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13.1.2023
TERRORISMO
BOLSONARISTA
41
“Todo mundo sabe que tem vários
discursos do ex-presidente da
República estimulando isso. Ele
estimulou a invasão na Suprema
Corte. Ele estimulou a invasão nos
Três Poderes sempre que ele pôde. E
isso também é da responsabilidade
dele. Isso é da responsabilidade dos
partidos que sustentam ele e tudo
isso vai ser apurado com muita força
e com muita rapidez”
Lula,
presidente do Brasil
/ Editorial
4 | Fórum mostrou “contaminação” do
GSI há um mês, mas resto da imprensa
se calou
edição #41
/ Capa
TERRORISMO BOLSONARISTA
9 | Da tentativa de golpe à histórica união
pela democracia, por Ivan Longo
conteúdo |
/ Política
49 | O golpe fracassado, por Emir Sader
54 | O dia em que o “cidadão de bem”
deixou a máscara cair (junto com as
calças), por Cynara Menezes
59 | O governo eleito vai governar, por
Rosilene Corrêa
/ Entrevista
62 | Boaventura de Sousa Santos: Brasil é
um laboratório da extrema direita dos EUA
/ Cinema
69 | Infâncias mediadas pela memória, por
Cesar Castanha
/ HQ
75 | 15 dicas imperdíveis de Histórias em
Quadrinhos para ler nas férias, por Pio Gomes
91 / Expediente
EDITORIAL
Fórum mostrou
“contaminação” do GSI
há um mês, mas resto da
imprensa se calou
O desenrolar das investigações sobre os
ataques terroristas levados a cabo em Brasília
por extremistas bolsonaristas no último domingo
(8), sobretudo no que tange às “descobertas”
sobre uma omissão ou conivência de
integrantes do Gabinete de Segurança
Institucional (GSI) e de militares do Exército,
nomeadamente aqueles que formam o Batalhão
de Guarda Presidencial (BGP), tem feito a
imprensa reverberar uma espécie de “novidade”
no âmbito dessas apurações, noticiada aos
quatro cantos como “fato novo”.
A Fórum, desde 13 de dezembro, vem
trazendo periodicamente informações que
denunciam esses fatos, reportados de forma
exclusiva por uma fonte da Polícia Federal
que é lotada no Palácio do Planalto. Horas
após os ataques de 12 de dezembro, quando
a sede da PF e uma delegacia da PCDF
sofreram tentativas de invasão e a capital
federal transformou-se num mar de carros e
ônibus queimados, nossa reportagem já trazia
dados exclusivos mostrando que agentes do
GSI tinham participação direta nesses eventos
criminosos de sublevação e sedição, bem como
as unidades de policiamento ordinário da Polícia
Militar do Distrito Federal.
Em linhas gerais, os veículos da chamada
“grande imprensa”, assim como a maior parte
da mídia independente, ignoraram a reportagem
e fizeram ouvidos moucos. A razão para isso
não se sabe, mas talvez se suspeite, ainda que
não caiba aqui fazer ilações sobre o que se
passa nessas redações.
Após uma negativa da Presidência da
República ainda sob a batuta de Jair Bolsonaro
em reconhecer a autenticidade de nossa fonte,
num episódio em que o próprio general Augusto
Heleno publicou uma nota descredibilizando
a reportagem, recheada de ameaças veladas
ao repórter que a produziu, a fonte lotada no
Planalto transmitiu em tempo real uma reunião
fechada de dentro do Anexo I daquele palácio,
para comprovar sua existência e a veracidade
das informações passadas. Só que nada disso
foi suficiente para que sua denúncia fosse
repercutida por outros veículos.
Na ocasião em que um grupo de terroristas
implantou uma bomba num caminhão com 60
mil litros de querosene, com o intuito de explodir
o aeroporto de Brasília, o mesmo servidor
informou a organização do infame ato insano
por parte do mesmo aparato de Inteligência
do então governo sainte. A meticulosidade
técnica e as informações precisas mostravam
que a Fórum, mais uma vez, noticiava material
confiável e de extrema gravidade, que seguiu
sendo ignorado e não repercutido.
As informações eram claras, objetivas,
verossímeis e cercadas de dados técnicos
e precisos que corroboravam e provavam a
versão trazida desde o início por essa fonte
instalada no núcleo nervoso do poder político
nacional. Precisou, então, que um evento
de dimensões colossais, como a invasão do
Palácio do Planalto, do Congresso Nacional e
do Supremo Tribunal Federal (STF), ocorresse
para que nossa fonte reportasse ao vivo,
com imagens, durante uma transmissão
extraordinária da TV Fórum, toda a ação eivada
de conivência e de “bom-mocismo” por parte
dos elementos militares que faziam a segurança
daquele local. Estava, fundamentalmente,
comprovada sua existência e a veracidade de
tudo aquilo que era reportado à Fórum havia
quase um mês.
Surpreendentemente, as imagens
disponibilizadas pela Fórum de dentro do
Palácio do Planalto, em tempo real, com
ações policiais e militares em pleno curso
contra terroristas, não foram suficientes para
que a maior parte dos veículos de imprensa
brasileiros estivesse convencida da participação
do GSI e de outros militares nos intentos
golpistas em curso no país. A fonte informa
há quase uma semana que vários integrantes
do antigo GSI bolsonarista seguiam lotados
nos mesmos locais, ainda que o governo
tivesse sido trocado, servindo como “espiões”
e “sabotadores” da nova gestão. Ou seja,
elementos-chaves nesse processo criminoso
de levante contra as instituições democráticas,
artífices do golpismo.
Foi também trazido à tona, ao vivo, durante
a transmissão do Fórum Onze e Meia da última
segunda (9), que integrantes desse mesmo GSI
teriam discutido calorosamente com peritos e
outros agentes da PF dentro do Planalto, no
auge da baderna ignominiosa produzida pelos
bolsonaristas, quando perícias precisavam ser
realizadas e foram dificultadas, ou questionadas,
por militares.
Agora, diante da investigação aberta pelas
mais diferentes instituições de Estado para
apurar essas condutas, e que inequivocamente
desembocaram nos fatos que já havíamos
revelado e reportado, as redações passam
a divulgar algo já dito e tornado público com
evidências, o que soa tão apenas como “notícia
velha” e uma tentativa de “reinvenção da roda”.
Se as informações trazidas pela Fórum
tivessem recebido a devida repercussão que
mereciam, talvez os intentos golpistas, desde
o segundo episódio, envolvendo o caminhão-
tanque, tivessem sido evitados e não se
desdobrariam para a alucinada invasão das
sedes dos Três Poderes e para a tal minuta
golpista do ex-ministro Anderson Torres, que
tentava sacramentar uma ditadura de tutela
militar no Brasil.w
Foto Reprodução
Capa
Terrorismo
bolsonarista
Da tentativa de golpe à histórica
união pela democracia
por Ivan Longo
Foto Ricardo Stuckert
Levante golpista contra as instituições
democráticas promovido por apoiadores
radicais de Jair Bolsonaro criou terreno fértil
para o resgate da ordem democrática em
torno da figura de Lula, ao mesmo tempo
que abre caminho para a tão aguardada
responsabilização do ex-presidente
Q
ue Jair Bolsonaro tem ímpeto autoritário
e golpista não é segredo para ninguém.
Fez fama na política como parlamentar
de baixo clero que elogiava torturadores e
pregava ódio contra a esquerda. Ao se eleger
presidente, estruturou uma máquina de fake
news e discurso de ódio que, ao longo dos
anos, foi forjando um grupo de apoiadores
altamente radicalizados e dispostos a tudo
para manter o “capitão” e sua tirania no poder.
O absurdo ataque terrorista promovido por
esses bolsonaristas contra as sedes dos Três
Poderes em Brasília no dia 8 de janeiro de
2023, portanto, vem sendo gestado, de alguma
maneira, há muito tempo.
Quando Lula se reabilitou politicamente
e começou a despontar como favorito para
vencer a eleição de 2022, Bolsonaro passou
a trabalhar dia e noite no discurso de que as
Foto Reprodução
Acampamento bolsonarista em Brasília, de onde os terroristas partiram
para invadir os prédios dos Três Poderes
Ibaneis Rocha, governador do DF, foi afastado do cargo por suposta conivência
com os atos golpistas. E o bolsonarista Anderson Torres, secretário de Segurança
Pública do DF, exonerado
As primeiras reações
Naquele 8 de janeiro, o presidente Luiz Inácio
Lula da Silva tinha acabado de desembarcar na
cidade de Araraquara, no interior de São Paulo,
para vistoriar os estragos feitos pelas chuvas
na região e oferecer o apoio do governo federal
quando chegaram as primeiras notícias sobre
o levante terrorista praticado por apoiadores de
Bolsonaro em Brasília.
O que era para ser uma agenda corriqueira
de um mandatário se transformou em palco
da primeira reação do Estado brasileiro ao
golpismo. De maneira improvisada, Lula
convocou a imprensa para uma pequena sala
no município do interior paulista, já com um
decreto pronto em mãos, e anunciou de que
maneira o governo federal reagiria para garantir
a manutenção da democracia no Brasil.
O presidente não se furtou de chamar os
fanáticos que promoveram a tentativa de golpe
de “fascistas” e “nazistas”, e nem mesmo de
associar diretamente a Jair Bolsonaro o episódio
Foto Ricardo Stuckert
Em Araraquara, onde estava no momento das invasões, o presidente Lula
assinou o decreto de intervenção federal na segurança do DF
O “day after”
Na segunda-feira, 9 de janeiro, “day after”
do levante golpista de apoiadores fanáticos
de Bolsonaro, equipes da presidência, do STF
e do Congresso Nacional, enquanto a Polícia
Federal empreendia operações para prender
os bolsonaristas envolvidos nos atos de terror,
constatavam a destruição deixada nas sedes
dos Poderes.
O presidente Lula agiu rápido e convocou,
para o mesmo dia, uma reunião no Palácio
do Planalto com todos os 27 governadores
de estado, além do presidente da Câmara
dos Deputados, Arthur Lira, o presidente em
Foto Ricardo Stuckert
Um dia após os atos golpistas, o presidente Lula se reuniu com a ministra Rosa
Weber, do STF, Vital do Rêgo, presidente em exercício do Senado, e Arthur Lira,
presidente da Câmara dos Deputados. Os poderes da República se uniram para que
providências institucionais fossem tomadas contra os terroristas
ainda o ministro.
Também como consequência dos atos
terroristas, o ministro Alexandre de Moraes, do
STF, determinou a prisão de Anderson Torres,
ex-ministro da Justiça de Bolsonaro e secretário
de Segurança Pública do DF quando ocorreram
os atos golpistas. De “férias” nos Estados
Unidos, Torres nega que tenha compactuado
com os terroristas e diz que vai se entregar à
Justiça brasileira.
No mesmo dia em que emitiu a ordem de
prisão, Moraes determinou operação de busca
e apreensão na residência de Torres em Brasília.
No local, policiais federais encontraram uma
minuta (proposta) de decreto para o então
presidente Bolsonaro instaurar estado de defesa
na sede do Tribunal Superior Eleitoral (TSE).
Foto Reprodução
Anderson Torres e a minuta golpista
encontrada pela PF na casa dele
Repercussão internacional
O ataque terrorista promovido por
bolsonaristas radicais em Brasília foi condenado
por lideranças e chefes de Estado de todo o
mundo, que ainda prestaram solidariedade ao
presidente Lula e às instituições
brasileiras.
“A vontade do povo
brasileiro e as instituições
democráticas devem ser
respeitadas! O presidente
Lula pode contar com o apoio
incondicional da França”, disse, por exemplo, o
presidente francês Emmanuel Macron.
O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden,
que chegou a telefonar para Lula, também se
manifestou. “Condeno o ataque à democracia
e à transferência pacífica do poder no Brasil. As
instituições democráticas do Brasil têm todo o
nosso apoio e a vontade do
povo brasileiro não deve ser
prejudicada. Estou ansioso
para continuar a trabalhar com
Lula”, declarou o mandatário
estadunidense.
Pedro Sánchez, presidente do
Governo da Espanha, por sua vez, disse que
Lula tem todo o seu apoio e que condena
“veementemente o assalto ao Congresso
brasileiro”. “Pedimos o retorno imediato à
normalidade democrática”, pontuou o líder
espanhol.
Chefes de Estado da América Latina se
somaram a outros governantes na defesa da
democracia brasileira. O presidente
do Chile, Gabriel Boric,
classificou a investida
bolsonarista contra os Três
Poderes brasileiros como
“inadmissível”. “O governo
brasileiro tem todo o nosso
apoio diante desse covarde e vil ataque à
democracia”, atestou.
“Como presidente da Celac [Comunidade
de Estados Latino-Americanos e Caribenhos]
e do Mercosul, ponho em alerta os países
membros para que nos unamos nesta
inaceitável reação antidemocrática que tenta se
impor no Brasil. Demonstremos com firmeza e
unidade nossa total adesão ao governo eleito
democraticamente pelos brasileiros
que encabeça o presidente
Lula. Estamos junto do povo
brasileiro para defender a
democracia e não permitir
nunca mais o regresso dos
fantasmas golpistas que a direita
promove”, afirmou, por sua vez, o presidente da
Argentina, Alberto Fernández.
Já a Organização das Nações Unidas (ONU)
emitiu um comunicado oficial dizendo que
“condena veementemente qualquer ataque
dessa natureza, que representa uma séria
ameaça às instituições democráticas”. “A
ONU pede às autoridades que priorizem o
restabelecimento da ordem e que defendam a
democracia e o Estado de direito”, concluiu a
entidade global.
Em entrevista à Fórum, a professora Ariane
Roder, que é cientista política e especialista em
relações internacionais na Universidade Federal
do Rio de Janeiro (UFRJ), considerou que “a
demonstração de união das instituições da
República aqui do país, repudiando os atos e a
construção de um plano conjunto de resposta
ao que está acontecendo no Brasil é essencial e
fortalece o Estado democrático de direito”.
“Com o apoio internacional o gesto ganha
ainda mais força, demonstrando que a
democracia é vista como um bem inviolável
para qualquer nação. Isso fortalece o Estado
brasileiro neste momento difícil e demonstra
para a sociedade que as autoridades, mesmo
as que se posicionam ideologicamente contrária
ao atual governo, percebem a relevância da
democracia e a gravidade do episódio de
depredação do patrimônio público, ameaçando
as instituições”, analisa.
Foto Reprodução
E o Bolsonaro?
Nas primeiras horas após os ataques de
bolsonaristas em Brasília, Jair Bolsonaro foi
apontado como um dos responsáveis não só
por Lula, mas também por parlamentares de
diferentes partidos, que já se movimentam para
que o ex-mandatário seja investigado no âmbito
do inquérito dos atos antidemocráticos - o
mesmo que levou os golpistas que participaram
da ação direta à cadeia.
Como se já soubesse do que aconteceria, o
ex-presidente, no dia 31 de janeiro, fugiu para
os Estados Unidos - e lá está até agora. Por
este motivo, a Justiça brasileira vem recebendo
ações que visam obrigar Bolsonaro a voltar ao
Brasil para que, assim, possa ser investigado
e, eventualmente, responsabilizado por ligação
com os terroristas.
O senador Renan Calheiros (MDB-AL), por
exemplo, protocolou uma petição junto ao STF
exatamente com este objetivo. “É importante
pontuar que o atentado à democracia foi
resultado do acúmulo das falas golpistas
e antidemocráticas de JAIR MESSIAS
BOLSONARO, proferidas desde sempre,
mesmo antes de sua eleição para a presidência
da República, mas, principalmente, durante
os quatro anos em que ocupou o Palácio do
Planalto”, diz Calheiros na ação.
“Não há dúvidas de que os atos terroristas
lamentáveis foram a colheita da conduta
golpista plantada por JAIR MESSIAS
BOLSONARO durante toda sua vida
pública”, prossegue o senador, anexando na
representação diversas notícias com falas
e atitudes do ex-presidente incentivando a
conduta golpista dos radicais.
Foto Reprodução
Renan Calheiros (MDB-AL), Luciene Cavalcante (PSOL-SP) e
Sâmia Bomfim (PSOL-SP): parlamentares que entraram com representação
contra Bolsonaro pelos atos terroristas em Brasília
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Foto Marcelo Camargo / Agência Brasil
Política
O golpe
fracassado
Ao invés de representar uma recuperação
dos bolsonaristas, levam o movimento a um
isolamento e decadência, que comprometem
sua sobrevivência política
por Emir Sader
F
oi uma tentativa de golpe, fruto da não
aceitação do resultado das eleições, que já
havia se expressado de distintas maneiras,
desde o reconhecimento da vitória do Lula e
sua posse.
Apenas uma semana desde que Brasília tinha
sido o cenário das manifestações democráticas
mais importantes que o Brasil tinha vivido,
para a posse do Lula. Mas as manifestações
de bolsonaristas se mantiveram, apoiadas na
atitude do próprio ex-presidente, que seguiu se
recusando a aceitar o resultado eleitoral, o que
serve de alento às manifestações golpistas.
A tentativa de golpe do último domingo (8)
teve características específicas. A primeira é
que foi antecedida de várias manifestações
violentas que anunciavam uma escalada de
ações dos que se negam a aceitar o resultado
das eleições. A chegada de dezenas de ônibus
desde a sexta-feira (6) fazia prever que alguma
ação de monta estava por vir.
O caráter que teve a manifestação foi outro
elemento específico. As invasões de alguns
milhares de pessoas davam um caráter de
massa às manifestações.
O objetivo imediato era o de criar uma
desordem, um caos, com apelos aos militares
para que interviessem, alegando a incapacidade
do governo de garantir a ordem no país.
Os slogans “intervenção militar” e “SOS
FFAA” confirmam que tratavam de buscar
que os militares se colocassem à cabeça do
movimento. Foi o que falhou na operação dos
golpistas, que ficaram órfãos politicamente.
A condenação unânime dos meios de
comunicação, das forças políticas, dos
Foto Marcelo Camargo / Agência Brasil
O desespero das manifestações revela o sentimento de derrota que permeia a
oposição radical. O discurso de vários deles revelam que foram movidos pela
sensação de que Bolsonaro não tem futuro político
Foto Reprodução
O dia em que o
“cidadão de bem”
deixou a máscara
cair (junto com
as calças)
por Cynara Menezes
Mesmo com a baderna promovida
no domingo, quem votou em Bolsonaro
vai continuar alegando apoiá-lo “em
defesa da ordem”?
O
s ataques terroristas promovidos
pelo bolsonarismo no domingo, dia 8
de janeiro, em plena capital do país,
colocam boa parte dos apoiadores do ex-
presidente num momento decisivo. As cenas
de baderna generalizada e depredação de
patrimônio público resultaram até agora em
1500 presos, no afastamento do governador
do Distrito Federal, Ibaneis Rocha, e na
exoneração do bolsonarista Anderson Torres,
por ele nomeado secretário de Segurança
havia uma semana.
Mesmo depois das 700 mil mortes na
pandemia e do absoluto descaso do ex-
presidente com as vítimas da covid-19, da volta
da fome e das reiteradas demonstrações de
incompetência, muitos brasileiros ainda votaram
em Jair Bolsonaro em 2022 sob a justificativa
de “defender a ordem”. Por ilógico que pareça,
o capitão que saiu do Exército pela porta dos
fundos, que nunca trabalhou enquanto esteve
no Parlamento e que defende o fuzilamento de
adversários conseguiu convencer incautos de
que é o legítimo representante dos “cidadãos
de bem”, da moral e dos bons costumes, da
propriedade privada e da família.
Mas o que se viu em Brasília no domingo
obriga estes “cidadãos de bem” a uma tomada
de posição. Como podem se dizer defensores
da ordem diante da desordem, da balbúrdia,
da arruaça? Como podem se dizer defensores
da propriedade privada diante da depredação
do bem público? Como podem se dizer
defensores da pátria diante da destruição de
edifícios tombados pelo patrimônio histórico,
de obras de arte, de símbolos nacionais? É no
mínimo incoerente.
Uma cena repulsiva em particular coloca os
eleitores de Jair Bolsonaro que não são iguais
a ele, que não concordam com sua visão
radical de mundo e que votaram nele apenas
“para ganhar do Lula”, ainda mais em xeque.
Um dos invasores “patriotas”, com a bandeira
do Brasil no ombro, tendo ao lado móveis
destroçados pela fúria dos que não aceitam
eleições democráticas, sobe em uma bancada,
abaixa as calças e grita, à semelhança do ex-
presidente: “Irru!”. São esses os defensores da
família? São esses os defensores da moral?
As calças arriadas do terrorista arrancam
de vez as máscaras do bolsonarista, deixam-
Foto Reprodução
O BOLSONARISMO – AS CENAS
CRIMINOSAS DE DOMINGO COMPROVAM
– É UM BANDITISMO. QUEM PERMANECER
DO MESMO LADO DOS ARRUACEIROS DA
ESPLANADA É, NO MÍNIMO, CÚMPLICE DO
QUE ACONTECEU. QUEM PERMANECER DO
LADO DOS FORA-DA-LEI, DOS VÂNDALOS
QUE DESTRUÍRAM O CONGRESSO,
O STF E O PLANALTO, TAMBÉM É
FORA-DA-LEI E VÂNDALO.
O governo eleito
vai governar
Como diz aquele lindo samba-enredo
da Mangueira, “eu quero um país que não
está no retrato”
por Rosilene Corrêa
E
m poucos dias de 2023, nosso país já
viveu emoções de naturezas opostas. Dia
1º de janeiro, centenas de milhares de
pessoas tomaram a Esplanada dos Ministérios e
a Praça dos Três Poderes para celebrar a volta à
Presidência da República de um verdadeiro líder
popular, um dos mais importantes da história do
mundo. Sete dias depois, o cenário que foi de
festa se tornou uma guerra onde havia apenas
um combatente, um lado só.
Brasília, patrimônio cultural da humanidade,
cidade desenhada e erguida sob a arte de
Oscar Niemeyer e Lúcio Costa, foi ameaçada
- não pela primeira vez - pelo extremismo
alimentado pelo ex-presidente que não aceita a
derrota nas urnas.
Invadiram as casas dos três poderes,
depredaram prédios, destruíram obras de arte,
deixaram um rastro de ódio e de intolerância
que, todos sabemos, são de uma parcela
restrita do próprio bolsonarismo! Tudo, no último
domingo, aconteceu em contraste com a festa
que se viu uma semana antes, onde todos e
todas e todes eram bem-vindos, onde há lugar
para quem quiser chegar e muito respeito pela
coisa pública.
Eu sei que o que se viu no último domingo
em Brasília não tem a aprovação da maioria
dos eleitores e eleitoras do ex-presidente.
Mas sei também que o silêncio é cúmplice,
sobretudo o silêncio de quem sempre deu voz
de comando à barbárie, através da alimentação
das intolerâncias de todos os tipos - inclusive
através de fake news.
Do lado de cá, há mulheres, homens, negros
e negras, pessoas com deficiência, crianças,
adultos, idosos, indígenas, população LGBTQIA+.
Do lado de cá há diferentes credos, e muita
esperança num Brasil que acolha todo mundo.
Como diz aquele lindo samba-enredo da
Mangueira, “eu quero um país que não está
no retrato”. Aquele retrato de destruição, de
desprezo pela nossa história, pelas nossas
instituições, pela nossa arte... esse retrato, eu
não quero sair nele. Eu quero um país onde
caibam todos, onde diferenças políticas são
equacionadas. Violência, ameaça e crimes
contra a democracia, não podem ser tolerados
nem minimizados.
Que os responsáveis sejam criminalmente
responsabilizados. Que quem quer reconstruir
o país possa fazê-lo em paz. Paz que nosso
povo merece.
Aqui, há braços. E há também muita
determinação e firmeza: o governo
legitimamente eleito vai governar.w
Brasil é um
laboratório da
extrema direita
dos EUA
Um dos mais consagrados sociólogos
e intelectuais do mundo, o português
Boaventura de Sousa Santos deu uma
entrevista exclusiva à TV Fórum
“Eu diria que, infelizmente, ela [a subida da rampa por Lula no dia da posse]
foi tão forte, tão violenta para os bolsonaristas que eles quiseram uma
semana depois desfazê-la”
Infâncias
mediadas pela
memória
por Cesar Castanha
Foto Divulgação
A
ftersun, dirigido por Charlotte Wells, é
um filme em dois tempos. Um deles,
que pode ser tido como o núcleo central
do filme, é o da viagem feita por Sophie (Frankie
Corio), uma garota de 11 anos, e Calum (Paul
Mescal), o seu pai, para um resort nas férias
de verão. O segundo tempo apresenta Sophie
já adulta, com sua esposa e seu bebê de
poucos meses, aparentemente atormentada
por memórias e saudades de seu pai. O tempo
principal parece ser a lembrança desse segundo
tempo, mas entre os dois há mediações: uma
alucinada pista de dança e arquivos de vídeos
gravados durante essas mesmas férias.
Em Sempre em Frente, dirigido por Mike
Mills, um arquivo também se apresenta
como material de mediação da memória,
mas nesse caso a mediação não se dá entre
dois tempos diegéticos distintos, e sim entre
o relato pessoal e o geracional. No filme,
Johnny (Joaquin Phoenix), um jornalista de
rádio, precisa se tornar responsável pelo seu
sobrinho, Jesse (Woody Norman), em um
momento de dificuldade para a mãe dele, Viv
(Gaby Hoffmann), irmã de Johnny. A trama do
filme é pontuada por depoimentos, gravados
pelo protagonista e sua equipe como parte de
um grande projeto de reportagem de rádio, de
crianças e adolescentes refletindo verbalmente
sobre a existência, os afetos, as expectativas e
as visões de mundo que estão construindo.
Assisti a Aftersun e Sempre em Frente em um
intervalo de poucos dias, e as experiências com
ambos se misturaram. Não é apenas a trama
que os dois carregam em comum – a relação
familiar entre uma criança e um adulto que
não convivem tanto quanto estão convivendo
naquele espaço excepcional de tempo e nos
dois casos em uma viagem, um lugar também de
exceção às vivências da criança –, mas também
um princípio de ativação da memória através
do audiovisual. Em Aftersun, isso é literalizado
pelo uso do vídeo em cena. Em Sempre em
frente, é algo que se desdobra tanto do texto
quanto da estilização imagética e sonora do
filme – a fotografia preto e branco, uma apuração
específica com a composição das imagens como
imagens fotográficas, e a ideia de uma imersão
sonora mediada pela tecnologia, no que os
personagens praticam uma escuta das cidades
através de aparelhos de captação de som e,
Johnny (Joaquin Phoenix) e seu sobrinho Jesse (Woody Norman) em
cena do filme Sempre em Frente
15 dicas
imperdíveis de
Histórias em
Quadrinhos para
ler nas férias
por Pio Gomes para Socialista Morena
1
Meu diário
de Nova York
A canadense Julie Doucet, que ganhou em
2022 o Grand Prix de Angoulême pelo conjunto
da obra, passou sua carreira em constante
experimentação de modos narrativos, cruzando
as fronteiras dos quadrinhos, literatura e artes
plásticas. Considerada uma das principais
figuras do feminismo contemporâneo, em
Meu Diário de Nova York ela traça um retrato
hilariante, emocionante e de uma franqueza
desconcertante a respeito das ambições,
angústias, sonhos e tropeços de uma jovem
mulher iniciando sua vida sexual e profissional.
A obra tem arte em P&B detalhada, no qual
o traço dos personagens mistura realismo e
caricatura numa diagramação dinâmica.
2
Aldobrando
O aclamado Gipi se juntou ao também
italiano Critone para contar uma história capaz
de tocar o coração dos leitores de todas as
idades, com suspense da primeira à última
página: a aventura do jovem órfão Aldobrando
em um cenário medieval fantástico, que faz
lembrar histórias clássicas, como O Nome da
Rosa e Dom Quixote. Em um ambiente hostil,
onde a crueldade e a opressão prevalecem,
Aldobrando precisa partir ao encontro do
seu destino. Aldobrando é um conto sobre a
pureza de caráter, os enganos do poder e a
determinação necessária para perseguirmos
nossos sonhos. Arte clássica em cores que vão
do dia quente à noite fria.
3
Metamaus
Nas páginas deste livro, numa série de
entrevistas e material inédito, Art Spiegelman
volta a Maus, graphic novel vencedora do
prêmio Pulitzer. Metamaus vai a fundo nas
perguntas que Maus tem evocado ao longo
do tempo – por que o Holocausto? Por que
ratos? Por que quadrinhos? – e nos fornece
um documento essencial sobre a gênese deste
romance gráfico que tem encantado gerações.
O livro é acompanhado por um DVD com
Maus em versão digital, incluindo links para
um vasto arquivo de áudios (em inglês) com
entrevistas entre Art Spiegelman e seu pai - um
sobrevivente dos campos de concentração -,
documentos históricos e uma grande variedade
de cadernos de anotações e esboços do autor.
Para os que ainda não gastaram o 13º.
4
Fade Out
Ed Brubaker e Sean Phillips, autores
dedicados ao noir nas HQs, trazem um épico
ambientado nos tempos áureos de Hollywood.
O leitor segue as pistas do assassinato de
uma estrela em ascensão, partindo das
hospedagens de luxo rumo às entranhas de
Los Angeles. Tudo isso enquanto o roteirista
Charlie Parish é espremido entre o senso de
justiça do seu melhor amigo e o seu próprio
senso moral em decadência.
5
Sensor
Do alto de seus 35 anos de carreira no
mangá, o mestre do terror Junji Ito explora
novas fronteiras com um grande conto
de horror cósmico, no qual uma mulher
misteriosa se torna a única oposição contra a
manifestação das trevas do Universo. Em meio
a maquinações de uma seita megalomaníaca
e um mergulho no passado das campanhas
anticristãs no Japão, seguiremos os passos
de Kyoko sob a ótica de um jornalista que
descobre sua história e fica fascinado pelos
eventos sinistros que a rodeiam.
6
Rosie na
Floresta
Uma comédia ácida, absurda, erótica e
ultraviolenta, passada no coração da Amazônia,
em que uma jovem e encantadora traficante
se aproveita da paixão de seu cãozinho por ela
para usá-lo como mula de drogas. Mas após
um trágico acidente, os dois se veem presos
no meio da selva, com uma estranha calcinha
falante que parece ter outros planos… O inglês
Nathan Cowdry traz arte colorida que por vezes
abre mão dos detalhes, com um traço doce
para os personagens humanos e caricato para
os animais.
7
O Pequeno
Astronauta
Todos os anos, Juliette faz sua peregrinação
de bicicleta até o bairro onde cresceu. Este ano,
em frente ao antigo apartamento da família, há
um cartaz: “Vende-se”. Ao passar pelas portas
da casa de sua infância, as memórias vêm à
tona. Os amigos, as pequenas alegrias, mas
acima de tudo a lembrança avassaladora de seu
irmão Tom, um pequeno astronauta que mudou
a vida de todos. O álbum de Jean-Paul Eid é
uma ode à vida, uma celebração comovente da
diferença por meio da chegada à Terra de uma
criança com uma deficiência grave. Tom não
anda nem fala, mas seu sorriso mudo é uma
prova de sua felicidade e dará sentido à vida de
toda uma família. O autor é canadense e oferece
um traço clássico em cores vibrantes e algumas
pranchas cheias de ousadias na diagramação.
8
Che: Uma Vida
Revolucionária
Inspirada na obra de Jon Lee Anderson,
autor da melhor e mais completa biografia
sobre Ernesto Che Guevara já escrita, e com
arte poderosa do mexicano José Hernández,
este romance gráfico revive com assombrosa
precisão e dramaticidade a vida de uma figura
central da história do século 20. As três partes
que compõem a série – O doutor Guevara,
Os anos de Cuba e O sacrifício necessário –,
reunidas aqui num só volume, são um trabalho
impecável que faz jus às virtudes e contradições
deste personagem que mudaria para sempre o
rosto da América.
9
Criminal
O quadrinho de crime mais aclamado do
século 21. Vencedor de seis prêmios Eisner e
Harvey, incluindo Melhor Escritor e Melhor Nova
Série. A tradicional história de assalto é virada
de cabeça para baixo em Criminal, série em
seis volumes. O primeiro apresenta Leo, capaz
de planejar a jogada perfeita, mas apenas se
estiver convencido de que o trabalho é seguro,
porque não é o tipo de criminoso que atira
primeiro e pensa depois. Leo é um profissional,
cujo maior desejo na vida é não acabar
exatamente no lugar a que ele pertence: uma
cela de prisão. Criminal: Covarde é o primeiro
volume da série, dos premiados criadores de
Fatale, Fade Out e Matar ou Morrer.
10
A Casta dos
Metabarões
O guerreiro mais poderoso do universo,
que aterrorizou exércitos inteiros com a
simples menção de seu nome - o Metabarão!
O genial Jodorowsky (roteiro) se juntou ao
argentino Gimenez (arte) nesse primeiro
volume do spin-off de O Incal, série cult que
uniu o autor ao lendário Moebius nos anos
1980. Aqui ele traz as origens da linhagem
e os rituais envolvendo família, sacrifício
e sobrevivência pelos quais passam os
herdeiros da tradição, num visual que remete
ao clássico desenhado por Moebius.
11
Nectarina
Australiana que vive no Canadá, Lee Lai é
uma artista trans cujas histórias falam sobre
relacionamentos humanos, de uma perspectiva
realista e desencantada. Nessa HQ, Bron e
Ray são um casal queer, ligado por um amor
poderoso, que tudo consome. Suas aventuras
selvagens com Nessie, sobrinha de Ray, são
momentos de felicidade que elas esperam todas
as semanas. Movidas pelo poder da imaginação
da criança, elas podem ser elas mesmas e
esquecer suas vidas cotidianas, presas entre
tensões familiares, rejeição e isolamento. Mas
com os velhos demônios de Bron ressurgindo
e o relacionamento murchando, conseguirão
deixar de lado o ressentimento e encontrar
o caminho da reconciliação? Nectarina é
uma comovente história de amor, uma ode à
tolerância e ao vínculo fraterno, que traz arte
despojada, um duotone em tons azulados, e
mostra personagens realistas com toques de
surrealismo em algumas situações.
12
Afirma
Pereira
O francês Pierre-Henry Gomont adaptou
o romance de Antonio Tabucchi, tradutor
e romancista italiano com nacionalidade
portuguesa. Seus traços nos levam à Lisboa
da década de 1930, durante a ascensão da
ditadura salazarista. Pereira é um jornalista
idoso, viúvo, obeso, com o coração partido e
atormentado, que vive uma rotina sonolenta
até conhecer um certo Francisco Monteiro
Rossi. De forma inesperada, Pereira o contrata.
O jovem freelancer, em vez de escrever o
obituário da forma que Pereira tinha ordenado,
tece elogios, tão eloquentes quanto inéditos, a
Lorca ou Maiakovski, conhecidos inimigos do
regime fascista. Mais inesperadamente ainda,
Pereira não demite o perigoso colaborador.
Pouco a pouco, vai tornando-se amigo dele.
Também se aproxima de sua misteriosa e bela
companheira, que se revela uma fervorosa
combatente revolucionária a serviço dos
republicanos espanhóis.
13
Lovecraft /
Poe
No início dos anos 1970, durante uma viagem
de Madri a Milão, o aclamado Alberto Breccia
compra uma edição barata com os contos de H.P.
Lovecraft. O episódio o transporta imediatamente
para a sua adolescência em Buenos Aires,
quando nas páginas da edição argentina da
revista Weird Tales entrou pela primeira vez em
contato com o universo daquele que, segundo
Neil Gaiman, é “o começo de toda a literatura
de horror”. Nos anos seguintes, Breccia criaria
versões para clássicos de Lovecraft e também
de Edgar Allan Poe, testando diversas variações
estilísticas como experiências com colagem
e monotipo, decupagem cinematográfica
e minimalista, clima expressionista e traços
grotescos. O virtuosismo e a desenvoltura de
Breccia são... assombrosos!
14
Matar ou
Morrer
Outra série dos especialistas em crime
Ed Brubaker e Sean Phillips, narra em quatro
volumes a distorcida história de um jovem
forçado a matar pessoas más, e como ele luta
para impedir que seu segredo destrua sua vida.
Tanto um thriller quanto uma desconstrução
do vigilantismo, Matar ou Morrer é diferente de
tudo que os autores já fizeram.
15
Miyamoto
Musashi
A biografia em mangá do mais famoso
samurai do Japão pelas mãos de Shotaro
Ishinomori, considerado o rei do mangá.
Musashi foi um espadachim invicto que, com
sua vida e obra permeada de genialidade
estratégica e questionamentos filosóficos, virou
um ícone da história e da cultura japonesas,
inspirando numerosas obras literárias e
cinematográficas. Recheada de dramas e
combates de tirar o fôlego, esta edição definitiva
em volume único apresenta o desenvolvimento
do guerreiro e uma ótima introdução aos seus
textos, inclusive ao influente Gorin no Sho – O
Livro dos Cinco Elementos.
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Diretor de Redação
_ Renato Rovai
Editora executiva
_ Dri Delorenzo
Designer
_ Marcos Guinoza
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