
micas, linguísticas e, após
a Reforma, também religio-
sa em distinção entre o sul,
e não por outros elementos
além do econômico (acima
de tudo, o relacionamento
com a Polônia devendo sua
possessão da Prússia foi
também decisivo para a for-
mação da potência dinástica
austríaca, ou seja, relações
políticas internacionais que
foram determinantes). Sem
ser ridículo, seria difícil ex-
plicar em termos puramen-
te econômicos a existência
de cada pequeno Estado na
Alemanha, no passado ou
no presente, ou a origem da
Alta Alemanha consoante
com as alterações que alar-
garam o muro geográfico da
partilha, formado pelo con-
junto sudético de montanhas
do Taunus, até a extensão de
uma fissura regular cortan-
do toda a região.
Em segundo lugar, a his-
tória é feita de maneira que o
resultado final sempre surge
da conflitante relação entre
muitas vontades individuais,
cada qual destas vontades
feita em condições particu-
lares de vida. Portanto, é a
intersecção de numerosas
forças, uma série infinita
de paralelogramos de for-
ças, que resulta em um dado
evento histórico. Isto pode
ser novamente interpreta-
do de modo equívoco, sendo
visto como um produto de
um poder que trabalha como
um todo, inconscientemente
e sem vontade. Cada vonta-
de individual é obstruída por
outra vontade individual e o
que emerge é uma vontade
final não antecipada pelas
singularidades envolvidas.
Assim, a história procede na
forma de um processo natu-
ral e é essencialmente sujei-
ta às leis do movimento. Mas
do fato de que as vontades
individuais — das quais os
desejos que impelem pela
constituição física ou ex-
ternamente e, em último
lugar, pelas circunstâncias
econômicas (sejam pessoais
ou aquelas da sociedade em
geral) — não obtém o que
querem, mas tem suas von-
tades amalgamadas em um
sentido coletivo, um resul-
tante comum, não deve ser
concluído que seus valores
sãos iguais a zero. Ao con-
trário, cada parte singular
contribui para o resultado e
é, em certo grau, envolvido
com esta soma final.
No mais, eu iria pedir
para que você estude esta
teoria de fontes originais e
não de materiais secundá-
rios; será muito mais fácil.
Marx dificilmente escreveu
algo que ele não tomou par-
te. Especialmente o Dezoi-
to Brumário de Louis Bo-
naparte é o mais excelente
exemplo da aplicação des-
ta teoria. Também existem
muitas alusões n’O Capi-
tal. Também devo indicá-lo
alguns de meus escritos:
Herr Eugen Duhring’s Re-
volução na Ciência e Ludwig
Feuerbach e o fim da filosofia
alemã clássica, nestas obras
eu dei, até onde sei, a mais
detalhada explicação sobre
o materialismo histórico que
é possível encontrar.
Eu e Marx somos aqueles
a quem, parcialmente, cul-
par pelo fato que as pessoas
mais novas frequentemente
acentuarem o aspecto eco-
nômico mais do que o neces-
sário. É que nós tínhamos
que enfatizar estes prin-
cípios vis-à-vis nossos ad-
versários, que os negavam.
Nós não tínhamos sempre o
tempo, o local e a oportuni-
dade para explicar adequa-
damente os outros elemen-
tos envolvidos na interação
dos fatores constituintes da
história. Mas quando era o
caso de apresentar uma se-
ção historiográfica, isto é,
de aplicação prática, era um
21 A 27 DE FEVEREIRO DE 2022
assunto diferente e nenhum jurídicos e (ii) nas reiteradas necessidade econômica seja do período eram resultantes
erro era permissível. Infe- brechas feitas neste sistema a principal força motriz do de um crescente progresso
lizmente, de modo muito pela influência e pressão do conhecimento progressivo econômico. Eu também con-
frequente, as pessoas pen- desenvolvimento econômico sobre a natureza e se torna sidero a supremacia do de-
sam que aprenderam uma sequente, envolvendo con- cada vez mais assim, seria senvolvimento econômico
nova teoria e podem aplicá- tradições posteriores para certamente pedante tentar estabelecendo-se nestas es-
-la sem maiores problemas, estabelecer um sistema ju- encontrar e indicar causas feras, mas ocorre dela atuar
crendo que dominaram os rídico harmonioso. (Neste econômicas para este non- dentro de condições impos-
principais princípios e isto momento, eu estou apenas sense primitivo. A história tas pela própria área do co-
não é sempre correto. E eu falando no Direito Civil). da ciência é a história da nhecimento em si: na filo-
não posso também isentar O reflexo de relações eco- gradual substituição deste sofia, por exemplo, através
os mais recentes “marxistas” nômicas em princípios ju- nonsense ou sua eliminação da operação de influências
do mais incrível lixo que já rídicos é necessariamente por formas mais recentes, econômicas (que geralmente
foi produzido nos últimos confuso e desordenado: ele mas nem sempre menos ab- atua sob um encobrimento
três meses. age sem a pessoa que está surdas de tolices. As pessoas que aparenta ser político)
A reação do poder do Es- atuando ser consciente des- que tomam parte nisto, ade- sobre a existência filosófi-
tado para com o desenvolvi- te processo; o jurista imagi- rem a dimensões especiais ca material criada por seus
mento econômico pode ser na que está operando com da divisão do trabalho e isto antecessores. Aqui, a eco-
um dos três tipos: (i) pode proposições a priori, quando aparenta para eles como se nomia cria nada em formas
ser que corra na mesma di- o que ele está manuseando estivessem trabalhando em renovadas, mas ela determi-
reção e então o desenvolvi- verdadeiramente são refle- um campo independente. E na o modo pelo qual o pen-
mento seja acele- na medida em que samento material encontra
“
rado; (ii) ele pode eles formam um a existência e o altera, pos-
se opor à linha do O reflexo de relações econômicas grupo separado teriormente progredindo e
desenvolvimento, em princípios jurídicos é dentro da divisão isto na maior parte das vezes
o que, nos dias de necessariamente confuso e social do trabalho, sob formas indiretas, sejam
hoje fará com que a sua produção, in- filosóficas, legais ou morais,
desordenado: ele age sem a
o poder de Estado cluindo seus erros, reflexos que exercitam gran-
seja estraçalhado essoa que está atuando ser reage novamente e de poder sobre a filosofia.
no longo termo e; consciente deste processo; o influencia o desen- Sobre religião, eu disse
(iii) pode barrar o jurista imagina que está operando volvimento total da o que era mais importan-
desenvolvimento com proposições a priori, quando sociedade, e mes- te na última sessão sobre
econômico em al- o que ele está manuseando mo o desenvolvi- Feuerbach.
gumas direções e
verdadeiramente são reflexos das mento econômico. Se, no entanto, Barth su-
prescrevê-lo em Mas todos estes põe que nós negamos toda
outras. Isto reduz relações econômicas; assim, tudo estão, novamente, e qualquer reação do polí-
as possibilidade está invertido sob a dominante tico, etc., reflexos do movi-
para uma das duas influência do de- mento econômico sobre o
anteriores. Mas é senvolvimento movimento em si, ele está
óbvio que nos casos dois e xos das relações econômi- econômico. Na filosofia, por simplesmente lutando con-
três, o poder político pode cas; assim, tudo está in- exemplo, isto pode ser mais tra moinhos de vento. Ele só
causar grandes danos ao de- vertido. Para mim, parece prontamente demonstrado precisa olhar para o Dezoito
senvolvimento econômico e óbvio que esta inversão que, através do período burguês. Brumário de Marx, que lida
resultar em grande dispên- enquanto permaneça des- Hobbes foi o primeiro ma- quase que exclusivamente o
dio material e de energia das conhecida sob a forma do terialista moderno (no sen- papel particular desempe-
grandes massas. que nós chamamos de con- tido possível dos limites do nhado pelas lutas políticas
Então, é também um caso cepção ideológica, reage e século XVIII), mas ele era e outros eventos; é claro que
de conquista e destruição retorna à base econômica um absolutista no período dentro da dependência ge-
brutal de recursos econô- podendo, dentro de certas em que a monarquia abso- ral das pré-condições eco-
micos, os quais, em certas limitações, modificar esta lutista estava em seu mais nômicas. Ou O Capital, no
condições, um sistema eco- última. A base do direito de alto ponto por toda a Europa capítulo sobre a jornada de
nômico nacional ou local herança (assumindo que os e quando a luta da monar- trabalho, por exemplo, onde
poderia ser arruinado. Nos estágios atingidos no desen- quia contra o povo estava a legislação, que é certamen-
dias de hoje, tal caso teria volvimento da família sejam se iniciando na Inglaterra. te um ato político, tem efeito
um efeito contrário, ao me- iguais) é econômica e não Locke era uma criança no incisivo. Ou então a parte
nos entre os grandes povos: a priori jurídica. No entan- compromisso de classe de sobre a história da burgue-
em longo termo, o subjugado to, seria difícil de provar, 1688 tanto em matéria de re- sia (capítulo XXIV). Ou por
às vezes ganha mais em ter- por exemplo, que a absolu- ligião como de política. qual razão nós lutamos pela
mos políticos, econômicos e ta liberdade do testador na Os deístas ingleses e seus ditadura política do proleta-
morais do que o vitorioso. Inglaterra e as severas res- mais consistentes continua- riado se o poder político é
Similarmente com a lei. trições impostas a este na dores, os materialistas fran- economicamente impotente?
Assim que a nova divisão do França são decorrentes, em ceses, eram verdadeiros filó- Força (isto é, poder estatal)
trabalho surge, na qual se cada detalhe, às causas eco- sofos da burguesia, sendo os é também poder econômico!
tornam necessários advoga- nômicas. Ambas (causas ju- franceses o mesmo até du- Mas eu não tenho tempo
dos profissionais, uma nova rídicas e causas econômicas) rante a revolução burguesa. agora para criticar este li-
e independente esfera é cria- reagem entre si, sem poder- O filistinismo alemão corre vro. Eu devo agora pegar o
da e ainda especialmente ca- mos, no entanto, reconhe- através da filosofia germâ- volume III e no mais, penso
paz de reatar as esferas de cer a esfera econômica em nica de Kant até Hegel, al- que Bernstein, por exemplo,
produção e comércio. No considerável extensão, pois gumas vezes positivamente poderia efetivamente lidar
Estado moderno, a lei não a herança afeta a distribui- enquanto outras negativa- com estes assuntos.
deve apenas corresponder ção de propriedade. mente. Mas a filosofia de O que falta para estes ca-
à condição econômica geral No reinados da ideologia cada época, considerando valheiros é a dialética. Eles
e ser sua expressão direta, que deslizam ainda alto nos que é uma dimensão defi- simplesmente olham aqui
mas ser expressão interna- céus, religião, filosofia, etc., nida na divisão do trabalho, a causa e ali o efeito. Esta é
mente coerente o que não têm um estoque pré-histó- tem por pressupostos cer- abstração vazia e estas opo-
se reduz ao nada, devido rico que encontra sua exis- tos pensamentos guiados sições polares metafísicas só
suas contradições internas. tência no e é tomada pelo por seus predecessores, dos existem no mundo real du-
E com o objetivo de atingir período histórico do que quais toma como ponto de rante crises quando todo o
isto, o fidedigno reflexo das chamamos nonsense. Estas partida. E é por esta razão vasto processo na forma de
condições econômicas sofre variadas falsas concepções que países economicamen- interação (embora por for-
cada vez mais. Assim, cada da natureza, do ser, de es- te atrasados podem fraudar ças muito desiguais, com o
vez mais raramente que um píritos, forças mágicas, etc., com vantagens na filosofia: movimento econômico sen-
código legal é a direta, não- têm, na maior parte das ve- a França no século XVIII do, de longe, o mais podero-
-suavizada e não-adultera- zes, apenas um fundamento comparada com a Inglater- so, inicial e mais decisivo)
da expressão da dominação econômico negativo; o baixo ra, em cuja filosofia os pró- é aqui muito mais relativo
de uma classe — isto por si desenvolvimento econômico prios franceses se basearam, e nada absoluto (isto, eles
iria ofender a “concepção do período pré-histórico é e a filosofia alemã posterior nunca enxergaram). Hegel
de direito”. Mesmo no Có- suplementado e parcialmen- relativamente baseada em nunca existiu para eles.
digo Napoleônico, a pura e te condicionado e mesmo ambas. Mas na França, as-
consistente concepção de criado por falsas concepções sim como na Alemanha, a fi- Londres, 21-22 de
direito que a burguesia re- de natureza. E mesmo que a losofia e a literatura floreada setembro de 1890
volucionária de 1792-1796
se dizia titular, é em muitas
formas adulterada e, da for-
ma como foi constituído, foi
sujeita às atenuações decor-
rentes do nascente poder do
proletariado. Isto não impe-
de o Código Napoleônico de
ser o estatuto que serve de
base para novos códigos em
todos os cantos do mundo.
Portanto, em grande par-
te, o curso do “desenvolvi-
mento dos direitos” apenas
consiste (i) em uma tenta-
tiva de desfazer as contra-
dições emergentes, sendo
destarte, tradução direta dos
antagonismos de relações
econômicas em princípios
C4 21 A 27 DE FEVEREIRO DE 2022
100 anos da Semana de Arte Moderna
O significado da Semana e a
ideologia dos modernistas em 1922
Parte 1 de 2
Muita confusão se estabeleceu em torno do sentido
mais profundo que teve o evento organizado
pelos modernistas no Teatro Municipal. Nesse
primeiro artigo, procuramos estabelecer algumas
conclusões sobre os objetivos, a importância
e o significado mais geral do episódio
A Semana de Arte Moderna
como produto da luta
do modernismo contra
o regime oligárquico
100 anos depois da Se-
mana de Arte Moderna, a
análise da importância e
do significado mais geral
da realização do evento no
Teatro Municipal está cober-
ta por muitos equívocos e
falsificações a respeito dos
verdadeiros objetivos dos
modernistas. Apresentamos
ao leitor algumas conclusões
necessárias à correta com-
preensão do que foi, em sua
essência, a Semana de Arte
Moderna.
A mais moderna historio-
grafia relativa ao modernis-
mo e à epopeia da Semana
tem dado lições de seu mais
completo e vergonhoso con-
servadorismo ao retirar do
episódio toda a enorme sig-
nificação histórica, política
e cultural que ele tem. Em
primeiro lugar, é importan-
te assinalar que o objetivo
dos modernistas em realizar
a Semana tem um sentido
de luta.
Já tratamos nos artigos
anteriores (veja as edições
de Causa Operária a partir
do nº 1.198) episódios de en-
frentamento entre os moder-
nistas e a oligarquia – tanto
através das polêmicas nos
jornais quanto nos emba-
tes diretamente em torno
do governo – que foram se
sucedendo com uma inten-
sidade cada vez maior en-
tre 1917 e 1921. O encadea-
mento dos fatos não deixa
qualquer dúvida de que a
ideia de se realizar um gran-
de evento de arte moderna
em São Paulo era parte das
campanhas “bélicas” do mo-
dernismo contra a ditadura
intelectual criada e susten-
tada pela oligarquia cafeeira
que governava o País desde
o Império. Como muito bem
expressou na ocasião o pin-
tor Di Cavalcanti, para os
membros mais radicais do
grupo, a Semana serviria
para “meter os estribos na
barriga da burguesiazinha
paulista”.
Ao alugar o Teatro Muni-
cipal – o mais importante e
aristocrático palco artístico
de São Paulo –, os modernis-
tas ampliavam a arena de
combate e davam maior visi-
bilidade para a“luta do sécu-
lo” à qual pretendiam se lan-
çar. Até então, as “trocas de
tiros” intelectuais eram co-
nhecidos apenas de alguns
poucos círculos restritos de
literatos principalmente em
São Paulo e Rio de Janeiro.
A habilidosa manobra de
realizar a Semana de Arte
Moderna daria projeção na-
cional ao novo movimento
de arte que despontava. Foi
uma estratégia de gênio e
de grande ousadia dos mo-
dernos, que, com o evento,
desferiram um golpe irre-
mediável no aparelho ditato-
rial do regime. O espaço que
o modernismo conquistou
entre a sociedade paulista
a partir de 1922 e o apoio
de uma parcela mais ampla
da burguesia industrial per-
mitiram que o movimento
se consolidasse de maneira
definitiva. Ganhando adep-
tos, o novo movimento for-
taleceu-se na luta contra a
ideologia oficial da oligar-
quia, um dos pilares de sus-
tentação do regime.
O objetivo dos moder-
nistas ao organizar a Se-
mana foi, portanto, tocar
das trombetas, ou as buzi-
nas, anunciadoras da nova
arte. Fazendo disso, os mo-
dernistas tomavam automa-
ticamente a decisão de en-
contrar e enfrentar, olho no
olho, os representantes da
classe dominante paulista,
particularmente as camadas
ligadas ao regime: a intelec-
tualidade oficial, jornalistas
da imprensa conservadora,
políticos de direita, escrito-
res epígonos do parnasia-
nismo e toda a camada mé-
dia da intelectualidade e da
população que de um modo
geral estava ligada à ideolo-
gia dominante.
O que estava em jogo no
evento era o próprio futuro
do movimento moder-
nista. Uma derrota ali
“
poderia significar um
período ainda maior de
isolamento e penúria da
nova arte. Uma vitória,
ao contrário, como de
fato se comprovou, da-
ria um impulso renova-
do ao movimento.
Realizar a Semana
era, por isso, um sinal
de grande audácia da
nova geração, disposta
a provocar a oligarquia
no próprio terreno dela. Os
modernistas paulistas e ca-
riocas prepararam assim sua
própria Batalha de Hernani.
A arte arregimentada
pela revolução
O paralelo da Semana
com o enfrentamento entre
românticos e classicistas no
mais importante teatro clás-
sico de Paris é bastante sig-
nificativo e esclarecedor a
respeito dos objetivos e do
conteúdo da Semana de Arte
Moderna. Mostra também
que a Semana não foi um
episódio isolado na história
da arte, mas que correspon-
dia a uma das maneiras tí-
picas com que a intelectua-
lidade artística vinha já se
organizando há longa data
no seio da das sociedades
burguesas.
Até 1830, o romantismo
era um movimento margi-
nalizado entre a burguesia
francesa. Os espalhafatosos
poetas românticos, com seus
cabelos longos e coletes ver-
melhos, eram vistos com o
mais profundo desprezo
pelos “respeitáveis” artistas
oficiais do Império francês,
elementos pomposos que os-
tentavam perucas brancas e
trajes impecavelmente as-
seados. O regime de então,
por sua vez, tinha naquele
classicismo a sua expressão
ideológica mais típica. Era
uma arte, porém, que havia
se tornado uma aparência
O Abaporu (1928), de Tarsila do Amaral, é um exemplo e um produto do impulso que renovou a arte brasileira a partir da Semana de 1922
do que fora a grande arte A Batalha de Hernani reiro e março de 1830, o go- nária se preservar diante do
classicista da burguesia re- do modernismo verno restauracionista não golpe revolucionário que se
volucionária. duraria também muito mais prepara contra ela.
As instituições francesas Em fevereiro de 1830 era tempo. A derrota do classicis- Em terceiro lugar, há o
eram, em consequência, to- levado aos palcos pela pri- mo para Victor Hugo e seus movimento de radicalização,
talmente dominadas ideo- meira vez o drama românti- colegas antecipava a derru- tanto dos românticos quanto
logicamente e efetivamen- co Hernani, do então jovem bada do regime de Carlos dos modernistas como resul-
te por poetas, romancistas poeta Victor Hugo. No curto X que ocorreu em julho do tado dos diversos ataques,
e dramaturgos, pintores e período em que a peça ficou mesmo ano. Sobre a derroca- abertos ou velados, da bur-
músicos representantes da- em temporada, cerca de 45 da definitiva dos Bourbons, guesia contra eles.
quela tradição oficialista. dias, românticos e classicis- foi erguido o governo “libe- Em quarto, a radicaliza-
tas se enfrentaram noi- ral” de Luís Filipe, o “rei dos ção geral de ambos os gru-
te após noite, com vaias banqueiros”, o governo do pos culminou em um mo-
e xingamentos a ponto qual o romantismo era a ex- vimento ofensivo de maior
O que estava em jogo de levar alguns à exaus- pressão ideológica. O movi- ousadia, indo atacar o ad-
no evento era o próprio tão nervosa. Encerrada mento romântico cresceu e versário no próprio terre-
futuro do movimento a temporada, os jovens se desenvolveu ao longo dos no dele, um ataque que se
poetas deixavam o Tea- 18 anos em que reinou Luís deu por meio de um grande
modernista. Uma
tro de cabeça erguida: Filipe, vindo a ser derruba- evento público que serviu
derrota ali poderia o romantismo vencera. do, como corrente dominante para legitimar a existência
significar um período Sobre os escombros da das artes europeias, junta- da nova arte e das forças so-
ainda maior de isolamento Censura do governo de mente com esse governo du- ciais que ela representava,
e penúria da nova arte Carlos X, os românti- rante as revoluções de 1848. além de dar uma demons-
cos enfim triunfariam Vê-se que a Semana de tração pública de força con-
em toda a França, se Arte Moderna é um acon- tra os inimigos dessas ten-
expandindo a partir de tecimento bastante similar dências.
Marginalmente a tais então com grande vigor pela à Batalha de Hernani. Em Em quinto lugar, há o
correntes, amadureceu o Europa e o resto do mundo. primeiro lugar há o fato de fato importantíssimo de
romantismo. Em sua ori- Ao final, o romantismo se que ambos os movimentos que ambos os episódios an-
gem – durante o perío- afirmou como a mais im- eram expressão de classes tecedem a tomada do poder
do das campanhas napo- portante tendência das artes sociais ascendentes que es- pela classe social que tais
leônicas – um movimento mundiais ao longo de toda a tavam em vias de realizar movimentos correspondiam.
reacionário, o romantismo primeira metade do século sua revolução. Em segundo, Esses embates na esfera da
execrava a sociedade bur- XIX, deixando uma influên- o problema da censura que cultura eram episódios im-
guesa em função de uma cia mais profunda que per- se coloca diante deles e im- portantes e decisivos da luta
volta à sociedades medie- siste ainda hoje. pede o desenvolvimento de revolucionária que levou a
vais. No transcorrer de três Também é fundamental ambos os movimentos, cen- nova classe ao poder.
décadas de amadurecimen- lembrar que, se a Batalha de sura que nada mais era que
to, no entanto, os românti- Hernani ocorreu entre feve- (Conclui na próxima edição)
a tentativa da classe reacio-
cos – sempre avessos à me-
diocridade da parcela mais
acomodada e conservado-
ra da burguesia francesa –,
acabaram engolfados pelos
ventos das revoluções libe-
rais que varreram a Europa
entre as décadas de 1920 e
30, no momento em que a
população de todo o conti-
nente começou a reagir à
Restauração. Esse novo ro-
mantismo se tornou a par-
tir de então uma expressão
ideológica das revoluções
liberais.
Artistas como Victor
Hugo, Theophile Gautier,
Charles Sainte-Beuve e Ale-
xandre Dumas (pai), entre
outros, recém-passados para
as fileiras da revolução, co-
meçam a evoluir no sentido
de uma crescente radicali-
zação de suas atitudes e de
sua arte. Essa evolução os
colocaria frente a frente com
os classicistas no principal
Wikipedia
palco de Paris, o Teatro Fran-
cês, no episódio que passou Tal como na “Batalha de Hernani”, quando artistas românticos enfrentaram clássicos na França
à história como a Batalha de de 1830, a Semana de Arte Moderna foi uma demonstração de audácia de uma nova geração que
Hernani. desafiou a oligarquia no seu próprio terreno