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Choveret LeChanichim

Derech LaShalom
Janeiro – 2020
Sumário
Racional antigo - Kike Rosenburt .................................................................................. 3
ONG´S ISRAELENSES ................................................................................................ 4
1. West-Eastern Divan Orchestra .............................................................................. 4
2. Iad BeIad (Rede de escolas) ................................................................................. 5
3. Instituto Arava ....................................................................................................... 6
A Natureza não conhece Fronteiras....................................................................... 7
4. Shalom Achshav - ‫ שלוםעכשיו‬- PAZ AGORA ........................................................ 10
5. Combatants For Peace (‫ )לוחמים לשלום‬................................................................. 12
6. Two States, One Homeland ................................................................................ 13
7. Women Wage for Peace ..................................................................................... 13
8. Breaking The Silence – Shovrim HaShtiká - Quebrando O Silêncio .................... 14
9. Peace Ngo Forum ............................................................................................... 15
O ABC do conflito ....................................................................................................... 17
O Mito do Genocídio Palestino - Conexão Israel......................................................... 25
Conceito Político de Povo ........................................................................................... 29
Conceito Jurídico de Povo .......................................................................................... 30
Conceito sociológico de Povo ..................................................................................... 31
BDS - Boycotts, Divestment and Sanctions ................................................................ 32
Personagens Importantes da História Palestina.......................................................... 33
Trechos do Livro “Contra o Fanatismo”, de Amos Oz (conflito) .................................. 34
Trechos do Livro “Contra o Fanatismo”, de Amos Oz (fanatismo) ............................... 35
Alguns mapas legais ................................................................................................... 37
Quem matou Yitzhak Rabin? ...................................................................................... 41
O medo que precede o terrorismo .............................................................................. 43
O lugar do Fanatismo em Israel .................................................................................. 45
Utopia e Realidade - Eduardo Galeano ...................................................................... 47
Martin Buber: o diálogo possível ................................................................................. 50
A força do lobby judaico e a questão palestina ........................................................... 53
Vamos falar árabe também ......................................................................................... 57

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Racional antigo - Kike Rosenburt

“A violência corrói a base da democracia israelense. Deve ser condenada, denunciada


e isolada.” - Yitzhak Rabin

Os educadores (madrichim) tem um papel importantíssimo na resolução de


conflitos, em especial na preparação de jovens (chanichim) em prol da Paz e dando eles
apoio no seu envolvimento para construção da mesma paz. Mas para eles arranjarem
as ferramentas exatas nesse caminho, os educadores (madrichim) devem permitir a
oportunidade de gerar contato que consigam quebrar as barreiras, desenvolvendo
atitudes focadas na educação para a paz e o acesso a recursos que ajudem a eles no
seu trabalho.
Podemos dizer que a machané Derech LaShalom não só é o resultado da
mudança da Tochnit Hagshem, mas também um resultado do trabalho educativo
iniciado em 2012, onde começamos a pensar na tnuá, como realmente deveríamos
educar em base ao conflito e os conflitos. Como nós educadores devemos desenvolver
em nossos chanichim uma identidade a não temer os problemas e conflitos em nossas
vidas, e acrescentar a nossa responsabilidade para enfrentá-los.
Como judeus, brasileiros, parte do mundo, não podemos ser indiferentes à
infinidade de conflitos e injustiças cometidas no mundo. Não podemos fechar os olhos
para a falta de Paz no Oriente Médio e especialmente na nossa Nação de Israel.
Não podemos fechar os olhos às injustiças cometidas diariamente no Brasil e
nos comportar como se nada estivesse acontecendo. Não podemos baixar a cabeça
cada vez que somos parte de um ato, antissemita, racista para qualquer raça e religião,
ou homofóbico. Nossa maior responsabilidade é educar e praticar o diálogo e
conhecimento do outro como ferramenta fundamental para solucionar os conflitos.
O conflito também pode ser, pessoal, familiar, comunitário, nacional ou mundial
e esses diferentes níveis dos conflitos podem nos afetar de diferentes maneiras e
intensidade.
Se nós fossemos indiferentes, egoístas, e não conseguíssemos reconhecer o
que acontece ao nosso redor, as nossas vidas perderiam sabor, essência, e acima de
todas as coisas, a paixão de viver.
Tomar esse compromisso no Habonim Dror nos faz uma tnuá comprometida com
nosso judaísmo, sionismo e humanismo. Todo chaver deve passar por esse processo
interno e ao final das contas, não procurar sempre o culpável, e sim procurar os
parceiros e as soluções. Esse é o melhor jeito de fazer nosso Tikun adam e tikun olam.

“Existe apenas uma maneira radical de preservar o ser humano. Sem armaduras,
tanques aviões ou fortificações de concreto. A solução radical, senhoras e senhores,
chama-se Paz!” - Yitzhak Rabin

ALÊ VE HAGSHEM, ALÔ NAALE!

Kike – Chaver do dror olami - Ex Sheliach do Brasil (2011-2015)

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ONG´S ISRAELENSES
1. West-Eastern Divan Orchestra
Em 1999, Daniel Barenboim e Edward Said fundaram a West-Eastern Divan
Orchestra, primeiramente como um workshop para israelenses, palestinos e outros
músicos árabes. A ”reunião” foi em Weimar, na Alemanha, onde o grupo ficou fixo por
dois anos. A iniciativa musical tem também como objetivo humanizar a situação do
conflito, imaginar um futuro melhor, trabalhar educação e promover um diálogo de paz,
onde árabes e judeus trabalham juntos e de igual para igual.
No workshop, os jovens tiveram a oportunidade de se escutarem nos ensaios e
em discussões separando e colocando a música acima das questões ideológicas e
políticas. Essa experiência de coexistência do seminário logo gerou uma vontade de
algo maior e assim foi formada a orquestra como é conhecida hoje.
O crescente agravamento do conflito israelo-palestino e todas as dificuldades
consequentes não impediram que os jovens músicos continuassem a se reunir todos os
anos em Sevilha (cidade que, durante reinado de Afonso X, foi um exemplo de
convivência pacífica entre cristãos, judeus e muçulmanos), onde costumam se reunir
para ensaiar, a cada verão, durante o mês de julho, antes de seguir em digressão
mundial em agosto, sempre sob a regência de Daniel Barenboim. A orquestra se
apresenta no mundo todo e já ganhou alguns prêmios de música.
A orquestra tem realizado performances em todo o mundo, inclusive em Israel e
nos territórios palestinos, e foi tema de um documentário produzido em 2005, intitulado
Knowledge is the Beginning, realizado por Paul Smaczny. O filme ganhou o Emmy de
melhor documentário sobre arte de 2006.
A West-Eastern Divan é uma orquestra jovem baseada em Sevilha, Espanha,
com músicos de países do Oriente Médio -
do Egito, Irã, Israel, Jordânia, Líbano, Palestina, Síria - e da Espanha.
A orquestra foi idealizada e fundada em 1999 pelo
maestro judeu argentino Daniel Barenboim, pelo teórico literário cristão
palestino Edward Said e por Bernd Kauffmann, responsável pelo Festival das Artes
de Weimar (Alemanha), no ano em que a cidade foi escolhida como Capital Europeia
da Cultura.
O objetivo da orquestra é o de promover o diálogo e a paz entre judeus e não
judeus do Oriente Médio. Seu nome foi inspirado na antologia de poemas de Johann
Wolfgang von Goethe O divã ocidental-oriental (West-östlicher Divan, 1819), uma
composição lírica que se propõe a conciliar a rica tradição poética árabe com elementos
da moderna subjetividade européia.[1] Para os fundadores da orquestra, Goethe foi um
dos primeiros alemães verdadeiramente interessado em outros países. "Ele começou a
aprender o árabe quando tinha mais 60 anos",
O primeiro workshop da orquestra realizou-se em 1999, em Weimar, onde o
grupo ficou baseado nos seus dois primeiros anos.
Em 2001, a Orquestra Sinfônica de Chicago, da qual Baremboim era o diretor
musical, passou a apoiar a Orquestra do Divan. Desde 2002, o governo
autônomo da Andaluzia e diferentes mecenas espanhóis asseguram o financiamento da
orquestra. Seus integrantes passaram a se reunir, a cada verão, em Sevilha, para
ensaiar durante o mês de julho, antes de seguir em digressão mundial, no mês de
agosto, sempre sob a regência de Daniel Barenboim.
Said e Barenboim receberam o Prêmio Príncipe de Astúrias da Concordia em
2002, em reconhecimento ao seu trabalho à frente da Orquestra do Divan. Edward Said
morreria no ano seguinte, de leucemia. Mas a orquestra se manteve. O crescente
agravamento do conflito israelo-palestino, com todas as dificuldades consequentes,
também não impediu que os jovens músicos continuassem a se reunir todos os anos,
em Sevilha - cidade que, durante reinado de Afonso X, foi um exemplo de convivência
pacífica entre cristãos, judeus e muçulmanos.

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Em 2004, Daniel Barenboim recebeu no Parlamento de Israel, em Jerusalém, o
Prêmio Ricardo Wolf, por sua atuação em favor dos direitos humanos e da paz mundial.
O prêmio, de 100.000 dólares, foi dividido entre Barenboim e o violoncelista Mstislav
Rostropovich. Os 50.000 dólares recebidos por Barenboim foram destinados à
manutenção da Orquestra do Divan. O discurso pronunciado por Barenboim, ao receber
o prêmio, provocou a ira da ministra da cultura, Limor Livnat, presente ao evento, e dos
deputados do partido conservador Likud, sendo aplaudido pelos demais representantes
do povo na câmara baixa. Após citar trechos da declaração de independência de Israel,
Baremboim perguntou se seria compatível a independência de um país com violação
dos direitos fundamentais de outro povo e, mais ainda, se o povo judeu, cuja história
está cheia de sofrimentos e perseguições, poderia ficar indiferente às violações
dos direitos humanos e ao sofrimento de um povo vizinho.
A orquestra tem realizado performances em todo o mundo, inclusive em Israel e
nos territórios palestinos, e foi tema de um documentário produzido em 2005,
intitulado Knowledge is the Beginning, realizado por Paul Smaczny. O filme ganhou
o Emmy de melhor documentário sobre arte de 2006.
Em 2007, a orquestra recebeu o Praemium Imperiale para jovens artistas,
concedido pela família imperial japonesa.

Inside Barenboim's West-Eastern Divan Orchestra -


https://www.youtube.com/watch?v=CEEfjddzCPI

2. Iad BeIad (Rede de escolas)


A escola começou em Jerusalém, com a iniciativa de um grupo de pais árabes
e judeus que em 1998 resolveram criar uma instituição educacional que tivesse como
principal objetivo oferecer o contato entre as duas principais culturas do país desde
muito novos, em um ambiente de coexistência e qualidade. Em cada classe há duas
professoras, uma que ensina em árabe e a outra que ensina em hebraico. Ambas se
completam e dão as aulas em conjunto. Além disso, todas as festividades são
comemoradas dentro da escola, as judaicas, as muçulmanas, as cristãs e, muitas vezes,
são até discutidas, normalmente com os mais velhos. Aprendendo perspectivas
históricas de seus colegas e como respeitá-las. A escola entende os limites de cada um
e de cada data importante. Por exemplo, no dia de Yom Haatzmaut, que também é o
dia da Nakba, as cerimônias são separadas, buscando respeitar o sentimento de cada
aluno.
Atualmente, a escola tem 5 sedes em Israel: Yaffo, Jerusalém, Galil, Haifa e Kfar
Saba. Considerando todas as sedes, a escola comporta por volta de 1200 alunos. Ela
busca trabalhar não apenas para dentro das paredes da sala de aula, mas também junto
com os pais e com as comunidades próximas. É um colégio público, ou seja, é apoiado
pelo Estado e subsidiado pelo Ministério da Educação. Porém, o valor fornecido pelo
ministério não é suficiente para manter tudo o que é necessário, por exemplo, duas
professoras por classe. Por conta disso, a escola cobra uma mensalidade muito baixa
dos pais (que têm condições de pagar) e também recebe dinheiro de fundos e de
doações. Com a educação através da coexistência, a relação com as comunidades ao
redor das escolas buscam formar lideranças que, além de levar o ideal de convivência
saudável para fora do centro educacional, buscam desenvolver as qualidades e
características de cada aluno para fortalecer sua liderança.
A questão do conflito claramente não pode ficar de fora, uma vez que o que
acontece dentro do espaço educativo desses jovens não é o mesmo que acontece na
sociedade e é preciso prepará-los, trabalhar com esse tema. A escola valoriza muito
isso e sempre trás debates para as salas de aula (principalmente para os mais velhos).
Conversas sobre como se pode pensar em soluções, como combater ao ódio, ao
racismo, sempre buscando cada vez mais coisas que os unifiquem e não que os
separem, e isso também quando falam de religião.

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Pode-se dizer que esse tipo de iniciativa é algo que divide muito a sociedade
israelense, com uma grande quantidade de pessoas a favor da causa, mas também com
uma forte posição contra. Em novembro do ano de 2014, logo depois da operação
Margem Protetora, uma dupla de religiosos extremistas invadiu a sede de Jerusalém
por uma das janelas. Grafitaram uma parede com uma frase antiárabes e também
colocaram fogo em duas classes do primeiro ano do fundamental. O fogo foi parado com
rapidez e os danos foram reparados em menos de um mês. A partir disso, a escola
percebeu que apesar de ter pessoas não que concordam com a ideia, havia muito mais
gente do que pensavam que os apoiavam. A municipalidade de Jerusalém disse apoiar
a escola, a relação com um dos bairros próximos a escola que antes não era muito boa,
melhorou, pois eles também se declararam a favor da causa. O atentado também trouxe
mais reconhecimento internacional para a instituição. Em homenagem ao colégio,
Obama chamou duas estudantes para irem à Casa Branca na época de Chanuká.

“Eu decido todo dia que eu quero ficar, mas isso não é uma escolha fácil. Eu me orgulho de estar
nessa escola, porque é mais que apenas uma escola… Nós não queremos que isso acabe no
3º colegial. Eu não vou viver minha vida como se eu nunca estivesse estudado nessa escola. Ela
é grande parte de quem eu sou.” (Yael, 1º colegial, Jerusalém).

https://www.youtube.com/watch?v=9bbc7u7kTX8 - “Hand in Hand 2017 graduates,


parents & teachers “

https://www.youtube.com/watch?v=JK62G7z-xJ4 - “Hand in Hand - Building a Shared


Society for Jews & Arabs in Israel (2018)”

https://www.youtube.com/watch?v=74aEijqoYDg - “Bilingual Jerusalem School, where


Hebrew and Arabic go Hand in Hand”

3. Instituto Arava
O Instituto Arava Institute for Environmental Studies (estudos ambientais) é um
programa de estudos e pesquisa acadêmica localizado no Kibutz Ketura, no lado
israelense do Vale de Arava. Sob o lema de que "a natureza não conhece fronteiras",
procura formar futuros líderes do Oriente Médio em questões ambientais para que
possam cooperar na resolução de problemas ambientais regionais.
Estudantes no Instituto Arava vivem no Kibutz Ketura enquanto frequentam
aulas de desenvolvimento sustentável, gestão da água, direito ambiental, política
econômica, ciência ambiental e outros temas em estudos ambientais. As aulas são
ministradas em inglês. Os membros da faculdade são frequentemente palestrantes
convidados de universidades, tanto de Israel como do exterior, ou profissionais em áreas
como políticas públicas e gerenciamento de água.
Estudantes vêm de todo o mundo para estudar e realizar pesquisas no Instituto
Arava. Desde a sua fundação em 1996, o Instituto Arava hospedou mais de 800
estudantes formados e de graduação de várias nacionalidades, incluindo estudantes
judeus israelenses, israelenses árabes, palestinos, jordanianos, egípcios, tunisianos,
marroquinos, europeus e americanos. O Instituto Arava conseguiu manter um corpo
estudantil diversificado mesmo em tempos muito difíceis em outros lugares, em Israel e
no Oriente Médio.
Os alunos podem participar de programas de um semestre e de um ano,
credenciados através da Universidade Ben Gurion, bem como dois programas de
mestrado realizados pela Universidade Ben-Gurion - um em Estudos Ambientais do
Deserto e o outro um MBA "Verde" que ensina a sustentabilidade e eficiência ambiental
como bem como habilidades de gerenciamento de negócios. Um curso de verão de três
semanas às vezes é oferecido para estudar biodiversidade e desafios ambientais no

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Vale de Arava. O Instituto Arava está considerando estabelecer um programa de
mestrado conjunto com a Universidade Al-Quds, a única instituição árabe de ensino
superior em Jerusalém. Todos os alunos são obrigados a participar de um Seminário de
Construção da Paz e Liderança Ambiental, que lhes oferece um fórum facilitado para
expressar suas opiniões sobre raça, religião, identidade e situação política.

A Natureza não conhece Fronteiras


29/06/2013 | por Rafael Stern

Depois de terminar meus estudos de graduação em geografia, estava


procurando uma forma de ir para Israel e seguir trabalhando na área ambiental. Tive a
oportunidade de ser madrich do Taglit, e trocando ideias com o guia do meu grupo sobre
meus planos futuros, ele disse: “cara, vai conhecer o Machon Aravá. As pessoas de lá
não são pessoas, são anjos. E eles estão salvando o mundo.”
Um ano depois eu estava sentado numa sala de aula como aluno do Machon
Aravá. A proposta do Instituto é grandiosa, mas afinal, não é de propostas grandiosas
que o mundo está precisando? O meio ambiente está seriamente ameaçado –
aquecimento global, destruição da biodiversidade, poluição, falta de acesso à água… E
no Oriente Médio, há um conflito que já dura décadas, acumulando fracassos de
negociações. A solução desse conflito não parece iminente, mas em paz ou não,
querendo ou não, os povos do Oriente Médio compartilham o ar, a água e o solo. Então,
a proteção do meio ambiente de forma a permitir uma vida saudável é um interesse dos
povos da região. Se Israel já sofre com escassez de água, o caso da Jordânia é muito
pior. O dos palestinos tampouco é confortável. E as fontes de água para os três povos
são as mesmas. Devido à proximidade, a poluição do ar e do solo tem consequências
para todos.
O Machon Aravá, fundado por jovens idealistas do kibutz Keturá, isolado no vale
da Aravá, sustenta que não podemos esperar um acordo de paz para começar a
cooperar para proteger o meio ambiente. É urgente! E mais, a própria cooperação
ambiental pode ser um disparador de cooperações mais profundas, coexistência, paz.
Para por em prática esse ideia, fundaram um instituto de pesquisa e ensino (Machon
Aravá), filiado à Universidade Ben Gurion (os créditos acadêmicos e as provas são da
universidade), com excelentes pesquisadores e professores (todos com doutorado),
localizado dentro do kibutz. Os alunos e os professores são israelenses, palestinos e
jordanianos, além de alguns alunos de outras partes do mundo. Nós moramos dentro
do kibutz, juntos, compartilhando alojamentos e quartos. Temos aulas que vão desde
recursos hídricos, geologia e ecologia até as relações entre as sociedades e o meio
ambiente que as rodeiam, de um ponto de vista bem antropológico. Por essas
disciplinas, recebemos crédito (que podem ser de graduação ou mestrado) da
Universidade Ben Gurion, e temos a opção de desenvolver projetos de pesquisa. Além
da parte acadêmica, temos sessões semanais de debates diretos sobre o conflito,
política, e notícias da região. Temos trabalhos de campo, e aulas de hebraico e árabe.
O idioma oficial do instituto é inglês.
Eu demorei quase um ano para começar a escrever sobre a minha experiência
lá. Como o deserto, com quase nenhuma cobertura, que se expõe desnudo e vulnerável
ao Sol e às estrelas, também nós temos os aspectos mais íntimos da nossa identidade
constantemente testados e questionados. Marcamos juntos datas como o Yom
haShoá[ref]Dia de lembrança do Holocausto[/ref], Yom haZikaron[ref]Dia de Lembrança
dos soldados que morreram em defesa de Israel, e das vítimas de atentados[/ref], Yom
haAtzmaut[ref]Dia da Independência de Israel[/ref], Nakba[ref]Em árabe, “tragédia”. É
como os palestinos se referem ao dia da independência de Israel, considerado o dia da
tragédia nacional palestina.[/ref], o Dia da Terra[ref]No dia 30 de Março de 1976, em

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protestos contra a desapropriação de terras palestinas por Israel na região da cidade
palestina de Sachnin, para expandir a cidade de Carmiel, 6 palestinos foram mortos e
centenas presos.[/ref],… É difícil se manter firme, o tempo todo, as lágrimas muitas
vezes são a única maneira de aliviar a tensão. É claro que teatro, jogos, trilhas e festas
às vezes também ajudam.
Fizemos um trabalho de campo para conhecer a bacia hidrográfica que é a principal
fonte de água para israelenses, palestinos e jordanianos, a bacia do rio Jordão (e lago
Kineret). Vimos como os drusos estão inseridos nesse contexto, em Majdal Shams.
Vimos como a Barreira de Separação não impede que uma cidade judaica em Israel e
uma cidade árabe na Cisjordânia cooperem no tratamento do esgoto. Vimos como a
dessalinização da água do mar está alterando alguns componentes desse balanço
hídrico. Fomos à Jerusalém Oriental, onde almoçamos numa casa palestina que já foi
demolida (por Israel) e reconstruída (por uma ONG israelense) algumas vezes, às
margens do Vale Kidron[ref]Rio que só tem água na época das chuvas, e que drena a
água que choveu em Jerusalém, levando-a até o Mar Morto.[/ref]. Fomos tomar chá com
palestinos que se recusam a sair de Silwan, a Cidade de David. Vimos uma escola onde
já estudam juntos judeus e árabes.
Depois de ter ficado mais amigo de um palestino, fui com outras pessoas passar
um fim de semana na casa dele, em Nablus. Estava tomando chá na varanda, quando
começaram a cair flores em mim. Olhei para cima e duas crianças, sem querer saber
quem éramos ou da onde vínhamos, nos jogavam flores. Por outro lado, tivemos que
criar nomes fictícios para nossos amigos israelenses, para não sermos percebidos ao
sairmos à rua. Fomos a um campo de refugiados palestinos, onde presenciei um debate
riquíssimo, em inglês, entre dois palestinos, carregado de auto-crítica às ações
palestinas, e de reconhecimentos de coisas positivas feitas por Israel. Passei por um
checkpoint. Vi um soldado israelense espancando e retendo um palestino desarmado
diante de sua mulher e dois filhos. Fomos ao túmulo dos patriarcas e matriarcas em
Hevron, não sei pra que, pois naquele momento a visita me pareceu desprovida de
qualquer sentido. Hoje entendo que possui tanto para mim, quanto para eles. Fui guiado
em Hevron por um palestino que se lamenta até hoje que sua ex-namorada judia, colona
(a menina mais linda que ele já conheceu), se casou com um judeu, mas seus amigos
colonos judeus são bons de futebol, pelo menos.
Até hoje, recebo Shabat Shalom de alguns desses palestinos.
Alguns dilemas: Um dia, um grande amigo israelense que conheci lá me
confidenciou: “cara, se eu for chamado pro miluim[ref]Serviço dos reservistas do
exército.[/ref] talvez eu reviste no checkpoint os pais ou irmãos de alguém que estuda
com a gente.” Achei esse dilema complicado, mas não tanto quanto esse outro. Um
israelense do curso foi convocado pro miluim para a operação Coluna de
Fogo[ref]Operação que ocorreu em Novembro de 2012, para tentar acabar com o
lançamento de foguetes de Gaza contra Israel.[/ref], no final de 2012. Seu namorado da
Jordânia, assim como 60% dos jordanianos, tem origem palestina…
Conheci um jordaniano que acha Tel Aviv a melhor cidade do mundo. Uma
jordaniana se encantou pelo estilo de vida do kibutz. Alguns palestinos achavam muito
boas as nights do kibutz. Preciso levá-los pra Lapa um dia.
Muitos palestinos não conseguem ainda entender por quê o KKL[ref]Fundo Nacional
Judaico. Fundado em 1901, com o objetivo de cuidar do solo da Terra de Israel para a
imigração sionista, hoje se encarrega principalmente da preservação do meio
ambiente[/ref] é um dos principais patrocinadores do instituto, e se questionam sobre
receber essa ajuda.
Tive aulas com um professor judeu sul-africano naturalizado israelense, que tem
projetos de cooperação com palestinos de Gaza para construir dispositivos domésticos
de dessalinização da água do mar. Um professor palestino é o diretor de pesquisas de
um centro de energia renovável, e agora o instituto abriga o maior campo de captação
de energia solar do Oriente Médio. Uma pesquisadora judia norte-americana
naturalizada israelense e membra do kibutz fez germinar uma semente de tamareira

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encontrada em Massada, preservada pela secura do deserto por quase 2 mil anos.
Agora tem uma tamareira da época do rabi Akiva e do rabi Yochanan ben Zakai
crescendo no kibutz. Infelizmente, ela é macho, não dará tâmaras. Se bem que as
tâmaras modernas da Árava não deixam nada a desejar. Enfim, ela entrou no livro dos
recordes, até que um gaiato fez germinar uma semente ainda mais antiga, congelada
na Sibéria.
Eu traduzi o tekes[ref]Termo hebraico para cerimônia[/ref] de Yom haShoá do kibutz
para um palestino, que se emocionou e prestou o mesmo respeito que eu às vítimas da
Shoá[ref]Holocausto[/ref].
Duas anedotas: o melhor amigo que fiz no Machon Aravá foi um judeu argentino
naturalizado israelense. Um dia, conversava com ele no gramado do campus, quando
passa um palestino e diz: “vejam, um brasileiro e um argentino ficaram amigos. Esse
Machon Aravá faz mesmo milagres. A paz no Oriente Médio agora é fácil.” Em outra
ocasião, numa discussão política sobre o Estado Palestino, eu defendia que aos colonos
judeus poderia ser dada a opção de se tornarem cidadãos palestinos, ao que um
palestino retrucou: “De jeito nenhum! Isso é inconcebível! Como imaginar os palestinos
tendo que viver com pessoas que serviram no exército de Israel e que podem ter matado
alguém da família deles?”. De pronto, rebati numa ironia bem ácida: “Pois é, os
israelenses não tem esse problema, pois quem matou a família deles se explodiu, não
existe mais!” Depois de dois segundos (longuíssimos) de um silêncio muito tenso, todos,
israelenses, palestinos e internacionais caíram na gargalhada, e não conseguimos mais
voltar à discussão. Um pouco de humor ajudava às vezes.
Não sei se despertados para a urgência de querer tentar ajudar a resolver o
problema, ou se porque depois de passar por uma experiência forte como essa é difícil
voltar a viver uma vida burguesa em algum país ocidental, só sei que a maioria dos
internacionais que fizeram o curso e que são judeus, fizeram aliá. E isso apesar de toda
a crítica a Israel que escorreu deles durante o curso, e apesar também do eterno
sentimento de culpa de conseguir uma cidadania tão automaticamente, enquanto que
para muitos dos palestinos que estudaram conosco pode ainda demorar muitos anos
para ter até mesmo um país.
O profeta Isaías disse que um dia o lobo e o cordeiro viverão juntos, e que as
pessoas plantarão vinhedos e comerão seu fruto. Miquéias (cap. 4; vers. 4) disse que
no tempo vindouro, de paz, cada pessoa se sentará à sombra do seu vinhedo e da sua
figueira[ref]Por ser uma das árvores nativas de Israel que fornecem a melhor sombra,
se sentar à sombra de uma figueira é uma expressão do tempo do Tanach que simboliza
tranquilidade, paz.[/ref]. Talvez os profetas tenham utilizado essa metáfora com
elementos da natureza para nos dar uma pista do caminho a seguir. Lobos da estepe
ou da aravá, cordeiros, todos devemos nos unir para plantar vinhedos ou tamareiras de
2 mil anos de idade, sentarmos juntos à sombra de uma figueira ou de uma
acácia[ref]Única árvore que cresce de forma selvagem na aravá, e que tem
relativamente boa dispersão na região. É a árvore que está no símbolo do Machon
Aravá.[/ref], e apreciarmos a paz que isso nos trará.

Rafael Stern é formado em Geografia pela Universidade Federal Fluminense, e
atualmente faz mestrado no Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia. Durante o
ano de 2012 viveu em Israel, quando estudou no Machon Aravá, e depois ficou
trabalhando no Instituto Weizmann. “A natureza não conhece fronteiras” é o lema do
Instituto Arava.

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4. Shalom Achshav - ‫ שלוםעכשיו‬- PAZ AGORA
● Apoiar o direito de Israel existir dentro de fronteiras seguras e o direito de nossos
vizinhos fazerem o mesmo;
● Defender uma solução politicamente negociada de 2 estados para o conflito
israelo-palestino;
● Acreditar que o status único de Israel como uma sociedade democrática livre e
aberta no Oriente Médio confere ao público israelense a responsabilidade
especial de promover os direitos humanos básicos de liberdade, justiça e
igualdade para todas as pessoas nesta região; e
● Trabalhar para quebrar os estereótipos divisivos através da educação em
ambos os lados do conflito.

Somos o movimento de paz mais antigo e diversificado de Israel, com mais de


10.000 membros do Oriente Médio e em todo o mundo. Nosso trabalho foi apoiado e
aprovado por centenas de acadêmicos, políticos e filósofos proeminentes, incluindo
Amos Oz e David Grossman.
A maioria dos israelenses e palestinos apoia uma solução pacífica de 2 estados.
O Shalom Achshav insiste que os políticos de ambos os lados desta questão sirvam
seus eleitorados criando uma realidade de paz AGORA.

Missão
O Shalom Achshav trabalha para assegurar que os israelenses e os palestinos
abracem a única solução viável para o conflito: a criação de um estado palestino nos
territórios adjacentes a Israel, que foram ocupados como resultado da guerra de 1967 –
uma Solução de Dois Estados.
O Shalom Achshav acredita que a ocupação contínua desses territórios
prejudica Israel economicamente e politicamente e danifica os valores e a estrutura da
sociedade israelense.
A missão do Shalom Achshav é promover a paz e a democracia através da
educação do público israelense e dos cidadãos preocupados em todo o mundo.
Esperamos também inspirar o público a participar no desenvolvimento de iniciativas que
apoiem a promoção da paz a longo prazo e eliminem os obstáculos existentes a uma
solução politicamente negociada de dois estados.

História
O Shalom Achshav foi fundado em 1978 durante as negociações de paz israelo-
egípcias. Em um momento em que essas conversas pareciam estar em colapso, um
grupo de 348 oficiais de reserva e soldados das unidades de combate do exército
israelense publicou uma carta aberta ao primeiro-ministro de Israel, pedindo ao governo
que assegurasse que essa oportunidade para a paz não estivesse perdida. Dez milhares
de israelenses enviaram apoio para a carta, e o movimento nasceu. Quando Egito e
Israel assinaram seu tratado de paz histórico em 1979, membros do Shalom Achshav e
do público israelense em geral perceberam que a pressão pública e a ação em apoio ao
processo de paz poderiam e iriam ditar o curso da história.
Com o tempo, o Shalom Achshav ficou convencido de que a única solução viável
para o conflito era a criação de um estado palestino nos territórios adjacentes a Israel,
ocupados como resultado da guerra de 1967.
Em 1988, após a aceitação pela OLP da Resolução 242 do Conselho de
Segurança da ONU e do princípio da solução de dois estados, o Shalom Achshav liderou
uma manifestação massiva de 100 mil pessoas que pediam ao governo que negociasse
com a OLP.

10
O Shalom Achshav apoiou plenamente a ruptura representada pelo Acordo de
Oslo de 1993, durante o qual Israel e a OLP negociaram diretamente pela primeira vez
e, como resultado, Israel retirou seus militares de áreas da Cisjordânia e Gaza e a OLP
renunciou violência e aceitou publicamente o direito de Israel a existir.
Em 1994, o Shalom Achshav e seus apoiadores celebraram outro avanço
histórico quando Israel e a Jordânia assinaram um tratado de paz que normalizava as
relações entre os dois países.
Ao longo dos muitos anos de existência, o Shalom Achshav apoiou
consistentemente todas as etapas promissoras para promover uma resolução do
conflito, além de pressionar todos os partidos israelenses no poder para iniciar etapas
para acabar com a ocupação, retornar às fronteiras de 1967 e às negociações para a
paz.

Parceiros na Paz
Enquanto o Shalom Achshav é um movimento israelense, trabalhando
principalmente com o público israelense, também tem se empenhado ao longo dos anos
no diálogo e atividades conjuntas com palestinos nos territórios ocupados. Pouco depois
do início da segunda Intifada, o movimento foi fundamental na criação da Israeli Peace
Coalition, que evoluiu para a Israeli-Palestinian Peace Coalition, composta por figuras
políticas e públicas, bem como por ativistas de base tanto do mainstream israelense
quanto palestino.
Em 2006, o Hamas foi eleito para a maioria dos assentos do Parlamento na
Autoridade Palestiniana. Em 2007, o controle sobre os territórios palestinos se separou,
com o Hamas mantendo o controle sobre Gaza e Fatah controlando a Cisjordânia. O
Shalom Achshav apoia as negociações entre o governo de Israel e qualquer órgão
palestino representativo disposto. No início de tais negociações, Israel exigirá uma
renúncia completa ao terror. Entrar nas negociações será um reconhecimento implícito
do Estado de Israel.
Independentemente de tais negociações oficiais, o Shalom Achshav continuará
conduzindo um diálogo com pessoas e organizações que pertencem ao campo de paz
palestino.

Nossas atividades
O Shalom Achshav opera através de campanhas públicas, propagandas,
petições, distribuição de materiais educativos, conferências, palestras, pesquisas,
grupos de diálogo, atividades de rua, vigílias e manifestações.

O que defendemos
Shalom Achshav é um movimento de cidadãos israelenses que vêem paz,
compromisso e apaziguamento com os palestinos e com os nossos vizinhos árabes
como cruciais para o futuro do nosso país e para manter nossa segurança e a natureza
do Estado de Israel.
O Shalom Achshav determinou que continuar o controle militar e civil da
Cisjordânia e de mais de três milhões de palestinos põe em perigo a segurança e a
natureza democrática de Israel como o estado do povo judeu. Shalom Achshav é uma
organização não governamental.

Nós defendemos:
• Dois estados para duas nações: Israel e Palestina
• Um Estado palestino ao lado do Estado de Israel com base nas fronteiras de junho de
1967 com trocas de terras acordadas por ambos os lados
• Jerusalém - Duas capitais para dois estados: uma solução baseada em separações
demográficas com um acordo especial para a Cidade Velha.

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• Paz com a Síria - Um acordo de paz baseado em fronteiras seguras e reconhecidas e
a regulamentação das relações entre os dois países é a principal questão estratégica
para os povos de Israel e da Síria. Começar as negociações com a Síria é uma porta de
entrada para negociações com o Líbano e ajudará a criar um novo clima internacional
na região
• Leis de Financiamento de ONGs – o Shalom Achshav está liderando a batalha contra
essas leis, que são projetadas para silenciar e neutralizar as organizações da sociedade
civil israelense identificadas com valores liberais de esquerda. Essas contas são uma
erosão alarmante da natureza fundamental da democracia em Israel.

5. Combatants For Peace (‫)לוחמים לשלום‬


É um movimento bi-nacional, de israelenses e palestinos, que lidera uma luta
não-violenta contra a ocupação e apoia uma solução pacífica para todas as pessoas em
Israel e na Palestina. O movimento foi formado em 2006, por palestinos e israelenses
que tiveram um papel ativo no ciclo de violência e decidiram largar as armas e trabalhar
juntos para promover a paz, através do diálogo e ações não violentas.
Originalmente, os ativistas dos dois lados eram apenas ex combatentes: os
israelenses como soldados no exército e os palestinos como participantes de lutas
violentas contra o exército. Hoje, os membros também incluem homens e mulheres que
nunca se envolveram com meios violentos.
Por mais de uma década, os combatentes servem de modelo para os valores
humanistas de paz, democracia, segurança e dignidade para todos. O Combatentes
para a Paz é uma comunidade bi-nacional forte - que exemplifica uma cooperação
viável: Resistência à ocupação e violência dos dois lados, e formação de uma base para
um futuro de coexistência.

Missões:
● Construir uma comunidade Israelo-Palestina sempre em expansão, baseada nos
grupos bi-nacionais regionais, que servem de modelo para as duas sociedades no
futuro;
● Motivar atividades bi-nacionais e não violentas de forma efetiva e ampla, para
promover liberdade e segurança para todas as pessoas em suas nações;
● Mudar atitudes em grande escala, tanto para o público israelense, quanto para o
palestino, também com os governos e líderes.

Atividades:
● Reuniões com ex-combatentes, permitindo que os dois lados possam entender a
narrativa do outro;
● Reuniões interiores e palestras educacionais em fóruns públicos, nos dois lados;
● Ações diretas e protestos contra a política de ocupação e suas consequências;
● Organização de passeios e tours educacionais de israelenses para áreas ocupadas;
● Ações solidárias - como colheitas e trabalho agrícola - para ajudar agricultores
palestinos que têm dificuldade em trabalhar nas suas terras perto de assentamentos
e bases militares;
● Promoção de eventos especiais - como o Dia da Memória para as vítimas dos dois
lados dos conflitos;
● Promoção de informação e consciência do público global, por meio da mídia e tours
de palestras internacionais.

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6. Two States, One Homeland
A iniciativa "dois estados, uma pátria", nasceu de uma série de reuniões há três
anos entre o jornalista israelense Meron Rapoport e o ativista político palestino Awni
Almsni. Meron Rapoport, nascido em Tel Aviv, é jornalista e tradutor que trabalhou para
Yedioth Ahronoth, "Haaretz" e para a Televisão educacional israelense e ainda escreve
para vários meios de comunicação em Israel e no exterior. Awni Almsni, nascido no
campo de refugiados Deheishe em Belém.
O grupo de israelenses e palestinos, propõe um novo horizonte para a
reconciliação entre os dois povos, com base no estabelecimento de dois estados
soberanos em uma “terra aberta” (one open land). Eretz Israel / Palestina é uma pátria
compartilhada para dois povos - os judeus e os palestinos, e ambos os povos estão
ligados à terra por profundos laços históricos, religiosos e culturais. Todos aqueles que
vivem nesta pátria compartilhada têm direitos iguais a uma vida de liberdade, igualdade
e dignidade, direitos que devem ser garantidos em qualquer acordo futuro.
Sua visão também se baseia na crença de que judeus e palestinos têm aspectos
comuns da cultura e da identidade; uma reconciliação entre os dois povos exigirá
abertura e conexão ao espaço maior.
Nesta base, chegaram a um conjunto de princípios acordados, que podem ser
resumidos como "Juntos e Separados", ou "Uma terra, dois estados". Eles incluem:
Dois estados, uma pátria palestina / Israel constituem uma unidade histórica e
geográfica do rio Jordão para o Mediterrâneo, que deve ser constituída por dois Estados
soberanos, Israel e Palestina. Nesses estados, as duas nações perceberão seu direito
à autodeterminação, e a fronteira entre elas será baseada nas linhas de 4 de junho de
1967 e uma cessação total da ocupação.
Democracia, direitos humanos e Estado de Direito: Os dois estados seriam
democráticos; seu regime se basearia no princípio do Estado de direito, no
reconhecimento da universalidade dos direitos humanos como reconhecido no direito
internacional, na igualdade e na inviolabilidade da vida e da liberdade;
Imigração e naturalização: Ambos os estados terão o direito de definir suas
próprias leis de imigração e naturalização dentro de seus limites. O Estado da Palestina
teria a liberdade de naturalizar os refugiados palestinos conforme julgar oportuno, e o
estado de Israel terá a liberdade de naturalizar os judeus da diáspora, conforme julgar
oportuno.
O mecanismo conjunto de reconciliação seria estabelecido para alcançar a
reconciliação, incluindo comitês conjuntos de reconciliação que permitiriam uma
discussão
profunda e abrangente sobre as injustiças passadas de ambos os lados. Os dois
estados formulariam programas conjuntos para promover a reconciliação a nível
comunitário, no sistema educacional e nas instituições culturais.

7. Women Wage for Peace


A Women Wage Peace foi fundada no verão de 2014 após a Operação
Protective Edge. O WWP é o maior movimento de base em Israel cujo objetivo é
promover um acordo político para resolver o conflito israelo-palestino. Hoje o
movimento tem mais de 40.000 membros.
O movimento tem dois objetivos principais:
● Promover um acordo político como solução estratégica para o conflito
israel-palestina. O objetivo do movimento é levar à resolução do conflito palestino
israelense por meio de um acordo honroso, não violento e mutuamente aceitável.
Sabemos que os conflitos terminam com um acordo e sabemos que isso é possível com
o conflito israelense-palestino também.
● Incluir mulheres em todos os aspectos da tomada de decisões, conforme
manda a Resolução 1325 da ONU. Esta resolução reconhece o fato de que as mulheres
são a chave para promover processos sustentáveis de paz e acabar com conflitos

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violentos; portanto, é obrigatório incluir as mulheres em todos os aspectos da tomada
de decisões, especialmente em questões de paz e segurança.
O movimento não é afiliado a nenhum partido político e seus membros incluem
mulheres de diversas comunidades dentro da sociedade israelense: direita, centro e
esquerda; religioso e secular; Judeus, árabes, drusos e beduínos; mulheres jovens e
mulheres mais velhas; mulheres do centro do país e da periferia. O movimento não
apoia nenhuma solução específica para o conflito.
O movimento é composto por milhares de voluntários, organizados dentro de um
quadro de ambas as equipes regionais, bem como equipes profissionais e nacionais,
lidando com Estratégia, Parcerias Estratégicas, Comunicação Estratégica, Digital,
Compromisso do Governo, Alcançando Mulheres Palestinas e Internacionais,
Projetos, Diversidade, Orçamento, Treinamento, Coordenadores Nacionais e Logística.

8. Breaking The Silence – Shovrim HaShtiká - Quebrando O Silêncio


Breaking the Silence é uma organização de combatentes veteranos que serviram
no exército israelense desde o início da Segunda Intifada e assumiram para si a
responsabilidade de expor ao público israelense a realidade do cotidiano nos Territórios
Ocupados. Nós nos esforçamos para estimular o debate público sobre o preço pago por
uma realidade na qual jovens soldados enfrentam uma população civil diariamente e
estão engajados no controle do dia-a-dia dessa população.
Os soldados que servem nos territórios testemunham e participam em ações
militares que os mudam imensamente. Casos de abuso contra palestinos, pilhagem e
destruição de propriedade têm sido a norma há anos, mas ainda são explicados como
casos extremos e únicos. Nossos testemunhos retratam uma imagem diferente e muito
mais sombria, na qual a deterioração dos padrões morais se manifesta no caráter das
ordens e das regras do engajamento e são justificadas em nome da segurança de Israel.
Embora essa realidade seja conhecida dos soldados e comandantes israelenses, a
sociedade israelense continua a fechar os olhos e negar o que é feito em seu nome. Os
soldados dispensados que retornam à vida civil descobrem a diferença entre a realidade
que eles encontraram nos Territórios e o silêncio sobre essa realidade que eles
encontram em casa. Para se tornarem civis novamente, os soldados são forçados a
ignorar o que viram e fizeram. Nós nos esforçamos para fazer ouvir as vozes desses
soldados, pressionando a sociedade israelense para enfrentar a realidade cuja criação
a própria sociedade permitiu.
Recolhemos e publicamos testemunhos de soldados que, como nós, serviram
na Cisjordânia, Gaza e Jerusalém Oriental desde setembro de 2000, e realizamos
palestras, reuniões de casa e outros eventos públicos que trazem à luz a realidade nos
territórios através da voz dos ex-combatentes. Também realizamos passeios em Hebron
e na região de South Hebron Hills, com o objetivo de dar ao público israelense acesso
à realidade que existe a minutos de suas próprias casas, mas que raramente é retratada
na mídia.
Fundada em março de 2004 por um grupo de soldados que serviram em Hebron,
o Breaking the Silence adquiriu desde então uma posição especial aos olhos do público
israelense e na mídia, pois é único em dar voz à experiência dos soldados. Até à data,
a organização colecionou testemunhos de mais de 1.000 soldados que representam
todos os estratos da sociedade israelense e cobrem quase todas as unidades que
operam nos territórios. Todos os testemunhos que publicamos são meticulosamente
pesquisados, e todos os fatos são verificados com testemunhas oculares adicionais e /
ou os arquivos de outras organizações de direitos humanos também ativas no campo.
Todo soldado que dá testemunho ao Breaking the Silence conhece os objetivos da
organização e da entrevista. A maioria dos soldados opta por permanecer anônima,
devido a várias pressões de oficiais militares e da sociedade em geral. Nossa primeira

14
prioridade é para os soldados que optam por testemunhar para o público sobre seu
serviço.

9. Peace Ngo Forum


O Fórum Palestino-Israelense de ONGs pela Paz é uma plataforma dinâmica
que promove a cooperação e interação contínuas entre organizações não-
governamentais (ONGs) da Palestina e da Paz de Israel. O Fórum foi formalmente
fundado em 2006 pelo Dr. Ron Pundak e pelo Sr. Riad Malki com o objetivo de organizar,
coordenar e reforçar os esforços independentes e conjuntos das ONGs Palestinas e
Israelenses pela Paz. Reunindo 85 organizações de paz dos dois lados do conflito para
participar de redes, capacitação e iniciativas conjuntas, o Fórum aumenta a capacidade
de trabalho independente e conjunto das organizações membros para acabar com a
ocupação israelense e chegar a uma solução pacífica para o conflito palestino
israelense. .
Os esforços das organizações membros do Fórum para promover a paz vão
desde o trabalho no nível de base até o lobby de funcionários governamentais. Os
esforços conjuntos das ONGs de paz palestinas e israelenses, dispersas por diferentes
campos, transformam a sociedade civil em um catalisador mais forte de mudança.
O Fórum da Paz Israelense Palestino inclui três plataformas de trabalho; o Fórum
Palestino de ONGs pela Paz; o Fórum de ONGs da Paz de Israel; e o Fórum Palestino-
Israelense de ONGs pela Paz. Trabalhar em paralelo em três trilhas separadas fornece
uma maneira de acomodar o público variado de nossas sociedades e permite a geração
de meios de ação e mensagens independentes e adequados. Além disso, dois fóruns
separados, o israelense e o palestino, preenchem a necessidade de trabalho interno
entre as organizações e em cada sociedade respectiva - tudo com o propósito de
fortalecer as sociedades civis internamente. Os elementos-chave dos três fóruns
incluem reuniões e workshops em andamento; Grupos de trabalho sobre questões
específicas; e uma comunidade online.

História
Pré-formação: 1999-2006
Em novembro de 1999, foi realizado o 'Seminário de Helsinque para Avaliar a
Cooperação entre a Sociedade Civil Palestina e Israelense, reunindo 29 representantes
palestinos e israelenses de várias ONGs para uma conferência de dois dias. O
seminário promoveu um diálogo franco e informativo entre os participantes, permitindo
a realização de pesquisas sobre o estado das ONGs e projetos de pessoas a pessoas.
Este tópico foi discutido em uma reunião de 2002 em Roma, desta vez reunindo 36
representantes palestinos e israelenses de várias ONGs, bem como vários convidados
internacionais. Após um longo período de contato limitado, uma conferência organizada
pelo Centro Peres para a Paz eo Panorama Center foi realizada em Sevilha em 2005
para discutir um Fórum de ONGs pela Paz e, pouco depois, o Fórum foi lançado com o
apoio da União Européia.
Fase Um: Estabelecimento, 2006-2007
Em seus estágios iniciais, o Fórum recrutou membros de ONGs palestinas e
israelenses e organizou atividades conjuntas para as organizações membros. Realizou
oficinas de capacitação e deu aos membros oportunidades para desenvolver relações
de trabalho. Durante a "Fase de Estabelecimento", o Fórum trabalhou para se posicionar
no mapa, construindo seu status e recebendo reconhecimento.
Fase Dois: Conteúdo, 2008-2009
A segunda fase do Fórum foi projetada para determinar a direção do Fórum nos
anos subseqüentes. Esta fase centrou-se na criação da declaração de missão conjunta
e num entendimento conjunto sobre os objetivos do Fórum. O Fórum trabalhou
adicionalmente no sentido de unificar as estratégias de paz e fornecer apoio às
organizações membros, reunindo-as sob o guarda-chuva do Fórum. Por fim, através do

15
estabelecimento da Aliança Trilateral, uma nova pista foi criada no Fórum para incluir
ONGs européias sob a maior organização geral do Fórum.
Fase Três: Capacitação e Extensão, 2010-2011
O Fórum estava trabalhando para levar as culturas palestinas e israelenses do
conflito e da violência para o reconhecimento e a reconciliação. Mais e mais pessoas na
mídia e na política estão começando a conhecê-lo como um ator útil nessa transição.
Além disso, o Fórum continua com o trabalho de anos anteriores, por exemplo,
fornecendo uma variedade de cursos de capacitação.
Quarta fase: das necessidades à ação 2012-2013
Esta fase atual visa abordar as diferentes perspectivas e necessidades das
ONGs palestinas e israelenses, criando processos e mecanismos de avaliação que
consistentemente examinam as necessidades e desejos dos membros e de suas
respectivas sociedades. O Fórum está agora fornecendo às organizações membros a
plataforma para iniciar e implementar atividades, bem como as ferramentas e serviços
para apoiar e fortalecer seus esforços. É claro que essas necessidades devem ser
atendidas dentro da realidade da situação política, que é dinâmica e está em constante
mudança.
Declaração de missão
O Fórum baseia-se no entendimento de que o futuro dos povos palestino e
israelense é interdependente e, portanto, requer cooperação para preservar os laços
existentes e desenvolver futuros canais de comunicação. O Fórum apóia seus membros
em suas buscas para acabar com a ocupação e encoraja uma resolução justa,
mutuamente acordada, para o conflito.
1. Pleno respeito e implementação do direito internacional que, através das
resoluções das Nações Unidas, permitiu o nascimento do Estado de Israel e
apelou ao estabelecimento do Estado da Palestina.
2. Respeito e implementação dos acordos de paz assinados desde 1993, que
permitiram a criação da Autoridade Palestina.
3. Apoio à solução “Two States for Two Peoples” com a criação de um Estado
palestino independente, viável e soberano, baseado nos limites anteriores à
guerra de 1967 - incluindo Jerusalém Oriental, o fim de todas as formas de
violência e segurança para todos.
4. Uma solução equilibrada e mutuamente acordada para o problema dos
refugiados palestinos.

O Fórum insta a comunidade internacional e suas instituições a buscar


ativamente, juntamente com os grupos palestinos e israelenses, os objetivos acima
mencionados, em um esforço para garantir a dignidade, a liberdade e a segurança de
ambas as nações.
(* Alguns membros do Fórum acreditam em um estado democrático para todos).

Atividades e Iniciativas
O trabalho do Fórum é implementado através de uma série de meios
estabelecidos: conferências bilaterais, conferências unilaterais, grupos de trabalho
unilaterais e bilaterais, cursos de capacitação, palestras, uma comunidade online e
muito mais. O Fórum atribui grande importância ao fortalecimento de todas as suas
organizações membros e garante que todos os membros encontrem seu caminho para
se envolver com as atividades do Fórum e interagir com outras organizações membros.

16
O ABC do conflito
João K. Miragaya

O conflito entre Israel e os palestinos parece ter se transformado no tema favorito


da mídia internacional. A demanda por informações tem crescido nos últimos tempos, e
a mídia latino-americana praticamente ignora qualquer informação sobre Israel que não
seja sobre este tema. O que eu tenho percebido, no entanto, é que a imensa maioria
dos leitores simplesmente desconhece o significado de termos básicos para que se
compreenda a questão, como “Declaração Balfour”, “Partilha da Palestina”, “Linha
Verde”, “Acordos de Oslo” e etc. Pedi licença ao companheiro Claudio Daylac para atuar
como “Guia dos Perplexos”, e publicarei aqui um longo texto com informações básicas
sobre o conflito israelo-palestino dando atenção à história e examinando ainda que
superficialmente determinados pontos de vista.
Mesmo após a destruição do 2º Grande Templo (70 d.C.) e a Revolta de Bar
Kochba (132-135 d.C.), quando a grande maioria dos judeus se dispersou pelo mundo
no que é conhecido como a diáspora judaica, sempre houve comunidades judaicas na
Palestina. Entretanto, desde meados da baixa Idade Média até o princípio do século XX,
os judeus nunca chegaram a ser mais que 10% da população. Em 1882, inspirados
pelos ideais nacionalistas emergentes na Europa, e impulsionados pelos pogroms
russos, judeus da Europa Oriental organizaram três grandes levas de imigração à
Palestina chamadas de 1ª Aliá. O território era parte do Império Turco-Otomano, que
não ofereceu nenhuma resistência à imigração. Os judeus, então, compravam as terras
turcas através do financiamento principalmente do Barão de Rotschild, e se
estabeleciam no local. O nacionalismo não resolverá a questão judaica nem mesmo
onde os judeus abdicaram de qualquer nacionalidade judaica em prol do recebimento
da cidadania, como foi evidenciado pelo Caso Dreyfus na França em 1894. O sionismo
como ideologia evoluiu, sobretudo a partir de Theodor Herzl, que escreveu a obra “O
Estado Judeu” e organizou o movimento sionista através de congressos e de uma
dedicada luta política em prol da criação de um Estado nacional judaico.
Em 1904, judeus oriundos da Europa Oriental mesclaram as ideologias sionista
e socialista e organizaram uma segunda leva de imigração chamada de 2ª Aliá. Os
chamados pioneiros foram os responsáveis pela criação das primeiras instituições que
caracterizariam o Ishuv, como os kibutzim, o Banco Hapoalim, a cooperativa de saúde
Kupat Cholim, dentre outras. Até então, não há registros de conflitos entre árabes e
judeus na região por questões de ordem nacional.
Em 1917, então, os britânicos conquistam a região da Palestina, dando início ao
que se chama Mandato Britânico. Foi prometido aos judeus um lar nacional na Palestina
através da Declaração Balfour. A comunidade árabe não hesitou em expressar seu
descontentamento, organizando motins no ano de 1921. Em 1922 foi criada pelos
judeus a Haganá, primeiro grupo para-militar de defesa judaica. Preocupados com um
conflito iminente, os britânicos lançaram o 1º Livro Branco, dividindo o território palestino
em um reino (Transjordânia, hoje a Jordânia) e o protetorado da Palestina, além de pôr
limites na imigração judaica. Outras duas aliot se deram entre 1918 e 1933, fortalecendo
muito o crescimento do Ishuv. Os árabes percebiam que cedo ou tarde os judeus
revindicariam o território como seu, e organizaram os chamados “Tumultos árabes de
1929”, com direito a chacinas a comunidades judaicas em Hebron e Tiberíades. Estes
novos tumultos acarretaram na emissão do 2º Livro Branco (1930), limitando ainda mais
a imigração judaica, e na criação do Etzel (1931) pelo movimento sionista revisionista,
milícia para-militar judaica anti-britânico, que passou a executar ações de sabotagem.

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Com a chegada de Hitler ao poder (1933) e o aumento de leis restritivas na
Polônia, se deu início a 5ª Aliá, que trouxe à Palestina outros 80 mil judeus. A indignação
árabe resultou em uma guerra civil (1936-39), estimulada pelo líder religioso
muçulmano, o Mufti Amin Al-Husaiyni, entre judeus e árabes. Preocupados, os
britânicos enviaram o comissário Peel à Palestina para elaborar uma solução para o
conflito, e este acabou elaborando o primeiro plano de partilha da palestina em 1937.
O Movimento Sionista aceitou as condições embora houvesse uma oposição do
movimento sionista revisionista. Os árabes, por sua vez, rejeitaram veementemente o
plano. Em 1939, pouco antes da 2ª Guerra Mundial, os britânicos lançaram o 3º Livro
Branco, posicionando-se agora de forma contrária a qualquer partilha do território e
limitando a imigração judaica ainda mais. Neste contexto, um grupo dissidente do Etzel
cria a guerrilha Lechi, que se recusava a cooperar com os britânicos, intensificando as
ações de sabotagem e aderindo ao terrorismo.
A 2ª Guerra Mundial esfriou levemente o conflito, direcionando as atenções
judaicas à possibilidade de os nazistas ocuparem a Palestina. Em 1941 é fundado o
Palmach, grupo de elite da Haganá. Ao fim da guerra, tanto os britânicos quanto as
milícias judaicas e árabes voltaram as suas atenções à Palestina. O Holocausto serviu
como um incentivo a causa sionista, mas não demoveu os britânicos a abandonar seu
controle sobre a Palestina. Em 1946, o Etzel explode o hotel Rei David em Jerusalém,
causando a morte de 95 pessoas, em sua maioria britânicos. Apesar de o Movimento
Sionista se opor ao terrorismo revisionista e atuar contra o Etzel e o Lechi, a Haganá
decidiu optar também por ações de sabotagem contra os britânicos. Em 1947, então, os
britânicos resolveram dar à recém-fundada ONU o destino da Palestina. Em 1947,
então, a resolução 181 opta por dividir a Palestina em dois Estados, um judeu e um
árabe, com 33 votos a favor, 13 contrários e 10 abstenções.

Mapa 1 - Partilha da Palestina

Os árabes rejeitam a decisão e iniciam o que os israelenses chamam de Guerra


de Independência. Inicialmente um confronto civil, toma dimensões internacionais
quando o líder do Movimento Sionista declara a independência do Estado de Israel no
dia 14 de maio de 1948. Egito, Líbano, Síria, Jordânia e Iraque se unem às milícias

18
palestinas e atacam o recém-fundado Estado de Israel. Ben-Gurion unifica as milícias
judaicas no Exército de Defesa de Israel, e adquire armas da Tchecoslováquia para
enfrentar os inimigos. A Guerra termina em 1949, modificando radicalmente as fronteiras
e deixando como resultado um número de 600 a 900 mil refugiados palestinos em
diversos países, sobretudo na Jordânia (incluindo a Cisjordânia), no Egito (incluindo
Gaza) e no Líbano. Parte deles expulsos, parte cúmplices da ofensiva árabe e a maior
parte de refugiados de guerra, hoje representam uma questão de impasse à chegada à
paz. A grande maioria dos palestinos residentes em outros países jamais recebeu
cidadania.

Mapa 2: Israel após a Guerra de 1948

O Estado de Israel, imediatamente, passou a receber imigração judaica de todos


os cantos do mundo, em especial de sobreviventes do Holocausto e de judeus
habitantes dos países árabes, vítimas de hostilidade por parte dos governos locais de
característica antissionista. O Estado judeu estava em estado de guerra com todos os
países que o cercavam, intensificado com a chegada do nacionalista Nasser ao poder
no Egito e o advento do Pan-Arabismo.
Devido à dimensão do texto, sou obrigado a saltar um longo período, até que
chegamos ao ano de 1967. Ressalto, no entanto, que em 1964 é fundada a OLP
(Organização pela Libertação da Palestina), e, em 1965, é assinado pelos países árabes
onde se encontravam refugiados palestinos os Protocolos de Casablanca, que decidiu
em comum acordo não dar cidadania a nenhum palestino a fim de que Israel fosse
pressionado a criar um Estado Palestino, sem nenhuma sugestão de delimitação
territorial.

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Pressionado pela iminente guerra e ao fechamento do Estreito de Tirã pelos
egípcios, Israel lança uma ofensiva contra Egito, Jordânia, Síria e Líbano e em uma
espetacular operação militar vence uma guerra em apenas seis dias. O resultado foi a
conquista dos territórios do Sinai e Gaza (antes pertencentes ao Egito), Colinas do Golã
(da Síria) e Cisjordânia, onde também se situava a parte oriental de Jerusalém (sob
domínio da Jordânia). Sobretudo em Gaza e na Cisjordânia, habitava uma população
árabe palestina, despossuída de qualquer status de cidadania, sem governo e sem
Estado. A resolução 242 da ONU exigia que Israel se retirasse dos territórios
conquistados em 1967 imediatamente, exigência esta negada enquanto não houvesse
um tratado de paz com os Estados vizinhos.

Mapa 3 - Territórios Ocupados em 1967

Paulatinamente a causa palestina passa a ganhar eco dentro da comunidade


internacional. Israel não declarou soberania sobre nenhum dos territórios,
transformando o seu status em “territórios ocupados”. A OLP intensifica ações de
guerrilha e terroristas contra o Estado de Israel com o apoio do Egito, no que se
convencionou chamar de Guerra de Desgaste. Uma dura resposta de Israel fez com
que o rei da Jordânia expulsasse a OLP de seu país em uma ação violenta e com um
saldo de muitos mortos. A liderança palestina, então, migrou para o Líbano.
Apesar da vitória na Guerra dos Seis Dias, Israel viu-se dono de um problema
ao perceber que deveria administrar agora uma população hostil e insatisfeita com seu
status. O governo israelense decidiu colonizar determinadas regiões da Cisjordânia e
de Gaza sob o argumento de defesa das fronteiras. É neste momento que se dá início

20
a construção dos assentamentos judaicos nos territórios ocupados, que se
intensificaram no fim da década de 1970 sob o governo do direitista Menachen Begin.
Em 1973, Egito e Síria atacam Israel no dia do perdão (Yom Kipur), ferindo o
orgulho militar israelense, em alta desde 1967. Com grandes perdas apesar da vitória
militar, Israel, viu-se em difícil situação caso permanecesse em estado de guerra com
seus vizinhos. Devido a um desejo do novo presidente egípcio Anwar Sadat de se aliar
aos EUA, iniciaram-se em 1975 as negociações pela paz entre os dois Estados. A
questão palestina foi inicialmente incluída na pauta. Em 1979, Egito e Israel chegam ao
acordo de paz que traria a ambos relações diplomáticas e comerciais dentro de uma
situação de estabilidade, mas sem evoluir no que diz respeito aos palestinos. Israel
devolveu aos egípcios a província do Sinai, mas seguiu ocupando Gaza. Begin e Sadat
foram receberam o Prêmio Nobel da Paz pelos Acordos de Camp David I.
Apesar de concretizar a paz com o Egito, Israel recusou uma proposta da Liga
Árabe para a criação do Estado palestino em 1981, respondendo com a declaração de
autonomia sobre Jerusalém. Os árabes que se encontravam na cidade receberam o
status de “residentes” por não aceitarem a soberania israelense. A comunidade
internacional não reconhece até hoje esta declaração de autonomia.
Em 1982, após sucessivos ataques da OLP ao território israelense, o governo
optou por uma invasão no Líbano, que estava em meio a uma guerra civil desde 1975.
A simples Operação Paz na Galileia transformou-se na 1ª Guerra do Líbano, com
duração maior do que a última guerra da qual Israel havia participado. O exército
israelense não estava preparado para combater terroristas e civis hostis, o que gerou
um número alto de mortos dos dois lados (principalmente do lado árabe), intensificado
ainda mais pelo massacre de Sabra e Chatila. A opinião pública se voltou fortemente
contra Israel, que viu-se numa crise política sem fim. O 1º Ministro renunciou, caíram
outros ministros (como o da Defesa, Ariel Sharon) e o chefe das forças armadas. Esta
guerra representa um trauma coletivo até os dias de hoje, recentemente representado
em filmes premiados internacionalmente. O movimento Paz Agora cresceu e passou a
exigir o fim da ocupação. Houve casos de ataques de judeus extremistas aos pacifistas,
antecipando um pouco o que ocorreria na década de 1990. A crise política e econômica
foi amenizada após a formação de um governo de união nacional (unindo trabalhistas e
o Likud), mas que nenhuma proposta concreta apresentara para resolver o conflito. A
OLP, ao fim da guerra, novamente fora expulsa de outro país, refugiando-se agora na
Tunísia.
Em dezembro de 1987, um jipe do exército israelense choca-se com um
automóvel em Gaza, causando vítimas. Uma revolta árabe palestina eclode nos
territórios de Gaza e da Cisjordânia contra a ocupação israelense, rapidamente tomando
as manchetes dos principais veículos de comunicação, chamada Primeira Intifada. O
exército israelense, que recém se habituara a lidar com o terrorismo, agora se via frente
a outro desafio: como acalmar manifestações violentas feitas por civis? No mesmo ano
foi fundado o grupo Hamas, que, à diferença da Fatah, se baseia em preceitos
fundamentalistas islâmicos. O Hamas, por trás dos protestos civis, deu início a uma
onda de atentados terroristas contra a população civil de Israel, tornando ainda mais
complicada a ação do exército israelense: diferenciar terroristas e civis passou a ser
ainda mais difícil e necessário ao mesmo tempo. Crimes de guerra foram cometidos,
por suposto, e uma quantidade razoável de soldados israelenses foi parar atrás das
grades.
A Guerra do Golfo (1991) mudou um pouco o panorama da região. A principal
liderança palestina (Yasser Arafat) apoiara Saddam Hussein no conflito contra as tropas
internacionais. A derrota política de Arafat o obrigou a admitir uma postura mais
moderada, uma vez que boa parte do mundo árabe, inclusive, havia se posicionado do
lado oposto. Foi convocada uma conferência entre os principais países do Oriente Médio
(Conferência de Madrid), onde se viu que o 1º Ministro israelense era um obstáculo aos
acordos desejados pela comunidade internacional. Em 1992 houve eleições em Israel,

21
quando o Ministro da Defesa da Intifada, Itzhak Rabin, foi eleito o 1º Ministro de Israel
que deveria levar o país à paz com os palestinos.

Mapa 4 - Áreas A, B e C

Em 1993, Israel e a liderança da OLP (agora chamada de ANP – Autoridade


Nacional Palestina) chegaram aos Acordos de Oslo. Nesta reunião foram estabelecidos,
dentre outros pontos, as seguintes máximas:
1) Israel reconheceria a ANP como a legítima liderança do povo palestino;
2) A ANP reconheceria a existência do Estado de Israel (sem delimitar fronteiras);
3) Os territórios de Gaza e Cisjordânia seriam divididos em áreas A, B e C. Os dois
primeiros estariam sob administração civil da ANP;
4) Ambos os lados se comprometeram a lutar contra o terrorismo;
5) Dever-se-ia chegar a um acordo permanente dentro de 5 anos.

Além de dar o Prêmio Nobel a Rabin, Arafat e Shimon Peres, Oslo trouxe a Israel
oportunidade de estreitar laços não só com os palestinos, mas também com outros
países árabes como o Marrocos e a Jordânia, com a qual foi assinado o Tratado de Paz
em 1994. A Turquia também estreitou relações com Israel, e a rejeição ao sionismo foi
se tornando menos “natural” no mundo árabe-islâmico. Por outro lado, radicais
israelenses ameaçavam os acordos com manifestações violentas, com direito à
incitação ao ódio e atentados terroristas. O Hamas e outros grupos radicais palestinos
não deixaram por menos, realizando atentados em diversas cidades israelenses. Em
1994 as fronteiras que separavam os territórios palestinos e Israel foram fechadas,
passando a ser exigida aos palestinos uma permissão especial para ultrapassar a linha
verde.

22
Em 1995 foram assinados os Acordos de Oslo B, que transformava em territórios
A e B uma parte ainda maior da Cisjordânia. Temendo que os acordos trouxessem mais
atentados, a direita israelense passou a realizar manifestações cada vez mais
frequentes. A esquerda pacifista, então, decidiu demonstrar que representava a maioria.
Numa destas manifestações, na antiga Praça Reis de Israel, foi assassinado o 1º
Ministro Itzhak Rabin e o processo de paz se estagnou. Atentados terroristas se
acentuaram e necessitou-se dois anos até que a situação se acalmasse.
Cinco anos depois, Israel e os palestinos resolvem se reunir e chegar a uma
solução para o conflito. Israel recém se retirara de territórios do sul do Líbano,
demonstrando que a questão territorial não era vital para que se chegasse a um acordo.
Nas negociações conhecidas como Camp David II, o ex-1º Ministro Ehud Barak e o líder
palestino Yasser Arafat sentaram-se e conversaram sobre a criação de um Estado
palestino. Barak apresentou um plano exposto no mapa abaixo, no qual a Palestina
seria criada em mais que 90% do seu território sob determinadas condições
(desmilitarizada, sem espaço aéreo, abdicando de Jerusalém Oriental e etc.). Arafat
recusou prontamente. O clima esfriou, mas não tardou a esquentar novamente: após os
fracassos das negociações, começa a 2ª Intifada, repleta de violência dos dois lados.
Houve ainda, em meio ao conflito, uma nova tentativa de paz (Negociações de Taba),
mais uma vez frustrada.

Mapa 5 - Camp David e Taba

A 2ª Intifada terminou somente em 2004, quando Israel decidiu de forma


unilateral retirar as suas colônias e seu exército de Gaza. A questão dividiu a opinião
pública, mas o “Plano de Desconexão” foi efetuado em 2005, pouco menos de seis
meses após o falecimento de Arafat e a posse de Abbas como líder da ANP. Seis meses
depois, no entanto, o Hamas vence as eleições para o legislativo palestino e ameaça o

23
retorno às negociações com Israel. Seis meses depois, o grupo fundamentalista
Hezbollah, que controla o sul do Líbano, entra em conflito com o exército de Israel
causando uma guerra muito semelhante à primeira. Este conflito é conhecido como 2ª
Guerra do Líbano, e expôs o quão fortalecido estava o grupo xiita militarmente, capaz
de ameaçar toda a região norte de Israel com mísseis de médio alcance.
Em 2007, pouco depois, estoura uma guerra civil nos territórios palestinos(Gaza
e Cisjordânia) entre Fatah e Hamas. Brigando pelo controle da região, os palestinos
entraram em um confronto com dezenas de mortos, acarretando na divisão de
territórios: o Hamas controla Gaza e a Fatah fica com a Cisjordânia. Se antes os dois
grupos eram apenas adversários políticos, desde então são inimigos declarados. Gaza
desde 2007 está sob bloqueio israelense: tudo o que entra e sai do território se dá
somente através de inspeção e permissão do exército israelense. O Fatah
esporadicamente negocia com Israel,m embora isso não tenha acontecido com grande
frequência nos últimos anos. O Hamas só negocia cessar-fogo (como nos confrontos
em 2008-09 e 2012) e a libertação de sequestrados (como em 2011). Os confrontos na
região, desde então, passaram a ser esporádicos[ref]Três operações militares
israelenses em Gaza foram feitas desde então: Chumbo Fundido (2008/09), Pilar
Defensivo (2012) e Margem de Protenção (2014).[/ref], e envolvem principalmente o
ataque a foguetes vindos dos palestinos e bombardeios aéreos por parte de Israel
(embora em 2014 os famosos túneis do Hamas tenham sido mais alarmantes do que
qualquer coisa). As negociações atualmente estão congeladas. A ANP (coordenada
pelo Fatah) exige que Israel cesse as construções de assentamentos na Cisjordânia,
enquanto Israel não aceita pré-condições para retomar as negociações. E chegamos a
2016 em uma sinuca, sem negociações e com a sensação de que o conflito está distante
do seu fim.

Os principais temas do impasse:


1) Trocas de territórios e fronteiras de separação;
2) Refugiados palestinos;
3) Jerusalém Oriental (reivindicada por ambos);

http://www.conexaoisrael.org/o-abc-do-conflito/2013-06-03/joao

24
O Mito do Genocídio Palestino - Conexão Israel
Um dos maiores mitos na narrativa do conflito árabe-israelense é o de que há
um genocídio palestino cometido por Israel – uma suposta “limpeza étnica”, como
afirmam de forma difamadora. Apesar de não podermos julgar as intenções daqueles
que o criaram, podemos definitivamente afirmar que a sua perpetuação é, no melhor
dos casos, um ato de ignorância, e muitas vezes pura e simples desonestidade
intelectual.
Há cinco aspectos que juntos ajudaram a construir a ideia de que há um
genocídio perpetrado por israelenses sobre o povo palestino. O primeiro é legal-jurídico
– “Israel comete um genocídio com base nas leis internacionais”. Em relação a esse
ponto, nosso colega de Conexão Israel, Claudio Daylac, explica em seu artigo “Análise
do direito internacional e das leis da guerra“, porque o termo não se aplica ao que
ocorre entre israelenses e palestinos. É uma excelente leitura que rebate em termos
jurídicos o argumento de que Israel promove ou possui a intenção de promover um
genocídio.
Ainda assim, é importante ressaltar que a disputa pela definição das atitudes de
Israel vai muito além da questão conceitual ou terminológica. Em efeito, o termo
genocídio é apenas uma representação/síntese de uma ideia que, dependendo das
circunstâncias, pode se apresentar como “massacre”, “assassinato sistemático” e outras
derivações. Além disso, há uma imensa quantidade de interpretações dadas ao termo
genocídio que variam de acordo com a conveniência daquele que o emprega. Portanto,
seria um equívoco tornar esse artigo uma discussão sobre terminologias e
nomenclaturas – seria interminável e contraproducente. É muito mais frutífero – e por
isso optamos por essa direção – desconstruir a ideia que serve de base para toda e
qualquer expressão que passe a ideia de que Israel promove uma matança
indiscriminada e deliberada de palestinos. Dessa forma, o uso do termo “genocídio” ao
longo do texto é inespecífico.
Há quatro outros aspectos que sustentam o mito do “genocídio palestino”. Vejamos
quais são eles.

“Israel matou e segue matando deliberadamente milhares de palestinos”


Analisar o número de mortes palestinas requer o entendimento do contexto em
que estas ocorreram e da intenção daqueles que as provocaram. Ao longo dos últimos
67 anos, Israel esteve envolvido em guerras e operações militares contra países e
grupos que objetivaram (alguns ainda objetivam) a sua destruição. Nessas ofensivas
anotaram-se mortes de agressores, terroristas e inocentes civis. Essa é a triste porém
real consequência de uma situação de guerra. Portanto, para que entendamos a
dimensão do número de mortes no lado palestino é importante esclarecer de
antemão que estas não ocorreram de forma deliberada, mas dentro de um
contexto marcado pelo conflito.

Para avaliarmos a existência ou não de um “genocídio”, temos que dar base


comparativa aos números e colocá-los em perspectiva. É como dizer: “dez é muito”. Em
relação a que? Quanto é pouco? Qual é a média? Enfim, a vida, para ser analisada de
forma objetiva, deve ser colocada em contexto.
Podemos avaliar a existência de um genocídio com base nas estatísticas tanto
de forma absoluta — número de mortos — quanto relativo ao tempo — número de
mortos por ano. Para não haver discussão apresentaremos os dados das duas formas.
Comecemos pelos números de mortos palestinos desde 1948, ano da criação
do Estado de Israel. Apesar de haver um intenso debate quanto ao número de vítimas
palestinas desde a Guerra de Independência — não há uma clara distinção na literatura
entre jordanianos e palestinos até os conflitos mais recentes — tomamos a liberdade de
utilizar o mais alto indíce: 30 mil mortos[ref]O cálculo foi feito com base nos números
publicados no wikipédia e considera todas as vítimas palestinas e jordanianas – sem

25
qualquer diferenciação – entre os anos 1948 e 2015.[/ref]. Note que esse é o mais alto
número se calcularmos o número de jordanianos e palestinos mortos desde 1948 sem
qualquer diferenciação entre os povos. Em uma escala de tempo significa dizer que o
Estado de Israel causou a morte de aproximadamente 448 palestinos por ano.
Coloquemos agora os números do “genocídio palestino” em perspectiva. Segue
a lista em ordem decrescente — em números absolutos — de algumas das maiores
matanças cometidas nos últimos dois séculos.

1. Mao-Tsé-Tung (China, 1958-61 e 1966-69, Tibet 1949-50) – 80 milhões de


mortos.
2. Adolf Hitler (Alemanha, 1939-1945) – 12 milhões de mortos.
3. Leopoldo II da Bélgica (Congo, 1886-1908) – 8 milhões de mortos.
4. Joseph Stalin (URSS, 1932-1939) – 7 milhões de mortos.
5. Hideki Tojo (Japão, 1941-1944) – 5 milhões de mortos.

Não percamos de vista os números absolutos do “genocídio palestino” – que


estipulamos a título referencial no exagerado número de 30 mil mortos. Não é possível
saber ao certo em que posição Israel entraria na lista acima, mas seria plausível supor
que não estaria nem entre os 100 primeiros.

De qualquer forma, vejamos agora o número de mortes por ano:

Para entendermos proporcionalmente, coloquemos todas as mortes em genocídios do


mundo em um só gráfico e vejamos onde Israel se encontra.

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Como podemos observar, há inúmeros conflitos (não concebidos como genocídio) antes
de chegarmos tanto nos 30 mil palestinos mortos desde 1948, quanto na média de 448
vítimas anuais. Aliás, se utilizássemos apenas a média anual, não haveria qualquer
razão para escrever um artigo como esse — a taxa anual de 448 mortes palestinas (um
povo em conflito com Israel) é tão baixa que chega a ser menor do que o número de
mortes provocadas por perseguição governamental presente em quase todos os países
árabes, que o número de vítimas na guerra civil síria, no combate ao crime nos Estados
Unidos, no Brasil e em outros muitos países. Isso sem contar os conflitos em curso na
África.

“Israel promove uma limpeza étnica”


Quem utiliza esse argumento deve estar preparado para responder objetivamente a uma
pergunta singela: “Como Israel pode promover uma limpeza étnica se a população
palestina cresce a uma taxa de 2.9% ao ano?”
Isto significa que, mantendo-se a taxa atual, a população palestina duplicará em
apenas 24 anos. Levando-se em conta apenas a população de Gaza (crescimento de
3.4% por ano), a duplicação levaria apenas 20 anos. Comparemos com o Brasil, que
cresce 0.9% ao ano (77 anos para duplicar).
Como pode um país que sofre ou sofreu um genocídio ter uma taxa de natalidade
positiva? Em Gaza, vivem cerca de 1.8 milhão de pessoas. Crianças abaixo de 14 anos
representam 45% da população. A taxa de fecundidade é de 4.18 filhos por mulher.
Enfim, o ponto está claro — é mais razoável acreditar em Papai Noel do que em uma
limpeza étnica. A explosão demográfica palestina não dá base para tal argumento.

“O genocídio deve ser entendido com base no tamanho populacional”


Estima-se que em 1948 havia 1.3 milhão de muçulmanos e cristãos que viviam
sob o mandato britânico. Hoje, são mais de 6 milhões de palestinos que vivem entre o
rio Jordão e o Mar Mediterrâneo (Gaza, Cisjordânia e árabes israelenses).
Se todas as 30 mil pessoas (são menos) tivessem sido mortas ao mesmo tempo (não
foram), isto daria 2.3% (30 mil por 1.3 milhão) e 0.5% (30 mil por 6 milhões) da
população palestina de 1948 e 2015, respectivamente.
Comparemos estes números com alguns genocídios perpetrados no século 20:
Holocausto: 6 milhões de judeus, 78% dos judeus europeus.
Genocídio armênio: 1.5 milhão, 75% dos armênios do Império Otomano.
Genocídio cambojano: entre 1.7 e 3 milhões, de 25% a 33% da população total do
Camboja.
Genocídio em Ruanda: entre 0.5 e 1 milhão, 70% da população tutsi.
Novamente, os números – quando colocados em perspectiva e analisados
de forma objetiva – não corroboram com o mito do “genocídio palestino”.
Considere também (apenas como exercício de pensamento) a seguinte questão:
Na Guerra de Independência de Israel (1948–49) morreram cerca de 6 mil judeus,
um por cento da população judaica local. Houve genocídio por parte dos exércitos
árabes contra o povo judeu?

“Israel quer aniquilar o povo palestino”


Esse último aspecto se refere principalmente ao argumento de que “Israel tenta
(tem a intenção de) promover um massacre de palestinos, mas não consegue”. Essa
ideia é de fácil desconstrução e exige apenas um pouco de lógica.
Israel tem um dos exército mais equipados e desenvolvidos do mundo. Portanto,
se o país tivesse a intenção de exterminar o povo palestino, não tardaria a ocorrer. No
entanto, como vimos, a taxa de natalidade palestina segue alta e o número de vítimas
desde 1948 é relativamente baixo. Diante dessa conjuntura há duas plausíveis
conclusões: ou o exército de Israel é um dos mais incompetentes da história da
humanidade ou definitivamente nunca houve intenção em promover um genocídio

27
palestino. Como a primeira é pouco razoável, só nos resta crer na segunda. A lógica —
em sua forma mais simples — se estrutura da seguinte maneira:

1) Israel tem a capacidade de matar todo o povo palestino.


2) O povo palestino segue tendo uma alta taxa de natalidade e apenas uma mínima
parte do povo palestino morreu em decorrência do conflito com Israel durante os
últimos 67 anos.
3) Logo, Israel não utiliza sua capacidade de matar todo o povo palestino.
4) Se Israel não utiliza sua capacidade de matar todos os palestinos, pode-se
deduzir que ele não tem e nunca teve a intenção para tal.

Conclusão:
A criação de mitos é uma constante no jogo político. Não apenas entre
aqueles que se encontram na esfera de poder, mas também entre militantes que
visam disseminar falsas representações da realidade para justificar a posição de
seus partidos. Mitos políticos são eficientes recursos que tem como objetivo
produzir padrões de pensamento, definir bandeiras ideológicas e determinar o
comportamento social.
O mito é, no entanto, apenas uma história – esse é o seu significado etimológico
do grego mythos. O problema é que nós, seres humanos, somos sedentos por essas
histórias, afinal elas nos ajudam a descrever a realidade, preenchendo o insuportável
espaço que a dúvida e a incerteza criam. Em efeito, os mitos nos confortam e nos
permitem dar fluxo a vida – são mentiras ou meias-verdades que estabelecemos para
tornar possível a vida em sociedade.
Ainda assim, não podemos lidar com um mito como se fosse um fato. É
responsabilidade nossa entendê-lo e desconstruí-lo sempre que possível. Israel tem,
sem dúvida, muito a fazer em relação ao conflito com os palestinos, mas isso não
justifica a perpetuação da ideia de que há ou houve qualquer tentativa de genocídio ou
massacre palestino. Agora você já sabe porque.

28
Conceito Político de Povo
O conceito de povo pode ser estabelecido do ponto de vista político, jurídico e
sociológico.
A antigüidade já o conhecera, dando-nos disso testemunho a obra de Cícero.
Com efeito, segundo o escritor romano, povo é “a reunião da multidão associada pelo
consenso do direito e pela comunhão da utilidade” e não simplesmente todo conjunto
de homens congregados de qualquer maneira.
A modernidade do conceito é porém afirmada por alguns autores, que vão
buscar-lhe a nascente nas idéias da Revolução francesa. Fora desconhecido à Idade
Média, cuja teoria do Estado partia do território, da organização feudal, onde o poder se
assentava em relações de propriedade. A nova teoria do Estado que começa com a
implantação da sociedade liberal-burguesa, na segunda metade do século XVIII, parte
do povo. No absolutismo o povo fora objeto, com a democracia ele se transforma em
sujeito.
Teve início esse princípio com o Estado liberal, constitucional e representativo.
A história que vai do sufrágio restrito ao sufrágio universal é a própria história da
implantação do princípio democrático e da formação política do conceito de povo.
Embora restrito, o sufrágio inaugura a participação dos governados, sua presença oficial
no poder mediante o sistema representativo, elegendo representantes que intervirão na
elaboração das leis e que exprimirão pela primeira vez na sociedade moderna uma
vontade política nova e distinta da vontade dos reis absolutos.
Povo é então o quadro humano votante, que se politizou (quer dizer, que
assumiu capacidade decisória), ou seja, o corpo eleitoral. O conceito de povo traduz por
conseguinte uma formação histórica recente, sendo estranho ao direito público das
realezas absolutas, que conheciam súditos e dinastias, mas não conheciam povos e
nações.
Esse conceito político de povo prende-se evidentemente a uma concepção
ideológica: a das burguesias ocidentais que implantaram o sistema representativo e
impuseram a participação dos governados, desencadeando o processo que converteria
estes de objeto em sujeito da ordem política.
Sem a compreensão desse confinamento do conceito às suas raízes históricas,
poderia parecer absurdo o conceito de povo do professor Afonso Arinos, povo político,
porquanto, tomado fora da qualificação política, não seriam povo os menores, os
analfabetos, os que por este ou aquele motivo, de ordem particular ou de ordem geral,
estivessem excluídos do direito de sufrágio, nem tampouco haveria povo nos países
totalitários, onde a livre participação dos governados na criação da vontade estatal se
achasse sufocada ou interditada. Com efeito, escreveu com brilho e elegância o nosso
Afonso Arinos: “nossa Constituição diz que todo poder emana do povo e em seu nome
será exercido. Vejamos o que isto quer dizer. Em primeiro lugar, o que é povo? Os
constitucionalistas não hesitam. Povo, no sentido jurídico, não é o mesmo que
população, no sentido demográfico. Povo é aquela parte da população capaz de
participar, através de eleições, do processo democrático, dentro de um sistema variável
de limitações, que depende de cada país e de cada época.

29
Conceito Jurídico de Povo
Só o direito pode explicar plenamente o conceito de povo. Se há um traço que o
caracteriza, esse traço é sobretudo jurídico e onde ele estiver presente, as objeções não
prevalecerão.
Com efeito, o povo exprime o conjunto de pessoas vinculadas de forma
institucional e estável a um determinado ordenamento jurídico, ou, segundo Raneletti,
“o conjunto de indivíduos que pertencem ao Estado, isto é, o conjunto de
cidadãos”. Diz Ospitali que povo é “o conjunto de pessoas que pertencem ao Estado
pela relação de cidadania”, ou no dizer de Virga “o conjunto de indivíduos vinculados
pela cidadania a um determinado ordenamento jurídico”.
É semelhante vínculo de cidadania que prende os indivíduos ao Estado e os
constitui como povo. Fazem parte do povo tanto os que se acham no território como fora
deste, no estrangeiro, mas presos a um determinado sistema de poder ou ordenamento
normativo, pelo vínculo de cidadania.
Não basta dizer que povo é o elemento humano como sujeito de direitos e
obrigações. A afirmativa não é incorreta, mas demasiado ampla. Um grupo social
também pode abranger o elemento humano elevado a categoria de sujeito de direitos e
obrigações e não constituir um povo. Urge por conseguinte dar ênfase ao laço de
cidadania, ao vínculo particular ou específico que une o indivíduo a um certo sistema de
leis, a um determinado ordenamento estatal.
A cidadania é a prova de identidade que mostra a relação ou vínculo do indivíduo
com o Estado. É mediante essa relação que uma pessoa constitui fração ou parte de
um povo.
O status de cidadania, segundo Chiarelli, implica numa situação jurídica
subjetiva, consistente num complexo de direitos e deveres de caráter público.
O status civitatis ou estado de cidadania define basicamente a capacidade
pública do indivíduo, a soma dos direitos políticos e deveres que ele tem perante o
Estado.
Da cidadania, que é uma esfera de capacidade, derivam direitos, quais o direito
de votar e ser votado (status activae civitatis) ou deveres, como os de fidelidade à Pátria,
prestação de serviço militar e observância das leis do Estado. Sendo a cidadania um
círculo de capacidade conferido pelo Estado aos cidadãos, este poderá traçar-lhe
limites, caso em que o status civitatis apresentará no seu exercício certa variação ou
mudança de grau. De qualquer maneira é um status que define o vínculo nacional da
pessoa seus direitos e deveres em presença do Estado e que normalmente acompanha
cada indivíduo por toda a vida.
Três sistemas determinam a cidadania: o jus sanguinis (determinação da
cidadania pelo vínculo pessoal), o jus soli (a cidadania se determina pelo vínculo
territorial) e o sistema misto (admite ambos os vínculos). Na terminologia do direito
constitucional brasileiro ao invés da palavra cidadania, que tem uma acepção mais
restrita, emprega-se com o mesmo sentido o vocábulo nacionalidade.
A matéria se acha regulada no artigo 12 da Constituição federal, que define
quem é brasileiro e por conseguinte, em face das nossas leis, quem constitui o nosso
povo.

30
Conceito sociológico de Povo
Tido também como conceito naturalista ou étnico, decorre, porém, com muito mais
frequência de dados culturais, que uma consideração unilateralmente jurídica não
poderia exprimir.
Desse ponto de vista — o sociológico — há equivalência do conceito de povo com
o de nação. O povo é compreendido como toda a continuidade do elemento humano,
projetado historicamente no decurso de várias gerações e dotado de valores e
aspirações comuns.
Compreende vivos e mortos, as gerações presentes e as gerações passadas,
os que vivem e os que hão de viver. É enfim aquele mesmo povo político concebido,
conforme vimos, de acordo com as características jurídicas que num determinado
território lhe conferem a organização de Estado, mas ao mesmo tempo colocado numa
dimensão histórica que liga o passado ao futuro e assim transcende o momento da
contemporaneidade de sua existência concreta.
O povo nesse sentido é a nação, e ainda debaixo desse aspecto pode tomar
uma acepção tão lata que para sobreviver basta conservar acesa a chama da
consciência nacional. Os judeus sem território e sem Estado próprio, disseminados no
corpo político de sociedades que ora os acolhiam, ora os expeliam, nem por isso
deixaram nunca de ser povo e nação, tendo as duas expressões aqui igual significado.

31
BDS - Boycotts, Divestment and Sanctions
Boicote, Desinvestimento, Sanções (BDS) é um movimento liderado pela
Palestina pela liberdade, justiça e igualdade. O BDS defende o princípio simples
de que os palestinos têm direito aos mesmos direitos que o resto da humanidade.
Israel está ocupando e colonizando a terra palestina, discriminando os
cidadãos palestinos de Israel e negando aos refugiados palestinos o direito de
retorno para suas casas. Inspirado pelo movimento anti-apartheid da África do
Sul, o chamado BDS pede ações para pressionar Israel a cumprir a lei
internacional.
O BDS é agora um movimento global vibrante composto de sindicatos,
associações acadêmicas, igrejas e movimentos de base em todo o mundo. Onze
anos após seu lançamento, o BDS está tendo um grande impacto e está
efetivamente desafiando o apoio internacional ao apartheid e colonialismo de
colonos israelenses.
Os boicotes envolvem a retirada de apoio à Israel e à empresas israelenses
e internacionais que estão envolvidas na violação dos direitos humanos
palestinos, além de cúmplices de instituições esportivas, culturais e acadêmicas
de Israel.
As campanhas de Desinvestimento pressionam os bancos, conselhos
municipais, igrejas, fundos de pensão e universidades a retirarem investimentos de
todas as empresas israelenses e de empresas internacionais envolvidas na violação
dos direitos palestinos.
As campanhas da sanções pressionam os governos a cumprirem sua obrigação
legal de responsabilizar Israel, incluindo o fim do comércio militar, acordos de livre
comércio e a expulsão de Israel de fóruns internacionais como a ONU e a FIFA.

Principais objetivos:

● Acabar com a ocupação e colonização de todas as terras árabes e


desmantelar o Muro
O direito internacional reconhece a Cisjordânia, incluindo Jerusalém Oriental, Gaza e as
colinas sírias de Golan como ocupadas por Israel. Como parte de sua ocupação militar,
Israel rouba terras e força os palestinos a viverem em guetos, cercados por postos de
controle, assentamentos e torres de vigia e um Muro de Apartheid ilegal. Israel impôs
um cerco medieval em Gaza, transformando-o na maior prisão a céu aberto do mundo.
Israel também realiza regularmente ataques em larga escala contra Gaza, que são
amplamente condenados como crimes de guerra e crimes contra a humanidade.

● Reconhecer os direitos fundamentais dos cidadãos árabes-palestinos de


Israel à plena igualdade
Um quinto dos cidadãos de Israel são palestinos que permaneceram dentro das linhas
de armistício depois de 1948. Eles estão sujeitos a um sistema de discriminação racial
consagrado em mais de 50 leis que afetam todos os aspectos de suas vidas. O governo
israelense continua a deslocar de maneira forçada as comunidades palestinas em Israel
de suas terras. Os líderes israelenses rotineiramente e abertamente incitam a violência
racial contra eles.

● Respeitar, proteger e promover os direitos dos refugiados palestinos de


retornar às suas casas e propriedades, conforme estipulado na Resolução
194 da ONU.
Desde seu estabelecimento violento em 1948, por meio da limpeza étnica de mais da
metade dos povos indígenas da Palestina, Israel se propôs a controlar o máximo de
terras e arrancar o maior número possível de palestinos. Como resultado deste
deslocamento forçado sistemático, existem agora mais de 7,25 milhões de refugiados

32
palestinos. Eles não têm o direito de voltar para suas casas simplesmente porque não
são judeus. Decisão de vida ou morte para Israel e insuficiente pressão internacional.

Personagens Importantes da História Palestina


● Yasser Arafat: foi presidente da Organização para a Libertação da
Palestina
(OLP) entre 1969 e 2004 (35 anos) e da Autoridade Nacional Palestina (ANP), de
1993 a 2004. Arafat liderou a guerra contra Israel por meio de ataques terroristas e dz
guerrilha. Em 1993, ele assinou os Acordos de Oslo com Yitzhak Rabin, que lhe valeu
o Prêmio Nobel da Paz. Em 2000, ele liderou, juntamente com o Hamas, a Segunda
Intifada.

● Abu Mazen: apelidado de Mahmoud Abbas, herdeiro do líder palestino Yasser


Arafat
na liderança da Organização para a Libertação da Palestina e presidente da Autoridade
Palestina desde a eleição em 2005. Abbas é um dos fundadores da Al Fatah. Ele
nasceu em Safed, no território do Mandato Britânico. Em 1948, sua família fugiu para a
Síria, onde completou seu primeiro diploma em direito. Segundo informações do
governo israelense, ele estava entre os fundadores da organização negra de
setembro. Ele completou seus estudos de doutorado em História na União Soviética,
com uma tese - mais tarde publicada como um livro - em que ele argumentou que o
movimento sionista colaborou com os nazistas no extermínio do povo judeu. Ele também
argumentou que o número de vítimas judias na Shoah não poderia ser especificado.

● Ahmad Yassin: Xeique Ahmad Ismaíl Hassan Yassin foi o fundador e líder
da
organização Hamas, criada em 1987 e que deu base teológica e selo religioso ao
terrorismo. Ele foi morto em uma ação de liquidação seletiva realizada pela IDF durante
a Segunda Intifada.

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Trechos do Livro “Contra o Fanatismo”, de Amos Oz (conflito)

“Essencialmente, a batalha entre os judeus israelenses e os árabes palestinos não


é uma guerra religiosa, embora os fanáticos de ambos os lados estejam tentando
ferozmente transformá-la nisso. É essencialmente, nada além de um conflito
territorial relativo à questão dolorosa: “de quem é a terra?” Vou dizer-lhes apenas
que é essencialmente um conflito entre certo e certo, duas reivindicações muito
poderosas, muito convincentes sobre o mesmo pequeno país. Não uma guerra
religiosa entre duas tradições, não uma guerra de culturas, não uma discordância entre
duas tradições, mas simplesmente uma disputa de território em relação à questão sobre
a quem pertence esse lar. E acredito que ela pode ser resolvida”

“Precisamos não apenas tomar café juntos, e sim de um entendimento melhor. O que
precisamos é de um compromisso doloroso. Para mim, a palavra compromisso
significa vida. E o contrário de compromisso não é idealismo, nem devoção; o
contrário de compromisso é fanatismo e morte. Um compromisso significa que o
povo palestino não deveria nunca ficar de joelhos, nem o povo judeu israelense.”

“Uma das coisas que torna o conflito entre Israel e Palestina particularmente difícil
é o fato de que este conflito, o conflito árabe-israelense, é essencialmente um
conflito entre duas vítimas. Duas vítimas do mesmo opressor (Europa). Cada um
dos lados olha o outro e vê no outro a imagem de seus opressores do passado. O
judeu, especialmente o judeu israelense, é retratado na literatura árabe como uma
extensão da Europa branca, sofisticada, tirânica, colonizadora, cruel, impiedosa do
passado. Eles são os colonialistas, que vieram para o Oriente Médio mais uma vez,
dessa vez disfarçados de sionistas, mas vieram tiranizar, colonizar e explorar. Não
conseguem ver-nos como nós realmente somos - um monte de refugiados e
sobreviventes meio histéricos, assaltados por pesadelos terríveis, traumatizados.
Pelo mesmo prisma, não vemos os palestinos como vítimas de séculos de
opressão, exploração, colonialismo e humilhação. Os vemos como agentes de
pogroms nazistas, que simplesmente se enrolaram em koffias, deixaram crescer
bigodes e se bronzearam. São nossos opressores do passado revividos.”

“Se há algo a esperar, isso é um divórcio justo e razoável entre Israel e Palestina.
E os divórcios nunca são felizes. Palestinos que são diariamente oprimidos, assediados,
humilhados, que passam por privações por causa do cruel governo militar israelense. O
povo israelense que é diretamente aterrorizado por ataques terroristas impiedosos e
indiscriminados contra civis, homens, mulheres… Qualquer coisa é preferível a isso! E
finalmente, talvez, depois de termos empreendido esse divórcio justo e doloroso,
se criem dois estados, divididos de acordo com as realidades demográficas.”

“O primeiro passo deveria ser, deve ser, e isto é muito crucial, uma solução de
dois Estados. Israel deve retornar ao que foi a proposição israelense inicial, desde
1948, e mesmo antes de 1948, desde o começo: reconhecimento por
reconhecimento, condição de Estado por condição de Estado, independência por
independência, segurança por segurança, boa vizinhança por boa vizinhança,
respeito por respeito.”

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Trechos do Livro “Contra o Fanatismo”, de Amos Oz (fanatismo)
“Esta é uma batalha de fanáticos, entre aqueles que acreditam que o fim, qualquer fim,
justifica os meios e nós, os demais, que acreditam que a vida é um fim em si, não apenas
um significado. É uma luta entre os que acham que a justiça é mais importante que
a vida e aqueles para quem a vida tem prioridade sobre muitos outros valores,
convicções e crenças.
Diz respeito à luta antiga entre fanatismo e pragmatismo. Entre fanatismo e
pluralismo. Entre fanatismo e tolerância.”

“O fanatismo é mais antigo que o Islã, mais velho que o Cristianismo, que o judaísmo,
que qualquer estado, governo ou sistema político, que qualquer ideologia ou fé no
mundo. O fanatismo é, infelizmente, um componente onipresente da natureza
humana, um gene do mal.”

“Como lidar com pessoas que são, na realidade, bem mais que pontos de exclamação
ambulantes? O fanatismo é, com frequência, intimamente relacionado a uma atmosfera
de desespero profundo. Num lugar em que as pessoas sintam que não há nada além
de derrota, humilhação e indignidade, podem recorrer a várias formas de violência
desesperada. A única maneira de repelir o desespero é gerar e disseminar
esperança - talvez não entre os fanáticos, mas entre os moderados.”

“Não me refiro apenas àqueles fanáticos óbvios, os que vemos do outro lado da tela da
televisão, em lugares onde multidões histéricas agitam seus punhos contra as câmaras,
enquanto gritam slogans em línguas que não entendemos. Não, o fanatismo está em
quase todos os lugares, e suas formas mais silenciosas, mais civilizadas, estão
presentes em nosso entorno, e talvez dentro de nós também. Conheço bem os
antitabagistas que o queimarão vivo, se você acender um cigarro perto deles! Conheço
bem os pacifistas, que estão dispostos a atirar na minha cabeça só porque advogo uma
estratégia ligeiramente diferente sobre como fazer a paz com os palestinos.”

“.. a semente do fanatismo sempre brota ao se adotar uma atitude de superioridade


moral que não busca o compromisso..”

“..injetar alguma imaginação nas pessoas pode ajudá-las, talvez, a reduzir o fanático
que carregam dentro de si e a sentir-se incomôdas.”

“De fato, tendo dito que a conformidade e a uniformidade são formas leves, mas
difundidas, de fanatismo, tenho que acrescentar que, muito frequentemente, o
culto à personalidade, a idealização de líderes políticos ou religiosos e a adoração
de indivíduos sedutores podem ser perfeitamente outra forma difundida de
fanatismo.”

“Creio que a essência do fanatismo reside no desejo de forçar as outras pessoas a


melhorarem. Frequentemente, o fanático está interessado em você do que nele
próprio.”

“Como disse, anteriormente, a capacidade de rir de nós mesmos é uma cura parcial, a
capacidade de nos vermos como os outros nos vêem é outro remédio. A aptidão para
conviver com situações em aberto, até para gostar dessas situações, de aprender
a desfrutar a diversidade, também podem ajudar.”

“Mesmo quando se está cem por cento certo e o outro cem por cento errado, ainda é
útil imaginar-se um ao outro… como seria se eu fosse ela, se eu fosse ele? Não posso

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deixar de pensar que, com uma ligeira mudança em meus genes, ou nas circunstâncias
dos meus pais, eu poderia ser ele ou ela, poderia ser um colono judeu na
Cisjordânia, um extremista ultra-ortodoxo, poderia ser um judeu oriental de um
país do Terceiro Mundo, poderia ser qualquer pessoa. Poderia ser um de meus
inimigos. Imaginar isto é sempre uma prática útil.”

“Nenhum homem é uma ilha, disse John Donne, nesta frase maravilhosa, mas eu
humildemente ouso acrescentar isto: nenhum homem e nenhuma mulher é uma ilha,
mas cada um de nós é uma península, metade ligado à terra firme, metade
contemplando o oceano. Uma metade conectada à família, aos amigos, à cultura, à
tradição, ao país, à nação, ao sexo, à linguagem e muitos outros laços. A outra metade
quer que a deixem só contemplando o oceano. Assim, num certo sentido, em toda casa,
em toda família, em toda conexão humana, o que realmente temos é uma relação entre
uma série de penínsulas. Precisamos lembrar disso, antes de tentar modelar-nos,
obrigar-nos uns aos outros a mudar de posição e fazer a pessoa ao lado adotar
nosso modo de ver, quando ela realmente necessita contemplar o oceano por um
momento.”

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Alguns mapas legais

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Quem matou Yitzhak Rabin?
Bernardo Sorj

Como em todos os crimes contra grandes figuras da história, a mão que segurou
o revólver assassino não foi orientada por motivações individuais. Ela é sempre parte
do fio de uma meada costurada por outros, próximos e distantes do assassino, que
depois do evento, acabam, também, participando do coro de lamentações.
O que dizer dos cartazes, em manifestações da oposição antes das eleições que
escolheram Yitzhak Rabin como primeiro ministro, nos quais ele aparecia com roupas
de oficial da SS? Simples exagero eleitoral? E das cerimônias que amaldiçoam e
expressam o desejo de que o amaldiçoado morra— Pulsa di Nura — , realizadas por
rabinos contra os políticos que se dispõem a negociar a paz com os palestinos? São
apenas eventos exóticos? E dos gritos de “Nazis” e “Gestapo” com os quais foram
recebidos os soldados e policiais que evacuaram os assentamentos de Gaza? Não
passam de um episódio banal de acirramento dos ânimos? E das instruções de tantos
rabinos para que os soldados desobedeçam às ordens dos oficiais relativas a retirada
dos territórios? Simples retórica religiosa? Ou da granada que, antes do assassinato de
Rabin, matou um israelense durante uma manifestação pela paz? Foi mais um ato
isolado?
Não nos enganemos: uma parte da sociedade israelense está doente, pois sofre
de um fanatismo teológico/nacionalista que é, de alguma forma, compartilhado por
aqueles setores da diáspora que a apoiam, ativa ou passivamente. Uma doença que
alguns preferem ignorar por medo de “estar fazendo o jogo do inimigo” e/ou que
procuram justificar pela situação de conflito. Atitude irresponsável, pois os fatos são
todos de conhecimento público, e enfrentar suas consequências nefastas interessa em
primeiro lugar aos judeus pois o silêncio só prejudica o povo judeu e o Estado de Israel.
Todos os que se calam sobre uma ideologia que dificulta a possibilidade de se
atingir a paz e que está transformando o Estado de Israel em um país onde grupos
religiosos questionam cada vez mais o pluralismo e a liberdade de consciência
individual, estão compactuando com ela. Uma ideologia que representa o oposto daquilo
que dois mil anos de história judaica nos ensinara: que o segredo da sobrevivência está
na sabedoria dos livros e no respeito à vida, que não idolatramos nem pedaços de pedra
nem de terra, que o nacionalismo fanático é destrutivo, que a religião só pode preservar
seu papel espiritual se estiver destituída do poder de impor crenças e que a chegada do
Messias é um ideal espiritual em de um mundo mais harmônico e pacífico que não pode
ser imposto pelas armas.
Devemos ter a coragem de entender como surgiram no interior do povo judeu
forças obscuras, porque elas nos dizem algo a respeito de cada um de nós, e quanto
mais adiamos o momento de encará-las, com mais vigor elas vão nos atingir. Forças
obscuras ancoradas em dois mil anos de história nos quais elaboramos a maioria das
conquistas culturais das quais nos orgulhamos, mas que também nos levaram a recalcar
emoções e desejos (de sermos poderosos, de impor a nossa vontade pela força, de
xenofobia) que vieram à luz com a conquista do território palestino na Guerra de 1967.
Junto com as emoções também foram reprimidos elementos de nossa cultura, que
apresenta uma enorme diversidade de valores e relatos, muitos deles edificantes mas
outros inaceitáveis no mundo contemporâneo. A falta de poder político na diáspora
deixou na penumbra muitos elementos da tradição bíblica e talmúdica que não possuem
nada em comum com valores democráticos e humanistas.
O retorno das emoções e componentes reprimidos da cultura está acontecendo
em setores nacionalistas/ultraortodoxos da diáspora e em Israel. E não nos iludamos,
este retorno do reprimido não deve ser confundido, e não tem nada a ver, com o realismo
político responsável que aconselha Israel a zelar pela sua segurança. É o retorno de
crenças que ferem tanto a sensibilidade humanista quanto o realismo pragmático - pois
nenhum império com os exércitos mais poderosos sobreviveu - , que sustentam visões

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fundamentalistas e xenófobas as quais acreditam que Deus está envolvido no conflito
entre Israel e Palestina, e argumentam que a atual guerra é de caráter religioso e
portanto não negociável.
Quem matou Yitzhak Rabin há 15 anos? Fomos todos nós, porque não nos
levantamos de modo suficientemente claro e vigoroso para dizer: não apoiamos
os setores radicais da sociedade israelense, vamos nos opor sempre que a
política externa do Estado de Israel tiver como base o fanatismo nacionalista e
quando a religião se misturar e confundir com agendas de poder.

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O medo que precede o terrorismo
16/10/2015 Escrito por Bruno Lima+Conflito ,Opinião

Israelenses não nascem com medo de palestinos e vice-versa. Não são


seres inatos ou geneticamente programados para sentir repulsão. Os dois povos
são criados em uma cultura de medo que tende a distanciá-los. E quando a
distância não é a opção, a aproximação é feita com violência. Esse é o
desenvolvimento patológico das culturas israelense e palestina. O medo que seus
governantes e comunidades provocam delineiam o comportamento hostil que
marca o dia-a-dia dos dois povos.
Por medo, nós, seres humanos, evitamos, repelimos, nos distanciamos e nos
tornamos intolerantes. Por medo, perdemos qualquer senso de empatia e naturalizamos
a animosidade. Agimos de forma inconsequente e irracional. Essa é a expressão do
medo que observamos atualmente entre israelenses e palestinos. Quando estimulado
com frequência, o medo provoca desespero e, no longo prazo, a necessidade por uma
solução. Os estímulos externos – o discurso de ódio, a reportagem manipulada, a
conversa inflamada, a foto alterada, o vídeo enviesado – fomentam um medo que
cresce com o tempo e conduz judeus e palestinos a tomarem “corajosas atitudes”
para pôr fim a esse ciclo de desespero interno.
Obviamente, o medo poderia atuar de outra forma. Ele poderia ser um fator
de curiosidade e entendimento; um motivo de busca pela solução pacífica daquilo
que inquieta israelenses e palestinos como indivíduos que, como quaisquer
outros, almejam apenas viver em paz. Mas esse tipo de comportamento racional
é constantemente reprimido pelas culturas de ambos. Dentre os dois povos
observa-se sem qualquer pudor o silenciamento do diálogo, a inversão do
conceito de paz e a perda de qualquer esperança.
Além disso, a imensa maioria dos analistas insiste em descrever e explicar a
atual situação em termos territoriais, religiosos, nacionalistas, políticos ou econômicos,
esquecendo se tratar de indivíduos que vivem suas ansiedades e medos intensamente.
Esses indivíduos não são meras expressões de “questões territoriais ou
religiosas”. Suas atitudes inconsequentes são o resultado de um longo processo
psicológico que consolidou o medo como traço de personalidade e viu na
irracionalidade a salvação. A verdade é que por trás de atos de coragem há um medo
reprimido que analistas políticos preferem não abordar.
Obviamente, os elementos sociais são relevantes para o entendimento da
situação, mas eles não explicam, por exemplo, a atitude de uma palestina de 17 anos
que decide esfaquear um cidadão israelense em plena luz do dia ou a de um colono
judeu que ateia fogo em uma casa onde vive uma família árabe. Há algo muito mais
profundo do que “questões territoriais e religiosas”. Há uma patologia psicológica que
não está sendo tratada. “O conflito”, como o entendemos, é mais do que um
conceito brando a ser analisado estrategicamente. “O conflito” é também interno,
alimentado no âmago da existência de israelenses e palestinos que convivem com
seus ódios e desesperos diariamente.
Uma coisa é certa: árabes e judeus não se tornam terroristas da noite pro
dia. Eles não agem de forma homogênea, como máquinas acionadas e
programadas para causar caos. Eles são o resultado, cada um no seu mérito, de
um contínuo condicionamento a sentirem medo um do outro. Eles são a
manifestação do regime do medo e da insegurança que foi lentamente instaurado
na região. Eles são, como colocou o filósofo Friedrich Nietzsche, humanos,
demasiadamente humanos, por fazerem da sua humanidade um motivo para
desumanizar.
A questão é como israelenses e palestinos foram condicionados a sentir
tamanho medo? O que ocorreu ao longo dessas décadas que fez com que
utilizassem a violência como recurso? Dar respostas claras a essas perguntas é uma

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tarefa complexa, mas consideremos o experimento realizado pelo psicólogo John B.
Watson em 1920. No experimento, Albert, um bebê de não mais que um ano de idade,
é colocado em um sala diante de observadores interessados em seu comportamento.
Em um primeiro momento, Albert é exposto a diversos “estímulos” tais como um coelho
branco, um rato, um pedaço de algodão e outro de madeira. Diante dos animais e dos
objetos, o bebê não demonstra qualquer sinal de medo ou inquietação, apenas
serenidade e calma. Em um segundo instante, os observadores liberam um alto som
que assusta Albert de tal forma que o faz chorar. Conclui-se, portanto, que Albert
apresenta reações contrárias a dois diferentes estímulos. No entanto, o psicólogo John
B. Watson estava interessado na seguinte pergunta: Qual será a reação do bebê ao
deparar-se com os animais que lhe provocavam serenidade junto com o alto som que
lhe produzia um intenso medo? Para responder a essa pergunta, os observadores
fizeram o seguinte: toda vez que os animais se aproximassem de Albert o alto som seria
liberado. Dessa forma, o bebê passou a chorar diante da aproximação dos animais por
temer o som. Pior, depois de algumas repetições, o som já não era mais necessário
para provocar o medo – bastavam os animais (que antes lhe provocavam serenidade)
para Albert começar a chorar. A conclusão da pesquisa é de que o bebê foi condicionado
e teve um medo implantado artificialmente.
Deixemos de lado as questões éticas envolvidas e os questionamentos
metodológicos sobre o experimento. Pensemos sobre as lições que podemos tirar dele.
O que entendemos, no contexto de árabes e israelenses, sobre o
condicionamento do medo e o comportamento dos indivíduos? O que é o “alto
som” que provoca tanto medo nas duas sociedades e o que passou a ser temido
que antes era motivo de serenidade e calma? O fato é que israelenses e palestinos
acostumaram-se a entender um ao outro como motivo de medo – essa é a causa
da distância, da repulsão e da violência. O “alto som” provocado pelos
governantes de ambas as partes fomenta essa cultura da irracionalidade e das
atitudes inconsequentes. A recomendação é o tratamento desse medo, pois é
provável que israelenses e palestinos estejam perdendo belos dias de serenidade
e calma.

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O lugar do Fanatismo em Israel
Marcelo Treistman 18/12/2015

Precisamos ser honestos: fanáticos possuem seu lugar em Israel.


Defino fanático o indivíduo que sabe o que é certo em todas as instâncias.
Geralmente objetivam alcançar a “palavra de Deus” – e para uma missão tão sagrada –
os fins sempre justificam os meios. São pessoas que não reconhecem a existência
de uma opinião contrária a sua. Carregam consigo a única verdade existente. Não
entenderam que rivalidades e disputas pertencem apenas ao jogo democrático, e
o mais importante: possuem um profundo desprezo pela vida humana.
Eu nunca fui apresentado a Yosef Chaim Ben-David. Não faço parte de seu
grupo etário e tampouco pertenço ao seu grupo social. Ele é um colono religioso que
mora em Geva Binyamin, e eu sou um judeu laico que mora em Tel Aviv. Não
compartilhamos da mesma ideologia, objetivos e valores. Entretanto, tal indivíduo é
parte inseparável da minha vida. Da minha sociedade. Do meu povo.
Como judeu, israelense e sionista é difícil esquecer o crime que ele cometeu no
dia dois de julho de 2014. Junto com seus dois amigos (menores de idade) queimaram
vivo o jovem árabe Muhamad Abu Khdeir, de apenas 16 anos. Um crime tão absurdo
que apenas reforça o sentimento de repugnância que sinto em relação aos fanáticos
que estão entre nós.
Eu também não conheci os assassinos de Duma. Com muita franqueza digo que
certamente não pertencemos ao mesmo grupo social, não compartilhamos a mesma
ideologia, objetivos e valores. Entretanto tais assassinos são partes inseparáveis de
minha vida. E ao que tudo indica, são parte da minha sociedade. Do meu povo.
Como judeu, israelense e sionista é difícil esquecer o crime que eles cometeram
no dia 31 de julho de 2015. Ao arremessarem coquetéis molotov dentro da casa da
família Dawabsheh, causaram o incêndio que causou a morte de uma criança de um
ano e meio de idade, seu pai e sua mãe. Saber que o sobrevivente Ahmed Dawabsheh,
de apenas quatro anos, está condenado a crescer sem a sua família aumenta
consideravelmente a repulsa pela qual nutro pelos fanáticos que estão entre nós.
O ultimo mês em Israel deveria ser considerado um marco para o fanatismo
judeu. Em questão de dias tivemos a sentença condenatória de dois participantes do
assassinato do jovem Abu Khdeir e logo em seguida, Itzhak Gabay, um dos integrantes
do grupo que incendiou a Escola Bilíngue em Jerusalém, foi sentenciado a três anos de
prisão. Por fim, o inspetor geral da polícia Bentzi Sau, demonstrou otimismo em um
possível esclarecimento do ocorrido em Duma, com a prisão de um suspeito de origem
judaica. Uma coincidência impressionante que tais fatos sejam relembrados e estejam
reunidos em um intervalo tão curto de tempo onde podemos observar bem de perto
aquilo que há de mais terrível entre nós.
Então para que não reste dúvidas: do seio do nosso povo é possível
observar o surgimento de pequenos grupos que possuem a ética e moralidade
equivalente ao que há de pior no fundamentalismo de outros povos e religiões. E
é claro: Ao contrário do que muitas vezes é divulgado, os organismos oficiais e
instituições israelenses estão agindo de forma resoluta contra terroristas judeus.
Obviamente fenômenos reacionários e assassinos também existem em outros países
democráticos mas, neste caso, a angústia de muitos não é (nem deverá ser)
considerado como qualquer tipo de justificativa ou entendimento.
Como judeu, israelense e sionista, não aceito sob nenhuma condição a
ascensão da barbárie “made in Israel”. Eu esclareço: para mim, o tratamento de
terroristas judeus deve ser equivalente a terroristas árabes. E isto significa aceitar
a existência do terrorismo judeu e desejar que procedimentos e punições sejam
similares, sem qualquer distinção ou tentativa de compreensão (como por exemplo,
a demolição das casas dos envolvidos, a permissão para o uso de força em

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investigações policiais, impossibilidade de contato com advogados segundo a
conveniência da instrução criminal, etc.).
Israel, é verdade, possui os seus fanáticos. Não pense que eles são loucos,
doentes ou que atuam como “lobos solitários”. Este fenômeno está inserido
dentro de um processo de incitação contínua e respaldo intelectual por partes de
alguns setores nos movimentos nacionais religiosos. Em alguns casos são
apoiados por organizações que, inclusive, possuem representantes dentro do
parlamento israelense. Neste último mês, ao menos, o país caminhou para reforçar a
ideia de que a lei e as instituições indicam que o fanatismo é um caso de polícia e que
o lugar de nossos fanáticos é – sem dúvida – a cadeia.

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Utopia e Realidade - Eduardo Galeano
Utopia e realidade "A utopia está lá no horizonte. Me aproximo dois passos, ela
se afasta dois passos. Caminho dez passos e o horizonte corre dez passos. Por mais
que eu caminhe, jamais alcançarei. Para que serve a utopia? Serve para isso: para que
eu não deixe de caminhar" (Eduardo Galeano).
Diante do sentimento de impotência e desesperança expresso por significativas
parcelas da população mundial com relação à possibilidade de transformação social em
nosso tempo, o próprio conceito de utopia passa a ser interpretado na contramão de
seu significado original. A caracterização de utopia como mera ilusão e de utópicos
como sujeitos distantes da realidade, sonhadores e alucinados, reforça uma tendência
explícita da ideologia dominante na sociedade de naturalizar a realidade existente como
a única possível e deslegitimar processos sociais com potencial de transformação.
Neste sentido, urge uma reflexão sobre o que se entende por utopia e realidade, o que
separa e o que une esses dois conceitos, centrais para a construção do conhecimento
e da existência humana.
Iniciemos pela compreensão do que é realidade. É comum o entendimento de
que a realidade corresponde àquilo que “realmente existe”. É precisamente neste
aspecto que a problemática toda inicia: se houvesse uma “real” correspondência entre
aquilo que compreendemos com o que “realmente existe”, certamente estaríamos em
posse da “verdade”. Como, entretanto, existem diferentes interpretações acerca do que
“realmente existe”, poderíamos concluir que bastaria somar todas elas para atingir a
“verdade absoluta”. O problema é que entre as diferentes interpretações da realidade
há contradições que não permitem uma mera “junção eclética”. Uma outra alternativa
possível é encarar todas as diferentes interpretações da realidade como “verdades
relativas”, de forma que a “verdade absoluta” não exista. Uma terceira opção seria a
aposta no confronto entre as “verdades relativas” para atingir a “verdade absoluta”,
partindo daquilo que sobra após o confronto entre “verdades”. Essa versão mais
elaborada do debate atual, entretanto, se choca com a dura realidade de que numa
sociedade de classes as idéias dominantes tendem a ter mais “voz e vez”. Além disso,
“verdades relativas” de outros tempos, seguidamente são minimizadas sob a taxação
de que não são “atuais” para o debate contemporâneo. Por outro lado, o reconhecimento
de que o conhecimento atualmente disponível é um processo histórico (portanto sua
existência temporal não é determinante para sua validade) pressupõe uma publicidade
crítica universal que possibilite a apropriação de saber por parte de todos, de forma que
o conhecimento não seja meramente transmitido e se converta em instrumento de
dominação de uns sobre outros, legitimado pela própria compreensão de realidade
criada pelos dominadores. Nesse aspecto, já estamos nos referindo a uma utopia, a
utopia de uma sociedade sem dominação, sem exploração e sem preconceito, que
permita o diálogo entre sujeitos humanos livres e autônomos acerca do que é real.
Como a correspondência entre o que pensamos e a realidade objetiva continua
como critério válido para a atribuição de verdade, a forma como concebemos o próprio
conceito de realidade, certamente, influencia a nossa condição subjetiva de
interpretação dos fatos “reais”. Assim, a pressuposição de que a realidade seja algo
estático, “realmente existente”, pode conduzir a uma interpretação positivista dos fatos,
absolutizando a aparência do real como o “real em si” e atribuindo à essa interpretação
o caráter de dogma na forma de “verdade”, o que, em última instância, interessa à classe
dominante na sociedade. É evidente que o caminho em direção à verdade não é tão
simples como alguns parecem estar convencidos, e a ciência, como ensina Karl Popper,
é sempre uma busca da verdade, jamais uma chegada. A própria ciência, seu objeto e
seu sujeito estão em permanente mudança, de forma que aquilo que uma vez foi
majoritariamente aceito como “realidade” pode deixar de “ser”. E esse é, certamente, o
ponto de partida para compreender a realidade: real é o que “está aí” mais o que “não
está aí”. Em outras palavras, o “que é” somente é em função do que já foi e, ao ser,

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“está sendo”: o “ser” se dissolve no movimento do “vir-a-ser”. A realidade, portanto, é
dinâmica e, para apreender seu movimento, precisamos compreendê-la historicamente.
O conceito de utopia, por sua vez, também passou a ser compreendido de
diferentes maneiras no decorrer da história. Originalmente, a palavra provém do
conceito grego ou-topos, que designa um “não-lugar” ou “lugar nenhum”. O escritor
inglês Thomas Morus é quem, certamente, mais contribuiu para a difusão do termo, ao
usá-lo para intitular sua obra mais famosa, indicando um território imaginário onde a
sociedade por ele idealizada aboliu a propriedade privada e a intolerância religiosa,
estando centrada nos valores da justiça e felicidade humana. Assim, o termo utopia
passou a ser utilizado por muitos outros pensadores tanto para descrever “mundos
ideais”, como A cidade do sol (Tommaso Campanella) e Nova Atlantis (Francis Bacon),
como para designar o que já existia anteriormente com este significado no pensamento
humano, como, por exemplo, A República de Platão. Confrontados com uma sociedade
injusta e desigual “realmente existente”, muitos pensadores foram fundamentando sua
crítica à “realidade” com base em uma projeção idealizada positivamente, uma idéia
regulativa de mundo desejado.
A possibilidade de pensar para além da “ordem das coisas” é um dos elementos
centrais da emancipação humana, pois, apesar dos condicionamentos sociais e
culturais das sociedades divididas em classes, há um espaço de reflexão e ação
autônoma que permite a construção de uma consciência acerca da dominação vigente
com potencial de superá-la. A capacidade de pensar transcendentalmente possibilitou
a existência de idéias progressistas ao longo da história e que passaram a ser
incorporadas a movimentos concretos de transformação social. O dilema dos utópicos
clássicos é que a idealização de projetos sociais desconectados da realidade objetiva
da sociedade tem reduzido sua possibilidade de concretização ao moralismo e ao
voluntarismo, transformando seu potencial transformador em ideologia – no sentido de
falsificação social e política da realidade. Mas, em tese, a utopia permite uma ligação
entre o presente e o futuro, no momento em que ela se enraíza no presente em
mudança, influenciando-o e sendo influenciada por ele. Como esse é um processo
dialético, o risco é que os desejos e idéias projetadas se mantenham numa dimensão
estática, isolada do “movimento real” e, assim, se transformem em mera ideologia, seja
em forma de crença para diminuir o sofrimento dos dominados ou de alívio de
consciência aos dominadores, já que o ideal é para o futuro e está dissociado do
movimento social real presente.
Assim como a compreensão do movimento histórico da realidade é influenciada
pela maneira como a concebemos, também a noção de utopia está imbricada nesta
mesma dinâmica cognoscitiva. Qual é a gênese histórica de uma idéia? O que surge
primeiramente: um objeto em si ou a idéia que dele temos? Há uma tendência de
concebermos esse duplo aspecto do conhecimento de forma isolada, priorizando a
idéia, já que sem ela não teríamos consciência do objeto. É essa a base do idealismo,
que pressupõe a realidade como resultante de uma idéia e o que não pode ser pensado
simplesmente não existe. Por outro lado, há uma tendência de concebermos a realidade
como existente, sem, no entanto, apreendê-la em sua dimensão histórica, de forma que
somos enganados pela sua aparência cotidiana. Isso significaria a impossibilidade da
utopia, pois, se todas as idéias estivessem, de fato, determinadas pela realidade
cotidianamente existente, não haveria condições para conhecê-la a ponto de modificá-
la.
Diante dessa dicotomia, entre uma utopia idealizada e a impossibilidade de
haver utopias, certamente o materialismo histórico constitui a melhor síntese produzida
até hoje: o ponto de partida de uma idéia é a realidade histórica e a identificação das
contradições em seu movimento é que permite conhecê-la a ponto de transformá-la. A
complexidade dessa concepção, entretanto, é imensa: a interpretação do passado
permite conhecer melhor o presente, mas este, ao ser conhecido, já se converte em
passado, cuja interpretação precisa ser constantemente renovada, tendo em vista que
a história já não é mais a mesma. Portanto, somente a crítica histórica, o pensamento

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crítico acumulado subjetivamente pela humanidade, é capaz de revelar elementos que
podem conduzir à compreensão objetiva da realidade.
A identificação de tendências históricas, o que nos é permitido conhecer, por sua
vez, demonstra que a totalidade apresenta muitas “possibilidades de realização”. As
possibilidades implícitas no movimento real são sempre maiores do que a “realidade em
si” e, por isso, nenhuma é inevitável, fora da “realidade”, enquanto esta “vai sendo”.
Assim, qualquer tentativa de anunciar possibilidades futuras é utópica, pois ela depende
de um vir-a-ser (que ainda não é). Uma utopia, portanto, não é algo ilusório, e sim algo
“que não é, mas pode vir a ser”. Neste sentido, para mudar a realidade, evidentemente,
não basta ter uma utopia, é necessário identificar as contradições históricas objetivas
que apontam para a possibilidade de superação real. Mas, também isto passa a ser uma
utopia, pois “ainda não é”.
A separação de idéias da sua base histórica, difundindo-as em forma de
princípios necessários, constitui a base do dogmatismo, seja ele de caráter conservador
ou voluntarista. Uma utopia, entretanto, deixa de ser uma idéia abstrata se estiver
fundada no movimento histórico real, e se transforma naquilo que Ernst Bloch identifica
como uma “utopia real”: a intenção utópica de avançar, o princípio esperança, a
antecipação real daquilo que não é garantido vivenciar, mas que move a humanidade e
dá real sentido ao viver, ao “vir-a-ser” mais humano. Como dizia Victor Hugo, não há
nada mais poderoso do que uma idéia cujo tempo chegou.

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Martin Buber: o diálogo possível
Por Rudinei Borges

É inegável a relevante contribuição de Martin Buber para a Filosofia


Contemporânea, como também a atualidade de sua obra. Encontramos nele um
pensamento com profundidade tão sagaz que é inevitável não considerá-lo original a
uma Filosofia, cuja preocupação central é o ser humano, a Antropologia Filosófica. O
nosso filósofo fundamentou e desenvolveu com pertinência – em seus vários livros e,
principalmente, em Eu e Tu -, acepções como princípio dialógico, encontro entre
palavra-princípio e interhumano. E mesmo reconhecendo as influências recebidas de
outros filósofos, o seu pensamento é possuidor de um élan particular.
A Filosofia do Diálogo de Buber evoluiu do seu notável interesse pelas questões
religiosas. Influenciado pelo Hassidismo – cuja idéia mais importante afirma que Deus
faz morada no ser humano, ou seja, dialoga com sua criação, o filósofo austríaco-judeu
utilizou o conceito de relação para designar aquilo que, de essencial, acontece entre os
seres humanos e entre o homem e Deus. Entretanto, o cerne do pensamento buberiano
esteve direcionado mais precisamente ao problema do homem como ser de relação,
como ser aberto ao diálogo com o Tu.
Em sua análise a respeito da problemática do homem, Buber enfrentou a atitude
do individualismo e do coletivismo, afirmando que o primeiro só entende uma parte do
homem e o segundo entende o homem só como uma parte. Para ele, nenhum dos dois
alcança a totalidade. O individualismo vê o homem em relação consigo mesmo, e o
coletivismo nem vê o homem, pois vê apenas a “sociedade”. O primeiro distorce o rosto
do homem, o segundo o mascara. Consoante o nosso filósofo, ambos são a expressão
e conclusão da união do abandono cósmico e social, do medo do universo e da vida,
que tem por resultado uma constituição existencial de solidão tal como nunca existiu
antes.
Mas, para Buber, somente quando o indivíduo conhece o outro em toda a sua
alteridade como a si próprio, como homem, experiência a partir da qual irrompe na
direção do outro, conseguirá romper sua solidão, em um encontro estrito e
transformador. Ele insiste que o fato fundamental da existência humana não é nem o
indivíduo, como tal, nem agregado como tal. Cada uma dessas categorias, considerada
em si, não passa de uma abstração.
O indivíduo é um fato da existência, só na medida em que ele se coloca em uma
relação viva com outros indivíduos. O que é peculiarmente característico do mundo
humano é, antes de tudo, que nele algo acontece entre um ser e outro. A característica
existencial do mundo humano é enraizada no voltar de um ser em direção do outro para
comunicar-se dentro de uma esfera comum, mas que ao mesmo tempo transcende a
esfera especial de cada um. Essa categoria existencial é a categoria relacional do entre,
que é estabelecida a partir da existência do homem. É essa categoria primordial da
realidade humana.
Para exprimir a realidade, que liga o homem ao homem, Buber criou o termo
especial zwischenmenschlich (entre os homens ou interhumano). No interhumano um
sujeito se defronta efetivamente com o outro, e nesse confronto, que não é simples
experiência psicológica, há uma realidade em que os dois sujeitos convivem. Como
enfatizamos, a principal característica dessa esfera é a espontaneidade, em que toda
aparência, toda “dissimulação” seria fatal. No interhumano, a verdade assume uma
dimensão quase corpórea, pois, o homem se comunica com o outro naquilo que eles
são. Somente assim a intercomunicação existencial se torna possível, isto é, o diálogo
autêntico, em que o outro se afirma como aquilo que realmente é e se confirma em sua
natureza de criatura.
No pensamento buberiano, a existência do homem emerge do diálogo, do
encontro dialógico, da esfera do interhumano. Consoante essa análise, o diálogo
determina a palavra como a interação entre homens, trata-se de uma categoria

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antropológica, porque instaura o desvelar do entre-dois, do Eu e Tu. No diálogo, a
palavra não é mais logos, puramente anunciador, pois fundamenta a existência; ela vai
além da subjetividade, estabelecendo uma dimensão ontológica - o interhumano. O
logos não é simplesmente razão, princípio de ordem, porém em virtude de seu vínculo
essencial com a práxis, ele é a palavra responsável pelo desvendar da existência
humana como coexistência. O ser humano existe mediante o encontro, a relação.
O homem como ser-ao-mundo não é um ser-em-si, mas essencialmente uma
abertura. Ele é abertura graças à palavra originária. O homem instaura o emergir
dinâmico de sua existência pela palavra. Como manifestação do si mesmo, o logos
torna-se uma abertura ao outro, dia-logos. E somente quem toma a decisão de proferir
a palavra da relação, a palavra-princípio Eu-Tu, poderá fundar o “nós essencial”, do
autêntico interhumano. Aproximação, contatos, experiências e reações comuns definem
o social, este implica um estar-um-ao-lado-do-outro, enquanto que proximidade, relação
dialógica, responsabilidade, decisão, liberdade, presença no face a face definem o
interhumano que é o estar-junto-com-o-outro.
Mas Buber observa na humanidade uma profunda crise, causada por uma
ruptura que separa os homens uns dos outros. E isto demonstra a atualidade da
Filosofia do Diálogo quando colocada diante da sociedade individualista e consumista
do nosso tempo. Consoante Zuben, Buber previu uma nova tarefa que se apresentou
ao pensamento humano e aspira à implantação de uma nova dimensão do mundo, a
dimensão dialógica no homem (ZUBEN, 2003: 210).
As grandes transformações e os avanços tecnológicos que caracterizaram o
século XX trouxeram em seu bojo muitas vantagens e também grandes ameaças. A
sociedade contemporânea naufraga em um grande mar de desprovidos, de milhões de
miseráveis do sul subdesenvolvido sucumbindo às margens do norte desenvolvido. As
injustiças sociais, o desemprego, a violência, a fome, as guerras e os desastres
ecológicos, por exemplo, apontam para uma situação degradante. O planeta corre o
risco de entrar em colapso.
Inúmeras pesquisas apontam que a doença do início do século XXI é o stress
conjugado a depressão, e isto ocorre como conseqüência do enfraquecimento das
relações humanas e da “obrigação diária” estabelecida pelo mercado de as pessoas
provarem que são competentes. Assistimos atualmente a um processo de enrijecimento
gradual do individualismo. Os avanços tecnológicos e o crescimento das cidades têm
ocasionado o isolamento das pessoas em detrimento do encontro e do diálogo com o
outro. Podemos caracterizar o homem deste início de século como um ser isolado,
preocupado consigo e longínquo da realidade em seu torno.
Não queremos, ao apresentar os problemas citados acima, firmar uma acepção
pessimista sobre o homem atual, mas enfatizar como ele vem se distanciando de um
princípio relevante para sua própria realização enquanto ser humano, a relação. O
homem atual restringe-se a proferir a palavra-princípio Eu-Isso, colocando-se diante das
coisas em vez de confrontá-las no fluxo da ação recíproca, preferindo um
relacionamento unidirecional entre o Eu (egótico) e um objeto manipulável (lsso). Buber,
contudo, posicionou-se de maneira radical ao quando analisar a atitude Eu-Isso. Para
ele “aquele que vive somente com o Isso não é homem” (BUBER, 1977: 39).
O sujeito humano atinge o seu ser através do “proferir Tu” (Dusagen) e não do
“proferir Isso”; em outras palavras, isto significa que o homem atinge o seu ser pela
relação. O homem, na relação Eu-Tu, integra-se completamente com o mundo, em uma
totalidade caracterizada pelo envolvimento, pela integração dos opostos,
desaparecendo as peculiaridades e contradições individuais. “A palavra-princípio Eu-Tu
só pode ser proferida pelo ser na sua totalidade. A união e a fusão em um ser total não
pode ser realizada por mim e nem pode ser efetivada sem mim. O Eu se realiza na
relação com Tu; é tornando Eu que digo Tu” (BUBER, 1977: 13). Depois de escutarmos
as palavras de Buber podemos considerar que o homem sem o homem é, por assim
dizer, um nada e que o abandono do encontro com o outro poderá conduzir o homem a
um abismo cruel.

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Para Zuben, na obra buberiana a volta à segurança, o reencontro com o
verdadeiro destino que a humanidade descobriu para si serão assegurados (tal é a
esperança que alimenta a mensagem buberiana) pela vida em diálogo (ZUBEN, 2003:
210).
Com efeito, é necessário reafirmar a necessidade de estudos consistentes sobre
a filosofia de Buber, que a aproxime da atualidade. Analisar a obra de Buber é adentrar
um pensamento que – não sendo uma doutrina, mas por sua sintonia com a vida e com
o cotidiano -, é uma chama acesa posta diante dos olhos do homem atual, com intuito
de alertá-lo e, até mesmo, de guiá-lo à profundidade daquilo que o torna ser humano, a
relação. A relação, em suma, além de ser o princípio (no princípio é a relação) é também
a contínua atitude instauradora do ser do homem, o ser humano, o Menschen-sein.

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A força do lobby judaico e a questão palestina
Por Andrew Patrick Traumann*
Há cerca de duas semanas, no primeiro discurso de Barack Obama endereçado ao
Mundo Árabe desde a morte de Osama Bin Laden,o presidente norte-americano se
colocou inequivocadamente a favor da criação de um Estado Palestino nas fronteiras
de 1967,após a Guerra dos Seis Dias,admitindo um outro ajuste ou "troca de terras". A
reação do governo israelense foi imediata: o premiê Benyamin Netanyahu afirmou que
a volta à situação de 1967 era totalmente "irrealista" e que Obama "não conhecia a
situação na região.".
Ao discursar ao Congresso norte-americano Bibi como é conhecido na política
israelense foi sucessivamente interrompido em seu discurso por aplausos
entusiasmados dos parlamentares especialmente quando disse que Judeia e Samaria
(nomes bíblicos de partes da Cisjordânia) jamais estiveram em negociação. Mas o que
faz Bibi dizer "não" ao homem mais poderoso do mundo de forma tão orgulhosa e
ostensiva?
A resposta está numa sigla: AIPAC (American Israel Public Affairs Committee), o
poderoso lobby pró Israel nos EUA. Em seu site oficial o AIPAC se orgulha de ter
influenciado republicanos e democratas a aprovar "dúzias" (a expressão usada é essa)
de resoluções pró-Israel no Congresso norte-americano," que impuseram duras
sanções ao Irã nos últimos anos", "asseguraram que a venda de armas a países árabes
jamais ameacem a supremacia militar israelense" (em outras palavras se certificando
que as armas vendidas sejam de modelos ultrapassados),e aprovando resoluções no
Congresso que assegurem a Israel o "direito de se defender", expressão mágica que
tanto pode significar medidas legítimas de segurança aos cidadãos isralenses,como um
mantra para acobertar ações em que Israel tem abusado da força como o ataque a Gaza
em 2009. Com o AIPAC do seu lado,Bibi se sente seguro para dar as fortes declarações
que deu,fazendo Obama,se não recuar, mas ao menos baixar o tom do discurso.
Israel, tido e havido por muitos como a única democracia do Oriente Médio, tem um
grave dilema a resolver: não pode ser judaico, democrático e incorporar a Cisjordânia
ao mesmo tempo. Como diz o historiador israelense Avi Shlaim, Israel terá que escolher
entre dois elementos desta tríade.
Se quiser anexar a Cisjordânia em definitivo precisa decidir se concederá cidadania
israelense aos milhões de palestinos que vivem cidades como
Jericó,Nablus,Ramallah,Belém e Hebron. Se isto ocorrer provavelmente os israelenses
se tornarão minoria em seu próprio país, afundando o ideal sionista de uma pátria
judaica.
A segunda opção seria anexar a Cisjordânia sem a concessão da cidadania aos
palestinos o que traria ao mundo mais um odioso sistema de apartheid, com milhões de
habitantes privados de direitos civis.
Por último, há a solução de dois Estados apoiada pelos EUA,pela oposição israelense
e organizações judaicas militantes como a "Not in My Name"(NIMN). Neste caso
teríamos as fronteiras de 1967 como base, com Israel anexando regiões mais próximas
a sua fronteira, e cedendo em troca outros territórios mais despovoados como
compensação aos palestinos.
Apesar de Israel, um dos mais poderosos exércitos do mundo, afirmar que sua
existência corre risco, a verdade é que a solução deste problema implica que ambos os

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lados tenham que fazer dolorosas concessões,e convenhamos, quem possui o poder
político, militar e econômico para dar o primeiro e corajoso passo é o governo de Tel
Aviv.
*Andrew Patrick Traumann,mestre em História e Política pela UNESP e doutorando em
História,Cultura e Poder pela UFPR é professor de História das Relações Internacionais
do UNICURITIBA.

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“Sem memória você não é nada. Memória é parte da sua história - e história é parte da
sua geografia. [...]
Eu era terrivelmente violento há muito tempo atrás. Eu era um senhor feudal, um chefe
militar, muito tempo atrás. O Líbano é pequeno. É um país de 18 comunidades - cristãos
e muçulmanos. Então nós temos que preservá-lo. E não pensar sobre o passado, ver o
futuro. E esquecer do nosso velho ódio. Porque em algum lugar do nosso subconsciente
nós nos odiamos um ao outro. Nós temos que, a qualquer custo, nos comprometer.
Diálogo é importante na vida. Muito mais importante do que qualquer coisa. Nesse novo
mundo de total incerteza... ninguém sabe... eu não acho que alguém sabe para onde
este mundo está indo...”

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Vamos falar árabe também
Rana Ghanem Zeen El Deen / 17 De Dez De 2019 Às 02:04
Recentemente, tem havido relatórios crescentes sobre locais de trabalho que proíbem
seus funcionários de falar qualquer outro idioma que não o hebraico. Por exemplo, no
Centro Médico Sourasky de Tel Aviv, a equipe médica foi instruída a falar apenas
hebraico na área do hospital, mesmo que não estivesse falando na frente de um
paciente. O gerente de uma filial da loja de chocolates Max Brenner ordenou que seus
funcionários não falassem entre si em árabe depois que um cliente reclamou.
A desculpa de que o hebraico é a língua oficial dificulta que, cerca de 20% dos cidadãos
israelenses, que são um grupo étnico minoritário, se integrem à sociedade. Na última
década, começou um processo gradual de enfraquecimento do árabe, com o objetivo
de criar uma identidade nacional unidimensional, somente para judeus. Por exemplo,
um anúncio de procura escrito em hebraico aborda apenas um público-alvo específico.
Hoje, o percentual de mulheres árabes desempregadas, principalmente as mais velhas,
é muito superior à média nacional. Se queremos mudar essa situação, essas mulheres
devem ser abordadas em um idioma que conhecem bem. Qualquer pessoa indiferente
a esse assunto deve estar ciente de que seu dinheiro dos impostos subsidiará seus
benefícios de desemprego.
Eu cresci em uma família monoparental. Meu pai morreu de insuficiência cardíaca
quando eu tinha 10 anos de idade e minha mãe criou a mim e aos meus irmãos com um
subsídio do Instituto Nacional de Seguros. Ela não tinha carteira de motorista e a área
de mobilidade da família ficou muito limitada. Por isso, na minha infância, passei a maior
parte do meu tempo livre lendo livros e assistindo televisão.
A televisão me ajudou a desenvolver excelentes habilidades linguísticas e, desde tenra
idade, eu era fluente em hebraico e inglês. Devido à extensa exposição ao conteúdo na
televisão, passei por um processo de israelização distorcida: identificação com a elite
que oprime os fracos, sem entender que sou parte deles.
Comecei a desprezar aqueles que eram incapazes de se expressar fluentemente como
eu. Enquanto eu estava estudando para o meu bacharelado, houve momentos em que
me senti superior a outros estudantes que tinham dificuldade com o idioma e eu posso
ter causado sofrimento a eles.
Nos últimos anos, tenho passado por um processo de reflexão e agora entendo que isso
é discriminação institucionalizada e sistemática, que vem ocorrendo há anos. A primeira
vez que assisti à série de TV "Salah, esta é a terra de Israel", entendi que, se os judeus
eram capazes de uma política discriminatória em relação a outros judeus, podemos
apenas imaginar a profundidade da política discriminatória em relação aos árabes, que
foram considerados um inimigo.
Israel deve parar de perceber a linguagem como uma questão de identidade nacional e
começar a percebê-la como um recurso. Pense naqueles que não encontram seu lugar
no mercado de trabalho devido à barreira do idioma. Sobre aqueles que se inscrevem
no desemprego ou trabalham em empregos que não utilizam suas habilidades. Sobre
aqueles que se abstêm de receber atendimento médico e cuja condição se deteriora.
Eles e muitos outros são dependentes do setor público.

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Pessoas integradas, trabalhando e saudáveis são um benefício para todos nós. Se os
cidadãos não demonstrarem verdadeira preocupação e se sentirem responsáveis por
essas pessoas, pagarão um preço duplo: primeiro na diminuição dos cofres públicos e
depois na renúncia à oportunidade de ajudar o grupo que sofre de discriminação a viver
com dignidade.

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