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Victoria de Lucia
Vitor de Andrade
NITERÓI
2023
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“estado revolucionário”. Para entender a força dessa escolha, podemos comparar com o Jornal
do Brasil, por exemplo, que sempre se referia à ditadura como “Revolução” com letra
maiúscula. Assim, podemos perceber algumas das formas como o UH se referia ao regime
ironizava e deslegitimava o tratamento engrandecedor que o governo recebia na época.
Na altura do segundo ato institucional, o jornal fortaleceu seu posicionamento opositor
à ditadura. Apesar de existirem vários exemplos dessa intensificação, podemos falar do
referenciamento explícito em relação ao regime utilizando a palavra “ditadura” e a publicação
da carta ao parlamento da UNE (União Nacional dos Estudantes), que foi extremamente
crítica ao governo, por exemplo.
Outra característica interessante dos periódicos da época é a cobertura dos eventos
brasileiros por jornais estrangeiros. Apesar do apoio estadunidense à ditadura militar
brasileira, haviam periódicos muito populares do país norte americano não compartilhavam
das mesmas opiniões que o governo. Na edição de 09/04/1964 do Correio da Manhã, a
matéria “Editorial vê ameaça de direita no Brasil” traz os posicionamentos do New York Post,
que diz que “Será trágico se o Brasil (...) instala um governo ditatorial que nem leva a cabo a
reforma social, nem respeita a liberdade política. Os signos são aziagos e a saudação de
Washington ao novo regime já está se tornando vazia”. Logo, é interessante notar como o
próprio Correio da Manhã se aproveita da liberdade da imprensa estadunidense de contrariar
os discursos governamentais locais para incluir um discurso contrário à ditadura em suas
páginas de forma indireta, nas palavras de outros, suavizando sua culpabilidade pelo discurso
publicado.
Em suma, através dessa análise podemos entender que os periódicos brasileiros
durante o período ditatorial militar não tinham posicionamentos uniformes. O Jornal do Brasil
com seu apoio explícito à ditadura até o terceiro ato institucional, quando decide começar a
realizar críticas firmes, que se mantêm até o quinto ato. Enquanto O Globo, fortalecido pelo
próprio governo, manteve um apoio estável até mesmo diante do ato considerado mais grave.
O Correio da Manhã foi vítima de um ataque terrorista, se posicionou contra o regime
estabelecido, embora tenha apoiado o golpe em um primeiro momento. Já na Folha de São
Paulo, além do apoio explícito em suas páginas, também foi conivente com a ditadura ao
financiá-la materialmente. Por fim, o Última Hora, que manteve posicionamento opositor do
início ao fim e por isso sofreu fortes censuras, principalmente a partir do quinto ato. No fim,
após muita pressão, mesmo aqueles que se mantiveram firmes a favor da ditadura, tiveram de
vir à público para realizar a manutenção de seus discursos. Dessa forma, é possível perceber a
relação entre o posicionamento de tais jornais e suas influências sobre a sociedade brasileira, e
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a complexidade que envolve toda a situação. No mais, urge a necessidade de mais estudos
sobre essa área da Comunicação entrelaçada com a História e a Sociologia, para que os
entendimentos acerca desse período sejam debatidos em prol do avanço democrático e do
afastamento de regimes anti-democráticos.
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BIBLIOGRAFIA
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Podcast: IMAM - BR Podcast - Entrevista com o Professor Dr. Daniel Aarão Reis
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https://ojs.brazilianjournals.com.br/ojs/index.php/BRJD/article/view/33944. Acesso em: 4
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Podcast: Brasil republicano - O Golpe Civil-Militar de 1964 - Entrevista com o Professor
Jorge Ferreira
Chammas, EZ (2012). A ditadura militar e a grande imprensa: os editoriais de JB do Correio
da Manhã entre 1964 e 1968. Dissertação (Mestrado em Programa de Pós-graduação em
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https://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/8/8138/tde-13122012-101040/publico/2012_Eduar
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BOBBIO, Norberto. Dicionário de Política. 11º Edição. Brasília: Editora Universidade de
Brasília, 1983.
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HEMEROTECA NACIONAL, ACESSO EM 01/11/2023
ÚLTIMA HORA 9 de abril de 1964 Autor: Flávio Tavares (edição 01273) (página 2) -
RETIRADO DA HEMEROTECA NACIONAL, ACESSO EM 01/11/2023
ÚLTIMA HORA 27 de outubro de 1965 (edição B01692) (página 3) - RETIRADO DA
HEMEROTECA NACIONAL, ACESSO EM 01/11/2023
CORREIO DA MANHÃ, 09 de abril de 1964, RJ (página 1) - RETIRADO DA
HEMEROTECA NACIONAL, ACESSO EM 01/11/2023
CORREIO DA MANHÃ, 08 de dezembro de 1968, RJ (página 1) - RETIRADO DO
MEMÓRIA O GLOBO, ACESSO EM 08/11/2023
CORREIO DA MANHÃ, 14 de dezembro de 1968, RJ (página 1) - RETIRADO DO
MEMÓRIA O GLOBO, ACESSO EM 04/11/2023
O GLOBO, 02 de abril de 1964, RJ (página 1) - RETIRADO DO MEMÓRIA O GLOBO,
ACESSO EM 04/11/2023
O GLOBO, 09 de abril de 1964, RJ (página 1) - RETIRADO DO MEMÓRIA O GLOBO,
ACESSO EM 04/11/2023
JORNAL DO BRASIL, 07/12/1966, RJ (página 4) - RETIRADO DA HEMEROTECA
NACIONAL, ACESSO EM 02/11/2023
JORNAL DO BRASIL, 08/04/1964, RJ (página 1) - RETIRADO DA HEMEROTECA
NACIONAL, ACESSO EM 02/11/2023
JORNAL DO BRASIL, 13/06/1964, RJ (página 1) - RETIRADO DA HEMEROTECA
NACIONAL, ACESSO EM 03/11/2023
JORNAL DO BRASIL, 6 e 7/02/1966, RJ (página 1) - RETIRADO DA HEMEROTECA
NACIONAL, ACESSO EM 02/11/2023
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