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A BAGACEIRA, Eleitoral

verba, verbo e populismo nas eleições -


A História do Voto na Parahyba (Da “Revolução de 30” a 1965)
Capa: José Américo discursa na inauguração do monumento a João
Pessoa. (Parahyba, 1933). No palanque, entre outros, o presidente
Getúlio Vargas, Gal. Goes Monteiro, Gal. Enersto Geisel, interven-
tor Gratuliano de Brito, prefeito Borja Peregrino, arcebispo Dom
Adauto de Miranda Henriques e Odon Bezerra.
Renato César Carneiro

A BAGACEIRA, Eleitoral
verba, verbo e populismo nas eleições -
A História do Voto na Parahyba (Da “Revolução de 30” a 1965)

História Eleitoral da Parahyba


Volume II
(CONTINUAÇÃO do Volume I,
“CABRESTO, CURRAL E PEIA – A História do Voto na Parahyba até 1930)

Editora Universitária da UFPB


João Pessoa
2010
“Na política, quem mais comete
loucura é o povo: Quase sempre dá
mandato a quem não sabe usá-lo.”
(José Cavalcanti)1

“Incursionei na política, onde


os homens me ensinaram os caminhos
do inferno e o estilo do diabo. Aprendi
depressa, mas depressa enjoei. Ela não
é, senão para muito poucos, a arte
humana de trabalhar pelos outros.
De qualquer forma, para se vencer
politicamente, é preciso enganar muito
e mentir outro tanto. No começo, há
engulhos. Depois o estômago aceita. A
natureza é sábia e os homens, sabidos.”
(Alcides Vieira Carneiro)2

“(...) Votaremos até debaixo de bala...”


(José Américo)3

“O assalto deve ser ao Poder e não


aos cofres públicos.” (Marcus Odilon
Ribeiro Coutinho)4

“João, governo nasceu pra sofrer!”


(Mocidade)5

O sertanejo é, antes de tudo, um eleitor.


(O autor)

1 Ex-prefeito de Patos-PB, in A política e os políticos. Ed. O Combate, 1991, 2ª ed., p. 42.


2 Trecho de sua carta endereçada ao professor Oscar de Castro.
3 José Américo de Almeida em discurso pronunciado na Bahia durante a sua campanha para
a presidência da república, em 1937.
4 In Poder, Alegria dos Homens. João Pessoa: Grá ica A Imprensa, p. 67.
5 Apud Gilvan de Brito, in O Anjo Torto. Edições EMPÓRIO DOS LIVROS, 2ª ed., p. 9.
“Eu tenho um sonho. Chegará o dia em que os políticos-candidatos respeitarão
os seus eleitores e buscarão, depois de eleitos, servir, e não servir-se da política.
Chegará o dia no Brasil, em que os eleitores terão o controle sobre os eleitos,
podendo revogar os seus mandatos quando desviados de sua ϔinalidade pública.
Haverá o dia, enϔim, em que os eleitores todos, sem exceção, terão condições
de manter a si e à sua família, sem depender das benesses do Estado e serão
economicamente livres e, só assim, poderão exercer a liberdade do sufrágio, sem
cabresto, sem curral e sem peias.” (Renato César Carneiro)6

“De trinta a seca inconstante


Não há quem mágoas não sinta
Trinta e um foi como trinta
Trinta e dois mais torturante
enquanto o sol causticante
fazia fogo no chão,
apareceu um cristão
apagando a labareda
José Américo de Almeida
o salvador do Sertão” (Dimas Batista, poeta popular)

“Eu me chamo Zé Limeira,


cabra macho do sertão,
serrote que serra pedra
no tupete do baião...
Se Zé Américo quisé
os home vira muié
jurema vira algodão” (Zé Limeira, poeta popular)

6 Trecho do discurso pronunciado pelo autor em 06 de dezembro de 2006, na sala de sessões


do Tribunal Regional Eleitoral da Parahyba, por ocasião do lançamento da obra de sua
autoria, Cabresto, Curral e Peia – A História do Voto na Parahyba até 1930. João Pessoa:
Ed. Universitária/UFPB, 2009.
A Alexandre Costa de Luna Freire, Eliete Gurjão, Humberto
Melo, Inez Caminha, José Octávio de Arruda Melo, Lúcio
Flávio de Vasconcelos e Niliane Meira, pelo incentivo.

A Paulo Lacerda, Roberto Cezar, Valter Félix da Silva e


Vanessa do Egypto, amigos e companheiros de trabalho,
pela convivência.

Aos servidores da Secretaria de Tecnologia da Informação


do Tribunal Regional Eleitoral da Parahyba, pela
contribuição à história das eleições do nosso estado.

Aos alunos de Direito Eleitoral da UNIPÊ, da UFPB e da


FACET (de ontem e de hoje), pelo aprendizado.

A Zé Cavalcanti (in memoriam), o nosso “Barão de Itararé”,


que soube interpretar, de forma irreverente e realista, a
política paraibana.

A Mocidade (in memoriam), o tribuno do povo.

À minha esposa, Anniele Santiago Tavares, pela companhia


permanente.

(Dedico)
A HISTÓRIA DO VOTO NA PARAÍBA

Humberto Mello

E
m 2009, Renato César Carneiro nos brindou com “Cabresto, Curral
e Peia”, o primeiro volume da “História Eleitoral da Paraíba”. Obra
ousada e original, no dizer do Professor Vinícius Soares de Campos
Barros, passou pelas vilas e cidades da Capital real da Parahyba, percorreu
a província Imperial e chegou à política que desaguou no im da República
considerada “Velha”, como observou o Juiz Alexandre Luna Freire.
Traz-nos, agora, o autor o segundo volume da História Eleitoral
da Paraíba. Credenciais para tanto não lhe faltam. Especialista e Mestre
em Direito, Professor de Direito Eleitoral, Analista Judiciário do Tribunal
Regional Eleitoral da Paraíba, Renato César Carneiro demonstrou, no
primeiro volume da obra, não apenas acurado conhecimento dos fatos, mas,
sobretudo, capacidade de análise deles.
Vencida, nominalmente, em 1930 a estrutura coronelística, surgiu
na Paraíba e no Brasil uma nova ordem política. Aqui – e o título do livro é
clara alusão ao fato – o comando político passa às mãos de José Américo de
Almeida. Não mais o comando oligárquico dos tempos de Álvaro Machado e de
Epitácio Pessoa, porém uma che ia advinda do movimento armando vitorioso.
No que toca ao tema do livro, 1930 se mostrou, de fato, uma revolta
que se transformou em revolução, na expressão de João Camilo de Oliveira
Torres. A introdução do voto secreto, sua extensão geral às mulheres, a
criação da Justiça Eleitoral, a extinção da Comissão de Veri icação de Poderes,
trouxeram profunda mudança às eleições no Brasil. Mas isso somente a
partir de 1933. Até então, na che ia de um Governo Provisório que ameaçava
perpetuar-se, Getúlio Vargas não queria saber de eleições. Só a contragosto
convocou-as para uma nova Assembleia Nacional Constituinte.
Para esta, houve eleição em1933. Depois, em 1934, novas eleições
para a Câmara dos Deputados e para a Constituinte Estadual. Em 1935,
eleições municipais. Tudo isto está aqui analisado e exposto por Renato
César Carneiro que reservou um importante capítulo para a in luência
eleitoral no fenômeno climático das secas.
Seguiu-se um período que aparentava normalidade, até que veio
o golpe de Estado de 1937. Não mais governadores e prefeitos eleitos, mas
interventores nomeados pelo Poder Central e que, por sua vez, nomeavam
os prefeitos. O hiato na vida democrática obrigou a uma pausa no livro que
retoma seu relato a partir de 1945.
Nova e importante mudança surgiu na vida política brasileira.
Os partidos políticos, desde o começo da República, eram estaduais. Certo
que a legislação facultava a criação de partidos nacionais, mas eles nunca
se constituíram seriamente, a não ser, na década de 1930, os de fundo
ideológico que não tinham sequer o nome de partidos: a Ação Integralista
Brasileira e a Aliança Nacional Libertadora, a re letir em terras brasileiras a
polarização direita-esquerda que dominava a Europa.
O autor analisa as implicações da nova organização partidária,
bem como a restauração da Justiça Eleitoral. O mesmo faz em relação aos
Códigos Eleitorais de 1945 e de 1950 – antes já o izera em relação aos de
1932 e de 1935.
Depois, vem o estudo das eleições – 1945, 1947, 1950, 1955, 1958,
1959, 1960, 1962, 1963 e 1965, as últimas eleições diretas para governador.
Desde o ano anterior já se instalara no Brasil a ditadura militar. A turva noite
iria durar vinte e um anos, opressora e repressiva.
Renato observa alguns aspectos que marcaram tais eleições – o
clima belicoso em 1950, o pacto das elites em 1955, a queda de um mito
em 1958, a questão agrária em 1962. Debuxa per is dos principais líderes.
Dedica capítulo especial a dois fatores marcantes da época tratada: a oratória
e o populismo. A primeira não mais existe: desapareceram, sem deixar
substitutos, os grandes tribunos que atraiam multidões para os comícios. O
segundo já escasseia.
Contudo, o que ao meu ver, mais distingue o livro são as análises
sociológico-políticas que ele nos traz. Vale-se o autor de subsídios de
autores que o izeram em plano nacional – Afonso Arinos, Vamireh Chacon,
Maria do Carmo Campello de Souza – e dos paraibanos – Eliete Gurjão, José
Octávio, Francisco Sales Cartaxo Rolim, Josué Sylvestre – e a eles aduz suas
próprias e sempre pertinentes re lexões. Não poderia faltar o notável Jean
Blondel, merecedor, com toda razão de um capítulo especial, onde seu livro
que se pode chamar de clássico e cujo pioneirismo na observação de certos
aspectos do sistema eleitoral brasileiro foi ressaltado por Walter Costa Porto,
é comentado com precisão e argúcia por Renato César Carneiro.
Já nos promete ele o terceiro volume, a cobrir de 1965 aos dias
atuais. Com ele se completará a obra que já é indispensável a quantos
queiram se informar da vida política paraibana.
SUMÁRIO
Introdução.................................................................................................................................. 17

Primeira parte: De 1930 a 1945 ........................................................................ 23

CAPÍTULO I
A Parahyba pós-1930 ............................................................................................................ 25

CAPÍTULO II
Os novos “donos do poder”: origens do americismo e do argemirismo...................... 37

CAPÍTULO III
As primeiras leis pós-1930 ................................................................................................. 47

CAPÍTULO IV
A rápida vigência do Código Eleitoral de 1935 .......................................................... 59

CAPÍTULO V
Origens da justiça eleitoral na Parahyba....................................................................... 61

CAPÍTULO VI
A estrutura partidária da Parahyba na Segunda República.................................. 77

CAPÍTULO VII
Parahyba feminina, mulher eleitora, sim senhor! ..................................................... 85

CAPÍTULO VIII
As eleições de 1933 na Parahyba ..................................................................................... 93

CAPÍTULO IX
As eleições de 1934 para a Assembleia Legislativa e Câmara dos Deputados .......109

CAPÍTULO X
Eleições indiretas em 1935 para o governo estadual e para o Senado......... 127

CAPÍTULO XI
As eleições municipais de 1935 ..................................................................................... 131

CAPÍTULO XII
Terra seca, urna cheia ........................................................................................................ 137

CAPÍTULO XIII
1937 – José Américo quase é eleito presidente da República .......................... 159
Segunda parte: De 1945-1965 ................................................................................... 167

CAPÍTULO I
Os partidos políticos agora são nacionais ................................................................. 171

CAPÍTULO II
O Tribunal de Justiça Eleitoral da Parahyba renasce das cinzas do Estado-Novo.... 175

CAPÍTULO III
As eleições de 1945............................................................................................................. 179

CAPÍTULO IV
As eleições de 1947 – O tribuno X o bacharel.......................................................... 195

CAPÍTULO V
A Parahyba da década de 1950 vista por um estrangeiro .................................. 227

CAPÍTULO VI
A campanha eleitoral de 1950: eleição ou guerra? ............................................... 231

CAPÍTULO VII
Eleição de 1955: O pacto das elites .............................................................................. 285

CAPÍTULO VIII
As eleições de 1958: a derrota de um mito............................................................... 295

CAPÍTULO IX
Um novo fenômeno eleitoral na Parahyba ................................................................ 317

CAPÍTULO X
1962: Eleição e Reforma Agrária................................................................................... 327

CAPÍTULO XI
Oratória e populismo nas eleições da Parahyba ..................................................... 339

CAPÍTULO XII
A democracia ameaçada: o Golpe de 1964 na Parahyba ..................................... 369

CAPÍTULO XIII
1965: A última eleição direta para governador ...................................................... 373

Referências ............................................................................................................................. 445


Introdução

M
ocidade, o grande tribuno popular que encantou políticos e
pessoas do povo nas campanhas eleitorais a partir de 1945 dizia
que, para ser doido na Parahyba, é preciso ter muito juízo.
O mesmo pensamento se aplica a quem se propõe a publicar um
livro, principalmente aquele que procura fazer as vezes de historiador. Rosa
Maria Godoy Silveira, ao prefaciar um dos nossos clássicos paraibanos já
advertia que,

A estudiosos (alguns) de outros estados talvez lhes seja menos


árduo o o ício de historiador. Na Paraíba, é pro issão de fé e de
coragem, prova de resistência. 1

O experiente José Octávio de Arruda Mello, que já tem mais de


trinta livros publicados na área, con idenciou-me certa vez que quando se
publica um livro na Parahyba se arranja muitos inimigos.
Todavia, sertanejo e matuto teimoso, por isso mesmo com coragem
su iciente para vencer as barreiras que se impõem à minha frente, escrevo o
que pesquiso e gosto de quebrar paradigmas, debater ideias e desmisti icar
fatos e personagens que foram criados ao longo da história política
paraibana.
“A Bagaceira, Eleitoral: verbo, verba e populismo nas Eleições
– A História do Voto na Parahyba (Da ‘Revolução de 30’ a 1965)” alude ao
período em que o autor do romance, A BAGACEIRA, José Américo de Almeida
- um dos mais in luentes brasileiros que liderou a política nacional no século
XX - participou diretamente da Revolução de 1930 e dos pleitos eleitorais

1 Prefácio à obra Morte e Vida das Oligarquias – Paraíba (1889-1945), Editora


Universitária-UFPB, 1994, de autoria da historiadora Eliete de Queiroz Gurjão.

17
A BAGACEIRA, Eleitoral

que ocorreram até 1958, quando experimentou a derrota eleitoral para o


governo do estado.
A pesquisa perpassa ainda as eleições estaduais de 1960 e deságua
na última eleição direta para o governo do estado em 1965, antes de se
iniciar o período dos governadores “biônicos”.2
José Américo de Almeida, um dos principais protagonistas das
eleições no estado durante esse período, na maioria das vezes sendo ele
mesmo candidato, em outras ocasiões atuando nos bastidores na condição
de mentor intelectual de candidaturas e de acordos políticos que marcaram
a história das eleições paraibanas.
Desde Cabresto, Curral e Peia – A História do Voto na Parahyba
até 1930, a irmo que a evolução do regime representativo em nosso estado
não pode ser compreendida considerando apenas o arcabouço jurídico-
eleitoral, mas integrado num contexto muito mais amplo: econômico, social,
ideológico, político e histórico.
Mesmo sem deter a formação acadêmica na área, a paixão pela
História e pela Política me estimula a seguir o método multidisciplinar de
historiadores paraibanos do naipe de Eliete Gurjão, Inez Caminha, José
Octávio de Arruda Melo e Martha Marinho Falcão, para conhecer a fascinante
trajetória do poder político da minha terra.
Da estrutura político-eleitoral da Parahyba destaco o regime
representativo, resultado de um interrelacionamento entre fatos
acontecidos na nossa província e outros ocorridos nas dimensões nacional e
internacional.
Assim, por exemplo, Eliete Gurjão explica a fundamentação e
con iguração das oligarquias nordestinas como “parte do processo de

2 Assim foram chamados os governadores eleitos, indiretamente, pelas Assembleias


Legislativas dos Estados, a partir de 1970.

18
Introdução

constitucionalização do espaço regional nos marcos nacional e internacional


do trabalho.”3
De igual modo, vislumbro nas eleições de 1933 ocorridas
na Parahyba forças políticas antagônicas adeptas do comunismo e do
integralismo que se digladiaram em busca do poder, re letindo o debate que
se travou, à época, no cenário internacional entre esquerda e direita.
Outrossim, os resultados eleitorais de 1933 e de 1958 não podem
ser dissociados do fenômeno das Secas, que assolaram o Nordeste, incluindo-
se a Parahyba.
A nossa intenção é ministrar o Direito Eleitoral, que cuida
basicamente de eleições, a partir de uma perspectiva da história política
local, ou seja, ao tempo em que se traça a evolução da legislação, se analisa
a trajetória das eleições na nossa “aldeia”, oferecendo aos conterrâneos de
ontem uma interpretação diferente dos fatos políticos e, aos jovens de hoje,
a oportunidade de conhecer as relações de poder que ditaram a política
eleitoral do Estado e as suas principais lideranças, prestigiando, assim, o
enfoque multidisciplinar.
A Parahyba sempre foi rica na área político-eleitoral. Aos alunos,
advirto logo no primeiro dia de aula que a disciplina mais fácil de ensinar é
o Direito Eleitoral, isto porque o nosso estado é um rico celeiro de exemplos:
oligarquias de origem familiar; cassações de mandatos por in idelidade
partidária ou abuso de poder político; disputas eleitorais renhidas que
descambam para os ataques pessoais e até para a violência; abuso de poder
de mídia, econômico e outros “ingredientes” que completam o cenário de
uma das eleições mais disputadas no país. Portanto, nunca faltou e nem
faltará ao professor aliar teoria e prática.

3 In Morte e Vida das Oligarquias – Paraíba (1889-1945). João Pessoa: Editora


Universitária/UFPB, 1994.

19
A BAGACEIRA, Eleitoral

Todavia, isso não signi ica que os políticos paraibanos sejam piores
ou melhores do que os outros. É preciso lembrar aqui as palavras do “amigo
velho” e conterrâneo patoense, Ernani Sátiro, para quem,

Um julgamento sobre os políticos implica num julgamento


da própria natureza humana. Há políticos bons e maus,
como existem homens e mulheres bons e maus em qualquer
outra atividade. As decepções com a humanidade são uma
contingência natural da vida. De vem em quando estamos a
nos decepcionar até com nós mesmos.

Aristóteles tinha razão. A política é a mais nobre e mais importante


de todas as ciências. Sobre os políticos, assim como os homens, eles são
produtos de seu tempo e de suas circunstâncias. Como não podemos descrer
no Direito, não devemos perder a fé na política, até porque o povo também
faz parte dela e os homens que fazem o direito e a política são da mesma
cepa.
Se a política é um prato dos deuses preparado pelo diabo, como
a irmava o líder sertanejo e ex-prefeito de Patos, José Cavalcanti, também, em
outra passagem, advertia-nos que, na política, quem mais comete loucura
é o povo: quase sempre dá mandato a quem não sabe usá-lo. Desse modo,
ao povo compete também fazer a sua mea culpa no que se refere às mazelas
atuais do nosso regime representativo.
O presente volume é continuísmo de Cabresto Curral e Peia
– A História do Voto na Parahyba até 1930 e este que ora apresento
compreende duas partes. Na primeira, analiso a fase eleitoral da Parahyba
entre o início da Segunda República (1930) até o fim do Estado-Novo de
Vargas, em 1937. A segunda parte registra os fatos político-eleitorais
do período de redemocratização do país, em 1945 - em que a Parahyba,
assim como o resto do país, viveu o retorno da prática democrática
através das eleições - até 1965, a última eleição direta para governador
do período.

20
Introdução

Essa modesta obra renova o compromisso com o modelo


blondeliano4 de analisar a história político-eleitoral da Parahyba e dar uma
contribuição, ainda que mínima, para a depuração e a compreensão dos
nossos costumes políticos.

4 A expressão faz alusão a Jean Blondel, cientista político francês que na década de 1950
esteve na Parahyba para estudar a estrutura de poder brasileira a partir da perspectiva
do nosso estado. Posteriormente, a sua análise foi publicada e a partir de então se tornou
uma das principais referências cientí icas acerca da política eleitoral paraibana e também
brasileira.

21
Primeira parte: De 1930 a 1945

“Nos trinta anos subsequentes à Revolução


de 1930, José Américo formou, com Argemiro
de Figueiredo e Rui Carneiro, o trio que do-
minou a cena política da Paraíba, em conjun-
to, governaram quinze anos. Passaram pelo
governo e pela oposição, cheϔiaram corren-
tes ϔiéis e travaram campanhas memoráveis,
ora como aliados, ora como antagonistas
ferrenhos.” (Oswaldo Trigueiro)* 1

* In Galeria Paraibana. João Pessoa: Ed. UFPB e Conselho Estadual de Cultura, p. 111.
CAPÍTULO I

A Parahyba pós-1930

“Não houve renovação completa da política


paraibana após 1930 porque não havia
diferenças substanciais entre o novo bloco
no poder e o que fora dele alijado.” (Eliete de
Queiroz Gurjão )* 1

* In Morte e Vida das Oligarquias. (Paraíba: 1889-1945). João Pessoa: Editora


Universitária/UFPB, 1994, p. 85.

25
A BAGACEIRA, Eleitoral

A
pesar de o Movimento Tenentista de 1930 haver icado famoso na
história como “A Revolução de 1930”, as estruturas de poder que
sustentavam o Ancien Regime1 não foram totalmente erradicadas,
tendo havido apenas uma rearrumação ou rede inição das oligarquias, que
se adaptaram aos novos tempos, às novas circunstâncias e aos novos atores
que surgiram a partir daquele período.
Um dos líderes do Movimento Tenentista de 30, o mineiro Antônio
Carlos, autor da famosa frase, façamos a revolução antes que o povo a faça,
já alertava Getúlio Vargas sobre os riscos de perder o controle das massas
populares e de mudar profundamente a sociedade:

(...) revolta sim, reforma sim, mas longe do grave risco de


perder o domínio sobre as massas suscetíveis de seduzirem-
se por amantes inesperados e impetuosos. Nada de tocar nos
alicerces sobre o qual repousa a estrutura social.2

O próprio José Américo de Almeida, principal articulador das


forças políticas “revolucionárias” na Parahyba, mais de meio século depois,
reconheceu que o Movimento de 1930 não representou uma verdadeira
Revolução no sentido estrito do termo, mas uma simples mudança de atores
políticos, sem alteração na base de poder:

Podia ter sido, realmente, uma revolução, no seu sentido amplo,


com um conteúdo reformista, em vez de simples mudança do
poder, para, restaurada a legalidade, recair tudo na mesma. Não
passou de uma simples revisão, sem alterar os costumes, nem
a estrutura. Apenas substituindo grupos e deixando alguns
traços positivos, como o voto secreto, o voto feminino, a justiça

1 Com razão Jean Blondel. Para nós, brasileiros, o antigo regime não é o Império, “que é
uma peça de museu, mas a República Velha, também chamada de Primeira República, que
desmoronou com a ‘Revolução de 1930’.” (in AS CONDIÇÕES DA VIDA POLÍTICA NO ESTADO
DA PARAÍBA. EDITORA A UNIÃO, 1994, 2ª ed., p. 18).
2 Apud Eliete de Queiroz Gurjão. Morte e Vida das Oligarquias. (Paraíba: 1889-1945).
João Pessoa: Editora Universitária/UFPB, 1994, p. 83.

26
A Parahyba pós-1930

eleitoral, a previdência social e a erradicação do caudilhismo


nordestino.3

Na concepção do historiador José Octávio de Arruda Melo, a


Revolução de 30 assumiu conotação centrípeta, vez que conduzida de fora
para dentro do Estado e identi icada com as classes médias e lideranças
militares intermediárias.4
Devemos, porém, reconhecer que, se a “Revolução de 1930”
não mudou substancialmente a face do Brasil, inaugurou uma política
diferente, pela participação das massas. As alianças do centro e a política de
governadores seriam abaladas por essa intervenção.”5
Ainda que não se reconheça um caráter revolucionário ao
Movimento Tenentista6 de 1930, é ponto pací ico entre os estudiosos,
principalmente entre sociólogos, cientistas políticos e historiadores que os
acontecimentos daquela fase representaram um marco na história política
do país, considerando as signi icativas mudanças no campo institucional e
social.
Na área dos direitos políticos, onde os revolucionários defendiam
a bandeira da moralidade do processo eleitoral brasileiro, surgiu a primeira
codi icação das eleições, que ampliou o direito ao sufrágio com o im de

3 In Eu e eles. A UNIÃO EDITORA, 3ª edição FACSIMILAR, p. 124.


4 In A Revolução Estatizada – Um estudo Sobre a Formação do Centralismo em 30. João
Pessoa: Ed. Universitária/UFPB, 1992, 2ª ed., p. 83.
5 Idem.
6 Eliete de Queiroz Gurjão rejeita a tese que considera o movimento de 1930 como uma
“Revolução”, embora reconheça que o mesmo, liderado pelos Tenentes, trouxe mudanças
signi icativas, posto que as alterações ocorridas “já vinham se operando desde a Primeira
República, no bojo da emergência das crises internas interligadas aos efeitos das crises do
capitalismo, consubstanciadas na I Grande Guerra e, mais ainda, na Grande Depressão.” (in
Morte e Vida das Oligarquias (Paraíba: 1889-1945. João Pessoa: Editora Universitária,
1994, p. 14). Para a historiadora Martha Falcão, a expressão “Revolução de 30”, externa uma
versão – a dos vencedores ou dos vencidos – acerca dos fatos daquele período, daí porque,
explica, deve ser realçada com aspas. Na sua concepção, o movimento deve ser tratado
como uma “revolução passiva”. (in Poder e Intervenção Estatal. Paraíba – 1930-1940).
João Pessoa: Ed. Universitária/UFPB, 1994, p. 21/22).

27
A BAGACEIRA, Eleitoral

alcançar o eleitorado feminino, antes excluído; ofertou-se maiores garantias


à proteção do voto secreto; implantou-se a representação proporcional e
procurou-se combater mais fortemente as fraudes eleitorais, tão comuns nos
processos eleitorais do Império e da Primeira República.
Antecedeu à queda do regime oligárquico da República Velha
a eleição de presidente da República, na qual icou comprovada a fraude
eleitoral em favor da chapa governista liderada pelo candidato paulista, Júlio
Prestes, em desfavor da chapa oposicionista, integrada pelo gaúcho Getúlio
Vargas e pelo paraibano, João Pessoa, ambos candidatos a presidente e a
vice-presidente, respectivamente.
“Degolado” nas eleições de 1930,7 José Américo de Almeida, ex-
secretário do governo João Pessoa, conduziu o Movimento Tenentista no
estado, à revelia do então presidente, Álvaro de Carvalho, o que lhe garantiu
espaço na nova estrutura de poder dominante.
Incrustado no cargo de Governo Provisório, Getúlio Vargas só
daria sinais de retorno da vida democrática do país após a pressão social
surgida com a Revolução Constitucionalista de 1932, liderada por paulistas.

7 Só para rememorar, as últimas eleições da República decaída em 1930 ocorreram em março


daquele ano para o preenchimento das vagas de presidente e vice-presidente do país e para
a Câmara dos Deputados e Assembleias Legislativas. Embora tendo vencido na Parahyba,
a chapa aliancista, formada pelo gaúcho Getúlio Vargas e pelo paraibano, o presidente
João Pessoa, obteve em todo o país 782.636 e 759.736 votos, respectivamente, enquanto
que a chapa o icial e vencedora, integrada pelo paulista Júlio Prestes e Vital Soares, obteve
1.115.377 e 1.103.359, respectivamente. Foi a última eleição a bico de pena. Enquanto isso,
todos os candidatos aliancistas eleitos para a Assembleia Legislativa do Estado e Câmara
dos Deputados (Antônio Galdino Guedes, Carlos da Silva Pessoa, Demócrito de Almeida,
inclusive, José Américo de Almeida), foram “degolados” pela Comissão de Veri icação de
Poderes. A Revolta de Princeza, liderada pelo Coronel José Pereira Lima, além de signi icar
uma reação às medidas administrativas adotadas pelo então presidente João Pessoa,
principalmente as de natureza tributária, serviu como resposta ao fato do presidente do
estado haver excluído da chapa o icial para aquela eleição de 1930, o nome do ex-presidente
do estado, João Suassuna, principal aliado do coronel José Pereira Lima que, até então, tinha
a expectativa de ser o candidato a vice-presidente com o apoio de Suassuna para a sua
sucessão, em chapa encabeçada por Júlio do Nascimento Lyra, chefe de polícia do governo
Suassuna.

28
A Parahyba pós-1930

Conforme o próprio nome indica, os seus líderes defendiam o retorno do


país à normalidade do regime constitucional.
Graças a essa manifestação cívica, considerada por José Murilo
de Carvalho como a revolução brasileira mais importante do século XX,8
Vargas praticamente viu-se obrigado a convocar uma Assembleia Nacional
Constituinte para elaborar a Constituição Federal de 1934. Seriam as
primeiras eleições pós-1930, voltadas para eleger os constituintes e
deveriam ocorrer sob a égide da primeira lei eleitoral do novo regime: o
Código de 1932.
Num sentido mais amplo, a Revolução Russa de 1917 contribuiu
para trazer ao cenário mundial o debate maniqueísta entre o liberalismo
econômico e o socialismo marxista.
Re letidos esses fatos no Brasil, icou evidente a divisão ideológica
entre integralistas e comunistas representados, respectivamente, pela Ação
Integralista Brasileira, liderada por Plínio Salgado e, de outro, o Partido
Comunista do Brasil, sob a orientação de Luís Carlos Prestes, que, em 1935,
liderou a Intentona Comunista,9 uma tentativa fracassada de implantar aqui
o modelo adotado pelo bolchevismo na extinta União Soviética.
Acrescentou-se a esse debate ideológico o surgimento no Brasil
de uma classe-média urbana, além dos primeiros passos da industrialização
do país incrementada por Getúlio Vargas e a proletarização da classe
trabalhadora brasileira.
No campo econômico, o início da década de 1930 se caracterizou
pela transição da economia agro-exportadora para o modelo econômico
urbano-industrial. Nessa década, a Parahyba teve como sua principal base
econômica a cultura do algodão que durante um bom tempo concorreu com

8 In Cidadania no Brasil: o longo caminho. Rio de Janeiro: Ed. Civilização Brasileira, 2007,
p. 101.
9 Em 09 de fevereiro de 1926, o Padre Aristides liderou uma forte resistência contra a Coluna
Prestes que invadiu o Município de Piancó, no interior do Sertão da Parahyba.

29
A BAGACEIRA, Eleitoral

grandes centros da Europa, a exemplo de Liverpool, conforme registra Eliete


de Queiroz Gurjão:

Desde 1925 ele ocupava o primeiro lugar nas exportações,


atingindo em 1929 seu volume máximo, passando a escoar
preferencialmente para os mercados europeus.10

Registre-se também a importância da intervenção do Estado na


economia incrementada pelo projeto nacionalista de Getúlio Vargas através
da industrialização e da substituição de importações e, a nível local, por
meio dos incentivos iscais implementados durante o governo de Argemiro
de Figueiredo, o que facilitou a instalação de empresas multinacionais para
exploração da cultura algodoeira, conforme relatou Celso Mariz:

Em junho de 35 (...) o governador Argemiro de Figueiredo


favoreceu com algumas isenções a instalação de novas usinas
de bene iciamento. No im desse ano aqui estavam Anderson
Clayton e Cia Ltda. e a Sanbra, duas poderosas organizações da
indústria e do comércio algodoeiros. Referindo-se ao memorial
citado, Mariz opina que o governo, embora se colocando
de sobreaviso, sustentou os favores, aliás, decretadas sem
privilégios.11

No campo político, o the day after na Parahyba pós-30 apresentou


o ocaso do epitacismo e o surgimento do americismo, em que o principal
responsável pela Revolução no estado, José Américo, com as bênçãos do
poder central, teve uma rápida ascensão política local e nacional, guindado
ao cargo de primeiro Interventor do Estado e ao status caricativo de “Rei do
Norte”. Poucos meses depois de nomeado Interventor da Parahyba, assumiu
o Ministério da Viação e Obras Públicas, onde ressuscitou o trabalho de

10 In Ob. Cit., p. 22.


11 In “Evolução Econômica da Paraíba”, Apud Francisco Cartaxo Rolim, in Do bico de pena à
urna eletrônica. Recife: Edições Bagaço, 2006, p. 107/108.

30
A Parahyba pós-1930

combate às secas do Nordeste, iniciado pelo ex-presidente Epitácio Pessoa,


mas até então paralisado durante o governo de Artur Bernardes, em 1923.
No vazio do espaço de poder provocado pela morte do mártir
paraibano, José Américo de Almeida,

(...) a despeito da sua identi icação com João Pessoa, ele, dentro
de pouco tempo, não só aniquilou a oligarquia epitacista, como
ocupou o posto que o velho Epitácio ocupara por vinte anos – o
de chefe da política do Estado.12

Logo em seguida ao surgimento do americismo, Argemiro de


Figueiredo, líder campinense e ex-secretário do segundo Interventor do
Estado, Anthenor Navarro, em 1935, foi eleito indiretamente governador da
Parahyba, dando início ao argemirismo.
Não obstante todas essas alterações político-econômico-sociais
(até porque a economia segue a política e vice-versa), a estrutura oligárquica
da Primeira República, que girou em torno dos três chefes oligarcas –
Venâncio Neiva, Álvaro Machado e Epitácio Pessoa - não foi de todo abolida e
vários fatores contribuíram para esse fenômeno. Dentre eles, a ação de José
Américo de Almeida no Ministério da Viação e Obras Públicas, que ajudou a
fortalecer a estrutura agrária latifundiária e, por via oblíqua, o coronelismo,
através da construção de dezenas de açudes privados, como veremos
adiante.
Outro fator signi icativo que contribuiu para a manutenção do
status quo foi a aproximação de Argemiro de Figueiredo com os coronéis
que deram base à estrutura de poder antes de 1930, o que permitiu a
recomposição do poder com os chefes das oligarquias locais, principalmente
após o golpe getulista de 1937 quando o líder campinense assumiu o
governo local na condição de Interventor e, num golpe de mestre político,

12 Oswaldo Trigueiro. In Galeria Paraibana. João Pessoa: Ed. Universitária/UFPB, Conselho


Estadual de Cultura, 1989, p. 87.

31
A BAGACEIRA, Eleitoral

conϔirmou no cargo todos os prefeitos eleitos em 1935, conforme o quadro


apresentado por Martha Falcão:13

PARAÍBA – PREFEITOS E MUNICÍPIOS NO ESTADO NOVO (1937-1938)

MUNICÍPIO PREFEITO
João Pessoa Fernando Nóbrega
Santa Rita Flávio Maroja Filho
Sapé João Úrsulo R. Coutinho Filho
Cruz do Espírito Santo Renato Ribeiro Coutinho
Pilar João José Maroja
Mamanguape Eduardo Ferreira
Alagoa Grande Eduardo Ferreira
Laranjeiras Clodoaldo Trigueiro
Bananeiras Benedito Barbosa
Areia Pedro Augusto de Almeida
Esperança Cunha Lima Filho
Serraria Francisco Ruffo Correia
Araruna Demóstenes Cunha Lima
Itabaiana Antônio Almeida
Caiçara Abdias Almeida
São João do Cariri Eduardo da Costa Brito
Guarabira Sabiniano Maia
Cabaceiras José Barbosa
Juazeiro Francisco Correia de Queiroz
Monteiro E igênio Barbosa
Umbuzeiro Carlos Pessoa
Picuhy José Xavier
Taperoá Abdon Maciel
Patos Clóvis Sátiro
Pombal Sá Cavalcanti
Piancó Antônio Leite Montenegro
Princesa Isabel José Cardoso
Conceição João Fausto de Figueiredo

13 In Ob. Cit., p. 246.

32
A Parahyba pós-1930

Cuité João Fonseca


Brejo do Cruz Antônio Olímpio Maia
Catolé do Rocha Nathanael Maia
Souza Elládio Melo
Cajazeiras Celso Matos
Antenor Navarro Padre Cirilo de Sá
Jatobá Malaquias Batista
Ingá Zacarias Ribeiro
Santa Luzia Alcinto Leite
Itaporanga Praxedes Pitanga
Teixeira José Xavier
Bonito de Santa Fé Manuel Batista Leite

Além de José Américo de Almeida e Argemiro de Figueiredo,


outra liderança política desse período iria se destacar no cenário eleitoral
do estado – Ruy Carneiro – completando na política paraibana o trio que
o historiador Marcus Odilon Ribeiro Coutinho passou a denominar de
a santíssima trindade ou os três grandes: Zé, Argemiro e Ruy. Os três
principais caciques políticos do estado, cada qual detinha as suas qualidades
próprias, assim interpretadas pelo historiador José Octávio de Arruda Melo:

Na Paraíba, de iniram-se as três lideranças – José Américo,


que brilhava, Argemiro de Figueiredo, que organizava, e Ruy
Carneiro, que cuidava, recorrendo à máquina. Enquanto os
dois primeiros disputavam o controle da oposição udenista,
o terceiro, usando os poderes da interventoria, reorganizou
o quadro de auxiliares e atraiu prefeitos e lideranças de João
Pessoa e Campina Grande, para montagem do Partido Social
Democrático – o partido das interventorias estaduais.14

Entre outubro de 1930 - em que houve a “Revolução” - e novembro


de 1937 - mês em que Getúlio Vargas deu um golpe de Estado e fechou o
Congresso Nacional, as Assembleias Legislativas e as Câmaras Municipais - a

14 In PARAÍBA – NOMES DO SÉCULO. SAMUEL VITAL DUARTE. A UNIÃO EDITORA, p. 36.

33
A BAGACEIRA, Eleitoral

Parahyba experimentou apenas cinco eleições, três diretas - a de 1933, para a


escolha dos representantes para compor a Assembleia Nacional Constituinte;
a de 1934, para os deputados integrantes da Assembleia Legislativa do
Estado e da Câmara dos Deputados e a de 1935, para prefeitos e vereadores
– e duas indiretas, em janeiro de 1935, para governador de estado e senador.
Esses cinco pleitos serão objetos de nossa análise, nessa primeira parte.

Antecedentes

O cientista francês, Jean Blondel,15 identi icou três vícios que


marcaram o regime representativo brasileiro na Primeira República, também
denominada de “A República Velha”.
O primeiro vício diz respeito à irrealidade do sufrágio pois além de
excluir os analfabetos, ele não era secreto e os eleitores do meio rural sofriam
pressões de toda ordem. Além disso, havia a possibilidade de “degola” dos
candidatos que, mesmo eleitos, corriam o risco de não ser reconhecidos pela
Comissão de Veri icação de Poderes.
A segunda distorção da democracia representativa brasileira
daquele período, segundo Blondel, correspondeu à hipertro ia do Poder
Executivo, caracterizado pela impossibilidade de revezamento do poder,
exceto em relação a Minas Gerais e São Paulo, bene iciados pela política do
café-com-leite e da política dos governadores, que serviam para manter a
estagnação política nos estados.
A terceira e última nódoa do processo político-eleitoral nacional,
ainda segundo o cientista político francês, recaía sobre a irrealidade dos

15 O sociólogo francês, já referido, na condição de bolsista do Instituto de Ciência Política


de Paris e do Instituto de Direito Público e Ciência Política do Rio de Janeiro, entre julho
e outubro de 1952, empreendeu laboriosa pesquisa sobre a estrutura política brasileira,
tomando como seu campo de observação os fenômenos políticos ocorridos na Parahyba,
comparando-os com a realidade francesa. Depois, as suas anotações foram publicadas
em 1957, sob a denominação de As Condições da Vida Política no Estado da Paraíba,
considerado um clássico da Ciência Política brasileira.

34
A Parahyba pós-1930

nossos partidos políticos que eram estaduais e signi icavam nada mais
do que delegações junto à Câmara Federal, cujos representantes eram
simples emissários do governador para obter do poder central aquilo que
considerasse necessário.16
Com o Movimento Tenentista de 1930, houve uma modi icação
política signi icativa, que se re letiu na legislação eleitoral bem como na
própria forma de realizar as eleições. A partir de 1930, os pleitos eleitorais
passaram a ser menos fraudulentos, graças à criação da Justiça Eleitoral e
das garantias que a legislação procurou cercar o voto secreto.
Assim, ao menos no aspecto formal, pode-se a irmar que o regime
representativo brasileiro pode ser compreendido a partir de dois períodos:
antes e depois de 1930. A própria historiogra ia brasileira, principalmente
a que trata da evolução do nosso regime representativo, dividiu a História
do Brasil considerando essa fase, em que se tem o im da República Velha,
também chamada de Primeira República e o início da Segunda República.17
Todavia, é com lembrar, mesmo tendo conseguido romper o
pacto que sustentava a estrutura de poder daquela fase - a política dos
governadores - a “Revolução de 1930” não foi capaz de extinguir ou sequer
afastar de todo o poder político as oligarquias decaídas18 em 1930.
No volume I,19 analisamos a evolução do regime representativo na
Parahyba desde o período Colonial, passando pela fase Imperial e chegando
até 1930. A partir daqui, retomamos a epopeia do voto na Parahyba.

16 Jean Blondel, in Ob. Cit., p. 18-19.


17 A própria data ixada para realização das eleições – 03 de outubro, dia da “Revolução de
1930” - indica a importância daquele evento para o regime representativo nacional.
18 A propósito, essa é a tese central do clássico intitulado, Morte e Vida das Oligarquias.
Paraíba (1889-1945), dissertação de Mestrado em Sociologia Rural, defendida em 1985
na UFPB e de autoria da eminente professora Eliete de Queiroz Gurjão. O título da obra já
sugere a manutenção da mesma estrutura de poder na Parahyba, mesmo após a “Revolução
de 1930”.
19 Renato César Carneiro. In Cabresto, Curral e Peia – A História do Voto na Parahyba até
1930. João Pessoa: Ed. UFPB, 2009.

35
A BAGACEIRA, Eleitoral

Título eleitoral de Getúlio Vargas, principal líder da Revolução de 1930.

36
CAPÍTULO II

Os novos
“donos do poder”:
origens do americismo
e do argemirismo

“Vale salientar que situacionistas e


oposicionistas constituem ambos, segmentos
da classe dominante representadas por
suas oligarquias, separadas apenas pela
captura ou não do aparelho de Estado. (...)
As bases da estrutura de poder permanecem
essencialmente rurais, montadas na
propriedade da terra e na dominação
exercida pelos ‘coronéis’ do algodão-pecuária
e do açúcar e na representação política de
suas respectivas oligarquias.” (Eliete de
Queiroz Gurjão)* 1

* In Morte e Vida das Oligarquias, (Paraíba: 1889-1945). João Pessoa: Editora


Universitária/UFPB, 1994, p. 53.

37
A BAGACEIRA, Eleitoral

O
s primeiros anos da década de 1930 foram caracterizados pela
disputa do espólio político do ex-presidente João Pessoa. A família
Pessoa, como era de se esperar, se julgava herdeira do comando
político do estado, considerando que o ex-governador pagou com a própria
vida1 a ousadia de haver enfrentado o governo federal.
Não obstante a pretensão da oligarquia pessoista, coube a José
Américo de Almeida a liderança na Parahyba da “Revolução de 1930”. Esse
fato levou-o à rápida condição de primeiro Interventor do Estado e “Rei do
Norte” e, em seguida, Ministro de Viação e Obras do Governo de Vargas. A
sua grande atuação no Ministério possibilitou-lhe consolidar o seu comando
político no estado, dando surgimento ao americismo.2 Além disso, as suas
realizações à frente do órgão federal foram fundamentais no processo de
legitimação da Revolução.3
Segundo Trigueiro, José Américo de Almeida teve uma carreira
política meteórica, pois, em menos de dez anos foi

...Secretário do Interior em 1928; candidato a deputado federal


em 1930 (eleito porém depurado); Secretário de Segurança
no mesmo ano, líder revolucionário e Governador Geral na

1 É sabido que a morte do ex-presidente João Pessoa se deu por questões pessoais e familiares
de João Dantas. Ocorre que os aliancistas se utilizaram da morte de João Pessoa para
transformá-la num fato novo e ressuscitar a revolução que já estava sendo adormecida.
2 Na concepção de Martha Falcão, a expressão designa “a correlação das forças políticas
paraibanas sob o comando de José Américo, ou seja, da Revolução até o seu temporário
afastamento de 1935 a 1937, quando volta à liça, na condição de candidato à Presidência da
República.” (in Ob. Cit., p. 173).
3 Martha Falcão, in Ob. Cit., p. 118. Orris Barbosa também é da mesma opinião, quando assim
terminou a sua obra: “Dentro dos seus erros, débil em face do problema nacional, sem linha
de conduta partidária a de inir-lhe as intenções serpenteando para a esquerda e para a
direita e acusada de praticar uma porção de feiúras políticas, a Revolução de Outubro, de
fato engrandeceu-se através da ação da Ditadura Vargas, ao livrar da fome o Nordeste.” (in
A Seca de 1932 – Impressões sobre a crise nordestina. Coleção Mossoroense, 2 edição,
1998, p. 130). No mesmo sentido, Eliete de Queiroz Gurjão, in Seca de 32: uma História
Social do Nordeste. Ideologia e Espaço em Orris Barbosa, p. 39. Org. José Octávio de
Arruda Mello. Fundação Vingt-Um Rosado – Coleção Mossoroense, março de 1999. Co-
edição com o governo do Estado do RN e Prefeitura Municipal de Mossoró.

38
Os novos “donos do poder”

Revolução de 3 de outubro; Ministro da Viação no governo


revolucionário; Senador em 1935; Embaixador junto à Santa
Sé (cargo que não chegou a exercer); Ministro do Tribunal de
Contas; inalmente, candidato à Presidência da República, em
1937.4

Quanto a Argemiro de Figueiredo, o fato de haver exercido a


Secretaria do Interior durante o governo do Interventor Gratuliano de Brito,
aliado ao seu talento pessoal,5 explica a sua crescente ascensão na política
do estado, que se iniciara com a sua eleição para deputado estadual, ainda
em 1930, em eleição suplementar. Chegou a romper politicamente com seu
pai, o coronel perrepista, Salvino Figueiredo e seu irmão, Acácio Figueiredo,
engrossando as ileiras dos aliancistas de 1930.
Argemiro de Figueiredo presidiu o Partido Progressista no estado
e a sua ascendência política foi bene iciada pela ausência de José Américo
de Almeida da Parahyba, em razão de que este estava concentrando as suas
energias no Ministério da Viação e Obras.
A consolidação do argemirismo6 no estado signi icou o retorno das
oligarquias à arena política, respeitadas as novas circunstâncias econômicas,
sociais e políticas. Em 25 de janeiro de 1935, Argemiro de Figueiredo foi
eleito governador de estado, de forma indireta pela Assembleia Legislativa,
conforme previa a legislação. Esse processo de aproximação com as
oligarquias também estava no projeto de Vargas.
Na ótica de Martha Falcão, a fase de 1930 a 1937 foi caracterizada
pela adoção de uma política de intervenção, repressão, conciliação e
cooptação, principalmente no período governado por Argemiro de

4 Oswaldo Trigueiro. In Galeria Paraibana. Editora Universitária/UFPB e Conselho Estadual


de Educação, 1982, p. 87.
5 Em depoimento prestado à historiadora Martha Falcão, o jornalista Samuel Duarte destacou
o tirocínio político e a notável oratória de Argemiro de Figueiredo. In Ob. Cit., p. 121.
6 Na concepção de Martha Falcão, a expressão indica “a correlação de forças políticas
paraibanas sob a liderança de Argemiro de Figueiredo.” (In Ob. Cit., p. 121).

39
A BAGACEIRA, Eleitoral

Figueiredo – de 1935 a 1937 – em que o governador aliou-se à estrutura


oligárquica decaída da Primeira República, tese esta reforçada pelo
historiador Marcus Odilon Ribeiro Coutinho:

...Os seus auxiliares foram tirados do meio rural. Cercou-se de


todos os donos do Estado. Chamou ao Palácio os caciques da
República Velha. Flávio Ribeiro Coutinho alargou as fronteiras
de seu domínio, tomou o Espírito Santo de Cazuza Trombone
e deu a seu sobrinho Renato. Os partidos de cana das usinas
eram do partido de Argemiro. Os Cunha Lima voltaram a
mandar em Areia, o coronel José da Cunha Lima, novamente
era dono de ‘Mundo Novo’ e de todo o brejo.7

José Octávio de Arruda Mello, ao fazer uma análise comparativa


entre Argemiro de Figueiredo e os outros dois interventores que o antecedeu
- Anthenor Navarro e Gratuliano de Brito - também ressaltou a aproximação
do líder campinense com a ina lor do coronelismo paraibano:

O Primeiro, urbano e radical, imaginava estado centralizado


que subjugasse os coronéis, hostilizados pelo interventor.
De raízes rurais, embora plenamente urbanizado, Gratuliano
manteve a linha, mas ignorando os coronéis, aos quais não
afrontou. Com Argemiro foi diferente: de origem e militância
rurais, ilho e irmão de destacados chefes perrepistas, ocorreu-
lhe a montagem de Estado Centralizado de base conservadora
em que os coronéis recuperam prestígio.8

Da mesma opinião, comunga Eliete Gurjão, para quem foi durante


o governo de Argemiro de Figueiredo que a política oligárquica atingiu o
seu ápice, isto porque, graças à aproximação do governador com as antigas

7 In Poder, Alegria dos Homens. João Pessoa: Grá ica A IMPRENSA, p. 80.
8 José Octávio de Arruda Mello, no prefácio da obra de autoria de José Luciano de Queiroz
Aires e Faustino Teatino Cavalcanti Neto, in Trajetória política de Argemiro de
Figueiredo: um emedebista histórico. A PARAÍBA NO SÉCULO XX – Estudos sobre
Argemiro de Figueiredo e Octacílio Queiroz. João Pessoa: Fundação Ulisses Guimarães,
2002, p. 35.

40
Os novos “donos do poder”

che ias municipais decaídas em 1930 bem como adversários do aliancismo,


Argemiro ampliou o seu espaço político,

permitindo-se, desta forma, manobrar paralelamente o


americismo e usufruir o apoio de Vargas, que o manteve no
governo após o golpe de 1937.9

O apoio dado pelo governador Argemiro de Figueiredo ao golpe


de Estado de 1937, além de haver garantido a sua permanência no poder na
condição de Interventor nomeado por Vargas, representou um duro golpe no
americismo que, durante certo tempo, foi obscurecido pelo argemirismo.
Outro fato que aumentou o abismo entre os dois maiores líderes
políticos paraibanos naquela fase foi a candidatura de José Américo de
Almeida para a presidência da República, em 1937, que não teria recebido o
apoio10 do Interventor da Parahyba.
Argemiro de Figueiredo e José Américo de Almeida tinham algo em
11
comum. Ambos foram produtos de seu tempo e das circunstâncias do meio

9 Segundo Eliete Gurjão, durante a legislatura de 1935 a 1937 a Assembleia Legislativa era
constituída, em sua maioria, de representantes da oligarquia algodoeira-pecuária. (In Morte
e Vida das Oligarquias - Paraíba (1889/1930), p. 137).
10 Essa versão é rechaçada pelo jornalista Josué Sylvestre, para quem Argemiro demonstrou o
seu apoio à candidatura de José Américo em dois momentos: através de espaços no jornal
A VOZ DA BORBOREMA, que demonstrou estar engajado à campanha presidencial do
paraibano e o apoio inanceiro conseguido por Oswaldo Trigueiro de Albuquerque Mello,
próximo de Argemiro, para pagamento de despesas de campanha eleitoral do paraibano.
(In Ob. Cit., p. 228). Na versão do próprio José Américo de Almeida, o seu rompimento
com Argemiro de Figueiredo se deu devido ao descontentamento do primeiro em relação
ao segundo motivado pelo fato de Argemiro haver se aproximado demais dos adversários de
ontem. Nas próprias palavras de José Américo: “Eu queria que eles tivessem bom tratamento,
mas não que tivessem posições-chave, devido à minha responsabilidade perante a família e
os amigos de João Pessoa. Ele começou a chamar para auxiliares pessoas que se tinham
incompatibilizado com a revolução. Não me conformava com isso porque parecia, de certa
forma, uma traição á memória de João Pessoa.” (Aspásia Camargo, Eduardo Raposo e Sérgio
Flaksman, in O Nordeste e a Política – Diálogo com José Américo de Almeida, CPDOC/
FGV – Fundação Casa de José Américo, Ed. Nova Fronteira, 1984, p. 250/251).
11 Porém, havia algumas diferenças de personalidade entre os dois principais líderes
paraibanos daquela época. Em depoimento prestado à Martha Falcão, em 1993, o jornalista
campinense, William Tejo assim traçou as características de ambos: “Uma das características

41
A BAGACEIRA, Eleitoral

em que viviam. Naquele período, a grande maioria das cidades da Parahyba


assim como de todo o Nordeste, tinham como o seu mais grave problema
o abastecimento d’água, consequência das graves secas que assolavam a
região.
Na condição de governador, Argemiro de Figueiredo criou o
Serviço de Água e Esgoto de Campina Grande, através da Lei nº 2, de 22 de
outubro de 1935, o que facilitou a construção da barragem de Vaca Brava e
de chafarizes em locais estratégicos da cidade, tudo com o intuito de resolver
o grave problema de abastecimento de água da Rainha da Borborema.
Realizada a obra, Argemiro sai fortalecido politicamente e a população
campinense passou a considerá-lo como o grande “benfeitor” da cidade.
Da mesma forma, José Américo de Almeida, na condição de
Ministro da Viação e Obras Públicas do Governo Vargas, durante os períodos
das grandes Secas de 1932 e 1951, construiu vários açudes públicos e
privados na região Nordeste, o que também lhe trouxe grandes dividendos
eleitorais e o título de “redentor” da região, aumentando a sua projeção a
nível nacional, já conhecida pela sua condição de consagrado escritor.
Ambos, Argemiro e José Américo, souberam aproveitar-se das
circunstâncias políticas do momento. A fortuna, da qual falava Maquiavel em
sua obra O Príncipe, foi pródiga para os dois grandes líderes, senão vejamos.
José Américo de Almeida, na ausência da igura centralizadora e personalista
do ex-presidente João Pessoa, tramou a “Revolução” à revelia de Álvaro de
Carvalho. Argemiro de Figueiredo, sabedor do golpe de estado tramado
por Vargas, não titubeou duas vezes em apoiar o ditador, garantindo a sua
permanência no poder por mais três anos.

de Argemiro de Figueiredo era a altivez, além da elegância e serenidade com que enfrentava
os adversários mais ferrenhos. Esta última característica diferenciava-o profundamente de
José Américo, que perdia o controle quando encolerizado. Ao contrário deste, Argemiro não
era rancoroso com seus adversários políticos.” (In Ob. Cit., p. 165).

42
Os novos “donos do poder”

Mas os dois grandes paraibanos não apenas contavam com a


fortuna. Sem virtu, como a irma o notável pensador lorentino, a conquista
do poder icaria por obra do mero acaso. Argemiro de Figueiredo e José
Américo detinham qualidades inatas dos grandes líderes para saber
conduzir homens, razão pela qual não tiveram di iculdades em fundar e
presidir partidos políticos na Parahyba.
Por último, eram dois grandes esgrimistas da palavra, o que,
naqueles tempos, era qualidade admirada por todos e fundamental numa
disputa eleitoral.
Diante de tantas virtudes, não se poderia esperar outro desfecho
senão o afastamento político de Argemiro e José Américo, isto porque era
impossível a convivência simultânea num mesmo partido de duas fortes
personalidades. O rompimento, mais cedo ou mais tarde, seria inevitável.
Eleito Argemiro de Figueiredo governador da Parahyba e feitas
as primeiras nomeações de seu governo, deu-se o rompimento com José
Américo de Almeida. A cisão deveu-se, em parte, ao intrigado jogo político
regional que assegurou a Argemiro o total controle da máquina política do
Estado, alijando correligionários de José Américo de importantes cargos
estaduais, em prestígio aos carcomidos de 1930.

43
A BAGACEIRA, Eleitoral

Os novos “donos do poder” pós-1930, na Parahyba: Zé, Argemiro e Ruy.

Aglomeração política na capital do Estado.


(Fonte: João Lélis de Luna Freire)

44
CAPÍTULO III

As primeiras leis
pós-1930

“A nova estrutura eleitoral, estendendo o


direito de voto aos cidadãos alfabetizados,
independente das barreiras econômicas do
sistema eleitoral imperial, não fez mais do
que aumentar o número de eleitores rurais
e citadinos, que continuaram obedecendo
aos mandões políticos já existentes. A base
da antiga estrutura eleitoral se alargara,
porém os chefes políticos locais e regionais
se mantiveram praticamente os mesmos e
continuaram elegendo para as Câmaras, para
as presidências dos Estados, para o Senado,
seus parentes, seus aliados, seus apaniguados,
seus protegidos.”* (Maria Izaura Pereira de
1

Queiroz)

* Maria Izaura Pereira de Queiroz apud Lúcia de Fátima Guerra Ferreira, in RAÍZES DA
INDÚSTRIA DA SECA. O CASO DA PARAÍBA. João Pessoa: Ed. Universitária, 1993, p. 22.

45
A BAGACEIRA, Eleitoral

O Código Eleitoral de 1932

“Eis as reformas essenciais do Código de 1932: regime de


partidos, voto secreto, representação proporcional, instituição
de suplências, validade dos diplomas, criação da Justiça
Eleitoral para todas as fases do processo das eleições, inclusive
a veri icação de poderes.”1

O Código Eleitoral de 1932 – Decreto Lei nº 21.076 – retirou dos


estados a competência para legislar sobre Direito Eleitoral, ao regular o
alistamento e as eleições federais, estaduais e municipais.2
A nova lei também instituiu a Justiça Eleitoral, com funções
contenciosas (jurisdicionais) e administrativas, constituída pelo Tribunal
Superior de Justiça Eleitoral, localizado na capital da República, um Tribunal
Regional, na capital de cada estado, no Distrito Federal e no Território do
Acre, e Juízes Eleitorais.
O alistamento de eleitores, a apuração dos votos, a proclamação
dos eleitos e a diplomação, passaram ao controle do poder judiciário
eleitoral, extinguindo assim a Comissão de Veri icação de Poderes dos
órgãos legislativos, responsáveis pelas famosas “degolas” na Primeira
República.
As condições de elegibilidade e algumas hipóteses de
inelegibilidade, antes tratadas pela Constituição do Estado, passaram a ser
objeto de lei especial.
A partir da vigência do Código Eleitoral as garantias para
o exercício do direito de sufrágio deixaram de ser uma concessão do
mandonismo local e agora estavam na lei eleitoral, protegidas por alguns

1 Baleeiro, Aliomar & Sobrinho, Barbosa Lima. As Constituições brasileiras. Ed. Senado
Federal, p. 45.
2 Art. 1º do Código Eleitoral de 1932.

46
As primeiras leis pós-1930

instrumentos processuais para a sua garantia, a exemplo da previsão do


instituto do Habeas Corpus, em matéria eleitoral.3
Até 1930, as eleições no Brasil eram reguladas por leis de ocasião.
Ou seja, às vésperas do pleito, se expediam Instruções para tratar do seu
processo. Antes, a Constituição Federal dava competência aos Estados para
legislar sobre Direito Eleitoral. Com o advento do primeiro Código Eleitoral
de 1932, a União passou a monopolizar a competência para legislar sobre
eleições, retirando esse poder dos Estados, ao regular o alistamento eleitoral
e as eleições federais, estaduais e municipais.4
Houve outras inovações signi icativas no processo eleitoral
brasileiro, introduzidas pelo Código Eleitoral de 1932: a ampliação do
sufrágio, alcançando o voto feminino; a previsão da representação classista;
a adoção do voto secreto e, talvez a mais importante delas, a criação da
Justiça Eleitoral, como forma de exercer o controle de todo o processo
político-eleitoral, antes atribuição das Casas Legislativas.
A partir do Código Eleitoral de 1932, previu-se a interferência
dos partidos políticos no processo eleitoral ao anunciar que os mesmos
adquiriam personalidade jurídica na forma da lei civil, mediante inscrição
no registro competente. Todavia, manteve-se a possibilidade de existir
candidaturas avulsas ao equiparar aos partidos políticos os que, não
adquirindo aquela condição, se apresentassem com a mesma inalidade, em
caráter provisório, com um mínimo de quinhentos eleitores bem como as
associações de classe legalmente constituídas.
Importante novidade na legislação eleitoral de 1932 foi a criação
da representação pro issional. A ideia da representação classista foi de
Getúlio Vargas, que defendia a participação direta das classes trabalhadoras
na vida política do Estado, incluindo-se no Poder Legislativo ou em órgãos

3 Art. 113 do Código Eleitoral de 1932.


4 Art. 1º do Código Eleitoral de 1932.

47
A BAGACEIRA, Eleitoral

da Administração Pública. O aludido estatuto legal, em suas disposições


transitórias, assim se referiu ao instituto:

Art. 142. No decreto em que convocar os eleitores para a eleição


de representantes à Constituinte, o Governo determinará o
número de representação das associações pro issionais.

As primeiras eleições pós-1930 ocorreram nos meses de maio de


1933 e outubro de 1934 e foram caracterizadas por medidas de emergência
e por regulamentações que em sua maioria anularam as disposições da nova
lei eleitoral.
Preocupado com as fraudes na votação - tão comuns na Primeira
República em que até os mortos votavam - o legislador do primeiro Código
Eleitoral Brasileiro passou a exigir que os o iciais de registro civil enviassem
ao magistrado da zona eleitoral, até a primeira quinzena de cada mês, a
relação dos óbitos ocorridos nos municípios, medida que não foi capaz de
evitar que os mortos continuassem a governar os vivos, de forma que aquele
tipo de fraude na votação ainda permaneceu durante algum tempo.5
O Código Eleitoral de 1932 teve re lexos sobre o alistamento
eleitoral, que sofreu as mesmas discriminações ocorridas durante o período
do “Antigo Regime”, considerando que o seu art. 4º excluiu da participação
político-eleitoral os mendigos, os analfabetos e os praças de pré, com
exceção dos alunos das escolas militares de ensino superior. Como a maior
parte da população rural da Parahyba, assim como os demais estados do
Norte-Nordeste era constituída de analfabetos, tinha-se a exclusão e a
marginalização da grande maioria dos paraibanos no que diz respeito aos
seus direitos políticos, conforme o seguinte quadro:6

5 Segundo depoimento da mãe do autor, ainda menor de idade na década de 1960, em Patos,
a mesma foi orientada a votar em candidato local, portando um título de eleitor de pessoa
já falecida.
6 Quadro elaborado por Martha Falcão, com base em dados do DIÁRIO DE PERNAMBUCO, de
30 de abril de 1933. In Ob. Cit., p. 110.

48
As primeiras leis pós-1930

BRASIL – ESTADOS, ELEITORADO, COEFICIENTE, CADEIRAS E Nº DE


CANDIDATOS À ASSEMBLEIA NACIONAL CONSTITUINTE DE 1933

ESTADO ELEITORES %ELEITORAL CADEIRAS CANDIDATOS

SP 534.487 20,15% 22 95
MG 530.654 20,01% 37 135
RS 322.214 12,15% 17 28
BA 185.483 6,99% 22 31
RJ 158.574 5,98% 17 180
DF 136.085 5,13% 10 150
PE 122.849 4,63% 17 26
SC 88.830 3,35% 04 09
CE 73.500 2,77% 10 31
PR 64.208 2,42% 04 07
ES 51.994 1,96% 04 04
PB 51.415 1,94% 05 08
RN 47.402 1,79% 04 07
PA 46.774 1,76% 07 22
MA 45.658 1,72% 06 22
SE 45.657 1,72% 04 14
PI 40.959 1,54% 04 11
AL 34.960 1,31% 06 06
GO 33.691 1,27% 04 04
MT 21.888 0,83% 04 04
AM 9.884 0,37% 04 05
AC 5.130 0,19% 02 03
TOTAL 2.652.096 100,00 214 802

Uma das promessas de campanha da Aliança Liberal, (motivo


maior da empolgação das campanhas civilistas lideradas por Rui Barbosa e
aspiração dos grandes centros urbanos, onde havia uma maior participação

49
A BAGACEIRA, Eleitoral

política da população), o voto secreto permitiu que a oposição, na maioria


das vezes, lograsse êxito nas urnas. Todavia,

(...) de um modo geral, tanto nas cidades quanto nas zonas


rurais, onde se encontrava o grosso do eleitorado, o voto
continuou tão pouco secreto quanto fora na Primeira República
e durantes os velhos tempos imperiais.7

Segundo Martha Falcão, as mudanças institucionais implementadas


pelos revolucionários de 1930 foram insu icientes para puri icação do
processo eleitoral brasileiro. Com razão. Sem empreender mudanças de
base na sociedade brasileira, o campo icou fértil para a sobrevivência da
estrutura oligárquica, fundada na política clientelística, o que signi icou que,

O voto continua como instrumento de barganha. As causas


geradoras das desigualdades sociais no Nordeste, continuam,
com o domínio dos coronéis nos vastos latifúndios e o seu total
controle sobre a massa eleitoral votante.8

José Américo de Almeida, principal líder da “Revolução” na


Parahyba, posteriormente reconheceu a repetição das mazelas do nosso
sistema representativo, mesmo após os fatos de 1930:

Restabeleceu-se o antigo mandonismo, o voto dependente do


chefe municipal e seus vícios do passado. A democracia não se
depurou. Uma vez eu disse, sobre Getúlio, que um dos males
da revolução foi um problema do centro, que não promoveu as
reformas de que o Brasil precisava naquele momento.9

7 Consuelo Novais Sampaio apud Martha Falcão, in PODER E INTERVENÇÃO ESTATAL


PARAÍBA – 1930-1940. João Pessoa: Ed. Universitária/UFPB, 2000, p. 106.
8 Simone de Sousa apud Martha Falcão, in Ob. Cit., p. 111.
9 Aspásia Camargo, Eduardo Raposo e Sérgio Flaksman, in Ob. Cit., p. 245.

50
As primeiras leis pós-1930

Para a ala radical dos Tenentes – principalmente o segundo


Interventor da Parahyba, Anthenor Navarro, que defendia reformas mais
profundas e radicais - a revisão das leis eleitorais e da justiça, além da adoção
de um novo sistema tributário, não passavam de maquiagens institucionais
com o objetivo de favorecer a classe dominante.10
Diante dessas opiniões, conclui-se que as alterações legislativas
ocorridas a partir de 1930 não foram acompanhadas de mudanças
estruturais de cunho político e social necessárias para modi icar a estrutura
do poder político na Parahyba.

A Constituição Federal de 1934

A Constituição Federal de 1934 deu competência privativa à União


para organizar o processo das eleições em todos os níveis – federal, estadual
e municipal - realizar o alistamento eleitoral; ixar datas das eleições,
quando não ixadas na Constituição; conceder hábeas corpus e mandado
de segurança em matéria eleitoral; apurar os votos e proclamar os eleitos;
processar e julgar os crimes eleitorais e os comuns que lhes forem conexos;
decretar a perda de mandato legislativo, nos casos ixados na Constituição.

Os Direitos Políticos na Constituição Estadual de 1935

Nos termos do art. 13 da Constituição Estadual de 10 de maio


de 1935, o poder legislativo estadual (Assembleia Legislativa) deveria ser
composto de trinta representantes - eleitos diretamente pelo povo eleitos
mediante o sistema proporcional, pelo sufrágio universal, igual e secreto
- e mais seis representantes eleitos de forma indireta pelas associações

10 Eliete Gurjão, in Morte e Vida das Oligarquias – Paraíba (1889-1945). João Pessoa: Ed.
Universitária/UFPB, 1994, p. 118.

51
A BAGACEIRA, Eleitoral

pro issionais, dentre quatro categorias, sendo três dos setores produtivos da
sociedade (setor 1: indústria, lavoura e pecuária; 2: comércio e transportes
e setor 3: pro issionais liberais) e, por último, a categoria dos funcionários
públicos.
Cada uma das classes dos pro issionais liberais e dos funcionários
públicos seriam representadas por um deputado, , enquanto que as outras
duas classes - indústria, lavoura e pecuária e comércio e transportes - seriam
representadas por dois deputados, sendo um deles representante das
associações de empregados e outro das de empregadores.
As condições de elegibilidade para a Assembleia Legislativa
do Estado eram as seguintes: a nacionalidade nata, a maioridade de
vinte e um anos, o alistamento eleitoral e o gozo dos direitos políticos.
Aos representantes classistas, acrescentou-se a exigência de pertencer à
associação da respectiva classe e ao grupo que o escolheria.
Eram considerados inelegíveis para a Assembleia Legislativa o
governador de estado e seus secretários, inclusive o chefe de polícia (hoje,
secretário de segurança); o comandante da Região Militar, os comandantes
dos batalhões e corpos do Exército em exercício no Estado bem como os
o iciais da Polícia Militar; os membros do poder judiciário e os do Ministério
Público, além do Procurador Geral do Estado; os parentes até o terceiro grau,
incluindo-se os a ins, do governador do Estado, exceto se já tiverem exercido
o mandato ou foram eleitos simultaneamente com ele. Essas inelegibilidades
permaneceriam até um ano após a cessação de initiva do exercício dos
respectivos cargos.
A perda de mandato de Deputado Estadual ocorreria se o eleitor
viesse a aceitar cargo em comissão ou emprego público remunerado; viesse
a ser diretor, proprietário ou sócio de empresa bene iciada com privilégio,
isenção ou favor, em virtude de contrato com a administração pública; a
ocupação de cargo público que fosse demissível ad nutum; acumulação de
mandato com outro de caráter legislativo federal, estadual ou municipal

52
As primeiras leis pós-1930

e o patrocínio de causas contra a União, o Estado e os Municípios. A perda


de mandato por um desses motivos deveria ser comunicada ao Tribunal de
Justiça Eleitoral.
Havendo perda do mandato, renúncia ou morte do deputado
estadual, o cargo seria declarado vago e o suplente seria convocado,
conforme a lei eleitoral. Caso não houvesse suplente, seria feita uma nova
eleição, exceto se faltassem menos de três meses para o encerramento da
última sessão da legislatura.
Quanto à eleição para o cargo de governador do estado, o art. 44
da Constituição paraibana vedava expressamente a reeleição e a eleição far-
se-ia por sufrágio universal, direto e secreto e por maioria de votos e deveria
ser realizada no prazo de cento e vinte dias antes do im do mandato anterior
ou sessenta dias após aberta a vaga. As condições de elegibilidade para o
cargo de governador eram a nacionalidade nata, o alistamento eleitoral, a
idade mínima de trinta anos e o gozo dos direitos políticos.
O mesmo dispositivo legal supramencionado previa as hipóteses
de inelegibilidade para o cargo de governador: as pessoas indicadas nos
números 1 e 2 do art. 112 da Constituição Federal e os substitutos eventuais
do governador do estado, que tenham exercido o cargo, por qualquer tempo,
dentro dos quatro meses anteriores à eleição. Passados trinta dias para a
posse, se o governador não houvesse assumido o cargo sem causa justi icada,
a Assembleia Legislativa declararia vago o cargo e deveria comunicar ao
Tribunal Regional de Justiça Eleitoral, para que providenciasse, na forma da
lei, sobre a nova eleição.
O deputado estadual, o deputado federal ou senador que fosse
eleito governador de estado deveria renunciar ao mandato de parlamentar
para assumir o cargo majoritário.
As condições de elegibilidade para os cargos de prefeito e de
vereador também constaram naquela Constituição paraibana de 1935: a
naturalidade brasileira e a maioridade de vinte e um anos; o alistamento

53
A BAGACEIRA, Eleitoral

eleitoral; o gozo dos direitos políticos e não incorrer em alguma


incompatibilidade legal. As hipóteses de inelegibilidades para os referidos
cargos eram os mesmos previstos para os candidatos a deputados da
Assembleia Legislativa, além dos enumerados no art. 112 da Constituição da
República.
O mandato de vereador era gratuito e ocorrendo a vaga de prefeito
até três anos após o início de sua função deveria ser feita uma nova eleição.
Ocorrendo impedimento, falta, licença ou ocorrendo vaga depois de três
anos, contados do início do mandato, seriam ser chamados sucessivamente
a ocupar o cargo de prefeito, o presidente da câmara municipal e os seus
substitutos eventuais.
A escolha para governador de estado era direta e a Constituição
vedava a reeleição do governador. A eleição para o governo do estado deveria
ocorrer 120 dias antes do im do mandato ou 60 dias após aberta a vaga. As
condições de elegibilidade para o cargo eram: a nacionalidade originária, o
alistamento eleitoral, ter mais de 30 anos de idade e estar na plenitude dos
seus direitos políticos.
As pessoas indicadas no art. 112, nºs 1 e 2 da Constituição Federal
e os substitutos eventuais do governador que tenham exercido o cargo, por
qualquer período, dentro dos 4 meses antes da eleição eram consideradas
inelegíveis para o cargo de governador.
Se o governador não assumisse o cargo, sem causa justa, dentro do
prazo de 30 dias, a Assembleia Legislativa o declararia vago e comunicaria
ao Tribunal de Justiça Eleitoral para providenciar nova eleição.
O mandato do governador era de quatro anos.
Quanto aos prefeitos, seriam nomeados os da capital e nos
municípios que possuíssem instâncias hidro-minerais, pelo governador do
Estado. Nos demais casos, seriam eleitos diretamente pelo voto popular. A lei
de organização municipal deveria determinar os municípios cujas câmaras
comportariam representação obrigatória das classes pro issionais.

54
As primeiras leis pós-1930

A Constituição da Parahyba de 1935 trouxe também as condições


de elegibilidade para os cargos de prefeito e vereador: ser brasileiro nato;
ser maior de 21 anos; ser eleitor; estar na plenitude dos direitos políticos e
não estar incurso em incompatibilidade legal.
As inelegibilidades para os aludidos cargos eram os mesmos
fixados para os deputados da Assembleia Legislativa, além dos
indicados no nº 3 do art. 112 da Constituição Federal. Ocorrendo a vaga
de prefeito, até 3 anos após o início de uma função, far-se-ia uma nova
eleição.
Os deputados seriam eleitos pelo sistema proporcional e pelo
sufrágio universal, igual, direto e secreto. A eleição de deputados oriundos
das pro issões deveria ocorrer por sufrágio indireto das associações
pro issionais, originados das seguintes categorias:

Categoria nº de representantes

Indústria, lavoura e pecuária 2 deputados por categoria


Comércio e transportes 2 deputados por categoria
Pro issões liberais e funcionários
Públicos 1 deputado por categoria

Para ser deputado da Assembleia Legislativa, o candidato teria que


ser brasileiro nato, ser maior de 21 anos e estar no pleno gozo dos direitos
políticos.
Os representantes das pro issões só eram elegíveis se estivessem
iliados a uma associação de classe.
A Carta estadual considerava inelegíveis para a Assembleia
Legislativa o governador de estado e seus secretários, incluindo-se o chefe
de polícia; o comandante da Região Militar; os comandantes dos batalhões
do Exército e os o iciais da Polícia Militar; os membros do Poder Judiciário e
do Ministério Público, inclusive o Procurador Geral do Estado e os parentes

55
A BAGACEIRA, Eleitoral

do governador do estado, consanguíneos ou a ins, até o 5º grau, salvo se já


tivessem exercido o mandato, ou forem eleitos simultaneamente com ele.
Essas inelegibilidades permaneceriam até um ano depois da
cessação de initiva do exercício dos respectivos cargos e previa uma nova
eleição, em caso de vacância ou perda do mandato, motivado por renúncia
ou morte do deputado e, não havendo suplente, se faria eleição, desde que
não faltasse menos de 3 anos para encerrar o mandato do cargo vago.
A Constituição do Estado de 1935 estendia a imunidade formal ao
deputado suplente mais votado, desde a expedição do diploma.

56
CAPÍTULO IV

A rápida vigência do
Código Eleitoral de 1935

“Os sucessos políticos não permitiram,


todavia, que se travasse melhor conhecimento
com esse Código de 1935, que não chegou a
aplicar-se a nenhuma eleição federal. Pode-
se dizer que morreu virgem. E quando foram
restaurados os comícios eleitorais, não se
revigorou o Código de 1935. Preferiu-se
promulgar novo texto legal, que foi o Decreto-
Lei nº 7.586, de 28 de maio de 1945.” (Aliomar
Baleeiro e Barbosa Lima Sobrinho)*1

* Aliomar Baleeiro e Barbosa Lima Sobrinho, In Constituições Brasileiras: 1946. Ed. Senado
Federal, 2001, p. 48.

57
A BAGACEIRA, Eleitoral

A
pós a Constituição de 1934, teve advento o segundo Código Eleitoral
– Lei nº 48, de 04 de maio de 1935 - integrado de 217 dispositivos
que desdobravam os 144 artigos do primeiro Código Eleitoral,
ao qual lhe trouxe muitas alterações, dentre as quais se destacaram: a
ampliação da competência dos tribunais eleitorais; maior relevância dada às
juntas apuradoras dos pleitos municipais; a função atribuída ao Ministério
Público Eleitoral; a extinção da quali icação ex ofϔicio; a eliminação do voto
avulso e a mudança no critério de apuração e do aproveitamento de sobras
que passavam a ser distribuídas pelo sistema de maior média, alterando
assim o sistema de representação proporcional.
O fato de o segundo Código Eleitoral haver surgido pouco tempo
após o primeiro, retrata o reformismo que moldou a legislação eleitoral
daquele período sem que signi icasse em reformas progressistas, com o
objetivo de impedir a corrupção, posto que esse novo Código resultou,

(...) das pressões e críticas das facções oligárquicas, com


assento no Congresso Nacional, mas adaptado às condições
de uma sociedade oligárquica, como continuava sendo a
brasileira.1

Isso explica o motivo porque o primeiro Código Eleitoral, de 1932,


teve pouca duração, pois, ao contrário das alterações anteriores,

as leis e regulamentações que se seguiram ao Código de 32,


constituíram um retorno ao passado, arrefecendo o ímpeto
normativo dos primeiros anos do novo regime e ampliando a
distância entre a lei e a realidade social.2

1 Martha Falcão, in Ob. Cit., p. 109.


2 Idem.

58
CAPÍTULO V

Origens da justiça
eleitoral na Parahyba

“Visitando tôdas as secções eleitorais, tive a


impressão da vitória. A Capital em que nasci,
a minha gloriosa Capital, não me negava.
Os adversários adquiriam, desde cedo,
a consciência da derrota. O vasio da sua
popularidade impressionava-os.
Repousava a nossa conϔiança, depois do
pleito, na Justiça Eleitoral.
Esta se conduziu com dignidade. Iniciaram-se
os trabalhos.” (Antônio Bôtto de Menezes)* 1

* Antônio Bôtto de Menezes. In Minha Terra – Memórias e Conϐissões. João Pessoa: Grá ica
Santa Marta, 1992, p. 209/210.

59
A BAGACEIRA, Eleitoral

A
reforma de 1926 incluiu na Constituição Federal o §5º do art.
60, proibindo a utilização de qualquer ação judicial em relação à
veri icação de poderes, reconhecimento, posse, legitimidade e perda
de mandatos dos integrantes do poder legislativo ou executivo dos níveis
federal ou estadual. Por outro lado, autorizava de forma expressa recurso
ao poder judiciário no caso de reconhecimento de poderes dos membros do
Poder Legislativo, vedando tal medida para o Poder Executivo.
Até 1930, a administração do processo eleitoral brasileiro
pertencia às próprias Casas Legislativas, através das Comissões de Veri icação
de Poderes.1 A experiência eleitoral brasileira até essa fase demonstrou as
mazelas desse modelo: eleições à bico de pena durante a votação, fraudes na
apuração e depuração na fase de con irmação dos diplomas dos eleitos.
Como forma de, senão acabar, mas ao menos diminuir as fraudes
eleitorais, os reformadores de 1930 buscaram no Direito Eleitoral alienígena
fórmulas que garantissem a legitimidade da representação popular
expressa nas urnas. A adoção do sistema judicial de controle da eleição foi
considerada como a saída para extirpar os males do modelo superado.
É óbvio que os reformadores de 1932 encontraram vozes
resistentes na sociedade brasileira contra a entrega do processo eleitoral à
magistratura:

Ainda em 1931, num opúsculo intitulado Reconhecimento


de poderes, Eurico Sodré, depois de sustentar que todas
as legislações, inclusive as da Inglaterra e da Alemanha, ou

1 A Constituição Republicana de 1891 copiou o modelo inglês que, após a Revolução


Gloriosa de 1688, consagrou como princípio o direito das Câmaras de veri icar os poderes
dos que teriam assento no Parlamento; de igual modo, o artigo primeiro da Constituição
norte-americana de 1787 sedimentou o princípio. Analisando o modelo brasileiro com
o Direito Comparado na América Latina, Maria Teresa Sadek ensina que “A rigor, o único
caso tipicamente não-político ou puramente jurisdicional é o da Costa Rica. Em situações
intermediárias, mas com tendência a um perϔil jurisdicional há a Argentina, o Brasil e o Chile.”
Maria Tereza Sadek. “A Administração do Processo Eleitoral.” In Cem Anos de Eleições
Presidenciais, Textos IDESP, 1990.

60
Origens da justiça eleitoral na Parahyba

davam ao Congresso autoridade para julgar em de initivo os


pleitos eleitorais, ou lhes conferiam a atribuição de colaborar
com o Judiciário, compondo com eles os tribunais de
reconhecimento, concluía propondo que se constituísse, para
o caso de contestação, um tribunal arbitral dentro do próprio
Legislativo.2

Os órgãos do poder judiciário eleitoral foram criados antes mesmo


da Constituição Federal de 1934. O Código Eleitoral de 1932 deu-lhes vida.
O Tribunal Superior de Justiça Eleitoral, os Tribunais de Justiça Eleitoral e
os Juízes Eleitorais começariam a tomar conta das eleições, objetivando
depurar o já viciado processo eleitoral brasileiro. Não havia, portanto, a
previsão de Juntas Eleitorais. Dessa forma,

O voto secreto protegia o eleitor das pressões dos caciques


políticos; a Justiça Eleitoral colocava nas mãos de juízes
pro issionais a iscalização do alistamento, da votação, da
apuração dos votos e o reconhecimento dos eleitos.3

Além da instituição da Justiça Eleitoral, o primeiro Código Eleitoral


trouxe como novidade a competência do Tribunal Superior para ixar normas
uniformes para a aplicação das leis e regulamentos eleitorais, através da
expedição de Instruções, expressando a função regulamentar daquele órgão
superior para expedir atos normativos com força de lei.
Ressaltando o aspecto positivo da legislação brasileira de
haver adotado o sistema jurisdicional de controle do processo eleitoral,
argumentou Victor Nunes Leal:

É, sem dúvida, a solução que representa menores


inconvenientes políticos, porque o judiciário, ao menos em
princípio (norma que, infelizmente, nem sempre é respeitada),
‘julga pelo alegado e provado e, consequentemente, as suas

2 Aliomar Baleeiro e Barbosa Lima Sobrinho, in Ob. Cit., p. 45.


3 José Murilo de Carvalho, in Ob. Cit., p. 101.

61
A BAGACEIRA, Eleitoral

decisões não podem ser contrárias ao que manifestou querer


o município nas suas eleições’, segundo as palavras de Pedro
Lessa.4

Na Parahyba, a Justiça Eleitoral nasceu composta pelos Juízes


Eleitorais e pelo Tribunal Regional de Justiça Eleitoral. Este último
começou a funcionar a partir de 24 de julho de 1932 e seu primeiro
presidente foi o desembargador Paulo Hipácio, que o dirigiu até 19 de
maio de 1937.5
O primeiro procurador a atuar junto ao Tribunal foi Sabiniano
Alves do Rego Maia, nomeado em 26 de setembro de 1934, pelo então
presidente, Getúlio Vargas. Coube-lhe exercer a função até o dia 10 de
outubro de 1937, ano em que a Justiça Eleitoral foi extinta em razão da
implantação do Estado-Novo varguista.
O primeiro secretário judiciário do Tribunal Regional da Justiça
Eleitoral foi Joaquim Correa de Sá e Benevides e o primeiro Diretor de sua
secretaria foi o Bel. Carlos Belo Filho.
De acordo com registros de Sabiniano Maia, podemos citar alguns
dos primeiros funcionários do Tribunal Eleitoral, além do seu diretor e
secretário: Auta Pessoa de Figueiredo, Miosótis Costa, Matilde Sá, Adalberto
de Castro, Antônio Santos Coelho, Luiz Ramazoto, Antônio Pereira de Castro,
Ademar Ataíde e Francisco da Silva.
A partir da Constituição Federal de 1934, legitimadora do poder
que se instalara com o Movimento Tenentista de 1930, a atividade político-
partidária dos membros do Poder Judiciário foi expressamente proibida em
seu artigo 66. A Parahyba, antes dessa vedação constitucional, era o Estado

4 In Coronelismo, Enxada e Voto – o município e o regime representativo no Brasil. Rio


de Janeiro: Ed. Nova Fronteira, 1997, 2ª ed., p. 152.
5 Deusdedit Leitão, in HISTÓRIA DO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DA PARAÍBA. João Pessoa: A
UNIÃO EDITORA, 1991, 3ª ed., p. 176.

62
Origens da justiça eleitoral na Parahyba

da federação onde os juízes mais incursaram na arena política.6 Um dos


exemplos foi o desembargador Caldas Brandão que, em 1917, quase que não
foi nomeado pelo presidente Wenceslau Braz para suceder a Venâncio Neiva
no Juizado Federal, como registra Oswaldo Trigueiro de Albuquerque Mello:

Classi icado, em primeiro lugar, no concurso realizado


perante o Supremo Tribunal, o Presidente da República
relutou em nomeá-lo, ante a informação de que ele presidira
a Convenção partidária que, em 1912, indicou Castro Pinto
para a presidência do Estado. Sem a energia interferência de
Epitácio Pessoa, Caldas Brandão não teria obtido o cargo que
tanto honrou.7

O Tribunal de Justiça Eleitoral da Parahyba iniciou suas atividades


composto de seis membros efetivos e seis substitutos, sendo presidido pelo
vice-presidente do Tribunal de Justiça local e integrado por um juiz federal,
dois membros sorteados do Tribunal de Justiça local e outros dois juízes de
livre escolha do chefe do Governo Provisório, dentre 12 cidadãos indicados
pelo Tribunal de Justiça local.
Entre 1934 e 1937, atuaram no Tribunal de Justiça Eleitoral da
Parahyba, dentre outros magistrados, os juízes Flodoardo Lima da Silveira,
Antônio Guedes, José Flóscolo da Nóbrega, Maurício Furtado, Horácio de

6 Naquele tempo, as paixões partidárias não excluíam nem mesmo a magistratura. Alguns
juízes da Parahyba, quando não se lançavam candidatos em alguns pleitos, juntavam-se ao
chefe político local para auxiliar nas fraudes eleitorais.
7 In Centenário do Desembargador Heráclito Cavalcanti Carneiro Monteiro. Discurso
pronunciado no IHGPB, 1972. Venâncio Neiva, José Peregrino de Araújo, João Suassuna
e João Pessoa foram presidentes do Estado; Antônio Massa e Pedro Bandeira foram vice-
presidentes da Parahyba; Francisco Montenegro, Heráclito Cavalcanti, Inácio Brito,
Geminiano Jurema, João Gaudêncio, Sizenando de Oliveira, Pereira Gomes e João Minervino
de Almeida foram exemplos de chefes políticos locais oriundos da magistratura. Epitácio
Pessoa, embora não tenha governado a Parahyba, exerceu a atividade político-partidária
quando esteve no Supremo Tribunal Federal e até durante o exercício da judicatura na Corte
Permanente de Justiça Internacional, em Haia.

63
A BAGACEIRA, Eleitoral

Almeida e Braz Baracuhy, sendo Sabiniano Maia o seu único Procurador


Regional, nesse período.
Dentre as várias atribuições da Corte estadual eleitoral destaque-
se a competência para processar e julgar a ação penal para apuração de
crimes eleitorais bem como a legitimidade do procurador regional eleitoral e
de qualquer cidadão para propô-la.
Nas eleições de 1934, o Tribunal de Justiça Eleitoral da Parahyba
teve destacada atuação em defesa das salvaguardas eleitorais. O Partido
Republicano Libertador, liderado pelo combativo advogado Antônio Botto de
Menezes precisou bater as portas do Tribunal várias vezes, em defesa de seu
direito de realizar comícios nos dias de feiras nas cidades e vilas do estado.
Proibido pelo Diretor da Segurança Pública do Estado, (obviamente
com o intuito de bene iciar o candidato o icial), Antônio Botto de Menezes
impetrou Habeas Corpus (que o Tribunal conheceu como Mandado de
Segurança), cuja relatoria coube a Horácio de Almeida. Demonstrando
altivez, a Corte Eleitoral paraibana garantiu o direito de realização de
propaganda eleitoral, conforme registra o próprio impetrante, Antônio Botto
de Menezes, em suas memórias:
Relativamente ao último ponto articulado na inicial, isto é,
quanto à proibição de comícios, em dias de feira, ponderou
o dr. Secretário da Segurança Pública que, nesses dias, se
reúne nas localidades do interior do Estado, gente de todas as
camadas sociais, promiscuamente, no trato de seus negócios,
sendo o comício, em tal caso, um motivo de perturbação à vida
normal, com evidente prejuízo do comércio, que determinou a
proibição como medida preventiva.
Julgando-se o Partido Republicano Libertador impedido de
exercer um direito que lhe é assegurado pela Constituição
Federal, qual seja o de promover, na praça pública, em
qualquer dia, reuniões para defesa e propaganda de seu
credo doutrinário e político, requereu, por seu representante
legal, dr. Antônio Botto de Menezes, membro de seu diretório
central, e candidato à deputação federal, o presente mandado
de segurança.

64
Origens da justiça eleitoral na Parahyba

Isto posto, e considerando, preliminarmente, que o caso é


de mandado de segurança, instituto de direito adotado pela
Constituição Federal, recentemente promulgada, que se
destina a assegurar a defesa de direito, certo e incontestável,
ameaçado ou violado por ato manifestamente inconstitucional
ou ilegal de qualquer autoridade;

Considerando que o dia de feira, nas cidades, vilas e povoações


do interior, sempre foi preferido pelas caravanas para
movimento de propaganda partidária, dada a quietude da
vida social, nos demais dias, quietude que resulta da escassez
de população na grande maioria desses lugares. Em muito
deles, a proibição de comícios, em dias de feira, equivale em
proibição, para qualquer da semana, tal é a falta de densidade
na população da sede, menor que na praça João Pessoa e Vidal
de Negreiros: pregar no deserto;

Recorrendo ao mais precioso repositório doutrinário sobre


o hábeas corpus, a obra “Do Poder Judiciário”, desse grande
sábio Pedro Lessa, disse eu que julgava o caso de mandado de
segurança, e não de hábeas corpus. Acentuei, que, na espécie
então ajuizada, não se achava em jogo a liberdade pessoal,
a liberdade individual ou ísica, no seu sentido estrito de
liberdade de ir e vir.

A polícia, com a sua medida inconstitucional, não objetiva,


direta e precisamente, essa liberdade.

O dr. Antônio Botto, qualquer de seus correligionários, ou


quem quer que fosse, aliado a esse ou aquele partido, ou
mesmo candidato avulso, ninguém está proibido de ir às feiras,
fazer, individualmente, a propaganda política.

Esta liberdade ísica não se achava ameaçada ou tolhida.


O que não permitiam aos agentes do Poder Público, e isso
indistintamente, era que se exercitasse o direito de reunião
na praça pública. O que a Diretoria da Segurança Pública não
consentia era que se izessem ‘meetings’ em dias de feira.

Vê-se, pois, que não era propriamente a liberdade de


locomoção que se achava atingida pelo abuso de poder: era o
direito constitucional, assegurado a todos, de se reunirem sem
armas, sem obstáculos, por partes das autoridades;

65
A BAGACEIRA, Eleitoral

Considerando que a ordem emanada da Diretoria da Segurança


Pública, além de exorbitante, é infringente da Constituição
Federal;

Acordam, por tais razões, os juízes deste Tribunal Regional de


Justiça Eleitoral, por unanimidade, em conceder o mandado
de segurança impetrado pelo Partido Republicano Libertador,
a im de que possa este realizar comícios políticos nos dias de
feira, em qualquer localidade do interior do Estado, avisando
previamente à Polícia, para que esta assegure a ordem pública,
tornada assim sem nenhum efeito a proibição da Diretoria
da Segurança Pública que deu causa a este mandado de
segurança.

Tribunal Regional de Justiça Eleitoral, em 29 de setembro de


1934. – (ass.) Paulo Hipácio da Silva, Presidente. – Horácio de
Almeida, relator.8

Durante a Primeira República (1889-1930), Epitácio Pessoa não


acreditava que a oposição tivesse alguma possibilidade de chegar ao poder
através das eleições como, de fato, ocorreu. O surgimento da Justiça Eleitoral
trouxe essa esperança às novas gerações. Na eleição de 1934, Antônio Botto
de Menezes, líder do partido oposicionista, assim registrou a sua expectativa
em relação à Justiça Eleitoral:

(...)Visitando todas as nossas secções eleitorais, tive a


impressão da vitória. A Capital em que nasci, a minha gloriosa
Capital, não me negava. Os adversários adquiriam, desde
cedo, a consciência da derrota. O vasio da popularidade,
impressionava-os.
Repousava a nossa con iança, depois do pleito, na Justiça
Eleitoral.
Esta se conduziu com dignidade. Iniciaram-se os trabalhos.
O povo invadiu a sala da apuração; a abertura das urnas
aumentava a ânsia dos presentes...

8 Antônio Bôtto de Menezes. In Minha Terra – Memórias e Conϐissões. João Pessoa: Grá ica
Santa Marta, 1992, pp. 189-190.

66
Origens da justiça eleitoral na Parahyba

Prosseguiram os trabalhos eleitorais, e, em todas as secções, os


libertadores obtiveram votações signi icativas.9

Com efeito. As expectativas do líder oposicionista em relação


à Justiça Eleitoral na Parahyba se con irmaram nas urnas. Ele foi o único
candidato oposicionista eleito para a Câmara Federal.
Não obstante esse depoimento favorável à atuação da Justiça
Eleitoral em nosso Estado, a continuidade de fraudes e de corrupção nas
eleições da Parahyba continuou mesmo após 1930, diante da precária
implementação da nova legislação eleitoral.
Além do mais, embora o Código Eleitoral de 1932 estivesse voltado
para impedir o retorno das oligarquias ao cenário político-eleitoral, essa
mesma legislação deu margem para que juízes eleitorais, manipulando-a
de acordo com os seus interesses, favorecessem a corrente política de sua
preferência, através da composição das mesas eleitorais, nomeando pessoas
ligadas aos partidos políticos que, no dia da eleição, certamente iriam
orientar os seus eleitores:

Fatos dessa natureza ocorreram nas eleições de outubro


de 1934, na Paraíba, onde, nos municípios de oposição ao
governo, como Itabaiana, Umbuzeiro e Patos, os perrelistas
denunciaram a formação de mesas partidárias por parte dos
juízes das respectivas comarcas, objetivando o bene ício do
situacionismo.10

O Tribunal de Justiça Eleitoral diplomou os eleitos em sessão


ocorrida no dia 10 de janeiro de 1935. Foi a primeira diplomação realizada
por um órgão da Justiça Eleitoral no Estado após entrar em vigor o primeiro
Código Eleitoral Brasileiro. Os candidatos diplomados foram: Aluísio

9 Antônio Bôtto de Menezes. In Ob. Cit., p. 209-210.


10 Annaes das sessões de 9 e 12 de maio de 1935 da Assembleia Estadual, nas quais os
deputados Ernany Sátiro e Fernando Pessoa denunciaram as irregularidades em Patos e
Itabaiana, relativas ao pleito de 1934. (Martha Falcão, in Ob. Cit., p. 107).

67
A BAGACEIRA, Eleitoral

Campos; Heretiano Zenaide; Irineu Jof ily; João Vasconcelos; José Pereira
Lira; José Tavares; Manuel Veloso Borges; Odon Bezerra; Otávio Amorim e
Raimundo Viana.
A sessão de instalação da Assembleia Legislativa do Estado, em
1935, foi presidida pelo então desembargador-presidente do Tribunal
Regional Eleitoral, Paulo Hipácio. Um dia após, houve a sessão para eleger os
membros da Mesa Diretora e das Comissões Permanentes e a eleição indireta
do governador, de um senador e de dois suplentes, pela mesma Assembleia.

A atuação da Justiça Eleitoral paraibana entre 1934 e 1937

Sabiniano Maia, o primeiro Procurador Regional de Justiça


Eleitoral nomeado por Getúlio Vargas para atuar no Tribunal, registrou em
livro a sua atuação junto ao órgão entre 1934 e 1937. Os seus pareceres
exarados naquela Corte constituem ricas fontes para os que se interessam
pela evolução histórica da Justiça Eleitoral da Parahyba.
Das referidas manifestações do Procurador Regional bem como do
ato de sua nomeação pelo Governo Provisório, depreende-se que o Tribunal
de Justiça Eleitoral só começou a funcionar a partir de 1934 e atuou até 10
de novembro de 1937, data em que houve o golpe getulista e a extinção da
Justiça Eleitoral, haja vista a decretação de fechamento de todas as Casas
Legislativas – Congresso Nacional, Assembleias Legislativas e Câmaras
Municipais.
Infere-se também dos pareceres de Sabiniano Maia que diversas
inscrições de eleitores considerados analfabetos foram impugnadas, o que
demonstra, desde essa época, a di iculdade da Justiça Eleitoral em ixar um
critério objetivo que classi ique o eleitor como analfabeto, fato que se repete
até os dias de hoje.
Nas eleições de 1934, o Tribunal de Justiça Eleitoral recebeu
inúmeros pedidos de anulação de votação motivada pela violação de urnas

68
Origens da justiça eleitoral na Parahyba

em várias cidades do estado, principalmente nos municípios do interior:


Araçagi, Bananeiras, Campina Grande, Guarabira, Itabaiana, Patos, São João
do Cariri, Souza, Taperoá e Teixeira.
Nas eleições de 1935, houve a impugnação do registro de
candidaturas de vários representantes classistas, a exemplo do professor
Sizenando Costa, representante da Sociedade de Professores Primários
da Paraíba, sob a alegação de que a referida entidade era uma sociedade
de classe sem a preocupação de exercício funcional. Segundo o parecer, o
referido candidato estava impossibilitado de concorrer às eleições classistas
pelo grupo dos Funcionários Públicos, mas apto a concorrer pelo Grupo de
Pro issionais Liberais.
De igual modo, foi impugnada no Tribunal de Justiça Eleitoral
da Parahyba a eleição de 19 de julho de 1935, realizada pela Sociedade
de Funcionários Públicos da Capital do Estado, com o im de eleger o seu
representante classista.
Outro fato que merece registro era a jurisprudência do Tribunal
Superior de Justiça Eleitoral aplicada pelo Tribunal Eleitoral local acerca dos
ilícitos eleitorais, que eram considerados crimes políticos. Assim, todos os
delitos eleitorais cometidos nas eleições de 1933 foram anistiados pelo art.
19 das Disposições Transitórias da Constituição Federal de 1934.
A jurisprudência do Tribunal Superior de Justiça Eleitoral, à época,
admitia a alteração na classi icação do Delegado-Eleitor, com o im de evitar
a eleição de um deputado representante de uma classe à qual não pertencia.
Outros candidatos classistas sofreram impugnação no Tribunal
local, dentre os quais o Delegado Eleitoral da Sociedade de Funcionários
Públicos da Capital e o representante da Associação dos Empregados do
Comércio de Campina Grande.
Dos vários processos que o Tribunal de Justiça Eleitoral julgou
relativo àquele pleito, destaca-se o Habeas Corpus impetrado pelo bacharel
Salviano Leite Rolim em favor de eleitores do Piancó. Segundo o impetrante,

69
A BAGACEIRA, Eleitoral

os eleitores estavam sendo alvos de “agressões injuriosas, prisões ilegais,


desacato, desarmamentos injusti icáveis, ameças de surras e outras
represálias contra quem votar na chapa União Piancoense”.11
Na eleição municipal de 1935 ocorreu um desentendimento entre
o então juiz eleitoral de Patos, Manoel Maia e o prefeito Adelgício Olinto. A
sizânia foi parar no Tribunal.
Segundo a versão da Procuradoria Regional, com base nas provas dos
autos, a autoridade judiciária havia marcado a posse do prefeito eleito, Clóvis
Sátiro, mas o prefeito em exercício havia lhe comunicado que não passaria o cargo.
A amizade entre o Delegado de Policia e o prefeito di icultava o
uso de força policial e o cumprimento da determinação judicial, o que levou
o magistrado a comunicar o fato ao Tribunal.
O desentendimento entre as autoridades locais, conforme se extrai
do parecer ministerial, revela o abuso de poder praticado por ambas, tão
comum naqueles tempos e nos dias de hoje:

(...) Se o o ício em que o Sr. Adelgício comunicara ao Juiz a sua


resolução de só passar o exercício às 17 horas, era grosseiro
e indelicado, aí estavam as conversações dos interessados,
desfazendo a indelicadeza.
Parece mesmo que Adelgício julgou que não foi feliz no seu
modo de se dirigir ao Juiz, e, como que uma reparação ou
melhor, uma reti icação ao seu o ício, mandou o seu secretário
Dr. Jader dos Santos Lima pessoalmente solicitar ao Juiz, a
desejada transferência ( ls. 33).
Veio o Secretário, mas, o Juiz somente transferiria a hora de
posse se o próprio Prefeito viesse em pessoa, entender com
Ele. ( ls. 19v)
Donde se vê que, se capricho houve, foi de lado a lado.
(...)12

11 Sabiniano A. R. Maia, in Tribunal Regional de Justiça Eleitoral da Paraíba. PARECERES


1934 – 1935 -1936 – 1937. João Pessoa: 1984, p. 73.
12 Sabiniano A. R. Maia, in Ob. Cit., p. 90.

70
Origens da justiça eleitoral na Parahyba

Ainda em relação às eleições municipais de 1935, o Tribunal


Regional local recebeu uma representação do chefe do clã de Pombal, Sá
Cavalcanti, contra outro líder oligarca, José Jandui Carneiro, acusando
este último de haver se apossado de vários eleitores da Zona de Pombal,
impossibilitando-os, assim, de votar nas seções eleitorais de Lagoa e Malta.
Nas mesmas eleições, o chefe político Salviano Leite Rolim
representou o Promotor Público de Pombal junto ao Tribunal de Justiça
Eleitoral, acusando-o de haver comparecido em Piancó e ter manifestado
preferências partidárias em favor de uma das correntes políticas locais.
Já naquela época, em 1937, assim como hoje, o Tribunal Regional
não conhecia legitimidade de vereador para fazer consulta ao Tribunal,
sobre matéria eleitoral.
Com o Decreto que instalou o Estado-Novo no Brasil, o Tribunal
Regional de Justiça Eleitoral foi extinto, como todos os demais órgãos da
Justiça Eleitoral.

71
A BAGACEIRA, Eleitoral

Primeira sede do Tribunal Regional de Justiça Eleitoral da Parahyba, em 1934.


(Fonte: Antônio Botto de Menezes)

Juízes, Procurador e servidores do Tribunal Regional de Justiça Eleitoral da Parahyba, em 1937.


(Fonte: Sabiniano Maia).

72
Origens da justiça eleitoral na Parahyba

Sabiniano Maia, primeiro procurador do Tribunal de Justiça Eleitoral da


Parahyba, nomeado por Getúlio Vargas.
(Fonte: Sabiniano Maia).

73
CAPÍTULO VI

A estrutura partidária da
Parahyba na Segunda
República

“A paz desceu sobre a Paraíba mais depressa


do que seria de esperar. Menos de três anos
depois da vitória da Revolução, liberais e
perrepistas podiam reunir-se no Partido
Progressista, que reconstitucionalizou o
Estado.” (Oswaldo Trigueiro)*1

* In Ob. Cit., p. 28.

75
A BAGACEIRA, Eleitoral

Os partidos políticos pós-1930 ainda são estaduais

(...) a reforma eleitoral propiciada pela revolução de 30 não


chegou a produzir a criação do partido político nacional.
Graças à omissão da Constituição de 1934 sobre a organização
dos partidos políticos, ver-se-á surgir as agremiações nacionais
somente com o advento do Estado novo. (Cláudia Sousa
Leitão)1

O
sistema eleitoral vigente até 1930 girou em torno da política dos
governadores e esta chegou ao seu fastígio devido a dois fatores:
o econômico - representado pela decadência da lavoura cafeeira
- e o político, através do tenentismo. Para Afonso Arinos de Melo Franco, a
decadência da política dos governadores se deu em razão do reaparecimento
de uma mentalidade partidária nacional, embora não encontrasse
qualquer respaldo no sistema eleitoral então vigente, de voto a descoberto e
representação majoritária.2
Desse modo, até 1930, os partidos políticos eram estadualizados,3
isto é, não havia partidos com caráter nacional4, como acontece hoje.

1 In A CRISE DOS PARTIDOS POLÍTICOS BRASILEIROS (OS DILEMAS DA REPRESENTAÇÃO


POLÍTICA NO ESTADO INTERVENCIONISTA). Fortaleza: Grá ica Tiprogresso, 1989, p. 114.
2 In História e Teoria dos Partidos Políticos no Brasil. Ed. Alfa Ômega, p. 61.
3 O fenômeno da estadualização dos partidos políticos no Brasil no início do século XX
permitiu que os dois maiores partidos do país, o Partido Republicano Paulista e o Partido
Republicano de Minas Gerais, implantassem a “política do café-com-leite” através da qual
os dois estados governaram o país até 1930. Nesse ano, o Rio Grande do Sul e a Parahyba
discordaram dessa política e resultou na formação da Aliança Liberal que apresentou
os candidatos a presidente e vice-presidente da república, Getúlio Vargas e João Pessoa,
respectivamente.
4 Segundo a Lei dos Partidos Políticos, ora em vigor, para ter caráter nacional o partido deve
comprovar junto ao Tribunal Superior Eleitoral, no momento do registro do seu estatuto, o
apoiamento mínimo de eleitores correspondente a 0,5% (meio por cento) dos votos válidos
dados na última eleição geral para a Câmara dos Deputados, distribuídos por um terço, ou
mais, dos estados, com um mínimo de um décimo por cento do eleitoral que haja votado em
cada um deles. (art. 7º, §1º da Lei nº 9.096, de 19 de setembro de 1995, denominada de Lei
dos Partidos Políticos).

76
A estrutura partidária da Parahyba na segunda república

Para Afonso Arinos de Melo Franco, o surgimento da mentalidade


partidária nacional foi um sinal de decadência da política dos governadores.
Na sua ótica, a ausência de partidos nacionais devia-se aos vícios da
legislação eleitoral - voto a descoberto, processo de reconhecimento
de veri icação de poderes e representação majoritária - o que veio a
ser corrigido pela introdução do voto secreto, a Justiça Eleitoral e a
representação proporcional. Segundo ele,

O partido era antes uma nebulosa sem centro do que uma


constelação. Cada grupo regional surgia ao sabor das
possibilidades e interesses locais. (...) Estes partidos estaduais
é que vão ser o mecanismo através do qual se exerceria a
chamada política dos governadores.5

Na falta de partido nacional durante a Primeira República, explica


ainda Afonso Arinos, o corpo nacional precisava se apoiar em “algo”, que
foi a rotatividade mineiro-paulista no poder. Segundo o mesmo jurista, o
tratamento legal dado aos partidos políticos pelo Código Eleitoral de 1932,
foi o seguinte:

Esta lei, nos artigos 99 e 100, reconhecia a existência jurídica


dos partidos e regulava o seu funcionamento. Considerava
duas espécies de partidos: os permanentes, que adquiriam
personalidade jurídica nos termos do art. 18 do Código Civil,
e os provisórios, que não adquiriam aquela personalidade e
se formavam transitoriamente às vésperas dos pleitos, apenas
para disputá-los. Também eram equiparados a partidos ‘as
associações de classe legitimamente constituídas.6

Com efeito, o Código Eleitoral de 1932 – Decreto nº 21.076,


de 24 de fevereiro de 1932, nos seus artigos 99 e 100 - previu a forma de

5 Afonso Arinos de Melo Franco. In HISTÓRIA E TEORIA DOS PARTIDOS POLÍTICOS NO


BRASIL. São Paulo: Ed. Alfa Ômega, p. 58.
6 In Ob. Cit., p. 63.

77
A BAGACEIRA, Eleitoral

funcionamento e reconheceu juridicamente dois tipos de partidos: 1. os


que adquiriam a sua personalidade jurídica na forma do Código Civil; 2. os
provisórios, que não tinham personalidade jurídica e eram assim chamados
por que voltados apenas para a disputa das eleições; deveriam se apresentar,
no mínimo, com o apoiamento de 500 eleitores. Havia, ainda, as associações
de classe legalmente constituídas eram equiparadas a partidos políticos.
Golpe mais duro foi dado pela Constituição Federal de 1934, que
manteve os partidos estaduais, não obstante tenha con irmado o sistema
proporcional e a Justiça Eleitoral.
A importação da representação pro issional, copiando o modelo
7
fascista signi icava, na opinião de Afonso Arinos, um instrumento
permanente do governo contra a livre criação dos partidos.
Para outros, a criação da representação proporcional era um
mecanismo para possibilitar que as minorias tivessem acesso ao poder, o
que raramente ocorria na Primeira República,8 exceto por concessão do
chefe oligarca local.
Noutro aspecto, a previsão de candidatura avulsa pelo Código
9
Eleitoral de 1932 implicava no desprestígio e fobia das nossas leis em
relação aos partidos políticos. O Decreto que extinguiu-os em 1937

7 Para Cláudia Sousa Leitão, com a implantação do Estado-Novo, Vargas fundou a Legião
Cívica Brasileira, intencionando criar um partido único, segundo os moldes dos Estados
Totalitários, o que não se tornou possível graças à resistência feita pelo Exército e
oligarquias sociais. (In Ob. Cit., p. 115).
8 Em Cabresto, Curral e Peia – A História do Voto na Parahyba até 1930, restou
evidenciado que desde a instalação da República, em 1889, à semelhança do que ocorria no
resto no país, as possibilidades de haver alternância no poder em nosso estado eram quase
nenhuma. Desse modo, quem estivesse na oposição, di icilmente chegaria a ser Governo,
isso devido às frequentes fraudes eleitorais, seja na votação e apuração, seja no processo de
reconhecimento de poderes, ocasião em que se dava a “degola” dos candidatos eleitos.
9 O art. 88, parágrafo único do Decreto 21.076 exigia que o registro da candidatura avulsa
fosse requerida por um número mínimo de eleitores.

78
A estrutura partidária da Parahyba na segunda república

expressava a visão fascista10 de Vargas que responsabilizava os partidos


políticos por todas as mazelas do nosso sistema político.
As eleições de 1933, realizadas para a Assembleia Nacional
Constituinte, foram disputadas por vários partidos, mas todos ausentes de
expressão institucional ou política e sem qualquer organização substancial
nos estados. Destarte, sem um histórico de tradições políticas e com
objetivos unicamente eleitoreiros,

Os partidos da 2º República, portanto, ainda não atingem um


per il partidário de um país maduro politicamente. Possuindo
a mesma origem estadualista, tendem sempre a buscar a
conciliação entre a inovação e o conservadorismo.11

A Parahyba experimentou idêntico processo. Os primeiros partidos


políticos surgiam apenas às vésperas das eleições, girando sempre em torno
de um chefe responsável pela sua unidade, que se dava mais em razão do
líder e menos em razão dos programas partidários.

O surgimento de dois partidos políticos na Parahyba

Nos 15 anos seguintes (que marcaram o primeiro governo


Vargas), a atividade político-partidária foi restrita ao período
de 1933 a 1937, mas o sistema partidário ainda se baseou em
agrupamentos estaduais e algumas tentativas de organizar
movimentos ideológicos em nível nacional, espelhando a

10 Com o projeto da Legião Cívica Brasileira, difundido na ditadura de Getúlio Vargas, a qual
deveriam se iliar todos os brasileiros, houve uma tentativa de implantar o Partido único
no Brasil, nos moldes da ideologia fascista. Não logrando êxito e na ausência dos partidos
políticos, o caudilhismo semi-fascista do Governo Vargas foi sustentado pelas forças
armadas, notadamente o Exército. (Afonso Arinos de Melo Franco, in Ob. Cit., p. 78).
11 Cláudia Sousa Leitão, in A CRISE DOS PARTIDOS POLITICOS BRASILEIROS (OS DILEMAS
DA REPRESENTAÇÃO POLÍTICA NUM ESTADO INTERVENCIONISTA). Fortaleza: Grá ica
TIPROGRESSO, 1989, p. 113.

79
A BAGACEIRA, Eleitoral

polarização direita-esquerda da Europa nos anos 30. (David


Fleischer)

Como visto, a “Revolução de 1930” não favoreceu a estrutura


partidária, continuando a falta de unidade que justi icasse a criação de um
partido político com atuação nacional. Desse modo, o sistema partidário
pós-1930 não foi alterado, continuando os partidos políticos a ter projeção
apenas estadual, como ocorria na Primeira República.
O Código Eleitoral e as leis eleitorais posteriores também não
favoreceram alterações no regime partidário brasileiro. Nas eleições, ainda
se admitiam candidaturas avulsas e a participação de legendas nos pleitos
eleitorais.
Nesse contexto normativo, o Partido Republicano Libertador
nasceu com o intuito de projetar políticos oposicionistas que pretendiam
ser eleitos e compor a Assembleia Nacional Constituinte nas eleições que se
realizaria em maio de 1934.
A ideia de fundação da referida agremiação partidária surgiu em
reunião política realizada na residência de Joaquim Pessoa Cavalcanti de
Albuquerque, o mesmo que, antes, imediatamente após a “Revolução de
1930”, se considerava sucessor natural do presidente assassinado e saia em
defesa da herança política deixada por João Pessoa.
Dentre os fundadores do Partido Republicano Liberal, o próprio
Joaquim Pessoa, Carlos Pessoa, Antônio Botto de Menezes, além de jornalistas,
comerciantes, um agricultor e o tribuno popular, Luiz de Oliveira.12
Segundo manifesto publicado na imprensa local, o Partido
Republicano Libertador tinha como bandeiras de luta: a defesa do ensino
primário obrigatório; a unidade processual; a criação de escolas de letras
e o ícios na Capital e nos diversos municípios do interior; a disseminação

12 Antônio Botto de Menezes, in Ob. Cit., p. 171.

80
A estrutura partidária da Parahyba na segunda república

do crédito agrícola; aumento da produtividade do trabalho, através da


assistência, pelo Estado, ao trabalhador, mediante a aquisição de novas
máquinas agrárias; criação de culturas mecânicas, objetivando fomentar o
plantio especializado de algodão, cana de açúcar, fumo e outros produtos,
através da intervenção o icial do Estado.
Figuravam ainda como objetivos do Partido Republicano
Libertador manter contato permanente entre o Estado e seus municípios,
sem desprezo aos distritos e povoações; higienização dos centros rurais
e criação dos hospitais de socorro; respeito ao emprego público, devendo
ser assegurado ao servidor a garantia do processo administrativo;
inamovibilidade e vitaliciedade dos membros do poder judiciário;
inelegibilidade dos deputados federais e estaduais, prefeitos e conselheiros
municipais para as eleições seguintes e, por último, a luta pela eleição dos
prefeitos municipais.13
O outro partido da Parahyba dessa época foi o Partido Progressista,
fundado e che iado inicialmente por José Américo de Almeida. Após a sua
ida para o Ministério da Viação e Obras, a liderança foi transferida para o
seu amigo, Virgínio Veloso Borges. Assim como outros partidos regionais,
o Partido Progressista da Parahyba precedeu à convocação da Assembleia
Nacional Constituinte, em 1933, tendo elegido os cinco representantes.
O surgimento do Partido Progressista serviu para reunir em suas
ileiras os revolucionários de 1930 e os adversários do ex-presidente João
Pessoa, ou seja, os perrepistas decaídos. A ideia de José Américo era paci icar
a política do estado e o Partido Progressista foi um instrumento hábil à sua
disposição político para unir gregos e troianos.
Dentre os principais pontos do programa do Partido Progressista
destacavam-se “os princípios” legados por João Pessoa, a rebelião de 1930 e
as obras assistencialistas de José Américo no combate contra as secas.

13 Idem.

81
A BAGACEIRA, Eleitoral

Os chefes do Partido Progressista e do Partido Libertador entenderam-se no


Palácio da Redenção, em João Pessoa
(Fonte: Antônio Botto de Meneses)

82
CAPÍTULO VII

Parahyba feminina,
mulher eleitora, sim
senhor!

“Tendo as mulheres obtido, em 1932, o direito


de votar e de serem votadas – o jus suffragii e
o jus honorum, como distinguiam os romanos
– é curioso ver que o sistema proporcional,
que exatamente cuida em que o Parlamento
seja um ‘espelho’ da sociedade, não as
atendeu no sentido de dotar o Congresso
de uma signiϔicativa bancada feminina.”* 1

(Walter Costa Porto)

* Walter Costa Porto, in O Voto no Brasil – Da Colônia à 6ª República. Topbooks, 1989, 2ª


ed., p. 240.

83
A BAGACEIRA, Eleitoral

D
o ponto de vista normativo federal, o sufrágio feminino só foi
expressamente adotado no Código Eleitoral de 1932 e mesmo assim
o art. 109 previu que o alistamento e o voto eram obrigatórios
apenas para as mulheres que exercessem função pública remunerada.1 Como,
de fato, a grande maioria das mulheres paraibanas não tinha o privilégio de
pertencer aos quadros do serviço público, estavam desobrigadas do exercício
do sufrágio.
Em parecer emitido em 23 de março de 1937, o Procurador
Regional do Tribunal de Justiça Eleitoral da Parahyba, Sabiniano Maia,
entendeu diferente, tendo defendido a criminalização das eleitoras
faltosas ao pleito, seguindo orientação da Procuradoria Geral Eleitoral,
que considerava obrigatório o voto feminino, nos casos em que a mulher
estivesse alistada:

Tendo veri icado que diversos Procuradores Regionais


entendem que eleitores do sexo feminino, não sendo
funcionárias públicas, estão isentas da obrigatoriedade do
voto, baixo a presente instrução, nos termos do art. Cincoenta
e dois, letra G, do Código Eleitoral: -
Constituição Federal art. Cento e treze inciso primeiro,
estabelece que todos são iguais perante a lei, não havendo
privilégios nem distinções por motivo de sexo; declarando no
artigo cento e oito serem eleitores os brasileiros de um e outro
sexo, maiores de dezoito anos, alistado na forma da lei. Diz o
artigo cento e nove mesma Constituição, que alistamento e voto
para mulheres são obrigatórios para as que exerçam funções
públicas remuneradas, ‘sob as sanções e salvas as excepções
que a Lei determinar.’ Esse artigo cento e nove deve ser
entendido de acordo com citado artigo centro e treze número
um, combinado com parágrafo único, do Código Eleitoral,

1 O segundo Código Eleitoral, a Lei nº 48, de 4 de maio de 1935, repetiu a redação ao prever
que só as mulheres que exercessem função remunerada estavam obrigadas a se alistar e
exercer o direito de sufrágio. O quarto Código Eleitoral, a Lei nº 1.164, de 24 de julho
de 1950, dispensava a obrigatoriedade do alistamento e do voto às mulheres que não
exercessem função lucrativa.

84
Parahyba feminia, mulher eleitora, sim senhor!

que não excetuam mulher eleitora, embora não funcionária,


da obrigação do voto. Mulher não funcionária não é obrigada
ao alistamento, porém, uma vês voluntariamente alistada, é
obrigada a votar, ex-vi dos artigos supra referidos, estando
sujeita ao processo respectivo todas quantas não votaram
sem justa causa; pelo que essa Procuradoria deve incluir nas
denúncias, também as mulheres eleitoras não funcionárias e
faltosas as eleições já realizadas na vigência do atual Código
Eleitoral. O que determino seja cumprido, baixando essa
Procuradoria, as devidas instruções aos seus representantes
nas Comarcas, e, dando a todos a presente publicidade, para
conhecimento dos interessados. (...)2

Não obstante, o vizinho Estado do Rio Grande do Norte, através


de Lei Estadual nº 660, de 25 de outubro de 1927, se antecipou ao primeiro
Código de 1932, ao disciplinar, que não haveria mais “distinção de sexo” para
o exercício do sufrágio. Eis a redação do art. 77 das Disposições Gerais da
referida lei estadual:

Art. 77. No Rio Grande do Norte, poderão votar e ser votados,


sem distinção de sexo, todos os cidadãos que reunirem as
condições exigidas por esta lei.

O sufrágio feminino no estado potiguar não somente alcançava


os direitos políticos ativos, ou seja, a capacidade eleitoral das mulheres de
escolher seus representantes, mas também a capacidade eleitoral passiva,
que signi ica o direito de ser eleito, (no caso, eleita).
Como a União não detinha a competência exclusiva, á época,
para legislar sobre Direito Eleitoral, possibilitou-se ao Rio Grande do Norte
assumir essa posição de vanguarda, que permitindo que a primeira mulher
da América do Sul, a professora Celina Guimarães Vianna, natural de
Mossoró, viesse a integrar o corpo de eleitores, tendo sido deferido o seu

2 Sabiniano Alves do Rego Maia, In Tribunal Regional de Justiça Eleitoral do Estado da


Paraíba – PARECERES 1934-1935-1936-1937. João Pessoa/PB, 1984, p. 125.

85
A BAGACEIRA, Eleitoral

direito de ser eleitora pelo Juiz Israel Ferreira Nunes, magistrado da Comarca
de Mossoró.
Na primeira eleição realizada nas terras potiguaras, em 05 de
abril de 1928, que objetivou preencher vaga aberta no Senado, em razão da
renúncia do senador Juvenal Lamartine de Faria, quinze das vinte eleitoras
norte-riograndenses, alistadas após a professora Celina Guimarães Vianna,
oriundas de vários municípios – Mossoró, Acari, Apodi, Natal e Paus dos
Ferros - e de forma pioneira, exerceram o direito de sufrágio e sufragaram o
nome de José Augusto Bezerra de Medeiros, o primeiro candidato no Brasil a
ser votado por mulheres.3

3 Apesar do pioneirismo desse exercício do voto feminino, no Brasil, a Comissão de


Veri icação de Poderes do Senado, não obstante haver reconhecido e proclamado eleito o
candidato indicado, o Sr. José Augusto Bezerra de Medeiros, expurgou os votos femininos
recebidos por ele recebidos. A medida conservadora do Senado mereceu forte repulsa da
Federação Brasileira pelo Progresso Feminino, presidida por Bertha Lutz, que lançou um
manifesto à Nação, na forma de uma Declaração dos Direitos da Mulher, cujo teor foi o
seguinte:
1º. As mulheres, assim como os homens, nascem livres e independentes da espécie humana,
dotados de faculdades equivalentes e igualmente chamados a exercerem, sem peias, os seus
direitos e deveres individuais.
2º. Os sexos são independentes e devem um ao outro a sua cooperação. A supressão dos
direitos de um acarreta, inevitavelmente, prejuízos para o outro, e, consequentemente, para
a Nação.
3º. Em todos os países e tempos, as leis, preconceitos e costumes tendentes a coarctar a
mulher, a limitar a sua instrução, a entravar o desenvolvimento das suas aptidões naturais,
a subordinar sua individualidade ao juízo de uma personalidade alheia, foram baseados em
teorias falsas, produzindo na vida moderna intenso desequilíbrio social.
4º. A autonomia constitui o direito fundamental de todo indivíduo adulto; a recusa deste
direito à mulher, uma injustiça social, legal e econômica que repercute desfavoravelmente
na vida da coletividade, retardando o progresso geral.
5º. As nações que obrigam ao pagamento de impostos e à obediência à lei os cidadãos do
sexo feminino, sem lhes conceder, como aos do sexo masculino, o direito de intervir na
elaboração dessas leis e votação desses impostos, exercem uma tirania incompatível com os
governos baseados na Justiça.
6º. Sendo o voto o único meio legítimo de defender aqueles direitos, a vida e a liberdade,
proclamados inalienáveis pela Declaração da Independência das Democracias Americanas,
e hoje reconhecidos por todas as nações civilizadas da terra, à mulher assiste o direito ao
título de eleitor.
Em nome da Federação Brasileira pelo Progresso Feminino – (aa) Bertha Lutz, Jerônima
de Mesquita, Maria Amélia Bastos, Maria Ester Correa Ramalho, Clotilde de Mello Viana,

86
Parahyba feminia, mulher eleitora, sim senhor!

Não satisfeitas, as mulheres potiguaras também inovaram nos


direitos políticos quando, por ocasião das eleições municipais realizadas
no inal da década de 1930, se candidataram a cargos eletivos. O governo
estadual de Juvenal Lamartine, o mesmo que sancionara a lei redentora dos
direitos políticos das mulheres norte-riograndenses, sofreu resistências
de setores os mais diversos ao permitir que as mulheres se lançassem
candidatas no estado, conforme registro:

No governo Lamartine, organizadas as chapas para as eleições


municipais, incluíram-se várias eleitoras. José Augusto
advertia-o, do Rio, quanto aos perigos desta corrida, que
poderia invalidar os pleitos, fazendo-se eco das ponderações
sensatas do presidente Washington Luiz. O presidente potiguar,
porém, não atendeu. Algumas foram eleitas, empossadas,
e a revolução de 1930 encontrou-as legislando em vários
municípios, com real proveito para o nível moral, intelectual e
político das edilidades.4

A primeira mulher da América do Sul a se eleger para um cargo


eletivo foi Alzira Soriano, eleita prefeita do Município de Lages, localizado no
Estado do Rio Grande do Norte, inclusive contando com o apoio político do
então presidente do Estado, Juvenal Lamartine, tendo obtido mais de 60%
dos votos.5
Na Parahyba, apesar de já haver registros de movimentos
feministas na década de 20 em prol do voto feminino, copiando a experiência
potiguar, a Sra. Isabel Iracema Feijó da Silveira, também professora e uma

Carmem Velasco Portinho, Herminda Bastos, Ester Ferreira Vianna, Laurinda Bastos Lobo,
Maria Eugênia Celso Carneiro de Mendonça, Estela de Carvalho Guerra Duval, Cacilda
Martins, Maria de Carvalho Dutra, Mirtes de Campos, Júlia Barbosa, Carolina Wanderley,
Maria de Lourdes Lamartine Varrela Santiago. (João Batista Cascudo Rodrigues, in A
MULHER BRASILEIRA – DIREITOS POLÍTICOS E CIVIS. Brasília: Projecto Editorial, 2003,
p. 106-107.
4 Adauto da Câmara, in História de Nísia Floresta apud João Batista Cascudo Rodrigues, Ob.
Cit., p. 109.
5 Idem.

87
A BAGACEIRA, Eleitoral

das fundadoras do Comitê Feminino da Aliança Liberal6 e da Associação


Parahybana para o Progresso Feminino (certamente uma extensão da
Federação Brasileira pelo Progresso Feminino), teve o seu requerimento
de alistamento eleitoral deferido pelo então Juiz da Comarca de Santa Rita,
Celso Novaes.7
O fato de conquistar a condição de eleitora, já antes de 1930, a
8
eleitora paraibana nem tão cedo iria ocupar o mesmo lugar de destaque
alcançado pela mulher potiguar no que diz respeito à capacidade eleitoral
passiva. É que, alterado o corpo eleitoral com a adoção do voto feminino
em todo o Brasil a partir do Código Eleitoral de 1932, a Parahyba não teve
nenhum registro de candidatura do sexo feminino para representar o
estado dentre os 254 constituintes eleitos em 1933, diferentemente de
São Paulo que elegeu Carlota Pereira de Queiroz e do Distrito Federal, que
elegeu Bertha Lutz e Almerinda Gama, esta última representante classista
do Sindicato dos Datilógrafos e Taquígrafos e da Federação do Trabalho do
Distrito Federal.9

6 Dentre os paraibanos que se destacaram em defesa da participação da mulher no processo


político, destacam-se: o jornalista Carlos Dias Fernandes; Lília Guedes; Olivina Olívia
Carneiro da Cunha; Albertina Correia Lima e Isabel Iracema Feijó da Silva.
7 Renato César Carneiro. In Cabresto, Curral e Peia – A História do Voto na Parahyba até
1930. João Pessoa: Ed. Universitária-UFPB, Vol. I, p. 185.
8 De 1930 para cá, muita coisa mudou no Direito Eleitoral. A legislação atual tem adotado
ações a irmativas como forma da mulher ter o seu espaço nos partidos políticos. A Lei das
Eleições (nº 9.504/97), criou a reserva de sexos, em que trinta por cento, no mínimo, dos
candidatos escolhidos em convenção partidária.
Na prática, as mulheres não participam da vida partidária, e os homens continuaram a ter
quase unanimidade nas disputas dos cargos eletivos.
Recentemente, a Lei eleitoral foi alterada, para obrigar que os partidos preencham as cotas,
ou seja, a partir da eleição de 2010, o percentual de 30% do número de mulheres deverá ser
obedecido.
Ainda como novidade, a legislação eleitoral exige que dez por cento do tempo em que os
partidos políticos utilizam do rádio e da tv para veicular os seus programas partidários,
sejam utilizados para promover a participação feminina.
9 Walter Costa Porto, in “O Voto no Brasil – Da Colônia à 6ª República. Ed. Topbooks, p.
240.

88
Parahyba feminia, mulher eleitora, sim senhor!

Somente alguns anos depois, na eleição municipal de 1951,


Cajazeiras elegeria a primeira mulher e única candidata a vereadora, a
professora Rita de Cássia Assis, da UDN.
Em Patos, coube a Maria Esther Sátyro Fernandes, nas eleições
municipais de 1955, o pioneirismo de tornar-se a primeira mulher a
se candidatar a um cargo público eletivo na história política patoense.
Professora do Ginásio Diocesano de Patos, a candidata lançou em favor
de sua campanha, um manifesto nos jornais locais, objetivando atingir
principalmente o eleitorado feminino e os pro issionais de ensino da cidade:

Conterrânea amiga:
Na impossibilidade de um encontro pessoal, venho comunicar-
lhe por meio desta que, a convite e por insistência dos
estudantes do Ginásio Diocesano de Patos, aceitei o lançamento
de meu nome como candidata à VEREADORA nas próximas
eleições de 3 de outubro. E, ao aceitar tão honrosa indicação,
tive em mente o propósito de servir com dignidade e espírito
público a terra comum e a sua gente generosa.
Se eleita com o auxílio de Deus e pelo voto consciente do
povo de Patos, espero representar com decisão e patriotismo
a mulher patoense e, particularmente, o professorado, a cuja
classe com orgulho pertenço, nesta primeira oportunidade
que a ambos se oferece de terem no Legislativo Municipal uma
voz amiga para defesa dos seus direitos, mas, igualmente, na
compreensão dos seus deveres.
Na atualidade, a mulher está universalmente convocada a
ajudar o homem na solução dos problemas que a ligem a
humanidade.
Pela união de todas nós, deve a mulher ensejar à própria
mulher as oportunidades de demonstrar a sua e iciência nos
diversos quadros e setores da vida social.
Con iando sempre em sua nunca desmentida generosidade, na
comunidade dos nossos sentimentos, no seu aliciador espírito
de apostolado e proselitismo, deixo em suas mãos, conterrânea
amiga, esta candidatura que não mais me pertence,
porque pertence à mulher patoense e, particularmente, ao

89
A BAGACEIRA, Eleitoral

professorado deste próspero Município. Até as urnas de 3 de


outubro, onde nos encontraremos de novo.10

Finalmente, apenas na década de 1980 é que a Parahyba elegeria


uma representante do sexo feminino para um cargo eletivo federal. Essa
primazia coube à Lúcia Navarro Braga, eleita deputada federal em 1986 para
o mandato de 1987/1991.

10 Flávio Sátyro Fernandes, in NA ROTA DO TEMPO (Datas, fatos e curiosidades da história


de Patos). JoãoPessoa: Imprell Editora, 2003, p. 293/294.

90
CAPÍTULO VIII

As eleições de 1933 na
Parahyba

“...O voto secreto deu resultado em duas


eleições, mas depois, em lugar do cabo
eleitoral, apareceu o comprador de votos.
Após as primeiras eleições depois de
1930, senti que elas dependiam do poder
econômico.” (José Américo de Almeida)*1

* Aspásia Camargo, Eduardo Raposo e Sérgio Flaksman, in O Nordeste e a Política – Diálogo


com José Américo de Almeida, CPDOC/FGV – Fundação Casa de José Américo, Ed. Nova
Fronteira, 1984, p. 244.

91
A BAGACEIRA, Eleitoral

As eleições de 19331 para a Assembleia Nacional Constituinte

E
ntre 1930 e 1937, houve apenas cinco eleições na Parahyba. A
primeira, em 1933, para a Assembleia Nacional Constituinte; a
segunda, em 1934, para a Assembleia Legislativa dos Estados; a
terceira e a quarta, em 1935, eleições indiretas para o governo do estado e
para o Senado. No mesmo ano, ocorreu a última eleição, para prefeitos.
A reforma eleitoral implementada em 1932, a partir do primeiro
Código Eleitoral Brasileiro, o Decreto nº 21.076, era um compromisso
de campanha do então candidato pela Aliança Nacional Liberal, Getúlio
Vargas. Mas o Código Eleitoral só adveio após a pressão desencadeada pela
campanha iniciada desde 1931, que defendia o retorno do país à legalidade,
culminando na Revolução Constitucionalista de 1932.
Entendiam os reformistas de 1930 que somente as garantias do
voto universal, secreto e direto possibilitariam vencer as barreiras eleitorais
das oligarquias, caracterizadas pelas eleições a bico de pena e das degolas nos
parlamentos. Não que o Código Eleitoral de 1932 tivesse conseguido extinguir as
fraudes eleitorais do ancien regime, mas foi capaz de diminuí-las signi icativamente
graças à atuação da Justiça Eleitoral, órgão responsável pelas diversas fases do
processo eleitoral – alistamento eleitoral, convenções partidárias, registro de
candidatos, votação, apuração e proclamação dos eleitos, além da diplomação.
A historiadora paraibana, Martha Falcão, fez a seguinte análise dos
re lexos do nosso primeiro Código Eleitoral:

1 Não há, no Tribunal Regional Eleitoral da Parahyba, dados acerca das eleições de 1933, para
a Assembleia Nacional Constituinte; da eleição indireta em janeiro de 1935, para governador
do Estado, e a de outubro de 1935, para prefeitos. Os dados coletados sobre essas eleições
podem ser encontrados nos Anais da Assembleia Nacional Constituinte, em publicações nos
jornais A UNIÃO, A IMPRENSA e DIÁRIO DE PERNAMBUCO, além de relevantes obras de
nossa historiogra ia política, a exemplo de Poder e Intervenção Estatal (Paraíba – 1930-
1940); História Constitucional da Paraíba, de Flávio Sátiro Fernandes; Minha Terra, de
Antônio Botto de Menezes e, Pareceres no TRE, de Sabiniano Maia.

92
As eleições de 1933 na Parahyba

O novo Código ampliou o corpo político da Nação, concedendo


o direito de voto a todos os brasileiros maiores de 21
anos, alfabetizados, sem distinção de sexo. Criou, ainda, a
representação classista, considerada uma vitória dos tenentes,
inspirada na legislação fascista europeia e que seria motivo de
acirrados debates na Assembleia Nacional Constituinte, entre
parlamentares ligados aos tenentes e os representantes da
burguesia empresarial.2

A primeira eleição paraibana sob a égide do Código Eleitoral, da


Justiça Eleitoral e do voto secreto, foi saudada pelo jornal A UNIÃO:

Um Pleito Eleitoral que é uma Conquista Revolucionária, ‘o


Voto Secreto Aferidor da Mentalidade de um Povo’, ‘Ordem e
Liberdade do Pleito Constituinte, ‘a Primeira Vez que o Brasil
Votou’, etc.3

Para a Assembleia Nacional Constituinte, algumas das correntes


políticas locais estavam preocupadas com a interferência da Igreja
Católica nos assuntos do Estado. Como forma de preservar a laicização do
estado brasileiro, acolhida desde a primeira Constituição de 1891, surgiu
na Parahyba um movimento que defendia essas ideias, integrado por
várias pessoas da sociedade, a exemplo de membros de outras religiões,
comunistas, maçons e livres pensadores, todos reunidos na Liga Pró-Estado
Leigo, liderados pelos advogados e intelectuais João Santa Cruz de Oliveira,
Horácio de Almeida e Osias Gomes. Em Campina Grande, os líderes foram “o
professor Manuel Almeida Barreto, o médico João Arlindo Correia e o Ver.
João Clímaco Ximenes, pastor evangélico congregacional.”4

2 Martha Falcão, in Ob. Cit., p. 102.


3 Eliete Gurjão, in Ob. Cit., p. 175.
4 Josué Sylvestre, in DA REVOLUÇÃO DE 30 À QUEDA DO ESTADO NOVO – Fatos e
personagens da história de Campina Grande e da Paraíba (1930-1945). Brasília:
Senado Federal, 1993, p. 144.

93
A BAGACEIRA, Eleitoral

Concorreu na eleição de 3 de maio de 1933, à Assembleia Nacional


Constituinte pela referida Liga, o advogado João Santa Cruz que, embora não
tivesse obtido êxito na eleição, a Constituição Federal de 19345 manteve a
laicidade do Estado.
A LIGA PRÓ-ESTADO LEIGO foi o instrumento que os comunistas
paraibanos utilizaram para participar do pleito eleitoral de 1933, em razão
de não terem conseguido entrar para a legalidade. Ainda sem registro na
justiça eleitoral nas eleições de 1934, os candidatos comunistas engajaram-
se na legenda TRABALHADOR VOTA EM TI MESMO, repetindo-se o mesmo
fenômeno nas eleições de 1935 para as Câmaras Municipais.
Para se contrapor à Liga Pró-Estado Leigo, formou-se também uma Liga
Eleitoral Católica, em defesa das suas ideias e, ao mesmo tempo, demonstrando
apoio a candidatos adeptos da Religião Romana, ao tempo em que, de forma
simultânea, fazia a contrapropaganda de candidaturas adversas ao catolicismo.
Ao contrário da Liga Pró-Estado Leigo, cuja participação se
restringiu à eleição de 1933, a Liga Eleitoral Católica participou da eleição para
a escolha dos membros da Assembleia Nacional Constituinte, em 1934, e da
eleição para preenchimento das vagas na Assembleia Legislativa do Estado e
da Câmara dos Deputados. Foi extinta apenas em 1937, com o golpe de estado.
As eleições de 1933 foram convocadas pelo Governo Provisório
através do Decreto nº 21.402, de 14 de maio de 1932, que também serviu
para a escolha dos futuros integrantes da Assembleia Constituinte, o que
signi icava o retorno do país à legalidade. No mesmo Decreto, criou-se
uma Comissão, sob a presidência do Ministro da Justiça e dos Negócios

5 Registra Josué Sylvestre que, em setembro do mesmo ano da eleição, antes mesmo
da Constituição Federal de 1934 manter o Estado separado da Igreja, Getúlio Vargas
havia visitado a capital do Estado, ocasião em que comissão integrada por líderes desse
movimento conseguiu do presidente garantias de que, enquanto o mesmo estivesse no
comando do país, não havia nenhum risco de envolvimento o icial entre o Estado brasileiro
e a Igreja Romana. (Josué Sylvestre, in DA REVOLUÇÃO DE 30 À QUEDA DO ESTADO NOVO
– Fatos e personagens da história de Campina Grande e da Paraíba (1930-1945).
Brasília: Senado Federal, 1993, p. 144).

94
As eleições de 1933 na Parahyba

Interiores, com o im de elaborar o ante-projeto de Constituição. O referido


Decreto ixou a data de 03 de maio de 1933 para a realização das eleições à
Assembleia Constituinte.
Posteriormente, o Decreto nº 22.364, de 17 de janeiro de 1933,
ixou as hipóteses de inelegibilidades para a Assembleia Nacional. Dentre
elas, previu-se a inelegibilidade dos Interventores federais e os prefeitos. Os
registros de candidaturas deveriam ser feitos no Tribunal de Justiça Eleitoral,
até cinco dias antes da eleição e poderia ser feita em listas elaboradas pelos
partidos, ou de forma avulsa.
Naquele período, a regulamentação da lei eleitoral competia ao
Governo Provisório, através de Decretos.
O Decreto nº 22.653, de 20 de abril de 1933, ixou o número e
o modo de escolha dos representantes de associações pro issionais que
participariam da Assembleia Nacional Constituinte. O art. 1º previu que a
escolha de quarenta representantes de associações pro issionais – vinte
de empregados e vinte de empregadores – dentre estes, três de pro issões
liberais e dois funcionários públicos por parte dos empregados, para tomar
assento na Assembleia Nacional Constituinte, “com os mesmos direitos e
regalias que competem aos demais membros.”
Os representantes das associações pro issionais seriam escolhidos
mediante eleição indireta, ocorrida nos sindicatos e associações de classe, sob
a presidência do Ministério do Trabalho, Indústria e Comércio, com recurso
para o Tribunal Superior de Justiça Eleitoral, no prazo de até 5 dias da data
da apuração. Segundo o referido Decreto, só tinham direito a participar da
eleição os sindicatos reconhecidos pelo Ministério do Trabalho, Indústria e
Comércio até o dia 20 de maio de 1933 e as associações de pro issões liberais
e de funcionários públicos, desde que legalmente organizadas até aquela data.
A eleição dos representantes classistas seria feita separadamente,
de acordo com cada entidade de classe, por escrutínio secreto, devendo cada
eleitor votar em lista de tantos nomes quantos fossem os delegados que devam

95
A BAGACEIRA, Eleitoral

ser eleitos. A ata dos trabalhos da eleição corresponderia ao diploma do eleito


que, no dia imediato, deveria ser apresentado no Tribunal Superior de Justiça
Eleitoral, para registro. Seriam considerados eleitos os que obtivessem maioria
de votos e somente poderiam ser eleitos os representantes que estivessem no
exercício da respectiva pro issão há mais de dois anos.
Até o dia 30 de junho de 1933, os delegados das associações e
dos sindicatos deveriam ser eleitos. Cada sindicato ou associação só podia
eleger um só delegado-eleitor. Segundo o Decreto nº 22.696, de 11 de março
de 1933, as diretorias dos sindicatos ou associações tinham o dever de, no
mesmo dia da eleição, comunicar, por telegrama, o nome do delegado eleito
ao Ministério do Trabalho, Indústria e Comércio, bem como remeter cópia da
ata da eleição, devidamente rubricada.
Não havia partidos políticos com atuação nacional, como ocorre
nos dias atuais. Os partidos eram criados facilmente, bastando elaborar seus
estatutos e publicar os seus manifestos na imprensa local. Na falta de temas
de cunho ideológico, as agremiações partidárias locais eram criadas apenas
com o objetivo de alcançar o poder político e distribuir os cargos e favores
que a máquina estatal possibilitaria, conforme registra Eliete Gurjão:

São pequenos partidos organizados, portanto, sob o esquema


clientelístico, mantendo-se assim, a forma de autoridade
fundamentada na máquina coronelística.6

Como era de costume, o jornal o icial do estado da Parahyba,


A UNIÃO, fez apologia do partido situacionista, o Partido Progressista,
recorrendo ainda ao nome de João Pessoa como forma de manter a unidade
do grupo político o icial.
De outro lado, o partido da oposição, representado pelo Partido
Republicano Libertador, recebeu o apoio de dois jornais, o BRASIL NOVO

6 In Ob. Cit., p. 171.

96
As eleições de 1933 na Parahyba

e LIBERDADE, que já faziam oposição ao Governo Provisório. O clima de


agressões mútuas por meio dos jornais, incluindo-se os ataques pessoais,
repetia as campanhas da Primeira República, em desprezo ao debate de ideias
ou princípios defendidos em seus estatutos, limitando-se à disputa pelo acesso
e preservação das prerrogativas de poder junto aos governos estadual e federal.7
Durante a campanha, esses jornais oposicionistas foram
censurados pelo Interventor Anthenor Navarro:

Jornais que apoiavam o P.R.L foram publicados com trechos


mutilados pelos censores, jornalistas foram espancados
e presos, jornais saíram de circulação ou passaram a ser
vendidos clandestinamente.8

O uso da máquina administrativa de forma abusiva caracterizou as


eleições de 1933 e 1934 na Parahyba. Propaganda o icial e dinheiro público
não faltaram a esses pleitos. O jornal governista, A UNIÃO, veiculou editoriais
nos quais fez apologia do Partido Progressista ao mesmo tempo em que
recorreu à imagem mítica de João Pessoa,

(...)como elo de coesão da 'grande família paraibana':


'O Partido Progressista Unido pela Vitória'
'Parahyba, Terra do Inolvidável João Pessoa, pela
Constitucionalização

Alguns jornais de oposição, embora tivessem pouca duração


e sofressem a perseguição do governo estadual, eram responsáveis pela
contra-propaganda do o icialismo estadual, conforme quadro elaborado pela
historiadora, Martha Falcão:9

7 Eliete Gurjão, in Ob. Cit., p. 173.


8 Idem.
9 In Ob. Cit., p. 234.

97
A BAGACEIRA, Eleitoral

PARAÍBA – ALGUNS JORNAIS DE OPOSIÇÃO FUNDADOS NA DÉCADA DE 1930

ÓRGÃO LOCAL FUNDADOR OU ANO


PATROCINADOR
A RUA João Pessoa Eudes Barros 1931/1934
A VOZ OPERÁRIA '' Associação Operária da 1931-1935
Parahyba do Norte
REAÇÃO (Boletim '' Liga Pró-Estado Leigo
Mensal) 1932/1934
DIÁRIO POPULAR '' Órgão do Partido Popular da 1934
Parahyba
A ALVORADA '' Aliança Proletária 01/05/1933
Bene icente
UNIÃO OPERÁRIA '' União Operária Bene icente 1931/1932
BENFICENTE
O BRASIL NOVO C. Grande e J. Tancredo de Carvalho 1931/C.
Pessoa
O CLARIM João Pessoa Soc. Un. Operária Bene icente 1939/1940
Elísio de Sousa
A BATALHA C. Grande Pedro Targino Teixeira 1934-1935

De outra parte, José Américo de Almeida, através do Ministério da


Viação e Obras, carreou vultosos recursos para o estado para o combate à
grande seca de 1932.
Concomitantemente, o Estado da Parahyba injetava recursos
estaduais para assistir os lagelados nos trabalhos de emergência e vários
municípios governados por prefeitos nomeados pelo Interventor do
Estado foram bene iciados por Caixas de Crédito Rural, que concederam
empréstimos aos agricultores paraibanos na época das eleições, obviamente
condicionando-se os empréstimos à adesão política do credor beneϔiciado.10 Os
quadros seguintes corroboram o abuso da máquina administrativa em favor
da corrente política o icial, nas eleições de 1933 e 1934:

10 Martha Falcão, in Ob. Cit., p. 118.

98
As eleições de 1933 na Parahyba

QUADRO I11
PARAÍBA – MUNICÍPIOS E PREFEITOS DA PB EM 1934

MUNICÍPIO PREFEITO

Alagoa Grande Pedro Cordeiro


Alagoa do Monteiro Aggeu de Castro
Alagoa Nova Joaquim Eustáquio de Oliveira
Araruna Olavo Ferreira de Amorim
Areia Jaime de Almeida
Bananeiras José Antônio da Rocha
Brejo do Cruz Antônio da Cunha Lima
Cabedelo (Subprefeitura) José Guedes Cavalcante
Cabaceiras Sotero Cavalcanti
Caiçara Cícero Rodrigues
Cajazeiras Hidelbrando Leal
Campina Grande Lafayete Cavalcanti
Catolé do Rocha Américo Maia
Conceição Antônio Ramalho
Esperança Theotônio Costa
Guarabira José Ferreira de Mello
Ingá Antônio Cabral de Mello
Itabayana Fernando Pessoa
João Pessoa José da Borja Peregrino
Mamanguape Tenente Raymundo Coelho
Misericórdia José Gomes
Patos Adelgício Olyntho

11 Martha Falcão, in Ob. Cit., p. 119.

99
A BAGACEIRA, Eleitoral

Pedras de Fogo Gerôncio Pereira Chaves


Piancó Adhemar Leite
Picuhy Ten. Raymundo Nonato Gomes
Pilar José Mouzinho
Pombal José Janduhy Carneiro
Princesa Isabel Nominando Diniz
Santa Rita Ten. Francisco P. Dos Santos
Sapé Epaminondas M. de Menezes
São João do Cariri Ignácio Bento
São José de Piranhas Tenente Manuel Arruda
São João do Rio do Peixe Natércio Maia
Serraria Benjamim Sobrinho
Sousa Raimundo Pires
Taperoá Abdias Campos
Teixeira Sancho Leite
Umbuzeiro José Luiz de Aguiar

100
As eleições de 1933 na Parahyba

QUADRO II12

PARAÍBA – CAIXAS RURAIS E OUTROS ÓRGÃOS FINANCEIROS POR


MUNICÍPIO - 1934

ÓRGÃO FINANCEIRO PRESIDENTE


Caixa Rural de Espírito Santo Lourival Lacerda
Caixa Rural de Guarabira Prefeito Ferreira de Melo
Caixa Rural de Ingá Prefeito João Bezerra de Mello Filho
Caixa Rural de Alagoa Nova Arlindo Colaço
Caixa Rural de Bananeiras José B. Cavalcante
Caixa Rural de Araruna Cônego Bandeira Pequeno
Caixa Rural de Serraria Olegário Juscelino
Caixa Rural de Areia José Rodrigues de Aquino
Caixa Rural de Gurinhém Manoel Dantas
Caixa Rural de Umbuzeiro Cícero Mesquita
Caixa Rural de Anthenor Navarro Prefeito Jacob Franntz e de Sousa
Caixa Rural de Alagoa do Monteiro e Joaquim Cavalcanti
Misericórdia
Banco Popular de Moreno Anésio Caldas
Banco Agro-Com. de Esperança Prefeito Theotônio Costa
Caixa Rural de Alagoa Grande Francisco Lianza
Caixa Rural de Campina Grande Mauro Coelho
Banco Econômico de Bananeiras Nelson Dantas Maciel

12 Martha Falcão, in Ob. Cit., p. 120.

101
A BAGACEIRA, Eleitoral

QUADRO III13

EMPRÉSTIMOS CONCEDIDOS PELAS CAIXAS RURAIS-FILIADAS À CAIXA


CENTRAL DE CRÉDITO AGRÍCOLA DA PARAÍBA – JANEIRO/JUNHO DE
1934

CAIXAS RURAIS P/MUNICÍPIOS Nº DE IMPORTÂNCIA


EMPRÉSTIMOS
Alagoa do Monteiro 239 43:300$000
Alagoa Nova 158 37:020$000
Anthenor Navarro 101 32:600$000
Araruna 239 67:184$000
Areia 134 53:200$000
Bananeiras 69 29:700$000
Guarabira 236 115:620$000
Gurinhém 241 98:830$000
Ingá 38 10:830$000
Pilar 113 34:635$000
Serraria 120 103:290$500
Sousa 182 50:980$000
Taperoá 56 16:340$000
Umbuzeiro 79 9:717$000
TOTAL 2.005 703:246$500

Diante de tanto abuso de poder em prol do partido governista,


o resultado do pleito não chegou a surpreender. O Partido Progressista
abocanhou a maior parte dos cargos eletivos nas eleições de 1933, conforme
o quadro abaixo:14

13 Martha Falcão, Idem.


14 Martha Falcão, in Ob. Cit., p. 125.

102
As eleições de 1933 na Parahyba

PARAÍBA – COEFICIENTE ELEITORAL OBTIDO POR PARTIDO OU LEGENDA


– ELEIÇÕES DE 03.05.1933

PARTIDO TOTAL DE VOTOS % DE VOTAÇÃO POR


PARTIDO
Partido Progressista 17.087 82,05
da PB
Partido Republicano 3.324 15,96
Libertador
Liga Pró-Estado Leigo 412 1,98
Partido Popular 3 0,01
Paraibano
Total 20.826 99,99

O aspecto positivo na eleição de 1933 foi a signi icativa participação


do eleitorado paraibano, que compareceu em massa ao pleito, conforme
dados extraídos do Relatório do Interventor Gratuliano Brito, publicados no
jornal A UNIÃO, em 30 de agosto de 1933 e coligidos por Martha Falcão15:

PARAÍBA - ALISTAMENTO ELEITORAL E COMPARECIMENTO ÀS ELEIÇÕES


DE 03.05.1933

ALISTAMENTO ELEITORAL 29.696 eleitores

ELEITORADO VOTANTE 24.973 eleitores

No entanto, a mesma historiadora registra o despudorado uso da


máquina administrativa em prol do partido apoiado pelo governo estadual
nas eleições de 1934, repetindo-se o mesmo comportamento adotado pela
Interventoria estadual nas eleições de 1933, o que foi fundamental para a
manutenção do status quo:

15 Martha Falcão, in Ob. Cit., p. 126.

103
A BAGACEIRA, Eleitoral

Utilizando-se da máquina estatal, a interventoria acenava


com esperanças ao agricultor descapitalizado, trocando
empréstimos das Caixas Rurais, pela adesão eleitoral. As Caixas
Escolares foram acionadas, com distribuição de fardamentos e
material didático; as construções de prédios escolares, na zona
rural e cidades no interior; foram intensi icadas.
Através da Caixa Estadual de Obras Contra os Efeitos das Secas,
criada ainda na gestão do interventor, Anthenor Navarro,
o governo aumentou o número de açudes particulares.
Com verbas federais do IFOCS, e sob a iscalização e
responsabilidade das prefeituras, duplicou o número de
campos de experimentação, bene iciando os médios e grandes
proprietários. Subvencionou instituições como a Rádio
Clube da Paraíba, único veículo radiofônico do estado e com
signi icativa participação na propaganda das obras o iciais; e a
Colônia de Pescadores Z-1 'José Lindemberg, na capital.
Em Campina Grande, subvencionou a União Operária
Bene icente, a Associação dos Empregados do Comércio, a
Sociedade dos Professores Primários e o Hospital Pedro I,
patrimônio da Grande Loja Maçônica da Paraíba, sendo a maior
parte destas instituições comprometida com o alistamento
eleitoral. Este, por sinal, quase que duplicou das eleições de
1933 para o pleito de 14 de outubro de 1934, passando de
uma percentual de 1,94% para 2,35% a população votante,
revelando, ainda assim, a grande marginalização dos habitantes
paraibanos do processo eleitoral, conforme quadro a seguir:16

PARAÍBA – ALISTAMENTO ELEITORAL E COMPARECIMENTO ÀS ELEIÇÕES


– 14/10/1934
ALISTAMENTO ELEITORAL 51.463
COMPARECIMENTO 38.865

Como se vê, diferentemente das eleições de 1933, houve uma


signi icativa ausência do eleitorado no pleito de 1934, além de um aumento
considerável no corpo eleitoral, o que evidencia a presença de fortes indícios
de fraude no alistamento eleitoral daquele período, repetindo uma prática
usual das eleições da Primeira República.

16 Martha Falcão, in Ob. Cit., p. 139.

104
As eleições de 1933 na Parahyba

Comício na Duque de Caxias – década de 1930.


(Fonte: Acervo particular de João Lélis de Luna Freire).

Comício na Duque de Caxias – década de 1930.


(Fonte: Acervo particular de João Lélis de Luna Freire)

105
A BAGACEIRA, Eleitoral

Comício na Parahyba – década de 1930.


(Fonte: Acervo particular de João Lélis de Luna Freire)

106
CAPÍTULO IX

As eleições de 1934
para a Assembleia
Legislativa e Câmara
dos Deputados

“O pleito foi marcado pelas mesmas


violências das eleições de 1933. Apesar
do jornal oϔicial condenar, muitas vezes,
as práticas de corrupção da República
Velha, o situacionismo fez largo uso dos
mesmos expedientes. Comícios do PRL
foram proibidos, muitos de seus candidatos
impetraram habeas corpus na defesa de seus
direitos violados, alegando falta de liberdade
política.” (Martha Falcão)*1

* Martha Falcão, in Ob. Cit., p. 140.

107
A BAGACEIRA, Eleitoral

A
s primeiras eleições pós-1930 na Parahyba para a Assembleia do
Estado e para a Câmara dos Deputados se realizaram noventa dias
após a promulgação da Constituição Federal de 16 de julho de 1934,
conforme determinava a própria Carta Constitucional em seu art. 3º, do ato
de suas Disposições Transitórias.
Segundo a mesma Constituição Federal, a escolha do governador
e de dois senadores era feita de forma indireta, pela própria Assembleia
Legislativa, após terminado o seu trabalho de Assembleia Constituinte
estadual, numa transformação de poder constituinte originário em poder
constituinte derivado, como ocorrera no passado.
As eleições para Deputado Estadual e Deputado Federal
ocorreram no dia 14 de outubro de 1934 e foram as primeiras executadas
e administradas pela Justiça Eleitoral do estado, representada pelo Tribunal
Regional de Justiça Eleitoral e pelos Juízes Eleitorais, posto que, segundo o
Código Eleitoral da época, não havia os órgãos das Juntas Eleitorais.
Segundo Flávio Sátyro Fernandes,1 o eleitorado do estado apto
para essa eleição foi de 51.412 eleitores e os candidatos concorreram
mediante os partidos políticos ou legendas.
Como eram as primeiras eleições, não havia inelegibilidades,
o que explica o fato de o Interventor Gratuliano de Brito haver concorrido
a deputado federal sem se afastar do governo, tendo deixado este
de initivamente para ser diplomado, pois o exercício da Interventoria geraria
a incompatibilidade constitucional para o exercício do mandato de deputado
federal.
Instalada a Assembleia Constituinte do Estado em janeiro de
1935, os deputados elegeram Argemiro de Figueiredo governador. Não havia

1 In HISTÓRIA CONSTITUCIONAL DA PARAÍBA. Belo Horizonte: Ed. Forum, 2009, 2ª ed., p.


161.

108
As eleições de 1934 para a assembleia legislativa e câmara dos deputados

a igura do vice-governador de estado. Na mesma sessão, José Américo de


Almeida e Manoel Veloso Borges foram eleitos senadores.
Na opinião de Oswaldo Trigueiro, a preterição de Gratuliano
Brito para governar o estado, em 1935, signi icou um dos episódios mais
di íceis de compreensão na crônica política da Parahyba do século XX,2 pois
o interventor reunia todas as condições e se apresentava como o candidato
natural para ser eleito governador do estado.
Tudo parecia conspirar em favor de Gratuliano: segundo o critério
adotado no resto do país a escolha do governador de estado recaia sobre o
Interventor local, que era o delegado do governo federal, o maior responsável
pela reconstitucionalização; a vitória obtida pelo Partido Progressista
na Parahyba, que elegera quase todas as bancadas federal e estadual; o
governo exemplar que vinha exercendo o interventor da Parahyba; o fato de
Gratuliano Brito não possuir competidor, ostensivo e declarado para o pleito
indireto, e, por último, o parentesco com o principal líder da Revolução de
30 no estado, José Américo de Almeida.
Todavia, alguns descontentes com o Interventor sugeriram o
nome do industrial Virgínio Veloso Borges, amigo e contra-parente de
José Américo, abrindo a dissidência nas hostes do Partido Progressista.
Invocando a unidade partidária, José Américo lançou o seu nome para o
governo, ao tempo em que “sacri icava” a sua candidatura ao Senado, o que
levou a Gratuliano a renunciar à sua postulação.3
Na condição de tertius, o nome de Argemiro de Figueiredo
apareceu como solução para manter a unidade do partido:

2 In Galeria Paraibana. João Pessoa: Editora Universitária/UFPB, Conselho Estadual de


Cutura, p. 33-34.
3 Como consolo, o nome de Gratuliano da Costa Brito ainda foi lançado para o Senado mas, em
face da Justiça Eleitoral tê-lo considerado inelegível, pois não tinha a idade mínima de 35,
foi substituído por Manuel Veloso Borges, que era candidato ao cargo de deputado federal,
enquanto que o próprio Gratuliano fora lançado para a Câmara Federal. (Flávio Sátiro, in
Ob. Cit., p. 163).

109
A BAGACEIRA, Eleitoral

Em favor de Argemiro deve-se dizer que até então a sua


conduta havia sido irrepreensível: não se incompatibilizara
com ninguém e não se candidatara a nada. Aliás, afastado
o nome de Gratuliano, o de Argemiro logo aparecia como o
mais quali icado, entre os jovens oriundos da Aliança Liberal.
Não era inferior a qualquer um deles em inteligência, em
habilidade ou em serviços e tinha, do ponto de vista eleitoral, a
vantagem de representar o maior Município – Campina Grande
– onde as suas raízes eleitorais remontavam aos primórdios da
República.4

A eleição para governador se deu em 24 de janeiro de 1935 e foi de


forma indireta, pela Assembleia Legislativa, em votação secreta. Dos trinta
deputados eleitores, o governador eleito obteve 26 votos. Os deputados da
oposição, Fernando Pessoa, Ernani Sátiro5 e Severino Lucena, votaram em
branco. O deputado Será ico Nóbrega, em virtude de doença, esteve ausente
da sessão. A posse de Argemiro de Figueiredo ocorreu no dia seguinte à
eleição.

A representação classista na Constituição de 1934

Os que se demonstraram contrários à representação pro issional


alegavam, dentre outros argumentos, a di iculdade para a formação dos
partidos políticos.6
A Constituição Federal de 1934 frustou o país no que diz
respeito aos partidos políticos, que continuaram a ter o caráter estadual.

4 Oswaldo Trigueiro, in Ob. Cit., p. 37.


5 Ernany Ayres Sátyro e Sousa, nascido em Patos, ilho do antigo chefe político epitacista
Miguel Sátyro e Sousa, que liderou a política patoense entre 1904 e 1930. Ernani Sátyro
foi deputado estadual constituinte, eleito em 1934; deputado federal; Chefe de Polícia do
estado; Prefeito de João Pessoa, em 1940; deputado federal eleito em 1945; Ministro do
Superior Tribunal Militar, em 1969 e Governador do Estado em 1970, eleito indiretamente.
6 Vamireh Chacon, in História dos Partidos Brasileiros – Discursos e práxis dos seus
programas. Brasília: Ed. UnB, 1985, p. 324.

110
As eleições de 1934 para a assembleia legislativa e câmara dos deputados

Por outro lado, ao tempo em que se adotava uma atitude progressista ao


acolher a representação proporcional, Varga copiava o modelo fascista da
representação pro issional nas Assembleias Legislativas que funcionavam
como uma espécie de instrumento permanente dos Governos contra a livre
ação dos partidos.7

Os partidos políticos

Concorreram nessas eleições de 1934 dois partidos políticos. O


o icial, representado pelo Partido Progressista e sob a liderança de José
Américo de Almeida; o oposicionista, o Partido Republicano Libertador,
liderado pelo advogado Antônio Botto de Menezes.
Realizada a convenção em 09 de setembro daquele ano, o Partido
Progressista repetiu as campanhas da Primeira República ao apresentar
os seus candidatos ao eleitorado através de manifesto publicado no jornal
o icial do estado, A UNIÃO, em 06 de outubro do mesmo ano.
Por sua vez, o partido de oposição já havia lançado o seu manifesto
através do qual pedia apoio aos eleitores através do jornal pertencente à
Arquidiocese do estado, A IMPRENSA. Os candidatos expoentes do partido
situacionista eram Argemiro de Figueiredo, José Américo de Almeida,
Rui Carneiro e Gratuliano Brito. Pelo partido opositor, os candidatos mais
conhecidos eram Antônio Botto de Menezes e Ernani Sátiro.
A chapa oposicionista apresentou as dissidências da família Pessoa
e de epitacistas, que não encontraram espaço político após 1930. Além disso,
só apresentou candidatos para a Câmara dos Deputados e para a Assembleia
Legislativa.
Segundo o Código Eleitoral só podiam participar das eleições os
partidos políticos que adquiriam personalidade jurídica na forma da lei civil

7 Afonso Arinos de Melo Franco, in Ob. Cit., p. 63.

111
A BAGACEIRA, Eleitoral

bem como as associações de classe legalmente constituídas e entidades que


não tinham adquirido o registro na forma da lei civil, mas desde que tivesse
o apoio mínimo de quinhentos eleitores.

As legendas

As legendas8 eram grupos de 100 eleitores que, reunidos, se


registravam para indicar os seus candidatos e concorrer às vagas. Além dos
dois partidos acima citados – Progressista e Libertador – concorreram as
legendas sob a denominação de Ligas: Liga Pró-Estado Leigo, Liga Eleitoral
Católica, o Partido Popular Paraibano, este último sob a liderança de
Anacleto Vitorino.

A campanha eleitoral

Antônio Botto de Menezes esteve na oposição na Assembleia


Legislativa da Parahyba entre 1925 a 1930 representando o Partido
Republicano Libertador. Nos comícios da Aliança Liberal para combater os
vícios das eleições chegou a saudar políticos de Minas Gerais e do Rio Grande
do Sul que visitaram a Parahyba, proclamando a liberdade do voto e o im
das fraudes eleitorais.
O Partido Republicano Libertador surgiu para colocar nomes à
disposição do eleitorado para concorrer nas eleições da Assembleia Nacional
Constituinte. O partido serviu de “guarda-chuva” para abrigar epitacistas que
não alcançaram o poder após o Movimento de 1930. O próprio Epitácio Pessoa,
convidado por Botto de Menezes para exercer a che ia do partido, recusou o
convite, alegando problemas de saúde. Mesmo assim, em correspondência
enviada ao presidente do PRL, Epitácio Pessoa manifestou as suas expectativas

8 Art. 58 do Código Eleitoral de 1932.

112
As eleições de 1934 para a assembleia legislativa e câmara dos deputados

não muito promissoras em relações às eleições que se aproximavam, segundo


icou registrado por Botto de Menezes, em suas memórias:

(...) A luta política no Estado, em tôrno das próximas eleições,


exigirá grande esfôrço da parte dos que combatem o governo,
pois nem poderão contar a neutralidade do Interventor, que
é ou tem candidato à sua sucessão e é protetor de amigos já
consignados à Câmara e ao Senado, nem terão como defender-
se da parcialidade do Governo Federal, em cujo seio, como o
sr. Mesmo assinala, os adversários encontram decidido apoio.
(...)9

A campanha eleitoral de 1934 foi bastante acirrada. A propaganda


eleitoral ocorreu de forma renhida. O Partido Republicano Libertador,
de caráter oposicionista, digladiou-se com o partido o icial, o Partido
Progressista, que tinha a direção e liderança do Interventor Gratuliano de
Brito e do Ministro de Viação e Obras Públicas, José Américo de Almeida.
Para garantir o exercício do seu direito de propaganda, Antônio Botto
de Menezes teve que impetrar vários Habeas Corpus junto ao Tribunal de Justiça
Eleitoral. Numa dessas ações, defendia-se a liberdade do PRL de fazer comícios
nas feiras das vilas e cidades do interior, proibido pelo chefe de Polícia.
Em outro Habeas Corpus, buscou-se garantir as eleições na terra
natal de Epitácio Pessoa (Umbuzeiro), onde vários eleitores, dentre eles,
Carlos Pessoa, candidato a deputado federal, estaria sofrendo ameaças de
violência ou coação em seu direito de liberdade.10

Um comício, uma morte, um juramento

A violência nas eleições da Parahyba sempre foi um fenômeno


constante e não seria diferente durante as campanhas eleitorais ocorridas na

9 Antônio Botto de Menezes, in Ob. Cit., p. 186.


10 Antônio Botto de Menezes, in Ob. Cit., p. 190/191.

113
A BAGACEIRA, Eleitoral

Segunda República. Às vésperas daquela eleição de 1934, Botto de Menezes


anunciou o clima de acirramento da campanha:

A política, na província, em todos os tempos, nunca se


processou sem diatribes, sem insultos pessoais e sem
derramamento de sangue. Sussurravam sobre o nosso
assassinato. Atraídos pela fama da terra e pelo aceso da luta,
chegavam à capital, homens dispostos, valentes, até mesmo dos
Estados vizinhos, que se ofereciam para soluções macabras.11

As expectativas do líder partidário se con irmaram. Em comício


realizado na Praça das Mercês, entre o inal da tarde e o início da noite, na
véspera do pleito, uma grande multidão se comprimia por toda parte. Após
Botto de Menezes proceder à leitura da chapa dos candidatos do PRL e pedir
votos para os seus candidatos,

Rompeu o tiroteio. A multidão procurava se defender, uns


se amparando sobre os outros; alguns caíam e se deitavam,
enquanto outros, em derredor de mim, marchavam para o lado
da residência do tenente Antônio Tavares, onde entrei.
A poucos metros de mim, tombava, ferido de morte, o
carroceiro José Lino, empregado da irma Vergara. O povo
pedia-me para continuarmos, ali mesmo, a nossa trajetória.
Puseram-me à disposição um automóvel, à porta do tenente
Tavares. Preferi sair, a pé, com o povo, fazendo o trajeto pela
rua Duque de Caxias, passando em frente ao Clube dos Diários
e às delegacias de polícia, até minha residência do Tambiá.
Mais de duzentas pessoas se machucaram.
Juramos, ali mesmo, no portal da nossa casa, que o sangue
de João Lino adubaria a nossa campanha e selaria a nossa
vitória.12

11 Antônio Botto de Menezes. In Minha Terra – Memórias e Conϐissões. João Pessoa: Grá ica
Santa Marta, 1992, pp. 194/195.
12 Antônio Botto de Menezes, in Ob. Cit., pp. 195/196.

114
As eleições de 1934 para a assembleia legislativa e câmara dos deputados

Na versão do jornalista Duarte de Almeida, em depoimento


prestado à historiadora Martha Falcão, o evento que culminou na morte do
carroceiro foi motivado pela realização dos comícios das duas agremiações
adversárias em espaços ísicos muito próximos, o que possibilitou o
confronto, conforme assim relatou:

Os perrelistas faziam suas concentrações geralmente, na


Praça Vidal de Negreiros, no Ponto do Cem Réis ou na Praça
das Mercês. No dia do lançamento de seus manifestos, os dois
partidos – P.R.L e P.P., izeram seus comícios bem vizinhos, uma
vez que o primeiro icou na Praça das Mercês e o segundo, na
Praça João Pessoa.
Em meio aos insultos mútuos, teve início o tiroteio, culminando
com a morte do carroceiro José Lino e outros feridos.13

O morticínio eleitoral da Praça das Mercês não arrefeceu os ânimos


dos oposicionistas, que izeram circular propaganda eleitoral mediante
boletins nos quais demonstravam que con iavam no resultado das urnas,
principalmente no voto secreto,14 uma das principais bandeiras da Revolução
de 1930.
Apesar da coragem exposta pelos oposicionistas, a luta se
mostrava desigual entre os concorrentes. Eram evidentes as facilidades
dos governistas e as di iculdades dos perrelistas. Embora estivéssemos em
outro tempo, as práticas eleitorais se repetiam, a exemplo da violência e das

13 Martha Falcão, in Ob. Cit., p. 140/141.


14 O voto secreto se tornou um dogma para aquela geração a ponto de alguém tomar a
iniciativa de “ensinar” o seu exercício aos eleitores. Registra Antônio Botto de Menezes
em suas memórias que o coronel Estevam de Ávila Lins foi o pioneiro, na Parahyba, no
ensino da prática do voto secreto aos sertanejos: “Em Pombal, o estóico militar, ainda não
contaminado pelo hábito político, virgem das maquinações partidárias, montou uma cabine,
e ele próprio, perante os cidadãos, mostrou como se executava o voto secreto.” (In Ob. Cit., p.
207).

115
A BAGACEIRA, Eleitoral

ameaças, fatos comuns no “antigo regime”, conforme registra Antônio Botto


de Menezes:

Remetíamos para os distritos municipais, boletins, e


penetrávamos em Conde, Alhandra, Pitimbú, realizando
comícios, onde até então se ritmara a inexpugnável trincheira
de Pedro Ulisses de Carvalho.
À porta da Igreja do Conde, depois da missa, izemos uma
pregação. Em Alhandra, Lourenço Gadelha, acompanhado de
amigos de Goiana e da música local, realizou conosco outro
comício.
Dos habitantes do vilarejo, poucos compareceram,
assustadiços, mas se vislumbravam portas e janelas ‘se abrindo
e se fechando’.
O cel. Alcoforado, chefe situacionista, disse: ‘-Dr. nós aqui não
precisamos de melhoramento nenhum.15

Quanto à Justiça Eleitoral, as expectativas eram de con iança em


sua atuação, principalmente para apurar os votos. Botto de Menezes a irmou
que, na eleição de 1934, ela atuou com dignidade.
A Liga Eleitoral Católica recomendou ao eleitorado os candidatos
do PRL e do PP, em nota publicada no jornal A IMPRENSA, pertencente à
Arquidiocese.

O resultado das urnas

A participação do eleitorado na eleição de 1933 foi insigni icante,


mas há controvérsias entre os historiadores quanto aos dados. Alguns
registram o percentual de apenas 1,94% dos votantes da população do
estado, o que expressava o elevado índice de analfabetismo na Parahyba.
Diferentemente, Eliete Gurjão a irma com base em depoimento de José Jof ily

15 Antônio Botto de Menezes, in Ob. Cit., p. 203/204.

116
As eleições de 1934 para a assembleia legislativa e câmara dos deputados

que o contingente eleitoral que participou da votação representava 2,35% da


população.16
Martha Falcão a irma que nas eleições de 1934 se repetiram as
velhas práticas ocorridas nas eleições da Primeira República:

Apesar das a irmações da Interventoria, de que o pleito


transcorrera na mais perfeita ordem, depoimentos
contemporâneos, memórias e registros da imprensa da época
dão conta de que urnas foram violadas, eleitores e candidatos
da oposição foram presos, espancados e ameaçados de
morte. Funcionários perseguidos e ameaçados, moradores
foram despejados da propriedade onde viviam há gerações,
contabilizando-se como saldo a absoluta vitória do partido
governista.17

Ao inal dos resultados,18 todos os deputados situacionistas foram


eleitos, conforme os dados seguintes:

PARAÍBA – COEFICIENTE ELEITORAL OBTIDO POR PARTIDO OU LEGENDA


– ELEIÇÕES DE 03.05.1933

Partido Total de votos % de votação por


partido
Partido Progressista 17.087 82,05
Partido Republicano Libertador 3.324 15,96
Liga Pró-Estado Leigo 412 1,98
Partido Popular Paraibano 3 0,01
Total 20.826 99,99

16 In Ob. Cit., p. 175.


17 Martha Falcão, in Ob. Cit., p. 141.
18 Quadro elaborado com dados publicados pelo Tribunal Regional Eleitoral, em A UNIÃO, João
Pessoa, 08 de dezembro de 1933, p. 10, apud Martha Falcão, in Ob. Cit., p. 124.

117
A BAGACEIRA, Eleitoral

Além dos dois grandes partidos, PP e PRL, foi fundado também o


Partido Popular Paraibano, sob a liderança de Anacleto Vitorino.
O PRL elegeu três deputados estaduais: Ernani Sátyro, Fernando
Pessoa e Severino de Lucena, representando 10% do número de vagas. Para
a Câmara Federal, apenas Botto de Menezes foi eleito deputado federal.

REPRESENTAÇÃO DA PARAÍBA – CONSTITUINTES À ASSEMBLEIA


NACIONAL (1933):19

constituinte partido naturalidade proϐissão


Manuel Veloso Borges PP Pilar médico
Irinêo Jof ily PP C. Grande advogado
Odon Bezerra Cavalcanti PP Bananeiras advogado
José Pereira Lira PP C. do E. Santo professor
Heretiano Zenaide PP Alagoa Grande Bel. em Direito, Usineiro-
Zoólogo, Botânico
Vasco de Toledo Deputado João Pessoa advogado classista

A atuação de José Américo no Ministério de Viação e Obras no


combate à Seca de 32 se re letiu sobre a vitória do Partido Progressista nas
eleições para a Assembleia Constituinte e também nos resultados da eleição
de 1934 para a Assembleia do Estado.
Uma das novidades da eleição de 1934 foi a adesão ao Partido
Progressista pela oligarquia santaritense e ex-perrepista, Ribeiro Coutinho,
o que permitiu inclusive a vitória de um dos representantes de outra
oligarquia, os Velloso Borges, o que demonstrou a conciliação das duas
antigas oligarquias até então adversárias.

19 Fonte: “Constituintes Paraibanos”, in: A UNIÃO, João Pessoa, 28 jun.1933, p. 08 apud Martha
Falcão, in Ob. Cit., p. 125.

118
As eleições de 1934 para a assembleia legislativa e câmara dos deputados

Na eleição do ano seguinte, para prefeito de Santa Rita, o clã Ribeiro


Coutinho foi recompensado com a vitória de Flávio Maroja Filho, primo de
Flávio Ribeiro Coutinho, com o apoio decisivo da oligarquia Veloso Borges.20
Nesse período, a política de parentela, tão comum durante a
Primeira República, se repetiu nas primeiras eleições na Parahyba, pós-
1930. O PRL chegou a fazer acusações ao Partido Progressista neste aspecto,
através de editorial publicado em uns jornais da época:
(...) o sr. Manoel Veloso Borges, candidato a senatoria pelo
Partido Progressista, seu irmão sr. Virgínio Veloso Borges,
cunhado do Padre Matias Freire, primo do sr. José Américo, chefe
do citado Partido. O Interventor Gratuliano Brito, seu primo, é
candidato a deputado federal. O sr. Rui Carneiro e seu cunhado
sr. José Pereira Lira são candidatos a deputados federais, sendo
o primeiro irmão do sr. Alcides Carneiro que é genro do sr. José
Américo, candidato a senatoria pelo Partido Progressista. (...)
Nas chapas para senadores e deputados federais e estaduais
igura doze parentes e contra-parentes do sr. José Américo,
bem como perrepistas inimigos ferrenhos do saudoso e grande
presidente João Pessoa.21

Nas eleições de 1933, votaram 3.423 eleitores. Para deputado


federal, o resultado foi o seguinte:22

Candidato Votação
Odon Bezerra 18.844 votos
Irineu Jof ily 18.525 votos
Heretiano Zenaide 18.365 votos
Pereira Lira 18.360 votos
Manuel Veloso Borges 17.923 votos

20 Martha Falcão, in Ob. Cit., p. 233.


21 Editorial sob o título “Cidade sob o regime do terror e da violência” do jornal “O Brasil
Novo” apud Martha Maria Falcão, In NORDESTE, AÇUCAR E PODER. João Pessoa: Ed.
Universitária/UFPB, 1990, p. 224.
22 Josué Sylvestre. Da Revolução de 30 à Queda do Estado Novo – Fatos e personagens da
história de Campina Grande e da Paraíba, p. 153/154.

119
A BAGACEIRA, Eleitoral

Os candidatos do Partido Republicano Libertador foram Antônio


Botto de Menezes, Estevam de Ávila Lins, Galdino Salles, Joaquim Pessoa e
José de Oliveira Pinto.
O candidato que concorreu pela Liga Pró-Estado Leigo foi João
Santa Cruz e, representando uma pequena legenda – o Partido Popular
Paraibano – Rômulo Rubens de Avelar.
Os eleitos para a Câmara dos Deputados foram José Pereira
Lira, Heretiano Zenaide, Samuel Duarte, José Gomes da Silva, Isidro
Gomes, Gratuliano de Brito, Odon Bezerra e o padre Matias Freire, todos
pelo Partido Progressista. O primeiro suplente do Partido, Rui Carneiro,
assumiu logo no início da legislatura, em razão da renúncia do eleito,
Isidro Gomes.
Por sua vez, o Partido Republicano Libertador elegeu um único
candidato: Antônio Botto de Menezes.
A legenda TRABALHADOR VOTA EM TI MESMO, além de não
conseguir eleger nenhum dos seus candidatos teve uma votação inexpressiva
para a Câmara Federal.
Na votação para a Assembleia estadual concorreram o Partido
Progressista, o Partido Republicano Libertador e o Partido Democrático,
além das legendas TRABALHADOR VOTA EM TI MESMO e o Partido
Integralista. Os eleitos foram os seguintes:

120
As eleições de 1934 para a assembleia legislativa e câmara dos deputados

Eleito origem
Adalberto José Rodrigues Ribeiro Capital
Alcindo Medeiros Leite Santa Luzia
Aluízio Afonso Campos Campina Grande
Américo Maia de Vasconcelos Catolé do Rocha
Antônio Pinto de Oliveira Souza
Celso de Matos Rolim Cajazeiras
Emiliano Castor da Nóbrega Soledade
Ernani Ayres Sátiro Patos
Fernando Carneiro da Cunha Nóbrega Capital
Fernando Pessoa Itabaiana
Francisco Duarte Lima Serraria
Francisco de Paula e Silva Piancó
Francisco Será ico da Nóbrega Santa Luzia
João de Souza Vasconcelos Campina Grande
José Antônio Ferreira da Rocha Cajazeiras
José Francisco de Paula Cavalcanti Espírito Santo
José Peregrino de Araújo Patos
José Rodrigues de Aquino Areia
José de Souza Maciel Capital
José Targino Araruna
José Tavares de Melo Cavalcanti Campina Grande
Lauro dos Guimarães Wanderley Capital
Miguel Severino Bastos Lisboa Capital
Newton Nobre de Lacerda Capital
Odilon da Silva Coutinho Capital
Otávio Teodoro de Amorim Campina Grande
Pedro Ulysses de Carvalho Capital
Raimundo Viana de Macedo Campina Grande
Severino de Albuquerque Lucena Bananeiras
Tertuliano Correia da Costa São João do Cariri

121
A BAGACEIRA, Eleitoral

PARAÍBA – ELEIÇÕES PARA A REPRESENTAÇÃO FEDERAL – 14.10.1934.


VOTAÇÃO E % POR PARTIDO OU LEGENDA

PARTIDOS VOTAÇÃO %
Partido Progressista da Paraíba 19.890 80,05
Partido Republicano Libertador 4.157 16,73
Trabalhador Vote em Ti Mesmo 799 3,21
TOTAL 24.846 99,00

BANCADA PARAIBANA NA CÂMARA FEDERAL. PLEITO DE 14 DE OUTUBRO


DE 1934

DEPUTADOS PARTIDOS VOTAÇÃO FORMAÇÃO


Antônio Botto de Menezes PRL 4.419 Advogado militante
Isidro Gomes da Silva PP 20.317 Advogado/ comerciante
Gratuliano da Costa Brito PP 20.428 Advogado e ex-Interventor
Heretyano Zenaide PP 20.231 Usineiro/Bel. em Direito
José Pereira Lyra PP 20.349 Professor/Advogado
José Gomes da Silva PP 20.350 Médico
Odon Bezerra Cavalcanti PP 20.217 Advogado
Mathias Freire PP 20.349 Cônego/Adv Jornalista
Rui Carneiro PP 20.179 Adv. e ex-secretário de José Américo
Samuel Vital Duarte PP 20.215 Advogado e jornalista

DEPUTADOS CLASSISTAS ELEITOS NA PARAHYBA

Representante Classe
Raul Nóbrega Pecuária
Anacleto Vitorino Transportes
Joaquim José de Sá e Benevides Pro issões liberais
Romualdo Rolim Funcionários Públicos

122
As eleições de 1934 para a assembleia legislativa e câmara dos deputados

CAMPINA GRANDE NAS ELEIÇÕES DE 1933 E 1934

Campina Grande sempre pretendeu ocupar um lugar de destaque


na política paraibana. Todavia, passou vários anos sendo discriminada, de
forma que a sua representação política não re letia a sua pujança econômica
e o seu status de uma das cidades mais desenvolvidas do interior do
Nordeste.
Antes da eleição de 1933, a Rainha da Borborema era esquecida
por ocasião da elaboração de chapas eleitorais, embora Epitácio Pessoa já
alertasse através de telegrama23 enviado ao então presidente João Pessoa, em
1927, sobre a importância eleitoral daquela comuna, considerada o principal
colégio eleitoral do Estado.
A partir da eleição para a Assembleia Nacional Constituinte,
esse quadro foi alterado, pois Campina Grande conseguiu eleger cinco
representantes, de um total de 30. O eleitorado campinense compareceu
em massa às urnas, em número de 4.377 eleitores, o que a levou a obter
quase 20% das vagas para a Assembleia do Estado: Otávio Amorim, João de
Vasconcelos, Raimundo Viana, José Tavares e Aluísio Campos:

Foi um prestigiamento notável que Campina obteve naquela


eleição raramente igualado em toda a sua história posterior no
que diz respeito à composição da Assembleia Legislativa.24

23 O telegrama tinha o seguinte teor: “2-12-1927 – cifrado. Presidente Estado Paraíba. Campina
centro maior importância, primeiro colégio eleitoral Estado não pode ϔicar sem representação:
empenhava-se até para dar dois deputados. Ora, Miguel Brás, estranho Estado, não pode ser
considerado delegado político Campina. Julgo, pois, imprescindível Generino seja reconduzido.
Salvo este ponto, estou acordo seu cabograma de ontem. Abraços.
a) Epitácio Pessoa” (Epitácio Pessoa, in Na Política da Paraíba. Apud Josué Sylvestre, DA
REVOLUÇÃO DE 30 À QUEDA DO ESTADO NOVO – Fatos e Personagens da história de
Campina Grande e da Paraíba (1930/1945). Brasília: Ed. Senado, 1993, p. 13.
24 Josué Sylvestre, in DA REVOLUÇÃO DE 30 À QUEDA DO ESTADO NOVO – Fatos e
personagens da história de Campina Grande e da Paraíba (1930-1945). Brasília: Ed.
Senado Federal, 1993, p. 154.

123
CAPÍTULO X

Eleições indiretas em
1935 para o governo
estadual e para o
Senado

“Foi essa, embora indireta, a segunda eleição


de sua vida pública. A circunstância de esse
pleito ter lugar na Assembleia Legislativa
não o desmerece por, inclusive, se haver
veriϔicado por unanimidade.” (José Octávio
de Arruda Mello)* 1

* José Octávio de Arruda Melo, in TRAJETÓRIA POLÍTICA E ELEIÇÕES EM ARGEMIRO DE


FIGUEIREDO, p. 9.

125
A BAGACEIRA, Eleitoral

A
Constituição Federal previa que as eleições para governador e
senadores fossem feitas pela Assembleia Legislativa, antes destas
procederem a elaboração das constituições estaduais.
A indicação de Argemiro de Figueiredo teve o apoio de José
Américo de Almeida, embora este tivesse se inclinado inicialmente pelo
nome de Virgínio Veloso Borges.
As historiadoras Martha Falcão1 e Eliete Gurjão divergem em
relação à candidatura de Argemiro de Figueiredo. Enquanto a primeira
defende que o nome de Argemiro se deu por imposição de José Américo,
a segunda atribui a indicação do líder campinense à pressão da bancada
algodoeiro-pecuária na Assembleia Estadual Constituinte.
Divergências à parte, o fato é que Argemiro de Figueiredo tornou-
se o primeiro e único governador da Parahyba eleito indiretamente entre o
período de 1930 e 1964.
Para o Senado, José Américo de Almeida e Gratuliano de Brito
foram os candidatos pelo PP, mas faltava ao segundo a idade mínima de 35
anos para concorrer ao pleito, razão pela qual o seu nome foi substituído
por Irineu Jof ily, que não recebeu a indicação de bom grado. Diante desse
fato, a direção partidária apontou o empresário Manuel Veloso Borges.
A eleição para escolha de dois senadores foi indireta, como
mandava a legislação eleitoral da época e ocorreu logo após a eleição de
governador, que também foi feita pela Assembleia Legislativa. Os eleitos
foram José Américo, o mais votado com 26 votos, e Manuel Veloso Borges,
que obteve 19 votos. Os demais candidatos, Epitácio Pessoa e João Pereira de
Castro Pinto, tiveram 3 votos, cada.

1 Para Martha Falcão, foram três os motivos que descartam a tese de Eliete Gurjão: 1. jurídico,
porque a Constituição de 1934 previa a escolha indireta do governo do estado, pelo poder
legislativo; 2. O fator tempo, em razão de que, segundo o Código Eleitoral de 1932, o prazo
de registro de candidaturas se esgotava 15 dias antes da eleição, isto é, 30 de setembro de
1934; 3. a veiculação da candidatura de Argemiro, cujo nome “foi escolhido como candidato
em agosto e, a partir de início de outubro, depois de legalmente registrado, começou a ser
veiculado pelo manifesto do PP, muito antes da escolha e eleição da bancada dita algodoeira-
pecuária, o que só ocorreu no dia 14 de outubro. A eleição do governo ocorreu em janeiro
de 1935.” (in Ob. Cit., p. 130)

126
Eleições indiretas em 1935 para o governo estadual e para o senado

Posse de Argemiro de Figueiredo, eleito em 1935, pela Assembléia Legislativa.

127
CAPÍTULO XI

As eleições municipais
de 1935

“Na Paraíba, no período em estudo, as disputas


municipais eram tão acirradas que, não raro,
representantes de um mesmo partido lançavam
mão de legendas diferentes por municípios para
contornar as facções locais. As desavenças inter-
oligárquicas nos municípios repercutiram,
por sua vez, na Assembleia Legislativa.
Durante a curta legislatura de 1935-1937, os
debates prolongaram-se a partir de eventos
ocorridos em diversos municípios, envolvendo
perseguições políticas, falta de liberdade nas
eleições, fatos policiais, enϔim, questiúnculas
típicas de uma estrutura de poder centrada
nas disputas oligárquicas.”(Eliete de Queiroz
Gurjão)* 1

* Apud Martha Falcão, in AÇUCAR E PODER NO NORDESTE. João Pessoa: Ed Universitária/


UFPB, 1990, p. 235.

129
A BAGACEIRA, Eleitoral

A
Constituição Federal de 1934, embora mantivesse a eleição de
vereadores das Câmaras Municipais1 e de alguns prefeitos, obrigava
que os das capitais e dos municípios em que estivessem localizadas
as estâncias minerais fossem eleitos de forma indireta pelas Câmaras
Municipais, ou nomeados pelo governador de estado.
No período compreendido entre 1930, em que ocorreu o
Movimento Tenentista que derrubou o governo de Washington Luís e o ano
de 1937, quando Getúlio Vargas deu um golpe de Estado e fechou todos os
órgãos do poder legislativo do país, a Parahyba experimentou apenas uma
eleição municipal, ocorrida em 09 de setembro do ano de 1935.
O quadro político do estado, como de resto no país, foi
caracterizado pela repressão e perseguição a operários e comunistas. Em
Santa Rita, chegou-se a fundar uma secção da Ação Integralista Brasileira,
de inspiração fascista, que defendia a Religião, a Pátria e a Família, cujo
presidente de honra era o industrial Virgínio Veloso Borges e que chegou a
associar cerca de 150 pessoas.2

Cajazeiras

Em Cajazeiras, a eleição foi caracterizada pela defecção interna


na tradicional família Rolim, que apresentou dois candidatos, de um lado,
o coronel Joaquim Matos Rolim, que concorreu pelo Partido Popular
Cajazeirense, representando a ala conservadora da política local, oriunda do
tronco familiar do Coronel Sabino Rolim, que governou o município por mais

1 O poder legislativo municipal teve várias denominações. No período Colonial, eram


chamadas de Senados de Câmara ou Conselhos de Câmara; na Constituição Imperial de
1891, chamavam-se Conselhos Municipais; após 1930, passou a se chamar Conselhos
Consultivos e, inalmente, a partir da Constituição Federal, voltaram a ser chamado de
Câmaras Municipais, expressão que permanece até hoje.
2 Martha Falcão, in Ob. Cit., p. 233.

130
As eleições municipais de 1935

de duas décadas; de outro, o médico Vital Cartaxo Rolim, candidato pela


Legenda Católica e representante da facção considerada progressista.
Registra Francisco Cartaxo Rolim que, naquela época, o município
tinha menos de 25.000 habitantes, incluindo a população de atuais
municípios como Cachoeira dos Índios e Bom Jesus onde se deu uma
eleição bastante acirrada, considerando a guerra travada nos jornais locais
que serviam de instrumento das referidas candidaturas – A HORA – que
apresentava o coronel Matos,

como o industrial, para caraterizá-lo como empresário de


sucesso, progressista, moderno, sem ranço oligárquico. (...)
A leitura de artigos veiculados pela imprensa partidária
permite especular-se que havia embutida, na pugna eleitoral,
surda disputa empresarial em busca da hegemonia, também,
no campo dos negócios.3

Apurados os resultados, venceu o coronel Joaquim Matos, que


obteve 600 votos contra 345 sufrágios conquistados pelo seu opositor.
Todavia, o candidato vencido questionou o resultado da eleição junto ao
Tribunal de Justiça Eleitoral, alegando vários motivos: impedimento do
Juiz de Direito, Joaquim Victor Jurema, que, por ser pai de um candidato
a vereador, não poderia ter organizado as mesas eleitorais; impugnação
ao voto do Padre Abdom Pereira, que contava apenas com 18 dias de
transferência de seu domicílio eleitoral para o Município de Cajazeiras, o que,
na ótica do recorrente, impossibilitava o exercício do seu direito de sufrágio;
a nomeação, pelo Juiz de Direito, de parente do candidato a prefeito, para
presidir uma das mesas eleitorais no município e, como último argumento
e o mais frágil, o fato do coronel Matos ser empresário, o que diminuía as
possibilidades do seu concorrente.4

3 Francisco Cartaxo Rolim, in Ob. Cit., p. 114/115.


4 Se fôssemos transpor o argumento para a legislação de hoje, talvez o que o candidato
derrotado tenha pretendido questionar foi eventual abuso de poder econômico praticado

131
A BAGACEIRA, Eleitoral

O recurso foi mal-sucedido, prevalecendo o resultado


mencionado.

Campina Grande

O primeiro prefeito eleito diretamente pelo voto popular em


Campina Grande após a Revolução de 1930 foi o advogado Vergniaud
Borborema Wanderley, que concorreu pelo Partido Progressista, liderado
por José Américo de Almeida, contra o candidato do Partido Republicano
Libertador, o major Lafayete Cavalcante.
Vergniaud Wanderley não chegou a terminar o seu mandato,
renunciou ao cargo, rompeu com o Interventor de plantão – Ruy Carneiro –
para aderir à UDN, liderada por José Américo de Almeida.
A sua decisão foi acertada, pois em 1945 seria eleito Senador pela
Parahyba.

Patos

A disputa pela prefeitura da “Morada do Sol” em 1935 envolveu


duas famílias tradicionais da política local, os Sátyro, representada pelo
candidato Clóvis Sátyro e Sousa, e os Wanderley, através do candidato
Darcílio Wanderley da Nóbrega.
Após quase trinta anos no comando do poder municipal, por meio
do Major Miguel Sátyro, que caiu com o epitacismo em 1930, a vitória de Clóvis
Sátyro, mesmo sendo adversário político do governador Argemiro de Figueiredo,
signi icou o retorno do clã ao poder, desta vez através do voto direto e secreto.

pelo coronel Matos nessa eleição, considerando a sua condição de empresário bem-
sucedido. Como Francisco Cartaxo Rolim não faz qualquer referência, nesse aspecto, não
podemos a irmar, mas apenas presumir.

132
As eleições municipais de 1935

Juntamente com o prefeito, foram eleitos os vereadores Abílio de


Sousa Wanderley, Alfredo Lustosa Cabral, Francisco de Assis Wanderley,
Juvenal Lúcio de Sousa, Noé Trajano da Costa, Pedro Caetano dos Santos,
Pedro da Veiga Torres, Pedro Xavier dos Santos e Zacarias Vilar.5
Com a Interventoria de Argemiro de Figueiredo, em dezembro de
1937, Clóvis Sátyro e Sousa foi nomeado prefeito da cidade, permanecendo
no comando da administração municipal até 19 de agosto de 1940, data em
que assumiu o governo municipal o ex-vereador eleito em 1935, Pedro da
Veiga Torres, por ato do novo Interventor do Estado, Ruy Carneiro.

São José de Piranhas

Não houve concorrência na eleição municipal de São José de


Piranhas. A candidatura única foi registrada por Malaquias Gomes Barbosa,
que já era o principal chefe político local e governante do município que
exercera por nomeação, durante a interventoria de Antenor Navarro.6

Santa Rita

Em Santa Rita, a oligarquia Ribeiro Coutinho, que, em 1934 havia


se reconciliado com outra oligarquia, os Veloso Borges, foi apoiada pelos
últimos e saíram vitoriosos na eleição de 1935, conseguindo eleger o prefeito
Flávio Maroja Filho, primo do chefe da oligarquia, Flávio Ribeiro Coutinho.
O candidato eleito concorreu pelo Partido Progressista e foi
apoiado pelo integralismo liderado pelo industrial Virgínio Veloso Borges
e pela Igreja Católica, através de seu pároco local, Monsenhor Rafael de
Barros.

5 Flávio Sátyro Fernandes, in NA ROTA DO TEMPO. (Datas, fatos, e curiosidades da


história de Patos). João Pessoa: Ed. IMPRELL, 2003, p. 234.
6 José Marconi Gomes Vieira, in São José de Piranhas – Eleições e Partidos Políticos
(1947-1964). F&A Grá ica e Editora, 2006, p. 33.

133
CAPÍTULO XII

Terra seca, urna cheia

“A seca dos ϔlagelados é o inverno dos


ladrões.” (José Américo de Almeida)

“O retirante volta para a Seca chamado pelo


modo de produção solidário – o feudalismo
coronelesco.” (Otávio Sitônio Pinto)*
1

* In Dom Sertão, Dona Seca. A UNIÃO Editora., p. 51.

135
A BAGACEIRA, Eleitoral

O
ctávio Sitônio Pinto, num dos ensaios mais completos sobre o fenômeno
das secas nordestinas,1 destacou a visão pluralística desse fenômeno,
assim entendida nas suas várias naturezas – ísica, econômica e social.
Para o nosso estudo, buscamos compreender o fenômeno da Seca no seu aspecto
político, analisando o seu re lexo nas eleições que ocorreram durante o período
em que a Parahyba teve que conviver com as grandes estiagens.
A intenção é analisar a relação do Estado Oligárquico paraibano
com a Indústria das Secas e os seus re lexos nas eleições do período.

Indústria das Secas, usina de votos

Assim como os demais estados do Nordeste, a Parahyba


experimentou vários ciclos de secas: 1723-1727; 1744-1746; 1790-1793;
1844-1846; 1877-1879; 1888-1889; 1903-1904; 1930-1932; 1942; 1951-
1953 e a Seca de 1958/1960. Dos períodos citados, as secas mais graves
foram as de 1877-1879, a de 1930-32 e a de 1958.
Dentre os ciclos de seca supramencionados detemos a nossa
atenção sobre aqueles que coincidiram com a véspera ou ano de eleição
pois é fato que, no Nordeste, sempre houve uma forte relação entre seca e
eleição, como já advertia o jornalista paraibano, Orris Barbosa, em obra de
referência:

Tempo de seca, é tempo de vaca gorda nos currais eleitorais.2

As secas no Nordeste não apenas prejudicaram a economia


e recrudesceram as misérias sociais da região, aumentando de forma

1 Em Dom Sertão, Dona Seca, Otávio Sitônio Pinto invoca as ideias do engenheiro Arrojado
Lisboa – o primeiro dirigente da Inspetoria Federal de Obras contra as Secas (IFOCS) – para
a irmar que é inútil enfrentar esse fenômeno natural apenas através da questão hidráulica,
como atualmente se pretende com a transposição das águas do Rio São Francisco.
2 Orris Barbosa, in Ob. Cit., p. 5.

136
Terra seca, urna cheia

acentuada a desigualdade do Nordeste e parte do Norte em relação às


demais regiões do país, mas também alimentou toda uma estrutura política
que dela se bene iciava política e eleitoralmente.
A primeira iniciativa o icial de analisar estudos sobre as secas
no Nordeste data da época Imperial, mais precisamente em 1856 através
da Lei nº 884, que nomeou uma comissão de engenheiros e naturalistas.
A partir dessa época, surgiram várias propostas de ação no combate a
esse grave problema nordestino: a construção de açudes, de canais de
irrigação e de re lorestamento; a construção de colônias para lagelados no
litoral e no interior, além de centros de abastecimentos; a canalização do
Rio São Francisco para o Ceará; o uso de lagelados na construção viária e
desapropriação de terrenos marginais às ferrovias para distribuição e a
utilização de cataventos e a irrigação.3
À margem os constantes estudos cientí icos e os debates acerca
dos melhores instrumentos de atacar a Seca na região, o que houve, de forma
efetiva, foi a política de socorros públicos adotada pelo governo imperial,
através da distribuição de alimentos e remédios às populações atingidas.4
Essas ações, primeiro do governo imperial durante as secas ocorridas entre
1877-1879 e 1889-1890 e, depois, repetidas pelo governo republicano, no
período 1903-1904, atuaram mais como um ato humanitário do que como
uma ação de governo.
De igual modo, o governo estadual procurava fazer a sua parte.
Na primeira grande seca do século XIX, a de 1877-1879, o governo local, ao
mesmo tempo em que socorria a população lagelada com a distribuição

3 Lúcia de Fátima Guerra Ferreira, in RAÍZES DA INDÚSTRIA DA SECA – O CASO DA


PARAÍBA. João Pessoa: Ed. Universitária/UFPB, 1993, p. 52-53.
4 O General Delmiro Pereira de Andrade, eminente paraibano que integrou o Instituto
Histórico e Geográ ico da Parahyba e estudou o problema das Secas no Nordeste durante
vinte anos, registra que a primeira seca que se tem conhecimento ocorreu em 1692,
sucedidas por outras. Todavia, segundo ele, as secas mais rudes de que se tem notícia
foram as de 1726, 1745, 1777 e 1791, 1845, 1877 e 1879. (in A SECA NO NORDESTE E SUA
SOLUÇÃO, p. 17).

137
A BAGACEIRA, Eleitoral

de gêneros alimentícios, utilizava os desvalidos nos serviços públicos,5


principalmente através da limpeza das cidades, calçamento de ruas e reparos
em igrejas e cadeias.
As vítimas da Seca se transformavam em mão de obra ϔlutuante.
Na agricultura, os trabalhadores do campo, em troca do próprio sustento,
aceitavam o ônus de trabalhar gratuitamente, pelo menos um dia, para os
proprietários de terras.6
Em relação á seca de 1888-1889, o jornal A GAZETA DA PARAÍBA,
de 27.04.1890, chegou a denunciar o uso politiqueiro do assistencialismo
o icial:

Conta-se que o roubo feito nos gêneros de socorros de


Misericórdia (Itaporanga) deu-se porque os membros da
comissão distribuíram por afeição e politicamente, levando aos
descontentes a cometerem crime, embora fosse com vistas de
socorrer aos pobres, que se queixavam de nada lhes tocar da
esmola do governo.7

Analisando as oligarquias locais e a indústria da seca na Parahyba


veri ica-se que, durante a presidência do paraibano Epitácio Pessoa, a
oligarquia epitacista foi bene iciada politicamente pela ação de combate ás
secas, chegando, inclusive, ele e a sua família, a enfrentarem denúncias de
desvios e apropriações indébitas de verbas que foram volumosas,8 ao ponto

5 Registra Lúcia que a seca de 1903 trouxe para a capital paraibana um grande número de
retirantes que, de imediato, foram aproveitados como mão-de-obra para as obras públicas
em troca de gêneros alimentícios e remédios advindos dos socorros públicos. Um desses
serviços públicos foi a reconstrução do prédio da Assembleia Legislativa. (In Ob. Cit., p.
114).
6 Lúcia de Fátima Guerra Ferreira, in Ob. Cit., p. 64.
7 Lúcia de Fátima Guerra Freira, in Ob. Cit., p. 69-70.
8 Basta considerar que, enquanto a pequena e média açudagem existiram no Segundo
Reinado, a grande açudagem - cujas funções eram reservar água para abastecer médios
e grandes aglomerados urbanos, irrigação de lavouras comerciais e geração de energia
elétrica para atividades urbanas e rurais – só veio a ser realizada durante o governo do
eminente paraibano. (Lopes de Andrade, in Ob. Cit., p. 25-26).

138
Terra seca, urna cheia

do presidente paraibano haver sofrido fortes pressões das oligarquias


cafeeiras da região sul.

Votos da seca: água pra beber, votos pra se eleger

Os coronéis seguidores das três oligarquias,9 principalmente os


epitacistas, em sua maioria, grandes proprietários de terras, foram os mais
bene iciados pela construção de açudes em suas propriedades e de estradas
próximas a elas, a im de escoar a produção e facilitar as comunicações, além
de explorar nos barracões os lagelados da seca, que neles compravam os
seus alimentos.
Na condição de presidente da república, em 28 de julho de 1919, o
paraibano Epitácio Pessoa havia adotado como algumas de suas prioridades
a pretensiosa extinção das secas no Nordeste, além do saneamento do
sistema eleitoral em todos os níveis, considerando o desvirtuamento do voto
e o consequente comprometimento do regime representativo.
Data desse período o grande volume de recursos da União
que foram apropriados pelos chefes políticos locais que comandavam as
obras, satisfazendo os interesses do partido situacionista. José Américo de
Almeida, em sua obra “A Paraíba e seus Problemas”, já fazia essa crítica ao
ex-presidente paraibano.10
A principal virtude de Epitácio Pessoa em comparação a
presidentes anteriores foi a de haver ampliado as obras de enfrentamento
ao lagelo das secas no Nordeste, menos em razão de sua vontade pessoal e

9 Em 1980, Lopes de Andrade fez uma importante análise intitulada “Oligarquias, Secas e
Açudagem”, em que estabeleceu as relações funcionais entre os grupos de poder, o ambiente
nordestino e a solução, no período entre 1850 e 1950. A ideia central do ensaio é que as
oligarquias aproveitaram-se dos fenômenos das secas para se bene iciarem da açudagem,
em detrimento dos verdadeiros necessitados.
10 Eliete Gurjão, in Ob. Cit. p. 30.

139
A BAGACEIRA, Eleitoral

mais por motivos do jogo político.11 Para tanto, criou-se o Plano de Salvação
Regional, que envolvia as construções de grandes barragens; de médios e
pequenos açudes; de estradas carroçáveis, de rodagem e de ferrovias; de
tanques e poços públicos e particulares; construção e/ou melhoramentos de
portos luviais e marítimos e serviços de irrigação de terras cultiváveis.
Na Parahyba, através desse Plano de Salvação Regional, foram
construídas as barragens de São Gonçalo, Piranhas e Pilões, além do
açude Jatobá, este último construído em área particular, no Município de
Patos. Embora nem todos os açudes particulares tenham sido construídos,
um estudo comparativo feito pela professora Lúcia de Fátima Guerra
aponta o surgimento de novos proprietários, além dos já conhecidos, mas
praticamente bene iciando as mesmas famílias:

Para exempli icar a interferência política nesse campo,


apresentamos alguns casos da Paraíba: o de Abílio Wanderley,
em Patos; de João Agripino de Vasconcelos Maia, em Catolé
do Rocha; e de Odilon Maroja, em Itabaiana. Todos possuíam
açudes em suas propriedades, construídos sem iscalização da
Inspetoria e solicitaram irregularmente os prêmios de 50%
do valor da construção à IFOCS. Vetados inicialmente pela
Inspetoria, após a intervenção do procurador dos interessados
no Rio de Janeiro, deputado Otacílio de Albuquerque, foram
realizados os trabalhos de inspeção que deram direito aos
prêmios.12

E completa:

Cada um dos proprietários acima citados ou é integrante das


famílias que dominavam os respectivos municípios, ou com elas
mantinha estreitas ligações políticas. Além disso, ica explícito
o parentesco entre os bene iciados, e o privilégio de alguns
proprietários, com vários estudos ou projetos aprovados.13

11 Lúcia de Fátima Guerra, in Ob. Cit., p. 97.


12 In Ob. Cit., 99/100.
13 In Ob. Cit., p. 89.

140
Terra seca, urna cheia

AÇUDAGEM PARTICULAR NA PARAHYBA: ESTUDOS DA IFOCS


(1919/1922)14

MUNICÍPIO AÇUDE PROPRIETÁRIO DATA


Alagoa do Monteiro Olho D'água Adolfo Mayer Samuel 1922
Bananeiras Lázaro Bazílio P. de Melo 1921
Catolé do Rocha Santana do Sabugi Samuel da S. Machado 1921
Conceição Figueira José Cardoso Sobrinho 1922
Patos Jatobá Francisco Lustosa Cabral 1921
Sátiro Miguel Sátyro de Souza 1921
Maria da Paz Sebastião H. da Nóbrega 1922
Piancó Calunga José P. de Alencar 1922
Pombal Oriente José Ferreira Queiroga 1921
Princesa Varzinha João F. da Silva Sidônio 1921
São João do Cariri Ponta da Serra Vicente N. Batista 1922
Forquilha Manoel Gaudêncio Queiroz 1922
S. J. Do Rio do Peixe Santana Pedro Cirilo de Sá 1921
Formigueiro Sabino Gonçalves Rolim 1921
Soledade Quixudi Temístocles Nóbrega 1922
Catolé José Ferreira Tavares 1922
São Bento José Costa de Araújo 1922
Souza Tijuca Tiburtino Gomes de Sá 1922
Taperoá Pimenta Pedro Fernandes Pimenta 1922
Umbuzeiro Panos Antônio da Silva Pessoa 1921

Dentre os bene ícios estatais proporcionados à população pobre


da Parahyba pelas oligarquias locais, que dominaram o estado durante
o período republicano de 1889 a 1930, constavam os recursos federais
oriundos do IFOCS para combate às secas:

14 Fonte: Relatórios do IFOCS dos trabalhos executados durante os anos de 1920, 1921 e 1922.
Lúcia de Fátima Guerra, in Ob. Cit., p. 99.

141
A BAGACEIRA, Eleitoral

(...)seca no Nordeste não só representa fome e morte por


desnutrição, mas, sólidos redutos eleitorais para os partidos
do governo e, também, da oposição, que nunca deixaram
de adotar o demagógico e antidemocrático expediente do
CLIENTELISMO POLÍTICO, que desde as remotas épocas do
Império, vem corroendo, como um câncer, as instituições
políticas brasileiras.15

Os açudes públicos e privados na Parahyba e no Nordeste,


construídos durante a gestão de José Américo de Almeida à frente do
Ministério de Viação e Obras, não fortaleceram apenas o latifúndio e, por via
indireta, os coronéis,16 mas também o comércio de ferrovias e estradas de
rodagem:

É sobejamente conhecido que os frutos das obras contra as


secas foram colhidos pelos ‘coronéis’ e oligarcas do campo e,
agora, também das cidades. As massas trabalhadoras do campo
em nada se bene iciaram com essas mudanças. A açudagem,
sem nenhuma função irrigatória, bene iciava, apenas, os
latifundiários. (...)17

Lopes de Andrade estudou a relação entre as oligarquias, o


fenômeno das secas e a ação do governo federal através da construção
de açudes18 no período de 1850 a 1950. Em sua análise, concluiu que os
chefes oligarcas foram os mais bene iciados pela açudagem promovida pelo
governo ou com a sua colaboração, não obstante as famílias importantes
ou os pequenos grupos de poder não precisassem do bene ício. Segundo

15 Harrison Oliveira, in REFLEXÕES SOBRE A MISÉRIA DO NORDESTE. 1984, p. 92.


16 Francisco Cartaxo Rolim, in DO BICO DE PENA À URNA ELETRÔNICA. Recife: Ed. Bagaço,
2006, p. 108.
17 Eliete Gurjão, in Ob. Cit., p. 50.
18 Utilizando a teoria sistêmica do cientista político, Robert Dahl, Lopes de Andrade vê nas
OLIGARQUIAS o ambiente ou imput, constituindo AS SECAS as informações, e a AÇUDAGEM,
a decisão ou output do sistema. (In Oligarquias, Secas e Açudagem – Um Estudo e suas
Interrelações Funcionais. João Pessoa: Ed. Universitária-UFPB, 1980, p. 14).

142
Terra seca, urna cheia

ele, esse sistema somente teve o seu funcionamento desequilibrado após o


surgimento da CHESF, BNB e SUDENE, ocorrido na década de 1950.
No período que compreende o Segundo Reinado e o im da
República Velha, as oligarquias atingiram o seu auge se bene iciando do
combate às secas e da construção de açudagem pública. Aprofundando esse
tema, Lopes de Andrade apresentou uma cronologia dos que governaram
a Província e, depois, o Estado da Parahyba, entre 1850 a 1950,19
demonstrando, de forma bastante evidente, o revezamento no poder político
de algumas famílias e grupos oligarcas.
Para Lúcia de Fátima Guerra, a chamada Indústria da Seca
nasceu com a estiagem de 1877 e pode ser compreendida em dois níveis: 1.
local, com os desvios de verbas e gêneros alimentícios pelos membros das
comissões de socorros públicos; 2. em um nível macro, com a conscientização
dos políticos do Nordeste que despertaram para o aproveitamento do
fenômeno das secas com o objetivo de conseguir investimentos do governo
da União para a região.20
Ainda segundo a mesma historiadora, o nascimento da “indústria
da seca” se deveu a três fatores considerados estruturais: a crise crônica da
economia nordestina, agravada pelas longas estiagens; a organização política
do Estado com vistas a atender os interesses privados de certo grupo da
sociedade em detrimento dos demais e, por im, a articulação de um lobby
com o objetivo de transferir recursos para a região.
Na visão do jornalista paraibano, Orris Barbosa, os três elementos
da desgraça nordestina, à época, eram a seca, o latifúndio ocioso e o chefe
político.21 Em 1932, a Parahyba foi vítima de uma grande estiagem, que
icou conhecida como “a grande seca”, obrigando os famintos a invadir

19 O quadro de governantes desse período se encontra em anexo.


20 In RAÍZES DA INDÚSTRIA DA SECA – O CASO DA PARAÍBA. João Pessoa: Ed. Universitária-
UFPB, 1993, p. 61.
21 In Ob. Cit., p. 05.

143
A BAGACEIRA, Eleitoral

várias cidades do Sertão, assaltar casas de comércio ou feiras livres, o que


ocasionou um clima de instabilidade e de terror social.
Desse modo, o Estado precisava intervir urgentemente para evitar
os con litos sociais.22 Além disso, havia a preocupação com a escassez de
mão-de-obra no campo, motivada pela emigração23 de paraibanos para o
Sudeste, a exemplo do que ocorria com outros estados nordestinos. Daí
Getúlio Vargas haver nomeado José Américo de Almeida o Ministro da Viação
e Obras e, graças à sua ação no referido Ministério passou reconhecido como
“o grande redentor do Nordeste”.
A indústria da seca bene iciava a estrutura social vigente e
facilitava o controle do Estado sobre aquela parcela da sociedade faminta.
Ela se constituía numa ação organizada e rentável para as elites políticas e
empresariais da região, conforme registra a aludida historiadora:

Os coronéis perderam aos poucos o controle que tinham


diretamente da distribuição dos socorros e os privilégios daí
provenientes. Todavia, a classe dos grandes proprietários
passou a utilizar-se de outros meios visando o mesmo im
– extrair bene ícios com a ocorrência das secas, dentre eles:
conseguir que o curso de determinadas estradas passasse
próximo às suas propriedades para facilitar as comunicações
e o escoamento da produção; construção de açudes públicos
em terras particulares que nunca seriam desapropriadas;

22 Eliete Gurjão observa que as oligarquias nordestinas inculcaram a ideologia regionalista


segundo a qual apresentaram o Nordeste como vítima de condições naturais adversas
e da omissão governamental em oposição ao Sudeste próspero. Como solução exigiram a
intervenção do Estado através de políticas públicas assistencialistas que só reforçaram as
desigualdades regionais e a reprodução de riqueza e o poder das oligarquias nordestinas.
(in Ob. Cit., p. 18).
23 Virgínius da Gama e Melo registrou esse drama na sua obra de icção denominada Tempos
de Vingança, da seguinte forma: “Baixaram as ordens e o delegado começou a prender,
nos caminhões viajantes, chofer e passageiro. Era uma prisão que não conhecia antes. Terra
prender gente, só se tinha visto se fosse defunto. Agora a terra estava prendendo os vivos.
Não se podia sair que o governo não deixava. (...) E, à força, ou de vontade mesmo, o povo
foi ϔicando e enchendo, aquele mundo, enchendo de poeira que a enxada levantava, enchendo
de pobreza que, comida e trabalho mal rendido, não dava de jeito nenhum...” (apud Eliete
Gurjão, in Ob. Cit., p. 51.

144
Terra seca, urna cheia

prêmios pela construção de açudes particulares, diminuição


da migração da mão-de-obra; e exploração de barracões para a
venda de víveres aos trabalhadores lagelados.24

Para a historiadora paraibana, após a Revolução de 1930, com


a rede inição das oligarquias e suas novas formas de atuação, os novos
grupos dominantes repetiram as velhas fórmulas, numa alusão implícita
ao paraibano José Américo de Almeida que icou à frente do Ministério da
Viação e Obras Públicas e que defendia com irme convicção o uso de verbas
federais para solução do problema:25

Finda a jornada emocional, estendo, novamente, as mãos,


sentindo as necessidades humanas, no seu auge, vendo que o
nordeste só se salva se, antes de as chuvas correrem, choverem
rios de dinheiro. É preciso irrigar de nova vida esse organismo
desfeito.26

A invocação desses precedentes oligárquicos combinando-os com


a indústria da seca e as eleições explicam a continuação, pós-1930, das
mesmas práticas de dominações políticas montadas no uso da máquina
administrativa. Venâncio Neiva, Álvaro Machado, Epitácio Pessoa, todos os
chefes oligarcas da Primeira República exerceram os seus domínios político-
eleitorais com base na máquina estatal.
Com os “três grandes”, os novos “donos do poder” - José Américo
de Almeida, Argemiro de Figueiredo e Ruy Carneiro - não foi diferente.
O primeiro, por duas vezes, deixou o governo da Parahyba para
ser Ministro da Viação e Obras. Em 1932, quando se tornou o primeiro
Interventor do Estado e no ano da grande seca. Em 1952, durante a

24 Lúcia de Fátima Ferreira, in Ob. Cit., p. 118.


25 Lúcia de Fátima Guerra Ferreira, in Ob. Cit., p. 124.
26 José Américo de Almeida.

145
A BAGACEIRA, Eleitoral

presidência de Vargas, quando exercia o cargo de governador, eleito em


1950.
Transformado em um mito, talvez o maior dentre todos os mitos
paraibanos, igual ou superior ao próprio Epitácio Pessoa, não duvido que
o grande paraibano de Areia estivesse imbuído dos melhores propósitos
quando, por duas vezes, renunciou, pela primeira vez à Interventoria do
Estado e depois, ao cargo de governador da Parahyba, para se dedicar ao
combate às secas do Nordeste.

Todavia, não podemos ser ingênuos ao ponto de considerar as


ações em favor do Nordeste apenas como uma política pública do governo
federal. O autor de A Bagaceira sabia que à frente do Ministério da Viação e
Obras Públicas, estava sedimentando a sua plataforma eleitoral no estado.
Não consta que “o Solitário de Tambaú” tenha se apropriado de um
centavo do dinheiro destinado às secas mas, como bom político oportunista
que era, soube utilizar os meios que controlava em suas mãos para montar
a sua máquina eleitoral, até por uma questão de sobrevivência política, isto
porque, enquanto estava ausente da Parahyba, no Ministério de Viação e
Obras, Argemiro de Figueiredo atuava como o grande líder político.
As ações do ministro José Américo de Almeida não renderam
prestígio eleitoral apenas para si.27 Indiretamente, o presidente Getúlio
Vargas se bene iciou com a competente ação de seu subordinado, tanto que,
em 1933, resolveu visitar o Nordeste e, no dia 09 de setembro daquele ano,
esteve em Campina Grande, ao lado de grandes comitivas o iciais, federal e
estadual.

27 A pergunta a ser feita é se as ações do Ministério da Viação e Obras, dirigido pelo paraibano
José Américo de Almeida, de combate às secas no Nordeste, constituíram uma política
pública ou uma grande estratégia político-eleitoreira, ou signi icou as duas coisas, ao
mesmo tempo?

146
Terra seca, urna cheia

Argemiro de Figueiredo também foi premiado eleitoralmente


pelas ações que adotou na condição de Interventor para combater as secas
no estado. Em 09 de março de 1939, passou a ser decantado em verso e
prosa como “o redentor de Campina Grande”, pois entregava ao povo daquele
importante polo nordestino a Adutora de Vaca Brava, o que foi fundamental
para solucionar o problema de abastecimento d’água. É óbvio que essa ação
rendeu-lhe maiores dividendos políticos. A sua máquina política foi montada
sobre o assistencialismo, o clientelismo e uma forte propaganda o icial.28
Por sua vez, Ruy Carneiro também foi aquinhoado eleitoralmente
pela estrutura social e política montada sob a Indústria da Seca,
principalmente em 1958, ano de grande estiagem, quando se reelegeu
Senador da República, derrotando José Américo de Almeida.
Já na campanha que antecedeu as eleições de 1934, na Parahyba, o
Partido Progressista, do qual José Américo de Almeida era um dos principais
líderes, evocou as ações do Ministro paraibano no combate às secas e
desenvolvidas no Ministério da Viação e Obras, procurando convencer o
eleitorado paraibano, o que surtiu efeito. A atuação do líder paraibano no
ministério combatendo a grande seca de 1932 foi fundamental para a sua
vitória eleitoral nas eleições de 1933:

‘Extraordinária foi a victoria do Ministro José Américo, em


1932, obtendo do Governo Provisório os recursos necessários
para mobilizar e amparar, em obras cyclopicas e realmente de
combate aos efeitos das secas, centenas de parahybanos.’
Tais verbas possibilitaram ao então interventor, Gratuliano
Brito, a realização de signi icativas obras públicas,

28 No mesmo sentido, Francisco Cartaxo Rolim comenta que, durante os cinco anos em que
esteve governando o estado, Argemiro de Figueiredo acumulou um capital político no
modelo patrimonialista, vez que “articulou-se com chefes políticos do interior usando o velho
expediente de troca de favores propiciada pelo controle da máquina pública.” (in Ob. Cit., p.
129).

147
A BAGACEIRA, Eleitoral

‘coincidentemente’ inauguradas nos pleitos eleitorais de 1933


e 34.’29

Coincidentemente, assim como Epitácio Pessoa, que tomou posse


na presidência da República em ano de seca, José Américo de Almeida
assumiu o Ministério da Viação e Obras em pleno período de estiagem
no Nordeste. A seca de 1932, também chamada de “a grande seca”,
semelhante a de 1877 e a de 1915, provocou no Nordeste uma atmosfera
de intranquilidade social, pois em várias cidades sertanejas houve saques
nas feiras, por parte da população faminta. O clima era de desespero e de
miséria, o que exigiu uma pronta intervenção do Estado.
A estiagem de 1932 foi tão intensa que os constituintes de 1934
chegaram a inserir em seu texto, precisamente no art. 177,30 a previsão de
uma dotação orçamentária mínima a ser consignada anualmente ao órgão
responsável pelo combate às secas (à época, o IFOCS).
Orris Barbosa, jornalista paraibano que acompanhou a comitiva
de Vargas durante a sua viagem ao Nordeste em 1933, a irma que não se
apontou um deslize na aplicação das vultosas verbas destinadas ao combate
às secas no Nordeste e que as ações executadas pelo Ministério da Viação e
Obras não tinham conotação individual ou de interesses partidários.
Anos depois, essa a irmação foi rebatida por outro jornalista
paraibano, de origem campinense, Harrison Oliveira, para quem os famosos
“Barracões das Secas”, cujos arrendatários eram amigos do Ministro
paraibano, teria sido uma página negra na história administrativa de José
Américo, posto que os aludidos barracões teriam enchido os bolsos dos

29 Gratuliano de Brito in Martha Falcão, Ob. Cit., p. 118.


30 O art. 177 da Constituição Federal de 1934 tinha a seguinte redação: “Art. 177. A defesa
contra os efeitos das secas nos Estados do Norte obedecerá a um plano sistemático e
será permanente, icando a cargo da União, que dependerá, com as obras e os serviços
de assistência, quantia nunca inferior a quatro por cento da sua receita tributária sem
aplicação especial. (...)”

148
Terra seca, urna cheia

amigos do então Ministro que, na ótica do referido jornalista, foi quem mais
contribuiu para a indústria das secas.31
Todavia, é possível se a irmar que as vitórias eleitorais de José
Américo de Almeida devem-se mais à sua atuação no Ministério da Viação e
Obras Públicas, o que lhe deu grande popularidade, e menos à sua oratória.
Jean Blondel, pesquisador francês, traçou um per il eleitoral do ministro
paraibano:

Foi ele ministro da Viação, quando uma seca intensa assolava o


sertão. Mediante construção de numerosas barragens, açudes,
estradas, trouxe ele solução às di iculdades de vida no interior
nordestino e o Nordeste lhe icou muito reconhecido.32

As obras contra as secas no Nordeste tinham como objetivos evitar


uma guerra civil;33 manter o eleitorado de cabresto (os eleitores da zona
rural) no seu habitat;34 auxiliar a manutenção do regime implantado em
1930; ajudar a aumentar as desigualdades sociais entre as regiões do Litoral
e do Sertão, e manter o status quo, como denunciou Orris Barbosa:

As gentes do litoral nadavam na fartura originada dos


altos preços que alcançavam o açucar e o algodão e das
verbas grandiosas derramadas nos sertões para as obras de
açudagem.

31 Harrison Oliveira, in Ob. Cit., p. 103.


32 Jean Blondel, in Ob. Cit. p. 103.
33 Mais uma vez, recorremos a Orris Barbosa, que registrou a gravidade da situação vivida
na sociedade nordestina em razão das consequências das secas graves que assolaram
o Nordeste, naquele período: “Grandes levas de famintos, invadindo várias cidades
sertanejas, assaltavam casas de comércio ou investiam inopinadamente contra os feirantes,
estabelecendo uma atmosfera de pânico em todo o Nordeste.” (in Ob. Cit., p. 51).
34 Os lagelados da seca que conseguiam chegar aos grandes centros urbanos eram
transformados em mão-de-obra barata, de segunda categoria, como denunciou Orris
Barbosa: “Trabalhadores, antes pací icos, agricultores, convertidos agora em pedreiros,
marceneiros, mecânicos, eletricistas e choferes, procuravam as capitais a im de
continuarem o exercício de suas novas aptidões pro issionais.” (in Ob. Cit., p. 18).

149
A BAGACEIRA, Eleitoral

E havia nisso tudo um absurdo: a miséria dos sertões ,


alimentando as pací icas populações do litoral.
É que a dinheirama, correndo de mão em mão, voltava,
velozmente, para os centros de economia organizada,
atraída pelo imã da ganância comercial dos atravessadores
e fornecedores de mercadorias às massas utilizadas nas
obras contra as secas, enriquecendo empreiteiros e mandões
políticos. E as verbas jorravam contínua e desmedidamente.35

Assiste razão, portanto, à historiadora Eliete de Queiroz Gurjão


para quem as obras contra as secas contribuíram para a reprodução das
bases do mandonismo e enriquecimento dos grandes proprietários de terras,
além de haver fornecido o clima ideológico necessário à e iciência do sistema
de dominação e apropriação. Como consequência,

o trabalhador rural permaneceu totalmente tutelado pelo


‘coronel’, submetido às relações de dominação e dependência
pessoal, tendo como participação política o exercício do voto,
agora ‘secreto’, na chapa que lhe era entregue para depositar
na urna.36

Quando convocado pela Câmara dos Deputados para explicar as


ações do governo federal no Nordeste, José Américo de Almeida reconheceu
a falha da grande açudagem que ao invés de minorar os graves problemas
da população sertaneja - que não participava dos seus bene ícios - antes
privilegiava a elite da seca, que dela se bene iciava, direta ou indiretamente.
Acumulando essa experiência vivida durante a Seca de 1930-32, quando
de sua volta ao Ministério da Viação e Obras em 1952, e para evitar esses
desvios,

35 Orris Barbosa, in A SECCA DE 32 – Impressões sobre a Crise Nordestina. Coleção


Mossoroense, 1998, 2ª ed., p. 8.
36 Eliete Gurjão, in Morte e Vida das Oligarquias (Paraíba – 1889-1945). João Pessoa: Ed.
Universitária/UFPB, 1994, p. 146.

150
Terra seca, urna cheia

Os pagamentos passaram a ser feitos em dinheiro e


semanalmente, eliminando-se, desse modo, os intermediários
que levaram, no mínimo, 10% dos salários.37

A utilização política das verbas federais destinadas ao combate


às secas icou evidenciada nos debates entre José Américo de Almeida e o
deputado federal e seu adversário político, João Agripino Filho, por ocasião
da convocação do Ministro da Viação e Obras à Câmara dos Deputados.
De forma sutil, João Agripino acusou o ministro de prestigiar
correligionários políticos quando do emprego de operários nas frentes
de trabalho, em detrimento de pessoas que seguiam orientação política
diferente do americismo. Em resposta, José Américo de Almeida culpou os
Maia de ocupar os principais postos de direção na Parahyba:

Quero acentuar que a política não intervém nas obras contra


as secas, seja na Paraíba, seja em qualquer outro Estado. Tanto
que na Paraíba cargos de direção, cargos de escritório, postos
de toda a natureza estão entregues à família Maia, parentes do
Sr. Deputado Agripino Maia, sem que eu tenha dado um passo
qualquer para o seu afastamento.38

As acusações mútuas entre os dois chefes oligarcas demonstram o


uso politiqueiro do programa federal e da existência da “indústria da seca”
entregue aos chefes políticos locais iliados a partidos políticos responsáveis
pela administração desses serviços nos estados. Foi o próprio José Américo
de Almeida que assim o a irmou, ao responder ao seu opositor, que combatia
a exclusão de famílias ligadas ao seu grupo político:

37 José Américo de Almeida, in AS SECAS DO NORDESTE. Fundação José Américo de Almeida,


1981, 2ª ed., p. 22.
38 José Américo de Almeida, in AS SECAS DO NORDESTE. Fundação José Américo de Almeida,
1981, 2ª ed., p. 91.

151
A BAGACEIRA, Eleitoral

Nunca exclui nenhum adversário, repito, ao contrário,


sempre os inclui na composição das Comissões de socorro
aos lagelados. Em cada uma delas pus um oposicionista
para iscalizar inclusive no Município de V. Exa., onde o
oposicionismo está sempre irredutível e rancoroso a seguir
meus passos.39

A Igreja também participava e era bene iciária das verbas


federais que deveriam ser destinadas às vitimas das secas. O Ministério da
Viação e Obras assistia os lagelados através das dioceses, con iando nas
“mãos benfazejas” do clero – bispos, vigários etc – os milhões de cruzeiros
destinados para socorrer a população sertaneja.
Esse procedimento foi glosado por João Agripino, porque estava
fora das obras e serviços prestados pelos departamentos técnicos do
IFOCS e de qualquer previsão legal. Questionado neste aspecto e usando de
subterfúgios, o ministro foi enfático:
(...)V. Exa. Que minúcias? E quer V. Exa. uma prestação de
contas? Vá pedi-las aos bispos, vá pedí-las aos vigários, vá pedi-
las a quem recebeu, se porventura duvida da honorabilidade
do clero brasileiro.
(...) Como quer saber esclareço que dei 2 milhões de cruzeiros
ao bispo do Seridó por ter se me a igurado a zona mais
infortunada.
... V. Exa. não devia esperar que eu preterisse nossa terra,
que eu, por ser paraibano, não socorresse a Paraíba. Mas
dei menos, que no Seridó: 1 milhão de cruzeiros ao Bispo
de Cajazeiras, e 1 milhão de cruzeiros ao Bispo de Campina
Grande. Está satisfeito, ou lamenta o desperdício do dinheiro?
Se deplora que, em vez de aplicação numa obra que poderia
não ter rendimento, como muitas, tenha eu morto a forma
coletiva, a fome generalizada, a fome de que não se salvariam
tantos dos nossos infelizes conterrâneos, se V. Exa. acha que
isso é um crime, tem o coração bem duro.40

39 José Américo de Almeida, in AS SECAS DO NORDESTE. Fundação José Américo de Almeida,


1981, 2ª ed., p. 92.
40 In Ob. Cit., p. 96-97.

152
Terra seca, urna cheia

A trajetória histórica da indústria da seca na Primeira República


explica a estrutura de poder semelhante que José Américo de Almeida
utilizou para se tornar “o redentor do Nordeste” e, consequentemente,
da Parahyba, montando, também, assim como os líderes anteriores, a sua
máquina eleitoral com vistas a se perpetuar no poder.
Destarte, foi perfeitamente natural que às vésperas da campanha
para a presidência da república, o Chefe do Governo provisório, ladeado pelo
seu ministro da Viação e Obras Públicas percorreu todo o Nordeste, inclusive
a Parahyba, inaugurando obras contra as secas realizadas nos três anos de
seu governo, na busca de dividendos eleitorais.41
Nos comícios, José Américo de Almeida, ainda que de forma velada,
cobrava dos eleitores a sua atuação no Ministério de Viação e Obras Públicas,
a exemplo de um comício realizado na campanha de 1950, em Campina
Grande:

Vou por aqui. Conheço os caminhos da terra e o caminho


das almas. Vou por esse itinerário, pelas paragens remotas,
onde os que pretenderem negar-me terão que vedar os olhos,
porque está em toda parte, impressa em coisas visíveis,
minha passagem tutelar. Não irei, como o outro, de pires na
mão, mendigando apoio. Despertarei consciências e levarei

41 (Prefácio à obra de Orris Soares, p. 1). Apesar de em sua obra haver denunciado a “indústria
das secas” e a participação das oligarquias nos escândalos que envolveram as obras que
exigiram grandes somas de recursos públicos, a exemplo do Porto de Sanhauá, na Parahyba,
Orris Barbosa adotou a posição favorável às obras contra as secas, consideradas por
ele como o instrumento de salvação da Revolução de 30 no Nordeste. Não obstante essa
opinião parcial em favor do assistencialismo o icial, a obra não perde a sua relevância,
principalmente nos seus aspectos sociológico e antropológico. O trecho a seguir transcrito,
negando desvio de recursos públicos e a partidarização das ações governamentais,
evidencia bem a apologia do autor em favor do Governo Provisório: “Ninguém aponta um
deslize na aplicação de tão vultosas verbas. Era tanta a vontade de realizar que não se pensou
em agir furtivamente ou desviando verbas para serviços inexequíveis de falaz ostentação
administrativa ou contentando interesses individuais e regionais para proveito partidário.”
(In Ob. Cit., p. 86).

153
A BAGACEIRA, Eleitoral

o coração aberto para que o povo deposite nele toda a sua


con iança. (...)42

Na Parahyba, a indústria da seca foi decisiva nas eleições de


1933, 1934, 1950 e 1958.43

Aguadeiros de Campina Grande.


(Fonte: Josué Sylvestre).

42 Josué Sylvestre, in Lutas de Vida e de Morte – Fatos e personagens da História da


Campina Grande (1945-1953). Brasília: Ed. Senado Federal, 1982, p. 175.
43 Até os dias atuais, embora em menor grau, as Secas do Nordeste são instrumentos de
barganha eleitoral. Os carros-pipa ainda são a única solução para muitas cidades do
interior do estado, principalmente as do Sertão e do Cariri, áreas que sofrem mais os efeitos
perversos das estiagens.
Em pleno século XXI, um dos grandes problemas da Parahyba ainda é a falta de água. As
propagandas o iciais de todos os governantes que passaram pelo estado nunca deixaram de
explorar esse tema: Wilson Braga (“Projeto Canaã”); Ronaldo da Cunha Lima (a construção
de “1.400 açudes”); José Targino Maranhão (“O Plano das Águas”). Todos esses “projetos”
não conseguiram resolver o grande problema da falta d’água em nosso estado.

154
Terra seca, urna cheia

Eleição e seca na Parahyba - Até a década de 1930, o abastecimento d’água de


Campina Grande era feita por aguadeiros.
(Fonte: Josué Sylvestre)

Caminhão-pipa de propriedade de Severino Cabral. Durante os períodos de crise no abas-


155
tecimento d’água em Campina Grande, esse carro percorria as ruas dos bairros e subúrbios
atendendo gratuitamente às famílias carentes.
(Fonte: Josué Sylvestre)
CAPÍTULO XIII

1937 – José Américo


quase é eleito
presidente da República

“Antes da ditadura, a Paraíba contava com


mais ou menos 30 a 40 mil eleitores e desde
1937 não houve mais nenhuma eleição.”(Jean
Blondel)*1

* In Ob. Cit., p. 58.

157
A BAGACEIRA, Eleitoral

G
etúlio Vargas havia marcado as eleições presidenciais para o dia 03
de janeiro de 1938.

Além da candidatura do paulista Armando Sales de Oliveira, então


governador de São Paulo, que tinha um discurso brando em relação ao governo,
e da candidatura do chefe Integralista, Plínio Salgado, o paraibano José Américo
de Almeida se apresentou como um candidato de esquerda, mesmo constando
em seu currículo a condição de ex-ministro de Vargas, por duas vezes.
Sem recursos próprios para bancar uma campanha eleitoral de
nível nacional, o paraibano teve que receber apoio inanceiro do usineiro
Flávio Ribeiro Coutinho:

Essa ajuda consistiu no pagamento de despesas telegrá icas


do candidato que, àquela época, eram também consideráveis
representando mesmo uma rubrica importante no orçamento
de uma campanha eleitoral de âmbito nacional.1

Registra Josué Silvestre que o maior comício daquela campanha


realizou-se no dia 03 de outubro na Praça Clementino Procópio, em Campina
Grande, com a presença e a oratória de Botto de Menezes, Osias Gomes,
dentre outros.
Bem ao seu estilo, Getúlio Vargas fazia jogo duplo. Ao mesmo
tempo que incentivava a candidatura de José Américo de Almeida através
de Benedito Valadares, conspirava nos bastidores contra a pretensão do
paraibano. Por outro lado, o paulista Armando Sales também se lançava
candidato a presidente da República.
Às vésperas da eleição prevista para o mês de janeiro de 1938, em
10 de novembro de 1937, temeroso que José Américo de Almeida ganhasse

1 Aspásia Camargo, Eduardo Raposo e Sérgio Flaksmarn. In O Nordeste e a Política –


Diálogo com José Américo. Editora Nova Fronteira, p. 277.

158
1937 - José Américo quase é eleito presidente da república

o pleito e querendo se perpetuar no poder, Getúlio Vargas deu o golpe de


estado, decretou o fechamento do Congresso Nacional, das Assembleias
Legislativas e das Câmaras Municipais e outorgou uma nova Constituição de
inspiração fascista. A autonomia do poder executivo dos estados também foi
afastada, haja vista que Getúlio passou a nomear Interventores para essas
entidades federativas.
Com a Constituição outorgada de 1937 por Vargas, os prefeitos
passaram a ser de livre nomeação do governo do estado.
Apesar das várias previsões constitucionais e legais do novo
ordenamento jurídico, que previa eleições indiretas para os membros da
Câmara dos Deputados, do Conselho Federal (que tomou o lugar do extinto
Senado) e até da presidência da República, não houve nenhuma eleição
durante o período ditatorial em que Vargas esteve à frente do poder.
Sequer se realizou o plebiscito previsto no art. 175 da “Constituição
Polaca” de 1937, para referendar, ou não, a própria Constituição.
José Murilo de Carvalho assim resumiu esse período:

De 1937 a 1945 o país viveu sob um regime ditatorial civil,


garantido pelas forças armadas, em que as manifestações
políticas eram proibidas, o governo legislava por decreto, a
censura controlava a imprensa, os cárceres se enchiam de
inimigos do regime.2

A extinção dos partidos políticos em 1937

Em 1937, Vargas outorga uma nova Constituição, preparada a


seu gosto, extinguindo os partidos políticos. Inicia-se o Estado
Novo com o ϔim de qualquer ação política organizada sob forma
partidária. (Cláudia de Sousa Leitão)3

2 José Murilo de Carvalho, in Ob. Cit., p. 109.


3 Cláudia Sousa Leitão, in Ob. Cit., p. 114.

159
A BAGACEIRA, Eleitoral

Um dos argumentos que Getúlio Vargas usou para extinguir os


partidos políticos em 1937 foi considerar que o nosso sistema eleitoral era
“inadequado às condições da vida nacional” posto que baseado em artiϔiciais
combinações jurídica e formal que fomentavam a proliferação de partidos
políticos, com o objetivo único e exclusivo de dar aparência de legitimidade às
candidaturas e aos cargos eletivos.
Alegando excitação e desassossego à tranquilidade pública e invocando
os reais sentimentos do povo brasileiro, além dos partidos políticos não possuir
conteúdo programático nacional, o Decreto-Lei nº 37, de 02 de dezembro
de 1937 dissolveu os partidos políticos, considerados como tais todas as
arregimentações partidárias registradas no Tribunal Superior Eleitoral e nos
Tribunais Regionais de Justiça Eleitoral, assim como os que, ainda registrados
em 10 de novembro de 1932, já tivesse requerido o seu registro.
A dissolução também atingiu as milícias cívicas e as organizações
auxiliares dos partidos políticos.
O mesmo decreto proibiu ainda que as sociedades civis destinadas
a outras inalidades estariam impedidas de propagar ideias políticas, mas
permitiu que os partidos políticos extintos pudessem continuar a existir
como sociedades civis com ins culturais, bene icentes ou desportivas,
condicionada ao não-uso da mesma denominação como se registraram como
partidos políticos.
Os militares icaram impedidos de participar dessas entidades
civis em que foram transformados os partidos políticos, constituindo
contravenção o descumprimento do decreto, neste aspecto, a ser julgado
pelo Tribunal de Segurança Nacional.
Por último, o Decreto nº 02 autorizou o Ministro da Justiça e
Negócios Interiores a interditar as sedes das organizações e partidos, para
dar efetivo cumprimento ao decreto.
Durante o Estado-Novo, a Parahyba foi governada por cinco
interventores, conforme o quadro abaixo:

160
1937 - José Américo quase é eleito presidente da república

INTERVENTORES DA PARAÍBA (1930-1945)4

INTERVENTOR PERÍODO DE GOVERNO


José Américo de Almeida 04/10 a 25/11/1930
Anthenor Navarro 1930/1932
Gratuliano de Brito 1932/1934
Argemiro de Figueiredo 1935/1937 – eleito pela Assembleia Legislativa
1937/1940
Ruy Carneiro 1940-1945

Na condição de interventores, também governaram a Parahyba


durante o im do Estado-Novo até a posse do governador eleito em 1947,
Samuel Duarte, Severino Montenegro, Odon Bezerra Cavalcanti e José Gomes
da Silva.

4 Fonte: Eliete de Queiroz Gurjão. In A PARAÍBA REPUBLICANA: (889/1945). ESTRUTURA


DE PODER NA PARAÍBA. João Pessoa: Ed. UNIVERSITÁRIA/UFPB, 1994, p. 77.

161
A BAGACEIRA, Eleitoral

Quadro nas coligações partidárias na Parahyba entre 1930 e 1947:5

I – 1930
A Coligação dominante A oposição
Partido Republicano da Parahyba Partido Republicano Conservador
da Parahyba
'Liberais' 'Perrepistas'
Epitacistas Pessoistas Heraclistas e dissidentes do
epitacismo
II – 1933-1937
A Coligação dominante A oposição
Partido Progressista da Parahyba Partido Republicano Libertador
Liberais e perrepistas cooptados Liberais dissidentes
pelo Americismo e Argemirismo
III – 1937
A Coligação dominante
Alterações na correlação de forças.
-Coalização do Partido Progressista
e Republicano Libertador em prol
da candidatura José Américo à su-
cessão presidencial.
- Golpe de 10/11 - Vargas extingue
os partidos políticos.
- Rompimento entre José Américo e
Argemiro de Figueiredo.

IV – 1945-1947
A Coligação dominante A oposição
Partido Social Democrático União Democrática Nacional
V – 1947
A Coligação dominante A oposição
União Democrática Nacional Partido Social Democrático

5 “A PARAIBA REPUBLICANA: (1889-1945)”. in ESTRUTURA DE PODER NA PARAÍBA.


Rosa Maria Godoy da Silveira; Eliete de Queiroz Gurjão; Martha Lúcia Ribeiro de Araújo;
Monique Cittadino. João Pessoa: Ed. Universitária/UFPB, 1999, p. 79/80.

162
O baile do “Club dos Diários”, em homenagem ao Sr. José Américo,
candidato à Presidência da República.
(Fonte: Antonio Botto de Meneses)

Aspecto do banquete no “Club Astréa”, em homenagem à atitude do “Partido Libertador”


apoiando a candidatura José Américo.
(Fonte: Antonio Botto de Meneses)
Segunda parte: De 1945-1965

“As quatro lideranças mais pessoais que


partidárias que dominaram o sistema de
poder de 1945 a 64 – Argemiro de Figueiredo,
Rui Carneiro, José Américo e Pedro Gondim
– constituem o cerne de análise que não
apenas teoriza à Maquiável sobre poder que
não se divide e técnicas eleitorais capazes de
conservá-lo e transferí-lo, como centra sobre
a competição entre tais líderes a evolução
eleitoral e partidária do período.” (José
Octávio de Arruda Melo)*1

* José Octávio de Arruda Melo, comentando o clássico PODER, ALEGRIA DOS HOMENS, de M.
Odilon. (In SOCIEDADE E PODER POLITICO NO NORDESTE, O CASO DA PARAÍBA (1945-
1964). João Pessoa: 2001, Ed. Universitária/UFPB, p. 97).
A BAGACEIRA, Eleitoral

O
im do Estado-Novo, em 1945, permitiu a redemocratização do país
através do retorno das eleições diretas para presidente da república,
senador e deputados federais, tendo estas sido marcadas para o dia
02 de dezembro daquele ano, mediante o Decreto de 28 de maio.
Em outro Decreto, de 10 de outubro do mesmo ano, Vargas
antecipou as eleições estaduais e municipais para a mesma data prevista
para a realização das eleições federais. Para presidente da república,
concorreram o Brigadeiro Eduardo Gomes, pela UDN, e Eurico Gaspar Dutra,
pelo PSD, tendo sido este vitorioso com 55% dos votos.
Nas Disposições Transitórias da Constituição de 1946 determinou-
se a realização de eleições em cada Estado para a escolha dos governadores
e deputados estaduais.
Segundo a legislação da época, a eleição do vice-prefeito era
desvinculada da escolha do prefeito, permitindo que vários candidatos
concorressem a vice. Diferente de hoje, que a chapa é una e indivisível, ou
seja, ao mesmo tempo em que se vota no prefeito escolhe-se o seu vice.
Durante o período compreendido entre 1930 e 1945 a Parahyba
foi governada por Anthenor Navarro e Gratuliano de Brito, interventores
nomeados pelo presidente da república, e ainda por Argemiro de Figueiredo,
eleito pela Assembleia do Estado em 1934, que também fora interventor
após o golpe de 1937 até 1940. Depois, foi sido sucedido por um novo
interventor, Rui Carneiro, que icou no cargo até 1945.
Na Parahyba, a eleição de 1945 foi presidida pelo Desembargador
do Tribunal de Justiça, Severino Montenegro, nomeado Interventor pelo
presidente do Supremo Tribunal Federal, em exercício na presidência da
república, Ministro José Linhares.
Os candidatos a governador nessa eleição foram Oswaldo Trigueiro
de Albuquerque Melo, pela UDN, e Alcides Vieira Carneiro, candidato
pessedista. Venceu o udenismo que, ao lado do PSD, PTB e PCB, conseguiu
eleger também candidatos a deputado estadual, dentre os quais destacamos

166
Segunda parte: de 1945-1965

Antônio Pereira de Almeida (PTB); Ruy Carneiro, Otacílio Nóbrega de


Queiroz, Pedro Moreno Gondim (PSD); Renato Ribeiro Coutinho, Praxedes
da Silva Pitanga, Flávio Ribeiro Coutinho (UDN) e João Santa Cruz de Oliveira
(PCB). Destaque-se ainda o intelectual João Lélis de Luna Freire, primeiro
suplente eleito pelo PSD, que deu uma relevante contribuição na elaboração
da Constituinte estadual de 1946 e que assumiu em virtude da renúncia de
Ruy Carneiro.
Com as eleições suplementares determinadas pela Justiça
Eleitoral em seções eleitorais dos municípios de João Pessoa, Santa Rita,
Mamanguape, Esperança, Campina Grande, São João do Cariri, Catolé do
Rocha e Misericórdia (hoje Itaporanga), João Lélis foi deslocado para a
segunda suplência, reassumindo a titularidade com a renúncia de Oswaldo
Pessoa.

167
CAPÍTULO I

Os partidos políticos
agora são nacionais

“A primeira observação que faz sempre um


brasileiro, quando fala dos partidos políticos
de sua pátria, é dizer que não possuem
nenhum conteúdo ideológico e que todos
querem exatamente a mesma coisa. Cada
partido tem seu programa, que se obtém
facilmente nos ‘Diretórios’. Mas os próprios
representantes dos partidos dizem que não
se deve atribuir importância verdadeira ao
programa. (...)” (Jean Blondel)*1

* Jean Blondel, in Ob. Cit., p. 30.

169
A BAGACEIRA, Eleitoral

A
primeira tentativa de fortalecimento dos partidos políticos no Brasil
partiu do Decreto do Estado Novo ao exigir, como condição de seu
registro no Tribunal Superior Eleitoral, que fossem de âmbito
nacional.
O terceiro Código Eleitoral, o Decreto nº 7.586, representou um
avanço para o processo de nacionalização dos partidos políticos.
Apesar da obrigatoriedade legal de sua organização nacional, o
cientista político, David Fleischer,1reconhece apenas no PSD, UDN e no PTB
a característica de terem sido, de fato, os três grandes partidos nacionais do
período.
Enquanto a UDN2 era constituída pelos anti-varguistas, o PSD era
composto pelos seguidores de Getúlio Vargas. Mas na classi icação de Jean
Blondel, ambos foram agremiações de estrutura aristocrática.
Na Parahyba, a UDN foi fundada3 por José Américo de Almeida
e Argemiro de Figueiredo e tinha como características a centralização e
a homogeneidade, expressada no fato de ser um partido essencialmente
ruralista.4
Por sua vez, o PSD paraibano surge agrupado em torno do último
Interventor, Ruy Carneiro que, aproveitando-se dos antagonismos antigos,
recorrentes entre famílias e chefes políticos rivais, em todas as regiões do
Estado, captou as facções principalmente no cariri e no sertão.5

1 In Os partidos políticos. (Sistema Político Brasileiro: uma introdução). Org. Lúcia


Avelar e Antônio Octávio Cintra. São Paulo: Ed. Unesp, 2007, p. 304.
2 Na opinião de José Octávio de Arruda Mello, na Parahyba, “como no restante do país, a
UDN possuía cabeça urbana de bacharéis e corpo rural, de proprietários.” (in GUARABIRA
– DEMOCRACIA, URBANISMO E REPRESSÃO (1945/1965). João Pessoa: A UNIÃO
EDITORA, 1997, p. 33.
3 Segundo Francisco Cartaxo Rolim, a UDN paraibana começou a surgir dez anos antes de
sua criação formal, ocorrida em 1945, com as ações de José Américo de Almeida à frente
do Ministério de Viação e Obras, e com Argemiro de Figueiredo, quando esteve à frente do
governo do estado, entre 1935 e 1940. (in Ob. Cit., p. 130).
4 In Ob. Cit., p. 30 e 134.
5 Francisco Cartaxo Rolim, in Ob. Cit., p. 131.

170
Os partidos políticos agora são nacionais

Em 1947, com a eleição do udenista Oswaldo Trigueiro de


Albuquerque Mello, o PSD assumiu a condição de partido oposicionista.
O PTB era composto de getulistas e tinha o apoio de comerciários,
funcionários públicos, bancários, pro issionais liberais e outros segmentos
da sociedade. Coube a Epitácio Pessoa Cavalcanti de Albuquerque, ilho do
ex-presidente João Pessoa, a direção do Partido Trabalhista Brasileiro, na
Parahyba.
Outros partidos políticos menores atuaram na política local, com
destaque para o Partido Comunista do Brasil/PCB,6 organizado no estado
sob a sigla União Socialista da Paraíba antes de conquistar a legalidade
em 1945. Chegou a eleger nas eleições de 19 de janeiro de 1947 para a
Assembleia Legislativa do estado o advogado João Santa Cruz de Oliveira.
Para Francisco Cartaxo Rolim, o curto espaço de tempo de exercício
do partidarismo previsto na Constituição de 1946, não permitiu que no
Brasil se consolidasse a cultura partidária, até hoje tão esperada. Por esse
motivo, em Cajazeiras, assim como de resto no Brasil,

prevaleciam os arranjos, aglutinações efêmeras em torno de


líderes que mudavam de legendas ao sabor das circunstâncias
e conveniência de ocasião. Semelhante à prática partidária
no Brasil do século XXI. Talvez com menor intensidade e um
pouco mais de pudor.7

Nas eleições para a Constituinte de 1946, a UDN paraibana elegeu


nove dos doze constituintes paraibanos – Adalberto Ribeiro e Vergniaud
Wanderley (senadores) e Argemiro de Figueiredo, Ernany Sátiro, Fernando

6 O Partido Comunista do Brasil teve uma vida efêmera. Anulado o seu registro no Tribunal
Superior Eleitoral, o Tribunal Regional Eleitoral da Parahyba, cumprindo determinação
daquela Corte superior, cancelou o registro do Comitê Estadual e dos Comitês Municipais do
Partido Comunista do Brasil em 12 de maio de 1947, cinco dias depois do cancelamento do
seu Comitê Nacional. (Waldir Por írio, in BANDEIRAS VERMELHAS – A PRESENÇA DOS
COMUNISTAS NA PARAÍBA (1900-1960). João Pessoa: Editora TextoArte, 2003, p.131.
7 Francisco Cartaxo Rolim, in Ob. Cit., p. 128.

171
A BAGACEIRA, Eleitoral

Nóbrega, João Agripino, João Úrsulo, Osmar Aquino e Plínio Lemos, enquanto
que o PSD só elegeu três deputados – Janduhy Carneiro, José Jof ily e Samuel
Duarte.

172
CAPÍTULO II

O Tribunal de Justiça
Eleitoral da Parahyba
renasce das cinzas do
Estado-Novo

“Aproximando-se o ϔim do Estado-Novo, a


Justiça Eleitoral seria retomada pelo decreto
no 7.586, de 28 de maio de 1945 e não dei-
xaria mais de ser incluída nas Constituições
que se seguiram.” (Walter Costa Porto)* 1

* Dicionário do Voto. São Paulo: imprensa o icial do estado, ed. UnB, pg. 252.

173
A BAGACEIRA, Eleitoral

C
om o fechamento das Casas Legislativas de todo o país, a nomeação
de Interventores para fazer as vezes de governador de estado e,
ainda, sem eleições diretas para presidente da república, a Justiça
Eleitoral não tinha razão de ser durante o período do Estado-Novo. Findo
este, em 1945, a Justiça Eleitoral na Parahyba ressurgiu através do Decreto-
Lei nº 7.576, de de 28 de maio de 1945.
A sessão inaugural do Tribunal Regional Eleitoral da Parahyba
ocorreu no dia 12 de junho 1945, sob a presidência do Desembargador
Flodoardo Lima da Silveira e secretariada por José Baptista de Mello.
Participaram da sessão inaugural, o secretário do interior e
segurança pública, Samuel Duarte; o arcebispo metropolitano, D. Moisés
Coelho; o então presidente do Tribunal de Justiça do Estado, desembargador
Severino Montenegro; o procurador-geral do estado, Renato Lima e os juízes
do Tribunal Eleitoral, José de Farias, Júlio Rique Filho, Clímaco Xavier da
Cunha e Renato Teixeira Bastos.
O Tribunal funcionou provisoriamente no Tribunal de Apelação,
atual Tribunal de Justiça do Estado.
Sabiniano Maia voltou a atuar no Tribunal Eleitoral a partir de
janeiro de 1961, agora na condição de magistrado, oriundo da classe de
jurista. De sua obra, “Tribunal Regional de Justiça Eleitoral do Estado da
Paraíba – DECISÕES 1961-1962-1963-1964”, pode-se extrair dos juízes que
a relação dos que atuaram na Corte, nesse período:
(1961) - Antônio Taveira de Farias, Emílio de Farias, Pedro Damião
Peregrino de Albuquerque, Luis Sílvio Ramalho; Raimundo de Gouveia
Nóbrega; Onildo Farias; Jurandyr Guedes Miranda de Azevedo; Pedro
Damião; Antônio Taveira de Farias; Sebastião Sinval Fernandes; Francisco
Espínola e Sabiniano Maia.
(1962) – Sabiniano Maia; Raimundo de Gouveia Nóbrega; Antônio
Taveira de Farias; Jurandyr Guedes Miranda de Azevedo; Inaldo de Souza
Morais; Hélio de Araújo Soares; Francisco Espínola; Onildo de Farias; Luiz

174
O tribunal de justiça eleitoral da Parahyba renasce das cinzas do Estado-Novo

Silvio Ramalho; Damião Peregrino de Albuquerque; Nelson Negreiros;


Francisco Espínola e Paulo Américo Maia.
(1963) – Sabiniano Maia; Raimundo de Gouveia Nóbrega; Antônio
Taveira de Farias; Jurandyr Guedes Miranda de Azevedo, Hélio de Araújo
Soares; Francisco Espínola; Onildo de Farias; Paulo Américo Maia; Sebastião
Silval Fernandes e Francisco Espínola.
(1964) – Sabiniano Maia; Nelson Negreiros; Raimundo de
Gouveia Nóbrega; Antônio Taveira de Farias; Onildo Farias; Sebastião Sinval
Fernandes; Aurélio de Albuquerquer; Francisco Espínola; Rivaldo Pereira.
Atuou como Procurador Regional Eleitoral do Tribunal, entre 1961
e 1964, o Bel. João Jurema.
Entre 1945 e 1965, o Tribunal Regional de Justiça Eleitoral da
Paraíba, assim como em outras eleições do passado, teve uma importante
atuação no exercício do seu mister: requisitou tropas federais ao TSE, quando
entendeu necessário; cassou diplomas de candidatos que descumpriram a
legislação eleitoral e procurou administrar as eleições de forma a possibilitar
ao eleitor a mais ampla liberdade para exercer o seu direito de sufrágio.
Todavia, na eleição de 1965, o Tribunal Eleitoral paraibano
teve uma criticada1 atuação no pleito. A instituição icou marcada pelos
contemporâneos e eleitores paraibanos, principalmente os eleitores de Ruy
Carneiro, que atribuíram a vitória de João Agripino ao Tribunal Eleitoral.

1 Trinta e sete anos depois, nas eleições de 2002, o Tribunal Regional Eleitoral passaria pela
segunda crise mais importante de sua história, haja vista que quatro de seus membros,
dentre os quais o seu presidente foram acusado de parcialidade em favor do candidato
ao governo do estado, Cássio Rodrigues da Cunha Lima. No terceiro volume, voltaremos a
abordar esse tema com mais detalhes.

175
A BAGACEIRA, Eleitoral

(Fonte: A UNIÃO)

176
Juízes do Tribunal Regional de Justiça Eleitoral da Paraíba no ano de 1962. Da esquerda para a
direita: Sabiniano Alves do Rego Maia, Raimundo de Gouveia Nóbrega, Antonio Taveira de Farias,
João Jurema (Procurador Regional), Jurandir Guedes Miranda de Azevedo (Presidente), Inaldo de
Souza Morais (Secretário), Hélio de Araújo Soares, Francisco Espinola e Onildo Farias.
(Fonte: Sabiniano Maia)

Tribunal Regional Eleitoral da Parahyba entre 1951-1953. Da esquerda para direita: Juiz
Pedro Damião, (Advogado não identi icado), Advogado Hélio Soares, Procurador Hermes
Pessoa, Desembargador Flodoardo da Silveira (Presidente), Secretário José Baptista de Mello,
Desembargador Antônio Gabínio, Desembargador Manuel Maia, (juiz não identi icado).
(Fonte: Arquivo pessoal de Humberto Mello)
CAPÍTULO III

As eleições de 1945

“Em 1945, votar não signiϔicava grande


coisa para o homem do campo. Ele não sabia
absolutamente nada o que desejavam dele.
Antes da ditadura, a Paraíba contava mais
ou menos de 30 a 40.000 eleitores e desde
1937 não houve mais nenhuma eleição. Quer
dizer que a reivindicação do sufrágio não
vinha do camponês, mas a ele se estendia
por motivos de doutrina política. Ele não
estava emancipado; não se interessava pelos
problemas gerais sobre os quais se lhe pedia
a opinião.” (Jean Blondel)*
1

* In Ob. Cit., p. 58.

179
A BAGACEIRA, Eleitoral

E
ntre 1945 e 1950, houve um aumento de 60% no eleitorado nacional,
que passou de 7.418.000 a 11.655.000 eleitores. Enquanto isso, a
população só havia crescido 16%, indo de 45.300.000 em 1945 a
52.645.000 habitantes, em 1950. Blondel atribui esse crescimento a dois
fatos: aumento da população e o desenvolvimento da alfabetização.
Na Parahyba, o alistamento quase duplicou, passando de 175.000
eleitores em 1945, o que equivale a 11,2%, a 346.000, em 1950, o que
corresponde a 20%. Jean Blondel1 traçou um quadro comparativo da
Parahyba em relação a outros estados do Nordeste e do sudeste e sul, em
ermos percentuais:

Estado 1945 1950


Maranhão 8,1% 16,4%
Piauí 14,8% 20,6%
Ceará 16,1% 20,9%
Rio Grande do Norte 15,6% 24,7%
Paraíba 11,1% 20,0%
Pernambuco 10,9% 13,1%
Alagoas 7,6% 13,2%
São Paulo 21,3% 22,0%
Paraná 17,6% 17,3%
Santa Catarina 20,0% 23,3¨%
Rio Grande do Sul 20,5% 23,4%

1 In Ob. Cit., p. 79.

180
As eleições de 1945

Nas eleições que ocorreram em 1945, 1950, 1954 e 1958, os


eleitores depositavam nas urnas as cédulas que eram confeccionadas pelos
partidos políticos, permitindo uma diminuição de erros na votação por parte
do eleitor. Somente nas eleições presidenciais de 1955 é que a cédula o icial,
confeccionada e distribuída pela Justiça Eleitoral foi utilizada pela primeira
vez e, na eleição de 1962, para o Congresso Nacional. A partir daí, passou a
exigir-se do eleitor que escrevesse o nome ou o número de seu candidato na
cédula, ou do partido político de sua preferência.
O elevado índice de votos invalidados na eleição de 1962,
pleito no qual, pela primeira vez foi utilizada a cédula o icial numa eleição
proporcional, expressou a di iculdade do eleitor em escrever o nome ou o
número de seu candidato, ou do partido político. Por esse motivo, o índice de
votos nulos dobrou de 9,1% para 17,7%.2
Na visão de Blondel, a fraude no alistamento seria a causa do
aumento de eleitores na Parahyba em relação aos demais estados, a exemplo
do município de Itaporanga, localizado na área do Sertão do estado que
atingiu o percentual de 200% das pessoas alfabetizadas.
As eleições diretas de 02 de dezembro de 1945 foram realizadas
para os cargos de presidente e vice-presidente da República, duas vagas para
senador e seus respectivos suplentes, além de deputados federais.
Os senadores e deputados foram eleitos com poderes para
discutir, aprovar e promulgar a nova Constituição Federal. Segundo a Lei
Constitucional nº 13, de 12 de novembro de 1945, o Conselho Federal, criado
pelo art. 38, §1º da Constituição “polaca” de 1937, passaria a denominar-se
“Senado Federal”.
Diante do jejum eleitoral experimentado entre 1937 a 1945, as
eleições de 1945 só se tornaram possíveis através da quali icação ex ofϔicio,

2 Jairo Nicolau, In PARTICIPAÇÃO ELEITORAL: EVIDÊNCIAS SOBRE O CASO BRASILEIRO.


In VIII CONGRESSO Luso Brasileiro de Ciências Sociais. Coimbra, 16 a 18 de setembro
de 2004.

181
A BAGACEIRA, Eleitoral

uma forma improvisada de formar um corpo eleitoral apto a exercer o direito


de sufrágio. As circunstâncias políticas exigiam medidas urgentes, como
registra Barbosa Lima Sobrinho:

(...) a verdade porém, é que, sem a quali icação ex


of icio, o pleito para a Constituinte de 1946 ou teria tido
comparecimento inexpressivo, ou deveria ser adiado
inde inidamente, à espera de que se pudesse levar por diante
um alistamento voluntário, com o vulto que os acontecimentos
reclamavam.3

Os candidatos lançados à presidência da República foram o


Brigadeiro Eduardo Gomes, pela UDN; o Gal. Eurico Gaspar Dutra, pelo PSD;
Yêdo Fiúza, pelo PCB e Mário Rolim Teles, pelo PPS.
Na Parahyba, o candidato udenista foi o mais votado, embora não
tenha sido eleito no resto do país. Segundo dados o iciais, o resultado para
presidente da República, em nosso estado foi o seguinte:4

Candidato Partido Votação % válidos situação


Eduargo Gomes UDN 76.110 53,2%
Eurico G. Dutra PSD 61.090 42,7% eleito
Yêdo Fiúza PCB 5.719 4,00%
Mário R. Teles PAN 10 0,00%
Votos brancos 1.085
Votos nulos 1.239
Total apurado 145. 253

Conforme previa a legislação eleitoral da época, os candidatos


podiam concorrer simultaneamente a dois cargos eletivos – desde que, uma

3 In Ob. Cit., p. 49.


4 Sítio o icial do Tribunal Regional Eleitoral da Paraíba.

182
As eleições de 1945

vez eleito, optasse por qualquer um deles; quanto aos candidatos ao cargo
de senador permitiam-se concorrer por vários estados da federação e, uma
vez eleito, deveria optar por qual entidade federativa exerceria o mandato
popular.
Foram esses os motivos que levaram o candidato comunista Luis
Carlos Prestes a concorrer pela Parahyba ao cargo de senador, juntamente
com o campinense Wergniaud Wanderley, Antônio Galdino Guedes, José
Pereira Lira, João Santa Cruz de Oliveira e Adalberto Jorge Rodrigues Ribeiro.
Os eleitos foram Wergniaud Wanderley e Adalberto Jorge
Rodrigues Ribeiro, conforme a seguinte ordem de votação:5

Candidato partido Votação % válidos situação


Adalberto J. R. Ribeiro 74.477 26,7% eleito
Wergniaud Wanderley 73.942 26,5% eleito
Antônio G. Guedes 57.940 20,8%
José Pereira Lira 57.044 20,4%
Luís Carlos Prestes 7.571 2,71%
João Santa Cruz de 7.485 2,68%
Oliveira
Votos brancos 1.267

Votos nulos 1.314


Total apurado 281.040

Essa eleição teve uma importância histórica, haja vista que se


tratava dos primeiros senadores paraibanos eleitos pelo voto secreto e que
tiveram concorrentes, pois

5 Idem.

183
A BAGACEIRA, Eleitoral

no Estado do Rio Parahyba do Norte, nos anos 30, nenhum


político concorreu ao Senado Federal pela Oposição.6

A representação da Parahyba para a Câmara dos Deputados era


de apenas dez cargos, que, em sua maioria, foi preenchida pelos candidatos
udenistas, que abocanharam a sete vagas – Argemiro de Figueiredo, João
Agripino Filho, João Úrsulo Ribeiro Coutinho Filho, Plínio Lemos e o
representante das Espinharas, Ernani Ayres Sátiro e Sousa, enquanto que o
PSD conseguiu eleger três representantes – José Janduhy Carneiro, Samuel
Vital Duarte e José Jof ily Bezerra de Melo, segundo a ordem de votação dos
eleitos:

Candidato Partido Votação %Válidos Situação


Argemiro de Figueiredo UDN 13.989 10,1% eleito
José Janduhy Carneiro PSD 10.547 7,62% eleito
João Agripino Filho UDN 10.356 7.48% eleito
João Úrsulo R. C. Filho UDN 9.797 7,08% eleito
Samuel Vital Durte PSD 9.683 7% eleito
Plínio Lemos UDN 7.533 5,44% eleito
José Jof ily B. de Melo PSD 7.076 5,11%
eleito
Ernani Ayres Sátiro e Sousa UDN 6.759 4,88% eleito
Votos brancos 1.366
Votos nulos 1.631
Total apurado 141.317

6 Marcus Odilon Ribeiro Coutinho, in PARAÍBA – Nomes do Século. FLÁVIO RIBEIRO


COUTINHO. A UNIÃO EDITORA, p. 39.

184
As eleições de 1945

Comparando os números de votos apurados nas três eleições


verifica-se o interesse maior do eleitorado paraibano pela escolha
de senador, haja vista a diferença de quase quarenta mil votos dados
a mais em relação aos outros pleitos para presidente e deputado
federal.
A UDN foi a grande vitoriosa nas eleições de 1945 na
Parahyba, o que significou um fato raro comparado aos demais estados
da federação, pois o PSD foi o grande vencedor no resto do país, pois
conseguiu eleger dois senadores e sete deputados dos dez cargos em
disputa.

Bandeiras vermelhas na parahyba

Data do início do século XX a divulgação o surgimento de ideias


socialistas na Parahyba, mas a fundação do Partido Comunista do Brasil na
capital paraibana só ocorreu em 25 de março de 1922 para depois, pouco a
pouco, espalhar suas células em diversos municípios e distritos, tais como
Areia, Bananeiras, Belém, Cabedelo, Campina Grande, Cajazeiras, Guarabira,
Mamanguape, Patos, Rio Tinto e Sapé.7
Na Revolução de 1930, o PCB decidiu manter-se neutro na
disputa que considerava uma luta pelo poder entre duas facções das classes
dominantes. Na Parahyba, um dos seus adeptos resolveu descumprir
a orientação partidária e participou ativamente daquele movimento
revolucionário proferindo discursos em prol do Movimento Tenentista, até o
dia da sua vitória, em 03 de outubro.
Nas eleições de 1933, o PCB não participou diretamente,
devido ao seu registro haver sido negado pela Justiça Eleitoral. A

7 Waldir Por írio, in BANDEIRAS VERMELHAS – A PRESENÇA DOS COMUNISTAS NA


PARAÍBA (1900-1960). João Pessoa: Ed. Textoarte, 2003, p. 22/31.

185
A BAGACEIRA, Eleitoral

saída para não ficar de fora daquele pleito foi adaptar-se à legislação
eleitoral e criar frentes amplas, a exemplo da Liga Pró-Estado Leigo,
integrada por representantes das mais diversas tendências políticas
e ideológicas da sociedade – espíritas, maçons, evangélicos e
profissionais liberais.
Repetindo as demais forças políticas da época, os comunistas
paraibanos se valeram de jornais que auxiliavam na propagação das ideias
socialistas, a exemplo do jornal “A ALVORADA”, A VOZ OPERÁRIA, A FRENTE
e O CLARIM.
Na eleição seguinte, a de 1934, os comunistas paraibanos
recorreram ao mesmo expediente anterior, conseguindo registrar uma chapa
nominada TRABALHADOR, VOTA EM TI MESMO. Dentre os candidatos,
constava Anacleto Vitorino, o primeiro proletário e negro a ser eleito para a
Assembleia Legislativa do Estado da Parahyba.
Na eleição seguinte de 1935 para prefeito e vereadores, os
comunistas não conseguiram atingir coe iciente eleitoral necessário para
eleger um representante no Legislativo Municipal.
Dentre as iguras de proa, adeptos das ideias comunistas, os
militantes que tiveram uma participação bastante ativa na Parahyba
destacaram-se o advogado e intelectual, João Santa Cruz de Oliveira,
Anacleto Vitorino, João José de Oliveira (líder do levante armando de 1935
em Gramame) e Félix Araújo, talvez o maior orador paraibano e arrebatador
de multidões de todos os tempos no estado.
A legalidade do Partido Comunista só veio em 1945, com o im da
ditadura varguista e a redemocratização do país. O segundo Código Eleitoral
Brasileiro – A Lei nº 7.586, de 28 de maio de 1945 – criou um ambiente
favorável à legalização do Partido Comunista, no Brasil, que foi conquistada
através da Resolução nº 285, de 27 de outubro de 1945, do Tribunal Superior
Eleitoral, sob protestos de católicos e de vários setores conservadores da
sociedade.

186
As eleições de 1945

Na Parahyba, a sucursal do Partido Comunista do Brasil teve início


em 21 de julho de 1945, sob a presidência do advogado João Santa Cruz e,
em Campina Grande, sob a direção de Cláudio Agra Porto.8
Na campanha eleitoral de 1945, os comunistas paraibanos
apoiaram o candidato do partido a presidente da república, Yedo Fiuza. Para
a Assembleia Nacional Constituinte, Luiz Carlos Prestes e João Santa Cruz
concorreram às duas vagas do Senado.
Como a legislação permitia um só candidato concorrer a mais
de um cargo, João Santa Cruz e Luiz Carlos Prestes também participaram
da disputa para deputado federal, ao lado de outros candidatos, dentre
eles, Félix Araújo. Este último, não teve sequer um voto na sua terra natal,
Cabaceiras.9
A campanha anticomunista da Igreja não conseguiu evitar a
expressiva votação recebida pelos candidatos comunistas na Parahyba,
conforme o quadro a seguir:

RESULTADO DAS ELEIÇÕES OBTIDO PELO PARTIDO COMUNISTA DO


BRASIL NA PARAHYBA NO PERÍODO DA LEGALIDADE (1945 A 1947)

CANDIDATOS AO SENADO NAS ELEIÇÕES DE 1945

CANDIDATO VOTAÇÃO
Luiz Carlos Prestes 7.571
João Santa Cruz de Oliveira 7.485

8 Waldir Por írio, in Ob. Cit., p. 119.


9 Waldir Por írio atribui ao fato de Felix Araújo não haver sido votado em sua terra natal à
ação da Igreja Católica, que teria feito uma forte campanha anticomunista por meio da qual
procurou convencer os eleitores do interior em não votar em candidatos comunistas. (in
Ob. Cit., p. 120).

187
A BAGACEIRA, Eleitoral

CANDIDATOS AO DEPUTADO NAS ELEIÇÕES DE 1945

CANDIDATO VOTAÇÃO
1. João Santa Cruz de Oliveira 1.411
2. Luiz Carlos Prestes 1.114
3. Félix de Sousa Araújo 786
4. Manuel Alves de Vasconcelos 181
5. Pedro Ferreira da Silva 190
6. Célio Di Pace 76
7. José Vandregíselo de Araújo Dias 75
8. Sabino Guimarães Coelho 48
9. Luzia Ramalho Clerot 28
10. Manuel Alves de Oliveira 27

CANDIDATOS A DEPUTADO ESTADUAL NAS ELEIÇÕES DE 194710

CANDIDATO CIDADE PROFISSÃO VOTAÇÃO


1. João Santa de Oliveira J. Pessoa Advogado 1.654
2. Félix de Sousa Araújo C. Grande Livreiro 1.516
3. Adelgício dos S. Lima Mamanguape Serv. Púb. 607
4. José Feodripe 193
5. José Vandregíselo J. Pessoa Médico 150
6. Milton de Oliveira Arruda Mamanguape 130
7. Miguel Arcanjo de Medeiros C. Grande 121
8. Maria Augusta de Oliveira J. Pessoa Estudante 106
9. João Cabral Batista J. Pessoa Grá ico 84
10. Antônio Aurélio T. de Santa Rita Serv. Público 72
Carvalho

10 Fonte: Waldir Por írio, in Ob. Cit., p. 128.

188
As eleições de 1945

RESULTADOS DAS ELEIÇÕES NA PARAHYBA EM 1945


Cargo: Presidente
Candidato Partido / Coligação Votação % válidos Situação
Eduardo Gomes UDN 76.110 53,2%
Eurico Gaspar Dutra PSD 61.090 42,7% Eleito
Yêdo Fiuza PCB 5.719 4,00%
Mário Rolim Teles PAN 10 0,00%
Votos brancos 1.085
Votos nulos 1.239
Total apurado 145.253
Legenda:
PPS - Partido Popular Sindicalista
PSD - Partido Social Democrático
UDN - União Democrática Nacional
PCB - Partido Comunista do Brasil

Cargo: Senador
Candidato Partido / Coligação Votação % válidos Situação
Adalberto Jorge
74.477 26,7% Eleito
Rodrigues Ribeiro Filho
Wergniaud Wanderley 73.942 26,5% Eleito
Antônio Galdino Guedes 57.940 20,8%
José Pereira Lira 57.044 20,4%
Luís Carlos Prestes 7.571 2,71%
João Santa Cruz de
7.485 2,68%
Oliveira
Votos brancos 1.267
Votos nulos 1.314
Total apurado 281.040

189
A BAGACEIRA, Eleitoral

Cargo: Deputado Federal


Partido /
Candidato Votação % válidos Situação
Coligação
Argemiro de Figueiredo UDN 13.989 10,1% Eleito
José Janduhy Carneiro PSD 10.547 7,62% Eleito
João Agripino Filho UDN 10.356 7,48% Eleito
João Úrsulo Ribeiro Coutinho
UDN 9.797 7,08% Eleito
Filho
Samuel Vital Duarte PSD 9.683 7% Eleito
Plínio Lemos UDN 7.533 5,44% Eleito
José Jof ily Bezerra de Melo PSD 7.076 5,11% Eleito
Ernani Ayres Sátiro e Sousa UDN 6.759 4,88% Eleito
Fernando Carneiro da Cunha
UDN 6.310 4,56%
Nóbrega
Epitácio Pessoa Cavalcanti de
PPS 5.866 4,24%
Albuquerque
Abelardo de Araújo Jurema PSD 5.748 4,15%
Osmar de Araújo Aquino UDN 4.907 3,54%
Alcides Vieira Carneiro PSD 4.859 3,51%
José Gaudêncio Correia de
UDN 4.639 3,35%
Queiroz
José da Silva Mousinho PSD 4.579 3,31%
Antônio Pinto de Oliveira UDN 3.738 2,70%
Salviano Leite Rolim PSD 3.640 2,63%
José Gomes da Silva PSD 3.618 2,61%
Antônio Boto de Menezes UDN 2.545 1,84%
Clóvis dos Santos Lima PSD 1.653 1,19%
João Santa Cruz de Oliveira PCB 1.411 1,02%
Luís Carlos Prestes PCB 1.114 0,80%
Heretiano Zenaide PDC 957 0,69%
Lauro dos Guimarães
PDC 933 0,67%
Wanderley
Pedro Paulo de Almeida PSD 869 0,62%
Antônio Pereira de Almeida PPS 792 0,57%
Felix Sousa Araújo PCB 786 0,56%

190
As eleições de 1945

Cypriano Galvão da Trindade PDC 695 0,50%


Severino Lopes Loureiro PDC 559 0,40%
Targino Pereira da Costa PPS 388 0,28%
Neusa Vinagre de Andrade PDC 356 0,25%
Leopoldino de Miranda Freire PDC 293 0,21%
Massilon Caetano de Pontes PPS 288 0,20%
Manuel Alves de Vasconcelos PCB 181 0,13%
José de Oliveira Leite PDC 116 0,08%
Odilon de Carvalho PDC 112 0,08%
Pedro Ferreira da Silva PCB 90 0,06%
Epaminondas Câmara PDC 85 0,06%
Carlos Di Pace PCB 76 0,05%
José Wandregíselo de Araujo
PCB 75 0,05%
Dias
Crisanto Lins de Albuquerque PPS 75 0,05%
Sinésio Pessoa Guimarães PPS 73 0,05%
Sabino Guimarães Coêlho PCB 48 0,03%
Severino da Silva Melquiades PPS 30 0,02%
Luzia Ramalho Clerot PCB 28 0,02%
Manuel Alves de Oliveira PCB 27 0,02%
Luiz Gonzaga de Miranda
PPS 21 0,01%
Freire
Votos brancos 1.366
Votos nulos 1.631
Total apurado 141.317
Exibir por nome completo
Legenda:
PPS - Partido Popular Sindicalista
PSD - Partido Social Democrático
PDC - Partido Democrata Cristão
UDN - União Democrática Nacional
PCB - Partido Comunista do Brasil

Fonte: www.tre.gov.br

191
A BAGACEIRA, Eleitoral

Bancada do PSD na Assembleia Legislativa do Estado da Parahyba – década de 1940.


(Fonte: João Lélis de Luna Freire)

Convenção do PSD
(Fonte: Acervo particular de João Lélis de Luna Freire)

192
Convenção do PSD
(Fonte: Acervo particular de João Lélis de Luna Freire)

Convenção partidária
(Fonte: Acervo particular de João Lélis de Luna Freire)
A BAGACEIRA, Eleitoral

JOÃO SANTA CRUZ, o Deputado do Povo


Propaganda da candidatura de João Santa Cruz a deputado estadual pelo
PCB nas eleições de 1946.
(Fonte: Waldir Por írio)

194
CAPÍTULO IV

As eleições de 1947 –
O tribuno X o bacharel

“Disputei quatro eleições: duas políticas e


duas literárias. Nas duas políticas eu perdi
e nas literárias eu ganhei. Nas quatro vezes,
os eleitores se enganaram.” (Alcides Vieira
Carneiro)* 1

* Trecho do seu discurso de posse na Academia Paraibana de Letras.

195
A BAGACEIRA, Eleitoral

A
s eleições realizadas em 19 de janeiro de 1947 atendiam ao art. 11
do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias da Constituição
Federal de 1946 e objetivaram preencher os cargos de governador
e deputados da Assembleia Legislativa do Estado que, uma vez eleitos, se
investiriam na função constituinte.
Dois partidos políticos de maior expressão disputaram aquele
pleito, a União Democrática Nacional e o Partido Social Democrático,
enquanto que o Partido Trabalhista Brasileiro, o Partido Comunista
Brasileiro e o Partido de Representação Popular exerceram a função de
meros coadjuvantes, sendo que este último apresentou apenas candidatos à
Assembleia Legislativa.
Em outubro, a UDN e o PSD já tinham os seus candidatos ao
governo, Oswaldo Trigueiro e Rui Carneiro, respectivamente. As eleições,
antes marcadas para 2 de dezembro de 1946, só ocorreram em janeiro de
1947. Nesse ínterim, Rui Carneiro renunciou à sua candidatura em nome
de seu primo, Alcides Carneiro, que também era genro de José Américo de
Almeida.
Naquela eleição, o eleitorado de Campina Grande, que era o
segundo colégio eleitoral do estado, contava com 23.383 eleitores.
Marcaram essas eleições as passeatas1 lideradas por Félix Araújo.
As campanhas eleitorais na Parahyba sempre tiveram grandes
oradores. Alcides Carneiro, Argemiro de Figueiredo, Ernany Sátiro, Félix
Araújo, João Agripino, José Américo de Almeida, Osmar de Aquino, Oswaldo
Trigueiro de Albuquerque Mello, Raimundo Asfora, Ronaldo da Cunha

1 Segundo Josué Sylvestre, embora Félix Araújo não tenha inventado as passeatas (posto que
a primeira das quais se tem notícia no estado data de 1889, realizada em Campina Grande,
para a eleição de Irineu Jof ily que disputava o cargo de deputado geral), ele adaptou-
as e organizou-as de forma a possibilitar um ambiente de alegria e entusiasmo, através
da inclusão de bandas de músicas, lenços agitados, uniformes e promoções especiais,
a exemplo das célebres passeatas das mulheres. (in Lutas de Vida e de Morte – Fatos e
personagens da história de Campina Grande (1945-1953). Brasília: Senado Federal,
1982, p. 115.

196
As eleições de 1947 - o tribuno X o bacharel

Lima etc. A campanha de 1947 foi marcada pela oratória de Alcides Vieira
Carneiro.2
O candidato udenista, Oswaldo Trigueiro, que também era um
bom esgrimista da palavra, dentre as várias promessas de campanha, se
comprometia a dar autonomia a Sumé, que foi levado à condição de município
através de projeto de lei que foi sancionado pelo seu sucessor, em 1951.3
A polarização entre as candidaturas de Alcides Carneiro e Oswaldo
Trigueiro representava a disputa pela liderança do partido udenista que se
travou entre Argemiro de Figueiredo e José Américo de Almeida.
Embora iliado ao PSD, a candidatura de Alcides Carneiro,
inicialmente apoiada pelo seu genro José Américo de Almeida foi
abandonada por este que, no decorrer da campanha, resolveu se “exilar” em
Minas Gerais, procurando demonstrar aos seus correligionários do estado
uma aparente neutralidade.
Por sua vez, mais transparente em suas atitudes políticas, Argemiro
de Figueiredo lutou pela vitória do seu candidato, que venceu a disputa por
uma diferença considerável de votos em relação ao seu oponente.
Não há registros sobre o número de votos femininos dados naquela
eleição mas pelo depoimento do historiador Marcus Odilon, pode-se inferir
que o eleitorado feminino prestigiou o candidato udenista, considerado de
excelente visual, o que con irmaria o refrão repetido nos comícios realizados
pela UDN:

“Oswaldo Trigueiro
É bonito e é solteiro”4

2 Citado por Hélio Sodré em sua obra, A História Universal da Eloquência, como um dos
grandes oradores da história universal.
3 Celso Mariz, in Ob. Cit., p. 114/115.
4 Marcus Odilon Ribeiro Coutinho, in PARAÍBA – Nomes do Século. FLÁVIO RIBEIRO
COUTINHO. A UNIÃO EDITORA, p. 34.

197
A BAGACEIRA, Eleitoral

Não se tem notícia do recurso à violência ísica ou verbal


nessa campanha eleitoral, talvez porque em razão do alto nível dos dois
concorrentes, seja do ponto de vista intelectual e moral. Parece ter sido uma
das campanhas eleitorais mais tranquilas de que se tem notícia na Parahyba.
A diplomação do governador eleito ocorreu poucos dias após
realizado o pleito, em 28 de janeiro de 1947.
Desse modo, Oswaldo Trigueiro de Albuquerque Mello tornou-se
o primeiro governador eleito pelo voto popular da Parahyba após o im do
Estado-Novo.

Para o Senado: José Américo contra ele mesmo

O fato inusitado dessa campanha de 1947 foi a eleição do terceiro


senador. Tanto o partido da situação, como o da oposição, indicaram José
Américo de Almeida, que se encontrava na cidade mineira de Barbacena,
onde procurou se isolar da campanha para o governo do estado, cujos
concorrentes foram Oswaldo Trigueiro, do seu partido, a UDN, e Alcides
Carneiro, seu genro.
José Américo de Almeida foi o candidato único para o Senado,
tendo seu nome homologado pelo eleitorado com 104.477 votos.
Os dois candidatos da UDN para suplentes de Senador, Antônio
Pereira Diniz e Epitácio Pessoa Cavalcante de Albuquerque, também foram
eleitos.

Um comunista é eleito

Naquela eleição de 1947, o candidato do Partido Comunista ao


governo do estado foi José Vandregíselo de A. Dias, que obteve apenas 47
votos, enquanto que o advogado João Santa Cruz de Oliveira concorreu a
uma cadeira na Assembleia do Estado, tendo recebido a votação de 1.654

198
As eleições de 1947 - o tribuno X o bacharel

votos se tornando o primeiro comunista eleito para a Assembleia Legislativa


do Estado.

Eleições municipais

A campanha para as eleições municipais de 1947 no estado


foi caracterizada pela guerra de ideologias, principalmente a católica e a
comunista, embora o Partido Comunista Brasileiro já houvesse entrado
para a clandestinidade. Alijados do partidarismo em face da cassação do
registro do PCB, pelo Tribunal Superior Eleitoral, os comunistas da Parahyba
buscaram abrigos em outras legendas, principalmente a UDN e o PSB, o que
provocou uma forte contra-propaganda liderada pelo jornal católico e os
membros defensores da Liga Eleitoral Católica:

É preciso que se faça uma distinção: se a legenda da UDN, nas


secções municipais de João Pessoa e Mamanguape, dado o
acordo e a ligação com os comunistas, é considerada suspeita
e por isso mesmo não possam os católicos e bons brasileiros
sufragar-lhe os nomes, de plena consciência, não o será, porém,
nos outros municípios paraibanos onde os candidatos da União
Democrática Nacional souberam respeitar os sentimentos
religiosos do eleitoral. (…) Chamamos ainda a atenção dos
católicos para o PSB, que em Santa Rita e Mamanguape
acolheu na sua chapa elementos comunistas dos mais variadas
graduações do extinto Partido.5

Essa intensa e constante propaganda negativa de candidatos


comunistas não impediu que alguns deles fossem eleitos naquele pleito, a
exemplo de Cabral Batista, o vereador mais votado na capital, e Vasco Toledo,
eleito vice-prefeito de João Pessoa, além do comerciário João Pedrosa, eleito
vereador em Campina Grande.

5 Apud Waldir Por írio, in Ob. Cit., p. 248.

199
A BAGACEIRA, Eleitoral

Na “Rainha da Borborema”, o apoio dos comunistas foi considerado


decisivo para a vitória do médico Elpídio de Almeida, candidato a prefeito
pela Coligação Democrática Campinense.

Eleições suplementares

Decorreram da nulidade das votações ocorridas nas seções


eleitorais de João Pessoa, Santa Rita, Mamanguape, Esperança, Campina
Grande, São João do Cariri, Catolé do Rocha e Misericórdia.6
Após as eleições suplementares, a distribuição da representação
na Assembleia Legislativa do Estado, segundo as legendas partidárias, foi a
seguinte:

União Democrática Nacional

Renato Ribeiro Coutinho


Luiz Gonzaga de Oliveira Lima
Praxedes da Silva Pitanga
Isaías Silva
João Feitosa Ventura
Jacob Guilherme Frantz
Antônio Nominando Diniz
João Guimarães Jurema
Clóvis Bezerra Cavalcanti
Hidelbrando Assis
Antônio de Paiva Gadelha
Francisco Será ico da Nóbrega Filho
Pedro Augusto de Almeida

6 Hoje, corresponde ao Município de Itaporanga.

200
As eleições de 1947 - o tribuno X o bacharel

Álvaro Gaudêncio de Queiroz


Antônio Bezerra Cabral
Hiaty Leal
José de Sousa Arruda
Antônio Batista Santiago
Ivan Bichara Sobreira

PARTIDO SOCIAL DEMOCRÁTICO

Djalma Leite Ferreira


Balduíno Minervino de Carvalho
Octacílio Nóbrega de Queiroz
Odon Bezerra Cavalcanti
João Fernandes de Lima
Severino Ismael de Oliveira
Inácio José Feitosa
Osvaldo Pessoa Cavalcanti de Albuquerque
Tertuliano Correia da Costa Brito
Aggeu de Castro
Lindolfo Pires Ferreira Júnior
Bernardino Soares Barbosa
Pedro Moreno Gondim
Otávio Teodoro de Amorim

PARTIDO TRABALHISTA BRASILEIRO

Antônio Pereira de Almeida

PARTIDO COMUNISTA BRASILEIRO

João Santa Cruz de Oliveira

201
A BAGACEIRA, Eleitoral

O primeiro suplente do PSD, João Lélis de Luna Freire, assumiu o


cargo no poder legislativo estadual, em face da renúncia do deputado Ruy
Carneiro.
Em 23 de março de 1947 houve eleições suplementares. É que a
Justiça Eleitoral estadual anulou as votações realizadas nas secções eleitorais
localizadas em João Pessoa, Santa Rita, Mamanguape, Esperança, Campina
Grande, São João do Cariri, Catolé do Rocha e Misericórdia (Itaporanga).
Em face dessa nova eleição, houve mudanças na composição de titulares e
suplentes, de forma que Ivan Bichara Sobreira foi bene iciado e assumiu a
condição de primeiro suplente e João Lélis de Luna Freire sofreu prejuízo,
passando à condição de segundo.7
Em 15 de janeiro de 1948, por força da Resolução nº 01, da
Assembleia Legislativa do Estado, em cumprimento à decisão do Tribunal
Superior Eleitoral, que cassou o Partido Comunista Brasileiro, João Santa
Cruz de Oliveira, assim como os seus suplentes, tiveram os mandatos
cassados.
Data desse período a iniciativa de alguns deputados estaduais
apresentarem projetos de lei, transformando alguns distritos em novos
municípios. Essa prática, que vai se repetir nas legislaturas seguintes, tinha o
objetivo menos de atender as aspirações autonomistas de alguns dos distritos
do que aumentar os currais eleitorais dos autores da proposta.
Assim, durante a primeira legislatura após o im do Estado-
Novo, (1947/1951), foram apresentados os projetos de lei que conferiam
autonomia aos distritos de Uiraúna, Cabedelo e Sumé, tendo apenas esse
último obtido êxito.
Na segunda legislatura pós-Estado Novo, os projetos de lei para
dar autonomia política aos distritos que representavam as bases eleitorais

7 Celso Mariz, in MEMÓRIA DA ASSEMBLÉIA LEGISLATIVA. (Aumentada e atualizada por


Deusdedit Leitão). João Pessoa: 1987, p. 109.

202
As eleições de 1947 - o tribuno X o bacharel

dos deputados proponentes foi mais intensa. O quadro abaixo, apresenta os


distritos, que se transformaram em municípios e também bases eleitorais
dos respectivos parlamentares, autores dos projetos de lei que concederam
as respectivas autonomias municipais:

MUNICÍPIO AUTOR DO PROJETO


Pedras de Fogo Dep. Ramiro Fernandes de Carvalho
Pilões Dep. Américo Maia de Vasconcelos
Solãnea Dep. Humberto Coutinho de Lucena
Uiraúna Dep. Jacob Guilherme Franntz
São Mamede Dep. Napoleão Abdon da Nóbrega
Pirpirituba Dep. Clóvis Bezerra Cavalcanti
Aroeira Dep. Roberto Pessoa
Malta Dep. Octacílio Nóbrega de Queiroz
Pocinhos Dep. Pedro Moreno Gondim
Serra Redonda Dep. José Marques de Almeida
Coremas Dep. Djacir Cavalcanti de Arruda
Prata Dep. Antônio Leite Montenegro

Os projetos de lei de autoria dos deputados Clóvis Bezerra


Cavalcanti e Luís da Costa de Araújo Bronzeado que tratavam dos municípios
de Rio Tinto e Remígio, respectivamente, foram vetados pelo vice-
governador, em exercício, João Fernandes de Lima, por motivos meramente
políticos, como registra Deusdedit Leitão:

Os motivos alegados nos vetos não escondiam as razões de


ordem política que determinaram a medida governamental,
o que gerou acalorados protestos dos autores dos projetos e
de seus companheiros de bancada udenista. Esses projetos
foram subscritos por dezenove deputados, o que representava,
juntamente com o autor da proposição, a metade do número
de parlamentares que integram a Assembleia.8

8 Celso Mariz, in Ob. Cit. p. 120/121.

203
A BAGACEIRA, Eleitoral

A “farra” na criação de novos municípios continuaria nas décadas


seguintes. A Parahyba, por motivos políticos-eleitoreiros, continuaria a ser
“retalhada” para atender aos interesses dos deputados e lideranças políticas
locais.
Em 1955, foram aprovados os projetos de lei que transformaram
em municípios os distritos de Rio Tinto, Cabedelo, Remígio, Juazeirinho,
Belém, Mari, Gurinhém, Serra da Raiz, sendo que os parlamentares
bene iciados eleitoralmente foram Eduardo de Alencar Ferreira, Antônio
D'Ávila Lins, Tertuliano Correio da Costa Brito, Luis da Costa Bronzeado e
Humberto Coutinho de Lucena.9

RESULTADOS DAS ELEIÇÕES NA PARAHYBA EM 1947

Cargo: Governador
Partido /
Candidato Votação % válidos Situação
Coligação
Osvaldo Trigueiro de A. Melo UDN 80.368 53,5% Eleito
Alcides Vieira Carneiro PSD 69.683 46,4%
José Vandregíselo de A Dias PCB 47 0,03%

Cargo: Vice Governador


Partido /
Candidato Votação % válidos Situação
Coligação
José Targino UDN 83.623 59,9% Eleito
Odivio Borba Duarte PSD 55.927 40,0%

Cargo: Senador
Partido /
Candidato Votação % válidos Situação
Coligação
José Américo de Almeida UDN 104.477 100% Eleito

9 Celso Mariz, in Ob. Cit., p.128.

204
As eleições de 1947 - o tribuno X o bacharel

Cargo: Suplente Senador


Partido /
Candidato Votação % válidos Situação
Coligação
Carlos Pessôa UDN 65.869 35,7% Eleito
Antonio Pereira Diniz UDN 54.939 29,8% Eleito
Epitácio Pessoa Cavalcanti de
UDN 54.750 29,7% Eleito
Albuquerque
Dustan Soares de Miranda UDN 4.237 2,30%
João de Souza Vasconcelos UDN 2.328 1,26%
João Luiz Freire UDN 1.827 0,99%
Euclides Sales UDN 76 0,04%

Cargo: Deputado Estadual


Partido / %
Candidato Votação Situação
Coligação válidos
Ruy Carneiro PSD 6.401 4,3%
Renato Ribeiro Coutinho UDN 5.898 3,96%
Luiz Gonzaga de Oliveira Lima UDN 3.173 2,13%
Praxedes da Silva Pitanga UDN 2.994 2,01%
Djalma Leite Ferreira PSD 2.976 1,99%
Isaias Silva UDN 2.936 1,97%
João Feitosa Ventura UDN 2.764 1,85%
Jacob Guilherme Frantz UDN 2.739 1,84%
Balduino Minervino de Carvalho PSD 2.718 1,82%
Antonio Nominando Diniz UDN 2.656 1,78%
João Guimarães Jurema UDN 2.551 1,71%
Clovis Bezerra Cavalcanti UDN 2.529 1,69%
Hildebrando de Assís UDN 2.495 1,67%
Antonio de Paiva Gadelha UDN 2.467 1,65%
Francisco Será ico da Nobrega
UDN 2.384 1,60%
Filho

205
A BAGACEIRA, Eleitoral

Otacilio Nóbrega de Queiroz PSD 2.368 1,59%


José Fernandes Filho UDN 2.343 1,57%
Flávio Ribeiro Coutinho UDN 2.339 1,57%
Odon Bezerra Cavalcanti PSD 2.322 1,56%
Pedro Augusto de Almeida UDN 2.321 1,55%
Alvaro Gaudencio de Queiroz UDN 2.290 1,53%
Antonio Bezerra Cabral UDN 2.266 1,52%
Hiati Leal UDN 2.247 1,50%
João Fernandes de Lima PSD 2.206 1,48%
José de Souza Arruda UDN 2.145 1,44%
Severino Ismael de Oliveira PSD 2.139 1,43%
Inácio José Feitosa PSD 2.113 1,41%
Osvaldo Pessoa Cavalcanti de
PSD 2.106 1,41%
Albuquerque
Antonio Batista Santiago UDN 2.105 1,41%
Tertuliano Correia da Costa Brito PSD 2.040 1,37%
Ivan Bichara Sobreira UDN 1.990 1,33%
José de Souza Maciel UDN 1.988 1,33%
Otaviano Carneiro da Cunha UDN 1.983 1,33%
Ageu de Castro PSD 1.914 1,28%
Lindolfo Pires Ferreira Junior PSD 1.907 1,28%
Bernardino Soares Barbosa PSD 1.870 1,25%
Pedro Moreno Gondim PSD 1.832 1,23%
Otavio Teodoro de Amorim PSD 1.802 1,21%
João Lelis de Luna Freire PSD 1.775 1,19%
Silvio Pélico Porto UDN 1.689 1,13%
Heretiano Zenaide UDN 1.676 1,12%
Luiz Gonzaga de Miranda Freire UDN 1.666 1,11%
João Santa Cruz de Oliveira PC DO B 1.654 1,11%
Telésforo Onofre Marinho PSD 1.605 1,07%
Silvino Cabral da Nobrega PSD 1.571 1,05%
Heleno Henrique da Silva UDN 1.549 1,04%
José Targino da Costa UDN 1.517 1,01%

206
As eleições de 1947 - o tribuno X o bacharel

Felix Sousa Araújo PC DO B 1.516 1,01%


Asdrúbal Nóbrega Montenegro PSD 1.450 0,97%
Ascendino Virginio de Moura UDN 1.446 0,97%
José da Silva Mousinho PSD 1.439 0,96%
José Marques Bezerra PSD 1.418 0,95%
Coriolano Ramalho Neto PSD 1.365 0,91%
Gabriel Maia UDN 1.356 0,91%
Francisco de Paula e Silva Filho UDN 1.349 0,90%
José Marinho Falcão PSD 1.288 0,86%
Joacil de Brito Pereira UDN 1.237 0,83%
Rômulo Romero Rangel PSD 1.184 0,79%
Antônio Pereira de Almeida PTB 1.162 0,78%
Pedro Brasilino Leite UDN 1.153 0,77%
Francisco de Paula Porto PSD 1.083 0,72%
Luiz Ribeiro dos Santos PSD 1.047 0,70%
Norberto Baracuhy PSD 1.010 0,67%
Adamor Soares de Carvalho PSD 931 0,62%
Hortencio de Souza Ribeiro PSD 922 0,61%
José Augusto Pinto Ribeiro PSD 917 0,61%
Avani Benicio Maia UDN 886 0,59%
Cicero Honorato Leite PSD 867 0,58%
Lauro dos Guimarães Wanderley UDN 826 0,55%
Antonio Tancredo de Carvalho PSD 824 0,55%
Luiz Marcelino de Oliveira PSD 823 0,55%
José de Almeida Cunha UDN 813 0,54%
Sebastião Bezerra Bastos PSD 797 0,53%
Firmino Silva PTB 739 0,49%
Adelgicio dos Santos Lima PC DO B 607 0,40%
Eunápio da Silva Torres UDN 466 0,31%
Severino Alves Ayres PSD 454 0,30%
Antonio Santiago Pessoa PTB 440 0,29%
Geraldo Moura Baracuhy PC DO B 370 0,24%
Afonso Pereira da Silva PTB 365 0,24%

207
A BAGACEIRA, Eleitoral

Carmelo dos Santos Coelho PSD 317 0,21%


Januario Alves Feitosa PTB 307 0,20%
Raimundo Nonato Gomes PTB 271 0,18%
Amaldo Bonifacio de Paiva PTB 265 0,17%
Rogerio Martins Costa PRP 210 0,14%
Luiz Gil de Figueiredo PSD 206 0,13%
José Feodripe PC DO B 193 0,13%
Pedro Sampaio Xavier PTB 173 0,11%
Carlos Neves da Franca PTB 168 0,11%
José Vandregiselo de A Dias PC DO B 150 0,10%
Ulrico de Oliveira Cavalcanti PTB 145 0,09%
Manuel Paulino de Morais PTB 140 0,09%
João Verissimo Barbosa PTB 133 0,08%
Lauro Freitas PTB 130 0,08%
Milton de Oliveira Arruda PC DO B 130 0,08%
Miguel Arcanjo de Medeiros PC DO B 121 0,08%
João de Araújo Dias PTB 110 0,07%
Maria Augusta de Oliveira PC DO B 106 0,07%
Guilherme Falconi Nicodemi PTB 106 0,07%
Arcanjo de Holanda Cavalcanti PTB 105 0,07%
Pedro Paulo de Almeida PTB 100 0,06%
Sabino Guimarães Coêlho PC DO B 98 0,06%
João Alves de Farias PTB 95 0,06%
Eduardo de Aguiar Elery PRP 87 0,05%
João Cabral Batista PC DO B 85 0,05%
José Felix de Souza Filho 80 0,05%
José Félix da Silva PTB 75 0,05%
Antonio Aurelio Teixeira de
PC DO B 72 0,04%
Carvalho
Dermeval Sobral PTB 70 0,04%
Orvacio de Lira Machado PTB 57 0,03%
Manuel Firmino de Souza PTB 55 0,03%
José Casemiro da Costa Lima PC DO B 51 0,03%

208
As eleições de 1947 - o tribuno X o bacharel

Pedro Fernades Viana PTB 50 0,03%


Domingos Trigueiro Lins PRP 49 0,03%
Francisco Carvalho Filho PC DO B 48 0,03%
Francisco Maia Wanderley PTB 47 0,03%
Eurico Borba Pinto PTB 46 0,03%
Severino Lopes da Silva PTB 45 0,03%
Pedro Barbosa PRP 44 0,03%
Horacio de A. Mesquita PC DO B 40 0,02%
José Pêssoa de Brito PTB 33 0,02%
João da Mata Medeiros PC DO B 31 0,02%
Anisio Ormano de Medeiros PC DO B 29 0,01%
Geraldo Magella Cantalice PRP 29 0,01%
José Thimóteo de Morais e Souza 29 0,01%
Eduardo de Carvalho PRP 28 0,01%
Anastácio Assunção PC DO B 25 0,01%
Manuel L. Alves Filho PRP 24 0,01%
Francisco de Lima Wanderley PRP 24 0,01%
Claudio Agra Porto PC DO B 23 0,01%
Gilberto Leite PTB 22 0,01%
Altino Francisco de Macedo PC DO B 22 0,01%
João de Souza Falcão PTB 20 0,01%
Israel Marcolino da Silva PC DO B 18 0,01%
Josaphat Fialho de Amorim PC DO B 18 0,01%
Manuel Carlos Fernandes PC DO B 18 0,01%
João Batista Barbosa PC DO B 17 0,01%
Dionisio Carneiro da Cunha PTB 15 0,01%
Saul de Freitas Santiago PC DO B 15 0,01%
Cristovão de Morais PTB 13 0,00%
David Falcão PC DO B 13 0,00%
Ecilo Vidal N. de Vasconcelos PRP 11 0,00%
Francisco Siqueira C. da Cunha PRP 11 0,00%
José Simão de Almeida PRP 10 0,00%
Severino Pereira de Aráujo PRP 9 0,00%

209
A BAGACEIRA, Eleitoral

Manoel Cavalcanti de Oliveira PTB 9 0,00%


Angelico de Miranda Loureiro PRP 7 0,00%
Pedro Nogueira Filho PRP 4 0,00%
Manuel Mariz de Oliveira PC DO B 1 0,00%
Votos brancos 749
Votos nulos 833
Exibir por nome completo

Legenda:
SRHP - Sem Registro Histórico do Partido
PSD - Partido Social Democrático
PTB - Partido Trabalhista Brasileiro
PC DO B - Partido Comunista do Brasil
PRP - Partido de Representações Popular
UDN - União Democrática Nacional

Fonte: http://www.tre.gov.br. Visitado em 18.08.2010.

Eleições municipais de 1947

As eleições municipais constituem pelejas tão aguerridas em


nosso País, justamente porque é pela comprovação de possuir
a maioria do eleitorado do município que qualquer facção local
mais se credencia às preferências da situação estadual. (Victor
Nunes Leal)10

As eleições municipais no Brasil sempre funcionaram como uma


prévia ou um termômetro em relação aos futuros pleitos, principalmente
para quem pretende galgar o governo estadual. A disputa municipal, ora

10 In Coronelismo, Enxada e Voto. Ed. Nova Fronteira, 2ª ed., p. 49.

210
As eleições de 1947 - o tribuno X o bacharel

sedimenta ou sepulta as lideranças que governam os municípios, ora


apresenta novos personagens à cena política.
Todas as eleições municipais daquele período na Parahyba foram
marcadas pelo antagonismo entre os dois principais partidos do estado, a
UDN e o PSD.

Cajazeiras

A família Rolim, repetindo os tempos passados, continuou a


participar da política cajazeirense. Nas eleições municipais de 1947 a disputa
se deu entre a chapa udenista, integrada por Arsênio Rolim Araruna e José
Bandeira de Melo, e a chapa pessedista, formada por Manuel Cavalcanti de
Lacerda e Acácio Braga Rolim. Dessa forma, independente de quem fosse o
vitorioso, o poder local icaria em família.
Francisco Cartaxo Rolim atribui a vitória udenista à estrutura
partidária da UDN em Cajazeiras, que contava com dois deputados estaduais,
os advogados João Jurema e Hidelbrando Assis, somada à atuação do
cajazeirense Ivan Bichara Sobreira, constituinte eleito em janeiro de 1947.
Enquanto isso, o PSD não tinha nenhuma expressão estadual que apoiasse
os candidatos locais.11

Campina Grande

Em Campina Grande, as eleições de 1947 serviram para aferir


a liderança de Argemiro de Figueiredo, que projetava voltar ao Palácio
do Governo em 1950 pela escolha direta popular, haja vista que somente
havia governado o estado pela via indireta, em 1935 e, depois, em 1937, na
condição de interventor nomeado.

11 Francisco Cartaxo Rolim, In Ob. Cit., p. 142.

211
A BAGACEIRA, Eleitoral

Argemiro de Figueiredo fazia questão de propagar na sua terra


natal que aquela eleição de iniria o seu futuro político,12 como registra o
jornalista e historiador, Josué Sylvestre:

Já esclareci, em comícios públicos, o verdadeiro signi icado


da campanha e que estamos empenhados. Não estão em jogo
simplesmente candidatos aos postos eletivos municipais.
A LUTA É MAIS SÉRIA! O que Campina vai julgar, a 12 de
OUTUBRO, É O MEU PRÓPRIO DESTINO POLÍTICO.
Já o a irmei: a minha terra irá lavrar uma sentença histórica.
Ela, ou terá de sustentar-me para que eu possa servi-la, ou
terá de jogar-me ao ostracismo de initivo, como homem inútil
aos interesses do seu progresso e do seu futuro. Este é que é o
dilema.13

Para atingir o seu objetivo, Argemiro de Figueiredo apresentou um


candidato caseiro, o seu cunhado Veneziano Vital do Rego, que concorreu
pela União Democrática Nacional/UDN.
Veneziano Vital sofreu várias resistências, inclusive entre os
próprios udenistas que o consideravam um candidato sem capacidade
política e cultural, características que foram rechaçadas pelo seu tutor
político, que procurou rebater todas as a irmações negativas e assumir a
responsabilidade por uma eventual administração desastrosa de Veneziano,
caso este fosse eleito. Na verdade, razões de ordem pessoal explicam a
escolha de Argemiro de Figueiredo.14

12 Alcançar a prefeitura do segundo colégio eleitoral do estado seria o primeiro passo para
ser governador do estado. Algumas décadas depois o fenômeno se repetiria com outros
dois grandes líderes com reduto eleitoral em Campina Grande, Ronaldo da Cunha Lima
(que é natural de Guarabira) e seu ilho, Cássio Rodrigues da Cunha Lima (que é natural de
Campina. Ambos foram prefeitos de Campina Grande e, depois, governadores do estado).
13 In Lutas de Vida e de Morte – FATOS E PERSONAGENS DA HISTÓRIA DE CAMPINA
GRANDE (1945/1953). Brasília: Ed. Senado, 1982, p. 76
14 Para o jornalista e historiador Josué Sylvestre foi o sentimento de gratidão que moveu
Argemiro de Figueiredo a impor a candidatura de Veneziano Vital do Rego, contra tudo e
todos, inclusive contrariando a própria família. Segundo o mesmo historiador, teria sido
Veneziano que, em 1930, resistira aos aliancistas que tentaram linchar o perrepista José

212
As eleições de 1947 - o tribuno X o bacharel

De sua parte, o PSD campinense, liderado pelo deputado José


Jof ily, não concorreu com candidato próprio, antes passou a apoiar o médico
Elpídio de Almeida, que representou a candidatura dissidente da ala do
partido udenista, que não havia aceitado a decisão do cacique de Itararé de
optar por Veneziano Vital do Rego.
A campanha eleitoral campinense daquele ano passou a ter um
ingrediente discriminatório devido ao fato de o major Veneziano não ser
detentor de curso superior, enquanto o seu opositor era um dos renomados
clínicos da “Rainha da Borborema”. Assim, de forma pejorativa, os elpidistas
começaram a espalhar em todos os cantos da cidade que a disputa se daria
entre o médico e o vaqueiro.
Todavia, um fator pesava negativamente contra o candidato
Elpídio de Almeida, o fato de não haver nascido em Campina apesar de já
ser um pro issional renomado na cidade. Por essa razão, os argemiristas
passaram a tratá-lo como o candidato forasteiro. Acreditando no bairrismo
do eleitorado campinense, os argemiristas tinham a expectativa de que os
eleitores rejeitassem um estranho à terra, impedindo de governá-la.
Quanto aos candidatos a vice-prefeito, Veneziano teve ao seu lado
um comerciante, industrial e banqueiro, José de Brito, enquanto que Elpídio
teve o capitão do exército, Rodembusch, que fazia questão de comparecer
aos comícios devidamente fardado, o que signi icou um diferencial na
candidatura elpidista.
A campanha eleitoral de 1947 em Campina Grande para prefeito
foi uma das mais emocionantes de que se tem notícia e boa parte desse
fenômeno deveu-se à efetiva participação de Felix de Araújo, considerado o
maior agitador político de todos os tempos na Parahyba. Compôs hinos (a

Agra, parente de Argemiro. Como forma de gratidão, Argemiro de Figueiredo defendeu a


combatida candidatura de Veneziano à prefeitura de Campina Grande, o que representou
um erro de estratégia política, uma das raras ocasiões em que o experiente Argemiro
deixou-se levar pelo sentimentalismo, erro considerado fatal na política, que depois fora
reconhecido por ele próprio na década de 1970.

213
A BAGACEIRA, Eleitoral

Marselhesa), redigiu mais de uma dezena de discursos, organizou e liderou


passeatas,15 inclusive, de mulheres.
O clima daquela histórica campanha eleitoral foi assim resumida
por Josué Sylvestre:

Debates, propostas, discussões, brigas, ameaças, provocações


esse foi o clima que a cidade viveu durante a semana que
antecedeu o 12 de outubro entre os correligionários do
'forasteiro' e os adeptos do 'vaqueiro'.16

Após a derrota udenista, Argemiro de Figueiredo procurou


justi icá-la alegando o apoio comunista ao candidato Elpídio de Almeida,
além do derrame de dinheiro que teria sido praticado pelo inanciador da
campanha adversária, Severino Cabral, argumentos esses contestados pelo
jornalista Josué Sylvestre.

15 É certo que Félix Araújo não inventou as passeatas. Conforme registra Josué Sylvestre,
a origem das passeatas nas campanhas eleitorais da Parhayba remota ao período
compreendido entre o im da Monarquia e o início da República, mais precisamente em
1889, em Campina Grande, quando da eleição de Irineu Jofϔily para deputado geral. A virtude
de Félix Araújo, continua o jornalista e historiador, foi adaptar e estimular a organização
das passeatas, criando um clima de alegria e entusiasmo, inclusive com bandas de música,
agitação de lenços, uso de uniformes e introduzindo novidades a exemplo das famosas
passeatas das mulheres. (In Ob. Cit., p. 115). Na minha opinião, pode-se apontar nas
campanhas eleitorais da Parahyba três fases ou momentos históricos relativos à forma de
se comunicar com o eleitorado: na primeira, que se inicia no período colonial até a Primeira
República, os jornais foram os veículos das ideias, programas e manifestos dos candidatos
e partidos políticos; a segunda fase foi a dos boletins, passeatas, carreatas e dos comícios.
(Nestes últimos, a oratória dos candidatos é submetida ao teste do eleitorado. Sim, porque,
na Parahyba, terra de grandes tribunos, o eleitor até admite um candidato sem voto, mas
rejeita peremptoriamente quem não sabe expressar bem as suas ideias). Finalmente, o
terceiro momento de propaganda nas eleições paraibanas corresponde às novas formas
de comunicação nas campanhas eleitorais através da mídia eletrônica em que se veicula o
programa gratuito no rádio e televisão e o uso da Internet, o que contribuiu bastante para
a diminuição do corpo a corpo dos candidatos e das grandes aglomerações nos comícios,
formas de propaganda mais intensas no passado, principalmente depois que a legislação
eleitoral vedou a realização dos showmícios.
16 In Ob. Cit., p. 117.

214
As eleições de 1947 - o tribuno X o bacharel

A diferença de votos pró-Elpídio de Almeida foi signi icativa: 1.686


votos.

Guarabira

Antes da eleição de 1947, Guarabira teve prefeitos nomeados –


Pimentel Filho, Osório de Aquino, Sílvio Pélico Porto, Oswaldo Trigueiro de
Albuquerque Mello.
Sabiniano Alves do Rego Maia foi o primeiro prefeito eleito de
Guarabira, tendo vencido o candidato opositor, Edson Ribeiro, nas eleições
municipais de 12 de outubro de 1947.17

Patos

Clóvis Sátyro e Sousa, que vencera o pleito em 1935, novamente


chega ao governo municipal, derrotando o seu oponente, José Afonso Gayoso
de Sousa, enquanto que Walter Vieira Arcoverde bateu Bossuet Wanderley
da Nóbrega, para o cargo de vice-prefeito. Aquela eleição apresentou o
seguinte quadro de votação:

Prefeito votação
Clóvis Sátyro e Sousa 3.453 votos
José Afonso Gayoso de Sousa 3.123 votos

Vice-prefeito votação
Walter Vieira Arcoverde 3.405 votos
Bossuet Wanderley da Nóbrega 2.907 votos

17 Aedson Guedes Cunha, in História da Política Guarabirense. Guarabira: 2005, p. 17.

215
A BAGACEIRA, Eleitoral

Os candidatos eleitos para o Poder Legislativo Municipal foram


Antônio Crisanto Dantas, Francisco Pereira de Assis, Joaquim Leitão
de Araújo, José Antônio de Urquiza, Lauro Nóbrega de Queiroz, Manoel
Henriques da Silva, Orlando Jansen, Pedro Crispim de Andrade, Silvino
Sátyro Xavier e Juvenal Lúcio de Sousa.18

Pombal

Na terra de Ruy Carneiro, o primeiro prefeito eleito pelo voto


popular foi Francisco de Sá Cavalcanti, pondo im à descontinuidade
administrativa causada pelas várias nomeações de prefeitos pelo Interventor
do Estado, num curto espaço de tempo, considerando que a maioria deles,
pelo fato de não serem radicados no município, desconheciam os problemas
administrativos e anseios dos pombalenses.19

São José de Piranhas

O favorito para vencer a eleição municipal era Malaquias Gomes


Barbosa, candidato pela UDN e que havia sido o primeiro prefeito eleito
em 1935. A chapa que lhe fez oposição, integrada pelo PTB e pelo PSD
e composta de Nelson Lacerda de Oliveira e Arcôncio Pereira da Silva,
consagrou-se vitoriosa, com uma diferença de 71 votos, surpreendendo a
todos que já contavam com a vitória do candidato udenista, considerando a
sua fama de “benfeitor da cidade”.
Em depoimento prestado a José Marconi Vieira, o candidato
vencedor atribuiu parte de sua vitória ao fato de fazer serenata para os seus
eleitores, sempre acompanhado de seu violão.20

18 Flávio Sátyro e Sousa, in Ob. Cit., p. 269.


19 Verneck Abrantes de Sousa, in A Trajetória Política de POMBAL. 1999, IMPREL, p. 74.
20 José Marconi Gomes Vieira, in Ob. Cit., p. 48.

216
As eleições de 1947 - o tribuno X o bacharel

A eleição para vice-prefeito ocorreu posteriormente, em 12 de


outubro do mesmo ano.

Santa Rita

A vitória das oligarquias Ribeiro Coutinho e Veloso Borges


nas eleições anteriores de 1945 para o Senado, o Governo do Estado e a
Assembleia Legislativa, inclusive elegendo Flávio Ribeiro Coutinho para
presidir o Poder Legislativo estadual, teve re lexo na eleição municipal de
Santa Rita, em 1947, isto porque vitaminou a candidatura de Flávio Maroja
Filho e seu vice, o comerciante Pedro de Mendonça Furtado, através do
uso da máquina administrativa estadual, distribuindo empregos e outras
sinecuras estatais.
Os oposicionistas do PSD foram o proprietário rural Diógenes
Nunes Chianca e o pani icador José Gomes da Silveira, que perderam a eleição
por uma diferença de pouco mais de 500 votos. Conforme depoimento da
historiadora Martha Falcão, originária de Santa Rita, as oligarquias locais
usaram dos mesmos expedientes utilizados durante a Primeira República,
alistando eleitores em suas próprias casas, lotando-os em secções eleitorais
totalmente controladas, coincidentemente todas funcionando em local
próximo da usina Santa Rita. Transportados pelos patrões às secções
eleitorais, os votantes,

ao chegarem á cidade já traziam consigo as chapas de


seus candidatos. As fazendas e remanescentes dos antigos
engenhos, na época propriedades das usinas serviam almoço
e transporte aos eleitores de cabresto, que antes de votarem
eram advertidos sobre o risco de votarem contra o patrão,
o que era facilmente identi icável já que todos votavam nas
mesmas seções.21

21 Martha Falcão, in NORDESTE, AÇUCAR E PODER. João Pessoa: Ed. Universitária/UFPB,


1990, p. 254.

217
A BAGACEIRA, Eleitoral

Naquela eleição, os municípios atuais de Lucena e Fagundes


pertenciam à zona rural de Santa Rita e Bayeux ainda não era município.
Em relação à eleição para vereador, Martha Falcão a irma que foi
caracterizada pela boca-de-urna e outras formas de coação, tendo a UDN
conseguido eleger seis das nove vagas para a Câmara Municipal.22

RESULTADOS DA ELEIÇÃO NA PARAHYBA EM 1948

Eleições de 1948 na Paraíba


Município: Bonito de Santa Fé

Cargo: Vereador
Partido /
Candidato Votação % válidos Situação
Coligação
José Dias de França UDN 411 57,0%
Francisco Holanda de Moura PSD 211 29,3%
Manuel Tomaz da Silva PSD 74 10,2%
Francisco Otaviano de Souza UDN 17 2,36%
João Timóteo de Morais PSD 7 0,97%
Votos brancos 13
Votos nulos 7
Total apurado 740

Legenda:
PSD - Partido Social Democrático
UDN - União Democrática Nacional

22 Idem.

218
As eleições de 1947 - o tribuno X o bacharel

Eleições 1948 na Paraíba


Município: Conceição

Cargo: Vereador
Partido /
Candidato Votação % válidos Situação
Coligação
João Nunes de Souza UDN 68 27,8% Eleito
Martiniano Rodrigues
PSD 42 17,2% Eleito
Ramalho
Antonio de Souza Nitão UDN 37 15,1% Eleito
Cicero Matildes de Carvalho PSD 36 14,7% Eleito
Manuel Furtado de Lacerda PSD 35 14,3%
José Rodrigues da Silva UDN 18 7,37%
Manuel Arruda Alencar UDN 4 1,63%
Dorgival Rodrigues Leite UDN 2 0,82%
Manuel Soares de Figueiredo UDN 2 0,82%
Votos brancos 2
Votos nulos 0
Total apurado 246
Exibir por nome completo Exibir pelos nomes das coligações

Legenda:
PSD - Partido Social Democrático
UDN - União Democrática Nacional

219
A BAGACEIRA, Eleitoral

Eleições de 1948 na Paraíba


Município: João Pessoa

Cargo: Vereador
Partido /
Candidato Votação % válidos Situação
Coligação
Henrique Bernardo Cordeiro UDN 206 38,0% Eleito
Miguel Severino Bastos Lisboa UDN 137 25,2% Eleito
Ranulfo Miguel de Oliveira
UDN 80 14,7%
Lima
Janson Guedes Cavalcanti PSD 36 6,64% Eleito
Moacir Soares UDN 34 6,27%
Graciano Gonçalves de
PSD 24 4,42% Eleito
Medeiros
Mario Antonio da Gama e Melo PSD 13 2,39%
Mario Torres de Andrade PSB 11 2,03% Eleito
José Betamio Ferreira UDN 1 0,18%
Votos brancos 0
Votos nulos 1
Total apurado 543
Exibir por nome completo Exibir pelos nomes das coligações

Legenda:
PSD - Partido Social Democrático
UDN - União Democrática Nacional
PSB - Partido Socialista Brasileiro

220
As eleições de 1947 - o tribuno X o bacharel

Eleições de 1948 na Paraíba


Município: Mamanguape

Cargo: Vereador
Partido /
Candidato Votação % válidos Situação
Coligação
José Geraldo Madruga UDN 107 97,2% Eleito
Adelgicio dos Santos Lima PSD 3 2,72%
Votos brancos 3
Votos nulos 1
Total apurado 114
Exibir por nome completo Exibir pelos nomes das coligações

Legenda:
PSD - Partido Social Democrático
UDN - União Democrática Nacional

Eleições de 1948 na Paraíba


Município: Misericórdia

Cargo: Vereador
Partido /
Candidato Votação % válidos Situação
Coligação
Joaquim Fiúza Chaves UDN 63 60% Eleito
Felinto Saturnino da Silva UDN 28 26,6% Eleito
José Pereira de Lima PSD 12 11,4% Eleito
Argemiro Abilio de Souza UDN 2 1,90%
Votos brancos 1
Votos nulos 0
Total apurado 106

Legenda:
PSD - Partido Social Democrático
UDN - União Democrática Nacional

221
A BAGACEIRA, Eleitoral

Eleições de 1948 na Paraíba


Município: Piancó

Cargo: Vereador
Partido /
Candidato Votação % válidos Situação
Coligação
Bernardino de Carvalho
UDN 155 23,9% Eleito
Camara
Raimundo de Paula e Silva PSD 103 15,9% Eleito
Ildefonso Ribeiro Campos PSD 90 13,9% Eleito
Ademar Adriano da Silva UDN 79 12,2% Eleito
Bernardino Bento da Silva PSD 59 9,13%
João Jeronimo Leite PSD 56 8,66%
João Farias de Sá Barreto PSD 53 8,20%
Manuel da Paciencia Loureiro UDN 28 4,33%
Diogenes Lopes Leite PSD 23 3,56%
Votos brancos 1
Votos nulos 3
Total apurado 650

Legenda:
PSD - Partido Social Democrático
UDN - União Democrática Nacional

Fonte: http://www.tre.gov.br. Visitado em 18.08.2010.

222
As eleições de 1947 - o tribuno X o bacharel

Eleições de 1947: diploma do candidato João Lélis de Luna Freire.


(Fonte: Acervo particular de João Lélis de Luna Freire)

223
A BAGACEIRA, Eleitoral

Capitão Rodenbush, o vice do candidato Elpídio de Almeida.


(Fonte: Josué Sylvestre)

224
As eleições de 1947 - o tribuno X o bacharel

Caravaneiros simpatizantes da candidatura de Severino Cabral.


(Fonte: Josué Sylvestre)

Convenção do PSD, em 1950. Na foto, Samuel Duarte ao lado de Ruy Carneiro.


(Fonte: arquivo pessoal de João Lélis de Luna Freire)

225
A BAGACEIRA, Eleitoral

Convenção partidária
(Fonte: Acervo particular de João Lélis de Luna Freire)

Campanha eleitoral de Praxedes Pitanga.


(Fonte: Praxedes Pitanga )

226
CAPÍTULO V

A Parahyba da década
de 1950 vista por um
estrangeiro

“O eleitor rural não se inscreveria se o


‘chefe político’ não o levasse a fazê-lo. (...)
O ‘chefe político’ tem, pois, uma inϔluência
considerável, embora puramente oϔiciosa.
Ele auxilia o camponês, arregimenta-o, mas
ao mesmo tempo facilita o cumprimento de
seu dever. Pouco a pouco, ele chega, assim,
mesmo sem querer, a educar a massa dos
eleitores.” (Jean Blondel)*1

* In Ob. Cit., p. 75 e 77.

227
A BAGACEIRA, Eleitoral

V
erão de 1952. Um sociólogo francês, de nome Jean Blondel inicia a
sua investigação sobre a vida política brasileira a partir da Parahyba
do Norte. O estudo cientí ico transformou-se, em 1957, no clássico
As Condições da Vida Política no Estado da Paraíba, obra pioneira na
Sociologia eleitoral urbana brasileira.
O cientista elogiou a originalidade da nossa legislação eleitoral
(na sua ótica, um misto de escrutínio uninominal e de representação
proporcional)1e o nosso sistema proporcional, comparando com o sistema
francês que até àquela época adotava o sistema de listas, antecipadamente
preparada pelo Comitê Diretor dos partidos políticos.
Por outro lado, o francês acusou a liberdade do eleitor,
principalmente o da zona rural e chegou a apontar alguns erros existentes
nos nossos métodos de alistamento e de votação, abertos a fraudes de toda
ordem.
Registrou ainda a ausência de ideologias dos nossos partidos políticos,
cujos programas signi icavam apenas estratégias para alcançar o poder. Dentre os
quinze partidos existentes na década de 1950, ele destacou o caráter aristocrático
do PSD e da UDN e a caraterística monárquica do PTB e do PSP.
Sobre o eleitorado rural paraibano, Blondel a irmou que ele
desempenhava um papel fundamental, posto que a população rural era
superior à urbana – 1.250.000 e 460.000, respectivamente. Segundo os
dados do pesquisador francês, havia na Parahyba em 1950, cerca de 346.000
eleitores inscritos.
O cientista político francês concluiu que o isolamento do homem
do campo daquele período era um dos fatores de seu desinteresse pela
política e que ele não era capaz de avaliar a razão do seu voto. Além disso, a

1 Segundo Blondel, o sistema é uninominal porque cada eleitor vota num só candidato,
e nunca por lista; ao mesmo tempo, o sistema é proporcional porque vários partidos
apresentam vários candidatos, tantos quantos são as vagas e a divisão delas se faz pelo
número de votos obtidos por todos os candidatos de um mesmo partido. (in Ob. Cit., p. 25-
26).

228
A Parahyba da década de 1950 vista por um estrangeiro

ignorância do camponês, as di iculdades técnicas para o exercício do voto e


para se chegar aos locais de votação exigiam a proteção do chefe político, que
facilitava ao cidadão o alistamento eleitoral (principalmente o transporte –
jeeps e caminhões para o deslocamento do eleitor para os locais de votação)
e a própria votação (ensinando-lhe a escrever o nome).
O chefe político, dessa forma, tinha a função de intermediar o eleitor
e o mundo externo, nascendo aí, o seu interesse pela política e pela eleição.
Analisando a nossa realidade política naquela década de1950, Jean
Blondel já constatava o que hoje se repete em relação à fragilidade dos partidos
políticos nacionais. Para ele, o brasileiro votava nas pessoas, sendo as qualidades
pessoais do candidato um elemento importante para a escolha do eleitor.
Em 1950, apenas 20% da população paraibana (1.730.784
habitantes) estava habilitada para o exercício do voto (346.141 eleitores).
Em 1945, esse número era de apenas 195.635 eleitores para uma população
de 1.561.349 habitantes, o que correspondia a apenas 11,5% da população
eleitora.
Para o cientista político francês, não havia coronéis na Parahyba,
mas chefes políticos de forma generalizada, representados pelos mais
variados tipos: tradicionais; do tipo monárquico; o colegial ou familiar;
os indiretos e os pequenos chefes políticos e, graças à sua atuação, o
eleitorado rural se interessava pelo processo político e pelas eleições.
Com a participação dos médicos e os advogados no processo eleitoral,
estes passaram a ser as novas formas de chefes políticos, considerando a
importância das suas funções junto ao eleitorado.
Na sua concepção, repita-se, o chefe político desempenhava um
papel importante no alistamento e no voto, principalmente em relação ao
eleitor rural, isso porque, o eleitor rural não se inscreveria se o ‘chefe político’
não o levasse a fazê-lo.2

2 In Ob. Cit., p. 75.

229
A BAGACEIRA, Eleitoral

Abrindo escolas para alfabetizar o eleitorado; providenciando


o transporte do eleitor até o Juiz Eleitoral para alistar-se, em resumo,
facilitando o cumprimento do dever de votar, o chefe político cumpriu uma
função social relevante num momento histórico cujas circunstâncias em nada
atraiam o eleitor a comparecer às urnas. Daí porque as abstenções, nesse
período não eram raras, pelo contrário, a Parahyba apresentou números
consideráveis que demonstraram a apatia dos eleitores:

Desde 1945, atingia 14,3% dos inscritos; em 1950, passou a


23,4%: 25.000 eleitores da Paraíba não votaram a primeira
vez: 87.000, cinco anos depois.3

Blondel considerou as causas mais importantes dessa abstenção,


o êxodo de paraibanos para estados da região sul e o excesso de alistamento
ou a ação dos chefes políticos quando não tinham interesse pela eleição e,
por isso, não se interessavam em fazer votar os seus eleitores, o que era
muito comum nos casos de candidatura única, a exemplo da eleição que
ocorreu em 1952, para o senado, em que a abstenção ultrapassou os 70%.4

3 Jean Blondel, in Ob. Cit., p. 83.


4 In Ob. Cit., p. 92-93.

230
CAPÍTULO VI

A campanha
eleitoral de 1950:
eleição ou guerra?

“A campanha de 50 teve lances de violência


ϔísica, ataques verbais, ameaças, agressões
verbais e todo tipo de intimidação entre os
seguidores das duas correntes.”(Severino
Ramos)* 1

* In AGRIPINO – O MAGO DE CATOLÉ. Ed. A UNIÃO, 1991, p. 35.

231
A BAGACEIRA, Eleitoral

A
campanha eleitoral de 1950 ocorreu sob a égide um novo Código
Eleitoral,1 que vigorou até 1965, quando foi editado a legislação
eleitoral, ora vigente.
Apesar de o Código Eleitoral daquela época prever a escolha de
juízes de paz pelo processo direto, não se tem notícia de que tenha ocorrido
qualquer eleição nesse sentido em nosso estado.2
Os partidos políticos tinham a natureza de pessoas jurídicas de
direito público interno e deveriam ser constituídos, no mínimo, de cinquenta
mil eleitores, distribuídos por cinco ou mais circunscrições eleitorais, com
o mínimo de mil eleitores em cada uma. Os seus programas e estatutos
deveriam ter sentido e alcance nacional.
A eleição de presidente da República e de governador de estado,
bem como a de seus respectivos vices não eram simultâneas e o período de
mandato dos governadores icava a cargo das Constituições estaduais, desde
que respeitada a duração de quatro ou cinco anos de mandato.
O candidato não era obrigado a ter domicílio eleitoral na
circunscrição onde concorria, o que possibilitava aos candidatos disputarem
cargos diversos e por vários estados. Todavia, uma vez eleito, só podia
exercer um cargo público eletivo.
Em 1950, Getúlio Vargas concorreu para presidente da república
pela Coligação PTB/PSB e venceu os candidatos da UDN, o Brigadeiro
Eduardo Gomes, o candidato do PSD, Cristiano Machado e o candidato do
PSB, João Mangabeira.

A Parahyba

Carl Von Clauzewich, o grande general prussiano considerado “o


ilósofo da guerra”, a irmou que a guerra nada mais é que um duelo em uma

1 A Lei nº 1.164, de 24 de julho de 1950.


2 De igual modo, a atual Constituição Federal, que já data 21 anos, previu a eleição de juízes
de paz nos estados, mas a Parahyba, por motivos que desconhecemos, até o presente
momento, não tratou de criar esses cargos, que são eletivos.

232
A Parahyba pós-1930

escala mais vasta em que cada oponente tenta, pelo uso da força, submeter o
outro à sua vontade.3
Na Parahyba, a eleição de 1950 para o governo do estado tomou
a conotação não de uma festa democrática, mas a de uma verdadeira guerra
sem precedentes na história política do nosso estado.
Guardadas as devidas proporções, a campanha eleitoral de 1950 na
Parahyba se desenrolou dentro de uma espécie de “vale-tudo”. Até a religião
foi utilizada como forma de exploração e manipulação da fé do eleitorado,
como registra Josué Sylvestre:

Um boletim, com uma foto de José Américo ao lado do Padre


Cícero, informava que num encontro ocorrido na fase da
grande seca de 1932, o chefe político e religioso do Juazeiro,
disse ao então Ministro da Viação:
'V. Exa. Recebeu neste momento a missão histórica de salvar os
nordestinos desta seca calamitosa, e em 1950 será chamado
para salvar a Paraíba de uma calamidade política.'
Conhecendo o fanatismo de muitos nordestinos pelo 'Padinho
Ciço', a diração da campanha argemirista providenciou
imediata resposta àquela divulgação dos coligados.
Veio, então, uma publicação intitulada 'A Profecia do Padre
Cícero', dizendo, entre outras a irmações, o seguinte:
'Quando o Dr. José Américo exercia as funções de Ministro
da Viação, escreveu no 'Correio da Manhã' do Rio de Janeiro,
o seguinte sobre o Padre Cícero Romão Batista: 'Se eu tivesse
as funções de Chefe de Polícia do Ceará, mandaria acabar com
certos abusos do Padre Cícero do Juazeiro, a facão!4

3 Carl von Clausewitz, in DA GUERRA. São Paulo: Ed. Martins Fontes, 1996, (tradução Maria
Tereza Ramos), p. 7.
4 Josué Sylvestre, in Lutas de Vida e de Morte – FATOS E PERSONAGENS DA HISTÓRIA DE
CAMPINA GRANDE (1945/1953). Brasília: Ed. Senado, p. 234.

233
A BAGACEIRA, Eleitoral

Por outro lado, o jornal da Arquidiocese da Paraíba, A Imprensa,


apelava ao eleitorado para não sufragar candidatos que não professassem a
religião católica.
Semelhante a uma batalha campal, a eleição de 1950 na Parahyba
icou conhecida na história eleitoral como uma das mais violentas de todos
os tempos. Além dos memoráveis discursos dos grandes oradores e das
passeatas que contagiaram os eleitores, o uso da violência marcou aquele
pleito. Em alguns municípios, as divergências políticas foram resolvidas
à bala. A polícia estadual, que deveria dar tranquilidade ao eleitorado, foi
utilizada em prol da candidatura o icial.5
O processo de sucessão estadual de 1950 foi caracterizado
também pelas divisões internas que atingiram as duas principais correntes
políticas do estado. De um lado, José Américo de Almeida e Argemiro de
Figueiredo “racharam” ao meio a UDN. De outro, o PSD ruista experimentou
a dissidência entre José Pereira Lira e Ruy Carneiro. As cisões vividas nos
seios dos dois partidos políticos se re letiram nas bancadas da Assembleia
Legislativa.
A cisão udenista provocou a aliança entre José Américo e Ruy
Carneiro, dando origem à Coligação Democrática Paraibana, enquanto que o
rompimento pessedista desaguou na união entre Argemiro de Figueiredo e
Pereira Lira.

5 Fato este que se repetiu no passado, em 1930, e que se repetiria de forma mais escancarada
nas campanhas eleitorais de 2002 e 2004, como veremos no próximo volume. Em relação
ao pleito de 1950, Alcides de Albuquerque do Ó registra atritos e tiroteios que envolveram
militares e civis nos municípios de São João do Cariri, Serra Branca, São José do Cordeiro
e Remígio. A violência nesses municípios da Parahyba ganhou grande repercussão nos
jornais do estado e fora dele. Em São João do Cariri, soldados militares e civis chegaram a
fuzilar e espingardear a residência do deputado do PSD, Tertuliano de Brito. (In CAMPINA
GRANDES – História & Política (1945-1955). Campina Grande, Edições Caravela/NCP,
1999, p. 95).

234
A Parahyba pós-1930

O governador Oswaldo Trigueiro de Albuquerque Mello, da União


Democrática Nacional, desincompatibilizou-se para concorrer ao cargo de
deputado federal, tendo José Targino o substituído.
Ao governo do estado concorreram Argemiro de Figueiredo e seu
vice, Renato Ribeiro Coutinho e, pela Coligação Democrática Paraiba, José
Américo de Almeida e João Fernandes de Lima. O americismo e o argemirismo
inalmente se enfrentariam de forma direta, sem intermediários, como que
medindo forças, cada um procurando mostrar quem realmente liderava na
política da Parahyba.
Os principais concorrentes ao Senado foram Ruy Carneiro, pela ala
americista, e José Pereira Lyra, pelo bloco argemirista.
Mais uma vez, a participação dos comunistas a uma das chapas,
aliado a outros fatores, foi decisiva para de inição da eleição. Segundo a
versão de Waldir Por írio, o apoio dos comunistas ao ex-ministro,

(...) deveu-se ao discurso que o Senador José Américo de


Almeida fez, da tribuna da Alta Câmara do Congresso Nacional,
que icou conhecido como 'A Cadeira Vazia', repudiando a
cassação do mandato do Senador Luiz Carlos Prestes e os
deputados comunistas.6

Além de haver contado com os comunistas, a campanha da


Coligação vitoriosa foi bene iciada com a grande mobilização das massas
liderada pelo ex-comunista, Felix Araújo, o maior cabo eleitoral do
americismo em Campina Grande. Repetindo suas ações em campanhas
passadas, Felix Araújo fez hinos de campanha, realizou passeatas e se
entregou de “corpo e alma”7 à campanha de José Américo.

6 Waldir Por írio, in Ob. Cit., p. 254.


7 Segundo Josué Sylvestre, havia a promessa de Félix Araújo ser nomeado Secretário de
Educação e Cultura do Estado, que não foi cumprida pelo candidato José Américo, sob
a alegação de Félix ainda agir como comunista. A negativa do governador eleito com o
apoio do líder campinense gerou um artigo intitulado “ACUSO”, em estilo do francês, Émile
Zola, que foi publicado no jornal o icial A UNIÃO. Através do referido artigo, Félix acusava

235
A BAGACEIRA, Eleitoral

O episódio da Praça da Bandeira: fatos e versões sobre a maior


chacina eleitoral da Parahyba

Foi resultado de uma política inconsequênte e irresponsável


de duas facções em luta pelo poder cujos líderes e liderados
não comediram suas ações e izeram de tudo para que a
chacina acontecesse. Ambos os lados foram responsáveis
pelos acontecimentos. Uns porque programaram a invasão da
praça, levando inocentes úteis para serem agredidos, feridos e
mortos e outros porque tocaiaram para dar uma demonstração
desnecessária de força. (Alcides de Albuquerque do Ó)8

Se é verdade que eleição é guerra, dentre todas as chacinas


eleitorais que aconteceram na Parahyba a da Praça da Bandeira icou
conhecida na história política do estado como a mais famosa, considerando
o número de vítimas e o grau de violência perpetrada.9
Antes do episódio e sentindo “o clima” da campanha, o governador
do estado, à época, Oswaldo Trigueiro de Albuquerque Mello, procurou
tranquilizar o eleitorado e os candidatos oposicionistas através de notas
emitidas pelo jornal o icial, A UNIÃO, onde prometia assumir uma posição
de neutralidade e usar de todos os meios que estivessem à sua disposição a
im de garantir eleições livres de qualquer violência:

o uso do jornal o icial pelo Governo para denegrir a sua honra. A parte inal do editorial
tem a seguinte redação: “...Acusamo-lo, ao criar essa fábula, de tentar nos envolver nos
dispositivos da Lei de Segurança Nacional para, cassados os nossos direitos políticos,
ou eliminada a nossa liberdade individual, num futuro próximo, pedir ao eleitorado
paraibano que se pronuncie sobre a nossa conduta. Acusâmo-lo de permitir que o Órgão
O icial do Estado, em detrimento do interesse público, gaste tinta e papel em denegrir o
conceito de um humilde cidadão, quando todo o seu espaço para o debate dos problemas
que equacionam a felicidade e o bem estar da comunidade paraibana. Acusâmo-lo, por im,
de haver consentido, contra os mais belos princípios democráticos, que se instaurasse um
regime de discriminações e privilégios dentro do Órgão O icial do Estado, estabelecendo-
se um index inquisitorial contra todos os que honestamente divergem de sua orientação.”
(Josué Sylvestre, in Ob. Cit., p. 338).
8 Idem.
9 Ibidem.

236
A Parahyba pós-1930

Tendo mantido em mais de três anos, em todo Estado,


ambiente de plenas garantias, continua o governo no propósito
intransigente de preservar a tranquilidade pública a im de que
a campanha eleitoral em perspectiva se processe em condições
compatíveis com a nossa educação doméstica.
De nenhum modo o governo tolerará que a polícia seja utilizada
para ins partidários e reiteradas recomendações desaprovam
quaisquer excesso que contrariem essa orientação de pleno
respeito as liberdades políticas.
Podem tranquilizar-se os responsáveis pelas agremiações
partidárias. Prestigiando integralmente a justiça eleitoral como
sempre fez e respeitando todos os direitos, pôde o governo
assegurar que a próxima campanha decorrerá em paz e que a 3
de outubro a Paraíba terá eleições livres e honestas.10

Não obstante as boas intenções do governante-maior do estado


em manter a ordem a fim de oferecer plenas garantias ao exercício dos
direitos políticos, dois fatores contribuíram para a impossibilidade
de um pleito pacífico: o afastamento de Oswaldo Trigueiro do cargo de
governador para concorrer ao cargo de deputado federal e a liderança
exercida pelo então Secretário de Interior e Justiça, Luiz Bronzeado,
sobre a polícia, o que comprometeu a imparcialidade da tropa, em razão
dos interesses políticos localizados do secretário, principalmente na Vila
do Remígio.
A partidarização da polícia era evidente. O governo não
tinha controle sobre os seus comandados. Decisões judiciais eram
descumpridas. O coronelismo ainda dava as suas cartas. Um bilhete de
Argemiro de Figueiredo tinha mais valor do que a ordem de um Juiz de
Direito.
Afamado pelo seu espírito violento, Luiz Bronzeado praticava
arbitrariedades contra os adversários do grupo americista, o que
provocaria mais tarde, após apurado o resultado das urnas, efeitos

10 Alcides de Albuquerque do Ó, in Ob. Cit., p. 96.

237
A BAGACEIRA, Eleitoral

contrários ao esperado pela sua facção política. Num gesto premonitório,


em seus discursos José Américo de Almeida a irmava que o eleitorado
responderia com votos a cada ato de violência praticado contra os
americistas.
Vários motivos explicam a violência daquela campanha. Um
deles era o envolvimento da polícia estadual na política, que em sua grande
parte, como vimos, não obedecia ao governador Oswaldo Trigueiro, e sim,
ao Secretário de Interior e Justiça, Luiz Bronzeado, argemirista de quatro
costados,11 o que explica as violências em São João do Cariri, Serra Branca,
São José do Cordeiro, Areia e Remígio.
Em São João do Cariri o deputado pessedista Tertuliano de Brito
teve a sua casa fuzilada por soldados da Polícia Militar e da Polícia Civil;
em Areia, a mando do coronel Cunha Lima, adeptos de José Américo foram
surrados em praça pública por grupos encapuzados, que ainda destruíram
a propaganda adversária; udenistas liderados pelo coronel Cunha Lima e
americistas se confrontaram dias antes em Areia.
O clima de violência estava solto no ar. Até o Bispo da cidade, que
acabara de chegar de Roma, chamou os dirigentes dos partidos políticos para
ter uma conversa, onde pediu moderação na campanha com o im de evitar a
violência ísica.

11 Graças à violência do Secretário de Interior e Justiça, Luiz Bronzeado, considerado o


terror daquela eleição, o mais rápido discurso do mundo ocorreu em Areia, segundo
depoimento de Álvaro Gaudêncio Filho:
“José Américo não podendo comparecer a uma manifestação pública em Areia, determinou
que seu vice João Fernandes de Lima o representasse. Lá, ele realizou o meno discurso do
mundo.
Quando começou a falar, disse: ‘Povo de Areia...’
Naquele momento começou uma grande confusão no meio do povo e as pessoas amedrontadas
se afastavam, abrindo alas e rapidamente se forma um caminho, e alguém gritou: - lá vem
Luiz Bronzeado...’
João, então, completou o discurso, dizendo: ‘adeus’ e foi embora.”

238
A Parahyba pós-1930

Capangagem e pistolagem nas eleições de 1950

Nessa eleição, a cidade de Areia, terra natal de José


Américo de Almeida, foi palco de vários choques entre americistas e
argemiristas. O coronel Cunha Lima, que ressurgiu com o argemirismo,
teria contratado um pistoleiro apelidado de “Sombra” que, juntamente
com outros “cabras”, teriam sido os responsáveis pela destruição da
propaganda dos americistas nas noites que antecediam os comícios
dessa ala partidária.
Num desses choques com a facção adversária, o aludido pistoleiro
foi morto, o que gerou indignação de Cunha Lima, que se preparou para dar
o troco:

O coronel magoado, chamou à cidade um contingente de


moradores, correligionários e capangas. Preparou-se para fazer
o enterro do seu protegido na hora da concentração coligada.
Era um pretexto para o revide:
Antevendo uma batalha, o Comando do 2º Batalhão da
Polícia Militar destacou uma patrulha sob o comando do
capitão Dias Novo com o objetivo de dar apoio ao delegado
local – tenente Ascendino e poder manter a ordem na
cidade.
José Américo prevendo aquela possibilidade, um fatal duelo
entre aquelas facções, trouxe um grupo de militares da ativa e
da reserva, capangas, pistoleiros e amigos sob o comando do
coronel José Maurício e corroborado pelos tenentes Manoel
Gato e Antônio Soares (tenente Gelada), os irmãos: cabo
Joventino e Pedro Galvão e muitos outros, todos ardorosos
americistas dispostos e preparados para o desfecho. Divididos
em grupos logo cedo tomaram posições beligerantes na
cidade (...)

A tragédia não aconteceu porque o coronel Cunha Lima recuou,


diante da iminente ameaça de risco de vida, obrigando os udenistas a fazer

239
A BAGACEIRA, Eleitoral

um trajeto diferente. Esse fato foi considerado uma humilhação para a facção
udenista-argemirista. Na opinião de Alcides de Albuquerque do Ó, esse fato
teria sido a origem de todas as mágoas que desaguariam no episódio da Praça
da Bandeira.12
Outros fatos ocorridos no dia da chacina contribuíram para o
assassínio eleitoral. Partidários da Coligação americistas, descontentes
com o fato da Delegacia de Polícia não haver autorizado a realização de
um comício logo após a concentração udenista começaram a preparar uma
manifestação à altura da festa udenista, com o objetivo de tirar o brilho do
comício adversário. Os detalhes de como seria essa manifestação, Alcides de
Albuquerque depõe:

Via cochicho os cabos eleitorais e lideranças convidavam


os coligados para participarem das passeatas e comícios
na Praça da Bandeira. Aquelas informações foram
captadas pelo comando da Polícia Militar que as repassou
para o Dr. Luiz Bronzeado e o governador...Havia a
informação de que um boi preto com uma inscrição
amarela 'Boi Lucas' e mais um caixão de defunto preto
com o nome de 'amarelo' estavam prontos para serem
levados à Praça da Bandeia.(...) 13

A presença de Pereira Lira na cidade era contestada pelos


americistas mais radicais, que, em sinal de protesto, usaram

Um laço preto na lapela dos paletós, nos bolsos das


camisas esporte dos homens ou pregado nos vestidos das
mulheres (...) 14

12 In Ob. Cit., p. 97-98.


13 In Ob. Cit., p. 100.
14 Josué Silvestre, in Lutas de Vida e de Morte – FATOS E PERSONAGENS DA HISTÓRIA DE
CAMPINA GRANDE 1945-1953). Brasília: Ed. Senado, 1982, p. 199.

240
A Parahyba pós-1930

Amarelos X brancos

Numa campanha eleitoral em que a violência ísica e a ameaça era


considerado como fenômeno normal, os ataques verbais passaram também
a ser algo natural e se constituíram num item a mais naquela campanha
eleitoral histórica.
Do lado do americismo, Argemiro de Figueiredo era chamado de
15
amarelo e seus adversários ressuscitaram a acusação de uso da máquina
do estado em bene ício do próprio Argemiro, que teria levado para a sua
Fazenda Itararé o Boi Lucas, de propriedade do estado e que havia sido
adquirido durante o seu governo para melhorar o rebanho bovino.
Do outro lado, os americistas eram os “brancos”, em razão do
predomínio da cor branca nas manifestações da Coligação, principalmente
nas passeatas das mulheres comandadas por Félix Araújo.

A chacina

Durante o “comício-monstro” da Coligação argemirista, os oradores


como Joacil de Brito, Ivandro Cunha Lima, Álvaro Gaudêncio, Ernany Sátiro,
João Agripino, Pereira Leal e o próprio Argemiro se revezavam com os os
artistas do rádio e contratados para animar a festa udenista, tais como Luiz
Gonzaga, Emilinha Borba e o acordeonista Sivuca.16

15 Segundo o historiador Marcus Odilon Ribeiro Coutinho, a adoção da cor amarela, por
Argemiro de Figueiredo, seguia um conselho da assessoria de José Pereira Lira, seu aliado
e candidato ao Senado, no sentido de adotar a referida cor, o que explica a farta distribuição
de milhares de lenços, bandeiras, adesivos e tudo na cor amarela. Os hinos da campanha
diziam, com todas as letras: ‘Do Partido do Amarelo todos nós queremos ser.” (Marcus Odilon
Ribeiro Coutinho, in PARAÍBA – Nomes do Século. FLÁVIO RIBEIRO COUTINHO. A UNIÃO
EDITORA, p. 23.
16 Naqueles tempos, além dos grandes oradores como José Américo de Almeida, Argemiro de
Figueiredo, Osmar de Aquino, Alcides Carneiro, Raymundo Asfora, Ronaldo da Cunha Lima
e Oswaldo Trigueiro de Albuquerque Mello, os comícios eram realizados com a presença de
artistas famosos da TV ou do Rádio. Era o tempo dos grandes showmícios, recentemente

241
A BAGACEIRA, Eleitoral

Após o comício, os aliancistas ainda terminaram o evento com uma


passeata que terminou em frente à casa do seu principal líder, Argemiro de
Figueiredo.
De sua parte, os americistas, que se concentravam desde às
dezoito horas iniciaram uma passeata por algumas ruas da cidade. “Sem
banda de música e sem camioneta com alto-falantes, simplesmente no
grito” e liderados pelo arrebatador de multidões, Félix Araújo, em pouco
tempo, transformou-se numa verdadeira multidão que chegou até a Praça
da Bandeira, local onde tinha acabado de se realizar o apoteótico comício
udenista, encontrando ainda naquele local muitos eleitores de Argemiro.
O desfecho da tragédia deixo por conta do jornalista Josué
Sylvestre, dada a riqueza da sua narrativa e dos detalhes que circundaram o
evento:
Tudo aconteceu em poucos minutos. Os tiros foram detonados
por revólveres e outras armas curtas. Se houve rajadas de
metralhadoras, elas foram acionadas para cima. Do contrário,
o total de mortos e feridos teria sido bem superior às três
vítimas fatais e aos 15 a 20 feridos, pois era elevadíssimo o
número de pessoas que se encontrava na Praça.
Decorridos trinta e dois anos da chamada 'chacina da Praça
da Bandeira', uma visão clara e verdadeira do que aconteceu
realmente, ainda permanece impossível. Há muito mistério
envolvendo o episódio.
Policiais fardados foram vistos ajoelhados e fazendo pontaria
em direção à multidão. Por quê? Teriam recebido ordens de
atirar no povo ou estavam extravasando instintos bestiais?
Civis foram vistos entrincheirados por trás dos palanques
atirando contra os populares que corriam em todas as
direções.
Soldados e graduados da Polícia Militar foram vistos cobrindo
de bordoadas o bancário Rubens de Souza Costa; os ferimentos

proibidos pela legislação eleitoral (precisamente a Lei nº 11.330 de 2006) em nome do


combate ao abuso de poder econômico. Infelizmente hoje, nos comícios, nem grandes
oradores e nem shows. A campanha eleitoral foi empastelada pela lei eleitoral.

242
A Parahyba pós-1930

das cacetadas em sua cabeça foram tantos e tão fortes que ele
faleceria horas depois.
Com ele, mais dois mortos: José Ferreira dos Santos e Osmar
Coutinho. Dois operários. (…)
Feridos com alguma gravidade, procuraram socorro nos
hospitais da cidade o comerciante Jovino Sobreira de Carvalho,
procer pessedista; Srs. Manuel Pedro Nunes, Natanael Alves
da Silva, José Mariano Alves de Sousa, José Emiliano da Silva,
Antônio Guimarães, Sta. Adélia Kouri e o jovem Gilvandro
Barreto Luna.
Outras pessoas com leves contusões e escoriações preferiram
não se identi icar, temendo, talvez, represálias posteriores.17

As várias versões

É di ícil encontrar uma versão totalmente neutra acerca da maior


chacina eleitoral da Parahyba. Dependendo da correntes partidárias –
udenista ou pessedista – ou das colorações – argemirista e americista – e até
bairrista – campinense ou pessoense - ela sempre será apaixonada, sem o
esperado equilíbrio.
Oswaldo Trigueiro de Albuquerque Mello, aliado de Argemiro, em
uma de suas obras, assim analisou o fato:

Tratava-se de comício promovido pela UDN, quer dizer, pelo


partido do governo estadual, ao qual compareceram Argemiro
de Figueiredo e Pereira Lira, candidatos a governador e a
senador, acompanhados de amigos e parentes. Inclusive, ilhos
menores. Presumir-se que o governo estadual mandasse
perturbar um comício dos seus candidatos seria contrário
ao bom senso e à natureza das coisas. Como se veri icou, a
perturbação foi obra dos oposicionistas, que pretendiam
realizar, no palanque armado pela UDN, um contra-comício,

17 Josué Sylvestre, in Ob. Cit., p. 202/203.

243
A BAGACEIRA, Eleitoral

infringindo claramente a lei, por falta do indispensável


licenciamento, com designação da hora e local.18

Josué Sylvestre, argemirista de carteirinha, procurou tirar toda a


responsabilidade de Argemiro de Figueiredo e de José Pereira Lyra.19
Diante de tais julgamentos carregados de fortes conotações
políticas, parece-me que a interpretação mais próxima da verdade e dos fatos
e a mais isenta possível foi dada pelo campinense Alcides de Albuquerque do
Ó, quando analisou o fato procurando descobrir muito antes da tragédia as
reais causas que ensejaram a chacina da Praça da Bandeira.
A repercussão do episódio da Praça da Bandeira foi negativa em
relação à candidatura de Argemiro de Figueiredo, que perdeu para José
Américo de Almeida, inclusive, em Campina Grande, local da tragédia.
Argemiro de Figueiredo desviou e procurou justi icar a sua derrota
alegando fraude na confecção de títulos eleitorais, que teria possibilitado
cerca de cinquenta mil eleitores votarem em separado.
Para Trigueiro,20 o apoio de Getúlio Vargas à candidatura de José
Américo foi fundamental para a vitória do americismo.

18 In Ob. Cit., p. 107.


19 Após analisar a ação penal que apurou as mortes do 9 de julho, Josué Sylvestre deu a sua
opinião sobre o episódio:
“Por enquanto, considero sensatas as seguintes premissas:
‘1) é óbvia e inegável a participação de policiais militares e civis no tiroteio; o que se discute é
de quem foi a ordem para que se atirasse contra o povo;
2) não é possível negar que houve irreϔlexão e imprudência por parte dos adeptos da
Coligação;
3) é ilógico imaginar que o professor Pereira Lira e o deputado Argemiro Figueiredo fossem
permitir ou estimular um massacre contra o povo, pois a festa foi preparada para dar uma
inequívoca demonstração de força eleitoral e marcar o inicio avassalador de uma campanha
política que se imaginava vitoriosa;
4) é inconcebível acreditar que um humanista como Félix Araújo fosse capaz de arquitetar um
plano diabólico, incluindo a possibilidade de resultar em grande mortandade, com o objetivo
de tirar vantagens eleitorais para os candidatos que apoiava.” (in Ob. Cit., p. 205).
20 In Ob. Cit., p. 107.

244
A Parahyba pós-1930

Na versão de outros participantes da campanha de 1950, o


governo estadual, o udenista José Targino, teria utilizado dos expedientes
corriqueiros para bene iciar o seu candidato, Argemiro de Figueiredo, com o
im de ganhar àquele pleito: nomeações e demissões de servidores; coação e
compra de votos de eleitores.21

RESULTADOS DAS ELEIÇÕES NA PARAHYBA EM 1950


Eleições de 1950 na Paraíba
1º Turno

Cargo: Presidente
Partido /
Candidato Votação % válidos Situação
Coligação
Getúlio Dornelles Vargas 125.467 49,1% Eleito
Brigadeiro Eduardo Gomes 108.832 42,6%
Cristiano Monteiro Machado 20.660 8,10%
João Mangabeira 67 0,02%
Votos brancos 7.868
Votos nulos 2.215
Total apurado 265.109

Cargo: Vice Presidente


Partido /
Candidato Votação % válidos Situação
Coligação
Odilon Duarte Braga 103.908 59,2%
João Café Filho 47.769 27,2% Eleito
Altino Arantes Marques 14.775 8,43%
Viturino Brito Freire 8.795 5,01%
Alipio Correia Neto 27 0,01%
Votos brancos 87.555
Votos nulos 2.281
Total apurado 265.110

21 Aspásia Camargo, in Ob. Cit., p. 413.

245
A BAGACEIRA, Eleitoral

Cargo: Governador
Partido /
Candidato Votação % válidos Situação
Coligação
José Américo de Almeida PSD 147.093 56,9% Eleito
Argemiro de Figueiredo UDN 111.152 43,0%
Votos brancos 4.787
Votos nulos 2.077
Total apurado 265.109

Cargo: Vice Governador


Partido /
Candidato Votação % válidos Situação
Coligação
João Fernandes de Lima 145.633 56,6% Eleito
Renato Ribeiro Coutinho 111.259 43,3%
Votos brancos 6.159
Votos nulos 2.058
Total apurado 265.109

Cargo: Senador
Partido /
Candidato Votação % válidos Situação
Coligação
Ruy Carneiro PSD 144.451 56,9% Eleito
José Pereira Lira 109.272 43,0%
Votos brancos 9.398
Votos nulos 1.988
Total apurado 265.109

246
A Parahyba pós-1930

Cargo: Suplente Senador


Partido /
Candidato Votação % válidos Situação
Coligação
Abelardo de Araújo Jurema PSD 143.917 56,8% Eleito
João Mauricio de Medeiros 109.159 43,1%
Votos brancos 10.035
Votos nulos 1.984
Total apurado 265.095

Cargo: Deputado Federal


Partido /
Candidato Votação % válidos Situação
Coligação
Alcides Vieira Carneiro CDP 17.654 6,95% Eleito
Elpidio Josué de Almeida CDP 17.283 6,81% Eleito
José Jof ily Bezerra de Melo CDP 17.198 6,77% Eleito
Samuel Vital Duarte CDP 16.378 6,45% Eleito
João Agripino Filho AR 15.224 5,99% Eleito
José Janduhy Carneiro CDP 13.883 5,47% Eleito
Ernani Ayres Sátyro e Sousa AR 12.365 4,87% Eleito
José Gaudêncio Correia de
AR 11.750 4,63% Eleito
Queiroz
Antonio Pereira Diniz CDP 11.627 4,58% Eleito
Osvaldo Trigueiro de A. Melo AR 11.409 4,49% Eleito
Fernando Carneiro da Cunha
AR 11.064 4,36%
Nobrega
Plínio Lemos CDP 10.709 4,22%
João Ursulo R C Filho AR 10.680 4,20%
Odinio Borba Duarte CDP 9.645 3,8%

247
A BAGACEIRA, Eleitoral

Epitácio Pessoa Cavalcanti de


CDP 8.167 3,21%
Albuquerque
Ranulfo Cunha França AR 7.902 3,11%
Otacilio Jurema CDP 6.917 2,72%
José Gomes da Silva AR 6.832 2,69%
Luis Gonzaga de O Lima AR 6.697 2,63%
Djalma Leite Ferreira CDP 5.876 2,31%
Praxedes da Silva Pitanga AR 5.658 2,22%
Antônio Pinto de Oliveira CDP 5.120 2,01%
Osmar de Araújo Aquino AR 4.078 1,60%
Vital Cartaxo Rolim AR 3.822 1,50%
Epitacio Cordeiro Pessoa
CDP 2.937 1,15%
Cavalcanti
Salviano Leite Rolim AR 2.909 1,14%
Votos brancos 7.946
Votos nulos 2.406
Total apurado 264.136

Cargo: Deputado Estadual


Partido /
Candidato Votação % válidos Situação
Coligação
Severino Bezerra Cabral CDP 4.514 1,78% Eleito
José Fernandes de Lima CDP 4.282 1,69% Eleito
Pedro Moreno Gondim CDP 3.937 1,55% Eleito
Fernando Paulo C Milanez CDP 3.536 1,39% Eleito
Isaias Silva UDN 3.534 1,39% Eleito
Hercilio Alves Ferreira
PR 3.444 1,36% Eleito
Lundgren
José Afonso Gayoso de Souza CDP 3.414 1,34% Eleito

248
A Parahyba pós-1930

Ernesto Heráclio do Rêgo UDN 3.318 1,31% Eleito


Ivan Bichara Sobreira CDP 3.248 1,28% Eleito
José Cavalcanti UDN 3.213 1,26% Eleito
José Marques de A Sobrinho UDN 3.195 1,26% Eleito
Otacilio Nóbrega de Queiroz CDP 3.174 1,25% Eleito
Americo Maia de Vasconcelos UDN 3.119 1,23% Eleito
João Feitosa Ventura UDN 3.024 1,19% Eleito
Ramiro Fernandes de
CDP 2.980 1,17% Eleito
Carvalho
Agnaldo Veloso Borges CDP 2.959 1,16% Eleito
Clovis Bezerra Cavalcanti UDN 2.945 1,16% Eleito
Antonio de Paiva Gadelha UDN 2.925 1,15% Eleito
José Marques da Silva Mariz UDN 2.913 1,15% Eleito
Alvaro Gaudencio de Queiroz UDN 2.889 1,14% Eleito
Luiz da Costa A Bronzeado UDN 2.871 1,13% Eleito
Balduino Minervino de
CDP 2.839 1,12% Eleito
Carvalho
Francisco Será ico da Nobrega
UDN 2.795 1,10% Eleito
Filho
Jacinto Dantas C. de Goes CDP 2.715 1,07% Eleito
Jacob Guilherme Frantz UDN 2.691 1,06% Eleito
Ascendino Virginio de Moura UDN 2.666 1,05% Eleito
Tertuliano Correia da Costa
CDP 2.660 1,05% Eleito
Brito
Napoleão Abdon da Nobrega CDP 2.649 1,04% Eleito
Roberto Pessoa CDP 2.639 1,04% Eleito
Lourival de Lacerda Lima UDN 2.622 1,03% Eleito
Aluisio Afonso Campos PTB 2.613 1,03% Eleito
Pedro Augusto de Almeida CDP 2.610 1,03% Eleito
José Ribeiro de Farias CDP 2.582 1,02% Eleito

249
A BAGACEIRA, Eleitoral

Francisco de Paula B. Sobrinho CDP 2.557 1,01% Eleito


João Carneiro de Freitas CDP 2.513 0,99% Eleito
Severino Ismael de Oliveira PR 2.471 0,97% Eleito
Antonio Leite Montenegro PR 2.412 0,95% Eleito
Antonio Nominando Diniz CDP 2.385 0,94%
Humberto Coutinho de Lucena CDP 2.356 0,93%
Luiz Inacio Ribeiro Coutinho UDN 2.350 0,92%
Djacir Cavalcanti Arruda CDP 2.303 0,90%
Flávio Ribeiro Coutinho UDN 2.270 0,89%
Patricio Leal de Melo UDN 2.247 0,88%
José Rafael de Menezes PSB 2.196 0,86%
Adenio Lima CDP 2.157 0,85%
Raimundo Paiva Onofre CDP 2.117 0,83%
José Rolim Guimarães UDN 2.107 0,83%
Antonio Ribeiro Pessoa UDN 2.103 0,83%
Celso Otavio N de Araujo UDN 2.099 0,82%
Geroncio Estanislau de
CDP 2.097 0,82%
Nobrega
Ageu de Castro CDP 2.089 0,82%
Heleno Henrique da Silva CDP 2.073 0,81%
Raul Loureiro Lopes CDP 2.058 0,81%
Paulino Gouveia de Barros UDN 1.987 0,78%
Silvio Pélico Porto UDN 1.974 0,78%
Antonio Luiz Coutinho CDP 1.959 0,77%
José Ferreira de Queiroga CDP 1.911 0,75%
Francisco de Oliveira Braga UDN 1.908 0,75%
Firmino Aires Leite UDN 1.908 0,75%
Lucas Vilar Suassuna UDN 1.888 0,74%
Deodato Cartaxo de Sá CDP 1.887 0,74%
Bernardino Soares Barbosa CDP 1.885 0,74%

250
A Parahyba pós-1930

Joacil de Brito Pereira UDN 1.884 0,74%


Rivaldo Silverio de Fonseca UDN 1.881 0,74%
Antonio D’ Avila Lins PR 1.878 0,74% Eleito
João Guimarães Jurema CDP 1.866 0,73%
Rômulo Romero Rangel CDP 1.865 0,73%
Ubaldino G. Souto Maior CDP 1.862 0,73%
Nelson Lopes Ribeiro Lima CDP 1.818 0,71%
Amaro Fiuza Chaves UDN 1.801 0,71%
Clovis de Costa Baracuhy UDN 1.800 0,71%
Antônio Boto de Menezes CDP 1.796 0,70%
Francisco Chaves Brasileiro PR 1.746 0,69% Eleito
Otavio Teodoro de Amorim CDP 1.707 0,67%
Antonio Bezerra Cabral CDP 1.682 0,66%
João de Farias Pimentel Filho CDP 1.677 0,66%
Avani Benicio Maia CDP 1.664 0,65%
José de Souza Arruda UDN 1.664 0,65%
Napoleão Rodrigues Laureano UDN 1.659 0,65%
Francisco de Medeiros Dantas UDN 1.592 0,62%
Amaldo Bonifacio de Paiva PTB 1.591 0,62% Eleito
Olimpio Bonald da Cunha
PSB 1.583 0,62%
Pedrosa Filho
Manuel Florentino de
CDP 1.581 0,62%
Medeiros
Firmino Silva PSP 1.564 0,61%
Lindolfo Pires Ferreira Junior CDP 1.559 0,61%
José Betamio Ferreira CDP 1.507 0,59%
Luiz Gonzaga de Miranda
UDN 1.474 0,58%
Freire
Francisco Teotonio Neto PR 1.442 0,56%

251
A BAGACEIRA, Eleitoral

João Bernardo de
CDP 1.423 0,56%
Albuquerque
Maria Dulce Barbosa UDN 1.412 0,55%
Hiaty Leal UDN 1.387 0,54%
Norberto Baracuhy PR 1.352 0,53%
José Fernandes Filho CDP 1.322 0,52%
Rogerio Martins Costa CDP 1.320 0,52%
Antônio Pereira de Almeida UDN 1.256 0,49%
Carlos Neves da Franca PTB 1.239 0,48%
Osvaldo Bezerra Cascudo CDP 1.228 0,48%
Ulisses Marques de Oliveira PR 1.159 0,45%
Antonio Batista Santiago UDN 1.156 0,45%
Irineu Rodrigues da Silva PR 1.139 0,45%
Gabriel Maia PSB 1.122 0,44%
Severino Alves da Silveira UDN 1.080 0,42%
Luis Bernardo da Silva PSP 1.056 0,41%
José Mario Porto UDN 1.055 0,41%
Diógenes Nunes Chianca CDP 1.020 0,40%
João Lelis de Luna Freire CDP 1.020 0,40%
José Correia Lima PSP 1.020 0,40%
Artur Vilarim CDP 992 0,39%
José Clementino de Oliveira
UDN 889 0,35%
Junior
Abel Cavalcanti de
CDP 859 0,33%
Albuquerque
Ivaldo Falconi de Melo UDN 799 0,31%
João Mangueira Neto PSB 775 0,30%
José Caetano do Nascimento CDP 748 0,29%
Aristarco Dias de Araújo PTB 718 0,28%
Sinval Lacerda de Oliveira PSP 710 0,28%

252
A Parahyba pós-1930

Cicero Honorato Leite UDN 677 0,26%


Damásio Barbosa da Franca UDN 673 0,26%
Julio Marques do Nascimento PR 640 0,25%
Deocleciano Pires Ferreira PR 613 0,24%
Laudelino Cordeiro de Araújo PTB 573 0,22%
Celso Matos Rolim PSB 570 0,22%
José Faustino C de
UDN 566 0,22%
Albuquerque
Paster Paulino de Nascimento PR 562 0,22%
Otavio Ribeiro Coutinho PR 517 0,20%
Milton Ferreira de Paiva PRP 445 0,17%
Raimundo de G. Nobrega PR 437 0,17%
Gentil da Cunha França PTB 422 0,16%
Joaquim Ferreira da Costa PTB 403 0,15%
Milton Ximenes PSB 392 0,15%
Jocelino Francisco Molla UDN 366 0,14%
Ubaldo Cavalcanti de Cruz PSB 349 0,13%
Dolores Coelho S Cavalcanti PR 347 0,13%
Geraldo Gomes Beltrão PTB 346 0,13%
Henrique Bernardo Cordeiro UDN 339 0,13%
Durval Augusto Rolim PTB 323 0,12%
Pedro Aleixo de Moura PR 319 0,12%
Clodoaldo Passos Fialho PSP 313 0,12%
Alberto José Ribamar M
PSP 300 0,11%
Caldas
Massilon da Costa Pinto PR 269 0,10%
Otacilio Dantas Cartaxo PTB 260 0,10%
Onofre de Barros PSP 258 0,10%
Severino Ithamar PTB 251 0,09%
Oscar Pinto Coelho PR 251 0,09%

253
A BAGACEIRA, Eleitoral

José Francisco de Souza PTB 234 0,09%


Frederico Augusto Serrano
PSP 213 0,08%
Falcão
Sebastião Jesuino de Lima PTB 206 0,08%
Severino Gomes Procopio PR 203 0,08%
João Cavalcanti Pedrosa PSB 200 0,07%
José Cavalcanti de
PSP 185 0,07%
Albuquerque
Abdias da Mata Ribeiro PTB 181 0,07%
Ulisses Coelho Nobrega PSP 180 0,07%
Djalma de Araújo Barbosa PSP 170 0,06%
Manuel Layette de Alcantara PSP 165 0,06%
João Bernardino Filho PSP 151 0,06%
Aprigio Gomes de Lima PTB 149 0,05%
Candido Alves da Costa PSP 147 0,05%
José Barreto Serrão PSB 147 0,05%
Miguel Severino Bastos Lisboa UDN 144 0,05%
Luis Rodrigues de Sousa PTB 143 0,05%
Santino Pereira de Almeida PSP 143 0,05%
Manoel Formiga UDN 135 0,05%
João Alves de Farias PTB 134 0,05%
Nizi Marinheiro PSB 134 0,05%
João Veloso Filho PTB 105 0,04%
Sebastião Alves Lins PSB 104 0,04%
Eduardo de Aguiar Elery PRP 98 0,03%
Guilherme Falconi Nicodemi PR 96 0,03%
Sebastião José Bezerra
PSP 86 0,03%
Cavalcanti Neto
Udjalmes Pessoa de Luna
PSP 77 0,03%
Freire

254
A Parahyba pós-1930

Francisco de Assis Nogueira PRP 59 0,02%


Alfeu Rabelo PR 43 0,01%
Delzodonato PTB 42 0,01%
José Fernandes Vieira PSP 41 0,01%
Pedro Marinho de Oliveira PTB 40 0,01%
Antonio Lucena PSB 28 0,01%
Custódio José Pessôa PSP 26 0,01%
Carlos Alencar Agra PSP 15 0,00%
Iracema Silveira Ipozito PSP 13 0,00%
Adauto Freire da Cruz PSP 10 0,00%
Etiene Sales Marinho PRP 10 0,00%
Praxedes da Silva Pitanga UDN 3 0,00%
Genesio Felix da Silva PSP 2 0,00%
Francisco de Lima Wanderley PRP 1 0%
Anaxilio Pereira de Melo PSP 0 0%
Votos brancos 7.298
Votos nulos 3.193
Total apurado 263.716
Exibir por nome completo

Legenda:
PR - Partido Republicano
PSP - Partido Social Progressista
PTB - Partido Trabalhista Brasileiro
CDP - Coligação Democrática Cristã
PRP - Partido de Representação Popular
UDN - União Democrática Nacional
PSB - Partido Socialista Brasileiro

Fonte: Tribunal Regional Eleitoral da Parahyba: http://www.tre.pb.gov.br Visitado em


13.08.2010.

255
Truque fotográ ico na campanha eleitoral de 1950. Pe. Cícero aparece ao lado de José Américo
(Fonte: Josué Sylvestre).

Campanha eleitoral de 1950: Ruy Carneiro faz o “v” da vitória para o povo.
(Fonte: Josué Sylvestre).
Passeata das mulheres, em Campina Grande, liderada por Félix Araújo.
(Fonte: Josué Sylvestre).

Os dois palanques das Coligações que disputaram as eleições para o governo do estado, em 1950.
(Fonte: Josué Sylvestre).
A BAGACEIRA, Eleitoral

José Américo faz discurso antológico na Praça da Bandeira, na memorável campanha de 1950
(Fonte: Josué Sylvestre).

Comício da Praça da Bandeira, em 1950.


258Sylvestre)
(Fonte: Josué
A Parahyba pós-1930

A multidão no comício da Praça da Bandeira, em 1950.


(Fonte: Josué Sylvestre).

Populares acenam lenços brancos no comício da coligação argemirista.


(Fonte: Josué Sylvestre).
259
A BAGACEIRA, Eleitoral

Artefato para falsi icar títulos eleitorais na campanha de 1950.


(Fonte: Josué Sylvestre)

260
A Parahyba pós-1930

As eleições municipais de 1951

Enquanto que as eleições nos demais municípios do estado se


realizaram a 12 de agosto de 1951, a eleição em Princesa Isabel ocorreu
no dia primeiro de julho do mesmo ano. Jean Blondel explica o fato devido
à fraude ocorrida no alistamento eleitoral, que levou à ação de nulidade da
eleição requerida junto ao Tribunal Regional de Justiça Eleitoral. Em certos
lugares, onde as disputas eleitorais descambaram para a violência, o eleitor
deixou de votar por medo.22
Segundo dados do sociólogo francês, as eleições municipais de
1951 apresentaram um índice de 30% de abstenção do eleitorado, posto
que 9.310 estavam alistados e apenas 6.556 exerceram o direito de sufrágio.
Além da emigração dos eleitores para o sul, acrescentou-se o fato de alguns
chefes políticos não terem candidatos de sua conveniência, além do elevado
índice de votos em separado23, cujo percentual foi equivalente a 20%.
Do ponto de vista das lideranças, o racha experimentado pela UDN
entre Argemiro de Figueiredo e José Américo de Almeida se re letiu nas
eleições municipais de 1951, nos diversos municípios do estado.

Cajazeiras

O clientelismo político motivado pelo exercício gratuito da


medicina há algumas décadas e a inexperiência política do adversário
foram as principais causas da vitória do médico Otacílio Jurema, em 1951,
candidato da Coligação integrada pelo PL/PSD.24
Talvez para suprir a de iciência do seu opositor, o farmacêutico
Cristiano Cartaxo Rolim, que não tinha militância política, compôs a sua

22 In Ob. Cit., p. 75.


23 São votos dados por eleitores estranhos ao município.
24 Francisco Cartaxo Rolim, in Ob. Cit., p. 2.

261
A BAGACEIRA, Eleitoral

chapa por outro médico que também era neto do coronel Sabino Rolim,
o candidato a vice-prefeito, Sabino Rolim Guimarães. A estratégia não
conseguiu evitar a vitória do candidato Otacílio Jurema.

Campina Grande

Argemiro de Figueiredo estava desgastado de duas derrotas


consecutivas sofridas em 1947, para a prefeitura de Campina Grande e,
em 1950, para o governo do estado. A eleição municipal de 1951 não seria
apenas a sua terceira derrota perante o eleitorado campinense, mas talvez o
sepultamento de sua vida pública.
Em 1951, diferente de 1947, ele mesmo foi o candidato a prefeito pela
UDN, tendo como o seu candidato a vice o médico campinense Severino Cruz.
Outras candidaturas foram lançadas. Plínio Lemos, indicado por
Elpídio de Almeida, concorreu com o vice, Lafaiete Cavalcanti, pela Coligação
Democrática Campinense.
Por outro lado, o major Rodembusch e o tenente Alberto de Souza,
candidatos a prefeito e vice, formaram uma “chapa militar”.
Naquela campanha, Argemiro de Figueiredo cometera o
mesmo erro que José Américo de Almeida repetiria na disputa em que
saiu derrotado, em 1958. O uso de golpes baixos e a oratória virulenta do
“Cacique de Itararé” parecem ter sido as principais causas de sua terceira
derrota consecutiva, como registra Naughton Rocha França de Araújo:
O Dr. Argemiro utilizou arti ícios que icaram aquém de sua
grandeza moral, usando a intriga e a per ídia para dividir
os adversários, estimulou e arquitetou, secretamente, a
candidatura do Major Rodembusch, vice-prefeito de Elpídio
e em litígio com este. Desceu o nível dos seus discursos. O
tratamento educado e elegante, que tinha para com os seus
opositores, desapareceu. Aliou-se a pessoas de ideologia que
antes combatia.25

25 In PARAÍBA – Nomes do Século. ARGEMIRO DE FIGUEIREDO. Editora A UNIÃO, p. 73/74.

262
A Parahyba pós-1930

Nem todos os líderes políticos sabem aceitar uma derrota.


Diferentemente de José Américo que derrotado em 1958, afastou-se de vez
das disputas eleitorais, a terceira derrota consecutiva não signi icou o im
da trajetória política do grande líder campinense, que demonstrou ser um
homem obstinado. Os ventos da fortuna voltariam a soprar em seu favor em
eleições futuras.
Ganhar ou perder faz parte da política. Que jogue a primeira pedra
o político que não perdeu uma eleição.

Patos

Após derrotado em 1947, Darcílio Wanderley da Nóbrega


conseguiu ser eleito prefeito municipal de Patos. Venceu Firmino Ayres Leite
com uma votação expressiva, cuja diferença foi superior a oitocentos votos.
O vice-prefeito eleito foi Antônio de Sousa Gomes, que derrotou Basílio
Serrano de Sousa.
Os vereadores eleitos naquele pleito foram: Abdias Guedes
Cavalcanti, Antônio Crisanto Dantas, Cícero Lúcio de Sousa, Antônio
Urquiza Machado, Joaquim Leitão de Araújo, Lauro Nóbrega de Queiroz,
Pedro Rodriges de Amorim, Severino Fernandes de Assis e Walter Ayres de
Araújo.26

São José de Piranhas

O candidato Joaquim Gonçalves de Assis, que concorreu pela


Coligação PSD/PL e foi apoiado por José Américo de Almeida, disputou com
o candidato do PSP, Cícero Lucena, e que era pai do ex-prefeito da capital do
estado na década de 1990, Cícero Lucena Filho.

26 Flávio Sátyro e Sousa, in Ob. Cit., p. 276.

263
A BAGACEIRA, Eleitoral

O fato marcante desse pleito foi um acidente automobilístico


ocorrido no dia da eleição envolvendo um caminhão que transportava muitos
eleitores do povoado de Riachão da Boa Vista para São José de Piranhas. O
sinistro ocasionou a morte de três eleitores. Como algumas das vítimas eram
correligionários de Cícero Lucena, a tragédia contribuiu decisivamente para
a derrota do candidato progressista.27
Nessa mesma disputa para o cargo de prefeito, a Igreja Católica
tomou partido de forma escancarada. O vigário que dirigia a paróquia local
chegou a subir no palanque do candidato apoiado por Joaquim Assis, em
razão de que o candidato da ala adversária se apresentava como seguidor da
doutrina espírita de Alan Kardek.
Na eleição para vice-prefeito, realizada em 12 de agosto do mesmo
ano, foi eleito o candidato do PL, Expedito Rodrigues de Holanda, que venceu
o seu opositor do PSP, Raimundo Andrade e Silva.

Santa Rita

A dissidência udenista ocorrida em 1950 liderada por José


Américo de Almeida que fundou o Partido Libertador, também se re letiu na
política santaritense. Enquanto que a oligarquia dos Veloso Borges icou ao
lado de José Américo, os Ribeiro Coutinho apoiaram Argemiro.

27 José Marconi Gomes Vieira, in Ob. Cit., p. 66.

264
A Parahyba pós-1930

Cédulas das eleições de 1947 e de 1951. (Fonte: Josué Sylvestre)

265
A BAGACEIRA, Eleitoral

RESULTADOS DAS ELEIÇÕES NA PARAHYBA EM 1951

Cargo: Senador
Partido /
Candidato Votação % válidos Situação
Coligação
Virginio Veloso Borges 53.690 71,7% Eleito
Epitacio Cordeiro Pessoa
21.120 28,2%
Cavalcanti
Votos brancos 1.960
Votos nulos 2.754
Total apurado 79.524

Cargo: Suplente Senador


Partido /
Candidato Votação % válidos Situação
Coligação
Francisco de Paula Porto 48.067 88,9% Eleito
Frederico Serrano Falcão 5.952 11,0%
Votos brancos 1.788
Votos nulos 23.717
Total apurado 79.524

RESULTADOS DAS ELEIÇÕES NA PARAHYBA EM 1952

Cargo: Senador
Partido /
Candidato Votação % válidos Situação
Coligação
Francisco de Assis Chateaubriand
79.057 100% Eleito
Bandeira de Melo
Votos brancos 15.520
Votos nulos 4.332
Total apurado 98.909

266
A Parahyba pós-1930

Cargo: Suplente Senador


Partido /
Candidato Votação % válidos Situação
Coligação
Drault Ernany de Melo e Silva 74.508 83,5% Eleito
João Lelis de Luna Freire 14.626 16,4%
Votos brancos 5.371
Votos nulos 4.404
Total apurado 98.909

RESULTADOS DA ELEIÇÃO NA PARAHYBA EM 1953

Município: Piancó

Cargo: Prefeito
Partido /
Candidato Votação % válidos Situação
Coligação
Sebastião Clovis Brasilino 101 94,3% Eleito
Djalma Leite Ferreira 6 5,60%
Votos brancos 22
Votos nulos 2
Total apurado 131

Cargo: Vice Prefeito


Partido /
Candidato Votação % válidos Situação
Coligação
Pedro Leite Montenegro 101 96,1% Eleito
Otavio Pires de Lacerda 4 3,81%
Votos brancos 25
Votos nulos 1
Total apurado 131

267
A BAGACEIRA, Eleitoral

Município: Piancó

Cargo: Vereador
Partido /
Candidato Votação % válidos Situação
Coligação
Ademar Alvino da Silva CDP 3 50%
Bernardino de Carvalho
CDP 1 16,6%
Camara
Diogenes Lopes Leite CDP 1 16,6%
Manuel da Paciencia Loureiro CDP 1 16,6%
Votos brancos 125
Votos nulos 0
Total apurado 131

Fonte: Tribunal Regional Eleitoral da Parahyba: http://www.tre.pb.gov.br. Visitado em


13.08.2010.

268
A Parahyba pós-1930

Propaganda político-eleitoral de João Lélis de Luna Freire.


(Fonte: arquivo pessoal de João Lélis de Luna Freire)

269
A BAGACEIRA, Eleitoral

Ideologia e abuso de poder econômico nas eleições de 1954

(...) Foi tão grande o derrame que, o jovem empresário, apesar


de nunca ter sido nem vereador, conseguiu ser mais votado do
que o ex-governador Argemiro de Figueiredo, seu companheiro
de chapa e àquela altura já com 25 anos de militância
ininterrupta na política estadual. (Josué Sylvestre)28

A legislação daquele período permitia ao candidato concorrer


a dois cargos eletivos, simultaneamente, o que explica o fato de Argemiro
de Figueiredo haver conquistado os mandatos de senador e de deputado
federal, optando pelo primeiro e abrindo a vaga na Câmara dos Deputados
para primeiro suplente udenista e líder sertanejo, Praxedes Pitanga das Silva
Conserva Pitanga.
Além da duplicidade de vitórias conquistadas por Argemiro,
que vinha de três derrotas eleitorais consecutivas, a eleição de 1954
foi caracterizada pelo surgimento de um personagem que, em eleições
posteriores,29 iriam marcar as futuras campanhas eleitorais no estado: a
igura do “trem pagador”, assim considerados

os candidatos de largos recursos econômicos que inanciam a


sua campanha e a de outros políticos (...)30

28 Josué Sylvestre, in Ob. Cit., p. 44.


29 Aponta Josué Sylvestre outros candidatos famosos nas campanhas eleitorais do estado com
grande poder inanceiro para se eleger a qualquer custo: Aluízio Campos, Domício Gondim e
Drault Ernany. Ao rol proposto pelo jornalista-historiador acrescento o nome do empresário
e milionário Ney Robson Suassuna que, na década de 1990, participou das campanhas
eleitorais do estado e se tornou conhecido como um dos senadores mais ricos do Congresso
Nacional. Nas campanhas que participou na Parahyba, Suassuna foi o alvo preferido dos
candidatos sem dinheiro e principalmente das pequenas lideranças do interior – prefeitos,
vereadores e cabos eleitorais – que prometiam os votos nos seus redutos eleitorais, como
se os mesmos fossem “votos de cabresto”. Nem sempre havia essa “transferência de votos”,
razão pela qual Ney Suassuna foi derrotado para o Senado em 2002.
30 Registra Josué Sylvestre que desembolsou na campanha eleitoral de 1954, a importância
de Cr$ 4.500.000,00 (quatro milhões e quinhentos mil cruzeiros), em sua maior parte,

270
A Parahyba pós-1930

Josué Sylvestre aponta o industrial do ramo da tecelagem, João


Cavalcanti de Arruda, radicado31 em São Paulo e detentor de uma sólida base
econômica, como o primeiro trem pagador da política paraibana. O seu
suporte inanceiro era fundamental para cobrir as despesas de campanha
que, até aquela época, se restringia à alimentação e pagamento de transporte
para facilitar o alistamento de eleitores e a votação no dia do pleito.
Mas não é só. Segundo o mesmo jornalista, um novo item passou
a ter prioridade nas despesas dos candidatos e que contribuiu para o
crescimento assustador dos gastos de uma campanha na Parahyba, qual seja,
a compra dos currais eleitorais por meio dos cabos eleitorais, pois

Até 1954, os coronéis ou chefes políticos recebiam aquelas


ajudas para as refeições e o transporte fornecidos aos seus
correligionários
É verdade também que alguns líderes políticos regionais ou
municipais não admitiam receber essas contribuições para
manter a independência de atitudes e crédito sempre aberto
na bolsa de empregos, favores especiais, inanciamentos do
Banco do Brasil ou da Caixa Econômica Federal, conseguidos
através dos políticos que elegiam.32

Não foi nenhuma surpresa, portanto, o industrial João Arruda


haver sido o candidato a senador mais votado naquele pleito.

concentrados nas mãos, ou melhor, nos bolsos das che ias políticas do interior da Parahyba.
Josué Sylvestre, in NACIONALISMO & CORONELISMO – FATOS E PERSONAGENS DA
HISTÓRIA DE CAMPINA GRANDE E DA PARAÍBA (1954/1964). Brasília: Senado Federal,
1988, p. 41 e 44.
31 A semelhança com outro candidato ao Senado, na década de 1990, o empresário Ney
Robinson Suassuna, é muito grande, pelo fato deste residir no Rio de Janeiro, principal
motivo alegado pelos seus adversários para criticar o seu projeto político de representar a
Parahyba.
32 Josué Sylvestre, in NACIONALISMO & CORONELISMO – FATOS E PERSONAGENS DA
HISTÓRIA DE CAMPINA GRANDE E DA PARAÍBA (1954/1964). Brasília: Senado Federal,
1988, p. 44.

271
A BAGACEIRA, Eleitoral

Mas o derrame de dinheiro não foi o único fato que marcou a


campanha eleitoral de 1954, que também foi uma das mais ricas no que se
refere ao aspecto ideológico.
De um lado, líderes políticos como Raymundo Asfora, João
Santa Cruz e José Joffily procuravam mobilizar a opinião pública em
defesa da campanha “O Petróleo é Nosso”. De outro, o jornalista Rafael
Corrêa proferia violentos discursos contra a candidatura de Assis
Chateubriand, considerado pelos adversários como o representante das
multinacionais (naquele tempo chamados de “trustes) e integrante da
coligação formada por latifundiários, a exemplo do usineiro Virgínio
Veloso Borges.
Empolgados pela campanha em defesa do nacionalismo, a classe
estudantil, trabalhadores e intelectuais se juntaram nos comícios e palestras
promovidos pelos candidatos da coligação lideradas pelo americismo-
ruismo.
O uso da mídia também foi um dos elementos daquela campanha.
Assis Chateubriand, o “todo poderoso” dono de um sistema de comunicação
utilizou o rádio e os jornais em favor de sua candidatura, que era combatida
pelo jovem líder Ronaldo Cunha Lima, que organizou o Comitê Estudantil
contra a candidatura de Chateaubriand.
As coligações e partidos que concorreram àquele pleito foram: a
Coligação Democrática; a União Democrática Nacional/UDN; o Partido Social
Democrático/PSD; Partido Trabalhista Brasileiro/PTB; o Partido Social
Progressista/PSP; Partido Republicano/PR; o Partido Socialista Brasileiro/
PSB e o Partido Libertador.
Os eleitos foram João Cavalcanti Arruda Sobrinho e Argemiro de
Figueiredo.
A derrota para o Senado não tirou o brilho com que Chateubriand
exerceu o curto período o cargo de senador pela Parahyba, conforme o seu
principal biógrafo, Fernando Morais:

272
A Parahyba pós-1930

Entre aquele dia 24 de abril de 1952 e 25 de janeiro de 1954,


quando se encerrou seu mandato de senador, Chateubriand usou
a tribuna 127 vezes. Ou seja, se forem descontados os períodos
de recessos do Senado e as inúmeras viagens que fez ao exterior
nesse período, o balanço revela um parlamentar prolí ico: quando
estava no Senado, raramente deixava de falar. E se falava sobre
os assuntos mais variados, na maioria das vezes ele ocupava a
tribuna para tratar de problemas ligados à economia brasileira.33

Negado o segundo mandato pela Parahyba, Assis Chateubriand


algum tempo depois seria eleito senador pelo estado do Maranhão.

RESULTADOS DA ELEIÇÃO NA PARAHYBA EM 1954

Cargo: Senador
Partido / %
Candidato Votação Situação
Coligação válidos
João Cavalcanti Arruda Sobrinho UDN 110.000 25,3% Eleito
Argemiro de Figueiredo UDN 109.416 25,1% Eleito
Francisco de Assis Chateaubriand
PSD 103.713 23,8%
Bandeira de Melo
Virginio Veloso Borges PL 101.871 23,4%
Hermano Alfredo Neto de Sá PTB 9.193 2,11%
José Demetrio de Albuquerque
PST 475 0,10%
Silva
Votos brancos 57.616
Votos nulos 7.350
Total apurado 499.634
Exibir por nome completo
Legenda:
PL - Partido Libertador
PSD - Partido Social Democrático
PST - Partido Social Trabalhista
PTB - Partido Trabalhista Brasileiro
UDN - União Democrática Nacional

33 Fernando Morais apud Armando Nóbrega Marinho, in PARAÍBA – Nomes do Século. Assis
Chateaubriand. Ed. A UNIÃO, p. 31.

273
A BAGACEIRA, Eleitoral

Cargo: Suplente Senador


Partido /
Candidato Votação % válidos Situação
Coligação
Otacilio Jurema UDN 109.710 25,5% Eleito
José Mario Porto UDN 108.845 25,3% Eleito
Francisco de Paula Porto CDN 103.088 24,0%
Antônio Pinto de Olveira CDN 101.608 23,7%
Paulo Acácio Galvão PTB 4.971 1,15%
Nazir Pinto da Silva PST 506 0,11%
Votos brancos 63.434
Votos nulos 7.472
Total apurado 499.634
Exibir por nome completo

Legenda:
CDN - Coligacao Democratica Nacional (PSD/pl)
PST - Partido Social Trabalhista
PTB - Partido Trabalhista Brasileiro
UDN - União Democrática Nacional

Cargo: Deputado Federal


Partido /
Candidato Votação % válidos Situação
Coligação
José Janduhy Carneiro CDN 24.153 10,3% Eleito
José Jof ily Bezerra de Melo CDN 20.840 8,93% Eleito
Drault Ernany de Melo e Silva CDN 19.390 8,31% Eleito
Argemiro de Figueiredo UDN 17.969 7,70% Eleito
João Úrsulo Ribeiro Coutinho UDN 17.953 7,69% Eleito
João Agripino Filho UDN 17.129 7,34% Eleito

274
A Parahyba pós-1930

Plínio Lemos CDN 15.490 6,64% Eleito


Antonio Pereira Diniz CDN 14.235 6,10% Eleito
Rafael Correa de Oliveira UDN 14.038 6,01% Eleito
Ernani Ayres Sátyro e Sousa UDN 13.010 5,57% Eleito
Luiz Gonzaga de Oliveira Lima PTB 11.206 4,80%
Ivan Bichara Sobreira CDN 9.951 4,26% Eleito
Odivio Borba Duarte CDN 9.352 4,00%
Alcides Vieira Carneiro CDN 6.851 2,93%
Praxedes da Silva Pitanga UDN 6.546 2,80%
Apolônio Sales de Miranda PTB 6.292 2,69%
José Dias de França CDN 2.947 1,26%
Giácomo Porto UDN 2.174 0,93%
Claudio de Paiva Leite UDN 1.898 0,81%
Antonio Batista Santiago UDN 1.426 0,61%
Francisco Maia Wanderley PTB 414 0,17%
Votos brancos 10.086
Votos nulos 5.511
Total apurado 248.861

Legenda:
CDN - Coligacao Democratica Nacional (PSD/pl)
PTB - Partido Trabalhista Brasileiro
UDN - União Democrática Nacional

275
A BAGACEIRA, Eleitoral

Cargo: Deputado Estadual


Partido /
Candidato Votação % válidos Situação
Coligação
Humberto Coutinho de Lucena PSD 4.065 1,72% Eleito
Luiz da Costa Araújo
UDN 4.059 1,71% Eleito
Bronzeado
Severino Bezerra Cabral PL 3.998 1,69% Eleito
Eduardo de Alencar Ferreira PTB 3.832 1,62% Eleito
Clovis Bezerra Cavalcanti UDN 3.669 1,55% Eleito
Antonio D’avila Lins PR 3.636 1,53% Eleito
João Feitosa Ventura UDN 3.501 1,48% Eleito
Antonio Nominando Diniz PL 3.450 1,45% Eleito
Antonio de Paiva Gadelha PTB 3.431 1,45% Eleito
Francisco Pereira UDN 3.380 1,43% Eleito
Bivar Olynto de Melo e Silva PSD 3.315 1,40% Eleito
Francisco Chaves Brasileiro UDN 3.240 1,37% Eleito
Lucas Vilar Suassuna UDN 3.209 1,35% Eleito
Ramiro Fernandes de Carvalho PSD 3.201 1,35% Eleito
Alvaro Gaudencio de Queiroz UDN 3.185 1,34% Eleito
Ze Maranhão PTB 3.153 1,33% Eleito
José Cavalcanti UDN 3.148 1,33% Eleito
Carlos Pessoa Filho UDN 3.094 1,30% Eleito
Francisco de Paula Barreto
PSD 3.090 1,30% Eleito
Sobrinho
Jacob Guilherme Frantz UDN 3.074 1,3% Eleito
Americo Maia de Vasconcelos UDN 3.048 1,28% Eleito
Manuel Gonçalves de Abrantes UDN 3.033 1,28% Eleito
Luiz Inacio Ribeiro Coutinho UDN 3.032 1,28% Eleito
Wilson Braga UDN 2.916 1,23% Eleito
Manuel Arruda de Assis PSD 2.913 1,23% Eleito
Petronio Ramos de Figueiredo UDN 2.905 1,22%

276
A Parahyba pós-1930

José Afonso Gayoso de Souza PSD 2.871 1,21% Eleito


Balduino Minervino de
PSD 2.868 1,21% Eleito
Carvalho
José Rolim Guimarães UDN 2.866 1,21%
Jader Silva de Medeiros PSD 2.840 1,20% Eleito
Pedro Moreno Gondim PSD 2.839 1,20% Eleito
José Aurélio Arruda UDN 2.814 1,19%
Lourival de Lacerda Lima UDN 2.790 1,18%
Agnaldo Veloso Borges PL 2.788 1,17% Eleito
José Fernandes de Lima PSD 2.746 1,16% Eleito
Roberto Pessoa PSD 2.681 1,13% Eleito
Antonio Leite Montenegro PTB 2.676 1,13% Eleito
José Ribeiro de Farias PSD 2.673 1,13% Eleito
Francisco Será ico da Nóbrega UDN 2.617 1,10%
Tertuliano Correia da Costa
PSD 2.531 1,07% Eleito
Brito
Antonio Bezerra Cabral PL 2.506 1,06% Eleito
Sílvio Pélico Porto PSD 2.459 1,04% Eleito
Manuel Figueiredo UDN 2.400 1,01%
Geroncio Estanislau de
PSD 2.399 1,01%
Nobrega
Ascendino Virginio de Moura UDN 2.326 0,98%
Inácio José Feitosa PSD 2.268 0,95%
Luiz Gonzaga de Miranda
UDN 2.241 0,94%
Freire
Irineu Tródolo da Silva PR 2.184 0,92%
Lindolfo Pires Ferreira Júnior PSD 2.167 0,91%
José Augusto da Silva Galvão PSD 2.133 0,90%
Severino Ismael de Oliveira PTB 2.093 0,88%
Zacarias Sitônio PSD 2.058 0,87%
Antonio Ribeiro Pessoa UDN 2.039 0,86%

277
A BAGACEIRA, Eleitoral

Joacil de Brito Pereira UDN 2.039 0,86%


José Medeiros Vieira PL 2.026 0,85% Eleito
Epitácio Ramalho Leite PSD 2.024 0,85%
Fernando Paulo Carrilho
PSD 1.999 0,84%
Milanez
Jacinto Dantas Correia de Góis PSD 1.930 0,81%
Praxedes da Silva Pitanga UDN 1.894 0,80%
Antonio Américo César de
PSP 1.888 0,79% Eleito
Almeida
Djacir Cavalcanti Arruda PSP 1.878 0,79%
Otacilio Nóbrega de Queiroz PSD 1.870 0,79%
José de Souza Arruda PL 1.867 0,79%
Firmino Silva PSP 1.845 0,78%
Rogerio Martins Costa PSD 1.739 0,73%
Antônio Pereira de Almeida UDN 1.733 0,73%
José Ramalho Xavier PSD 1.707 0,72%
Nelson Lopes Ribeiro Lima PL 1.695 0,71%
Tiburtino Rabelo de Sá PSD 1.688 0,71%
Francisco Fernando de Arruda PSP 1.658 0,70%
Genival de Queiroz Torreão PL 1.644 0,69%
João Cabral Batista UDN 1.626 0,68%
Celso de Paiva Leite PTB 1.618 0,68%
Everaldo Ferreira Soares PSD 1.618 0,68%
Raimundo Paiva Onofre PSD 1.604 0,67%
Antonio Batista Santiago PTB 1.600 0,67%
Celso Otávio Novais de Araújo UDN 1.591 0,67%
José Bethanio Ferreira PL 1.481 0,62%
Arsenio Rolim Araruna PL 1.456 0,61%
Napoleão Abdon da Nobrega PL 1.453 0,61%
Aristarcho Dias de Araújo PTB 1.429 0,60%

278
A Parahyba pós-1930

Geraldo Gomes Beltrão PSD 1.302 0,55%


Amaury Araújo de
PL 1.299 0,55%
Vasconcelos
Avani Benicio Maia PL 1.238 0,52%
Arnaldo Bonifacio de Paiva PSD 1.236 0,52%
Heraldo Gadelha PSB 1.194 0,50% Eleito
Raul Lopes PSD 1.181 0,5%
Dirceu Arnaud Diniz PSD 1.160 0,49%
Luiz Rocha Sobrinho PTB 1.103 0,46%
Otavio Teodoro de Amorim PL 1.082 0,45%
Afonso Pereira da Silva PSB 1.003 0,42%
Hilton Sabino de Farias PSB 991 0,41%
Artur Vilarim PSD 977 0,41%
José Lopes de Andrade PSD 959 0,40%
José Paulo Neto PTB 902 0,38%
Abiatar de Vasconcelos PTB 867 0,36%
Ananiano Ramos Galvão PL 866 0,36%
Rubens Henriques Filgueiras PSD 740 0,31%
José Cecílio Batista Filho PSB 695 0,29%
Hélio Nobrega Zenaide PL 695 0,29%
Ubirajara Targino Boto PSD 640 0,27%
Celso Matos Rolim PTB 632 0,26%
Carlos Neves da Franca PTB 629 0,26%
Diógenes Nunes Chianca PSD 594 0,25%
Otacilio Dantas Cartaxo PTB 583 0,24%
Francisco de Oliveira Maia PSD 545 0,23%
Manuel Carneiro da Cunha PR 538 0,22%
Donato de Oliveira PSB 521 0,22%
Manuel de Araújo Souto PSD 515 0,21%
Antonio Alencar de Oliveira PTB 514 0,21%

279
A BAGACEIRA, Eleitoral

Manoel Formiga PL 481 0,20%


Orlando Marinho Moreira UDN 477 0,20%
José Coelho Nóbrega PSB 451 0,19%
Del ino Ferreira da Costa PL 450 0,19%
Antonio Fernandes de
PSP 436 0,18%
Medeiros
Oswaldo Fernandes de Lima PTB 400 0,16%
José Santiago de Moura PL 359 0,15%
Júlio Rique Filho PSP 353 0,14%
Allyrio Meira Wanderley PSD 351 0,14%
Claudio Santa Cruz Costa PSB 317 0,13%
Raimundo Monteiro
PSB 302 0,12%
Montenegro
José Paulo Moura PSP 264 0,11%
José Nunes Machado PSD 262 0,11%
Bernardino Soares Barbosa PSP 258 0,10%
Jaime Floro Ramos PSB 248 0,10%
Gentil da Cunha França PSP 225 0,09%
Severino Patricio da Silva PL 215 0,09%
Antonio Tancredo de Carvalho PSD 213 0,09%
João Belizio de Araújo PSD 183 0,07%
Antonio de Arruda Brayner PSB 176 0,07%
Orestes Toscano Lisboa PR 164 0,06%
João Facundes Filho UDN 161 0,06%
Severino José dos Santos PTB 159 0,06%
Othon Xavier Nery PTB 159 0,06%
Francisco Marcelo Dias PTB 124 0,05%
Orvacio de Lira Machado PSP 121 0,05%
Isaac Rodrigues Laureano PTB 118 0,05%
Edson de Andrade PSB 110 0,04%

280
A Parahyba pós-1930

Nathanael Bello PST 100 0,04%


Clemildo Cavalcanti Procópio PR 88 0,03%
Antônio Juarez Farias PSB 86 0,03%
José Thimóteo de Morais e
PSP 64 0,02%
Souza
Gilberto Lyra Stuclert PST 59 0,02%
Nizé Marinheiro PSB 47 0,02%
Osnes Leite Gomes PST 41 0,01%
Arnaldo Tavares de Melo PSB 32 0,01%
José Barreto Serrão PSB 29 0,01%
Estela Fonseca de Lima Freire PTB 21 0,00%
Jonatas Carecas PST 14 0,00%
Antonio Paulino dos Santos PST 14 0,00%
Luiz de Carvalho Costa PSP 4 0,00%
Luiz Borges de Franca PST 1 0%
Votos brancos 6.213
Votos nulos 6.389
Total apurado 248.990
Exibir por nome completo

Legenda:
PR - Partido Republicano
PL - Partido Libertador
PST - Partido Social Trabalhista
PSP - Partido Social Progresista
PSD - Partido Social Democrático
PTB - Partido Trabalhista Brasileiro
UDN - União Democrática Nacional
PSB - Partido Socialista Brasileiro
(Fonte: Tribunal Regional Eleitoral da Parahyba: http://www.tre.pb.gov.br. Visitado em
13.08.2010)

281
A BAGACEIRA, Eleitoral

Lei estadual de 1954, ixando a data das eleições municipais na Parahyba

282
A Parahyba pós-1930

Propaganda político-eleitoral de João Lélis de Luna Freire.


(Fonte: arquivo pessoal de João Lélis de Luna Freire)

Drault Ernany discursa na sua campanha de 1950 para o Senado.


(Fonte: Drault Ernany)

283
Caravana argemirista vinda da zona rural do município para um dos
comícios da campanha senatorial de 1954.
(Fonte: Josué Sylvestre).

O famoso cantor e compositor Luiz Gonzaga, em Campina Grande, para participar de comício
pró Chateaubriand. Aparecem também, entre outros, os Srs. Severino Cabral, Alvino Pimentel,
José Lopes de Andrade e Francisco Anselmo
(Fonte: Josué Sylvestre).
CAPÍTULO VII

Eleição de 1955:
O pacto das elites

“...Desta forma, as classes no poder


asseguraram ardilosamente o controle
político do processo, na medida em que se
impediu a participação popular através do
processo eleitoral, evitava-se as contestações
e mantinha-se o status quo.” (Martha Lúcia
Ribeiro Araújo)* 1

* Martha Lúcia Ribeiro Araújo. O PROCESSO POLÍTICO NA PARAÍBA: 1945-1964. In


ESTRUTURA DE PODER NA PARAÍBA. Diversos Autores. João Pessoa: Ed. Universitária/
UFPB, 1999, p. 97.

285
A BAGACEIRA, Eleitoral

A
eleição de 1955 se caracterizou pelo acordo celebrado entre
udenistas e pessedistas, em torno de um candidato de consenso, o
usineiro Flávio Ribeiro Coutinho, que foi candidato pela Coligação
formada pela UDN/PSD e PL.
O candidato a vice-governador foi o alagoanovense, Pedro Moreno
Gondim. A chapa udeno-pessedista foi construída na base da amizade. Flávio
Ribeiro Coutinho era amigo de Argemiro de Figueiredo, enquanto que Pedro
Gondim era amigo de José Américo. Assim, cada um dos caciques colocava
no governo uma pessoa de sua estreita con iança.
Selada a “paci icação” entre udenistas e pessedistas, o povo estava
alijado do acordo, que era conveniente principalmente para José Américo de
Almeida, isto porque

Evitava-se uma luta partidária; economizava-se dinheiro;


dividia-se o bolo das secretarias e outros órgãos da
administração estadual e a Paraíba dava um exemplo de
educação política a todo o País. E ele, José Américo, sairia do
governo consagrado como o estadista que havia harmonizado
a família paraibana. Mas isso, naturalmente, ele não dizia aos
seus interlocutores.1

Um detalhe importante escapou dos principais chefes políticos.


O povo não foi chamado para selar o pacto. Assim, setores da sociedade
paraibana, insatisfeitos com a decisão dos principais caciques do estado
– Argemiro de Figueiredo, José Américo de Almeida e Ruy Carneiro –
lançaram um nome estranho ao meio político, embora fosse um pro issional
competente e um intelectual respeitado, o advogado Renato Teixeira Bastos.
Mesmo na ilegalidade, os comunistas também se manifestaram
contrário ao “Acordo de Tibiry” e encerraram ileiras à candidatura oposicionista.

1 Segundo Josué Sylvestre, a “paci icação” proposta por José Américo de Almeida representou
um plano político pessoal arquitetado quando regressava do Ministério da Viação e Obras
e que o livrasse de se empenhar numa luta eleitoral pela sua sucessão, e afastasse o risco de
uma derrota nas urnas. (In Ob. Cit., p. 81/82).

286
Eleição de 1955: o pacto das elites

Apoiado por Damásio Franca e pelos comunistas, Renato Teixeira Bastos foi
lançado candidato pela Coligação integrada pelo PST/PCB e PTB.
É claro que o resultado não poderia ser outro senão a vitória dos
candidatos da chapa udeno-pessedista, haja vista que os seus apoiadores eram
verdadeiros “donos” da maioria dos votos. Inversamente, Renato Bastos não
tinha voto e nem verba, o que explica a sua derrota em todos os municípios do
estado, embora tenha obtido expressivas votações na capital, Mamanguape e
Santa Rita, devido à grande mobilização do operariado das usinas.
Foi uma das mais disputas eleitorais mais desiguais de que se tem
notícia em nosso estado, embora fosse reconhecida, repita-se, a capacidade
do intelectual e moral do Renato Bastos. O vitorioso obteve pouco mais de
noventa por cento dos votos, enquanto que o advogado icou com menos de
dez por cento da votação.
Finda a eleição e efetivada a posse no cargo, houve a “partilha
do poder”, tendo a UDN abocanhado a maior parte das secretarias, o PSD
algumas e o PL, apenas duas.

RESULTADOS DA ELEIÇÃO NA PARAHYBA EM 1955

Cargo: Presidente
Partido /
Candidato Votação % válidos Situação
Coligação
Juarez Távora 114.128 51,3%
Juscelino Kubitscheck de
81.307 36,6% Eleito
Oliveira
Adhemar de Barros 16.813 7,56%
Plínio Salgado 9.900 4,45%
Votos brancos 8.182
Votos nulos 9.433
Total apurado 239.763

287
A BAGACEIRA, Eleitoral

Cargo: Vice Presidente


Partido /
Candidato Votação % válidos Situação
Coligação
Milton Campos 103.988 49,8%
João Belchior Marques Goulart 94.912 45,5% Eleito
Danton Coelho 9.648 4,62%
Votos brancos 24.269
Votos nulos 6.946
Total apurado 239.763

Cargo: Governador
Partido /
Candidato Votação % válidos Situação
Coligação
Flávio Ribeiro Coutinho UDN 180.228 90,3% Eleito
Renato Teixeira Bastos PST 19.251 9,65%
Votos brancos 37.425
Votos nulos 2.859
Total apurado 239.763

Legenda:
PST - Partido Socialista Trabalhista
UDN - União Democrática Nacional

Cargo: Vice Governador


Partido /
Candidato Votação % válidos Situação
Coligação
Pedro Moreno Gondim UDN 180.152 100% Eleito
Votos brancos 56.890
Votos nulos 2.721
Total apurado 239.763

Fonte: Tribunal Regional Eleitoral da Parahyba: http://www.tre.pb.gov.br. Visitado em


13.08.2010.

288
Eleição de 1955: o pacto das elites

As eleições municipais de 1955

Cajazeiras

A chapa udenista de 1951 para disputa a eleição municipal foi


composta pelo pecuarista, comerciante e banqueiro Antônio Cartaxo Rolim
( ilho do coronel Sabino Rolim) e Vicente Leite Rolim, que teve o apoio do
suplente de senador, Otacílio Jurema.
A chapa opositora pessedista foi integrada por Acácio Agra e
Cristiano Cartaxo, este último o candidato derrotado na eleição anterior,
mas que, naquela eleição de 1951, recebeu mais votos do que o candidato a
prefeito.
A família Rolim venceu a disputa.

Campina Grande

O comerciante e banqueiro Severino Cabral se apresentou como


o candidato natural a prefeito em 1955, considerando que teve expressiva
votação para deputado estadual nas eleições de 1950 e 1954, para a
Assembleia Legislativa. Teve o apoio do prefeito Plínio Lemos.
De outro lado, o deputado federal e ex-prefeito Elpídio de
Almeida, candidato que representava o argemirismo. O apoio de Argemiro
de Figueiredo à candidatura elpidista provocou uma cisão interna naquela
corrente partidária, que exigia uma candidatura própria. Assim, Álvaro
Gaudêncio, major Veneziano Vital do Rego, William Tejo e outros líderes
abriram a dissidência no seio do argemirismo e passaram a apoiar a
candidatura cabralista.
As escolhas dos vices de ambas as chapas recaíram sobre dois
médicos, Bonald Filho e Severino Cruz, o primeiro apoiou Severino Cabral e

289
A BAGACEIRA, Eleitoral

o segundo Elpídio de Almeida. A escolha dos dois pro issionais da medicina


é explicada pela

debilidade do sistema oficial de assistência à saúde mais


acentuado àquela época do que atualmente, destacavam-
se sempre nas comunidades os médicos ditos populares ou
caridosos que não cobravam consultas de pessoas pobres,
parcelavam contas de integrantes das classes médicas
ou praticavam intervenções e tratamentos a preços
reduzidos.2

A eleição municipal de Campina Grande de 1955 teve algumas


nuances, apontadas por Josué Sylvestre: foi a última eleição municipal
com a antiga estrutura do município com 8 distritos, fora a sede; os
profissionais liberais passaram a ter maioria no legislativo; o crescimento
do eleitorado urbano; a influência dos meios de comunicação; o
funcionamento das escolas superiores; o êxodo crescente das famílias
do interior nordestino que se concentraram em Campina Grande que
possibilitou,

um contingente eleitoral totalmente desvinculado das peias


tradicionais com o coronelismo, muito embora aumentasse a
clientela dos políticos isiológicos3

Elpídio Almeida venceu Cabral por uma diferença de 1.954 votos e


o vice-prefeito eleito foi Severino Henrique da Cruz.
O destaque desse pleito foi a vitória do grande tribuno, Raymundo
Asfora, eleito vereador de Campina Grande.

2 Josué Sylvestre, in NACIONALISMO & CORONELISMO (FATOS E PERSONAGENS DA


HISTORIA DE CAMPINA GRANDE E DA PARAÍBA – 1954/1964). Brasília: Ed. Senado
Federal, 1988, p. 86.
3 Josué Sylvestre, in Ob. Cit., p. 105.

290
Eleição de 1955: o pacto das elites

Guarabira

O vencedor das eleições municipais de Guarabira de 1955 foi


um ilho da terra e o maior tribuno guarabirense, Osmar de Aquino, que
concorreu contra os candidatos da Coligação Democrática Guarabirense,
integrada pelo PSD/PL, cujos candidatos foram João Pimentel Filho e José
Félix da Silva. O candidato a vice-prefeito de Osmar de Aquino foi Edson
Montenegro da Cunha, que também foi eleito.4

Patos

Nabor Wanderley da Nóbrega, pai do atual prefeito de Patos, Nabor


Wanderley, do PMDB, venceu o candidato Bivar Olintho de Melo e Silva.
Walter Vieira Arcoverde, que havia sido eleito vice-prefeito em 1947, perdeu
a eleição para o candidato Vicente Nogueira, eleito vice-prefeito.
O fato novo nesse pleito e que teve grande repercussão na cidade foi a
eleição da primeira representante do sexo feminino para o cargo de vereadora,
a professora do Ginásio Diocesano de Patos, Maria Esther Sátyro Fernandes,
que foi juntamente eleita para a Câmara Municipal com os candidatos Arlindo
Wanderley da Nóbrega, Cícero Lúcio de Sousa, Antônio Clementino da Nóbrega,
Ronald de Queiroz Fernandes, Walter Ayres Araújo, Abdias Guedes Cavalcanti,
Severino da Costa e Sousa e Sigismundo Gonçalves Souto Maior.
Nessa eleição, participaram 7.973 eleitores.5

Santa Rita

A campanha eleitoral de 1955 em Santa Rita foi disputada por dois


prepostos de Flávio Maroja Filho e João Raposo Filho.

4 Aedson Guedes, in Ob. Cit., p. 19.


5 Flávio Sátyro Fernandes, in Ob.Cit., p. 295.

291
A BAGACEIRA, Eleitoral

Repetiu-se no pleito municipal a Coligação que concorrera na


esfera estadual para o governo do estado – UDN, PL e PSD. O candidato a
prefeito da coligação udenista foi João Crisóstomo Ribeiro Coutinho.
Por sua vez, a oposição lançou os candidatos do PSB/PTB –
Abiathar Vasconcelos e como vice, Pedro da Costa Gadelha – e do PR/PST,
Manoel de Souza Brandão e João Francisco da Silva. Os candidatos-usineiros
da coligação udenista venceram por uma pequena margem de 291 votos.6
Eleições municipais de 1955 na Paraíba

Prefeitos eleitos nos municípios no ano de 1955


Município Prefeito Eleito Partido
Alagoa Grande José Ferreira de Paiva SRHP
Alagoa Nova Ascendino Virginio de Moura SRHP
Alagoinha Elógio Martins de Araújo SRHP
Antenor Navarro Manuel Fernandes Dantas SRHP
Araruna Benjamin Gomes Maranhão SRHP
Areia Manuel de Azevedo Maia SRHP
Aroeiras Sebastião Souto Maior SRHP
Bananeiras Homero de Almeida Araújo SRHP
Bonito Adauto Luiz de Oliveira SRHP
Brejo do Cruz Francisco Alves Feitosa SRHP
Cabaceiras Ernesto Heráclio do Rêgo SRHP
Caiçara Severino Israel da Costa SRHP
Cajazeiras Antonio Cartaxo Rolim SRHP
Campina Grande Elpidio Josué de Almeida SRHP
Catolé do Rocha Osório Olímpio de Queiroga SRHP
Conceição João Mangueira Neto SRHP

6 Martha Falcão, in Ob. Cit., p. 273.

292
Eleição de 1955: o pacto das elites

Cruz do Espirito Santo João Batista de Lima Brandão SRHP


Cuité Orlando Venancio dos Santos SRHP
Curemas Antonio Lopes Filho SRHP
Esperança Joaquim Virgolino da Silva SRHP
Guarabira Osmar de Aquino SRHP
Ingá Francisco Ernesto de Andrade SRHP
Itabaiana José Benedito da Silveira SRHP
Itaporanga Abrahão de Souza Diniz SRHP
João Pessoa Apolônio Sales de Miranda SRHP
Malta Francisco Marques de Souza SRHP
Mamanguape Francisco Gerbasi SRHP
Monteiro Alexandre da Silva Brito SRHP
Patos Nabor Wanderley da Nobrega SRHP
Pedras de Fogo Edgard Guedes da Silva SRHP
Piancó Elzir Nogueira Matos SRHP
Picui Francisco Eduardo Macedo SRHP
Pilar Jocelyn Veloso Borges SRHP
Piloes Hermes do Nascimento Lira SRHP
Pirpirituba José Fortuna Pereira dos Santos SRHP
Pocinhos José Augusto da Silva Galvão SRHP
Pombal Elry Medeiros Vieira SRHP
Princesa Isabel Nominando Muniz Diniz SRHP
Santa Luzia Euclides Ribeiro SRHP
Santa Rita João Crisostomo Ribeiro Coutinho SRHP
São João do Cariri Genival de Queiroz Torreão SRHP
São José de Piranhas José Cavalcanti da Silva Primo SRHP
São Mamede Inacio Bento de Morais SRHP
Sapé Cassiano Ribeiro Coutinho SRHP

293
A BAGACEIRA, Eleitoral

Serra Redonda Severino Dias de Almeida SRHP


Serraria Ovidio Duarte dos Santos Lima SRHP
Solanea Waldemar Alves da Nóbrega SRHP
Soledade José Ferreira Ramos SRHP
Sousa Felinto da Costa Gadelha SRHP
Sumé Newton Leite Rafael SRHP
Taperoá Manuel de Farias Souza SRHP
Teixeira Paulo de Lucena Dantas SRHP
Uirauna Ananias Alves de Figueiredo SRHP
Umbuzeiro Alcides Cabral de Melo SRHP
(Fonte: Tribunal Regional Eleitoral da Parahyba: http://www.tre.pb.gov.br. Visitado em
13.08.2010)

Flávio Ribeiro Coutinho e o advogado Renato Bastos,


foram os candidatos ao governo nas eleições de 1955.
(Fonte: Josué Sylvestre)

294
CAPÍTULO VIII

As eleições de 1958:
a derrota de um mito

“Em 1958 disputaram o Senado, José Américo


e Ruy Carneiro. Pois bem: em todos os lugares
só se encontravam eleitores de José Américo.
Mesmo pessoas empregadas por Ruy, eram
americistas. Nas apurações foi uma surprêsa
danada. Ruy venceu disparado. Então se
veriϔicou um fato nôvo: mesmo os que votavam
em Ruy, tinham vergonha de ostentar a sua
posição política. Não declinavam de público
a sua preferência, e quando o faziam, diziam-
se americistas. Mas na cabine votavam com a
gratidão – sufragavam Ruy.” (Marcus Odilon
Ribeiro Coutinho)* 1

* Marcus Odilon Ribeiro Coutinho, in PODER, ALEGRIA DOS HOMENS. João Pessoa: Grá ica
A Imprensa, p. 99/100.

295
A BAGACEIRA, Eleitoral

A
Indústria da Seca, além de outros motivos, explicam a vitória de
Ruy Carneiro na histórica eleição de 1958, pois,

Muitas foram as denúncias de desvio de verbas destinadas


ao combate à estiagem e ajuda aos lagelados. João Agripino
chegou a ameaçar reunir os retirantes numa marcha sobre a
capital do Estado, partindo de Catolé do Rocha, para denunciar
à nação o descaso das autoridades diante do pavoroso quadro
de miséria e de roubalheiras que se abateu sobre os sertões da
Paraíba.1

A acusação era a de que boa parte do dinheiro destinado ao


combate às secas foi desviado pelos intermediários do PSD para as suas
campanhas eleitorais. Recursos dos DNOCS e do DNOR destinados à seca e à
construção de estradas foram importantes para a vitória ruista.
Na versão do jornalista Severino Ramos, outros elementos
justi icam a derrota americista, a exemplo da virulenta oratória do candidato
José Américo de Almeida2 e o comando da campanha pessedista sob a
liderança de um novo personagem na política paraibana, Pedro Moreno
Gondim.
Enquanto José Américo de Almeida se excedia nos discursos
virulentos e arrogantes contra Rui Carneiro, este comandava as massas com
a sua simpatia. Muitas lideranças que participaram daquela eleição a irmam
que José Américo fora derrotado pelo próprio verbo.

1 Severino Ramos. In PARAÍBA – Nomes do Século. João Agripino. A UNIÃO EDITORA,


1991, p. 21.
2 Analisando o temperamento imoderado de José Américo de Almeida, sempre presente
nas eleições em que disputou, assim depôs Oswaldo Trigueiro: “...Para ele a virtude não
estava no meio, como queriam os romanos. Ou oito, ou oitenta. Mostrou-se sempre incapaz de
divergir ou argumentar com moderação. Em todas as campanhas de que participou conduziu-
se sempre como o mais apaixonado, o mais agressivo e o mais contundente. O adversário do
dia era sempre o pior e não merecia qualquer respeito.” (in Ob. Cit., p. 97).

296
As eleições de 1958: a derrota de um mito

Para Ivan Bichara, udenista de quatro costados, o uso da máquina,


estadual e federal e a “indústria da seca” teriam sido fatores decisivos para
a vitória do PSD, considerando a força de seus cabos eleitorais e chefes
políticos.3
Diferentemente, o líder patoense, Ernany Sátiro, que não aceitava
a ixação de regras ixas para explicar as vitórias e derrotas numa campanha
eleitoral, escolheu a imprevisibilidade da política para justi icar a derrota de
seu grupo político para Ruy Carneiro:

(...) Não há regra ixa. Ora num determinado pleito prepondera


a ação do dinheiro, ora o fator candidato, a in luência do poder
ou uma circunstância de natureza econômica, como o alto
custo de vida, e assim por diante. (...)4

O historiador Marcus Odilon atribuiu a derrota americista em


1958, a quatro motivos:

(...) a enxurrada de dinheiro e dos meios convencionais


(favores, empregos, empréstimos) pela cisão da UDN e ainda
pela própria idade do candidato.
A sêca que muito contribuiu para ascensão política do autor de
A Bagaceira, foi também o seu túmulo.5

Independentemente das reais causas da derrota, o certo é que,


após aquela histórica campanha, José Américo de Almeida experimentou o
“exílio” político espontâneo, recolhendo-se em sua casa, na Praia de Tambaú,
deixando a pugna eleitoral, mas sem abandonar a política.
Analisando um pouco a personalidade do “Solitário de Tambaú”
e a sua trajetória política, cheguei à conclusão de que “Zé” tinha medo das

3 Depoimentos prestados ao CPDOC/FGV, in Ob. Cit., p. 439.


4 Ernany Sátiro apud Aspásia Camargo, Eduardo Raposo e Sérgio Flaksman, in Ob. Cit., p.
458.
5 Marcus Odilon, in Ob. Cit., p. 115/116.

297
A BAGACEIRA, Eleitoral

urnas. Recorrendo a uma expressão do futebol, aplicável à eleição, José


Américo “não entrava em bola dividida”, ou seja, não se aventurava em
disputas eleitorais e só se candidatava quando tinha certeza da vitória. O
medo da derrota eleitoral o acompanhava sempre, senão vejamos.
Em 1955, quando considerou arriscado partir para uma disputa,
propôs “a paci icação”, esta sempre em nome dos “interesses” da Parahyba,
mas que, na verdade, trazia embutida a intensão de evitar a sua provável
derrota.
Antes, em 1947, João Agripino já tinha essa mesma impressão:

A escolha do Senado em 1947 obedeceu aos critérios clássicos,


já mencionados por ele. Insiste também João Agripino,
em sentido idêntico, dizendo: 'Nem Argemiro aceitou ser
candidato a senador, nem José Américo, porque ambos tinham
receio de perder eleição (...) 6

O melhor exemplo do que a irmo é que José Américo jamais


aceitou a derrota para o Senado em 1958, a primeira e única7 de sua longa
trajetória política, tanto que, uma vez derrotado pela primeira vez nas urnas
recolheu-se à sua solidão, na Praia de Tambaú.
O certo é que, com virtudes e defeitos, considero-o o líder político
mais enigmático da história política da Parahyba.

6 Aspásia Camargo, in Ob. Cit., p. 398.


7 Na verdade, José Américo de Almeida havia experimentado a sua primeira derrota eleitoral
em 1930, quando foi “degolado” pela Comissão de Veri icação de Poderes. A sua segunda
derrota ocorreu em 19 de setembro de 1946, para o cargo de vice-presidente da República,
só que em eleição indireta, em que perdeu para Nereu Ramos. (Walter Costa Porto, in O
Voto no Brasil. Ed. Topbooks, 2ª ed., p. 288). A derrota de 1958 foi a primeira e única
considerando o contexto político e normativo, ou seja, a eleição de 1958 foi direta e após a
instalação da Justiça Eleitoral pela “Revolução de 1930”.

298
As eleições de 1958: a derrota de um mito

RESULTADOS DAS ELEIÇÕES NA PARAHYBA EM 1958

Cargo: Senador
Partido / %
Candidato Votação Situação
Coligação válidos
Ruy Carneiro PSD 134.179 55,1% Eleito
José Américo de Almeida UDN/PL 109.160 44,8%
Votos brancos 11.888
Votos nulos 7.000
Total apurado 262.227

Legenda:
UDN/PL - Coligação UDN/PL
PSD - Partido Social Democrático

Cargo: Suplente Senador


Partido /
Candidato Votação % válidos Situação
Coligação
Salviano Leite Rolim PSD 114.299 56,3% Eleito
Virginio Veloso Borges UDN/PL 88.515 43,6%
Votos brancos 52.764
Votos nulos 6.650
Total apurado 262.228

Legenda:
UDN/PL - Coligação UDN/PL
PSD - Partido Social Democrático

299
A BAGACEIRA, Eleitoral

Cargo: Deputado Federal


Partido / %
Candidato Votação Situação
Coligação válidos
José Janduhy Carneiro PSD 23.915 9,71% Eleito
João Agripino Filho CNL 18.280 7,42% Eleito
José Jof ily Bezerra de Melo PSD 18.256 7,41% Eleito
Raul de Gós PSP 17.108 6,95% Eleito
Drault Ernany de Melo e Silva PSD 14.958 6,07% Eleito
João Úrsulo Ribeiro Coutinho CNL 13.450 5,46% Eleito
Humberto Coutinho de Lucena PSD 12.462 5,06% Eleito
Jacob Guilherme Frantz PSP 11.879 4,82% Eleito
Alcides Vieira Carneiro PSP 11.750 4,77%
Abelardo de Araújo Jurema PSD 10.779 4,38% Eleito
Luiz da Costa Araújo
CNL 10.289 4,18% Eleito
Bronzeado
Ernani Sátiro CNL 10.016 4,07% Eleito
Domicio Gondim Barreto PSD 10.001 4,06%
Plínio Lemos CNL 9.021 3,66%
Jader Silva de Medeiros PSD 8.246 3,35%
Apolônio Sales de Miranda PSD 6.537 2,65%
Ivan Bichara Sobreira CNL 6.067 2,46%
Antonio Pereira Diniz CNL 5.602 2,27%
Luiz Gonzaga de Oliveira Lima PSP 4.840 1,96%
Bianor Bezerra Lafaiete CNL 4.732 1,92%
Samuel Vital Duarte PSD 4.200 1,70%
Antonio Batista Santiago CNL 3.645 1,48%
José Mario Porto CNL 3.435 1,39%
Hermano Alfredo Neto de Sá CNL 2.773 1,12%
José Dias de França CNL 1.775 0,72%

300
As eleições de 1958: a derrota de um mito

João Holanda Cunha PSP 1.585 0,64%


Claudio de Paiva Leite CNL 284 0,11%
Praxedes da Silva Pitanga CNL 157 0,06%
José Demétrio de Albuquerque PST 44 0,01%
João Fernandes de Lima PSD 30 0,01%
Benjamim Gomes Maranhão PSP 3 0,00%
Votos brancos 12.296
Votos nulos 3.053
Total apurado 261.468

Legenda:
PSP - Partido Social Progressista
PSD - Partido Social Democrático
PST - Partido Social Trabalhista
CNL - Coligação Nacionalista Libertadora

Cargo: Deputado Estadual


Partido /
Candidato Votação % válidos Situação
Coligação
José Pires de Sá PSD 4.900 1,95% Eleito
Severino Bezerra Cabral PSD 4.050 1,61% Eleito
Antonio de Paiva Gadelha CNL 3.855 1,54% Eleito
Francisco Souto Neto PSD 3.567 1,42% Eleito
José Pereira da Costa PSD 3.519 1,40% Eleito
Francisco Pereira CNL 3.488 1,39% Eleito
Aloisio Pereira Lima PSD 3.462 1,38% Eleito
José Cavalcanti da Silva CNL 3.442 1,37% Eleito
João Batista de Lima Brandão CNL 3.353 1,34% Eleito

301
A BAGACEIRA, Eleitoral

Nivaldo de Farias Brito PSD 3.339 1,33% Eleito


Americo Maia de Vasconcelos CNL 3.327 1,33% Eleito
Manuel Arruda de Assis PSD 3.265 1,30% Eleito
Joacil de Brito Pereira CNL 3.211 1,28% Eleito
Balduino Minervino de
PSD 3.177 1,27% Eleito
Carvalho
Eduardo de Alencar Ferreira PSP 3.150 1,25% Eleito
Alvaro Gaudencio de Queiroz CNL 3.142 1,25% Eleito
José Braz do Rego PSP 3.132 1,25% Eleito
Luiz Inacio Ribeiro Coutinho CNL 3.125 1,24% Eleito
Acacio Braga Rolim PSD 3.125 1,24% Eleito
Clovis Bezerra Cavalcanti CNL 3.124 1,24% Eleito
Dirceu Arnaud Diniz PSD 3.111 1,24% Eleito
Francisco Seraphico da
CNL 3.082 1,23% Eleito
Nóbrega Filho
José Afonso Gayoso de Souza PSD 3.003 1,20% Eleito
Francisco de Paula Barreto
PSD 2.995 1,19% Eleito
Sobrinho
Geroncio Stanislau da Nobrega PSD 2.970 1,18% Eleito
João Feitosa Ventura CNL 2.955 1,18% Eleito
Ze Maranhão PSP 2.947 1,17% Eleito
Petronio Ramos de Figueiredo PSP 2.943 1,17% Eleito
Manuel Figueiredo PSP 2.939 1,17% Eleito
Wilson Braga CNL 2.898 1,15%
Antonio Leite Montenegro PSP 2.876 1,15% Eleito
José Ribeiro de Farias PSD 2.844 1,13% Eleito
Mário Silveira PSD 2.835 1,13% Eleito
Antonio Nominando Diniz CNL 2.805 1,12%
Flaviano Ribeiro Coutinho Filho CNL 2.738 1,09%

302
As eleições de 1958: a derrota de um mito

Inácio José Feitosa PSD 2.709 1,08% Eleito


José Fernandes de Lima PSD 2.695 1,07% Eleito
Vital do Rêgo PSD 2.691 1,07% Eleito
Heraldo Gadelha PSB 2.477 0,99% Eleito
Orlando Cavalcanti de Melo PSD 2.446 0,97%
Napoleão Abdon da Nobrega PSD 2.443 0,97%
Antonio D’avila Lins PR 2.428 0,97% Eleito
Jacinto Dantas Filho PSD 2.406 0,96%
Ramiro Fernandes de Carvalho PSD 2.332 0,93%
Severino Ismael de Oliveira PSP 2.332 0,93% Eleito
Antonio de Padua Ferreira de
PSD 2.329 0,93%
Carvalho
Carlos Pessoa Filho CNL 2.328 0,93%
Bivar Olinto de Melo PSD 2.309 0,92%
Silvio Pélico Porto PSD 2.276 0,91%
Egídio da Silva Madruga CNL 2.258 0,90%
Lindolfo Pires Ferreira PSD 2.258 0,90%
João Mangueira Neto PSD 2.199 0,87%
Agnaldo Veloso Borges CNL 2.196 0,87%
Marinésio da Cunha Moreno CNL 2.193 0,87%
Firmino Silva PSP 2.183 0,87%
Odilon Maia Filho PSD 2.157 0,86%
Antonio Bezerra Cabral PSD 2.150 0,86%
Osmar de Araújo Aquino PSD 2.148 0,85%
José Augusto da Silva Galvão PSD 2.123 0,84%
Genival de Queiroz Torreão CNL 2.101 0,84%
Antonio Américo de Almeida PSP 2.083 0,83%
Romeu Gonçalves de Abrantes PSP 2.082 0,83%

303
A BAGACEIRA, Eleitoral

José Teotonio da Silva PSB 2.042 0,81% Eleito


Francisco Chaves Brasileiro CNL 2.028 0,81%
Octacílio Nobrega de Queiroz PSD 1.986 0,79%
Raimundo Asfora PSB 1.972 0,78% Eleito
Geraldo Gomes Beltrão PSD 1.936 0,77%
Pedro Sabino de Farias PSD 1.762 0,70%
João Cabral Batista PSP 1.715 0,68%
Afonso Pereira da Silva PSD 1.695 0,67%
Antonio Tavares de Carvalho CNL 1.644 0,65%
Rogerio Martins Costa PSD 1.623 0,64%
José Rolim Guimarães CNL 1.615 0,64%
Manuel Roque Filho PSD 1.460 0,58%
Agassis de Amorim Almeida PSB 1.441 0,57%
Jonas Leite Chaves PR 1.398 0,55%
Osvaldo Bezerra Cascudo PR 1.389 0,55%
Aristarco Dias de Araújo PSP 1.374 0,54%
Roberto Barros da Cunha Lima PSP 1.313 0,52%
José Gildenor de Albuquerque PSP 1.279 0,51%
Souto Maior PSB 1.266 0,50%
Noaldo Moreira Dantas PSB 1.231 0,49%
José Clementino de Oliveira
PSP 1.212 0,48%
Junior
Elson da Cunha Lima PSB 1.198 0,47%
Orlando Venancio dos Santos PSP 1.192 0,47%
José de Souza Arruda CNL 1.169 0,46%
Francisco de Assis Lemos de
PSB 1.160 0,46%
Sousa
Atencio Bezerra Wanderley CNL 1.091 0,43%
Joaquim Virgolino da Silva CNL 1.090 0,43%

304
As eleições de 1958: a derrota de um mito

Juracy Cavalcanti de Arruda PSP 1.070 0,42%


Manuel Angelo da Silva CNL 1.034 0,41%
Jansen Guedes Cavalcanti PSD 991 0,39%
Arnaldo Bonifacio de Paiva PRP 956 0,38%
Alexandre da Silva Brito PSP 921 0,36%
Edivaldo de Sá Leite PR 899 0,35%
Joaquim Ferreira Filho PSB 882 0,35%
José João Torres PSB 874 0,34%
José Betamio Ferreira PSB 859 0,34%
Francisco Maia Wanderley PSB 856 0,34%
José Eloi de Souza PSD 856 0,34%
José Cecílio Batista Filho PSP 847 0,33%
José Gomes de Moura PR 801 0,32%
João Inácio de Sousa PSB 798 0,31%
Durval Lins de Miranda PR 735 0,29%
Flávio Maroja Filho CNL 711 0,28%
Severino Lucena PSP 702 0,28%
Donato de Oliveira PSD 686 0,27%
Vicente Leite Rolim PSB 660 0,26%
Messias Pessoa de Sousa PSP 660 0,26%
Antonio Xavier da Silva PSD 627 0,25%
Almir Pereira Ferreira Lopes PR 595 0,23%
Edésio Rangel de Farias PSB 593 0,23%
Mario Torres de Andrade PSB 589 0,23%
Heitor Coutinho Maroja PSD 566 0,22%
Francisco de Assis Nogueira PRP 564 0,22%
Abdias dos Santos Passos PSD 470 0,18%
Jovaní Paulo Neto PSP 456 0,18%

305
A BAGACEIRA, Eleitoral

Severino Domingos da Silva PSB 446 0,17%


Antonio Holanda Moura CNL 446 0,17%
José Barros Sobrinho CNL 445 0,17%
José Daniel Duarte PSB 437 0,17%
Heleno Henrique da Silva PSP 437 0,17%
Carlos de Carvalho Pinto PRP 424 0,17%
Euclides Cavalcanti Ribeiro PSP 413 0,16%
José Maria dos Santos PR 412 0,16%
Genaro Herculano de Souto PSB 408 0,16%
Antonio de Sousa Freitas PRP 396 0,15%
José Feliciano da Silva PRP 393 0,15%
Carlos Neves da Franca PSB 390 0,15%
Gabriel Barbosa de Farias PR 376 0,15%
Miguel Jansen Filho PSD 374 0,15%
Lourival Cavalcanti de Oliveira PSP 373 0,14%
Manuel Viana Correia PRP 369 0,14%
Nicodemus Cardoso Cananéa PSD 367 0,14%
Dorgival Roque da Silva PRP 364 0,14%
Renato Teixeira Bastos PR 359 0,14%
Alfredo S. de Araújo PR 345 0,13%
Severino Galvincio Ribeiro PSP 345 0,13%
Julio Maia Bandeira de Melo PSB 334 0,13%
Josué Silvestre da Silva PSB 304 0,12%
Alfredo Pessoa de Lima PRP 289 0,11%
Samuel Correia de Brito CNL 262 0,10%
Luis Bernardo da Silva PSB 260 0,10%
Cypriano Galvão da Trindade PRP 257 0,10%
Celso Matos Rolim PSP 242 0,09%

306
As eleições de 1958: a derrota de um mito

Severino Pessoa Guimarães PR 235 0,09%


José de Oliveira Ramos PR 210 0,08%
Manuel Barbosa da Silva PR 209 0,08%
Maurício Araújo de Sousa PRP 195 0,07%
Antonio Tancredo de Carvalho CNL 188 0,07%
Vicente Ferreira de Araújo PRP 166 0,06%
Antonio Vital Gomes PRP 161 0,06%
José Garcia Galvão PSD 158 0,06%
Otávio de Sá Leitão Filho PSB 147 0,05%
João Belizio de Araújo PSD 138 0,05%
Laudelino Cordeiro de Araújo PR 135 0,05%
Silvio Fernandes da Silva PSB 117 0,04%
Euclides Gomes de Brito PRP 106 0,04%
Alfredo Ferreira de Barros PRP 91 0,03%
João Soares de Carvalho PSB 90 0,03%
Aguinaldo Lins de Miranda PR 87 0,03%
Cesar Nogueira Rolim PRP 83 0,03%
Severino José dos Santos PSP 82 0,03%
Carlito Mendes Caminha PSP 79 0,03%
José Coelho Nóbrega PR 63 0,02%
Newton Lelis de Carvalho PRP 63 0,02%
Dimas Batista de Toledo PSP 62 0,02%
Clécia Simões Lopes PR 57 0,02%
Claudio Cavalcanti Procópio PR 56 0,02%
Manuel Alexandrino Leite PRP 53 0,02%
Severino Oliveira PSB 50 0,02%
Francisco Leite Piancó CNL 44 0,01%
Antonio Candido Ferreira PSP 40 0,01%

307
A BAGACEIRA, Eleitoral

Durval Queiroz Correia PRP 22 0,00%


Beijamin Gomes Maranhão PSP 21 0,00%
Severino da Silva Nogueira PRP 21 0,00%
José Severino de Andrade PSP 17 0,00%
Tiburcio Andréa Magliano PR 16 0,00%
Francisco Macedo Dias PRP 14 0,00%
Dinarte dos Santos PRP 3 0,00%
Euclides dos Santos Leal Filho PRP 2 0,00%
Raimundo Mariano da Silva PSB 1 0%
Votos brancos 7.752
Votos nulos 3.793
Total apurado 261.659

Legenda:
PSP - Partido Social Prgressista
PR - Partido Republicano
PSD - Partido Social Democrático
PRP - Partido de Representação Popular
CNL - Coligação Nacionalista Libertadora
PSB - Partido Socialista Brasileiro

(Fonte: Tribunal Regional Eleitoral da Parahyba: http://www.tre.pb.gov.br. Visitado em


13.08.2010)

308
As eleições de 1958: a derrota de um mito

Eleições municipais de 1959

As eleições foram realizadas em 02 de agosto de 1959, para o


cargo de prefeito. A eleição de vice-prefeito ocorreu no dia 03 de outubro,
juntamente com a eleição para vereador.

Campina Grande

Assim que o empresário Severino Cabral rompeu o Partido


Libertador e foi “cair nos braços” do PSD, Ruy Carneiro entregou a
presidência do partido ao deputado assistencialista, “Seu Cabral”.
De sua parte, Argemiro Figueiredo lançou outro empresário e
banqueiro, Newton Rique, enquanto que João Agripino fazia opção pelo
nome de José Jof ily, sem êxito.
Segundo Josué Sylvestre, duas pessoas tiveram uma participação
decisiva na campanha cabralista de 1959: o deputado federal Drault
Ernany, apoiador inanceiro da campanha, e o publicitário R. Jorge Albano,
responsável pelo marketing político-eleitoral da campanha.8
Ridicularizado nos comícios do adversário pelo genial orador
Raymundo Asfora, que lhe deu o cognome de PÉ-DE- CHUMBO, Cabral
passou a usar o jargão como símbolo principal de sua campanha,

8 Para Josué Sylvestre, foi Albano quem teria inaugurado o marketing político-eleitoral na
provinciana política de Campina Grande: “...Baseado nas pesquisas que eram levantadas
permanentemente, Albano orientava o direcionamento dos textos escritos pelo excelente
articulista pernambucano Geraldo Seabra, as peças publicitárias preparadas no Recife e as
músicas compostas por Ademar Paiva, consagrado compositor recifense. A ϔigura de Jorge
Albano virou mito. Como ele pouco aparecia em público e era totalmente desconhecido das
‘rodas’ de comentários políticos, muita gente achava que Albano não existia. Era uma invenção
da assessoria cabralista.” (in NACIONALISMO & CORONELISMO – FATOS E PERSONAGENS
DA HISTÓRIA DE CAMPINA GRANDE E DA PARAÍBA (1954/1964). Brasília: Ed. Senado,
1988, p. 206.

309
A BAGACEIRA, Eleitoral

Chaveiros, broches, uma série de brindes foram confeccionados


com a forma de um pé-de-chumbo, além do seu uso em outras
peças publicitárias.

“O feitiço virou contra o feiticeiro”. A “deixa” de Raymundo Asfora


ao invés de simbolizar o atraso e o imobilismo atribuídos a Cabral, foi
transformado pelo seu marketeiro na ideia de vigor, força e coragem para
derrotar o adversário.
Da parte de Severino Cabral, a sua assessoria de marketing deu
a resposta, criando duas imagens que representaram os dois principais
candidatos: “o cofre de ouro”, numa alusão à fortuna pessoal de Newton
Rique e “a panela de barro”, simbolizando a simplicidade cabralista.9 Assim, a
disputa se daria entre o candidato dos ricos contra o candidato dos pobres.
Além da presença de um marketeiro na campanha eleitoral de
Campina Grande, foi nessa eleição que, pela primeira vez, um candidato a
prefeito apresentou um projeto de governo.10
O fato pitoresco dessa campanha eleitoral foi a famosa “operação
fura-pneus”, operada pelos adeptos da candidatura cabralista na noite
que antecedeu o pleito, conforme relata de forma ímpar, o jornalista Josué
Sylvestre:

Ciente de que a classe média alta e os principais empresários


campinenses apoiavam, preponderantemente, a candidatura
de Newton Rique e que, nessas condições, a grande maioria
dos automóveis particulares iria circular, no dia do pleito, em
apoio àquele nome, o staff cabralista procurou 'dar a volta por
cima.'

9 Na prática, a fortuna de Severino Cabral fosse muito superior a do banqueiro. (Josué


Sylvestre, in Ob. Cit., p. 217).
10 Recentemente, a partir da vigência da Lei Eleitoral nº 12.034, os candidatos ao Poder
Executivo, no Brasil, devem apresentar, no momento em que pedem os seus registros de
candidatura na Justiça Eleitoral, os projetos de governo. Nesse aspecto, podemos dizer que
o candidato Newton Rique era um político à frente de seu tempo.

310
As eleições de 1958: a derrota de um mito

A decisão emanada da 'assessoria doméstica' foi furar os pneus


de todos os carros cujos proprietários eram reconhecidamente
adeptos do candidato argemirista. Não é possível assegurar
exatamente quem idealizou e participou da elaboração
do esquema, mas o fato é que ele foi executado como uma
verdadeira manobra de guerra, onde não faltou coragem,
rapidez, disciplina e porque não dizer, insensatez, também.
Por um triz, não houve fatos lamentáveis a registrar como
ferimentos ou mortes.
Depois das 24 horas em todas a zona central da cidade, e nos
bairros de São José, Prata e Conceição, grupos de 3 a 5 pessoas
fortemente armados e munidos também de instrumentos
pontiagudos de aço ou de ferro, 'visitaram' praticamente todas
as ruas daqueles setores, furando os pneus dos automóveis,
jipes, caminhonetes, ônibus, todos os veículos marcados
com propaganda de Newton Rique, ou os reconhecidos
ou 'suspeitos' de pertencerem a correligionários dessa
candidatura.
Enquanto um integrante da equipe procurava furar, se possível,
todos os pneus do carro, os outros icavam em posição de
alerta para evitar surpresas.
Quando o dia amanheceu e os argemiristas procuraram os
carros para o início da árdua tarefa de transportar os eleitores
dos bairros e subúrbios para as seções eleitorais, a surpresa
tomou conta dos arraiais do petebismo.11

Diante de tantas estratégias de guerra, não deu outra, Severino


Cabral venceu por uma diferença de mais de mil votos. Dias depois, o seu
vice, Lúcio Rabelo também venceu Bonald Filho, candidato a vice na chapa
de Newton Rique. A grande surpresa da eleição foi a votação do vice Lúcio
Rabelo, que foi superior a de Newton Rique.

11 Completa Josué Sylvestre sobre o episódio: “Nas primeiras horas, a autoria dos ‘atentados’ à
propriedade privada foi logo atribuída ao pessoal do PC. Nos telefonemas, nas ϔilas dos locais
de votação, no Largo da Flórida e na Praça da Bandeira, diziam os adeptos de Newton Rique
– ‘isso é coisa de comunistas’ (…). Não era. Tudo foi meticulosamente arquitetado debaixo
do maior sigilo por elementos da ‘assessoria doméstica’, de Severino Cabral, no melhor estilo
coronelista.” ( in Ob. Cit., p. 263/264).

311
A BAGACEIRA, Eleitoral

Dentre os vereadores eleitos pelo PTB, destaca-se Ronaldo Cunha


Lima, que obteve 942 votos.

Cajazeiras

Nessa eleição, se repetiu o que ocorrera na eleição anterior.


O candidato a vice da chapa do PTB, Epitácio Leite Rolim teve a votação
superior ao seu companheiro de chapa, Sabino Rolim Guimarães. A diferença
é que Epitácio foi o candidato vitorioso para vice-prefeito, enquanto que o
candidato da chapa oposicionista, Otacílio Jurema, que concorreu pelo PSP
de Ademar de Barros, foi o prefeito eleito.
Desse modo, o que caracterizou essa eleição municipal em
Cajazeiras foi que a disputa não se deu entre a UDN e o PSD, como nas
eleições anteriores, mas entre o PTB e o PSP.12

Guarabira

A eleição de 1959 em Guarabira representou o confronto entre


as duas principais lideranças antagônicas da política local: de um lado, o
prefeito Osmar de Aquino, que pretendia fazer o seu sucessor; de outro, o
secretário do Interior e Justiça, Sílvio Pélico Porto. Aedson Guedes assim
comentou o clima de disputa, naquela eleição:

O Prefeito Osmar de Aquino, que se encontrava desgastado


politicamente, apesar de estar realizando uma administração
do tipo populista, promovendo distribuição de recursos
públicos aos necessitados, procurou Augusto de Almeida
para fazer uma coligação dos partidos PL/PSD, como saída
para derrotar o rival: Sílvio Porto – o qual exercia o cargo de
Secretário do Interior e Justiça do Governo ‘Pedro Moreno
Gondim’.

12 Francisco Cartaxo Rolim, in Ob. Cit., p. 144/145.

312
As eleições de 1958: a derrota de um mito

Servindo-se da sigla PRT – Partido Rural Trabalhista – Sílvio


Porto e Edson Montenegro da Cunha, tiveram seus nomes
homologados para disputarem os cargos de Prefeito e Vice.
O coronel Francisco Pimentel da Cunha (Cozinho) – os
Vereadores José Alves de Souza e Severino Montenegro da
Cunha tornaram-se as lideranças maiores da campanha
portista.
Enquanto os comícios dos portistas eram reduzidos, os
comíciios dos americistas/osmaristas eram monstruosos, cujas
passeatas arrastavam enormes multidões.13

O candidato apoiado pelo prefeito, Augusto de Almeida, venceu


àquele pleito, bem como seu vice, Antônio F. da Costa.

Patos

As eleições de 1959 para a prefeitura de Patos foram bastante


acirradas. Dois candidatos concorreram ao cargo de prefeito e três
disputaram o de vice-prefeito. Bivar Olintho de Melo e Silva venceu José
Cavalcanti, enquanto que Otávio Pires de Lacerda foi eleito vice.
Para o Poder Legislativo municipal, os candidatos Abdias Guedes e
Cícero Lúcio de Sousa foram reeleitos para o terceiro mandato consecutivo.
A ordem de votação, foi a seguinte:

Prefeito Votação
Bivar Olintho de Melo e Silva 4.802 votos
José Cavalcanti 3.959 votos

Vice-prefeito
Otávio Pires de Lacerda 3.238 votos
Francisco Soares de Sá 3.076 votos
Bossuet Wanderley da Nóbrega 2.228 votos

13 Aedson Guedes, in Ob. Cit., p. 25.

313
A BAGACEIRA, Eleitoral

Os vereadores eleitos foram: Abdias Guedes Cavalcanti, Antônio


Clementino da Nóbrega, Arlindo Wanderley da Nóbrega, Cícero Lúcio
de Sousa, Ramiro Gondim Barreto, Severino Rodrigues Neves, Valdenor
Gonçalves de Abrantes e Walter Ayres Araújo.

São José de Piranhas

Venceu José Lacerda Neto por uma pequena maioria de 56


votos. Posteriormente, foi eleito deputado estadual em 1962 pelo PSB e
sucessivamente reeleito até a década de 90. Foi o parlamentar mais antigo
do país, com mais de dez mandatos consecutivos, o que não garantiu ao seu
principal reduto eleitoral, o Município de São José de Piranhas, um nível
de desenvolvimento correspondente à brilhante trajetória política do seu
representante.
A sua carreira política foi encerrada com a eleição de vice-
governador do estado, em 2006, e interrompida com a cassação do seu
mandato pela Justiça Eleitoral, juntamente com o governador Cássio
Rodrigues da Cunha Lima, por prática de abuso de poder nas eleições.

Santa Rita

As eleições de 1959 em Santa Rita foram marcadas pelo


surgimento de uma liderança emergente de Bayeux, então distrito de Santa
Rita.
Apoiado por operários e comerciantes, organizou a Frente Popular
ao lado de outras lideranças e lançou a campanha intitulada de o “Tostão
contra o Milhão”, contra a oligarquia udenista santaritense representada
pelos usineiros.

314
As eleições de 1958: a derrota de um mito

A Coligação da Frente Popular, apoiada por operários e pelo


Sindicato dos Tecelãos lançou os candidatos do PSB/PSD, Antônio Aurélio
Teixeira de Carvalho e Lourival Alves Caetano, a prefeito e vice-prefeito,
respectivamente, enquanto que a Coligação integrada pela UDN e pelo PTB
lançaram o banqueiro João Raposo Filho e Abiathar Vasconcelos. Segundo
depoimentos orais prestados à historiadora Martha Falcão, aquela eleição
municipal em Santa Rita,

Foi a mais bela campanha política que já se travou em Santa


Rita neste século. O povo cantava nas ruas e os comícios com
suas passeatas, bandas de música, escolas de samba, eram
verdadeira apoteose.
Ambas as agremiações organizaram suas alas ‘formadas das
moças mais bonitas da cidade, que des ilavam nas passeatas
carregando as bandeiras dos Partidos Políticos e usando
uniformes de gala, numa verdadeira festa cívica.
Dirigida agora por Milton Veloso Borges, a Fábrica Tibiri
manteve certa simpatia pela campanha oposicionista,
fornecendo, inclusive, todo o material para as faixas, lenços
de campanha, além de apoiar o icialmente a candidatura dos
vereadores seus operários, embora não o icializando esse
apoio à campanha, talvez em virtude dos laços de parentesco
com os usineiros.14

14 Martha Falcão, in Ob. Cit., p. 275.

315
CAPÍTULO IX

Um novo fenômeno
eleitoral na Parahyba

“Tá com medo? O homem é Pedro.”

317
A BAGACEIRA, Eleitoral

D
epois da histórica campanha eleitoral de 1950 para o governo do
estado, a de 1960 parece ter sido a mais movimentada de todos os
tempos e a que mais mexeu com as paixões do eleitorado paraibano,
a tal ponto de, segundo testemunho do jornalista Benedito Maia,

Houve, pela primeira vez na Paraíba, a colocação de grandes


garrafões em portas de casas comerciais que se destinavam
a recolher contribuições populares para as despesas da
campanha de Pedro Gondim.1

O rompimento de Pedro Gondim com o pessedismo de Ruy


Carneiro foi o fato relevante que da campanha eleitoral de 1960. Janduy
Carneiro, irmão de Rui, quis por que quis ser o candidato do PSD. A UDN,
liderada à época por João Agripino, recebeu de braços abertos a candidatura
de Pedro.
O queremismo gondinista sacudiu o eleitorado paraibano,
conforme depõe Marcus Odilon Ribeiro Coutinho:

Lançados os candidatos, foram eles às ruas antes de irem


às urnas. Nunca desde 45, o povo participou com tanto
entusiasmo de uma campanha como a de 60. Ninguém icou
em casa: os comícios, quase diários, atestavam a disposição
popular de entregar-se com alma à campanha. Até dinheiro e
roupa deram a Pedro Gondim em Praça pública.2

Porém, a vitória de Pedro não seria uma realidade se não fosse


o uso da máquina administrativa do estado, como aconteceu em tantas
campanhas eleitorais da Parahyba. Seguindo uma praxe nas eleições do
nosso estado, antes de se desincompatilizar do cargo para concorrer naquele
pleito, Pedro Gondim enviou um projeto de lei à Assembleia Legislativa
em que propunha um aumento ao funcionalismo estadual, muito além dos

1 In GOVERNADORES DA PARAÍBA. 1947-1991. 4ª edição, p. 65.


2 In Ob. Cit., p. 129.

318
Um novo fenômeno eleitoral na Parahyba

índices da in lação, chegando a possibilidade de triplicar o salário de um


pro issional da área de saúde.
Como se não bastasse, através do referido projeto, Pedro
equiparou os vencimentos dos funcionários inativos aos dos funcionários
da ativa, o que representou um aumento médio do a seis vezes do que os
aposentados percebiam antes. A Assembleia Legislativa, composta pela
maioria pessedista, estendeu o bene ício a outras funções. Resultado, o
ônus para pagar a conta coube a José Fernandes de Lima, correligionário de
Janduy Carneiro. Com o atraso no pagamento, Pedro saiu como o benfeitor
do funcionalismo público e os seus adversários como os vilões.
Essa estratégia foi fundamental para a vitória do queremismo.
Para Marcus Odilon, além da inteligência do líder alagoanovense, outros
fatores se somaram para permitir o êxito do gondinismo naquela eleição: o
fato do PSD dispor da máquina governamental; fatores de ordem psicológica
do eleitorado, motivados pelo slogan - Está com medo? Está com Pedro - que
in luenciou no consciente e no subconsciente dos eleitores que votaram nele
sem explicar o motivo.
Houve outros elementos, considerados de menor importância
para o êxito da vitória gondinista: o erro político dos que insistiram na
candidatura do seu opositor, Janduy Carneiro; o tipo de governo exercido por
José Fernandes de Lima; o empréstimo; os oradores de Pedro, o protocolo
Cabral, a coragem de D. Sílvia e sua ala feminina e o apoio comunista ao
candidato do governo.3
Decisivo ainda para o sucesso da candidatura gondinista foi a
escolha do candidato a vice-governador, que recaiu sobre o líder de Sousa,
André de Paiva Gadelha (Zabilo Gadelha), de família tradicional na política
e representante da elite industrial e agropecuária do estado. Desse modo, a
chapa estava equilibrada, vez que dosada com o populismo de Pedro Gondim

3 Marcus Odilon, in Ob. Cit., p. 133/134.

319
A BAGACEIRA, Eleitoral

e a liderança tradicional dos Gadelha, representando a estrutura ruralista do


estado.
O fator fundamental para a vitória da chapa foram os sucessivos
aumentos na remuneração do funcionalismo público estadual concedidos
por Pedro Gondim. Entre 1959 e 1963, foram três as substanciais elevações
nos vencimentos dos barnabés estaduais que, em retribuição, votaram
maciçamente no seu benfeitor.

O uso do Jornal A UNIÃO na campanha de Pedro Gondim

(...) A imprensa, portanto, ajuda a produzir as cenas que serão


protagonizadas pelos políticos em busca da sedução do público,
transparecendo assim as disputas simbólicas dos políticos
em períodos de campanha, ou em momento de crise sócio-
econômica, em prol da concretização de uma legitimidade no
poder. (Railane Alves de Araújo)4

Pedro Gondim soube utilizar a máquina estatal em bene ício de sua


candidatura, principalmente o jornal o icial do estado, A UNIÃO. Até março
de 1960, enquanto esteve no exercício do cargo de governador interino,
Pedro foi protagonista de um verdadeiro espetáculo de poder político,
apresentando-se aos paraibanos como uma liderança capaz de resolver as
suas di iculdades.
Vale registrar que a Parahyba é o único estado da federação
brasileira que se dá ao luxo de possuir um jornal e uma emissora de rádio

4 Quarenta e seis anos depois, nas eleições para governador, em 2006, o candidato à reeleição,
Cássio Rodrigues da Cunha Lima repetia a mesma conduta. Processado por abuso de poder
político, foi condenado pelo Tribunal Regional Eleitoral da Parahyba pelo uso do jornal
o icial em prol de sua reeleição. O caráter estatal do Jornal A UNIÃO explica as constantes
alterações nas suas linhas editorais icando ao sabor das mudanças dos governantes que
disputam o poder do estado. É impossível imaginar que seus administradores deixem de
exercer o controle sobre a produção e circulação de suas notícias e informações.

320
Um novo fenômeno eleitoral na Parahyba

também o icial, considerados “Patrimônios do Estado”, caso singular no país,


o que lhe dá

uma posição de frente no que diz respeito à construção de


imagens e representações para classi icar e legitimar os líderes
políticos locais.5

Entre 04 de janeiro de 1958 e março de 1960, período de sua


interinidade no governo do estado da Parahyba, Pedro Moreno Gondim
conviveu com a política desenvolvimentista de Juscelino Kubitschek e os
seus planos de “salvação” para o Nordeste.
Utilizando-se do jornal A UNIÃO, o governador procurou
representar, no estado, os mesmos valores e símbolos encarnados por
Juscelino, ou seja, desenvolvimento e progresso. Analisando os editorais do
referido jornal entre janeiro de 1958 a março de 1960, Railane Martins de
Araújo constatou que os feitos do governante local eram superdimensionados
com o im de criar no imaginário popular a ideia de que o governante estava
resolvendo todo os males causados pela estiagem:

Fato notável é que os anos de 1958 e 1959 foram marcados


por uma forte estiagem, o que tornava o cenário propenso
às engenhosidades do poder administrativo. A prática da
promoção política às custas das necessidades da população
é recorrente na cultura política local. Construir uma imagem
de grande benfeitor, com um discurso voltado para os mais
humildes, se torna uma fértil opção para obter apoio e votos
populares, possibilitando assim, a sedimentação de campanhas
e carreiras políticas sobre tais enunciações e práticas. A
massi icação desse discurso sobre as secas e sobre a pobreza
da região Nordeste desembocou na criação da Sudene em
1959.6

5 Railane Martins de Araújo. In O governo de Pedro Gondim e o Teatro do poder na


Paraíba – Imprensa, imaginário e representação (1958-1965). Dissertação de
Mestrado. João Pessoa: Fevereiro de 2009, p. 20.
6 Railane Martins de Araújo, in Ob. Cit., p. 30.

321
A BAGACEIRA, Eleitoral

A Secretaria de Viação e Obras Públicas, criada no governo de José


Américo de Almeida e que fora administrada pelo próprio Pedro Gondim, era
o principal instrumento de atuação do Governo gondinista para socorrer as
vítimas da estiagem no estado.
Ao lado da ação da Secretaria de Viação e Obras Públicas, o jornal
A UNIÃO ajudava a pavimentar a campanha de Pedro Gondim, exaltando
a imagem do governador, apresentando-o aos paraibanos como um
administrador dinâmico e operoso, indispensável ao desenvolvimento do
estado, isto porque,

O sujeito que almeja alcançar uma identi icação com o


público eleitor, se apoia nas necessidades sociais assumindo a
roupagem de 'salvador' e solucionador de tais problemas, para
promover sua imagem e legitimar seu domínio.7

As imagens do candidato Pedro Gondim nos jornais paraibanos


foram um espetáculo à parte nas eleições estaduais de 1960. O candidato
procurou identi icar-se com o eleitorado através do forte uso de imagens,
símbolos e discursos espalhados no Estado através dos jornais, inicialmente
por meio do jornal A UNIÃO e, depois, já fora do governo, através dos jornais,
O NORTE e DIÁRIO DA BORBOREMA.
Assim, o “queremismo” gondinista surgiu em 1959, um ano antes
da eleição e da apresentação das candidaturas, quando o então governador
interino Pedro Gondim promoveu a sua auto-imagem no jornal o icial.
Dois fatos cercaram a candidatura de Pedro Gondim ao governo
do estado: o primeiro, no campo da legalidade, a sua discutível elegibilidade,
posto que era um vice-governador no exercício do mandato; o segundo,
relativo ao rompimento com o seu partido, o PSD.

7 Railane Martins de Araújo, in Ob. Cit., p. 38.

322
Um novo fenômeno eleitoral na Parahyba

A legislação eleitoral da época não previa o instituto da reeleição,


daí porque os adversários de Pedro Gondim espalharam a sua inelegibilidade
para o governo do estado. Contra-argumentando, Gondim usou o discurso da
interinidade para defender que era elegível.
Para não pairar dúvidas sobre a sua candidatura, Pedro renunciou
ao mandato de vice-governador, motivado também pelo agravamento do
estado de saúde do então governador, Flávio Ribeiro Coutinho.
Mesmo com a renúncia, Gondim teve a sua candidatura impugnada
pelo PSD junto ao Tribunal Regional Eleitoral, que o considerou apto para a
disputa.
A coragem de romper com o cacique pessedista Ruy Carneiro e
de renunciar ao cargo de vice-governador deram a Pedro Gondim a fama de
político corajoso. No imaginário popular, criou-se a igura de um candidato
identi icado com o povo e com ousadia su iciente para enfrentar os
poderosos. Daí, o slogam que se tornou célebre naquela campanha eleitoral,
contagiando os eleitores gondinistas em todo o Estado e que até hoje é
lembrado pelos que participaram daquela campanha memorável:

Quem é o homem? O homem é Pedro! Tá com medo? Não, tô


com Pedro!

Rompendo com o ruismo, Pedro Gondim icava sem os meios


inanceiros para levar a sua campanha adiante. Mesmo assim, não
desanimou, pelo contrário, compensou nos discursos o que lhe faltava no
bolso para bancar o seu projeto político. Em resposta à falta de dinheiro,
a irmava que

não tenho dinheiro, mas o povo da Paraíba tem muito caráter.”8

8 Railane Martins de Araújo, in Ob. Cit., p. 44.

323
A BAGACEIRA, Eleitoral

Em resposta ao chefe Ruy Carneiro, que lhe impôs a vexatória


expulsão do PSD, em virtude de seu rompimento com o partido, registrou
para a posteridade a frase que se tornou célebre na história política da
Parahyba:

Pre iro ser expulso por rebeldia a ser condecorado por


subserviência.

O jornal O NORTE, que também serviu de instrumento para a


apologia da candidatura gondinista, em 1º de maio de 1960, publicou, na
íntegra, a correspondência provocativa enviada por Gondim a Ruy, acerca do
rompimento:9

João Pessoa, 30 – Senador Ruy Carneiro – Pre iro se expulso


por rebeldia a ser condecorado por subserviência. Só não
poderão devolver é o meu grande trabalho já incorporado
ao patrimônio do Partido e à vitória de V. Excia. Sou expulso
porque não aceitei a candidatura do seu irmão. E qual a
sentença que se imporá ao povo paraibano por derrotá-lo nas
urnas em 3 de outubro? - Pedro Gondim.10

Segundo os editoriais dos jornais O NORTE e DIÁRIO DA


BORBOREMA, Janduy Carneiro representava o continuísmo e Pedro
Gondim a mudança, a renovação. Os aludidos jornais faziam a propaganda
negativa do governo administrado pelo ruista José Fernandes, presidente

9 Com base nas lições de Irlys Barreira, Railane Martins de Araújo a irma que o signo da
ruptura é recorrente nos processos políticos nas campanhas políticas da Parahyba ao
longo da história: “o discurso da ‘ruptura’ apareceu em diferentes momentos, forjando
uma cultura política a qual sempre que necessário é evocada pelos políticos locais, como
no caso de Gondim.” Segundo a mesma autora, no jogo eleitoral paraibano, dois elementos
são responsáveis pelos signi icados das disputas eleitorais: o novo e o povo. Articulados,
tornam-se as representações mais recorrentes nas campanhas eleitorais. No caso de Pedro
Gondim, a ruptura com o PSD representou o discurso do novo e nas mãos do povo (no caso,
os eleitores), estavam sendo colocada a alternativa para o futuro da Parahyba. (In Ob. Cit.,
p. 46 e 49).
10 Railane Martins de Araújo, in Ob. Cit., p. 45.

324
Um novo fenômeno eleitoral na Parahyba

da Assembleia Legislativa, considerado um governo oligarca e corrupto;


protetor da pistolagem e da capangagem; empreguista e dilapidador do
dinheiro público, segundo os seus editoriais.
Demostrando ser um profundo conhecedor das massas, Pedro
Moreno Gondim chegou a evocar signos que marcaram a memória política de
1930, ao utilizar, num discurso realizado na Lagoa (Parque Solon de Lucena),
a expressão NEGO, que identi icou João Pessoa:

Para a irmar os novos rumos, as tendências modernas do


Estado, termos fatalmente de negar as práticas superadas,
as crenças abolidas, as normas vencidas, o edi ício ameaçado
de ruir à força irresistível do tempo...Por isso senhores
convencionais, em nome de nossa Paraíba e de sua vocação
dinâmica, de seu desejo ardente de implantar um Governo
atual em meio a uma política renovada, aceito vossos reclamos
e publicamente:
NEGO a conspiração dos que resistem à vitória, na Paraíba,
do Governo popular, fundamentado na consulta direta
as tendências de opinião e na convocação para as tarefas
administrativas dos legítimos valores 'oriundos do povo. (…).
(O NORTE, 17 de maio de 1960, p. 4).11

Fora do poder, Pedro Gondim não podia mais contar com o jornal
12
A UNIÃO, que passou a fazer a propaganda negativa de sua candidatura,
tachando-o de ingrato, oportunista e traidor, ao mesmo tempo em que fazia
apologia de Janduy Carneiro, o candidato pessedista, governista e herdeiro
político do senador Ruy Carneiro.

11 Railane Martins de Araújo, in Ob. Cit., p. 48.


12 É óbvio que a linha editoria do jornal o icial mudou signi icativamente a partir da posse
de José Fernandes de Lima. Este, logo que assumiu o Governo, demitiu boa parte dos
pro issionais de imprensa e editores de A UNIÃO que serviram no governo anterior.
Destarte, o que antes seria um governo operoso, dinâmico e desenvolvimentista, a
administração de Pedro Gondim passou a ser considerada caótica, corrupta, atrasada e
símbolo das mazelas sociais do estado.

325
A BAGACEIRA, Eleitoral

A propaganda o icial não foi capaz de vencer a vontade popular,


que preferiu eleger Pedro Moreno Gondim governador da Parahyba.
Não aceitando o resultado, o jornal A UNIÃO procurou justi icar
a derrota do candidato o icial, pintando um quadro negro para o futuro do
estado com a vitória do candidato oposicionista.

RESULTADOS DAS ELEIÇÕES NA PARAHYBA EM 1960

Cargo: Vice Presidente


Partido / %
Candidato Votação Situação
Coligação válidos
João Belchior Marques Goulart 122.471 48,4% Eleito
Nilton Campos 103.909 41,1%
Fernando Ferrari 26.269 10,3%
Votos brancos 26.413
Votos nulos 6.584

Cargo: Governador
Partido / %
Candidato Votação Situação
Coligação válidos
Pedro Moreno Gondim 148.960 54,5% Eleito
José Janduhy Carneiro 124.041 45,4%
Votos brancos 8.165
Votos nulos 4.479

Cargo: Vice Governador


Partido / %
Candidato Votação Situação
Coligação válidos
André de Paiva Gadelha 100.586 39,7% Eleito
Jacob Guilherme Frantz 98.258 38,7%
Hermano de Sá 23.922 9,44%
Antônio Dávila Lins 17.834 7,04%
José Fernandes Vieira 12.683 5,00%
Votos brancos 20.805
Votos nulos 9.271

Fonte: Tribunal Regional Eleitoral da Parahyba: http://www.tre.pb.gov.br. Visitado em


13.08.2010.

326
CAPÍTULO X

1962: Eleição e
Reforma Agrária

“Na várzea do Paraíba,


há verdes canaviais...
Léguas e léguas de terras,
vastos domínios feudais,
sesmarias mergulhadas,
nos tempos coloniais.”
(Raymundo Asfora)

327
A BAGACEIRA, Eleitoral

A
“Revolução de 1930”, embora tenha cercado de maiores garantias o
voto secreto, editado o primeiro Código que tratasse de eleições e
transferido todo o processo eleitoral a órgãos do poder judiciário,
não foi capaz de mudar a estrutura fundiária do país, que permaneceu
intacta, concentrada nas mãos de poucos, Senhores de Engenhos e Coronéis
do interior, donos da terra, de homens e dos seus votos.
Essa estrutura agrária começou a ser questionada a partir da
década de 1960, período em que a Parahyba começou a experimentar
momentos de efervescência social promovidos pelas Associações de
Lavradores e Trabalhadores Agrícolas que em nosso estado receberam o
nome de Ligas Camponesas.1
Segundo um dos seus líderes, durante as reuniões dessas
associações os trabalhadores não podiam tecer nenhum comentário sobre
política partidária, embora não se admitisse qualquer discriminação a quem
fosse militante de partidos políticos.2
Nessa fase e durante o processo eleitoral, os trabalhadores rurais
sofriam constrangimentos morais3 de toda ordem por parte de seus patrões,
con irmando ainda, mesmo depois da “Revolução de 30”, as práticas do voto
de cabresto e do mapismo, conforme depõe o escritor Assis Lemos:

1 A primeira Liga Camponesa que surgiu na Parahyba foi a Associação dos Lavradores e
Trabalhadores Agrícolas de Sapé, fundada em fevereiro de 1958, com a inalidade de prestar
assistência social e jurídica aos seus associados. Dentre os seus fundadores, destacaram-se
o líder João Pedro Teixeira (Vice-Presidente); Pedro Inácio de Araújo (Pedro Fazendeiro,
(Primeiro Secretário) e o seu orador, João Alfredo Dias (Nego Fuba).
2 Francisco de Assis Lemos, in NORDESTE – O Vietnã que não houve. Ligas camponesas e
o golpe de 64. Edições Linha D’água, 2ª ed., p. 24.
3 Narra Assis Lemos que nas Usinas da região de Várzeas do Paraíba havia o “cabouco”, que
era o local onde se puniam os camponeses que reclamassem das condições de trabalho ou
que, nas eleições, não votassem nos candidatos dos usineiros: “Era um tanque escuro,
onde se colocava o trabalhador, que ϔicava horas com água até a altura da boca, misturando
urina e fezes até que, na iminência de afogamento, o retirassem. Muitos morriam.” (Francisco
de Assis Lemos. As Ligas Camponesas. In A PARAÍBA NOS 500 ANOS DO BRASIL. Editora
A UNIÃO, p. 133.

328
1962: eleição e reforma agrária

Quando as eleições se aproximavam os usineiros e os coronéis


tudo faziam para evitar que seus trabalhadores fossem
cooptados por candidaturas não comprometidas com seus
interesses. Usavam todos os meios, inclusive realizando
feiras em suas propriedades para impedir que eles fossem
à cidade. No dia da eleição, transportavam os eleitores às
seções eleitorais em pequenos grupos, revistavam todos,
inclusive tirando-lhes a roupa. Seguiam com eles até a cabine,
garantindo o chamado 'voto de cabresto'. Não satisfeitos,
conseguiam alterar o resultado das urnas modi icando o
resultado das urnas, a seu favor, os mapas que continham a
apuração do pleito, contando para isso com a conivência dos
cartórios eleitorais, nas áreas de suas in luências.4

As eleições de 1962 ocorreram para o preenchimento de cargos na


Câmara dos Deputados, da Assembleia Legislativa do Estado e a renovação
de do Senado.
Na Parahyba, os camponeses se uniram para eleger seus
representantes. Havia di iculdades até para se reunirem, dada a perseguição
sofrida pelos patrões. As concentrações eram sempre às ocultas, sob pena de
sofrerem represálias, inclusive de ordem ísica.
Na opinião de Assis Lemos, o que dividiu os camponeses naquela
eleição foi um certo carreirismo político entre algumas lideranças do
movimento, quanto à disputa para a Assembleia Legislativa do Estado.
Além disso, pessoas estranhas às Ligas Camponesas tentaram tirar proveito
eleitoral, o que levou a transformá-las em Sindicatos, em 1963.
Não obstante as chances de vitória de Antônio Teixeira e do
advogado José Gomes da Silva, considerados os líderes mais in luentes,
outras lideranças, por simples vaidade, se lançaram candidatos, a exemplo
de Manoel de Deus, Pedro Fazendeiro e Elizabete Teixeira, à época, já viúva
de João Pedro Teixeira.

4 Francisco de Assis Lemos, in Ob. Cit., p. 34.

329
A BAGACEIRA, Eleitoral

Para os cargos de nível federal, José Jof ily foi lançado como
candidato ao Senado e à Câmara dos Deputados, não tendo obtido êxito em
nenhuma das eleições.
Alguns companheiros, defensores ou simpatizantes das causas
camponesas, embora iliados a outras agremiações partidárias foram eleitos
para a Assembleia do Estado, a exemplo de Langstein Almeida, Figueiredo
Agra e Raymundo Asfora, Ronaldo Cunha Lima, Mário Silveira, José
Maranhão, Waldir dos Santos Lima e José Lira e até para a Câmara Federal,
como Jacob Frantz.5
Francisco de Assis Lemos, também candidato, lançou um manifesto
ao eleitorado do estado:

“Mensagem ao povo paraibano

No próximo dia 7 de outubro, o povo deverá assumir uma grave


decisão para com o seu futuro: dar um passo para a frente ou
dar um passo para trás.
Todos sabem que a Paraíba está dividida: de um lado aqueles
que lutam pelas reivindicações populares, pelas reformas
de base, pela Reforma Agrária, contra o latifúndio; do outro,
aqueles que são contra todas as reformas, a favor do latifúndio,
dos grupos espoliadores estrangeiros, da manutenção do
estado de fome, injustiça, analfabetismo e miséria em que
vive o povo, especialmente os camponeses e operários. Os
primeiros pertenciam a um pequeno partido, o PSB. Os outros,
aos demais partidos que mudam apenas de nome, mas que
constituem no dizer popular 'farinha do mesmo saco.'
O covarde atentado de que fui vítima em Itabaiana, na
companhia do velho e bravo companheiro Pedro Fazendeiro,
o segundo que sofri, não abateu meu ânimo. Ao contrário,
quando saí do hospital, voltei com mais disposição e mais
decidido para continuar a luta.

5 Francisco de Assis Lemos, in Ob. Cit., p. 144.

330
1962: eleição e reforma agrária

Não desejo vingança contra os que me agrediram: eles pouco


representam. A vingança deve ser contra o Latifúndio como
sistema. O Latifúndio que mata de fome e doença as crianças
camponesas, que é responsável pelo analfabetismo do nosso
povo, pela carestia de vida, que en im, juntamente com os
trustes estrangeiros é o causador do atraso do nosso pais.
Assis Lemos.”6

Eleito, Assis Lemos tornou-se o primeiro deputado a representar


os camponeses na Parahyba.
Mas foram nas eleições municipais que as Ligas Camponesas
tiveram maiores vitórias, seja elegendo seus candidatos, seja apoiando as
candidaturas adversárias dos usineiros, alguns deles triunfando sobre os
candidatos oriundos de famílias tradicionais, a exemplo dos Lundgren, de
Rio Tinto. Com base no relato de Assis Lemos, traçamos o seguinte quadro
demonstrativo das vitórias camponesas nas eleições municipais daquele
período:

Município candidato eleito da Liga Camponesa ou eleito


com o seu apoio

Itabaiana

Mulungu Geraldo Camilo

Rio Tinto Antônio Fernandes de Andrade

Santa Rita Antônio Teixeira de Carvalho

6 In Ob. Cit., p. 143.

331
A BAGACEIRA, Eleitoral

Nos municípios em que os candidatos camponeses disputaram as


eleições o uso do dinheiro e da violência evitaram a derrota dos candidatos
dos usineiros, a exemplo do que se deu em Sapé, onde teve origem as Ligas
Camponesas, mas também considerado “curral eleitoral” do clã Ribeiro
Coutinho. Naquele município, pela primeira vez, um líder camponês, Ivan
Figueiredo de Albuquerque, disputava uma eleição, concorrendo com o
candidato dos usineiros, Cassiano Ribeiro Coutinho, como narra Assis
Lemos:

(...) As di iculdades de Ivan foram tantas que era muita


pretensão vence-la. Falta total de recurso contra o dinheiro
das Usinas, além do terror espalhado na região, que chegou
a amedrontar quase todos os oradores que iam da Capital
participar dos comícios de Ivan, principalmente aqueles
realizados à noite.7

No entanto, os camponeses tiveram mais sorte na eleição para a


Câmara Municipal de Sapé, tendo elegido os vereadores João Alfredo Dias
(Nego Fuba), Severino Matias e Natanael Irineu da Silva (Nato).8

Praxedes Pitanga em Itaporanga

Com base eleitoral em Itaporanga e em mais alguns municípios


sertanejos, Praxedes Pitanga, ex-secretário de Polícia do Governo Argemiro
de Figueiredo, contava com a vitória para chegar à Câmara Federal. Para a
sua surpresa, icou na primeira suplência. Atribuiu a sua derrota à fraude
eleitoral cometida por políticos locais antes da apuração de votos, inclusive
com a conivência de servidores do cartório eleitoral:

7 In Ob. Cit., p. 145.


8 Idem.

332
1962: eleição e reforma agrária

Políticos useiros e vezeiros em toda espécie de fraudes –


mandões em certo município, inclusive no cartório eleitoral –
alta hora da noite, antes da apuração das urnas, abriram estas
e transferiram quase toda minha votação para candidato de
sua preferência.9

O candidato derrotado interpôs recurso ao Tribunal Regional


Eleitoral, que entendeu desaconselhável anular toda a eleição para
deputado federal, por dois motivos: apenas um candidato se insurgira
contra o resultado; a repetição de uma eleição demandaria tempo e mais
despesa.10

Patos elegeu quatro deputados

Aquelas eleições de 1962 tiveram um valor signi icativo para a


história política do município de Patos, que conseguiu eleger dois deputados
federais (Bivar Olinto e Ernani Sátyro) e dois deputados estaduais, (José
Afonso Gayoso de Sousa e José Cavalcanti), fato que só voltaria a se repetir
nas eleições de 1966.
Também tiveram votações signi icativas, embora não tenham sido
eleitos, os candidatos Otávio Pires de Lacerda (908 votos), Lauro Nóbrega de
Queiroz (703 votos) e Zéu Palmeira (2.046 votos).11

As eleições municipais de 1963

As eleições municipais de 1963 foram as últimas eleições


realizadas no período que antecedeu ao Golpe Militar de 1964.

9 Praxedes Pitanga, in Memórias - Minha vida, minhas lutas. João Pessoa: 1988, p. 222.
10 Idem.
11 Flávio Sátyro Fernandes, in Ob. Cit., p. 351.

333
A BAGACEIRA, Eleitoral

Cajazeiras

A última eleição de Cajazeiras ocorrida entre a redemocratização


e o Golpe Militar de 1964 foi a mais competitiva do período 1947-1963,
posto que quatro candidatos concorreram ao cargo de prefeito e seis a vice-
prefeito.12

Campina Grande

A eleição municipal de 1963 em Campina Grande decidiu a


sucessão do prefeito Severino Cabral. Concorreram àquele pleito Newton
Rique, ex-secretário do prefeito Plínio Lemos, juntamente com o candidato a
vice-prefeito, Williams Arruda. Ambos foram candidatos pela coligação PTB/
PSB.
Newton Rique foi um dos poucos candidatos a prefeito daquele
período que apresentou um plano de ação governamental, que incluía vários
setores da administração pública, dentre os quais, indústria, agricultura,
educação, saúde, assistência, obras públicas e abastecimento d’água.
Enquanto isso, o prefeito em exercício, Severino Cabral,
manifestava nos jornais o seu apoio pelo candidato a Williams Arruda, mas
a irmava não ter qualquer compromisso com qualquer candidato a prefeito.

12 Registra Francisco Cartaxo Rolim que a igura carismática de maior relevo em Cajazeiras no
período entre 1945-1964 foi Otacílio Guimarães Jurema. Uma de suas facetas foi registrada
por Otacílio Dantas Cartaxo:
“Dizem que você foi tomando conhecimento dos problemas da cidade e chamou o preto Cícero
Ramos, dizendo:
- Taqui cinqüenta mil reis e você vai alugar uma casa e encher de mulheres e um tocador...
- Mas doutor, o senhor vai me sacriϔicar, porque o bispo não quer isso não.
- Besteira, negro! É um problema da cidade. Você já viu uma cidade sem igreja, cemitério e
cabaré? Os coronéis não têm uma rua dos ‘Sete Pecados’ e logo no oitão da igreja, e porque
o bispo tolera isso, hein? Vi isso no Rio, e bote uma tabuleta com o nome ‘Gato Preto’ e tome
conta do negócio. .Não me falte!”. (Francisco Cartaxo Rolim, in Ob. Cit., p. 147).

334
1962: eleição e reforma agrária

De outro lado, o também advogado Langstaine Almeida se


apresentou como o candidato oposicionista, passando a adotar como
símbolo de sua campanha latas vazias como forma de se identi icar com as
camadas mais baixas do eleitorado. Completando o seu marketing eleitoral,
adotou um slogan do TOSTÃO CONTRA O MILHÃO.
A intenção do candidato era convencer o eleitorado que a
candidatura de Newton Rique representava a nobreza, enquanto que o
“candidato da lata” estava mais próximo da classe pobre.
Enquanto Langstein Almeida contava apenas com a oratória
de Vital do Rego, Newton Rique tinha o apoio de líderes expressivos como
Argemiro de Figueiredo, Ronaldo da Cunha Lima, Mário Araújo e Agnello
Amorim. O grande tribuno Raymundo Asfora resolveu icar ausente do
processo.
O lado pitoresco dessa campanha icou por conta do candidato a
vereador João Nogueira de Arruda,

conhecido militante do argemirismo que, utilizando de forma


vesga o apelido com que é largamente conhecido anunciava –
‘não vote às cegas, vote em Pinta Cega.’
Na noite anterior ao dia da eleição, Pinta Cega mandou
distribuir em milhares de residências uma carta apócrifa
de Newton Rique, onde sua candidatura era recomendada
pelo candidato a prefeito de forma convincente para o eleitor
simples e apaixonado dos bairros.
Os concorrentes icaram furiosos, Newton Rique e o staff, como
não estavam diretamente em causa, riram à vontade e ‘Pinta
Cega’ faturou dezenas de votos.13

Newton Rique e Williams Arruda venceram o pleito.

13 Josué Sylvestre, in NACIONALISMO & CORONELISMO – FATOS E PERSONAGENS DA


HISTÓRIA DE CAMPINA GRANDE E DA PARAÍBA (1954/1964). Brasília: Ed. Senado,
1982, p. 447.

335
A BAGACEIRA, Eleitoral

Como a compra de votos era corriqueira naquela época, a


contabilidade das despesas de campanha do candidato vitorioso apontaram
despesas no valor de pouco mais de nove milhões de cruzeiros, dinheiro
gasto com telhas e outros materiais de construção, farmácias e óticas, ou
seja, aquilo que constituía o varejo da política eleitoral da época.
Em 30 de novembro de 1963, Newton Rique tomou posse, mas
governou por poucos meses, vez que foi cassado em 14 de junho de 1964,
por ato do governo militar, recém instalado.

Guarabira

Vitorioso nas duas eleições anteriores, em que conseguiu eleger-se


prefeito e, na seguinte fazer o seu sucessor, Osmar de Aquino foi derrotado
na eleição municipal de 1963 pelo seu oponente João de Farias Pimentel
Filho,14 candidato da Coligação UDN/PDC e que recebeu o apoio do governo
estadual.
Mais signi icativa foi a vitória do seu candidato a vice-prefeito,
o industrial Otávio Patrício da Silva, que teve uma maioria superior a
quinhentos votos sobre o seu concorrente.

Sousa

Em 1963, a eleição municipal no município de Souza inaugurou a


trajetória de uma das carreiras políticas mais promissoras do estado, a de
Antônio Mariz.
Candidato pelo Partido Trabalhista Brasileiro, Antônio Mariz
venceu o candidado da UDN, Felinto da Costa Gadelha (Tozinho Gadelha) e o

14 Segundo Aedson Guedes, as expressões Calça-frouxa e Casacudo surgiram nessa eleição.


(in Ob. Cit., p. 29).

336
1962: eleição e reforma agrária

outro candidato do PSD, Laércio Pires de Sousa. A inexpressiva diferença de


votos entre o primeiro e o segundo concorrente – apenas dez votos – indica
quanto aquele pleito foi disputado.
Todavia, para vice-prefeito, saiu vitorioso o candidato da UDN,
Geraldo Abrantes Sarmento.
Os mandatos dos eleitos, assim como de todos os prefeitos do país,
deveriam se indar em 1967. Porém, foram prorrogados até 1969.
O Golpe Militar de 1964 quase desalojou Antônio Mariz da
prefeitura. A cidade foi ocupada por militares e o prefeito chegou a ser preso
e recolhido a um dos quartéis da capital.
A iminente cassação do mandato de Antônio Mariz não chegou a se
concretizar e o mesmo foi recebido nos braços do povo, como registra uma
de suas biógrafas, Fátima Araújo:

A deposição de Mariz foi, porém, barrada pelas próprias


autoridades federais, que o reconduziram ao cargo. O vice-
prefeito Geraldo Sarmento que, por alguns dias, chegou a
ocupar a prefeitura, retirou-se desta embaixo de vaias. Não
houve discursos, mas a cidade parou para receber o titular da
prefeitura quando de sua chegada em avião militar, ao campo
de aviação do DNOCS de Sousa.15

15 Fátima Araújo, in ANTÔNIO MARIZ – A trajetória de um idealista. João Pessoa: A UNIÃO,


1996, p. 24.

337
Assis Lemos, primeiro representante das Ligas Camponesas
eleito para a Assembleia Legislativa do Estado.
(Fonte: Assis Lemos)
CAPÍTULO XI

Oratória e populismo
nas eleições da
Parahyba

“(...) Em raras e sem dúvida pouco expressivas


vezes, a palavra falada deixou de servir-se da
política, na nossa província, para se fazer
ouvida e sentida. Jamais a política deixou-se
de servir-se dela na mais larga e profunda
extensão.

Todas a nossas campanhas políticas foram


feitas sob o impulso dessa terrível força, a
ela devendo os motivos mais decisivos das
suas vitórias. A imprensa muito ajudou, mas
foi menos decisiva. (...)” (João Lélis de Luna
Freire)* 1

* In MAIORES E MENORES. João Pessoa: 2000, Reprodução fac-similar da primeira edição,


1953, p. 148.

339
A BAGACEIRA, Eleitoral

Origens do populismo brasileiro

Todo o poder emana do povo (...). Fiquemos, pois, sempre com


1
o poder e estaremos sempre com o povo. (Francisco Welfort)

J
osé Murilo de Carvalho atribui ao então prefeito do Rio de Janeiro na
década de 1940, Pedro Ernesto, a inauguração, em terras brasileiras,
da política populista, fenômeno que marcou, além do Brasil, outros
países da América Latina, principalmente a Argentina (o peronismo,
através do casal Juan Peron e Isabelita Peron) e o Peru (com Salvador
Alhende).
Segundo o mesmo autor, o líder carioca buscou o apoio da
população pobre das favelas, dando-lhe a oportunidade de participação
na política, tendo sido o primeiro líder no Brasil a usar de forma eficiente
o rádio em suas campanhas eleitorais.2 Tachado de “comunista” pelo
Estado-Novo varguista, foi preso e processado, chegando a perder o
cargo.
O populismo,

é uma política baseada no aliciamento das camadas sociais


de menor poder aquisitivo. Trata-se de uma prática política
paternalista, clientelística e cartorial, em que o Estado
exerce a tutela da sociedade – e sobre os sindicatos e demais
organizações, regulando a vida de tudo e de todos. O Estado,
pretensamente neutro, assume uma atitude benevolente,
de protetor dos mais fracos. As ações do governo são

1 In O Populismo na política brasileira. Rio de Janeiro: Ed. Paz e Terra, 2003, p. 47.
2 José Murilo de Carvalho, in CIDADANIA NO BRASIL – O longo caminho. Rio de Janeiro:
Ed. Civilização Brasileira, 2007, p. 105. Para Francisco Welfort, a primeira forma de
manifestação populista de massas foi o “queremismo”, expressão oriunda do slogan “nós
queremos Getúlio, movimento de opinião organizado por Vargas no im do Estado-Novo.
(in Ob. Cit., p. 47). Da mesma opinião, comunga Argemiro Brum, para quem a prática da
política populista emergiu na vida brasileira com Getúlio.

340
Oratória e populismo nas eleições da Parahyba

apresentadas, não como um direito dos destinatários, mas


como dádiva e favor dos poderosos. (…).3

Francisco Welfort, um dos principais estudiosos fenômeno


populista brasileiro, identi icou algumas características que o distinguia
do populismo de outras plagas. Na sua opinião, o aludido fenômeno no
Brasil teria sido expressão espontânea das massas, resultou do processo de
intensi icação da urbanização e da industrialização e, para a massa popular,
o líder re letia o projeto do Estado.
Para Welfort, coronelismo e populismo tinham um ponto em
comum: ambos incluíram alguma forma de identi icação pessoal na relação
entre o chefe e a base. Porém, eram realidades distintas, pois o primeiro era
característica da velha sociedade agrária e o segundo se fez presente nas
regiões urbanizadas, principalmente em São Paulo, onde ocorreu o maior
desenvolvimento industrial do país.
Acrescente-se que, no populismo, as relações entre o líder
e as massas eram totalmente políticas, o que não ocorria com o
coronelismo, em que a adesão ao chefe rural eram a coerção social e
econômica.
Por im, enquanto o coronelismo expressava um compromisso
entre o poder público e o poder privado, o populismo signi icava a exaltação
do poder público, através do líder, que entrava em contato direto com os
indivíduos reunidos em massa.4
Registra a historiadora Monique Cittadino que a Parahyba
não experimentou o mesmo processo rápido e intenso de urbanização e
industrialização que sofreu os estados do centro-sul. Assim, o populismo
paraibano,

3 Argemiro Brum apud Railane Martins de Araújo, in Ob. Cit., p. 56.


4 Francisco Welfort, in Ob. Cit., p. 28.

341
A BAGACEIRA, Eleitoral

só pode ser entendido a partir das transformações


processadas no campo que impulsionaram o êxodo
rural levando, desta forma, à constituição de
núcleos urbanos periféricos e marginalizados. Assim
sendo, o desenvolvimento das massas urbanas e,
consequentemente, a possibilidade de surgimento de uma
política populista no estado deu-se, portanto, em função
das transformações verificadas na estrutura social do
campo que acompanharam o processo de modernização do
espaço agrário.5

Devemos à ilustre historiadora a melhor análise do fenômeno na


Parahyba, que apresenta duas características importantes: 1. a adoção de
novos métodos de controle do jogo político, ante as modi icações sociais e
econômicas; 2. a ênfase na delegação popular do poder político, atribuindo-
lhe a responsabilidade de decidir os destinos do estado através do sufrágio.
Segundo Cittadino,

As classes populares precisavam agora ser conquistadas,


cooptadas – não que nesse momento elas significassem uma
real ameaça ao poder estabelecido haja vista que o seu nível
de organização política e de representatividade partidária
era praticamente inexistente -. O voto é que já não era mais
uma certeza inquestionável: ele deveria ser atraído em troca
de promessas que as massas desejavam ouvir. Estas, com o
voto secreto passavam a ter um espaço garantido no jogo
político.6

5 Monique Cittadino apud Railane Martins de Araújo, in Ob. Cit., p. 72.


6 Monique Cittadino apud Railane Martins de Araújo, in O governo de Pedro Gondim e o
Teatro do Poder na Paraíba: (Imprensa, imaginário e representações – 1958-65).
Dissertação de Mestrado apresentada na Pós -Graduação em História da UFPB, p. 65.

342
Oratória e populismo nas eleições da Parahyba

Na Parahyba, o populismo começa com João Pessoa

João Pessoa inaugurou um “pré-populismo” na Parahyba.


Fonte: (Álvaro de Carvalho)

As características do populismo brasileiro se izeram também


7
presentes na Parahyba, onde o fenômeno chegou mais cedo. Imputa-se
ao então presidente do estado, João Pessoa, o ensaio de um pré-populismo.
Optando por uma administração inovadora e progressista,8 alguns dos seus
vários excessos de poder chegaram às barras dos tribunais, que chegou
anular os atos que representaram manifesto abuso de autoridade.

7 Monique Cittadino apud Railane Martins de Araújo, in O governo de Pedro Gondim e o


Teatro do Poder na Paraíba: (Imprensa, imaginário e representações – 1958-65).
Dissertação de Mestrado apresentada na Pós -Graduação em História da UFPB, p. 64.
8 Segundo depoimento de Pedro da Cunha Pedrosa, durante o governo do sobrinho de
Epitácio Pessoa, não saiu um centavo do Tesouro Estadual e dos cofres municipais para
custear eleições. (in Minhas Próprias Memórias (Vida Pública). Rio de Janeiro: Livraria
Agir, 1963, p. 255). Na verdade, essa versão de austeridade do presidente do estado
é contrastada com outras versões, segundo às quais, às vésperas do pleito de 1930, João
Pessoa utilizou a força policial do Estado para intimidar os seus adversários políticos, em
Teixeira.

343
A BAGACEIRA, Eleitoral

Se algumas versões a irmam que João Pessoa era avesso a


manifestações populescas, outros depoimentos dão conta de que, durante a
sua gestão, eram longas no Palácio do Governo as ilas de populares, para
tratar diretamente com o presidente do estado até as altas horas da noite.
Além disso, João Pessoa fazia constantes visitas de forma inopinada à Cadeia
Pública, na qual chegava a comer “a boia” com os presos, depois de se inteirar
de seus direitos e interesses:

Esses contatos diretos e constantes com os presidiários,


tornaram aquele chefe de Estado um ídolo dos encarcerados.9

Esse fato explica quando, de sua morte, em 26 de julho de 1930,


as cadeias terem sido abertas para todos os tipos de assassinos vingarem a
morte do seu benfeitor.
Para o historiador José Octávio de Arruda Melo, a Parahyba
experimentou uma fase populista de julho a outubro de 1930, quando
o poder político se transferiu para as ruas, praças, jornais e Assembleia
Legislativa, locais para onde, na sua opinião, houve o deslocamento do eixo
da política. Segundo os intérpretes do populismo paraibano, os dois anos em
que João Pessoa governou o estado, teria educado o povo que, por sua vez,
passou a orientar os governos.10

9 Humberto Nóbrega, in História de uma Cadeia Transformada em Palácio. A UNIÃO Cia.


Editora, João Pessoa, 1962, págs. 53-56.
10 José Octávio de Arruda Melo. In A Revolução Estatizada – Um estudo sobre o centralismo
de 30. João Pessoa: Ed. Universitária-UFPB, 1992, 2ª ed., p. 327.

344
Oratória e populismo nas eleições da Parahyba

Argemiro de Figueiredo: o cacique de Itararé

Orador magní ico, jurista respeitado,


administrador e iciente, pioneiro em
iniciativas desenvolvimentistas que
marcaram a sua passagem pelo governo
do Estado. Argemiro era também o chefe
autoritário, in lexível, impermeável, que na
maioria das vezes ouvia correligionários
graduados apenas para reforçar os
próprios pontos de vistas. As decisões
eram tomadas quase sempre isolada e
sumariamente, cumprindo aos outros,
apenas, obedecer.

Argemiro de Figueiredo
copiou de João Pessoa o estilo de
conceder audiências públicas. Além de
lideranças políticas de todo o estado,
recebia o povo em geral durante horas
(Fonte: Josué Sylvestre) in indáveis. Fazia questão de iscalizar,
in loco, as obras públicas, fazendo-se
acompanhar de grande comitiva, como forma de atrair a atenção popular.
Fundou a Rádio Tabajara, em 25 de janeiro de 1937, até hoje a rádio
o icial do estado. Do nacionalismo estadonovista de Vargas que, por sua vez, seguia
o estilo nazi-facista de Hitler e Mussolini, Argemiro incorporou às cerimônias
cívicas, os des iles e outras formas de propagar as suas ações administrativas.
Antes mesmo de Getúlio Vargas criar o DIP (Departamento de Imprensa
e Propaganda), em 1939, Argemiro antecipava, na Parahyba, precisamente em 17
de dezembro de 1937, o Departamento de Estatística e Publicidade. Assim, Rádio
(Tabajara) e Jornal (A UNIÃO) o iciais izeram uma maciça propaganda, ajudando
a consolidar o argemirismo, principalmente no interior do estado, através de
difusoras localizadas nas feiras e locais de grande aglomeração pública:

345
A BAGACEIRA, Eleitoral

Em janeiro de 1937, no segundo ano de seu governo,


inaugurou a Rádio Tabajara e procedeu a melhoramentos no
parque grá ico do jornal o icial. Assinou decreto, criando nos
municípios serviços radiofônicos de retransmissão em praça
pública, de suas mensagens, meia hora antes da Voz do Brasil.11

A Parahyba deve a Argemiro de Figueiredo e a Álvaro Machado o


fato de ser o único estado da federação que tem uma rádio e um jornal o icial.
Todos os governantes do estado, sem exceção, souberam tirar algum proveito
político- eleitoral desses dois meios de comunicação. João Pessoa, José
Américo de Almeida, Pedro Moreno Gondim, João Agripino, Ernani Sátyro,
Tarcísio de Miranda Burity e, mais tarde, Cássio Rodrigues da Cunha Lima e
tantos outros governadores, cada um a seu tempo e ao seu modo especí ico,
utilizaram dos meios de propaganda o icial para construírem a imagem de
grandes administradores e de pessoas identi icadas com a vontade popular.
O estilo caciquista de comandar o partido e os seus liderados, o
que lhe rendeu o título de O Cacique de Itararé, foi confessado pelo próprio
Argemiro, em entrevista reproduzida no jornal O Diário da Borborema, em
14 de abril de 1974, quando procurou explicar a resistência que enfrentou
de todos os lados acerca da candidatura do seu cunhado à prefeitura de
Campina Grande, por ele imposta em 1947:

Tenho de confessar, lealmente, que foi nesta luta em termos da


candidatura do meu cunhado Veneziano Vital que se deu uma
grande passo na modi icação do sistema político então adotado
na Paraíba. Eu che iei com exclusividade o Partido, não só em
Campina Grande como em todo o Estado, com o privilégio de
mando unilateral. Eram assim escolhidos os deputados federais
e estaduais, isso durante vinte anos.12

11 Martha Falcão, in Ob. Cit., p. 246.


12 In Lutas de Vida e de Morte. FATOS E PERSONAGENS DA HISTÓRIA DE CAMPINA
GRANDE (1943-1953). Brasília: Ed. Senado, 1982, p. 79.

346
Oratória e populismo nas eleições da Parahyba

José Américo de Almeida: verbo e verborragia

Nos comícios a que compareceu, era sempre


a vedete, que se julgava na obrigação de
superar todos os oradores, na impetuosidade
do populismo irre letido. (Oswaldo Trigueiro
de Albuquerque Mello)13

Uma das práticas populistas


são os excessos orais dos políticos que
buscam o apoio das massas. Com José
Américo de Almeida foi assim. Se a
oratória levou-o muitas vezes à vitória,
na campanha eleitoral de 1958 ela
signi icou um dos motivos para a sua
histórica derrota para o Senado, segundo
algumas versões abalizadas. Utilizando-
se de uma linguagem excessivamente
(Fonte: Josué Sylvestre) agressiva, chegava a proferir ataques
pessoais aos seus adversários.
Quanto à sua rápida popularidade, as razões são as mais variadas: a
liderança exercida durante o movimento revolucionário exitoso; a passagem
pelo Ministério da Viação e Obras, no qual adotou um estilo administrativo
pouco sóbrio, com estardalhaço, que bem reϔletia o seu temperamento
inϔlamável, ao mesmo tempo que relembrava as estripulias de João Pessoa, e,
o mais importante, a fama de benfeitor da região Nordeste, que foi angariada
graças à sua passagem, por duas vezes, no Ministério.
Nos comícios, sabia como sacudir as massas. Mesmo apoiado por
Getúlio Vargas, na condição de candidato a presidente da República, não deixava

13 Oswaldo Trigueiro, in Ob. Cit., p. 97.

347
A BAGACEIRA, Eleitoral

de criticá-lo. Ridicularizou as casas populares construídas no governo de Vargas,


chamando-as de “casas de cachorro”. Para cumprir as promessas de realizar as
obras prometidas, a irmava saber “onde estava o dinheiro”. Durante um comício
realizado na Bahia, chegou a desa iar o reacionarismo dos militares, ao garantir
que, no dia da eleição, o povo votaria nem que fosse debaixo de bala.14
Quando lhe quali icaram de demagogo, justi icou que

(...) os temas de apelo popular eram o recurso necessário para


vencer em eleições diretas, por de inição competitivas.15

Em algumas situações, a sua oratória era cáustica. A acidez dos seus


discursos sequer poupava as características pessoais de seus adversários.
Octacílio Queiroz, líder da região das Espinharas, portador de um defeito ísico
causado pela poliomelite da qual foi vítima durante a infância, foi uma das
vítimas da verborragia do “Homem de Areia”. José Américo de Almeida, em um
dos discursos de suas campanhas eleitorais, fez-lhe uma referência:

Octacílio Queiroz, tão perigoso que Deus o marcou... para não


perdê-lo de vista.16

Até com os amigos, José Américo de Almeida chegava a ser duro,


às vezes. Num dos discursos realizados no município de Santa Rita, ladeado
pelo principal inanciador de suas campanhas eleitorais, o industrial Virgínio
Veloso Borges, não hesitou em a irmar:

Tenho aqui ao meu lado Virgínio Veloso Borges, que é dono da


fábrica de tecidos de Santa Rita, mas no dia em que ele icar
contra um operário, eu ico contra ele!17

14 Oswaldo Trigueiro, in Ob. Cit., p. 97.


15 Aspásia Camargo; Raposo, Eduardo & Flaksman, Sérgio. In Ob. Cit., p. 17.
16 Bertino Nóbrega de Queiroz, in Tempos de Octacílio Queiroz – Perϐil de uma vida. Ed,
UFPB, p. 58.
17 Aspásia Camargo; Raposo, Eduardo & Flaksman, Sérgio. In Ob. Cit., p. 434.

348
Oratória e populismo nas eleições da Parahyba

“Dr. Ruis” e a política do coração: anjo ou demônio?

Ruy Carneiro chega à Parahyba no “constelation da panair”.


(Fonte: Josué Sylvestre)

(...) nunca ofenda as pessoas, para que no futuro não tenha


constrangimento de ter que subir nos palanques ao lado de
quem você ofendeu. (Ruy Carneiro)

(...) Durante dez longos anos, de manhã à noite, ele não fazia
outra cousa senão receber paraibanos que que lhe iam pedir
emprego, passagem de volta, internamento em hospital,
soluções pendentes de despachos das autoridades, pequenos
auxílios em dinheiro. (Oswaldo Trigueiro)

O assistencialismo político, aliado à sua personalidade


descontraída e envolvente, foram os instrumentos pelos quais Ruy Carneiro
chegou a cativar os corações dos seus eleitores, principalmente da classe
média, pois,

349
A BAGACEIRA, Eleitoral

Em Ruy Carneiro, charme e simpatia pessoal equivaliam a


segunda natureza que o induzia ao populismo.18

Outro ingrediente do populismo ruista foi a religiosidade, na qual


era um exímio mestre, chegando a criar escola para os políticos da Parahyba.
Sem desprezar a sua educação cristã recebida na infância,19 a sua presença
na festa do padroeiro do Município de Piancó lhe permitiu angariar um bom
número de votos e aquilatar o grau de sua popularidade junto ao eleitorado.
Narram os seus contemporâneos que era comum vê-lo
participando de comícios realizados nas feiras livres dos pequenos
municípios do interior do Sertão do estado, às vezes sob o sol escaldante do
meio dia.
Os líderes populistas da Parahyba foram, acima de tudo,
carismáticos. A representação do novo, do extraordinário e o arrebatamento
emotivo foram as suas características, além do oportunismo que sabiam
exercer diante das situações que se apresentavam, aproximando-se dos
centros ativos da ordem social, como a ciência, a política, a arte e a religião.20
Assim, Rui Carneiro soube utilizar, como ninguém, a religiosidade
para expressar ao povo paraibano, notadamente o sertanejo, a sua virtude
religiosa, mostrando-se um homem de fé, o que tornava aos olhos do povo
a imagem muito superior a de um homem, um verdadeiro mito, quase um
santo.21

18 José Octávio de Arruda Melo. In RUY CARNEIRO – UMA PÁGINA DO POPULISMO


BRASILEIRO NO NORDESTE. IHGB. Rio de Janeiro, 164, p. 149-163, jan.-mar.2003.
19 Foi até assistente de párocos (coroinha) na sua terra natal.
20 Geertz apud Railane Martins de Araújo, in Ob. Cit., p. 67.
21 Testemunha Severino Ferreira, o nosso colega servidor do Tribunal Regional Eleitoral da
Parahyba, que em Itabaiana, na década de 1960, era comum no dia em que antecedia a
eleição, cabos eleitorais de Ruy Carneiro colocarem por debaixo das frestas das portas das
casas dos moradores (inclusive, na casa da própria testemunha) uma propaganda eleitoral
(santinho) com a imagem do santo devotado por Ruy Carneiro (Santo Antônio) envolta
em uma nota de cinco cruzeiros. Ao amanhecer do dia, os eleitores se deparavam com a
agradável “surpresa”, bem ao estilo clientelista do candidato.

350
Oratória e populismo nas eleições da Parahyba

Semelhante a um ritual sagrado, a sua presença constante22 na


festa do padroeiro ganhou publicidade em todo o estado, sendo copiada
posteriormente pelas maiores lideranças políticas do estado, que tinham
intenção de ganhar popularidade, pois

(...) o soberano é portador de um tipo de conteúdo sagrado que


caracteriza o seu poder real. No entanto, é através de ritos e
imagens, por ele exercidos, que seu poder é de fato legitimado
perante seus súditos.23

O professor Vinícius Soares de Campos Barros, um profundo


conhecedor da obra de Nicolau Maquiavel, reforçou essa tese, quando
ao analisar o pensamento do autor lorentino acerca da religião como
instrumento do Estado, a irmou:

Servir-se, desse modo, do sentimento religioso do povo para


governar é uma estratégia que deve ser utilizada.24

E Ruy teve a oportunidade de governar a Parahyba, pois foi o seu


último Interventor até 1945.

22 Em depoimento prestado pelo seu sobrinho mais próximo, o ex-prefeito da capital,


Carneiro Carnaud, o mesmo narra que Ruy Carneiro compareceu à festa de Santo Antônio,
em Piancó, durante 28 anos ininterruptos, com exceção de 1976, ano em que sua esposa
esteve gravemente enferma e, para aquilatarmos o grau de devoção do líder sertanejo,
narra Carneiro Arnaud que, certa vez, quando se encontrava no exterior, em missão do
Senado, Ruy Carneiro regressou antes da data prevista para o retorno, só para poder se
encontrar no dia 13 de junho, na cidade de Piancó, assistir a missa pela manhã e, à tarde,
acompanhar a procissão do santo, inclusive carregando o andor pelas ruas da cidade. Além
disso, recomendava aos correligionários que não marcassem comício ou qualquer outra
atividade política que coincidisse com os festejos dos padroeiros das cidades do interior. (in
Ruy Carneiro – PARAÍBA, Nomes do Século. A UNIÃO EDITORA, p. 13/14).
23 Geertz apud Railane Martins de Araújo, in Ob. Cit., p. 67. Geertz explica o oportunismo das
pessoas carismáticas em razão de sua proximidade com alguns centros ativos da ordem
social, tais como a religião, a arte, a ciência e a política.
24 In 10 Lições sobre MAQUIAVEL. Rio de Janeiro/Petrópolis: Ed. Vozes, 2010, p. 75.

351
A BAGACEIRA, Eleitoral

Não se quer a irmar que o eminente líder sertanejo tenha


teatralizado a sua fé perante o eleitorado durante toda a sua vida, nas
inúmeras vezes que compareceu à festa do padroeiro de Piancó, até pela
formação religiosa que adquiriu desde a sua infância, conforme relatado
pelos seus biógrafos.
Todavia, não há como negar que, com o tempo, Ruy Carneiro tenha
descoberto, assim como Maquiavel, que a religiosidade - notadamente no
Sertão, região não somente árida e necessitada de água, mas também carente
de serviços estatais – desperta um grande sentimento popular.
Além da religiosidade, o populismo de Ruy Carneiro se caracterizou
pelo assistencialismo e clientelismo25, características do pessedismo,
segundo Marcus Odilon, cujos políticos eram hábeis na arte de fazer favores,
de dar empregos, remover delegados e transferir professores.26
O assistencialismo ruista começou antes, já durante a sua fase de
Interventoria no estado, quando foi fundada a Legião Brasileira de Assistência,
da qual a sua esposa, Alice Carneiro, teria sido a primeira presidente e

nos bairros, subúrbios e periferia da capital, distribuía telhas,


agasalhos, colchões, dentaduras, fardas e outros auxílios ao
povão.27

Com efeito. A colaboração de sua esposa, Alice Carneiro,


cognominada “a Mãe dos Pobres”, foi decisiva para o sucesso eleitoral de

25 Analisando as ações de Rui Carneiro no Senado, Oswaldo Trigueiro a irma que Rui
foi um senador em tempo integral. O uso da tribuna, a participação em comissões do
Senado, a apresentação de projetos de lei ou a emissão de pareceres não era o forte do
senador paraibano. Mas o exercício do que é considerado “o varejo da política” era a sua
especialidade principal: “...dedicava praticamente todo o tempo à tarefa de responder cartas
e de pessoalmente atender à legião dos paraibanos que lhe iam pedir empregos, passagens,
dinheiro e recomendações de toda sorte.” (Ob. Cit., p. 71).
26 Marcus Odilon. In Poder, Alegria dos Homens. p. 123.
27 Marcus Odilon Ribeiro Coutinho, in Flávio Ribeiro Coutinho – Paraíba: Nomes do Século.
A UNIÃO EDITORA, p. 47.

352
Oratória e populismo nas eleições da Parahyba

Rui Carneiro. O seu estilo ϔilantrópico seria imitado pelas futuras “primeiras-
damas do estado” que passaram a ocupar postos na administração pública
com o im de executar os programas sociais estatais.28
Por tais motivos é que Oswaldo Trigueiro atribuiu grande parte
da popularidade de Ruy Carneiro à atuação de sua mulher D. Alice Carneiro
que, durante o seu governo, praticamente visitou todas as instituições
de caridade e bairros pobres da capital, prestando assistência aos mais
necessitados, atividade que teve fortes re lexos nos pleitos que Rui Carneiro
disputou, dentre as quais a eleição de 1958:

Está claro que assim ela procedia sem pensar em recompensas


eleitorais. Mas, quando vieram as eleições, não custou muito
à UDN convencer-se de que, na Capital, Alice Carneiro era
invencível. Está claro que a vitória de Alcides, em João Pessoa,
se deveu ao PSD, no governo há sete anos, a Rui Carneiro,
ao brilho da campanha do candidato, que era um orador
insuperável. Mas a contribuição eleitoral de Dona Alice parece
ter sido a mais substancial. 29

O populismo de Ruy Carneiro30 lhe garantiu todas as vitórias, com


a exceção da campanha de 1965, em que foi derrotado para o governo do
estado, por João Agripino Filho.

28 Anos depois, o ex-governador Wilson Leite Braga, criou a FUNSAT, Fundação Social de
Assistência, e entregou a direção à sua esposa, a Sra. Lúcia Navarro Braga, o que certamente
pavimentou a sua eleição para a Câmara dos Deputados, tornando-se a primeira deputada
federal eleita pela Parahyba.
29 Oswaldo Trigueiro, in Ob. Cit., p. 70.
30 Para um dos biógrafos de Ruy Carneiro, Armando Nóbrega, Ruy falava a linguagem do povo.
Nos comícios, era aclamado pelo povo mais simples de “ruscarneiro”, que mal conseguia
pronunciar o seu nome. Comentando a histeria coletiva que dominava o povo com a
presença de seu líder, Armando Nóbrega comenta a simbiose entre Ruy e o populacho:
“Paraibanos! Acabo de chegar no ‘Constelation da Panair’ - eram as suas primeiras palavras,
o bastante para apagar as belas frases de poetas e oradores candentes, das mentes simples e
desejosas de exaltar gente como elas mesmas. Ruy estava dizendo que acabara de chegar no
último avião da empresa aérea ‘Panair’, só que o povo não entendia assim ‘Constelation’, ele
pronunciava corretamente: ‘Constelexon’ e no mesmo caso, o nome da empresa, em francês
‘Paner’. Assim o povo entendia: ‘Acabo de chegar no constelexon da panela’, o que traduzia

353
A BAGACEIRA, Eleitoral

Ruy Carneiro: o mais religioso de todos os po-


líticos da Parahyba. Chegava a interromper as
passeatas para fazer as suas orações. Na foto,
aparece Ruy, de joelhos, na Capela de Santo
Antônio, num dos bairros da capital. (Fonte:
Jornal A UNIÃO, de 26 de maio de 1960).

alguma de parecida com a sua linguagem diária. ‘Constelexon da panela’, no subconsciente do


povo pobre dos bairros, podia muito bem se transformar em algo assim como ‘têxto da panela’
e panela lembra feijão e o povo estava como fome. Por isso amava Ruy Carneiro, porque ele
dizia na linguagem do povo, proibida e desconhecida para os políticos eruditos, que os pobres
estavam passando fome, que todos deviam chegar no ‘texto da panela’. O povo delirava com
essa expressão mágica e os políticos teóricos ϔicavam de caras amarradas, sem entender
porque tanta ovação a uma frase tão tola e sem sentido.
Seguindo esse raciocínio, Ruy aprendeu com o povo a falar a linguagem popular. Se a multidão
não tivesse aplaudido tanto, quando ele pronunciou a famosa frase: ‘Acabo de chegar no
Constelation da Panair’, talvez não tivesse repetido a expressão, mas ele descobriu com os seus
sentidos aguçados no tempo e no espaço ϔísico de uma multidão, que aquela história de ‘chegar
no Constelation da Panair’, tinha alguma coisa de signiϔicativo para o seu povo humilde e
simples.” (Armando Falcão, in Ruy – A POLÍTICA DO CORAÇÃO. EDIÇÕES AQUARIUS LTDA.,
p. 112/113).

354
Oratória e populismo nas eleições da Parahyba

O populismo gondinista

(...) Nessa linha populista havia um


espaço vazio na Paraíba. Tínhamos
líderes populistas de dimensão nacional,
um Juscelino, um Jânio, um Jango,
um Ademar. Mas, não havia um líder
populista nativo, local, estadual. E era
esse espaço que se abria a Pedro Moreno
Gondim, identi icado como estava com as
ideias de mudança e de reforma, inclusive
a reforma agrária, bandeira maior de luta
das Ligas Camponesas. (Hélio Zenaide)31

O queremismo
getulista teve em Pedro Gondim
o seu representante. Em valiosa
contribuição para a historia da
(Fonte: Josué Sylvestre) política estadual, Railane Martins de
Araújo analisou as práticas populistas
do governador Pedro Gondim, que é considerado por alguns como o maior
líder populista que a Parahyba já teve, considerando a sua aproximação com
o povo mais necessitado do estado, à época, os trabalhadores rurais, que
fundaram as Ligas Camponesas, isto porque,

(...) o populismo na Paraíba não foi movido, como nos estados


do centro-sul, pelo avanço do processo de industrialização
que atraia uma ampla massa de trabalhadores para os
centros urbanos. Aqui, onde a participação da população
trabalhadora em atividades industriais ao longo dos anos 40-
60 praticamente não sofre alterações, o populismo só pode ser
entendido a partir das transformações processadas no campo
que impulsionaram o êxodo rural levando, desta forma, à

31 Hélio Zenaide apud Railane Martins de Araújo, in Ob. Cit., p. 66.

355
A BAGACEIRA, Eleitoral

constituição de núcleos urbanos periféricos e marginalizados.


Assim sendo, o desenvolvimento das massas urbanas e,
consequentemente, a possibilidade de surgimento de uma
política populista no estado deu-se, portanto, em função das
transformações veri icadas na estrutura social do campo,
que acompanharam o processo de modernização do espaço
agrário.32

De forma inteligente e sagaz, Pedro Gondim aproximou-se dos


fazedores de opinião. Foi o pioneiro na prática de oferecer aos jornalistas,
que expressavam opiniões favoráveis ou não ao seu governo, um churrasco,33
como forma de “congraçamento”.
Uma das bases de sua política populista foi estimular a criação
de novos municípios no estado com o objetivo de carrear recursos federais
para a Parahyba através do fundo de participação dos municípios, criado
pela Constituição Federal de 1946. Essa avalanche municipalista, conforme
registra Celso Mariz, alcançou o seu climax durante a legislatura estadual
que coincidiu com o governo Pedro Gondim,34 que sancionou uma centena
de projetos de lei, elevando distritos à categoria de municípios, conforme
quadro abaixo:35

32 Monique Cittadino apud Railane Martins de Araújo, in Ob. Cit., p. 72.


33 Daí em diante, se tornou comum os jornalistas da Parahyba almoçarem ou jantar com o
governador de estado, a convite deste, ao menos no im do ano, como forma de quebrar
eventuais “arestas” entre o governo e os meios de comunicação contrários à propaganda
o icial, tudo pago com o dinheiro público, claro!
34 Registra Celso Mariz que, também na condição de deputado estadual, Pedro
Gondim figurou entre os deputados recordistas na apresentação de projetos
de lei acerca da criação de novos municípios: “O seu afastamento do governo
estadual, como candidato ao Palácio da Redenção, coincidiu com o intervalo que
se verificou na Assembleia em relação ao entusiasmo emancipacionista que vinha
empolgando os nossos parlamentares. Com a sua volta ao governo do Estado
reiniciou-se o movimento pela criação de novos municípios, muitos dos quais com
projetos em tramitação há mais de dois anos.” (Ob. Cit., p. 137).
35 Quadro elaborado a partir das informações constantes em Celso Mariz, in Ob. Cit., p.
136/137.

356
Oratória e populismo nas eleições da Parahyba

Município autor do projeto


Ibiara Dep. Antônio Leite Montenegro
Tacima Dep. José Targino Maranhão
Alhandra Dep. Humberto Coutinho de Lucena
Congo Dep. José Afonso Gayoso de Sousa
Serra Branca Dep. Nivaldo Farias de Brito
São Bento Dep. Tertuliano da Costa Brito
Mulungú Dep. Sílvio Pélico Porto
Cubati Dep. Gerônio Stanislau da Nóbrega
Nova Floresta Dep. Petrônio Ramos de Figueredo
Boqueirão Dep. José Augusto da S. Galvão
Jericó Dep. Humberto Coutinho de Lucena
Barra de Santa Rosa Dep. Humberto Coutinho de Lucena
São Sebastião de Umbuzeiro Dep. João Feitosa Ventura
Borborema Dep. Antônio Nominando Diniz
Cacimba de Dentro Dep. José Targino Maranhão
Dona Inês Dep. Humberto Coutinho de Lucena
Catingueira Dep. José Afonso Gayoso de Sousa
Juarez Távora Dep. Joacil de Brito Pereira
Araçagi Dep. Joacil de Brito Pereira
Bayeux Dep. Joacil de Brito Pereira
São José da Lagoa Tapada Dep. Humberto Coutinho de Lucena
Tavares Dep. Aloysio Pereira Lima
Água Branca Dep. Aloysio Pereira Lima
Desterro Dep. José Afonso Gayoso de Sousa

Entre o inal de 1961 e janeiro de 1962, com o retorno de Pedro


Moreno Gondim ao governo do estado foram criados mais cinquenta e sete
municípios, o que representava cerca de um terço do total dos municípios

357
A BAGACEIRA, Eleitoral

existentes no Estado.36 O governador Pedro Gondim era rápido na sanção


governamental aos projetos de lei, pois

Em um só dia – 22 de setembro de 1961, o Governador


Pedro Moreno Gondim sancionou vinte e duas leis criando os
seguintes municípios: (...)”37

Quanto ao povo, este foi sempre um elemento presente nos


discursos assim como também na mídia, junto ao qual Pedro construiu para
forjar a sua imagem de um homem público e um grande administrador.38
Carismático, soube aproveitar bem as oportunidades que lhes
bateram à porta. Nos comícios, sempre jogava para o “povo” paraibano a
responsabilidade pelo destino do estado.
Ocorre que, para Pedro Gondim, assim como para qualquer líder
populista, “o povo” não era um grupo social especí ico, nem uma categoria
pro issional em particular, mas todos, indistintamente: camponeses,
usineiros, latifundiários, trabalhadores urbanos e rurais, comerciantes e
funcionários públicos, donas de casa e estudantes.

36 Arara, Itatuba, Jararaú, Boa Ventura, Areial, Monte Horebe, Salgado de São Félix, Puxinanã,
Carrapateira, Lagoa de Dentro, Ouro Velho, Santa Helena, Camalaú, Mogeiro, Serra Grande,
Queimadas, Barra de São Miguel, Livramento, Condado, Triunfo, São Sebastião de Lagoa de
Roça, Diamante, Manaíra, Duas Estradas, Nazarezinho, Fagundes, São José dos Cordeiros,
Lagoa, Lucena, Paulista, São Miguel do Taipu, Nova Olinda, Olho D’Água, Pitimbu, Santana
dos Garrotes, Juripiranga, Belém do Brejo do Cruz, Riacho dos Cavalos, Salgadinho, Santa
Terezinha, Passagem, Junco do Seridó, Boqueirão dos Cochos, São José do Sabugi, Vázea,
Mãe D’Água, Cuitegi, São José de Espinharas, Cacimba de Areia, Frei Martinho, Itapororoca,
Olivedos, Santa Cruz, Gurjão, Baía da Traição e São João do Tigre. O caráter eleitoreiro
disfarçado na criação de inúmeros municípios paraibanos foi criticado por Celso Mariz:
“...eram raros os distritos a serem desmembrados que atendessem, um mínimo sequer, das
exigências previstas na lei de organização municipal. Tentou-se até a criação de municípios
em localidades que não tinham conquistado, ainda, a condição de distrito, o que levou o
Governador Pedro Moreno Gondim a vetar alguns projetos sob esse justiϔicado fundamento.”
(in Ob. Cit., p. 140).
37 Celso Mariz, in Ob. Cit., p. 138/139.
38 Railane Martins de Araújo, in Ob. Cit., p. 65.

358
Oratória e populismo nas eleições da Parahyba

A miti icação do povo nos discursos de Pedro Gondim explica a


acusação que paira sobre o seu governo de haver feito “jogo duplo” pois, ao
tempo em que se apresentava como o líder popular, iel à causa das Ligas
Camponesas, teve uma íntima relação com os usineiros e latifundiários
do estado, o que icou evidenciado quando do im do seu governo, o que é
considerado natural do ponto de vista do populismo, considerando que,

(...) tal aproximação buscada pelo Estado com os diferentes


grupos que compõem a sociedade é uma característica dos
chamados governos populistas.39

Por im, como último exemplo do populismo gondinista, tem-


se a exaltação da Parahyba na igura do seu líder, o que icou bastante
evidenciada na edição do jornal A UNIÃO, no dia 02 de fevereiro de 1961, em
reportagem sobre a posse de Pedro Gondim, cuja chamada tinha a seguinte
expressão: “O povo deu posse a Pedro.”

39 Railane Martins de Araújo comenta: “Diante das especiϔicidades da situação sócio-econômica


do Estado, Gondim arbitrava junto aos proprietários rurais, principal expressão econômica do
Estado, e junto aos camponeses, principal foco de reivindicações no período de seu Governo.”
Como maior exemplo de sua aproximação com as classes conservadoras do estado, destaca-
se a presença de André de Paiva (Zabilo) Gadelha como seu vice-governador. Explica Railane
de Martins Araújo: “A família Gadelha é de tradição agrária representando uma das maiores
referências ao poder local. André Gadelha era industrial e agropecuarista. Nesse sentido,
acreditamos na existência de um cálculo político que aproximou Pedro Gondim, como uma
liderança de representatividade popular, de um nome de referência entre os latifundiários do
Estado, garantido assim, o sucesso de sua candidatura.” (in Ob. Cit., p. 71 e 74).

359
A BAGACEIRA, Eleitoral

Severino Bezerra Cabral: voto à vista, poder a prazo.

Severino Cabral, no palanque, em plena campanha.


Fonte: (Josué Sylvestre)

O leite do ilho, o aluguel da casa atrasado, o pagamento da


prestação da máquina de costura, o enxoval do batisado e o vestido
do casamento. A isso, ou em parte, Cabral atende. Pode atender com
um riso nos lábios, e com o coração fechado, mas atende.
Cabral concede esses pedidos, e os cataloga. Tem ichário, como
uma casa de comércio que vende à prestação. Cabral comprou
voto no crediário.40 (Marcus Odilon Ribeiro Coutinho)

O líder populista encontra nas massas um campo fértil para a sua


a irmação. A grande virtude de Cabral era captar as reais necessidades do
povo campinense, o que explica as duas eleições sucessivas para a Assembleia
Legislativa e uma vitória para a prefeitura municipal de Campina Grande.

40 Marcus Odilon Ribeiro Coutinho, in PODER, ALEGRIA DOS HOMENS. João Pessoa: Grá ica
A Imprensa, p. 175.

360
Oratória e populismo nas eleições da Parahyba

Na opinião de Josué Sylvestre, é impossível pretender-se enquadrar


Severino Cabral no populismo, haja vista que Campina Grande do tempo de
Cabral não apresentava as características do populismo, ou seja, uma grande
massa operária com razoável organização classista, uma indústria em
crescimento e sindicatos fortes, tampouco um comprometimento ideológico
entre os líderes populistas e o eleitorado campinense. Na sua visão,
Severino Cabral, na realidade, era um coronel que usava com
rara inteligência e disciplinada perseverança, as mais variadas
práticas do clientelismo político-eleitoral, o que lhe garantiu
vitórias eleitorais signi icativas. Foi deputado estadual por três
mandatos sucessivos, prefeito de Campina Grande, elegeu-se
vice-governador do Estado em 1965 e sempre desfrutou de
prestígio nas esferas de poder do Estado e do País.41

O clientelismo do deputado Severino Cabral se explicava pela


forma com que fazia a política. Foi o único político da Parahyba a ter um
ichário no qual identi icava todos os eleitores-pedintes, dependentes do
assistencialismo eleitoral. Atendia pessoalmente os eleitores ou, quando não
podia, através de seus cabos eleitorais.
Desde 1959, o “ ichário de Cabral”, como nomeou Josué Sylvestre, era a
forma organizada de seu comitê eleitoral denominado “Centro Político Severino
Cabral” atender os eleitores pobres do Município e adjacências de Campina Grande.
O ponto alto do populismo cabralista se deu durante o período em
que foi prefeito de Campina Grande, entre 1960 a 1963, em que enfrentou
padeiros que praticavam aumentos abusivos nos preços do pão, bem como
os donos de farmácias, que subiram os preços dos remédios acima dos
limites de tolerância da população pobre campinense.
Não conseguindo um acordo com os empresários, enviou projeto de
lei à Câmara Municipal, que, além de aprovar o referido projeto, acrescentou

41 Josué Sylvestre, in NACIONALISMO & CORONELISMO. FATOS E PERSONAGENS DA


HISTÓRIA DE CAMPINA GRANDE E DA PARAÍBA (1954/1964). Brasília: Ed. Senado
Federal, 1982, p. 291.

361
A BAGACEIRA, Eleitoral

uma livraria o icial. Com a vigência da lei municipal, a prefeitura de Campina


Grande passou a ser o único órgão do país a ter uma padaria “o icial” e passou
a oferecer o produto a preço acessível à população. É óbvio que os padeiros da
cidade logo se renderam à ação do prefeito, como anota Drault Ernany:
“É claro que a concorrência aberta pela Prefeitura provocou uma forte
reação dos empresários do ramo. Houve protestos e notas atacando ‘as idéias
demagógicas do prefeito, um entrave à iniciativa privada em busca de vantagens
eleitoreiras.’...Não chegou a instalar a farmácia, muito menos a livraria. Sabia que
tudo aquilo era uma violência, mas, através de amigos, fez chegar aos ouvidos
dos empresários e dirigentes sindicais uma sugestão de acordo. Dito e feito. Os
interessados reuniram-se, reduziram os preços a níveis razoáveis e Cabral fechou
sua padaria demolidora. O objetivo fora plenamente atingido. O pão e os remédios
de cada dia tiveram seus preços tabelados segundo a bolsa do povo...”42
Cabral sabia entender as necessidades do povo.

Severino Cabral exercitando pessoalmente a prática do clientelismo eleitoral.


Fonte (Josué Sylvestre)

42 In Meninos, eu vi...e agora posso contar. Rio de Janeiro: Ed. Record, 1988, p. 212\213.

362
Oratória e populismo nas eleições da Parahyba

Fichário eleitoral de Severino Cabral. (Fonte: Josué Sylvestre)

363
A BAGACEIRA, Eleitoral

“Seu Zé” e o populismo patoense

A política é como a mulher.


Bem ou mal, não se pode viver
sem ela. (Zé Cavalcanti)

Depois de Miguel Sátyro


(o “Major Migué”) e de Ernani
Sátyro (o “amigo velho”),
talvez seja José Cavalcanti
(Seu Zé) a personalidade
política mais famosa da
região das Espinharas.
Embora não fosse
Zé Cavalcanti, o maior representante do populismo patoense.
(Fonte: José Cavalcanti) natural de Patos, posto que
nascido e oriundo de São
José de Piranhas, foi na “Morada do Sol” que José Cavalcanti conseguiu iniciar
a sua trajetória política e se destacar como um dos maiores líderes populistas
do seu tempo. Segundo o historiador José Octávio de Arruda Melo, o seu
populismo tinha como base a urbanização e a expansão dos serviços públicos.43
Filiado à UDN e seguidor do ernanismo patoense, foi eleito deputado
estadual pela primeira vez, em 1950, obtendo a signi icativa votação de 3.213
votos, o que lhe rendeu a liderança udenista naquele município sertanejo.
Como quase todos os populistas de sua época, se mostrava
um grande dominador das massas através da sua oratória. A grande
administração que fez em Patos na década de 1960 aumentou a sua
popularidade e lhe granjeou o título do maior prefeito da capital do Sertão.44

43 In SOCIEDADE E PODER POLÍTICO NO NORDESTE – O Caso da Paraíba (1945-1964).


João Pessoa: Editora Universitária, 2001, p. 433.
44 Ainda menino, na década de 1970, presenciei muitas vezes Zé Cavalcanti visitando os dois
cemitérios da “Morada do Sol” no dia de inados, cumprimentando a todos, comportamento
bem característico dos políticos populistas.

364
Oratória e populismo nas eleições da Parahyba

Félix Araújo: o Demóstenes da Parahyba

Essa terra de bravos,


Não será terra de escravos,
Nem reinado de opressão... (Félix
Araújo)
A irmam os
especialistas em oratória
que, quando o grande orador
grego Cícero falava, o povo
ouvia. Mais eloquente, quando
Demóstenes discursava, o povo
(Fonte: Josué Sylvestre)
marchava. Félix Araújo pode ser
considerado o nosso Demóstenes. Se não foi Félix quem inventou as passeatas
eleitorais, a ele se deve a criação da passeata de mulheres.
Graças aos seus discursos in lamados, arrebanhou multidões aos
comícios e passeatas em Campina Grande.
Foi acusado de ser um dos responsáveis pela tragédia da Praça da
Bandeira, em 09 de julho de 1950. Na campanha eleitoral daquele ano, teve
uma atuação fundamental em prol da chapa americista.
Em março de 1953, rompeu com o José Américo de Almeida, contra
quem lançou um manifesto denominado “Acuso” (nos moldes do manifesto
do francês Victor Hugo, “J'acuse”), em resposta ao artigo publicado no jornal
o icial, A UNIÃO, e no jornal O NORTE, denominado “O CASO FÉLIX ARAÚJO”.
Apontado de comunista pelo governador do estado, Félix Araújo se
defendeu através do aludido artigo, onde acusou o governador do estado, o ex-aliado
José Américo,45 de usar o jornal o icial para denegrir o seu bom conceito de cidadão.
Teve uma morte trágica e até hoje bastante discutível, dadas as
razões de ordem política envolvidas.

45 Para quem, na campanha de 1950, “fez hinos para José Américo, comandou passeatas, atraiu
apoios eleitorais, convenceu indecisos, proferiu centenas de discursos, escreveu dezenas de
manifestos e boletins. Foi um gigante.” Josué Sylvestre, in Lutas de Vida e de Morte – Fatos e
personagens da História de Campina Grande (1945/1953). Brasília: Ed. Senado, p. 317.

365
A BAGACEIRA, Eleitoral

Raymundo Asfora

Raymundo Asfora, um dos maiores oradores da história política da Parahyba.


(Fonte: Josué Sylvestre).

O Brasil não está perdido. Perdidos estão os que querem perdê-


lo. (Raymundo Asfora)

Iniciou a sua trajetória política se elegendo vereador de Campina


Grande na eleição municipal de 1955. Embora fosse natural do Ceará, se
transformou num dos maiores oradores da Parahyba e do Brasil, ao lado de
Alcides Carneiro e Felix Araújo.
Na campanha eleitoral de 1951 teve uma atuação das mais
importantes, ajudando a eleger Plínio Lemos o prefeito de Campina Grande.
Em 1986, após ser eleito vice-governador da Parahyba, morreu de
forma trágica e bastante questionável.

366
Oratória e populismo nas eleições da Parahyba

Ronaldo da Cunha Lima em verso e prosa

O jovem Ronaldo Cunha Lima discursa para populares em prol da


candidatura de Newton Rique.
(Fonte: Josué Sylvestre).

No princípio era o verbo, aí vieram os Gaudêncio e os


transformaram em verba; depois vieram os Agra e icou só o
princípio. (Ronaldo da Cunha Lima)46

46 Ronaldo Cunha Lima, in Evangelho de Campina Grande apud José Nêumane Pinto (www.
neumane.com, Visitado em 25.08.2010.

367
A BAGACEIRA, Eleitoral

Ronaldo da Cunha Lima fez parte de uma nova geração de oradores


políticos da Parahyba, ao lado de Raymundo Asfora e João Agripino e, tempos
depois, se transformaria e um dos governantes populistas paraibanos, ao
lado de Wilson Leite Braga.
Conta o escritor e jornalista José Nêumanne Pinto que, na a sua
primeira participação numa eleição para escolha de prefeito de Campina
Grande, na qual concorria Severino Cabral, também conhecido como “Pé de
Chumbo”, Ronaldo Cunha Lima teria feito toda a campanha em versos, todos
improvisados no palanque contra o cabralismo.
A novidade se espalhou rápido por toda a cidade. O eleitorado
foi rapidamente seduzido a comparecer aos comícios animados pelo poeta.
O folclórico Severino Cabral não deixou por menos. Procurou responder
à altura, também em versos, o que obviamente signi icou um desastre,
conforme registra Nêumanne Pinto:

Dizem os malvados que seu Cabral anunciou um discurso em


versos no distrito de São José da Mata e tudo o que conseguiu
balbuciar foi: 'São José da Mata, São José da Mata, ou São José
da Mata me mata ou eu mato São José da Mata.47

47 In Senhor e Servo da Palavra. (Capítulo da biogra ia de Ronaldo Cunha Lima, que está
sendo concluída pelo historiador José Octávio de Arruda Melo). www.neumanne.com
Visitado em 25.08.2010.

368
CAPÍTULO XII

A democracia ameaçada:
o Golpe de 1964 na
Parahyba

(...) Na verdade, o que se veriϔicou nos


momentos iniciais do golpe, foi a ausência
completa de qualquer forma minimamente
estruturada de reação e resistência. No
fundo, a tão propalada virulência das
forças de esquerda e, sobretudo, das classes
camponesas, mostrou-se, na Paraíba,
absolutamente falaciosa.* 1

* Monique Cittadino, in O GOLPE DE 1964 E A INSTALAÇÃO DA REPRESSÃO NA PARAÍBA,


p. 12.

369
A BAGACEIRA, Eleitoral

A
cassação do prefeito de Campina Grande Newton Rique, por ato de
força do regime militar, provocou a eleição indireta, pela Câmara
Municipal, dos vereadores João Jerônimo da Costa e o ex-secretário
municipal, o advogado Noaldo Moreira Dantas, que foram eleitos prefeito e
vice-prefeito, respectivamente.
O parlamento estadual também foi duramente atingido, tendo sido
cassados os direitos políticos dos deputados estaduais: Langstein Almeida e
Agassiz Almeida, Assis Lemos, Francisco Souto Neto, José Targino Maranhão,
Mário Silveira e Sílvio Pélico Porto.
Os deputados federais Pedro Gondim, Antônio Vital do Rego e José
Jof ily e o vereador da capital, Antônio Augusto Arroxelas, também foram
vítimas do regime ditatorial.1
Dois atos normativos se destacaram em 1964.
Primeiro, o Ato Institucional nº 1, que, no seu artigo 2º, previu a
eleição indireta do presidente e do vice-presidente da República, que se
realizaria em 03 de outubro de 1965, pela maioria absoluta dos membros
do Congresso Nacional, em sessão pública e votação nominal. Caso não fosse
obtida a maioria absoluta na primeira votação, no mesmo dia haveria outra,
sendo considerado eleito quem tive obtiver maioria simples de votos. Em
caso de empate, a votação prosseguiria até que um dos candidatos obtivesse
a maioria.
O segundo ato normativo relevante de 1964 foi a Emenda
Constitucional nº 9, de 22 de julho de 1964, modi icando o art. 38 da
Constituição Federal de 1946 para prever a eleição simultânea, em todo o
país, de deputados, senadores, presidente e vice-presidente da República.

1 Não foi apenas parlamentares e chefes do poder executivo que foram cassados na Parahyba.
A magistratura também foi alvo do arbítrio militar. Os desembargadores do Tribunal de
Justiça, Emílio de Farias e João Santa Cruz. O primeiro, após proferir discurso contra a
cassação dos ministros do Supremo Tribunal Federal, Evandro Lins e Silva, Hermes Lima
e Victor Nunes Leal, teve a sua aposentadoria decretada compulsoriamente por ato da
presidência da República, em 29 de abril de 1969.
O então juiz, Humberto Cavalcanti de Mello, também foi atingido pelo Ato Institucional.

370
A democracia ameaçada: o Golpe de 1964 na Parahyba

O presidente Castelo Branca visita a Parahyba.


Ao lado do então governador, João Agripino Filho.

371
A BAGACEIRA, Eleitoral

372
CAPÍTULO XIII

1965: A última eleição


direta para governador

“...não construiu uma corrente política, uma


categoria de análise a qual se pudesse dar
o nome de ‘agripinismo’, caracterizada por
vincular-se a bases sociais sólidas e possuir
aliados e seguidores a ϔim de implantar e dar
continuidade a um programa ou projeto. A
sua base de apoio natural, a elite agrária
oligárquica foi, em grande parte, por ele
contrariada...” (Monique Cittadino)* 1

* Monique Cittadino, in PODER LOCAL, MEMÓRIA E CULTURA POLÍTICA: POSSIBILIDADE


DE ANÁLISE A PARTIR DA FIGURA DO GOVERNADOR JOÃO AGRIPINO (PARAÍBA –
1966-1971). SAECULUM – Revista de História da Universidade Federal da Paraíba. João
Pessoa, jan/jun, 2007, p. 54.

373
A BAGACEIRA, Eleitoral

A austeridade X o coração

Seria uma luta de che ias; Ruy, chefe do PSD; João, chefe da
UDN. (Severino Ramos)1

A
quela eleição para o governo do estado de 1965 teve algo de
inusitado. Além de haver sido a primeira eleição após o golpe militar
de 1964 foi a primeira vez que Ruy Carneiro se candidatou a um
cargo do poder executivo depois de exercer vários mandatos de senador.
Do ponto de vista normativo, o novo Código Eleitoral de 1965 – a
Lei nº 4.737 – entrou em vigor procurando reduzir algumas distorções nos
pleitos proporcionais – cláusula de barreira de 5%; maioria absoluta (sem
segundo turno popular) para cargos executivos – presidente, governador e
prefeito.
Em todo país, onze governadores foram eleitos pela via direta, João
Agripino Filho foi um deles.
Os outros dois nomes do PSD – Teotônio Neto e Humberto
Lucena – foram vetados pela cúpula do regime militar.2 Rui foi obrigado
a aceitar a candidatura à contragosto, haja vista que era conhecida a
sua preferência pelo Senado, onde intencionava encerrar a sua carreira
política.
Na convenção do partido, Ruy concorreu com Humberto Lucena,
após a desistência de Teotônio Neto. Venceu por uma pequena diferença de
5 votos e foi o candidato indicado.
Os órgãos estudantis que tiveram uma signi icativa participação
na campanha estavam proibidos de exercer atividades políticas. Por diversas

1 In AGRIPINO - O MAGO DE CATOLÉ. João Pessoa: Ed. A UNIÃO, p. 107.


2 Na opinião do jornalista Severino Ramos, durante o Regime Militar, no Brasil, “Os militares
se consideravam donos da vontade dos políticos.” (in Ob. Cit., p. 109).

374
1965: a última eleição direta para governador

vezes, João Agripino precisou intervir junto aos militares para evitar que os
estudantes sofressem retaliações de parte do Governo federal.
O então deputado federal, Luiz Bronzeado, como das outras vezes,
provocou incidentes violentos na campanha.
Mas a grande novidade dessa eleição ainda estava por vir e
cairia como uma verdadeira “bomba” nas hostes da UDN, o lançamento da
candidatura de outro cacique, o campinense Argemiro de Figueiredo resolve
concorrer ao cargo de vice-governador na chapa pessedista. O jornalista
paraibano Severino Ramos assim comentou a repercussão dessa candidatura
na campanha de João Agripino:

(...) Foi um golpe contundente que abalou a estrutura da


campanha udenista. Todos os três senadores da Paraíba
estavam, deste modo, envolvidos numa luta de gigantes. E em
condições desvantajosas para João: eram dois contra um.3

Enquanto Ruy tinha em sua chapa um nome de peso, tão forte


eleitoralmente quanto ele próprio, o candidato a vice-governador na chapa
udenista, o deputado Sílvio Porto, oriundo do PDC, era considerado como
uma igura inexpressiva sem densidade eleitoral, embora o seu partido
integrasse a base gondinista. O próprio João Agripino chegou a confessar
ao jornalista Severino Ramos, anos depois, a di iculdade por qual passava
a sua candidatura com a presença de Argemiro de Figueiredo na chapa
pessedista.
Os analistas políticos comparam a política a um jogo de xadrez.
A cada passo do adversário, é preciso o opositor lançar mão de uma outra
estratégia, preferencialmente mais ousada. Foi o que fez o MAGO DE CATOLÉ.
Numa jogada de mestre, tentando anular a força da candidatura argemirista,

3 In Ob. Cit., p. 110.

375
A BAGACEIRA, Eleitoral

João Agripino recorreu a um outro campinense,4 o deputado populista5


Severino Cabral que, além de ser detentor de uma alta popularidade em

4 Desde a República Velha, Epitácio Pessoa já alertava ao então presidente


João Pessoa, acerca da importância de Campina Grande no contexto político-
eleitoral. Talvez João Agripino, ao convidar Severino Cabral para ser o seu
candidato a vice-governador, João tentava anular uma provável vantagem
eleitoral da chapa pessedista. Com essa decisão, João Agripino foi o primeiro
a entender que sem um nome de peso oriundo da Rainha da Borborema, o
segundo colégio eleitoral do Estado, as chances de vitória para uma disputa
para o governo estadual são mínimas. Daquela eleição de 1965, para cá,
tornou-se uma praxe os candidatos a governador completarem a sua chapa
com um nome expressivo eleitoralmente de Campina Grande, o que se explica
pelo fato de os eleitores daquela comuna terem um bairrismo que chega
a causar inveja aos demais eleitores do estado. Em todas as campanhas
eleitorais de níveis estadual e federal, os eleitores campinenses sufragam os
candidatos de sua terra. Diferentemente, por exemplo, do eleitorado de João
Pessoa, constituído em sua maioria de pessoas egressas das diversas regiões
do estado, principalmente do Sertão, e que, por esse motivo, a capital do estado
dificilmente consegue emplacar um representante na Assembleia Legislativa do
Estado, na Câmara dos Deputados e muito menos no Senado. Seguindo esse
precedente, na campanha eleitoral de 2010, o candidato à reeleição ao Governo
do Estado, com o fim de anular a força eleitoral do candidato ao Senado, Cássio
Cunha Lima, em prol da candidatura ao governo do estado de Ricardo Coutinho
e uma eventual candidatura a vice-governadoria de outro candidato oriundo da
Rainha da Borborema, o deputado federal Rômulo José de Gouveia, convidou o
prefeito de Campina Grande, Veneziano Vital do Rego, para ser o seu candidato
a vice-governador. A negativa do prefeito Veneziano ao convite frustou as
expectativas dos maranhistas, que procurou compensar essa perda com outro
nome de Campina Grande, o que não foi possível. Por ironia do destino, ou
mera coincidência, uma semana após encerrado o prazo legal para se afastar
do cargo e concorrer ao pleito, o prefeito campinense teve o seu diploma
cassado pela Justiça Eleitoral, ao argumento de que praticou abuso de poder
político para se reeleger prefeito, em 2008. o governador convidou o prefeito
de Campina Grande, Veneziano Vital do Rego, para compor a sua chapa, na
condição de candidato a vice-governador. Pouco antes de completar um mês da
derrota eleitoral de 2010, o governador José Targino Maranhão desabafou nos
portais eletrônicos que perdera o pleito em razão de não ter tido um candidato
a vice-governador, oriundo de Campina Grande.
5 Registra-se que, na condição de ex-prefeito de Campina Grande, de 1960 a 1963,
enfrentando uma greve de padeiros, Severino Cabral chegou a comprar uma padaria e
mandou fabricar pão mais barato para vender à população. O detalhe é que a compra da
padaria foi feita com o dinheiro público do município, sem rubrica orçamentária especí ica,
um dos motivos que o levou a responder a um Inquérito Policial Militar (IPM).

376
1965: a última eleição direta para governador

Campina Grande, tinha dinheiro para inanciar e “vitaminar” a campanha.6 A


escolha do vice signi icou um xeque-mate na UDN, pois se mostrou decisiva
para o desfecho daquele pleito. Verbae voto foram, portanto, os critérios para
a escolha de Cabral e a rejeição de Sílvio Pélico Porto como companheiro de
chapa de Agripino.
A escolha de João Agripino deu um novo impulso à sua candidatura,
que experimentou um crescimento nas pesquisas após a participação do
líder populista campinense.7 Mas surgiram algumas di iculdades. Havia
resistências no seio militar em relação à candidatura de Cabral, o que
provocou hostilidades em relação à própria candidatura de João Agripino.
A investida partiu do chefe do Serviço Nacional de Inteligência
(SNI), na Parahyba, que o iciou a João Agripino pedindo informações acerca
de gastos e da origem de inanciamento de sua campanha. Considerando
a forte personalidade do líder sertanejo e a sua amizade pessoal com o
presidente da república, obviamente que a autoridade militar icou sem
resposta.
Na época do regime militar implantado a partir de 1964 tornou-
se comum e até uma exigência que as candidaturas passassem pelo crivo
dos militares. Assim como Cabral sofreu a repulsa, do lado do PSD, antes
mesmo da candidatura de Ruy Carneiro as pré-candidaturas de Humberto
Lucena e Teotônio Neto foram rechaçadas pelo Comandante Arthur Candal
da Fonseca, que antecedeu ao General Euler Bentes Monteiro, o mesmo que
noticiou ao Procurador Regional Eleitoral a inelegibilidade de Cabral.

6 Na eleição municipal de Campina Grande, em 1947, Severino Cabral havia sido o grande
inanciador da campanha do candidato vitorioso americista, o médico Elpídio de Almeida.
7 Na opinião de Draul Ernany, sem Severino Cabral na chapa de João Agripino, este não teria
sido eleito governador, posto que Cabral “era o típico chefe político do interior: casava,
batizava, tinha centena de a ilhados, intervinha nas arbitrariedades da polícia, ajudava
a associações de classe e distribuía sua ação benfeitora à direita e à esquerda, sem ver a
cor e o engajamento de quem protegia.” (in Meninos, eu vi...e agora posso contar. Rio de
Janeiro: Ed. Record, 1988, p. 210).

377
A BAGACEIRA, Eleitoral

Ouvindo do próprio Ruy Carneiro a a irmativa de que os deputados


Humberto Lucena e Teotônio Neto eram os nomes cotados para serem os
candidatos pelo PSD, o comandante vetou o nome de ambos, ao argumento
de que Humberto era subversivo e esquerdista, contestador contumaz da
Revolução de 1930, enquanto que Teotônio era tido como corrupto, contra
quem os militares teriam um inquérito de três metros de altura. Como a irma
o jornalista Severino Ramos, naquela época, os militares se consideravam
donos da vontade do político.8
Embora aliado dos militares, João Agripino ampliou o seu
eleitorado à medida que aumentava, na campanha eleitoral, as críticas ao
regime implantado em 1964, pois, ser contra a Revolução estava na moda,
naqueles dias incertos e tenebrosos.9
Ao contrário, o seu opositor Ruy Carneiro optou em fazer uma
campanha que ressaltava as suas virtudes pessoais. Por outro lado, temendo
a ocorrência de fraude em Conceição do Piancó, reduto do udenismo sob a
liderança da família Braga, com ampla e histórica tradição de fraudes,10 pediu
ao então presidente do TRE que designasse um juiz e um funcionário para
iscalizar a votação no reduto braguista-udenista, no que foi atendido.11
A “relativa tranquilidade” daquela campanha foi assim registrada
por Severino Ramos:

8 Severino Ramos, in Ob. Cit., p. 109.


9 Severino Ramos, in Ob. Cit., p. 114.
10 Os precedentes de fraudes no Município de Conceição de Piancó já eram conhecidos naquele
período. Conta o jornalista Severino Ramos que, “Em um dos pleitos da década de 50, o juiz
Francisco Espínola foi ali apurar falsiϔicações de mapas e outras estrepolias eleitorais, reuniu
todas as provas e colocou numa pasta. Quando esperava o ônibus em um bar da cidade,
tomando um cafezinho, roubaram-lhe a pasta com os documentos.” (Severino Ramos, in Ob.
Cit., p. 115).
11 Para Conceição do Piancó, se deslocaram o juiz Genival Caju e o então secretário-geral do
Tribunal, Heitor Falcão de Freitas. “Surpreendentemente, nesse ano não se constatou o
menor deslize nas eleições daquele município.” (idem).

378
1965: a última eleição direta para governador

Pedro Gondim não usou o governo, não empregou violência


policial como recurso de campanha.

Essa interpretação não corresponde à verdade dos fatos e deve


ser tomada com as devidas reservas, não obstante a sua respeitável fonte
jornalística. O que se observou naquela campanha eleitoral foi o uso abusivo
da máquina do estado, principalmente do jornal o icial A UNIÃO sem contar
com a concessão de aumento de salários aos funcionários públicos, com
grande repercussão na folha de pagamento do estado e no equilíbrio das
inanças públicas.
A versão do eminente jornalista, a quem admiro pela sua verve
intelectual e pro issional também difere daquela dada pelos adversários de
Pedro Gondim e que foi levada ao Tribunal Superior Eleitoral nos recursos
que atacaram a diplomação dos eleitos.
Segundo consta nos aludidos processos – Recursos de nºs 235, 236
e 237, interpostos respectivamente por Rui Carneiro e Argemiro; Raimundo
de Gouveia Nóbrega, Renato Teixeira Bastos, Antônio Botto de Menezes,
Rômulo Romero Rangel, Anfrísio Ribeiro de Brito e Antônio D'Ávila Lins;
e, o terceiro, pelo Procurador Regional Eleitoral com assento no Tribunal
Regional Eleitoral da Parahyba – teria havido corrupção eleitoral praticada
pelo então Governador do Estado, Pedro Moreno Gondim, em favor dos
candidatos integrantes da chapa o icial.
As acusações foram de que Pedro Gondim izera 4.125 nomeações
de servidores; uso do jornal o icial A UNIÃO em que diariamente se fazia
apologia em favor das candidaturas o iciais através de seus editoriais;
centenas de promoções de servidores feitas em período vedado pela
legislação eleitoral; o uso do Fisco e da Polícia Militar que teria icado a
serviço das candidaturas o iciais; a presença do governador nos comícios e
na direção da campanha eleitoral; cessão de prédios públicos pertencentes
ao estado para instalação de comitês eleitorais e o uso de viaturas do estado
para transporte de comitivas e candidatos.

379
A BAGACEIRA, Eleitoral

Acusou-se também o governo de haver usado a rádio Tabajara para


fazer propaganda dos candidatos o iciais e a utilização de verba estadual de
três bilhões de cruzeiros pelo secretário de educação, sem prévia autorização
legislativa, que teria sido desviada para ins de propaganda eleitoral, com
o compromisso do candidato João Agripino Filho de “fazer senador, pelo
Estado, nas próximas eleições, o então Governador Pedro Gondim.” 12
Outros acontecimentos marcaram essa eleição. Além da presença
de Argemiro de Figueiredo na chapa de Ruy Carneiro, na posição de mero
coadjuvante, dada a sua condição de candidato a vice-governador, a vitória
da chapa agripinista-cabralista foi uma das mais apertadas para o governo
do estado, de que se tem notícia na história eleitoral do estado, pois venceu
por uma pequena diferença de 2.927 votos.
Mas o maior fato de grande repercussão negativa ocorreu
por parte do então presidente do Tribunal Regional Eleitoral do estado.
Agindo de forma, no mínimo, imprudente, durante a apuração dos votos, o
desembargador Nelson Negreiros, comprometeria a legitimidade da eleição.
Explico. Na versão do jornalista Severino Ramos, para dar uma
maior emoção àquele pleito, o presidente do TRE teria omitido as votações
de alguns municípios considerados redutos udenistas, quando divulgava o
penúltimo boletim de urna, o que levou o candidato pessedista Ruy Carneiro
a igurar como o provável vencedor. Descoberto o malogro após a divulgação
do último boletim, o eleitorado ruista, que já comemorava a vitória por
antecipação, icou desolado com o resultado inal e com a impressão de
que houve fraude em favor de João Agripino. O episódio foi registrado pelo
jornalista Severino Ramos, testemunha ocular do fato:

O presidente do TRE pagou caro por uma brincadeira de


mau gosto ou uma imprudência que só izeram aumentar as
acusações dos derrotados. Na reta inal da apuração, faltando

12 Acórdão nº 3.996, de 30 de agosto de 1966, do Tribunal Superior Eleitoral.

380
1965: a última eleição direta para governador

poucos votos para serem computados, Nelson Negreiros


mandou divulgar um boletim às 11 horas, em que Ruy aparecia
na dianteira com uma diferença expressiva. Nesse boletim,
no entanto, o presidente não mandou incluir as votações em
vários municípios do interior, que estavam sobre sua mesa e
revertiam o quadro em favor de JA.
O autor encontrava-se na ocasião no gabinete do
desembargador-presidente, como correspondente do
Jornal do Brasil, e fez uma observação: ‘Desembargador, se
o senhor divulgar este boletim incompleto vai causar uma
grande confusão.’ Heitor Falcão estava presente e rati icou
a ponderação. Negreiros, espírito bonachão, respondeu que
não fazia mal. ‘É bom criar um certo suspense no clímax da
apuração.’
Esse clímax, no entanto, transformou-se em revolta por parte
dos carneiristas. Às 11 horas, quando foi transmitido pelo
rádio o boletim dando maioria a Ruy, eles saíram às ruas
comemorando, em manifestações ruidosas, com músicas
e folguetórios. Espoucaram as garrafas de champanhe,
esvaziaram-se litros de uísque. Fui contactado por telefone
por assessores de Gondim e Agripino que, assustados,
queriam saber sobre a veracidade daqueles números e se eram
de initivos. ‘Não, não é. E o grave na história é que daqui a duas
horas vai sair o último boletim, dando a vitória a João. Esse
será de initivo.
Ruy morreu inconformado, certo de que a eleição lhe fora
subtraída por meios fraudulentos.13

Ruy levou a questão ao “tapetão”, mas não obteve êxito.

13 Não satisfeito com a atitude irresponsável cometida, registra Severino Ramos que o então
presidente da Corte Eleitoral espalhava nas rodas de amigos que tinha sido o responsável
pela vitória do agripinismo. Como resposta, João Agripino teria se utilizado de uma
artimanha. Conhecido por ser bem informado do que ocorria nos bastidores da cúpula
do poder central em Brasília, dada a sua proximidade com os militares, João induziu o
desembargador a pedir aposentadoria, alegando que seu cargo estava para ser cassado
a qualquer momento. Apreensivo com a informação, Negreiros pediu aposentadoria de
imediato e só, depois, descobriu que fora induzido a um erro por João Agripino. (in Ob. Cit.,
p. 116).

381
A BAGACEIRA, Eleitoral

O último fato que merece registro daquele pleito foi a cassação do


diploma do vice-governador eleito, Severino Cabral, que icou no poder por
apenas oito meses, em razão de que o Tribunal Superior Eleitoral anulou
o seu diploma, provocado que fora pelo Procurador Regional Eleitoral da
Parahyba, que impugnara o registro de sua candidatura ainda durante a fase
da campanha eleitoral.
A acusação era de que, na época em que foi candidato, Severino
Cabral exercera a direção do Banco Auxiliar do Povo S.A, que concedia
crédito aos populares de Campina Grande, bem ao estilo populista do líder
campinense. Ocorre que Cabral não havia se afastado do referido Banco
dentro do prazo de três meses, conforme previa a Lei nº 4.738, que tratava
das inelegibilidades.14 João Agripino sabia dessa situação, mas mesmo assim

14 Na fase de registro de candidatura, Severino Bezerra Cabral teve a sua candidatura


impugnada, por inelegibilidade, mas não foi conhecida pelo Tribunal Regional Eleitoral da
Parahyba em razão de ter sido feita fora do prazo da lei. O Procurador Regional Eleitoral
impugnou o registro da candidatura do vice-governador com base em denúncia feita por
o ício que lhe fora encaminhado pelo General Euler Bentes Monteiro, então Comandante
do 1º Grupamento de Engenharia, que não aceitava a candidatura de Severino Cabral,
tendo demonstrado isso pessoalmente a João Agripino. Contra Cabral, pesava o fato de
responder a três IPM (Inquérito Policial Militar). Além dessa di iculdade com a candidatura
de Severino Bezerra Cabral, João Agripino teve que dar explicações (que não deu) ao chefe
do SNI na Parahyba, o general reformado Paulo Bolívar Cavalcanti, que, através de o ício,
procurou saber qual era a origem e os inanciadores de sua campanha. Ao que João teria
respondido, também por o ício: “Não tenho que lhe dar satisfação sobre isso e aproveito
a ocasião para pedir a V. Sa. que me recomende à sua excelentíssima genitora.” (Severino
Ramos, in Ob. Cit., p. 111/112).
A propósito, Campina Grande registra precedentes históricos na Justiça Eleitoral, em
todas as suas instâncias, desde os Juízes Eleitorais ao Tribunal Superior Eleitoral. Vários
de seus representantes ou tiveram registro de candidatura indeferido, como foi o caso de
Severino Cabral, em 1966, ou tiveram mandatos cassados, como foi o caso de Valter Brito
Neto, que entrou para a história política do Brasil como o primeiro deputado federal que
teve o mandato podado pela Justiça Eleitoral, em razão de in idelidade partidária. Outro
campinense, Cássio Rodrigues da Cunha Lima, também teve seu diploma cassado pelo
TSE, con irmando a decisão do Tribunal Regional Eleitoral da Paraíba, por abuso de poder
político e conduta vedada em campanha eleitoral. Recentemente, o prefeito de Campina
Grande, eleito em 2008, Veneziano Vital do Rego, teve também o seu diploma cassado
por motivo de abuso de poder político. Assim como o ex-governador, Cássio Rodrigues da
Cunha Lima, que se manteve no cargo por força de uma liminar, Veneziano Vital do Rego
ainda governa a Rainha da Borborema sob a espada de Dâmocles, podendo, a qualquer

382
1965: a última eleição direta para governador

aceitou o candidato impedido como companheiro em sua chapa, correndo o


risco de ter seus votos declarados nulos em razão da unicidade da chapa.15
O Tribunal Superior Eleitoral cassou o diploma do vice-governador,
tendo inclusive apontado uma fraude16 praticada por Cabral com o im de
ludibriar o próprio TSE, mas não reconheceu provada a conduta de João
Agripino, razão pela qual o manteve no cargo.
A defesa de Cabral perante a Corte Superior Eleitoral coube ao
jurista patoense, Ernani Sátiro. No mesmo dia, o TSE enterrou as últimas
pretensões ruístas de anular aquela eleição:

Na mesma sessão, o TSE negou provimento a uma ação


promovida por Ruy e Argemiro que pedia a anulação do
pleito e consequentemente da eleição do governador. Se o

momento, perder o cargo, caso o Tribunal Regional Eleitoral, ao julgar o mérito, venha a
negar provimento ao seu apelo.
15 Creio que é a partir dessa eleição que os políticos da Parahyba criaram a “jurisprudência” de
aceitar candidatos “podres” juridicamente (inelegíveis) em suas chapas, mas puxadores e
campeões de votos, mesmo correndo o risco de terem seus votos declarados nulos. Quando
assim não agem lançam as suas próprias candidaturas, conscientes de suas inelegibilidades
mas, por uma questão técnica e das brechas da legislação eleitoral, conseguem eleger outro
candidato de sua con iança. O exemplo mais claro desse fenômeno foi a candidatura de Lúcia
Braga à prefeitura da capital do estado, em 1992, pelo PDT. Ciente de sua inelegibilidade,
em razão do seu parentesco com o governador Wilson Braga, a candidata manteve a sua
candidatura até a undécima hora, só renunciando um dia antes do pleito. Como o seu nome
igurava na chapa o icial do TSE, o candidato CHICO FRANCA, que a substituiu, foi eleito com
o nome dela na chapa, o que considero um exemplo de verdadeiro “estelionato eleitoral”
institucionalizado.
16 Consta de trecho do voto do relator da decisão do TSE, que considerou o vice-governador
inelegível: “(...) Ora, para se ter a constatação de que a ‘renúncia’ foi uma farsa, não
representando a verdade, é bastante que se passe uma vista na Ata da Assembleia Geral
Extraordinária, de 17 de julho, no espaço, portanto, de dezesseis dias apenas, da suposta
‘renúncia’, e veriϔicar-se-á que, na mesma, nenhuma referência se faz ao ocorrido, o que é
imperdoável, pois, o Banco perdera o seu diretor-presidente o maior acionista, e a Assembleia
teria que tomar conhecimento do fato para dar-lhe substituto deϔinitivo, como reza o art. 9º,
dos Estatutos, o que, entretanto, não o fez.
Tudo foi, assim, um embuste. Indicado para candidato a vice-Governador, já no período da
vigência da Lei 4.738, outro remédio não tinha Cabral senão encaminhar ao Banco uma carta
de ‘renúncia’, ante-datada, procurando legalizar uma situação que não se compadecia com um
homem sério, apenamente para burlar normas moralizadoras dentro do espírito da Revolução
de 31 de março. (…).” (Acórdão nº 3. 966, de 30 de agosto de 1966, do TSE).

383
A BAGACEIRA, Eleitoral

recurso tivesse provido, os dois nada teriam a lucrar, pois se


fosse anulado o pleito, o novo governador seria eleito pela
Assembleia, onde a Arena tinha maioria.17

Com a cassação de Severino Cabral, a eleição de vice-governador


foi anulada e realizada eleição indireta, pela Assembleia Legislativa, recaindo
sobre Juarez Farias, ex-secretário de Planejamento, a escolha.
O TSE também considerou como não provadas as acusações feitas
contra o governador Pedro Gondim.
Durante o regime militar, era comum alguma autoridade da
caserna comparecer à solenidade de diplomação. Na de João Agripino,
tal fato não ocorreu. A ausência dos militares na sessão de diplomação foi
repetida na posse, que ocorreu no dia 31 de janeiro de 1966, a exceção do da
presença ilustre do representante do presidente da República, o Marechal da
Aeronáutica, Eduardo Gomes.
Para o jornalista Severino Ramos, a eleição de João Agripino
quebrou um tabu18 na Parahyba. Pela primeira vez, era eleito um governador
com o apoio do seu antecessor. Outro grande feito de João Agripino foi haver
derrotado dois senadores e duas das três grandes lideranças da Parahyba:
Argemiro de Figueiredo e Ruy Carneiro.
A partir de 1970, o regime representativo na Parahyba e no Brasil
experimentou outro ciclo, o de eleições indiretas para o governo do estado.
Mas isso é uma outra história.

17 Severino Ramos, in Ob. Cit., p. 121.


18 Na posse de João Agripino, também se quebrou outro tabu. Pela primeira vez, o governador
eleito foi saudado na Assembleia Legislativa por um deputado oposicionista, feito este que
coube ao deputado campinense Ronaldo da Cunha Lima, pertencente às ileiras do PTB
che iado por Argemiro de Figueiredo.

384
1965: a última eleição direta para governador

RESULTADO DAS ELEIÇÕES NA PARAHYBA EM 1965

Cargo: Governador
Partido /
Candidato Votação % válidos Situação
Coligação
João Agripino Filho
168.712 50,4% Eleito
Vice: Severino Bezerra Cabral
Ruy Carneiro
165.785 49,5%
Vice: Argemiro de Figueiredo
Votos brancos 4.110
Votos nulos 6.390
Total apurado 344.997

Comparecimento nas Eleições de 1965 na Paraíba

Comparecimentos e abstenções
Percentual
Município Eleitorado Comparecimento Abstenção
Abstenção
Alagoa Grande 6.203 4.412 1.791 28,87%
Alagoa Nova 4.176 2.891 1.285 30,77%
Alagoinha 2.808 2.061 747 26,60%
Antenor Navarro 5.679 4.741 938 16,51%
Araruna 6.645 4.874 1.771 26,65%
Areia 7.276 5.216 2.060 28,31%
Aroeiras 2.929 2.230 699 23,86%
Bananeiras 5.197 3.920 1.277 24,57%
Belem 3.214 2.197 1.017 31,64%
Bonito 2.289 1.691 598 26,12%
Brejo do Cruz 4.785 3.785 1.000 20,89%
Cabaceiras 6.663 5.177 1.486 22,30%
Cabedelo 4.425 3.386 1.039 23,48%
Caiçara 6.141 4.473 1.668 27,16%

385
A BAGACEIRA, Eleitoral

Cajazeiras 10.401 8.030 2.371 22,79%


Campina
42.925 30.768 12.157 28,32%
Grande
Catolé do Rocha 11.415 9.397 2.018 17,67%
Conceição 7.590 5.538 2.052 27,03%
Cruz do Espirito
3.533 2.739 794 22,47%
Santo
Cuité 5.801 4.958 843 14,53%
Curemas 3.523 2.719 804 22,82%
Esperança 6.645 4.874 1.771 26,65%
Guarabira 11.609 8.493 3.116 26,84%
Ingá 5.862 4.099 1.763 30,07%
Itabaiana 8.263 6.040 2.223 26,90%
Itaporanga 8.453 6.315 2.138 25,29%
Jacaraú 2.571 1.627 944 36,71%
João Pessoa 53.184 40.193 12.991 24,42%
Juazeirinho 2.456 2.008 448 18,24%
Malta 4.613 4.028 585 12,68%
Mamanguape 5.542 4.100 1.442 26,01%
Monteiro 11.756 8.630 3.126 26,59%
Patos 17.690 13.818 3.872 21,88%
Pedras de Fogo 3.153 2.336 817 25,91%
Piancó 12.193 9.323 2.870 23,53%
Picui 5.874 5.078 796 13,55%
Pilar 5.453 4.014 1.439 26,38%
Piloes 1.352 763 589 43,56%
Pirpirituba 1.946 1.349 597 30,67%
Pocinhos 3.329 2.556 773 23,22%
Pombal 13.832 11.109 2.723 19,68%
Princesa Isabel 10.099 7.589 2.510 24,85%
Queimadas 5.345 3.233 2.112 39,51%
Rio Tinto 4.907 3.447 1.460 29,75%
Santa Luzia 7.607 6.642 965 12,68%

386
1965: a última eleição direta para governador

Santa Rita 12.490 9.820 2.670 21,37%


São João do
7.276 5.272 2.004 27,54%
Cariri
São José de
3.987 3.167 820 20,56%
Piranhas
Sapé 9.400 6.769 2.631 27,98%
Serra Branca 3.681 2.568 1.113 30,23%
Serraria 3.356 2.396 960 28,60%
Solanea 2.811 2.034 777 27,64%
Soledade 3.099 2.623 476 15,36%
Souza 20.208 16.405 3.803 18,81%
Sumé 2.413 1.603 810 33,56%
Taperoa 5.487 4.485 1.002 18,26%
Teixeira 6.705 5.216 1.489 22,20%
Uirauna 4.262 3.226 1.036 24,30%
Umbuzeiro 3.512 2.018 1.494 42,54%

Cargo: Senador
Partido /
Candidato Votação % válidos Situação
Coligação
Ruy Carneiro MDB 192.497 51,2% Eleito
Aluisio Afonso Campos ARENA 183.320 48,7% Eleito
Votos brancos 21.909
Votos nulos 15.521
Total apurado 413.247

Legenda:
MDB - Movimento Democrático Brasileiro
ARENA - Aliança Renovadora Nacional

387
A BAGACEIRA, Eleitoral

Cargo: Deputado Federal


Partido / %
Candidato Votação Situação
Coligação válidos
José Janduhy Carneiro MDB 26.909 7,31% Eleito
Humberto Coutinho de Lucena MDB 24.778 6,73% Eleito
Pedro Moreno Gondim ARENA 24.563 6,67% Eleito
Francisco Teotonio Neto ARENA 23.976 6,51% Eleito
Renato Ribeiro Coutinho ARENA 20.888 5,67% Eleito
Wilson Braga ARENA 20.815 5,65% Eleito
Flaviano Ribeiro Coutinho Filho ARENA 18.890 5,13% Eleito
Ernani Ayres Sátyro e Sousa ARENA 18.124 4,92% Eleito
Petronio Ramos de Figueiredo MDB 17.809 4,84% Eleito
Monsenhor Manuel Vieira ARENA 17.737 4,82% Eleito
Vital do Rêgo ARENA 16.386 4,45% Eleito
Milton Bezerra Cabral ARENA 16.323 4,43%
Bivar Olyntho de Melo e Silva MDB 15.239 4,14% Eleito
Plínio Lemos ARENA 15.043 4,09%
José de Paiva Gadelha MDB 13.169 3,58% Eleito
Joacil de Brito Pereira ARENA 12.937 3,51%
Osmar de Araújo Aquino MDB 12.335 3,35%
Jacob Guilherme Frantz ARENA 10.498 2,85%
Luiz da Costa Araújo Bronzeado ARENA 10.400 2,82%
João Fernandes de Lima MDB 10.306 2,80%
Antonio D’avila Lins MDB 7.071 1,92%
Antonio Nominando Diniz ARENA 6.568 1,78%
Arnaldo Bezerra Lafayette MDB 5.135 1,39%
Claudio Santa Cruz Costa MDB 1.930 0,52%
Praxedes Pitanga MDB 13 0,00%
Votos brancos 32.562
Votos nulos 10.687
Total apurado 411.091

Legenda:
MDB - Movimento Democrático Brasileiro
ARENA - Aliança Renovadora Nacional

388
1965: a última eleição direta para governador

Cargo: Deputado Estadual


Partido /
Candidato Votação % válidos Situação
Coligação
Ronaldo Cunha Lima MDB 8.871 2,37% Eleito
Clovis Bezerra Cavalcanti ARENA1 8.365 2,23% Eleito
Otávio Mariz Maia ARENA1 7.567 2,02% Eleito
Dr Epitácio ARENA1 7.454 1,99% Eleito
Inácio Pedrosa Sobrinho MDB 7.356 1,96% Eleito
Alvaro Gaudencio de Queiroz ARENA1 7.146 1,91% Eleito
Francisco Pereira ARENA1 6.954 1,86% Eleito
José Braz do Rego ARENA1 6.846 1,83% Eleito
José Fernandes de Lima MDB 6.438 1,72% Eleito
Laercio Pires de Souza MDB 6.331 1,69% Eleito
José Pereira da Costa ARENA1 6.295 1,68% Eleito
Luiz Ferreira Barros ARENA1 6.043 1,61% Eleito
Edivaldo Fernandes Mota ARENA1 6.004 1,60% Eleito
Inacio Bento de Morais ARENA1 5.892 1,57% Eleito
Mário Silveira MDB 5.860 1,56% Eleito
Romeu Gonçalves de Abrantes ARENA1 5.573 1,49% Eleito
Antonio de Paiva Gadelha MDB 5.568 1,49% Eleito
Egídio da Silva Madruga ARENA1 5.563 1,48% Eleito
Agnaldo Veloso Borges ARENA1 5.546 1,48% Eleito
Carlos Pessoa Filho ARENA2 5.505 1,47% Eleito
José Lacerda ARENA2 5.382 1,44% Eleito
Antônio de Araújo Quinho ARENA1 5.174 1,38% Eleito
Azuil Arruda de Assis MDB 4.898 1,31% Eleito
Ze Maranhão MDB 4.830 1,29% Eleito
Sebastião Calixto de Araújo MDB 4.734 1,26% Eleito
Antonio Batista Santiago ARENA1 4.692 1,25% Eleito
Francisco Souto Neto ARENA1 4.689 1,25% Eleito
José Afonso Gayoso de Souza MDB 4.679 1,25% Eleito
Augusto Ferreira Ramos ARENA1 4.627 1,23% Eleito

389
A BAGACEIRA, Eleitoral

Jonas Leite Chaves ARENA2 4.624 1,23% Eleito


Luiz Ignácio Ribeiro Coutinho ARENA1 4.534 1,21% Eleito
João Batista Brandão ARENA1 4.478 1,19% Eleito
Robson Duarte Espinola ARENA1 4.351 1,16% Eleito
Luiz Gonzaga de Miranda
MDB 4.330 1,15% Eleito
Freire
Aloisio Pereira Lima MDB 4.176 1,11% Eleito
Silvio Pélico Porto ARENA1 4.168 1,11%
Francisco de Assis Camelo ARENA2 4.156 1,11% Eleito
Orlando Cavalcanti de Melo MDB 4.045 1,08% Eleito
Antonio Leite Montenegro ARENA1 4.032 1,07%
Balduino Minervino de
MDB 3.988 1,06% Eleito
Carvalho
José Leite de Souza ARENA1 3.864 1,03%
Nominando Muniz Diniz ARENA1 3.846 1,03%
José Soares de Figueiredo MDB 3.802 1,01% Eleito
José Alves de Lira MDB 3.798 1,01%
Diógenes de Morais Martins ARENA1 3.774 1,01%
Nivaldo de Farias Brito ARENA2 3.744 1,00% Eleito
José Edmar Estrela ARENA1 3.642 0,97%
Ceslau Gadelha MDB 3.629 0,97%
Desmoulins Wanderley de
MDB 3.612 0,96%
Farias
Antonio de Padua Ferreira de
ARENA1 3.555 0,95%
Carvalho
Sigismundo Souto Maior ARENA1 3.550 0,95%
Severino Cabral de Souza ARENA2 3.426 0,91%
Severino Ismael de Oliveira ARENA1 3.420 0,91%
Epitacio Vieira de Queiroga MDB 3.350 0,89%
Waldir dos Santos Lima ARENA1 3.320 0,88%
Ronald Queiroz Fernandes MDB 3.149 0,84%
Janduhy Suassuna Saldanha MDB 3.104 0,83%

390
1965: a última eleição direta para governador

Orlando Venancio dos Santos MDB 3.052 0,81%


João Franco da Costa ARENA1 3.047 0,81%
João Cabral Batista ARENA2 3.032 0,81%
Leu Palmeira MDB 3.031 0,81%
Euvaldo da Silva Brito ARENA2 2.970 0,79%
Romero Abdon Queiroz da
MDB 2.934 0,78%
Nóbrega
João Gadelha de Oliveira ARENA1 2.859 0,76%
Dr Bosco ARENA1 2.836 0,75%
Rui de Andrade Gouveia MDB 2.749 0,73%
Aurelio de Miranda Leite MDB 2.685 0,71%
Abdiel de Sousa Rolim ARENA2 2.552 0,68%
Pedro Bonifacio de Araújo MDB 2.543 0,68%
Balduino Lelis de Farias MDB 2.509 0,67%
Antônio Alves Pimentel ARENA1 2.508 0,67%
Abdias da Mata Ribeiro MDB 2.506 0,67%
Tercilio Teixeira da Cruz ARENA1 2.482 0,66%
Noaldo Moreira Dantas ARENA2 2.459 0,65%
Francisco Aldo da Silva ARENA1 2.431 0,65%
João Jerônimo da Costa MDB 2.376 0,63%
Sebastião Alves Lins ARENA1 2.269 0,60%
Agamenon da Cunha Lima ARENA2 2.186 0,58%
Osvaldo Bezerra Cascudo ARENA1 2.146 0,57%
José Rodrigues Lustosa ARENA2 2.090 0,55%
Ronaldo Romero Rangel MDB 1.974 0,52%
José Pereira do Nascimento MDB 1.915 0,51%
Francisco Rosado Maia MDB 1.871 0,50%
Manuel Angelo da Silva ARENA2 1.831 0,49%
Jacinto Dantas Filho ARENA2 1.792 0,48%
Amaury Araújo de
ARENA1 1.779 0,47%
Vasconcelos
Inácio José Feitosa MDB 1.768 0,47%

391
A BAGACEIRA, Eleitoral

Manoel Gonçalo de Oliveira MDB 1.695 0,45%


Acrisio Félix Vieira ARENA2 1.692 0,45%
Genésio Soares de Carvalho ARENA2 1.671 0,44%
Manuel Joaquim Barbosa MDB 1.459 0,39%
Eligio Martins de Araújo ARENA2 1.251 0,33%
Otacilio Jurema MDB 1.136 0,30%
Antonio Aurelio Teixeira de
ARENA1 1.011 0,27%
Carvalho
Pedro Sabino de Farias ARENA2 1.009 0,27%
José Roberto Braga MDB 1.008 0,27%
Severino José de Souza ARENA2 875 0,23%
Euclides Rodrigues de Lima ARENA2 829 0,22%
Durval Lins de Albuquerque ARENA1 758 0,20%
Messias Pessoa da Silva ARENA1 725 0,19%
Francisco Gonçalves da Silva ARENA1 723 0,19%
João Holanda Cavalcanti Filho ARENA1 668 0,17%
Manuel Barbosa da Silva ARENA2 505 0,13%
Francisco Troccoli ARENA2 352 0,09%
Evaristo Inocencio da Silva ARENA1 342 0,09%
José Cartaxo Andriola ARENA1 315 0,08%
Benjamim Targino Maranhão MDB 3 0,00%
João Nogueira de Arruda MDB 2 0,00%
Votos brancos 26.801
Votos nulos 10.723
Total apurado 411.084

Legenda:
MDB - Movimento Democrático Brasileiro
ARENA1 - Aliança Renovadora Nacional 1
ARENA2 - Aliança Renovadora Nacional 2

Fonte: Tribunal Regional Eleitoral da Parahyba: http://www.tre.pb.gov.br. Visitado em


13.08.2010.

392
1965: a última eleição direta para governador

RESULTADOS DAS ELEIÇÕES NA PARAHYBA EM 1959

Prefeitos eleitos nos municípios no ano de 1959


Município Prefeito Eleito Partido
Alagoa Grande Telésforo Onofre Marinho PSD
Alagoa Nova Lourival de Carvalho Costa UDN
Alagoinha Miguel Severino Monteiro PSD
Alhandra Manuel Torres Filho PSB/PSD/UDN
Antenor Navarro José Izidro de Almeida PSD
Araruna Alfredo Barela PTB
Areia Nilo D’ávila Lins PR
Aroeiras Joaquim Antonio de Andrade UDN
Bananeiras José Rocha Sobrinho PSD/UDN
Barra de Santa Rosa João Inácio da Silva UDN
Belém Manoel Xavier de Carvalho PSD
Bonito José Ferreira Cajú PSD
Brejo do Cruz João de Paiva Maia UDN
Cabaceiras José Aurélio Arruda PTB
Cabedelo Enivaldo Figueiredo Miranda PTB
Caiçara Antonio Alves de Carvalho PSD
Cajazeiras Otacilio Jurema PSP
Campina Grande Severino Bezerra Cabral PSD/PTB
Carnoio João Bezerra Cabral PTB
Catolé do Rocha José Sérgio Maia UDN
Conceição Unias Ramalho Leite PSD
Congo Amaro Travassos Nogueira PSD
Coremas Otacilio Rodrigues dos Santos UDN
Cruz do Espirito Santo Francisco Madruga Filho PSD/UDN

393
A BAGACEIRA, Eleitoral

Cubati José Medeiros Dantas PTB


Cuité Jaime da Costa Pereira PSD
Esperança Arlindo Delgado PSD
Guarabira Augusto de Almeida PL
José Waldomiro Ribeiro
Gurinhem PSD
Coutinho
Ingá Djalma Rodrigues de Carvalho PSD
Itabaiana Alceu de Almeida Aguiar PSD
Francisco Clementino de
Itaporanga PSD/PTB
Carvalho
Jericó Lauro Pereira da Paixão UDN
Luiz Gonzaga de Miranda
João Pessoa PSD/PTB
Freire
Joazeirinho Severino Pascoal de Oliveira PSD/PTB
Desmoulins Wanderley de
Malta PSP
Farias
Mamanguape Manoel Fernandes de Lima PSD
Mari Pedro Leite Filho UDN
Monteiro Pedro Bezerra Filho UDN
Patos Bivar Olyntho de Melo e Silva PSD/PTB
Pedra Lavrada Antônio Cordeiro Neto PSD
Pedras de Fogo Remo Rodrigues Chaves UDN
Piancó Paulo Montenegro Pires PART
Picui Roldão Zacarias de Macedo PSD
Pilar João Lins Vieira PL
Piloes José Lira Lins PSD
Pirpirituba Jesualdo de Morais Coelho PSD
Pocinhos José Alves PSD
Pombal Azuil Arruda de Assis PSD

394
1965: a última eleição direta para governador

Prata Souto Maior PL


Princesa Isabel Antônio Maia PL
Remigio Epitácio da Costa Araújo UDN
Rio Tinto Arthur Herman Lundgren PTB
Santa Luzia Inacio Bento de Morais UDN
Santa Rita Antônio Teixeira PSB/PSD
São Bento João Silveira Guimarães UDN
São João do Cariri Inácio Antonino Gonçalves PSD
São José de Piranhas José Lacerda PSD
São Mamede Manuel Miguel de Araújo PSD
São Sebastião do
Antônio Ventura Caraciolo UDN
Umbuzeiro
Sapé João Alves Matias UDN
Serra da Raiz Dival Gomes dos Santos PR
Serra Redonda Cícero Vicente Cruz PSD
Serraria Severino Cavalcanti PSD
Solanea João Elísio da Rocha PSB/UDN
Soledade Alexandre José de Melo UDN
André Avelino de Paiva
Sousa UDN
Gadelha
Sumé José Farias Braga PL
Tacima Targino Pereira da Costa Neto PR
Taperoa Aprígio Pinto Barbosa PSD
Teixeira José Xavier PSD
Uirauna Osvaldo Bezerra Cascudo PSD
Umbuzeiro Carlos Pessoa Filho UDN

Fonte: Tribunal Regional Eleitoral da Parahyba: http://www.tre.pb.gov.br. Visitado em


13.08.2010.

395
A BAGACEIRA, Eleitoral

RESULTADOS DAS ELEIÇÕES NA PARAHYBA EM 1962

Em 07/10/1962 realizaram-se eleições para Senador, Suplente de


Senador, Deputado Federal e Deputado Estadual.
O candidato João Agripino Filho da UDN, recebeu 137.373
votos como candidato ao Senado Federal e 10.226 votos como candidato à
Deputado Federal. Elegendo-se para ambos os cargos, decidiu assumir a vaga
de Senador.
Em seu lugar na Camara Federal assumiu o primeiro suplente da
mesma legenda, o Sr. Luis Bronzeado.
Em 07/10/1962 realizaram-se eleições municípais em 61
municípios do Estado.
Em alguns municípios, os candidatos a vereadores não eleitos,
inexiste os respectivos votos, bem como os votos brancos e nulos.
Nos municípios de Camalaú, Ouro Velho e São João do Tigre não
constam arquivadas informações estatísticas da votação dos candidatos
eleitos e não eleitos.
Nos municípios de Seridó e Olivedos inexiste informações dos
candidatos eleitos e não eleitos.

Cargo: Senador
Partido /
Candidato Votação % válidos Situação
Coligação
João Agripino Filho 137.373 27,0% Eleito
Argemiro de Figueiredo 110.835 21,8% Eleito
Aluisio Afonso Campos 109.286 21,5%
Drault Ernany de Melo e Silva 105.162 20,7%
José Jof ily Bezerra de Melo 45.348 8,92%
Votos brancos 90.809
Votos nulos 20.571
Total apurado 619.384

396
1965: a última eleição direta para governador

Cargo: Suplente Senador


Partido /
Candidato Votação % válidos Situação
Coligação
Domício Gondim 137.323 27,2% Eleito
Augusto Gonçalves de Abrantes 109.835 21,7% Eleito
Francisco Seráphico da
109.296 21,6%
Nóbrega
Severino Bezerra Cabral 103.043 20,4%
Claudio Santa Cruz Costa 45.348 8,98%
Votos brancos 90.799
Votos nulos 20.568
Total apurado 616.212
Fonte: Tribunal Regional Eleitoral da Parahyba: http://www.tre.pb.gov.br. Visitado em
13.08.2010.

Cargo: Deputado Federal


Partido /
Candidato Votação % válidos Situação
Coligação
Francisco Teotonio Neto PSD 25.693 9,39% Eleito
Humberto Coutinho de Lucena PSD 23.193 8,48% Eleito
Milton Bezerra Cabral PTB 20.063 7,33% Eleito
Vital do Rêgo UDN 19.945 7,29% Eleito
Abelardo de Araújo Jurema PSD 19.943 7,29% Eleito
José Janduhy Carneiro PSD 19.441 7,11% Eleito
Flaviano Ribeiro Coutinho UDN 16.965 6,20% Eleito
Arnaldo Bezerra Lafayette PTB 12.479 4,56% Eleito
Plínio Lemos UDN 12.429 4,54% Eleito
João Agripino Filho UDN 10.226 3,74% Eleito
Jacob Guilherme Frantz PTB 10.089 3,69%
Ernani Ayres Sátyro e Sousa UDN 9.842 3,6% Eleito
Raul de Goes UDN 8.889 3,25% Eleito

397
A BAGACEIRA, Eleitoral

Luiz Bronzeado UDN 8.579 3,13%


Ivan Bichara Sobreira UDN 8.249 3,01%
José de Paiva Gadelha UDN 8.010 2,93%
José Jof ily Bezerra de Melo PSB 7.970 2,91%
Bivar Olyntho de Melo e Silva PSD 5.834 2,13% Eleito
João Fernandes de Lima PSD 4.399 1,60%
Osmar de Araújo Aquino PSB 3.397 1,24%
Antônio D’ Avila Lins PSD 3.156 1,15%
Djacir Cavalcanti Arruda UDN 3.004 1,09%
Raimundo Asfora PTB 2.995 1,09%
Praxedes da Silva Pitanga PTB 2.722 0,99%
Raimundo de Melo Xavier PSD 1.513 0,55%
Severino de Oliveira PSB 884 0,32%
José Fernandes Vieira PTB 863 0,31%
Claudio de Paiva Leite UDN 714 0,26%
Aristides Lúcio Vilar Rabelo PSB 653 0,23%
Antônio Boto de Menezes PSD 507 0,18%
Otacilio Nóbrega de Queiroz PSB 327 0,12%
João Holanda Cunha PTB 307 0,11%
José Gomes de Menezes PTB 61 0,02%
Drault Ernany de Melo e Silva PSD 35 0,01%
Aluisio Afonso Campos UDN 25 0,00%
Votos brancos 26.300
Votos nulos 6.871
Total apurado 306.572

Legenda:
PSD - Partido Social Democrático
PTB - Partido Trabalhista Brasileiro
UDN - União Democrática Nacional
PSB - Partido Socialista Brasileiro

398
1965: a última eleição direta para governador

Cargo: Deputado Estadual


Partido /
Candidato Votação % válidos Situação
Coligação
Agnaldo Veloso Borges PL 6.203 2,15% Eleito
Jonas Leite Chaves UDN 5.291 1,83% Eleito
Francisco Pereira UDN 5.277 1,83% Eleito
José Afonso Gayoso de Souza PSD 4.944 1,71% Eleito
Otávio Mariz Maia UDN 4.797 1,66% Eleito
Wilson Braga PSB 4.739 1,64% Eleito
Clovis Bezerra Cavalcanti UDN 4.704 1,63% Eleito
Mário Silveira PSD 4.375 1,52% Eleito
José Teotonio da Silva PSB 4.318 1,5% Eleito
João Batista de Lima Brandão PDC 4.284 1,48% Eleito
Joacil de Brito Pereira UDN 4.226 1,46% Eleito
Antonio de Paiva Gadelha UDN 3.936 1,36% Eleito
Alvaro Gaudencio de Queiroz PDC 3.933 1,36% Eleito
José Cavalcanti da Silva UDN 3.842 1,33%
Aloisio Pereira Lima PSD 3.804 1,32% Eleito
Ronaldo Cunha Lima PTB 3.796 1,31% Eleito
Antonio Nominando Diniz PL 3.791 1,31% Eleito
Luiz Inacio Ribeiro Coutinho PDC 3.721 1,29% Eleito
José Pereira da Costa PDC 3.691 1,28% Eleito
Avelino Elias de Queiroga PSD 3.608 1,25% Eleito
José Fernandes de Lima PSD 3.547 1,23% Eleito
Assis Lemos PSB 3.538 1,22% Eleito
Ze Maranhão PTB 3.510 1,21% Eleito
Silvio Pélico Pôrto PDC 3.482 1,21% Eleito
Romeu Gonçalves de Abrantes PTB 3.353 1,16% Eleito
Egídio da Silva Madruga PDC 3.350 1,16% Eleito
Francisco Souto Neto PDC 3.341 1,16% Eleito

399
A BAGACEIRA, Eleitoral

Sóstenes Pedro da Silva PSD 3.287 1,14% Eleito


Inacio Bento de Morais UDN 3.254 1,13%
João Feitosa Ventura UDN 3.252 1,13%
Antonio Leite Montenegro PTB 3.079 1,07% Eleito
José Braz do Rego PTB 3.063 1,06% Eleito
Orlando Cavalcanti de Melo PSD 3.054 1,06% Eleito
Inácio José Feitosa PTB 3.032 1,05% Eleito
Petronio Ramos de Figueiredo PTB 3.030 1,05%
Waldir dos Santos Lima PDC 2.971 1,03% Eleito
Severino Ismael de Oliveira PDC 2.895 1,00%
Amélio de Miranda Leite PSD 2.891 1,00% Eleito
Nivaldo de Farias Brito PSD 2.879 1% Eleito
Inácio Pedrosa Sobrinho PSD 2.871 0,99% Eleito
Balduino Minervino de
PSD 2.865 0,99%
Carvalho
Orlando Di Lorenzo PSD 2.856 0,99%
Zéu Palmeira PSD 2.855 0,99%
José Ribeiro de Farias PSD 2.812 0,97%
José Lacerda PSB 2.798 0,97% Eleito
Manuel Figueiredo PTB 2.681 0,93%
Laercio Pires de Souza PSD 2.669 0,92%
Luiz Gonzaga de Miranda
PTB 2.662 0,92%
Freire
José Augusto da Silva Galvão PSD 2.635 0,91%
Acacio Braga Rolim PSD 2.582 0,89%
Geraldo Gomes Beltrão PSD 2.503 0,86%
João Caetano dos Santos PR 2.494 0,86% Eleito
Antonio Batista Santiago UDN 2.487 0,86%
Diógenes de Morais Martins PTB 2.485 0,86%
Marcus Odilon PDC 2.457 0,85%

400
1965: a última eleição direta para governador

Antonio de Padua Ferreira de


PDC 2.445 0,84%
Carvalho
José Alves de Lira PSB 2.432 0,84% Eleito
Napoleão Abdon da Nobrega PSD 2.414 0,83%
Lauro Pereira da Paixão PDC 2.388 0,82%
Dirceu Arnaud Diniz PSD 2.384 0,82%
Gerancio Estanislau Nóbrega PDC 2.337 0,81%
Antonio Bezerra Cabral PDC 2.278 0,79%
Atencio Bezerra Wanderley PSD 2.268 0,78%
Salvino de Figueiredo Neto PTB 2.258 0,78%
Langstein Almeida PSB 2.223 0,77% Eleito
Otacilio Jurema PSB 2.203 0,76% Eleito
Everaldo da Costa Agra PTB 2.188 0,76%
João Franco da Costa PDC 2.130 0,74%
Orlando Venancio dos Santos PTB 2.098 0,72%
José Edmur Estrela PSB 2.081 0,72%
Heraldo Gadelha PSB 1.942 0,67%
Rogerio Martins Costa PDC 1.906 0,66%
Antônio Figueiredo Agra PSB 1.879 0,65%
Sigismundo Souto Maior PL 1.825 0,63%
Pedro Sabino de Farias PDC 1.760 0,61%
Agassis de Almeida PSB 1.751 0,60%
Sebastião Caliseto de Araújo PSB 1.660 0,57%
Avani Benicio Maia PSD 1.639 0,56%
Homero Sá Pires PDC 1.609 0,55%
Otavio Pires de Lacerda PTB 1.551 0,53%
Jacinto Dantas Filho PSB 1.481 0,51%
Jesualdo de Moraes Coêlho PSD 1.445 0,50%
João Cavalcanti da Silva PSB 1.415 0,49%
Hilton Muniz de Brito PDC 1.389 0,48%

401
A BAGACEIRA, Eleitoral

Enéas Bezerra Barros PDC 1.348 0,46%


Manuel Torres Filho PSB 1.328 0,46%
Elizabeth Altina Teixeira PSB 1.238 0,43%
Manuel Angelo da Silva PL 1.197 0,41%
Aloisio Cabral de Barros PSB 1.184 0,41%
Manuel Barbosa da Silva PR 1.118 0,38%
José Anchieta de Souza PDC 1.078 0,37%
Vicente Leite Rolim PSB 1.072 0,37%
Durval Lins de Albuquerque PR 1.063 0,36%
Brauner Amorim Arruda PSB 1.044 0,36%
Francisco Cavalcanti de Melo PR 1.040 0,36%
Antonio Aurelio Teixeira de
PSB 1.036 0,36%
Carvalho
João Mangueira Neto PSB 1.013 0,35%
Lauro da Nobrega de Queiroz PSB 996 0,34%
José Gaudêncio de Brito PTB 976 0,33%
Elson da Cunha Lima PR 965 0,33%
Estanislau Fragoso Batista PDC 954 0,33%
Apolônio Sales de Miranda PTB 952 0,33%
Enivaldo Figueiredo Miranda PSB 948 0,32%
João Pedrosa Wanderley PSB 857 0,29%
José Gomes da Silva PSB 849 0,29%
José Pordeus e Silva PSB 838 0,29%
Nizi Marinheiro PSB 827 0,28%
José Agostinho de Meireles PR 761 0,26%
José Guerra de Andrade PTB 709 0,24%
Paulo Montenegro Pires PR 707 0,24%
José Feliciano da Silva PSB 672 0,23%
Hermes Dantas de Almeida PSB 645 0,22%
Rui Tavares da Costa PSD 631 0,21%

402
1965: a última eleição direta para governador

Manoel de Deus PSB 625 0,21%


José Monteiro PR 608 0,21%
Cleodon Urbano da Silva PDC 587 0,20%
Fernando Silveira PL 583 0,20%
João Juracy Palhano Freire PSB 567 0,19%
João Inácio de Sousa PR 559 0,19%
Rafael Manuel dos Santos PTB 545 0,18%
José Pereira dos Santos PSB 528 0,18%
Josué Silvestre da Silva PSB 468 0,16%
Hermano de Oliveira Lima PR 464 0,16%
João Ribeiro Filho PSB 442 0,15%
Arnaldo Bonifacio de Paiva PR 435 0,15%
Francisco de Assis Nogueira PTB 430 0,14%
Valdevino Gregório de Andrade UDN 418 0,14%
Severino Itamar PR 407 0,14%
Hugo Rodrigues dos Santos PSB 387 0,13%
Messias Pessoa da Silva PR 313 0,10%
Carlos Neves da Franca PTB 276 0,09%
Romeu Pequeno Torres UDN 275 0,09%
Mário Pereira da Silva UDN 252 0,08%
Niutildes Otacílio Vieira PR 230 0,08%
José de Oliveira Ramos PSB 209 0,07%
Antônio Fernandes Filho PR 203 0,07%
Renato Ribeiro de Moraes PSD 180 0,06%
Carlos de Carvalho Pinto PSB 137 0,04%
Pedro Inácio de Araújo PSB 126 0,04%
Heinrich Antônio Gerstner PR 121 0,04%
Manuel Camilo dos Santos PR 118 0,04%
Pedro Ferreira da Silva PSB 111 0,03%

403
A BAGACEIRA, Eleitoral

João Pessoa Cavalcanti de


PTB 111 0,03%
Albuquerque
Severino José dos Santos PSB 110 0,03%
João Belizio de Araújo PSD 96 0,03%
João de Araújo Dias PR 95 0,03%
José Maciel Lopes PSB 94 0,03%
Newton Lelis de Carvalho PR 87 0,03%
José Pessoa de Brito PSB 83 0,02%
Sebastião Carneiro de
PR 79 0,02%
Albuquerque
José Bernardes Amaral PSB 74 0,02%
Jaime Floro Ramos PSB 66 0,02%
Martinho de Araújo Figueiredo PR 49 0,01%
Aguinaldo Lins de Miranda PR 35 0,01%
Marlindo Pessoa de Almeida PR 35 0,01%
Henrique Lopes da Silva PR 26 0,00%
João Cabral Batista PTB 14 0,00%
Ildefonso Ribeiro Maciel PR 4 0,00%
Votos brancos 14.978
Votos nulos 6.351
Total apurado 309.216

Legenda:
PR - Partido Republicano
PL - Partido Libertador
PSD - Partido Social Democrático
PTB - Partido Trabalhista Brasileiro
PDC - Partido Democrata Cristão
UDN - União Democrática Nacional
PSB - Partido Socialista Brasileiro

Fonte: Tribunal Regional Eleitoral da Parahyba: http://www.tre.pb.gov.br. Visitado em 13.08.2010

404
1965: a última eleição direta para governador

RESULTADOS DAS ELEIÇÕES NA PARAHYBA EM 1963

Prefeitos eleitos nos municípios no ano de 1963


Município Prefeito Eleito Partido
Alagoa Grande Edmundo Cavalcanti de Miranda SRHP
Alagoa Nova Rogerio Martins Costa PTB
Alagoinha Geraldo Beltrão PSD
Alhandra Hercilio Alves Ferreira Lundgren PSD/UDN
Antenor Navarro Jacob Guilherme Frantz PSB
Araruna Targino Pereira da Costa Neto PDC
Areia Elson da Cunha Lima SRHP
Aroeiras João de Brito Lira UDN
Bananeiras Mozart Bezerra Cavalcanti UDN
Barra de Santa Rosa José Ribeiro Diniz PDC/PSD
Belém Rodolfo Gomes Pedrosa PDC
Bonito de Santa Fé Aurea Dias de Almeida PSD
Boqueirão Ernesto Heráclio do Rêgo PSD/PTB
Brejo do Cruz Urbano Benicio Maia SRHP
Cabaceiras Abdias Aires de Queiroz PSD
Cabedelo Francisco Figueiredo de Lima PDC
Caiçara José Cruz Neto SRHP
Cajazeiras Francisco Matias Rolim UDN
Campina Grande Newton Rique SRHP
Catolé do Rocha Isauro Sérgio Rosado Maia UDN
Conceição Walter Leite Braga SRHP
Congo Miguel Jordão das Neves SRHP
Coremas Antonio Lopes Filho SRHP
Cruz do Espirito Santo Antonio Carneiro da Cunha Neto SRHP

405
A BAGACEIRA, Eleitoral

Cubati Antônio Fernandes de Macêdo UDN


Cuité Claudio Gervásio Furtado PTB
Esperança Luis Martins de Oliveira PDC
Guarabira João de Farias Pimentel Filho SRHP
Gurinhem Jorge Ribeiro Coutinho SRHP
Ibiara João Nunes Magalhães SRHP
Ingá Wellington Gomes Barbosa SRHP
Itabaiana Hugo Saraiva PSD
Itaporanga Sinval Mndonça Pinto SRHP
Jericó Adauto Pereira SRHP
João Pessoa Domingos Mendonça Netto PSB/PSD
Juazeirinho Inacio de Farias Gurjão SRHP
Malta Redy Wanderley da Nóbrega PDC
Mamanguape José Castor do Rêgo PSD
Mari Pedro Tomé de Arruda PSD
Monteiro Alexandre da Silva Brito PTB
Nova Floresta Menézio Dantas PSD
Patos José Cavalcanti da Silva SRHP
Pedra Lavrada José Vasconcelos Meira PDC
Pedras de Fogo Glaucio Pereira Chaves UDN
Piancó Antônio de Araújo Quinho SRHP
Picui José Mariano da Silva UDN
Pilar Jocelyn Veloso Borges SRHP
Piloes José Lins Sobrinho UDN
Pirpirituba Luís Salustiano de Medeiros PSD
Pocinhos Padre José Augusto Galvão PSD
Pombal Avelino Elias de Queiroga SRHP
Prata Ananiano Ramos Galvão PL

406
1965: a última eleição direta para governador

Princesa Isabel Luiz Gonzaga de Sousa SRHP


Remigio Joaquim Cavalcante de Morais SRHP
Rio Tinto Antônio Fernandes de Andrade PSB
Santa Luzia José Ney Cavalcanti de Araújo PSD
Santa Rita Heraldo Gadelha SRHP
São Bento Milton Lúcio da Silva SRHP
São João do Cariri Ademar Batista de Morais SRHP
São José de Piranhas Expedito Rodrigues de Holanda PSD
São Mamede Antônio Bento de Morais UDN
São Sebastião do
Inácio Monteiro de Sousa UDN
Umbuzeiro
Sapé Cassiano Ribeiro Coutinho UDN
Serra da Raiz João Nepomuceno de Oliveira SRHP
Serra Redonda Severino Dias de Almeida SRHP
Serraria Antônio Cavalcante de Carvalho PDC
Solanea Epifânio Plácido da Silva PSD/UDN
Soledade José Manuel de Araújo PSD/PTB
Sousa Antônio Mariz PTB
Sumé Newton Leite Rafael SRHP
Tacima Luis Pereira da Cruz PTB
Taperoa José Ribeiro de Farias PSD
Teixeira Luiz Xavier Batista PSB
Uirauna Joaquim Moreira da Costa UDN
Umbuzeiro Alcides Cabral de Melo UDN

Fonte: Tribunal Regional Eleitoral da Parahyba: http://www.tre.pb.gov.br. Visitado em


13.08.2010.

407
A BAGACEIRA, Eleitoral

RESULTADOS DAS ELEIÇÕES NA PARAHYBA EM 1964

Prefeitos eleitos nos municípios no ano de 1964


Município Prefeito Eleito Partido
Água Branca Antonio Virgolino Batista PL
Benjamin Rosas de
Araçagí UDN
Vasconcelos
Assunção Heleno Ru ino de Carvalho PDC
Bayeux Lourival Caetano UDN/PDC
Júlio Maria Bandeira de
Bom Jesus PDC
Melo
Bom Sucesso Lauro Pereira da Paixão PSD
Borborema Aristeu Uchôa Pinto UDN
Caaporã Quinha Veloso PSD
Benjamin Gomes
Cacimba de Dentro PTB/PSD
Maranhão
Catingueira Basiliano Lopes Loureiro PSD
Conde João Gomes Ribeiro UDN
Antonio Gomes de
Curral Velho UDN
Carvalho
Desterro Paulo de Lucena Dantas UDN
Desterro de Malta Saturnino Gil de Medeiros PSD
Dona Inês Joaquim Cabral de Melo UDN
Emas Aprígio Alves Pereira PTB
Juarez Távora João Mendes de Andrade PL

408
1965: a última eleição direta para governador

Francisco Camilo de
Lagoa Seca PSD
Oliveira
Manuel Gonçalves de
Lastro PTB
Abrantes
Mataraca Idelfonso de Menezes Lyra UDN
Antônio Verissimo de
Montadas PDC
Sousa
Mulungú Adonis Sales PSD
Severino Vereano dos
Nova Palmeira PDC/PSD
Santos
Petronilo Epaminondas de
Pedra Branca PSD
Souza
Pilõesinho Fausto Alves de Sousa PDC
Antonio Alcides Candeia
Quixaba PTB
Pereira
Francisco de Oliveira
Santana de Mangueira UDN
Braga
Joaquim Mendes
São José da Lagoa Tapada PSD
Cavalcante
São José de Caiana Anatalicio Lopes da Silva PDC
São José do Bon im João Dino de Souto PSD
Serra Branca Alvaro Gaudencio Filho UDN
Tavares Tertuliano Nunes Morais PSD

Fonte: Tribunal Regional Eleitoral da Parahyba: http://www.tre.pb.gov.br. Visitado em


13.08.2010.

409
A BAGACEIRA, Eleitoral

GOVERNADORES DA PROVÍNCIA OU DO ESTADO DA PARAHYBA (1840-


1950) NO PERÍODO DAS GRANDES SECAS19

ANO DATA GOVERNANTE


1840 7 de abril Agostinho da Silva Neves
7 de setembro Francisco Xavier Monteiro da Franca
1841 4 de maio Pedro Rodrigues Fernandes Chaves
21 de agosto Fernandes Chaves sofre atentado à bala
1843 14 de março Ricardo José Gomes Jardim
2 de dezembro Agostinho da Silva Neves
1844 22 de julho Joaquim Franco de Sá
18 de dezembro Frederico Carneiro de Campos
1848 11 de maio João Antônio de Vasconcelos
1850 23 de janeiro José Vicente de Amorim Bezerra
30 de setembro Agostinho das Neves
1851 3 de julho Antônio Coelho de Sá e Albuquerque
1853 22 de outubro João Capistrano Bandeira de Melo
1854 23 de outubro Francisco Xavier Pais Barreto
1855 26 de novembro Antônio da Costa Pinto Silva
1857 9 de dezembro Henrique de Beaurepaire Rohan
1859 4 de julho Ambrósio Leitão da Cunha
1860 17 de abril Luis Antônio da Silva
18 de maio Sinval Odorico de Moura
04 de novembro Américo Brasiliense de Almeida e Melo
1867 1º de novembro Inocêncio Será ico de Assis Carvalho

19 Lopes de Andrade, in OLIGARQUIAS, SECAS E AÇUDAGEM (Um Estudo e suas


Interrelações Funcionais). João Pessoa: Ed. Universitária/UFPB, 1980, p. 31/35.

410
1965: a última eleição direta para governador

1868 16 de agosto Teodoro Machado Freire Pereira da


Silva
1869 11 de junho Venâncio José de Oliveira Lisboa
1870 24 de outubro Frederico de Almeida e Albuquerque
1872 25 de junho Heráclito de Alencastro Pereira de
Graça
1873 17 de outubro Silvino Elvídio Carneiro da Caunha
1876 10 de abril Barão de Mamanguape
1877 24 de abril Esmerindo Gomes Parente
1878 19 de fevereiro Ulisses Machado de Pereira
1879 12 de junho José Rodrigues Pereira Viana
1880 10 de junho Gregório José de Oliveira Costa
02 de outubro Justino Ferreira Carneiro
1882 21 de maio Manuel Ventura de Barros Leite
1883 07 de agosto José Aires do Nascimento
1884 31 de agosto Antônio Sabino do Monte
1885 08 de julho Pedro da Cunha Beltrão
1886 11 de novembro Geminiano Brasil de Oliveira Góis
1887 10 de outubro Francisco de Paula de Oliveira Borges
1888 09 de agosto Pedro Francisco de Oliveira Correia
1889 08 de julho Francisco Luis da Gama Rosa

“Com a proclamação da república assume o governo uma junta constituída


pelo Tenente-Coronel Honório Cândido Ferreira Caldas, Antônio da Cruz
Cordeiro Sênior, capitão de engenheiros João Claudino de Oliveira Cruz,
comendador Tomás de Aquino Mindelo, capitão Manuel Alcântara de Sousa
Cousseiro e Manuel Carlos de Gouveia”

411
A BAGACEIRA, Eleitoral

1891 Assume uma junta governativa formada pelo


coronel Claudio do Amaral Savaget, Eugênio
Toscano de Brito e Joaquim Fernandes de
Carvalho
1892 Álvaro Lopes Machado assume como presidente
do Estado: ainda no mesmo ano foi empossado
como primeiro presidente constitucional
1896 O padre Valfredo Leal assume como presidente
substituto Antônio Alfredo da Gama e Melo
assume a presidência do Estado
1900 Desembargador José Peregrino de Araújo

1904 Álvaro Lopes Machado


1905 Assume o vice-presidente, padre Valfredo Leal
1908 João Lopes Machado
1912 João Pereira de Castro Pinto
1915 Assume o vice-presidente, coronel Antônio da
Silva Pessoa
1916 Solon Barbosa de Lucena
Francisco Camilo de Holanda
1920 Solon Barbosa de Lucena
1924 João Suassuna
1928 João Pessoal
1930 14 de novembro Antenhor da Franca Navarro
1932 Gratuliano de Brito
1935 Argemiro de Figueiredo (eleito)
1937 Argemiro de Figueiredo (Interventor)
1940 Ruy Carneiro (Interventor)
1945 Samuel Duarte (Interventor)

412
1965: a última eleição direta para governador

Severino Montenegro (Interventor)


1946 Odon Bezerra Cavalcanti (Interventor)
José Gomes da Silva (Interventor)
1947 Oswaldo Trigueiro de A. Melo
1950 Assume o vice-governador, José Targino
1951 José Américo de Almeida (eleito)
1953 Assume o vice-governador, José Fernandes de
Lima
1954 José Américo de Almeida

VEREADORES ELEITOS EM 09.09.193520

Vereadores Partido
Antônio Mendes Ribeiro PRL
Osias Nacre Gomes PRL
José Mário Porto PRL
Joaquim Costa PRL
João Amorim PRL
Daniel Martinho Barbosa PRL
Severino Ayres PRL
Manuel Soares Londres PP
José Eduardo de Holanda PP
João Eduardo de Holanda PP
João Teixeira de Carvalho PP
Joaquim Vicente Torres PP
Osvaldo Pessoa PP

20 Fonte: Antônio Botto de Menezes. Minha Terra. Memórias e Conϐissões, p. 255.

413
A BAGACEIRA, Eleitoral

Parahyba - prefeitos e municípios do Estado Novo (1937-1938)

Município Prefeito
Alagoa Grande Clodoaldo Trigueiro
Antenor Navarro Padre Cirilo de Sá
Araruna Demóstenes Cunha Lima
Bananeiras Pedro Augusto de Almeida
Bonito de Santa Fé Manuel Batista Leite
Brejo do Cruz Antônio Olímpio Maia
Cabaceiras José Barbosa
Caiçara Abdias Almeida
Cajazeiras Celso Matos
Catolé do Rocha Nathanel Maia
Conceição João Fausto de Figueiredo
Cruz do Espírito Santo Renato Ribeiro Coutinho
Cuité João Fonseca
Esperança Júlio Ribeiro
Guarabira Sabiniano Maia
Ingá Zacarias RibeiroLeite
Itabaiana Antônio Almeida
Itaporanga Praxedes Pitanga
Jatobá Malaquias Batista
João Pessoa Fernando Nóbrega
Juazeiro Francisco Correia de Queiroz
Laranjeiras Benedito Barbosa
Mamanguape Eduardo Ferreira
Monteiro E igênio Barbosa
Patos Clóvis Sátiro
Piancó Antônio Leite Montenegro
Picuhy José Xavier
Pilar João José Maroja
Pombal Sá Cavalcanti
Princesa Isabel José Cardoso
Santa Rita Flávio Maroja Filho
São João do Cariri Eduardo da Costa Brito
Sapé João Úrsulo R. Coutinho Filho
Santa Luzia Alcinto
Serraria Francisco Ruffo Correia
Souza Elládio Melo
Taperoá Abdon Marciel
Teixeira José Xavier
Umbuzeiro Carlos Pessoa

414
1965: a última eleição direta para governador

Cajazeiras: Prefeitos nomeados (1937/1947)21

Prefeito Período
Celso Matos Rolim 1937/1940
Solidonio Jacome Palitot 1940
Severino Dias Novo 1940/1941
Juvêncio Vieira Carneiro 1941/1944
Heronides Ramos 1944/1945
Hidelbrando Assis 1945/1946
Manuel Cavalcanti de Lacerda 1946/1947
Antônio José de Souza 1947
Cristiano Cartaxo Rolim 1947
José Rolim Guimarães 1947

PARAHYBA: PARTICIPAÇÃO DO ELEITORADO - 1945/1965

Comparecimentos e abstenções nas Eleições de 1950 na Parahyba

Comparecimentos e abstenções
Percentual
Município Eleitorado Comparecimento Abstenção
Abstenção
Alagoa Grande 4.545 3.477 1.068 23,49%
Alagoa Nova 4.011 3.401 610 15,20%
Antenor Navarro 7.438 5.488 1.950 26,21%
Araruna 4.536 3.705 831 18,32%
Areia 6.286 5.360 926 14,73%
Bananeiras 8.973 6.755 2.218 24,71%
Batalhão 4.297 3.615 682 15,87%

21 Francisco Cartaxo Rolim, in DO BICO DE PENA À URNA ELETRÔNICA. Recife: Edições


Bagaço, 2006.

415
A BAGACEIRA, Eleitoral

Bonito de Santa
1.780 1.292 488 27,41%

Brejo do Cruz 4.738 3.648 1.090 23,00%
Cabaceiras 5.971 4.908 1.063 17,80%
Caiçara 5.257 3.837 1.420 27,01%
Cajazeiras 8.910 6.661 2.249 25,24%
Campina Grande 40.393 30.260 10.133 25,08%
Catolé do Rocha 8.127 6.409 1.718 21,13%
Conceição 4.788 3.517 1.271 26,54%
Cuité 4.094 3.419 675 16,48%
Esperança 5.005 4.057 948 18,94%
Guarabira 9.557 6.842 2.715 28,40%
Ibiapinópolis 5.544 4.454 1.090 19,66%
Ingá 4.050 3.082 968 23,90%
Jatobá 2.279 1.875 404 17,72%
João Pessoa 32.165 23.972 8.193 25,47%
Maguari 5.940 4.445 1.495 25,16%
Mamanguape 11.210 8.394 2.816 25,12%
Misericordia 11.750 7.400 4.350 37,02%
Monteiro 12.706 9.906 2.800 22,03%
Patos 15.199 10.993 4.206 27,67%
Piancó 14.004 10.684 3.320 23,70%
Picui 4.622 4.046 576 12,46%
Pilar 4.128 3.081 1.047 25,36%
Pombal 12.486 10.242 2.244 17,97%
Princesa Isabel 7.871 4.441 3.430 43,57%
Santa Luzia 5.766 3.716 2.050 35,55%
Santa Rita 8.351 5.976 2.375 28,44%
São João do Cariri 7.876 5.824 2.052 26,05%
Sapé 6.772 5.130 1.642 24,24%
Serraria 5.316 4.932 384 07,22%
Souza 11.750 9.530 2.220 18,89%
Sumé 1.519 498 1.021 67,21%
Tabaiana 6.659 4.891 1.768 26,55%
Teixeira 5.751 4.383 1.368 23,78%
Umbuzeiro 5.785 4.811 974 16,83%
Fonte: Tribunal Regional Eleitoral da Parahyba: http://www.tre.pb.gov.br. Visitado em
13.08.2010.

416
1965: a última eleição direta para governador

Comparecimento nas Eleições de 1951 na Parahyba

Comparecimentos e abstenções
Percentual
Município Eleitorado Comparecimento Abstenção
Abstenção
Alagoa Grande 4.545 715 3.830 84,26%
Alagoa Nova 4.011 764 3.247 80,95%
Antenor Navarro 7.438 1.753 5.685 76,43%
Araruna 4.536 1.458 3.078 67,85%
Areia 6.286 1.059 5.227 83,15%
Bananeiras 8.973 1.105 7.868 87,68%
Bonito de Santa Fé 1.780 319 1.461 82,07%
Brejo do Cruz 4.738 357 4.381 92,46%
Cabaceiras 5.971 1.012 4.959 83,05%
Caiçara 5.257 1.737 3.520 66,95%
Cajazeiras 8.910 1.544 7.366 82,67%
Campina Grande 40.393 6.170 34.223 84,72%
Catolé do Rocha 8.127 336 7.791 95,86%
Conceição 4.788 997 3.791 79,17%
Cruz do Espiríto
5.490 2.169 3.321 60,49%
Santo
Cuité 4.094 792 3.302 80,65%
Esperança 5.005 699 4.306 86,03%
Guarabira 9.557 1.898 7.659 80,14%
Ingá 4.050 1.239 2.811 69,40%
Itabaiana 6.659 1.800 4.859 72,96%
Itaporanga 11.205 2.976 8.229 73,44%
Jatobá 2.279 600 1.679 73,67%
João Pessoa 32.165 13.981 18.184 56,53%

417
A BAGACEIRA, Eleitoral

Mamanguape 11.210 3.988 7.222 64,42%


Monteiro 12.706 836 11.870 93,42%
Patos 15.199 1.493 13.706 90,17%
Piancó 14.004 2.268 11.736 83,80%
Picui 4.622 1.389 3.233 69,94%
Pilar 4.128 1.598 2.530 61,28%
Pombal 12.486 2.348 10.138 81,19%
Princesa Isabel 7.871 1.100 6.771 86,02%
Santa Luzia 5.766 1.215 4.551 78,92%
Santa Rita 8.351 2.148 6.203 74,27%
São João do Cariri 7.876 1.907 5.969 75,78%
Sapé 6.772 2.127 4.645 68,59%
Serraria 5.316 469 4.847 91,17%
Soledade 5.544 2.222 3.322 59,92%
Souza 11.750 3.247 8.503 72,36%
Sumé 1.519 277 1.242 81,76%
Taperoa 4.297 2.103 2.194 51,05%
Teixeira 5.751 963 4.788 83,25%
Umbuzeiro 5.785 2.346 3.439 59,44%
Fonte: Tribunal Regional Eleitoral da Parahyba: http://www.tre.pb.gov.br. Visitado em
13.08.2010.

418
1965: a última eleição direta para governador

Comparecimento e abstenções nas Eleições de 1952 na Parahyba

Comparecimentos e abstenções
Percentual
Município Eleitorado Comparecimento Abstenção
Abstenção
Alagoa Grande 4.545 592 3.953 86,97%
Alagoa Nova 4.011 1.064 2.947 73,47%
Antenor Navarro 7.438 1.375 6.063 81,51%
Araruna 4.536 794 3.742 82,49%
Areia 6.286 968 5.318 84,60%
Bananeiras 8.973 1.108 7.865 87,65%
Bonito de Santa Fé 1.780 307 1.473 82,75%
Brejo do Cruz 4.738 452 4.286 90,46%
Cabaceiras 5.971 1.513 4.458 74,66%
Caiçara 5.257 1.329 3.928 74,71%
Cajazeiras 8.910 2.097 6.813 76,46%
Campina Grande 40.393 5.158 35.235 87,23%
Catolé do Rocha 8.127 403 7.724 95,04%
Conceição 4.788 1.228 3.560 74,35%
Cruz do Espiríto
5.490 2.565 2.925 53,27%
Santo
Cuité 4.094 1.100 2.994 73,13%
Esperança 5.005 431 4.574 91,38%
Guarabira 9.557 1.254 8.303 86,87%
Ingá 4.050 1.547 2.503 61,80%
Itabaiana 6.659 652 6.007 90,20%
Itaporanga 11.205 4.858 6.347 56,64%
Jatobá 2.279 748 1.531 67,17%
João Pessoa 32.165 27.367 4.798 14,91%

419
A BAGACEIRA, Eleitoral

Mamanguape 11.210 3.575 7.635 68,10%


Patos 15.199 3.043 12.156 79,97%
Piancó 14.004 1.354 12.650 90,33%
Picui 4.622 2.197 2.425 52,46%
Pilar 4.128 1.206 2.922 70,78%
Princesa Isabel 7.871 1.106 6.765 85,94%
Santa Luzia 5.766 2.912 2.854 49,49%
Santa Rita 8.351 1.300 7.051 84,43%
São João do Cariri 7.876 2.897 4.979 63,21%
Sapé 6.772 1.746 5.026 74,21%
Serraria 5.316 986 4.330 81,45%
Soledade 5.544 1.652 3.892 70,20%
Souza 11.750 2.125 9.625 81,91%
Sumé 1.519 1.036 483 31,79%
Taperoa 4.297 2.222 2.075 48,29%
Teixeira 5.751 1.216 4.535 78,85%
Umbuzeiro 5.785 2.724 3.061 52,91%
Fonte: Tribunal Regional Eleitoral da Parahyba: http://www.tre.pb.gov.br. Visitado em
13.08.2010.

420
1965: a última eleição direta para governador

Comparecimento nas Eleições de 1954 na Parahyba

Comparecimentos e abstenções
Percentual
Município Eleitorado Comparecimento Abstenção
Abstenção
Alagoa Grande 4.651 2.589 2.062 44,33%
Alagoa Nova 4.797 3.231 1.566 32,64%
Alagoinha 1.431 1.156 275 19,21%
Antenor Navarro 6.025 3.631 2.394 39,73%
Araruna 7.530 4.906 2.624 34,84%
Areia 7.723 4.779 2.944 38,12%
Aroeiras 3.028 2.110 918 30,31%
Bananeiras 7.770 4.616 3.154 40,59%
Bonito 2.344 1.262 1.082 46,16%
Brejo do Cruz 5.793 3.667 2.126 36,69%
Cabaceiras 7.363 5.093 2.270 30,83%
Caiçara 8.663 3.886 4.777 55,14%
Cajazeiras 10.597 6.265 4.332 40,87%
Campina Grande 50.700 24.264 26.436 52,14%
Catolé do Rocha 8.857 5.006 3.851 43,48%
Conceição 6.973 4.096 2.877 41,25%
Cruz do Espirito
4.260 2.629 1.631 38,28%
Santo
Cuité 4.391 2.511 1.880 42,81%
Curemas 4.232 2.224 2.008 47,44%
Esperança 5.709 3.356 2.353 41,21%
Guarabira 8.792 4.461 4.331 49,26%
Ingá 4.852 2.955 1.897 39,09%
Itabaiana 7.355 4.158 3.197 43,46%
Itaporanga 16.687 7.468 9.219 55,24%
João Pessoa 35.332 22.679 12.653 35,81%

421
A BAGACEIRA, Eleitoral

Malta 1.497 1.970 -473 -31,5%


Mamanguape 13.006 6.944 6.062 46,60%
Monteiro 16.153 7.762 8.391 51,94%
Patos 18.670 9.735 8.935 47,85%
Pedras de Fogo 3.167 1.999 1.168 36,88%
Piancó 15.222 9.100 6.122 40,21%
Picui 5.878 3.658 2.220 37,76%
Pilar 4.788 2.796 1.992 41,60%
Piloes 1.381 1.193 188 13,61%
Pirpirituba 2.424 1.279 1.145 47,23%
Pocinhos 3.801 1.791 2.010 52,88%
Pombal 14.324 7.818 6.506 45,42%
Princesa Isabel 11.614 6.140 5.474 47,13%
Santa Luzia 7.099 5.545 1.554 21,89%
Santa Rita 10.690 5.142 5.548 51,89%
São João do Cariri 10.039 6.261 3.778 37,63%
São José de
2.829 1.883 946 33,43%
Piranhas
Sapé 8.338 4.638 3.700 44,37%
Serraria 5.269 1.638 3.631 68,91%
Solanea 3.609 2.041 1.568 43,44%
Soledade 5.914 3.658 2.256 38,14%
Sousa 13.679 8.954 4.725 34,54%
Sumé 1.916 1.514 402 20,98%
Taperoa 5.581 4.282 1.299 23,27%
Teixeira 7.954 3.461 4.493 56,48%
Uirauna 3.574 2.087 1.487 41,60%
Umbuzeiro 5.169 3.377 1.792 34,66%

Fonte: Tribunal Regional Eleitoral da Parahyba: http://www.tre.pb.gov.br. Visitado em


13.08.2010.

422
1965: a última eleição direta para governador

Comparecimento nas Eleições de 1955 na Parahyba

Comparecimentos e abstenções
Percentual
Município Eleitorado Comparecimento Abstenção
Abstenção
Alagoa Grande 4.576 2.772 1.804 39,42%
Alagoa Nova 4.847 3.040 1.807 37,28%
Alagoinha 1.860 1.366 494 26,55%
Antenor Navarro 5.852 3.618 2.234 38,17%
Araruna 7.050 4.495 2.555 36,24%
Areia 7.697 3.774 3.923 50,96%
Aroeiras 3.525 2.001 1.524 43,23%
Bananeiras 7.425 2.840 4.585 61,75%
Bonito 2.545 1.514 1.031 40,51%
Brejo do Cruz 6.046 2.483 3.563 58,93%
Cabaceiras 7.119 3.768 3.351 47,07%
Caiçara 9.197 2.251 6.946 75,52%
Cajazeiras 10.450 5.803 4.647 44,46%
Campina Grande 54.013 25.880 28.133 52,08%
Catolé do Rocha 8.646 4.188 4.458 51,56%
Conceição 6.880 2.927 3.953 57,45%
Cruz do Espirito
4.359 2.734 1.625 37,27%
Santo
Cuité 4.781 3.201 1.580 33,04%
Curemas 4.534 2.143 2.391 52,73%
Esperança 5.989 3.731 2.258 37,70%
Guarabira 9.325 4.505 4.820 51,68%
Ingá 5.049 3.340 1.709 33,84%
Itabaiana 7.367 4.238 3.129 42,47%
Itaporanga 16.684 5.990 10.694 64,09%
João Pessoa 42.741 26.358 16.383 38,33%
Malta 2.635 2.483 152 05,76%

423
A BAGACEIRA, Eleitoral

Mamanguape 13.385 8.289 5.096 38,07%


Monteiro 16.753 7.633 9.120 54,43%
Patos 17.412 7.973 9.439 54,21%
Pedras de Fogo 3.459 2.159 1.300 37,58%
Piancó 14.023 6.647 7.376 52,59%
Picui 5.917 2.523 3.394 57,36%
Pilar 4.656 2.052 2.604 55,92%
Piloes 2.028 1.545 483 23,81%
Pirpirituba 2.486 1.271 1.215 48,87%
Pocinhos 1.736 1.654 82 04,72%
Pombal 14.348 7.097 7.251 50,53%
Princesa Isabel 11.188 5.820 5.368 47,98%
Santa Luzia 7.708 6.030 1.678 21,77%
Santa Rita 10.359 5.676 4.683 45,20%
São João do Cariri 10.070 5.884 4.186 41,56%
São José de
3.040 2.099 941 30,95%
Piranhas
São Mamede 6.063 6.063 0 0%
Sapé 8.565 4.449 4.116 48,05%
Serra Redonda 3.334 3.334 0 0%
Serraria 5.332 1.887 3.445 64,61%
Solanea 3.017 1.481 1.536 50,91%
Soledade 6.114 3.699 2.415 39,5%
Sousa 14.837 8.742 6.095 41,08%
Sumé 1.978 1.493 485 24,52%
Taperoá 5.562 3.383 2.179 39,17%
Teixeira 8.238 3.845 4.393 53,32%
Uirauna 3.305 1.448 1.857 56,18%
Umbuzeiro 5.826 3.551 2.275 39,04%
Fonte: Tribunal Regional Eleitoral da Parahyba: http://www.tre.pb.gov.br. Visitado em
13.08.2010.

424
1965: a última eleição direta para governador

Comparecimento e abstenções nas Eleições de 1958 na Parahyba

Comparecimentos e abstenções
Percentual
Município Eleitorado Comparecimento Abstenção
Abstenção
Alagoa Grande 2.925 2.753 172 05,88%
Alagoa Nova 3.148 2.861 287 09,11%
Alagoinha 1.398 1.306 92 06,58%
Antenor Navarro 4.078 3.810 268 06,57%
Araruna 4.888 4.355 533 10,90%
Areia 4.722 4.218 504 10,67%
Aroeiras 1.413 1.276 137 09,69%
Bananeiras 4.054 3.671 383 09,44%
Bonito 1.444 1.243 201 13,92%
Brejo do Cruz 4.055 3.706 349 08,60%
Cabaceiras 4.782 4.425 357 07,46%
Caiçara 4.273 4.031 242 05,66%
Cajazeiras 6.375 5.788 587 09,20%
Campina Grande 33.251 29.205 4.046 12,16%
Catolé do Rocha 6.514 5.862 652 10,00%
Conceição 4.289 3.755 534 12,45%
Cruz do Espirito
2.889 2.777 112 03,87%
Santo
Cuité 3.650 3.274 376 10,30%
Curemas 2.104 2.001 103 04,89%
Esperança 4.687 4.180 507 10,81%
Guarabira 5.360 4.761 599 11,17%
Ingá 2.845 2.556 289 10,15%
Itabaiana 4.954 4.612 342 06,90%
Itaporanga 6.226 5.541 685 11,00%
João Pessoa 34.482 31.082 3.400 09,86%

425
A BAGACEIRA, Eleitoral

Malta 2.601 2.361 240 09,22%


Mamanguape 8.705 7.102 1.603 18,41%
Monteiro 9.558 8.594 964 10,08%
Patos 9.942 9.254 688 06,92%
Pedras de Fogo 1.686 1.591 95 05,63%
Piancó 7.804 7.253 551 07,06%
Picui 4.171 3.746 425 10,18%
Pilar 2.586 2.431 155 05,99%
Piloes 998 850 148 14,83%
Pirpirituba 1.287 1.166 121 09,40%
Pocinhos 2.318 2.144 174 07,50%
Pombal 10.793 10.023 770 07,13%
Princesa Isabel 7.381 6.052 1.329 18,00%
Santa Luzia 5.492 5.258 234 04,26%
Santa Rita 7.013 6.427 586 08,35%
São João do Cariri 7.739 7.114 625 08,07%
São José de
2.255 2.039 216 09,57%
Piranhas
Sapé 4.979 4.552 427 08,57%
Serraria 1.919 1.745 174 09,06%
Solanea 2.030 1.817 213 10,49%
Soledade 4.042 3.700 342 08,46%
Sousa 11.591 10.416 1.175 10,13%
Sumé 1.519 1.434 85 05,59%
Taperoa 4.153 3.779 374 09,00%
Teixeira 4.470 3.830 640 14,31%
Uirauna 2.602 2.342 260 09,99%
Umbuzeiro 2.680 2.449 231 08,61%
Fonte: Tribunal Regional Eleitoral da Parahyba: http://www.tre.pb.gov.br. Visitado em
13.08.2010.

426
1965: a última eleição direta para governador

Comparecimentos e abstenções nas Eleições de 1960 na Parahyba

Comparecimentos e abstenções
Percentual
Município Eleitorado Comparecimento Abstenção
Abstenção
Alagoinha 1.915 1.586 329 17,18%
Antenor Navarro 4.687 3.868 819 17,47%
Araruna 2.412 1.371 1.041 43,15%
Aroeiras 2.053 1.685 368 17,92%
Belem 2.074 1.747 327 15,76%
Bonito 1.846 1.368 478 25,89%
Brejo do Cruz 3.082 2.558 524 17,00%
Cabaceiras 2.108 1.262 846 40,13%
Cabedelo 3.003 2.543 460 15,31%
Cajazeiras 6.940 5.642 1.298 18,70%
Campina Grande 41.137 31.340 9.797 23,81%
Catolé do Rocha 5.881 4.786 1.095 18,61%
Conceição 3.410 2.232 1.178 34,54%
Coremas 3.159 2.279 880 27,85%
Cuité 2.273 1.603 670 29,47%
Esperança 5.169 3.876 1.293 25,01%
Guarabira 4.930 3.451 1.479 30%
Itaporanga 7.388 5.437 1.951 26,40%
Juazeirinho 1.600 1.474 126 07,87%
Malta 3.214 2.736 478 14,87%
Monteiro 6.699 4.306 2.393 35,72%
Patos 11.769 9.933 1.836 15,6%
Pedras de Fogo 2.235 1.828 407 18,21%
Piancó 7.439 5.664 1.775 23,86%

427
A BAGACEIRA, Eleitoral

Picui 2.735 2.075 660 24,13%


Piloes 1.493 1.023 470 31,48%
Pirpirituba 1.618 1.304 314 19,40%
Pocinhos 2.539 1.964 575 22,64%
Pombal 12.062 10.274 1.788 14,82%
Princesa Isabel 5.057 2.564 2.493 49,29%
Rio Tinto 4.140 3.417 723 17,46%
Santa Luzia 4.247 3.631 616 14,50%
São João do Cariri 4.726 3.095 1.631 34,51%
São José de
2.585 2.006 579 22,39%
Piranhas
Solanea 2.123 1.507 616 29,01%
Soledade 2.475 1.969 506 20,44%
Souza 13.727 11.554 2.173 15,83%
Sumé 2.033 1.710 323 15,88%
Taperoa 4.434 3.584 850 19,17%
Teixeira 4.121 2.701 1.420 34,45%
Uirauna 3.330 2.617 713 21,41%
Umbuzeiro 3.032 2.033 999 32,94%
Fonte: Tribunal Regional Eleitoral da Parahyba: http://www.tre.pb.gov.br. Visitado em
13.08.2010.

Comparecimento nas Eleições de 1962 na Parahyba

Comparecimentos e abstenções
Percentual
Município Eleitorado Comparecimento Abstenção
Abstenção
Alagoa Grande 4.018 3.418 600 14,93%
João Pessoa 44.833 32.923 11.910 26,56%

428
1965: a última eleição direta para governador

Comparecimento nas Eleições de 1964 na Parahyba

Comparecimentos e abstenções
Percentual
Município Eleitorado Comparecimento Abstenção
Abstenção
Alagoa Nova 3.945 2.960 985 24,96%
Alagoinha 2.000 1.296 704 35,2%
Antenor Navarro 5.561 4.849 712 12,80%
Araruna 6.344 4.746 1.598 25,18%
Areia 6.137 4.275 1.862 30,34%
Aroeiras 2.108 1.362 746 35,38%
Bananeiras 5.282 4.073 1.209 22,88%
Belem 2.521 1.525 996 39,50%
Bonito 2.111 1.619 492 23,30%
Brejo do Cruz 4.753 3.800 953 20,05%
Cabaceiras 6.105 5.169 936 15,33%
Cabedelo 3.200 2.293 907 28,34%
Caiçara 5.736 4.781 955 16,64%
Cajazeiras 8.042 6.005 2.037 25,33%
Campina Grande 39.728 27.349 12.379 31,15%
Catolé do Rocha 9.666 3.997 5.669 58,64%
Conceição 6.082 5.359 723 11,88%
Coremas 3.299 2.035 1.264 38,31%
Cruz do Espirito
3.444 2.484 960 27,87%
Santo
Cuité 4.443 3.700 743 16,72%
Esperança 5.848 4.566 1.282 21,92%
Guarabira 8.591 6.538 2.053 23,89%
Ingá 4.370 3.606 764 17,48%
Itabaiana 7.814 6.276 1.538 19,68%
Itaporanga 8.120 6.098 2.022 24,90%
João Pessoa 47.237 32.923 14.314 30,30%
Juarez Távora 4.724 3.418 1.306 27,64%
Juazeirinho 2.314 1.820 494 21,34%

429
A BAGACEIRA, Eleitoral

Malta 4.029 3.432 597 14,81%


Mamanguape 7.985 6.380 1.605 20,1%
Monteiro 11.004 8.182 2.822 25,64%
Patos 14.094 11.583 2.511 17,81%
Pedras de Fogo 2.943 2.146 797 27,08%
Piancó 11.427 9.656 1.771 15,49%
Picui 5.308 4.331 977 18,40%
Pilar 5.332 4.341 991 18,58%
Piloes 1.456 594 862 59,20%
Pirpirituba 1.791 1.297 494 27,58%
Pocinhos 3.254 2.108 1.146 35,21%
Pombal 12.496 9.967 2.529 20,23%
Princesa Isabel 10.223 6.956 3.267 31,95%
Queimadas 5.235 3.674 1.561 29,81%
Rio Tinto 4.283 2.917 1.366 31,89%
Santa Luzia 7.066 6.185 881 12,46%
Santa Rita 10.008 7.621 2.387 23,85%
São João do Cariri 6.917 5.823 1.094 15,81%
São José de
3.427 2.768 659 19,23%
Piranhas
Sapé 7.376 5.550 1.826 24,75%
Serra Branca 3.291 2.340 951 28,89%
Serraria 2.801 2.228 573 20,45%
Solanea 2.908 1.767 1.141 39,23%
Soledade 3.193 2.522 671 21,01%
Souza 17.433 14.150 3.283 18,83%
Sumé 2.906 2.062 844 29,04%
Taperoa 4.637 3.931 706 15,22%
Teixeira 6.143 4.560 1.583 25,76%
Uirauna 3.449 2.360 1.089 31,57%
Umbuzeiro 3.467 2.230 1.237 35,67%

Fonte: Tribunal Regional Eleitoral da Parahyba: http://www.tre.pb.gov.br. Visitado em


13.08.2010.

430
1965: a última eleição direta para governador

RESULTADO DAS ELEIÇÕES NA PARAHYBA EM 1965

Cargo: Governador
Partido / %
Candidato Votação Situação
Coligação válidos
João Agripino Filho
168.712 50,4% Eleito
Vice: Severino Bezerra Cabral
Ruy Carneiro
165.785 49,5%
Vice: Argemiro de Figueiredo
Votos brancos 4.110
Votos nulos 6.390
Total apurado 344.997
Fonte: Tribunal Regional Eleitoral da Parahyba: http://www.tre.pb.gov.br. Visitado em
13.08.2010.

Comparecimento nas Eleições de 1965 na Paraíba

Comparecimentos e abstenções
Percentual
Município Eleitorado Comparecimento Abstenção
Abstenção
Alagoa Grande 6.203 4.412 1.791 28,87%
Alagoa Nova 4.176 2.891 1.285 30,77%
Alagoinha 2.808 2.061 747 26,60%
Antenor Navarro 5.679 4.741 938 16,51%
Araruna 6.645 4.874 1.771 26,65%
Areia 7.276 5.216 2.060 28,31%
Aroeiras 2.929 2.230 699 23,86%
Bananeiras 5.197 3.920 1.277 24,57%
Belem 3.214 2.197 1.017 31,64%

431
A BAGACEIRA, Eleitoral

Bonito 2.289 1.691 598 26,12%


Brejo do Cruz 4.785 3.785 1.000 20,89%
Cabaceiras 6.663 5.177 1.486 22,30%
Cabedelo 4.425 3.386 1.039 23,48%
Caiçara 6.141 4.473 1.668 27,16%
Cajazeiras 10.401 8.030 2.371 22,79%
Campina Grande 42.925 30.768 12.157 28,32%
Catolé do Rocha 11.415 9.397 2.018 17,67%
Conceição 7.590 5.538 2.052 27,03%
Cruz do Espirito
3.533 2.739 794 22,47%
Santo
Cuité 5.801 4.958 843 14,53%
Curemas 3.523 2.719 804 22,82%
Esperança 6.645 4.874 1.771 26,65%
Guarabira 11.609 8.493 3.116 26,84%
Ingá 5.862 4.099 1.763 30,07%
Itabaiana 8.263 6.040 2.223 26,90%
Itaporanga 8.453 6.315 2.138 25,29%
Jacaraú 2.571 1.627 944 36,71%
João Pessoa 53.184 40.193 12.991 24,42%
Juazeirinho 2.456 2.008 448 18,24%
Malta 4.613 4.028 585 12,68%
Mamanguape 5.542 4.100 1.442 26,01%
Monteiro 11.756 8.630 3.126 26,59%
Patos 17.690 13.818 3.872 21,88%
Pedras de Fogo 3.153 2.336 817 25,91%
Piancó 12.193 9.323 2.870 23,53%
Picui 5.874 5.078 796 13,55%

432
1965: a última eleição direta para governador

Pilar 5.453 4.014 1.439 26,38%


Piloes 1.352 763 589 43,56%
Pirpirituba 1.946 1.349 597 30,67%
Pocinhos 3.329 2.556 773 23,22%
Pombal 13.832 11.109 2.723 19,68%
Princesa Isabel 10.099 7.589 2.510 24,85%
Queimadas 5.345 3.233 2.112 39,51%
Rio Tinto 4.907 3.447 1.460 29,75%
Santa Luzia 7.607 6.642 965 12,68%
Santa Rita 12.490 9.820 2.670 21,37%
São João do Cariri 7.276 5.272 2.004 27,54%
São José de
3.987 3.167 820 20,56%
Piranhas
Sapé 9.400 6.769 2.631 27,98%
Serra Branca 3.681 2.568 1.113 30,23%
Serraria 3.356 2.396 960 28,60%
Solanea 2.811 2.034 777 27,64%
Soledade 3.099 2.623 476 15,36%
Souza 20.208 16.405 3.803 18,81%
Sumé 2.413 1.603 810 33,56%
Taperoa 5.487 4.485 1.002 18,26%
Teixeira 6.705 5.216 1.489 22,20%
Uirauna 4.262 3.226 1.036 24,30%
Umbuzeiro 3.512 2.018 1.494 42,54%

Fonte: Tribunal Regional Eleitoral da Parahyba: http://www.tre.pb.gov.br. Visitado em


13.08.2010.

433
A BAGACEIRA, Eleitoral

Cargo: Senador
Partido /
Candidato Votação % válidos Situação
Coligação
Ruy Carneiro MDB 192.497 51,2% Eleito
Aluisio Afonso Campos ARENA 183.320 48,7% Eleito
Votos brancos 21.909
Votos nulos 15.521
Total apurado 413.247

Legenda:
MDB - Movimento Democrático Brasileiro
ARENA - Aliança Renovadora Nacional

Cargo: Deputado Federal


Partido /
Candidato Votação % válidos Situação
Coligação
José Janduhy Carneiro MDB 26.909 7,31% Eleito
Humberto Coutinho de Lucena MDB 24.778 6,73% Eleito
Pedro Moreno Gondim ARENA 24.563 6,67% Eleito
Francisco Teotonio Neto ARENA 23.976 6,51% Eleito
Renato Ribeiro Coutinho ARENA 20.888 5,67% Eleito
Wilson Braga ARENA 20.815 5,65% Eleito
Flaviano Ribeiro Coutinho Filho ARENA 18.890 5,13% Eleito
Ernani Ayres Sátyro e Sousa ARENA 18.124 4,92% Eleito
Petronio Ramos de Figueiredo MDB 17.809 4,84% Eleito
Monsenhor Manuel Vieira ARENA 17.737 4,82% Eleito
Vital do Rêgo ARENA 16.386 4,45% Eleito
Milton Bezerra Cabral ARENA 16.323 4,43%

434
1965: a última eleição direta para governador

Bivar Olyntho de Melo e Silva MDB 15.239 4,14% Eleito


Plínio Lemos ARENA 15.043 4,09%
José de Paiva Gadelha MDB 13.169 3,58% Eleito
Joacil de Brito Pereira ARENA 12.937 3,51%
Osmar de Araújo Aquino MDB 12.335 3,35%
Jacob Guilherme Frantz ARENA 10.498 2,85%
Luiz da Costa Araújo Bronzeado ARENA 10.400 2,82%
João Fernandes de Lima MDB 10.306 2,80%
Antonio D’avila Lins MDB 7.071 1,92%
Antonio Nominando Diniz ARENA 6.568 1,78%
Arnaldo Bezerra Lafayette MDB 5.135 1,39%
Claudio Santa Cruz Costa MDB 1.930 0,52%
Praxedes Pitanga MDB 13 0,00%
Votos brancos 32.562
Votos nulos 10.687
Total apurado 411.091

Legenda:
MDB - Movimento Democrático Brasileiro
ARENA - Aliança Renovadora Nacional

435
A BAGACEIRA, Eleitoral

Cargo: Deputado Estadual


Partido /
Candidato Votação % válidos Situação
Coligação
Ronaldo Cunha Lima MDB 8.871 2,37% Eleito
Clovis Bezerra Cavalcanti ARENA1 8.365 2,23% Eleito
Otávio Mariz Maia ARENA1 7.567 2,02% Eleito
Dr Epitácio ARENA1 7.454 1,99% Eleito
Inácio Pedrosa Sobrinho MDB 7.356 1,96% Eleito
Alvaro Gaudencio de Queiroz ARENA1 7.146 1,91% Eleito
Francisco Pereira ARENA1 6.954 1,86% Eleito
José Braz do Rego ARENA1 6.846 1,83% Eleito
José Fernandes de Lima MDB 6.438 1,72% Eleito
Laercio Pires de Souza MDB 6.331 1,69% Eleito
José Pereira da Costa ARENA1 6.295 1,68% Eleito
Luiz Ferreira Barros ARENA1 6.043 1,61% Eleito
Edivaldo Fernandes Mota ARENA1 6.004 1,60% Eleito
Inacio Bento de Morais ARENA1 5.892 1,57% Eleito
Mário Silveira MDB 5.860 1,56% Eleito
Romeu Gonçalves de Abrantes ARENA1 5.573 1,49% Eleito
Antonio de Paiva Gadelha MDB 5.568 1,49% Eleito
Egídio da Silva Madruga ARENA1 5.563 1,48% Eleito
Agnaldo Veloso Borges ARENA1 5.546 1,48% Eleito
Carlos Pessoa Filho ARENA2 5.505 1,47% Eleito
José Lacerda ARENA2 5.382 1,44% Eleito
Antônio de Araújo Quinho ARENA1 5.174 1,38% Eleito
Azuil Arruda de Assis MDB 4.898 1,31% Eleito
Ze Maranhão MDB 4.830 1,29% Eleito
Sebastião Calixto de Araújo MDB 4.734 1,26% Eleito
Antonio Batista Santiago ARENA1 4.692 1,25% Eleito
Francisco Souto Neto ARENA1 4.689 1,25% Eleito
José Afonso Gayoso de Souza MDB 4.679 1,25% Eleito
Augusto Ferreira Ramos ARENA1 4.627 1,23% Eleito
Jonas Leite Chaves ARENA2 4.624 1,23% Eleito

436
1965: a última eleição direta para governador

Luiz Ignácio Ribeiro Coutinho ARENA1 4.534 1,21% Eleito


João Batista Brandão ARENA1 4.478 1,19% Eleito
Robson Duarte Espinola ARENA1 4.351 1,16% Eleito
Luiz Gonzaga de Miranda
MDB 4.330 1,15% Eleito
Freire
Aloisio Pereira Lima MDB 4.176 1,11% Eleito
Silvio Pélico Porto ARENA1 4.168 1,11%
Francisco de Assis Camelo ARENA2 4.156 1,11% Eleito
Orlando Cavalcanti de Melo MDB 4.045 1,08% Eleito
Antonio Leite Montenegro ARENA1 4.032 1,07%
Balduino Minervino de
MDB 3.988 1,06% Eleito
Carvalho
José Leite de Souza ARENA1 3.864 1,03%
Nominando Muniz Diniz ARENA1 3.846 1,03%
José Soares de Figueiredo MDB 3.802 1,01% Eleito
José Alves de Lira MDB 3.798 1,01%
Diógenes de Morais Martins ARENA1 3.774 1,01%
Nivaldo de Farias Brito ARENA2 3.744 1,00% Eleito
José Edmar Estrela ARENA1 3.642 0,97%
Ceslau Gadelha MDB 3.629 0,97%
Desmoulins Wanderley de
MDB 3.612 0,96%
Farias
Antonio de Padua Ferreira de
ARENA1 3.555 0,95%
Carvalho
Sigismundo Souto Maior ARENA1 3.550 0,95%
Severino Cabral de Souza ARENA2 3.426 0,91%
Severino Ismael de Oliveira ARENA1 3.420 0,91%
Epitacio Vieira de Queiroga MDB 3.350 0,89%
Waldir dos Santos Lima ARENA1 3.320 0,88%
Ronald Queiroz Fernandes MDB 3.149 0,84%
Janduhy Suassuna Saldanha MDB 3.104 0,83%
Orlando Venancio dos Santos MDB 3.052 0,81%
João Franco da Costa ARENA1 3.047 0,81%
João Cabral Batista ARENA2 3.032 0,81%

437
A BAGACEIRA, Eleitoral

Leu Palmeira MDB 3.031 0,81%


Euvaldo da Silva Brito ARENA2 2.970 0,79%
Romero Abdon Queiroz da
MDB 2.934 0,78%
Nóbrega
João Gadelha de Oliveira ARENA1 2.859 0,76%
Dr Bosco ARENA1 2.836 0,75%
Rui de Andrade Gouveia MDB 2.749 0,73%
Aurelio de Miranda Leite MDB 2.685 0,71%
Abdiel de Sousa Rolim ARENA2 2.552 0,68%
Pedro Bonifacio de Araújo MDB 2.543 0,68%
Balduino Lelis de Farias MDB 2.509 0,67%
Antônio Alves Pimentel ARENA1 2.508 0,67%
Abdias da Mata Ribeiro MDB 2.506 0,67%
Tercilio Teixeira da Cruz ARENA1 2.482 0,66%
Noaldo Moreira Dantas ARENA2 2.459 0,65%
Francisco Aldo da Silva ARENA1 2.431 0,65%
João Jerônimo da Costa MDB 2.376 0,63%
Sebastião Alves Lins ARENA1 2.269 0,60%
Agamenon da Cunha Lima ARENA2 2.186 0,58%
Osvaldo Bezerra Cascudo ARENA1 2.146 0,57%
José Rodrigues Lustosa ARENA2 2.090 0,55%
Ronaldo Romero Rangel MDB 1.974 0,52%
José Pereira do Nascimento MDB 1.915 0,51%
Francisco Rosado Maia MDB 1.871 0,50%
Manuel Angelo da Silva ARENA2 1.831 0,49%
Jacinto Dantas Filho ARENA2 1.792 0,48%
Amaury Araújo de Vasconcelos ARENA1 1.779 0,47%
Inácio José Feitosa MDB 1.768 0,47%
Manoel Gonçalo de Oliveira MDB 1.695 0,45%
Acrisio Félix Vieira ARENA2 1.692 0,45%
Genésio Soares de Carvalho ARENA2 1.671 0,44%
Manuel Joaquim Barbosa MDB 1.459 0,39%
Eligio Martins de Araújo ARENA2 1.251 0,33%

438
1965: a última eleição direta para governador

Otacilio Jurema MDB 1.136 0,30%


Antonio Aurelio Teixeira de
ARENA1 1.011 0,27%
Carvalho
Pedro Salvino de Farias ARENA2 1.009 0,27%
José Roberto Braga MDB 1.008 0,27%
Severino José de Souza ARENA2 875 0,23%
Euclides Rodrigues de Lima ARENA2 829 0,22%
Durval Lins de Albuquerque ARENA1 758 0,20%
Messias Pessoa da Silva ARENA1 725 0,19%
Francisco Gonçalves da Silva ARENA1 723 0,19%
João Holanda Cavalcanti Filho ARENA1 668 0,17%
Manuel Barbosa da Silva ARENA2 505 0,13%
Francisco Troccoli ARENA2 352 0,09%
Evaristo Inocencio da Silva ARENA1 342 0,09%
José Cartaxo Andriola ARENA1 315 0,08%
Benjamim Targino Maranhão MDB 3 0,00%
João Nogueira de Arruda MDB 2 0,00%
Votos brancos 26.801
Votos nulos 10.723
Total apurado 411.084

Legenda:
MDB - Movimento Democrático Brasileiro
ARENA1 - Aliança Renovadora Nacional 1
ARENA2 - Aliança Renovadora Nacional 2

Fonte: Tribunal Regional Eleitoral da Parahyba: http://www.tre.pb.gov.br. Visitado em


13.08.2010.

439
A BAGACEIRA, Eleitoral

CRONOLOGIA DE ELEIÇÕES REALIZADAS NO BRASIL E NA PARAHYBA


NO PERÍODO ENTRE 1945-1965.

CARGOS ELETIVOS
EXECUTIVO
EXECUTIVO SENADO E CÂMARA EXECUTIVO ASSEMBLÉIAS
E CÂMARA
FEDERAL FEDERAL ESTADUAL LEGISLATIVAS
MUNICIPAL
ANO DO DEPUTADO PREFEITO,
PLEITO PRESIDENTE E VICE-
DEPUTADO ESTADUAL/ VICE-
PRESIDENTE DA GOVERNADOR
FEDERAL/ SENADOR DISTRITAL/ DE PREFEITO E
REPÚBLICA
TERRITÓRIO VEREADORES
Eleição Direta Eleição Direta
1945[1] _ _ _
2 de Dezembro 2 de Dezembro
Eleição
Eleição Direta Eleição Direta Eleição Direta
1947 - Direta[2]
19 de Janeiro 19 de Janeiro 19 de Janeiro
19 de Janeiro
Eleição
Eleição Direta Eleição Direta Eleição Direta Eleição Direta
1950[3] Direta[4]
3 de Outubro 3 de Outubro 3 de Outubro 3 de Outubro
3 de Outubro
Eleição
Eleição Direta Eleição Direta Eleição Direta
1954 _ Direta[5]
3 de Outubro 3 de Outubro 3 de Outubro
3 de Outubro
Eleição
Eleição Direta Eleição Direta
1955[6] _ _ Direta[7]
3 de Outubro 3 de Outubro
3 de Outubro
Eleição
Eleição Direta Eleição Direta Eleição Direta
1958 _ Direta[8]
3 de Outubro 3 de Outubro 3 de Outubro
3 de Outubro
Eleição
Eleição Direta Eleição Direta
1960[9] _ _ Direta[10]
3 de Outubro 3 de Outubro
3 de Outubro
Eleição
Eleição Direta Eleição Direta Eleição Direta
1962 _ Direta[11]
7 de Outubro 7 de Outubro 7 de Outubro
7 de Outubro

CARGOS ELETIVOS
EXECUTIVO
SENADO E CÂMARA EXECUTIVO ASSEMBLÉIAS
EXECUTIVO FEDERAL E CÂMARA
FEDERAL ESTADUAL LEGISLATIVAS
MUNICIPAL
ANO DO DEPUTADO
PLEITO PRESIDENTE E VICE- PREFEITO,
DEPUTADO ESTADUAL/
PRESIDENTE DA GOVERNADOR VICE-PREFEITO
FEDERAL/ SENADOR DISTRITAL/ DE
REPÚBLICA E VEREADORES
TERRITÓRIO
Eleição Indireta[12]
1964 _ _ _ _
11 de Abril
Eleição
Eleição Direta
1965 _ _[13] _ Direta[14]
3 de Outubro
3 de Outubro

FONTE: TRIBUNAL SUPERIOR ELEITORAL – http://www.tse.gov.br

440
1965: a última eleição direta para governador

[1] Eleições para os cargos do Executivo Federal, do Senado e Câmara Federal


reguladas na forma do art. 136, 1ª parte, do Decreto-Lei n.° 7.586, de 28-05-
1945, combinada com a Resolução do Tribunal Superior Eleitoral, de 08-09-
1945.

[2] Eleição no Distrito Federal para cinqüenta vereadores, na forma da


Resolução n.º 1.302, do Tribunal Superior Eleitoral, de 03-12-1946.

[3] Eleições para os cargos do Executivo Federal, Senado e Câmara Federal,


Executivo Estadual, Assembléias Legislativas, Executivo e Câmara Municipal
reguladas na forma da Resolução n.º 3.532, do Tribunal Superior Eleitoral,
de 04-08-1950.

[4] Eleição no Distrito Federal para cinqüenta vereadores, na forma da Lei


n.º 217, de 15-01-1948, art. 6º. Nos municípios existentes até a promulgação
da Constituição Estadual, fez-se eleição para prefeito ou vice-prefeito, se
necessário, e para vereadores cujos mandatos terminariam em 31-01-1951.
As instruções para as eleições foram reguladas na forma da Resolução n.º
3.532, do Tribunal Superior Eleitoral, de 04-08-1950.

[5] Eleição para os cargos cujos mandatos terminariam até abril de 1955, na
forma da Resolução n.º 4.648 do Tribunal Superior Eleitoral, de 27-01-1954.

[6] Eleições para os cargos do Executivo Federal e Estadual reguladas na


forma da Resolução n.º 4.949, do Tribunal Superior Eleitoral, de 19-04-1955.

[7] Eleição para os cargos cujos mandatos terminariam entre 15 de


novembro de 1955 e 26 de fevereiro de 1956, na forma da Resolução n.º
4.949, do Tribunal Superior Eleitoral, de 19-04-1955.

441
A BAGACEIRA, Eleitoral

[8] Eleições para prefeito, vice-prefeito e governador nos locais onde


os mandatos terminaram entre 31-01-1959 e 31-01-1961, na forma
da Resolução n.º 5.720, do Tribunal Superior Eleitoral, de 11-06-1958,
combinado com a Resolução n.º 5.874, do Tribunal Superior Eleitoral, de 14-
08-1958.
[9] Eleições para os cargos do Executivo Federal e Estadual reguladas na
forma da Resolução n.º 6.488, do Tribunal Superior Eleitoral, de 13-07-1960.

[10] Eleições reguladas na forma da Resolução n.º 6.488, do Tribunal


Superior Eleitoral, de 13-07-1960.

[11] Eleições reguladas na forma da Resolução n.º 7.018, do Tribunal


Superior Eleitoral, de 04-09-1962.

442
O povo paraibano, origem do poder político.
(Fonte: Josué Sylvestre).

Em ano de eleição, na Parahyba, quem ganha é o funcionalismo público estadual, pois nunca
faltou dinheiro para o pagamento dos “barnabés”, sempre às vésperas de cada pleito. (Fonte:
Jornal A UNIÃO, de 1960).
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