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17.11.2023

COMO A
MÍDIA INVENTOU
UM ESCÂNDALO
CONTRA
FLÁVIO DINO
85
CLUBE DE REVISTAS
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/ Capa
COMO A MÍDIA INVENTOU UM
ESCÂNDALO CONTRA FLÁVIO DINO
4 | por Henrique Rodrigues
12 | Jornalista do Estadão admite que
“dama do tráfico” não é apelido de esposa
edição #85

de traficante, por Plínio Teodoro

/ Política
17 | É muito bom ser governado por um ser
conteúdo |

humano, por Menon

/ Mídia
22 | A desumanidade e o horror nas frases
de jornalistas brasileiros sobre o massacre
na Palestina, por Plínio Teodoro

/ Global
32 | Um raio não cai duas vezes no mesmo
lugar, mas pode atingir a casa do vizinho...,
por Carla Sangrilli e Josué de Souza
39 | O golpe cínico que derrubou o premiê
de Portugal, por Henrique Rodrigues

/ Música
53 | Roger Waters: Vou agradecer e
lembrar por toda a vida de ter visto aquilo,
por Julinho Bittencourt

/ Cinema
58 | Ó Paí, Ó 2 atualiza dores e manhas da
luta preta pela vida, por Paulo Donizetti

68 / Expediente
Foto capa: Tom Costa/MJSP
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Foto Tom Costa/MJSP

Capa

Como a mídia
inventou um
escândalo contra
Flávio Dino
por Henrique Rodrigues
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Milícias e crime organizado


sufocados financeiramente são origem
de ataques ao ministro

N
o início de outubro o ministro da Justiça e
Segurança Pública, Flávio Dino, anunciou
um investimento de R$ 900 milhões, a
serem usados até 2026, em ações diretas de
combate às organizações criminosas que atuam
no Brasil. Um mês depois, na primeira semana
de novembro, o chefe da pasta revelou durante
um encontro com o governador do Rio de
Janeiro, Cláudio Castro (PL), que estava criado
o Comitê Integrado de Investigação Financeira e
Recuperação de Ativos (Cifra), uma força-tarefa
interconectada à Polícia Civil fluminense para
rastrear o caminho percorrido pelo dinheiro das
organizações criminosas, sobretudo daquelas
que ele classificou como “narcomilícias”.
“É um escárnio, um absurdo, inaceitável que
os industriais da morte estejam com mansões
em Angra dos Reis, avião, helicóptero. Isso
é um tapa na cara dos cidadãos honestos
do país... A nossa proposta é levantar os
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Foto Jamile Ferraris / MJSP


Flávio Dino e integrantes do ministério da Justiça em reunião com
o governador do Rio de Janeiro, Cláudio Castro

CNPJs nas áreas mais conflagradas, fazer


um rastreamento na Secretaria de Fazenda
junto com o Coaf [Conselho de Controle de
Atividades Financeiras] para ver disparidades no
faturamento. Também é importante identificar
CNPJs ligados a criminosos já conhecidos”,
frisou Dino.
Não demorou muito para que os ataques
contra o ministro, que até então também
era o franco favorito para ocupar um
assento “perpétuo” no Supremo Tribunal
Federal (STF), começassem. Esta semana, a
artilharia devastadora dos setores da mídia
liberal habituados a assassinar reputações
progressistas (e que não se incomodam
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Foto Reprodução Instagram


Luciane Barbosa Farias, a suposta “dama do tráfico”

com bandidos e assassinos que permeiam


o “conservadorismo”) saiu com a mais
rocambolesca das histórias: uma “dama
do tráfico”, esposa do líder da organização
criminosa Comando Vermelho no Amazonas,
“teria ido a audiências no Ministério da
Justiça e Segurança Pública e no dos Direitos
Humanos”. Logo, a “chefona” do narcotráfico
seria aliada e próxima de Dino e de integrantes
do governo Lula.
Na prática, a bobajada é apenas uma
presepada conspiracionista e abilolada do
bolsonarismo mais tosco, só que com um
verniz de seriedade. Quem saiu primeiro com o
papo-furado foi o jornal O Estado de S. Paulo,
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em que pese a incompatibilidade entre o nome
da publicação e a palavra “seriedade” no
mesmo parágrafo.

Foto Divulgação/SNDH/MDHC
A tal mulher, que de fato teria ido
ao Ministério dos Direitos Humanos, e
posteriormente ao da Justiça e Segurança
Pública, tem condenações na Justiça por
associação ao tráfico. No entanto, ela participou
de um evento chamado Encontro de Comitês
e Mecanismos de Prevenção e Combate à
Tortura, organizado pelo Comitê de Prevenção
e Combate à Tortura, do Ministério dos
Direitos Humanos, que durou dois dias. O tal
encontro tratou de assuntos relacionados às
condições em que presos são mantidos nos
estabelecimentos penitenciários brasileiros.
O Ministério dos Direitos Humanos pediu aos
Comitês de Prevenção e Combate à Tortura dos
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26 estados e do Distrito Federal que indicassem
pessoas para participar do fórum de discussão,
e ela então foi incluída na lista pelo grupo
amazonense. Em Brasília, a suposta “dama
do tráfico” tratou apenas com funcionários
de escalões mais baixos sobre temas contra
a tortura, assim como as outras dezenas de
convidados, e já admitiu que “viu Flávio Dino
uma vez, quando passou pelo ministério, mas
que nunca falou com ele”.
Diante de crime tão grave, como cruzar
com uma pessoa que recebeu condenação na
Justiça por um corredor e sequer cumprimentá-
la, por não saber quem é, os diários O Globo
e O Estado de S. Paulo, assim como outros
jornais e portais da imprensa tradicional,
aumentaram o bombardeio para tentar minar e
derrubar o mais atuante e incisivo ministro da
atual administração do presidente Luiz Inácio
Lula da Silva.
O próprio presidente, aliás, publicou um tuíte
em sua conta oficial sinalizando algo nesse
sentido, manifestando o quanto Dino vem sendo
alvo de todo tipo de sandice conspiracionista
por razões bem diversas das de combater a
imoralidade ou denunciar crimes de um alto
funcionário do governo.
“Minha solidariedade ao ministro Flávio Dino,
que vem sendo alvo de absurdos ataques
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“Minha solidariedade
ao ministro Flávio
Dino, que vem sendo
alvo de absurdos
ataques artificialmente
plantados”
Lula

artificialmente plantados. Ele já disse e reiterou


que jamais encontrou com esposa de líder de
facção criminosa. Não há uma foto sequer, mas
há vários dias insistem na disparatada mentira.
O Ministério da Justiça tem coordenado ações
de enorme importância para o país: a defesa
da democracia; o combate ao armamentismo
selvagem; o enfrentamento ao crime organizado,
ao tráfico e às milícias; e a proteção da
Amazônia. Essas ações despertam muitos
adversários, que não se conformam com a perda
de dinheiro e dos espaços para suas atuações
criminosas. Daí nascem as fake news difundidas
numa clara ação coordenada. Nós reiteramos:
não haverá recuos diante de criminosos e seus
aliados, estejam onde estiverem, sejam eles
quem forem”, escreveu Lula.
A escolha de Dino como alvo a ser abatido
a qualquer custo muito tem a ver com sua
atuação direta na devassa e combate à lavagem
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de dinheiro oriundo de atividades criminosas
por megaquadrilhas, e pouco ou nada está
relacionada a um suposto papel de fiscalizar o
poder público e seus representantes, para que
eles andem dentro da lei. Dino não cometeu
qualquer crime, não está relacionado em nada
com a patusca da suposta “dama do tráfico”,
e sequer deu um “oi” na vida à tal mulher ou a
qualquer integrante do bando supostamente
representado por ela.
Mas se engana quem acha que o ministro
terá paz depois da missão que aceitou conduzir
nesse novo governo, sobretudo quando
olhamos para o governo anterior e vemos quem
era parte dele e quais eram suas relações com
o crime organizado.w

u Clique aqui e assista ao Fala, Rovai: “Nojo:


Estadão faz jornalixo no caso Flávio Dino” (14/11)

u Clique aqui e assista à Live do Conde: “Dino


sob ataque” (14/11).

u Clique aqui e assista à entrevista do historiador


Carlito Neto no Fórum Onze e Meia (16/11).
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Foto Reprodução Instagram


Capa

Jornalista do Estadão
admite que “dama do
tráfico” não é apelido de
esposa de traficante
Pelo Instagram, Luciane Barbosa Farias
também denunciou outra manipulação sobre
sua condenação
por Plínio Teodoro

U
m dos autores do factoide criado pelo
Estadão para atacar o ministro da
Justiça, Flávio Dino, o jornalista André
Shalders admitiu nas redes sociais que a
alcunha “dama do tráfico” para definir Luciane
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Barbosa Farias, presidenta da Associação
Instituto Liberdade do Amazonas, foi inventada
por ele a partir da declaração de uma fonte.
“Estou respondendo a todo mundo porque
tenho como provar tudo o que escrevi. Quanto
ao ‘dama do tráfico’, foi uma expressão usada
por uma fonte. Achei peculiar e coloquei no
texto”, comentou Shalders em resposta a Cynara
Menezes, da Fórum, na rede X, antigo Twitter.

O jornalista, no entanto, apagou a publicação


em seguida.
Cynara já havia adiantado que não há
qualquer registro na imprensa amazonense
ou nos órgãos de investigação dando o rótulo
a Luciane Barbosa Farias, que é esposa de
Clemilson dos Santos Farias, o Tio Patinhas,
que seria ligado ao Comando Vermelho.
No entanto, Luciane já afirmou que não faz
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parte da facção criminosa. Ela foi escolhida
pelo Comitê Estadual de Prevenção e Combate
à Tortura do Amazonas (CEPCT-AM) para
participar de encontro do Ministério dos Direitos
Humanos, em Brasília.

Fotos Reprodução Instagram


Luciane Barbosa Farias com a ex-deputada Janira Rocha
e com Rafael Velasco Brandani, titular da Senappen

Luciane também esteve na Secretaria de


Assuntos Legislativos do Ministério da Justiça
acompanhando a ex-deputada Janira Rocha,
vice-presidenta da Associação Nacional
da Advocacia Criminal do Rio de Janeiro
(Anacrim-RJ), no dia 19 de março. E no dia
2 de maio se encontrou com Rafael Velasco
Brandani, titular da Secretaria Nacional de
Políticas Penais (Senappen).
À época, ela não tinha condenações na
Justiça e chegou a ser absolvida por “ausência/
fragilidade de provas” em processo sobre tráfico
de drogas.
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“Fui absolvida na primeira instância, isso
os jornais não estão mostrando”, escreveu
no Instagram. Condenada em segunda
instância somente no mês passado, ela
recorre em liberdade.
“O que tem de palpável contra essa pessoa?
Eu não tenho um único documento oficial, nada,
que ligue essa jovem, essa mulher,
à organização criminosa. O que
acontece é a criminalização
dos familiares dos presos”,
disse a presidenta interina
do CEPCT-AM, a advogada
Natividade Maia, à Folha de
S.Paulo.w
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Foto Ricardo Stuckert/PR


Política

É muito bom ser


governado por um
ser humano
Gestos que soam falsos e demagógicos
em outros políticos são puro amor quando
feitos por Lula
por Menon

E
m qualquer manual de demagogia para
políticos, beijar crianças e gente pobre é
uma recomendação primária. Top 5, como
dizem agora. Ou talvez o topo da lista.
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Fotos Ricardo Stuckert/PR


O presidente Lula recebe os brasileiros que estavam em Gaza

Lula também recorre a esses gestos; mas


por que com ele a foto e o vídeo exalam
solidariedade, empatia, preocupação, e não
reles demagogia? Tudo é verdadeiro em Lula,
é por isso. Ao contrário do Asmodeus que
nos governava. Lula realmente se preocupa
com os outros, há tempos deixou de ser o
representante dos trabalhadores organizados
para ser a esperança dos pobres e desvalidos.
Um abraço de Lula, mesmo que fotografado por
seu fotógrafo pessoal, é um abraço sincero.
Nas últimas semanas, tivemos dois casos.
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Foto Ricardo Stuckert/PR

O presidente Lula e o menino Gui

Lula recebeu Gui, um garoto torcedor do Vasco,


que tem uma doença de pele. A conversa foi
natural, de avô para neto. Lula o levantou,
pegou no colo, estabeleceu um laço afetivo ao
dizer que também é vascaíno, falou de Roberto
Dinamite e ainda convenceu o garoto a torcer
pelo Corinthians em São Paulo.
Nada é falso ali. Alguém duvida que Lula é
fã de Roberto Dinamite, que é corintiano e que
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estava se sentindo feliz — ou sendo gentil para
gerar gentileza — com o garoto? Que diferença
para o Pai da Mentira, seu antecessor, que
pegava criança no colo e tirava a máscara que
a protegia da covid. O Sinistro só faltava dar ao
garoto o que havia dado às emas: cloroquina.
Se Lula fosse presidente na pandemia,
ele teria superado todas as divergências
ideológicas, partidárias e de classe com João
Doria e ajudado o então governador de São
Paulo na luta pela vacina, ao contrário do
Tinhoso. Somaria esforços como fez com
Tarcísio, afilhado do Canhoto, no caso dos
desabamentos em São Sebastião.

Lula sofreria com cada morte


na covid. Lula, ao contrário do
Mafarrico, não ironizaria os mortos,
não diria que é coveiro, não falaria em
frescura, mimimi, não teria um coração
de gelo. Salvaria vidas.

Como salvou a vida dos brasileiros que


estavam em Gaza. Como salvaria muito mais
se o seu plano não fosse vetado por Biden no
Conselho de Segurança da Organização das
Nações Unidas (ONU).
Lula foi receber os brasileiros que saíram
de Gaza e chegaram ao Brasil. Abraçou
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crianças, jovens e adultos. Estava
emocionado e emocionou. Um
ser humano abraçando outros
seres humanos. Ali não havia
enxofre. Podem dizer que
é demagogia, mas ninguém
acredita. Lula tem crédito.
Lula gosta de pessoas. É um ser
humano, diferentemente do Cão.
Espero que Lula e eu tenhamos saúde para
que, em 2026, eu possa votar nele pela 12ª
vez. E me sentir feliz em estar votando em
um ser humano como eu. Com muito mais
grandeza, claro.w

u Clique aqui e assista ao presidente Lula


recebendo os brasileiros que estavam em Gaza.

u Clique aqui e assista ao encontro entre o


presidente Lula e o menino Gui.
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Foto Reprodução @shehab._2001


Mídia

A desumanidade e o horror
nas frases de jornalistas
brasileiros sobre o
massacre na Palestina
Caio Blinder celebra invasão de hospital
em Gaza, Camila Bomfim ataca Lula por expor
terrorismo de Israel e os jornalistas que atuam
como porta-vozes do genocídio israelense
em território palestino
por Plínio Teodoro

A
s imagens que mostram a invasão das
forças israelenses ao hospital Al-Shifa,
o maior de Gaza, revelam claramente o
crescente terror instalado pelo governo sionista
de Benjamin Netanyahu no território palestino.
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Em pouco mais de um mês de ataques
incessantes, o número de mortos em Gaza
chegou na quarta-feira (15) a 11.360, segundo o
Ministério da Saúde. Dos corpos abatidos pelos
sionistas, 4.609 são de crianças, 678 de idosos
e 3,1 mil de mulheres. Outros 3.250 moradores,
sendo 2,7 mil crianças, estão desaparecidos.
Muito provavelmente embaixo dos escombros.
Na Cisjordânia, governada pelo Fatah —
adversário do Hamas —, Israel já matou 180
palestinos.
Não bastassem as cenas de terror, como
bem traduzido pelo presidente Lula, e o número
crescente de vítimas, jornalistas brasileiros que
atuam na mídia liberal — claramente atrelada
aos sionistas — protagonizam um verdadeiro
show de horror ao traduzirem o genocídio
palestino em frases que beiram a barbárie e a
desumanidade.

Caio Blinder, voz estridente


do fascista Manhattan
Connection — que
deve voltar ao ar —,
comemorou nas redes que
“forças israelenses já
entraram no hospital Al-
Shifa, recheado de pacientes,
refugiados e terroristas do Hamas”.
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Sem o mínimo senso de empatia, o jornalista
já havia celebrado o veto único dos Estados
Unidos à resolução apresentada pelo governo
Lula no Conselho de Segurança da Organização
das Nações Unidas (ONU) para uma pausa
humanitária em Gaza.
Blinder ainda incitou sionistas a ameaçarem o
jornalista judeu Breno Altman, fundador do site
Opera Mundi e voz crítica às ações de Israel.
“Tão asqueroso como os detritos morais
escritos pelo Kapo Altman é o fato de tanta gente
expressar solidariedade. Para deixar claro, ele não
é jornalista, ele é kapo”, escreveu Caio Blinder nas
redes, classificando Altman com o termo usado
para identificar judeus que serviram como agentes
nazistas nos campos de concentração.

“Guerra com viés no sangue”


A dose diária de crueldade na cobertura do
genocídio palestino na mídia liberal brasileira
— quase sempre pelas telas da Rede Globo —
foi alimentada na terça-feira (14) pela jornalista
Camila Bomfim, da GloboNews, ao analisar
o discurso de Lula na recepção do grupo de
brasileiros-palestinos repatriados.
Na ocasião, o presidente Lula equiparou os
atos terroristas do Exército Israelense, matando
cruelmente mulheres e crianças, à ação do
Hamas em 7 de outubro.
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“O que acontece com


a fala de Lula quando
ele compara, coloca no
mesmo patamar, em pé
de igualdade, o Hamas
e Israel: os especialistas
em direito internacional dizem
que, além de serem coisas diferentes,
você não pode analisar a guerra com
viés no sangue que é derramado”, disse
Camila Bomfim, na GloboNews.

Na sustentação, a jornalista diz esperar de


Lula “um debate qualificado”.
“No momento em que você equipara um
grupo terrorista com um Estado, por mais que
você tenha críticas à reação desse Estado ao
grupo terrorista, você já erra de largada. E erra
por radicalismo”, emendou.
A fala de Camila Bomfim encontra eco em
declaração da colega da GloboNews Mônica
Waldvogel, que relacionou o Hamas ao PT,
foi defendida pela Globo e, desmentida, teve
que fazer um mea-culpa nas redes sociais —
em que o alcance é infinitamente menor que o
das concessões públicas administradas pela
família Marinho.
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“Um dos pontos que
chamaram atenção foi o
fato de que o governo
brasileiro procurou
não mencionar o nome
do grupo Hamas. Há
relações de parte do
Partido dos Trabalhadores (PT),
de encarar como resistência, por causa
do fato de que não há negociações para
oferecer o melhor status para a Palestina”,
disse Mônica Waldvogel logo após a
ação do Hamas, no dia 7 de outubro.

Em longa nota, a Globo apoiou a jornalista:


“Mônica Waldvogel vai reiterar que se referiu,
não ao PT como um todo, mas a um manifesto
assinado, em 2021, por representantes do
partido”, afirmou a emissora.
No texto, a Globo lista nomes de deputados
petistas que apoiaram uma carta que contraria
o rótulo de “organização terrorista” ao Hamas,
que é adotada pela mídia liberal e rechaçada
pela Organização das Nações Unidas (ONU) —
resolução que é seguida pelo governo brasileiro.

Ecos do preconceito
As frases de jornalistas do grupo Globo sobre
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a ação genocida na Palestina ainda refletem
o tratamento desumano e preconceituoso às
camadas mais marginalizadas e pobres do
próprio Brasil.
No Jornal da Globo — que já teve no
comando William Waack, demitido por frase
racista —, Renata Lo Prete colocou em xeque
a contagem dos mortos no território palestino e
fez uma relação absurda para justificar o grande
número de crianças assassinadas pelo Exército
de Israel.

“Por que tantas


crianças mortas? Um fato
estrutural é a demografia
especialmente jovem na
Faixa de Gaza (...). A
pirâmide etária é assim
por força de uma taxa de
natalidade elevada em si e também na
comparação com outros países do Oriente
Médio, 3,9 filhos
por mulher em média”, disse Renata
Lo Prete.

Para justificar as mortes de crianças,


a apresentadora do telejornal noturno da
Globo usa o mesmo argumento eugenista da
ultradireita fascista para atacar os projetos
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sociais no Brasil: que pobres, assim como as
palestinas, têm muitos filhos.
“Esse argumento é usado por sionistas para
negar o genocídio e a limpeza étnica. ‘Se houve
limpeza étnica, por que a população cresceu?’”,
comentou a Federação Árabe-Palestina, a
Fepal, nas redes sociais.
Já o âncora Erick Bang, da GloboNews,
afirmou em 28 de outubro que o cenário de
total destruição na Faixa de Gaza é “perfeito”
para o Hamas se esconder e atacar Israel de
surpresa. A declaração, como não poderia ser
diferente, viralizou nas redes sociais.

“Em Gaza, o cenário


é de muita destruição.
Os prédios estão
em ruínas e são um
cenário perfeito para os
terroristas do Hamas se
esconderem e atacarem de
surpresa”, declarou
Erick Bang.

“Para Israel, essa incursão é necessária.


Objetivos táticos, como resgatar reféns ou
destruir alvos específicos do Hamas”, disse,
“esquecendo” que os ataques de Israel em
Gaza já atingiram um hospital e área próxima a
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outro, o que resultou na morte de centenas de
civis inocentes.
“Durante o deslocamento dessas tropas
de Israel, o Hamas pode usar os becos
e vielas de Gaza como rotas para que os
terroristas façam emboscadas, por exemplo,
cercando os israelenses”, prosseguiu Bang,
mantendo sua teoria de que para o Hamas a
tragédia é estratégica.

Desumanidade pontual
No entanto, um dos principais porta-vozes da
desumanidade do genocídio é Jorge Pontual,
correspondente da emissora em Nova York.
Durante o programa Em Pauta, da
GloboNews, na noite de 13 de outubro, Jorge
Pontual apoiou os ataques israelenses a
ambulâncias e hospitais em Gaza.

“Atacar terroristas
do Hamas é um direito
que Israel tem. Se
eles estavam em uma
ambulância, infelizmente
era isso que Israel tinha que
fazer: alvejar esses seus
inimigos”, disse cruelmente
Jorge Pontual.
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Diante do repúdio generalizado, Pontual
soltou uma nota em seu perfil no Instagram
— com o alcance infinitamente menor que o
da Globo.
“Ao comentar o ataque a uma ambulância
na Faixa de Gaza, minha intenção foi a de
dar a versão de Israel. Admito que não fui
feliz, pois a muitos pareceu um endosso. Isso
seria impossível, ninguém tem informações
seguras sobre o que lá se passa”, argumentou,
repetindo a ladainha israelense sobre as notícias
vindas do território palestino.
Dias antes do comentário sobre o ataque às
ambulâncias, Pontual propagou a maior mentira
proliferada sobre a guerra até agora, de que o
Hamas teria decapitado 40 bebês.
“Horror de todos, não só americanos e
israelenses, diante dessa monstruosidade que o
Hamas fez em Israel: é pior que terrorismo você
decapitar bebês”, disse o jornalista da Globo
sobre a informação não confirmada até mesmo
pelas Forças de Defesa de Israel.w
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Foto Reprodução Facebook


Global

Um raio não cai duas


vezes no mesmo lugar,
mas pode atingir a
casa do vizinho...
Artigo de historiadora argentina
e cientista social brasileiro debate os dilemas
da Argentina e o legado do bolsonarismo
no continente
por Carla Sangrilli e Josué de Souza

N
o Brasil, existe um ditado que afirma:
“um raio não cai duas vezes no mesmo
lugar”. Com todo respeito à sabedoria
popular, embora não caia duas vezes no
mesmo lugar, parece que um raio pode ao
menos atingir a casa do vizinho. Isso porque,
no dia 19 de novembro, a Argentina realizará
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o segundo turno das eleições presidenciais.
Lá, assim como aconteceu no Brasil, os dois
candidatos são muito diferentes. De um lado,
Sergio Massa, advogado e atual ministro da
Economia, líder da Frente Renovadora, que
reúne políticos do peronismo, do kirchnerismo
e de outros espaços, como os radicais (partido
argentino centenário, aliado do ex-presidente
Macri numa aliança prestes a desmoronar). O
cargo que assumiu está em plena crise política
e financeira.
Quem não acompanha o cenário político
argentino talvez tenha dificuldade em entender
por que um ministro da Economia de um país
em crise chegou ao segundo turno como
opção viável para a Presidência. Duas questões
explicam isso: a primeira é que o poder de
compra permanece elevado no país, uma vez
que os salários formais superam a inflação, em
razão dos aumentos regulares. Apesar disso,
assim como no Brasil, há muitos argentinos
trabalhando na informalidade, portanto a inflação
consome rapidamente seus salários. Esses são
os eleitores mais irritados com o governo.
A segunda questão é de outra natureza:
como disse Jorge Luis Borges, “não é o amor
que nos une, mas o medo”. O medo de que o
raio que atingiu a casa dos vizinhos brasileiros
possa agora incendiar as casas dos argentinos.
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Fotos Reprodução
Ambos representantes da extrema direita, existem várias semelhanças
entre Javier Milei e o ex-presidente Jair Bolsonaro

Javier Milei, da coligação La Libertad Avanza,


economista e populista de extrema direita, é
ligado a grupos econômicos argentinos e se
tornou conhecido pelas suas participações em
programas de televisão de gosto duvidoso. Sim,
e essa não é a única semelhança entre ele e
Jair Messias Bolsonaro. Defensor do liberalismo
radical, o candidato propõe “quebrar tudo”,
começando do zero. Entre suas principais
ideias estão a dolarização da economia (algo
inconstitucional na Argentina), o abandono da
educação e da saúde públicas, bem como
de qualquer proposta de igualdade. Milei
propõe a eliminação dos diversos subsídios
existentes nos serviços públicos de eletricidade,
transporte e gás. Promete paralisar as obras
públicas e privatizar as estradas. Quem quiser
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usar uma estrada ou rua deve pagar, afirma.
Ele defende o fim das verbas rescisórias, dos
abonos salariais e de um salário extra que
existe desde 1945, instituído por Perón. Assim
como seu apoiador brasileiro, Milei mobiliza
imagens anticomunistas. Ele promete romper
relações comerciais com os dois principais
parceiros da Argentina: China e Brasil, definidos
por ele como comunistas. Também defende a
permissão da venda de crianças e de órgãos.
Suas propostas mobilizam a chamada
agenda de costumes. Milei nega o casamento
entre pessoas do mesmo sexo e defende
a possibilidade de os homens negarem a
paternidade. Nos debates políticos, ele usa
linguagem violenta contra os oponentes. A
sua violência contra quem pensa diferente é
característica da sua pessoa e do seu espaço
político. Sua candidata a vice-presidente é
Victoria Villarruel, filha e neta de soldados.
Advogada, defensora de militares condenados
por crimes contra a humanidade, admiradora
de Videla, um dos líderes militares que governou
a Argentina durante a última ditadura, para
muitos, ela é mais perigosa que o próprio Milei.
Milei apresenta-se como um candidato
antissistema. Defende o fim das “castas”,
insurgindo-se contra os funcionários públicos
em geral, e não apenas os mais graduados,
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com destaque para os funcionários do Poder
Executivo e do Poder Legislativo. Ficam de
fora de sua mira outras “castas”, como a dos
juízes com nomeação vitalícia, que gozam de
diversos privilégios. O curioso é que, desde
2021, quando se elegeu deputado nacional
pela cidade de Buenos Aires, apesar de lutar
contra as “castas”, Milei não comparece às
reuniões da comissão de trabalho e, até agora,
faltou à metade das sessões do Parlamento.
Comportamento muito semelhante ao do seu
homólogo brasileiro.
No domingo (12), em um debate na televisão
argentina, Milei afirmou que houve
fraude nas eleições de outubro.
Essa operação, que imita
Trump e Bolsonaro, parece
começar a ganhar força.
Nesses últimos dias, o
tribunal eleitoral argentino
afirmou que não dispôs o
número necessário de cédulas para os eleitores
nos locais de votação. Ainda não se sabe o
que o órgão fez com o dinheiro que o Estado
lhe confiara para imprimir aquelas cédulas,
mas suspeita-se que a falta delas no dia das
eleições é o que permite aos seguidores de
Milei “confirmar” a ideia de fraude nas eleições
ou a incapacidade de votarem na opção que
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desejavam, negando assim o resultado das
urnas, expressão da vontade do povo argentino.
Se assim for, são esperadas ações violentas
como as que ocorreram nos Estados Unidos e
no Brasil.

Sergio Massa,
adversário de Milei nas
eleições argentinas

Foto Reprodução Facebook

Por outro lado, o apoio ao candidato Massa


é crescente. Nos últimos dias, ele reuniu
artistas, sindicatos, grupos LGBTQIA+, igrejas
evangélicas, ativistas de diversos movimentos
políticos, universidades, cientistas, associações
civis, aposentados, radicais e peronistas.
A visão atual de muitos argentinos é que a
democracia está em risco por causa de Milei, o
candidato violento, misógino, autoritário e com
pouca estabilidade emocional. As ideias de
“aniquilar o inimigo” e “esmagar” os socialistas,
menções às “forças do céu” e o discurso
CLUBE DE REVISTAS

Foto Reprodução
Fãs argentinos da cantora Taylor Swift se manifestam
contra o voto em Javier Milei

messiânico que propaga são indícios, para


muitos, de um movimento com características
fascistas na Argentina. Milei e seu séquito
souberam como conseguir isso, portanto não
podemos ficar em posição morna. #NoAMilei
é o slogan que mais se repete nos dias de
hoje. Esperamos que, sim, continuemos a lutar
por uma democracia para todos, em todos os
lugares do mundo, por uma democracia que
melhore a cada dia.w

*Carla Sangrilli é professora e doutora em história pela


Universidade Nacional de Mar del Plata, Argentina;
Josué de Souza é professor, cientista social e doutor em
desenvolvimento regional pela Universidade Regional de
Blumenau (Furb).
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Global

O golpe cínico que


derrubou o premiê de
Portugal e a Lava Jato
fazendo escola
Modelo brasileiro no qual MP grita alto e parte
da imprensa bate o bumbo, sem provas de
nada, já é usado na Europa; o ocorrido na
“terrinha” mostra isso
por Henrique Rodrigues, de Lisboa

O
s estudos antropológicos e históricos
mais robustos mostram que, como
povo, nós, os brasileiros, “aprendemos”
muitas coisas com os portugueses, aqueles
que nos colonizaram por mais de três séculos e
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que deixaram indiscutíveis e indissolúveis traços
como civilização, sejam eles bons ou ruins. Pois
agora, já caminhando para o meio do século
21, parece que nós, os brasileiros, é que temos
transmitido alguns “valores” aos habitantes da
estreita franja ocidental da Península Ibérica.
Era manhã em território luso, dia 7 deste
mês, quando a programação de todas as
emissoras foi interrompida para mostrar uma
ação policial que tinha como alvo
inúmeros integrantes do governo
do primeiro-ministro socialista
António Costa, entre eles
seu chefe de gabinete,
Vítor Escária, e o ministro
das Infraestruturas, João
Galamba. Numa gaveta do
gabinete de Escária, dentro do Palacete
de São Bento, chefia do governo português, os
agentes da Polícia de Segurança Pública (PSP)
encontraram 75 mil euros.
A ação era fruto de um procedimento aberto
pelo Ministério Público (MP) de Portugal,
que àquela altura investigava suspeitas de
ilegalidades e crimes, incluindo aí o recebimento
de propina, em processos envolvendo a
concessão de áreas para exploração de
hidrogênio verde e lítio à iniciativa privada em
duas regiões do país. No total, o MP determinou
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O primeiro-ministro António Costa anuncia sua demissão do cargo

busca e apreensão em 42 locais, sendo


17 propriedades privadas, 5 escritórios de
advogados e outros 20 espaços de instituições
públicas. Cinco pessoas foram imediatamente
presas, entre elas Vítor Escária, o chefe de
gabinete do primeiro-ministro português.
Passadas poucas horas, veio então a bomba:
António Costa, chefe do governo de Portugal,
era alvo de uma investigação formal aberta
pela Procuradoria-Geral da República (PGR),
realizada em separado por determinação do
Supremo Tribunal de Justiça (STJ), uma vez que
o premiê tem essa prerrogativa de foro. Sobre
a acusação, absolutamente nada, nem uma
só palavra. Mas a investigação estava aberta,
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garantia o comunicado da PGR.
Em pouco tempo Costa estava no púlpito do
Palacete de São Bento, tenso, e anunciando
sua demissão. Acabava ali o 23° Governo
Constitucional de Portugal, que no próximo ano
completa 50 anos de sua redemocratização,
um orgulho para os portugueses, que em 25 de
abril de 1974 deixaram para trás a mais longeva
ditadura do ocidente no século 20, sob a égide
do tirano António de Oliveira Salazar.
“O prestígio das instituições democráticas,
que me cabe acima de tudo preservar, torna
incompatível que se mantenha em funções
quem, através de um gabinete de imprensa
da Procuradoria-Geral da República, toma
conhecimento que já foi, ou vai ser aberto um
processo-crime contra mim”, começou dizendo
o premiê do PS, o Partido Socialista, uma
potência político-eleitoral de centro-esquerda,
como o PT no Brasil.

Ele ainda acrescentou que “é


fundamental que os portugueses tenham
total confiança em quem exerce as
funções de primeiro-ministro”.

“Quero dizer, olhos nos olhos aos


portugueses, que não me pesa na consciência
a prática de qualquer ato ilícito, ou sequer
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de qualquer ato censurável”, seguiu Costa,
reiterando que “respeito a independência da
Justiça, respeitei relativamente aos outros,
respeito relativamente a mim, e agradeço que
todos a respeitem e, portanto, deixemos a
Justiça funcionar normalmente, e é pela minha
parte o que eu farei, e a Justiça há de concluir
esse processo”.
Não é preciso dizer que seus opositores
festejaram vivamente. O PSD (Partido Social
Democrata), principal agremiação da direita
tradicional portuguesa, como o PSDB já foi um
dia no Brasil, emitiu nota e se assanhou para
que uma rápida dissolução do Parlamento fosse
anunciada pelo presidente da
República, Marcelo Rebelo
de Sousa. Assim foi também
com outros partidos e grupos
políticos, até mesmo na
esquerda mais radical, como
no Bloco de Esquerda (BE) e
na coalizão CDU (formada pelo
Partido Comunista Português e pelo Partido
Ecologista “Os Verdes”).
Com o anúncio da demissão, no entanto,
houve um grupo que festejou de forma ainda
mais descarada. O Chega, partido de extrema
direita controlado pelo descontrolado André
Ventura, que cresce acentuadamente aos olhos
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André Ventura, do partido de extrema direita Chega

de todos ano a ano, entrou em êxtase. Nas


primeiras sondagens, percentualmente falando,
o tal “Bolsonaro português” foi o que mais
capitalizou com o “escândalo de corrupção”.
Mas voltemos à investigação contra António
Costa, aberta pelo Ministério Público. Dias
depois de entregar o cargo, é finalmente
divulgado o que pesou contra o primeiro-
ministro. Numa escuta telefônica feita pelos
investigadores, com autorização da Justiça,
o consultor e advogado Diogo Lacerda
Machado, chegado dos intestinos do poder,
diz ao administrador de startups Afonso
Salema, alguém supostamente interessado
num trambique com o governo no caso das
concessões suspeitas:
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“Tá bem. Eu vou decifrar essa, se é Economia
ou Finanças. Vou começar por aí e depois logo
lembro como tomamos a iniciativa de suscitar
e sugerir. Se for Finanças, eu falo logo com o
Medina ou com o António Mendes, que é o
secretário de Estado. Se for Economia, arranjo
maneira depois de chegar ao António Costa.”
Há um problema aí. O ministro
da Economia chama-se
António Costa Silva.
Não teria cabimento dizer
que resolveria algo com
o primeiro-ministro caso
a questão fosse parar no
Ministério da Economia. Como
chefe máximo do governo, o premiê António
Costa, em tese, conseguiria interferir em
qualquer pasta, em qualquer situação. Outra
coisa: ao se referirem ao primeiro-ministro,
todos os funcionários do governo, mesmo que
informalmente, o chamam pelo cargo, não pelo
nome de batismo.
Só que não foi isso que o MP “entendeu”. A
partir daí, considerou o primeiro-ministro António
Costa suspeito e abriu uma investigação, com
autorização do Supremo Tribunal de Justiça, o
que o fez se demitir. Um golpe claro, evidente e
cristalino, assumido indiretamente poucos dias
depois da renúncia do chefe de governo, após o
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advogado de Diogo Lacerda Machado denunciar
que a fala de seu cliente nunca se referiu ao
chefe de governo luso, mas sim ao então
ministro da Economia.
“Estou cá para colaborar totalmente com
a Justiça, para apurar toda a verdade e tudo
aquilo que a Justiça entender dever apurar
sobre matéria que, aliás, desconheço o que
seja. O comunicado é omisso no que me é
imputável”, falou António Costa (primeiro-
ministro), ainda em seu comunicado de
demissão, no dia 7. Por certo, o comunicado
não era “omisso”. Era malandro, para dizer o
mínimo, e criminoso, para dizer o máximo.

Parlamento
português Foto República Instagram

O presidente da República, após consultar


todos os partidos com representação na
Assembleia da República e realizar uma reunião
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com o Conselho de Estado, três dias após o
“escândalo” explodir, anunciou sua decisão,
que seria natural naquelas circunstâncias.
Em pronunciamento à nação, confirmou a
dissolução do Parlamento e marcou eleições
gerais antecipadas para 10 de março de 2024,
mantendo Costa como “primeiro-ministro em
funções” até lá. O “esclarecimento” sobre a
“confusão de nomes” só seria levado a público
uma semana depois.
Em poucas palavras, o leite já estava
derramado e, numa primeira análise legal e
constitucional, não haveria o que fazer agora,
mesmo tendo sido Costa vítima evidente de
um “erro”.
A história rocambolesca e bizarra lembra as
mais malucas peripécias do período da força-
tarefa da operação Lava Jato, que em conluio
com um consórcio de veículos de imprensa
liberais alardeava as mais grotescas acusações,
sem qualquer prova ou conexão, contra o
governo da então presidenta Dilma Rousseff
(PT) e seus aliados. Era refinaria de Pasadena
pra cá, triplex no Guarujá pra lá, vazamento
de escuta ilegal feita no Planalto para o Jornal
Nacional, em que absolutamente nada era
relevante, acolá. Enfim, um pandemônio
generalizado que em seu estágio final pariu (ou
defecou) Jair Bolsonaro, o bufão aloprado risível
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que tirou a sorte grande.
Para Lenio Streck, um
dos mais respeitados juristas
brasileiros, que atuou no
Ministério Público do Rio
Grande do Sul por 28 anos e
que acompanhou face a face os
absurdos da Lava Jato, o famigerado
lawfare virou prática corrente no cenário político,
envolvendo as instâncias de Estado, o que não
deveria ocorrer.
“Num Estado Democrático de Direito jamais
se pode pensar que uma investigação policial
ou investigação por parte do Ministério Público
possa alterar os rumos da política. É a negação
total do direito. O direito jamais pode ser
utilizado como instrumento ou arma política.
Isso se chama lawfare. No Brasil, o MP atuou
com lawfare, mas se descobriu depois apenas.
E ainda estão investigando”, começou dizendo
Lenio à Fórum.
“Nas circunstâncias atuais, acontecesse
no Brasil um caso igual ao de Portugal, o
procurador-geral seria processado e sofreria
inexoravelmente um impeachment. De todo
modo, o ocorrido em Portugal acende uma
luz amarela no limite do vermelho. O poder
de qualquer instituição deve ter limites. A
democracia está sustentada no direito. Não
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pode ser prejudicada pelo direito. Na verdade,
é possível dizer que o MP golpeou o mandato
do primeiro-ministro... Claro, considerando ser
verdadeiro o que está sendo mostrado agora
nos meios de comunicação. Isto é, que o
Ministério Público cometeu esse erro crasso”,
completou o jurista.
A “malandragem” de “passar o rapa” no
mandato de um governo não muito simpático
ao discurso neoliberal, sem utilizar os
expedientes mais conhecidos do passado,
como golpes com tanques e tropas nas ruas,
ou com ações de terror para desestabilizar a
ordem pública, ao que consta, virou febre e não
foi só no Brasil.
Quem falou também com a Fórum
foi o advogado, historiador formando na
Universidade Estadual Paulista (Unesp) e
professor há mais de 20 anos
em cursos preparatórios
pré-vestibulares Marcelo
Cardoso da Silva. Ele
lembra que essa prática,
que começou a ficar famosa
mundo afora após o golpe
contra o PT e a ex-presidenta
Dilma Rousseff, vem ganhando terreno.
“As democracias no mundo, por muitos anos,
sofreram com derrubadas de poder por meios
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violentos, geralmente com a participação de
militares ou grupos armados comandados por
caudilhos, que pressionavam ou escancaravam
as suas ameaças. Atualmente, estamos notando
um tipo diferente de tomada de poder. As
estruturas de governo têm sido por várias vezes
ameaçadas por uma forma diferente de golpe,
um golpe que acontece dentro de escritórios
políticos, com o apoio de lobistas e de setores
da imprensa que criam fatos ou narrativas em
relação a determinados governantes, que aí
não conseguem mais apoio político de partidos
que temem estar ligados a essas narrativas,
perdendo assim a capacidade de governar.
Acabam sendo derrubados de forma ‘limpa e
pacífica’, dando a impressão de legalidade e
normalidade democrática”, explicou o historiador.
O professor lista alguns casos ocorridos de
pouco mais de uma década para cá e diz ter
ficado surpreendido com o fato de essa prática
ter chegado até a uma democracia europeia
vista como sólida.
“Muitos têm sido os exemplos nesses
últimos anos na América Latina, como o de
Fernando Lugo, no Paraguai, a presidenta
Dilma Rousseff, no Brasil, e o que quase
aconteceu com Cristina Kirchner, na Argentina.
Inicialmente, dava a impressão de que esse tipo
de procedimento seria uma artimanha apenas
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Fotos Reprodução
Fernando Lugo, do Paraguai, Dilma Rousseff, do Brasil,
e Cristina Kirchner, da Argentina

na América Latina, ou em países considerados


“não desenvolvidos”, mas pudemos observar
o que ocorreu agora em Portugal, com o
primeiro-ministro socialista António Costa e essa
“trapalhada” do Ministério Público. Um país
com uma história recente de democracia sólida,
mas que ao que tudo indica experimentou
essa nova forma de golpe. Eu costumo dizer
que é um golpe ainda mais covarde, e cínico,
se comparado com aquilo que acontecia na
América Latina durante a Guerra Fria, por
exemplo”, concluiu Cardoso.w
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Música

Roger Waters
Vou agradecer e
lembrar por toda a vida
de ter visto aquilo
por Julinho Bittencourt
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Único artista do planeta capaz de lotar


estádios falando durante duas horas e meia
sobre guerras, fome, assassinatos; e a plateia
saí de lá doida pra mudar o mundo

F
oi indescritível. Todas as dúvidas que
poderia ter em assistir a um roqueiro de
80 anos que há basicamente três décadas
não emplaca um novo sucesso foram dizimadas
nos três primeiros segundos.
Com cerca de 20 minutos de atraso e logo
após o já tradicional aviso para que os que não
concordam com as opiniões políticas de Roger
Waters que “vazem pro bar”, o estádio virou do
avesso. Sentado de lado em uma cadeira, ele
disparou Comfortably Numb, um dos grandes
sucessos do álbum “The Wall”, do Pink Floyd. E,
assim, deu início ao show de sua turnê This Is
Not a Drill.
Tudo bem, tudo bem. A canção ajuda.
Mas tudo o mais foi devastador. Um telão
enorme que atravessava o palco de lado a lado
projetava imagens de pessoas caminhando por
uma longa rua. A pressão da banda que nada
deixava a dever a qualquer outra formação
anterior (nada mesmo) e a voz intacta do autor
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Foto Reprodução X
Roger Waters deu de presente para o público inúmeros sucessos do Pink
Floyd alternados com algumas de suas canções mais recentes

fizeram o resto. Começava ali, na noite daquele


sábado (11), no Allianz Parque, em São Paulo,
um dos maiores espetáculos da terra.
Exagero? Nada. Exagero mesmo foi
o show. Waters é um dos inventores da
modernidade na música pop. Usou e abusou
da tecnologia não só na música como também
nos concertos, tanto nos de sua lendária
banda quanto nas suas apresentações solo.
A maneira como é colocado o telão deixa a
impressão na plateia que se está vendo o
show em um local pequeno, um bar ou um
teatro para 500 pessoas.

O ativismo
Roger e sua banda estão ali, o tempo
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todo, alternados com imagens de agressões,
catástrofes, fome, líderes assassinados (o nome
de Marielle Franco foi ovacionado quando
surgiu) com o motivo abaixo: “ser negro”, “ser
palestino”, entre outros.

Foto Reprodução X

Ele é, com certeza, o único artista do planeta


capaz de encher um estádio com 40 mil, 50
mil pessoas e passar todo o tempo cantando e
falando apenas de temas contundentes como
as guerras, a fome, ativismo político, as mazelas
do capitalismo, desequilíbrio mental, entre
outros. Em vez de aborrecido, o público sai do
seu espetáculo com uma vontade ainda maior
de mudar o planeta.
Waters deu de presente para o público
inúmeros sucessos do Pink Floyd alternados
com algumas de suas canções mais recentes.
Tudo, no entanto, era tão bem executado,
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planejado e sincronizado entre o cantor, a
banda, o telão e até mesmo intervenções
de animais infláveis pelo meio da plateia –
referência à canção Sheep, do álbum “Animals”,
inspirado livremente em Revolução dos Bichos,
de George Orwell – que nada, em momento
algum, tornou-se cansativo.
Muito ao contrário, se é que algo pode
ser dito de negativo sobre o espetáculo, é o
excesso de informação. São tantas referências,
imagens, sons, enfim, uma explosão de sinais
que podem deixar o espectador atônito, com
vontade de ver e rever inúmeras vezes.
Ao final, quase como que para provar o
contrário de tudo o que disse e fez antes,
Waters e sua banda se transformam em um
pequeno grupo, que lembra de leve uma banda
folclórica irlandesa no estilo dos The Chieftains,
e encerram o espetáculo caminhando em
direção aos camarins.
Um anticlímax digno de um espetáculo de
tirar o fôlego de qualquer um. Ao fim e ao cabo,
vou agradecer pelo resto da vida à minha filha
Beatriz por ter comprado o ingresso e me
arrastado para ver algo que nunca mais vou
esquecer na vida.w

u Clique aqui e assista ao trailer oficial da turnê


This Is Not a Drill.
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Foto Divulgação

Cinema

Ó Paí, Ó 2 atualiza
dores e manhas da
luta preta pela vida
por Paulo Donizetti,
especial para Fórum
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Filme incorpora slam, metaverso,


ocupação das ruas e suas festas, das redes e
suas tribos à explosão musical e ao humor que
marcaram o primeiro longa

D
ezesseis anos após a primeira versão, o
filme Ó Paí, Ó volta às telas atualizado
e preservando o ritmo, o balanço e
a graça da produção de 2007. No mês da
Consciência Negra, a batalha cotidiana do
povo preto por, mais que sobrevivência,
respeito e direito ao sonho segue presente na
continuação Ó Paí, Ó 2.
O filme capta um retrato do país nas mazelas
políticas e nos contrastes sociais, raciais,
culturais e religiosos das ruas do Pelourinho,
centro histórico de Salvador. Assim define o
ator Lázaro Ramos, que volta a viver Roque, um
aspirante a cantor de sucesso.
“Na Bahia, quem não sabe andar pisa no
massapê e escorrega”, diz a diretora Viviane
Ferreira, citando versos de roda de capoeira. “É
uma mensagem de vida e de força”, emenda
Monique Gardenberg, que participou da direção
em 2007, e se declara satisfeita por migrar para
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Foto Divulgação
Viviane Ferreira, diretora de Ó Paí, Ó 2

a coprodução e passar o bastão da direção “a


quem de direito”, uma mulher negra.
Viviane foi a segunda mulher negra no país
a dirigir um longa-metragem de ficção, Um
Dia com Jerusa (2020). A primeira foi Adélia
Sampaio, com Amor Maldito (1984). A cineasta
– também advogada e ativista – destaca o
protagonismo do Bando de Teatro Olodum
no projeto Ó Paí, Ó. Da concepção original ao
resultado final. Elenco e equipe de produção
concederam entrevista coletiva on-line no último
dia 13, após a exibição do filme para jornalistas.

Você é negro!
Quem viu a primeira versão se lembrará de
momentos de muito ritmo, muito riso, mas
também de muita dor. Nela, a discussão entre
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Lázaro Ramos e Wagner Moura em cena de Ó Paí, Ó (2007)

o bandido Boca (Wagner Moura) e Roque


(Lázaro Ramos) – “Você é negro! Você é ne-
gro!”, grita Boca – tornou-se cena antológica
sobre racismo no cinema. Porque a resposta de
Roque é uma aula que desmonta a cisão racial
em que, por conveniência, o capitalismo dividiu
a humanidade.
“Eu sou negro sim, mas por um acaso negro
não tem olhos, Boca? Negro não tem mão? Não
tem pau? Não tem sentidos, Boca? Não come
da mesma comida? Não sofre das mesmas
doenças e precisa dos mesmos remédios?
Quando a gente sua, não sua o corpo tal qual
o branco? Quando vocês dão porrada na gente
a gente não sangra igual, hein? Quando vocês
fazem graça a gente não ri? Quando vocês
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dão tiro na gente a gente não morre também,
porra? Pois, se a gente é igual em tudo, também
nisso [receber pelo serviço prestado] vamos ser,
caralho!”, responde Roque.
E se no filme de 2007 a história termina no
assassinato de Cosme e
Damião, os filhos miúdos
de dona Joana
(Luciana Souza) mortos
a tiros pela polícia,
é justamente pela
dor de dona Joana
– enlouquecida com a
perda dos filhos – que a
história recomeça em Ó
Paí, Ó 2. A perda de filhos pretos e pobres
mortos pela Polícia Militar (PM), aliás, ainda é
inexplicavelmente drama crescente entre as
mães da Bahia, do Brasil, de hoje.
Luciana (que atuou em Bacurau e foi
premiada pelo curta Inabitável) diz que a
profissão não é dissociada de sua história de
vida. Assim como a história do ator Vinícius
Nascimento, que aos 7 anos viveu Cosme em
2007 e agora, aos 25, volta ao elenco como
um sem-teto acolhido por Joana. “Sou morador
do Pelourinho há 25 anos. As pessoas vão
entender muito do que eu quero falar”, diz ele.
Em sua loucura e dor, dona Joana,
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evangélica, acabará implorando a Iemanjá pela
volta do filho que perde pela segunda vez. Mas
em sua prece, ao se dizer “crente em Deus”,
parece rebaixar a expectativa de ser atendida.
A propósito, assim como o Carnaval no filme
de 2007, a Festa de Iemanjá é o pano de fundo
para a comunidade do Pelourinho colocar em
ação o plano de resgate do bar de Neuzão.
Ainda que a tradição da festa esteja em baixa
entre o próprio grupo: “Tem mais asiático do
que gente”, diz a personagem Maria (Valdinéia
Soriano), agora ex-mulher do taxista Reginaldo
(Érico Brás). Por sinal o chofer está um pouco
mais “robusto” do que em 2007: “Quem não
tem barriga não tem história”, defende-se.
Foto Divulgação

Outro planeta
Roque abre Ó Paí, Ó 2 brincando com as
transformações do país em uma década e meia.
“Quando você olha, assim, parece que tá tudo
igual. Mas de perto, assim, com uma lupa, você
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percebe como todo mundo fez as malas e se
mudou para outro planeta”.
Segundo ele, um dos fatores encorajadores
da nova produção foi a repercussão perene
da história nas redes. “O público não deixou
esse filme morrer. Essa obra teve o poder
de continuar na vida das pessoas”, afirma
Lázaro Ramos. “E voltar com Ó Paí, Ó é uma
oportunidade de rever o que aconteceu com
nosso país nesses mais de 15 anos”.

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O mote para a sequência é a batalha da


comunidade pela recuperação do bar de
Neuzão (Tânia Toko). O estabelecimento foi
tomado em uma trambicagem envolvendo
especulação imobiliária, corrupção cartorial e
o “empreendedorismo” coreano e chinês e sua
crescente ocupação do comércio local, como
ironiza Tânia Toko.
A mobilização toma o ritmo do Bando de
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Teatro Olodum, onde o próprio Lázaro Ramos
debutou como ator aos 15 anos. Hoje, 30 anos
depois, ele admite que o joelho já
não é mais o mesmo, mas
não é o que parece.
Dira Paes, que voltou
à personagem Psilene
dois dias depois de
encerrar as gravações
da novela Pantanal,
considera o Pelourinho e o
bando “por si só” uma internet.
“Uma conexão de pessoas através de coisas
que concordam e discordam. É um dos filmes
pelos quais mais sou lembrada nas ruas, como
se não houvesse esse hiato de tantos anos”.

Novas ferramentas
Se a moral da fábula é valorizar a força da
coletividade diante de uma vida de cão, nas
mais precárias condições, a narrativa traz ao
outro planeta instalado no Pelourinho as novas
ferramentas que se integrarão à luta. Uma
juventude que usa o slam para se apropriar
e difundir a força das palavras. Que conhece
Malcolm X, mas prefere citar Beyoncé. Que
incorpora ao seu arsenal a capilaridade das
redes para se comunicar, a inteligência hacker
para investigar, a linguagem do metaverso
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Cenas de Ó Paí, Ó 2

(encontro de internet com realidade digital e


virtual, e transição para a inteligência artificial)
para convencer.
Tudo isso sem perder a ginga, a explosão
musical e corporal. Afinal, em meio a tantas
dores, pilantragens, mazelas e dramas, o filme
ainda é uma... comédia. “Uma chanchada
moderna: com muito humor, música e teatro de
revista”, classifica o dramaturgo e escritor Elísio
Lopes. Ele assina o roteiro ao lado de Daniel
Arcades, Igor Verde e Viviane Ferreira, com a
ajuda de Luciana Souza, Rafael Primot e Bando
de Teatro Olodum.
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“Todos os personagens são importantes,
todos ajudam a construir os textos”, explica.
“Todos são criaturas de si mesmos, e partimos
do entendimento de que é o Brasil de hoje que
está aqui”, avalia Elísio. Diversos nomes de
diferentes gerações da música, como Margareth
Menezes (atual ministra da Cultura), Tiganá
Santana, Russo Passapusso (BaianaSystem)
fazem pontas valiosas.
Rodado bem no meio da vida real de
Salvador, Ó Paí, Ó 2 tem estreia nacional no
próximo dia 23 de novembro. A produção
reforça ainda a importância da cultura e do
esforço de levar o espectador brasileiro ao
cinema ao informar que o processo criou 850
empregos diretos e indiretos.w

u Clique aqui e assista ao trailer de Ó Paí, Ó 2.


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expediente | edição #85

Diretor de Redação
_ Renato Rovai

Editora executiva
_ Dri Delorenzo

Textos desta edição:


_ Henrique Rodrigues
_ Plínio Teodoro
_ Menon
_ Carla Sangrilli
_ Josué de Souza
_ Julinho Bittencourt
_ Paulo Donizetti

Designer Revisão
_ Marcos Guinoza _ Laura Pequeno

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