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Júlio Fernandes

e o projeto de uITI
jornal equilibrado

Acima das palavras, é a prática


no cotidiano que mostra o caráter
das pessoas ... e da Imprensa
2

Júlio Fernandes queria um jornal


equilibrado. Isso existe?

Certa noite de 2017, em animada reunião na Associação dos


Jornalistas de Cascavel, Júlio César Fernandes contou que tinha um
jornal semanário – o Paraná Oeste.
Era um jornal conservador, sem ser da direita raivosa. Júlio, porém,
queria algum equilíbrio nas edições, apresentando também olhares de
centro e de esquerda.
O editor queria que eu abordasse em artigos o ângulo da esquerda.
Mas, ao analisar o segmento de leitores do jornal, verifiquei que eles
não queriam nada realmente de esquerda, que exigiria textos longos.
O que estava realmente faltando ao jornal era um ângulo liberal-
progressista.
Passei a escrever imediatamente e, sem fugir ao propósito inicial,
todos os artigos escritos para o jornal de Fernandes tiveram somente
esse deliberado viés liberal-progressista, algo levemente rosado na
ideologia das cores para não confrontar o público-alvo do jornal.
3

Arapuca desinformativa
Se alguma ideia exposta nos artigos publicados pareceu “esquerda”
é porque apenas um número muito pequeno de pessoas que leem
jornais – e quase ninguém os lia quando a ingenuidade geral fazia as
pessoas se fiarem na arapuca desinformativa das redes sociais –
têm alguma ideia concreta do que seja “esquerda” de fato.
Esquerda, a rigor, é anticapitalista. Para muitos leitores
conservadores, textos liberais-progressistas, embora sem pôr em
xeque o capitalismo, não passam de “comunismo” disfarçado...
Seja lá o que eles entendam como sendo “comunismo”, que é
impossível existir enquanto houver capitalismo, é fácil notar na leitura
a seguir que são apenas textos liberais.
Este livro, homenagem ao editor que morreu em setembro de 2020,
traz alguns daqueles textos. O leitor verá claramente que neles não há
nada realmente de “esquerda”, nem tentativas de disfarçar coisa
alguma invisível aos olhos.
A verdade é que não há como disfarçar como existente o que não
existe. O diabo costuma aparecer só aos que acreditam nele. E neste
ano da graça de 2023 só existe capitalismo, mais nada, para crentes
ou descrentes.
O futuro? Ele próprio dirá o que aconteceu com todos nós, como
fruto de nossas crenças e descrenças.
**
Alceu A. Sperança
4

A dívida cresce e causa arrepios


Oliveira/ https://sisejufe.org.br/wp-content/uploads/2018/04/dividapublica.jpg

Com a Advocacia-Geral da União arrepiada frente à decisão da 14ª Vara do


Distrito Federal de determinar a criação de Comissão Parlamentar de Inquérito
Mista do Congresso Nacional para promover a auditoria da dívida pública, volta
à cena a pergunta obrigatória feita sempre que alguém se opõe à abertura de
uma CPI: o que pretendem esconder?
Para quem não deve nada, CPIs são o hálito divino da inocência e não o bafo
infernal da culpa. Mas como deixar de supor que alguém não deve quando o
assunto da CPI é justamente uma dívida – e imensa, estratosférica, monstruosa,
ao redor dos 4 trilhões de reais?
O diabo é a dívida. O inferno em vida é dever e não ter como pagar. Ou sobrar
pouco para saldar, sacrificando o futuro dos filhos, principalmente diante do
arrocho salarial ou do desemprego.

Você tem uma dívida extra de quase cem mil reais


Deixa ver aqui na pilha de contas quanto a família deve: tirando algumas
coisinhas, como financiamento, consertos e multas de carro, para o que já há
previsão, constato surpreso uma dívida extra de quase cem mil reais (21.866
euros).
5

Mas essa quantia você também deve, caro leitor. Pelo menos é a cota que nos
caberia como cidadãos deste planeta se a dívida mundial, atualmente estimada
em 608 trilhões de reais, equivalente a 225% do PIB mundial, fosse repartida
entre todos os terráqueos.
Como a da casa já nos basta por obrigação e não vamos pagar a conta do
planeta, fica a questão: que futuro o Brasil tem se a dívida nacional continuar
aumentando sem controle?
Dado e passado que a dívida é coisa do diabo, no fim de junho a Comissão
para o Ano do Laicato lançou, na sede da Conferência Nacional dos Bispos do
Brasil (CNBB), a publicação “Auditoria da Dívida Pública: vamos fazer?” Uma
pergunta arrepiante.
(3.7.2018)
**
6

Vexames do pós-Copa
...e de muito antes

De tanto tocar nos estádios o Hino Nacional talvez já possa


ser cantado à capela quando a energia elétrica falhar

O ridículo prende-solta de Lula, que desmoraliza até único o Poder no qual


ainda restava alguma confiança – o Judiciário –, é só mais um de muitos
vexames vividos por autoridades no Brasil.
Em 15 de novembro de 1889, o monarquista Deodoro da Fonseca gritou “viva
o imperador”, mas foi sufocado pela claque de Benjamin Constant entoando
“viva a República”.
O marechal acabou gritando junto e foi o primeiro presidente da República.

Fardando vagabundos
O general João Figueiredo prometeu “prender e arrebentar” quem fosse
contrário à democracia.
Não precisou: eles se explodiram sozinhos.
No atentado do Riocentro, em 30 de abril de 1981, uma bomba estourou no
colo de um terrorista. Um militar.
No Paraná de 1859 ninguém queria ser policial.
O espalhafatoso governador José Francisco Cardoso, o Cardosão, mandou
recolher vagabundos e desocupados, mas não lhes deu o castigo costumeiro pela
vadiagem, que seria a cadeia: obrigou-os a trabalhar como... policiais!
7

Menos hino e mais discurso


Cascavel também viveu um vexame, digamos, judiciário, lembrado pela
cartorária Aracy Tanaka Biazetto. No primeiro aniversário da Comarca, em
1954, a solenidade para comemorar a data se realizou no Tuiuti Esporte Clube.
Ela providenciou um toca-discos para rodar um disquinho com o Hino
Nacional Brasileiro.
A energia elétrica na época não era lá essas coisas e o player enguiçou logo
nos primeiros acordes do Hino.
As autoridades começaram a cantar a capela, mas alguns bateram cabeça
confundindo a letra.
Preferiram parar o hino e seguir direto aos discursos.
Finda a participação do Brasil na Copa do Mundo antes do tempo, é possível
que todos já tenham conseguido decorar finalmente o Hino Nacional e ninguém
mais tenha que passar por tal vexame outra vez.
**(11.07.2018)
8

Jovens mortos e mães castradas


amarildocharge.wordpress.com

A Coreia do Sul sonha com a unificação à do Norte. Uma razão importante é


a preocupação com a taxa de natalidade declinante no Sul, mas ainda elevada
ao Norte.
Apesar dos robôs que saem das fábricas, cabeças jovens para pensar e
trabalhar são os sonhos humanistas das autoridades coreanas.
Cabeças e braços que não surgem em linhas de montagem: requerem o amor
dos pais, cuidados no lar e um Estado eficiente para cuidar de todos.
No Brasil, é uma tragédia tristíssima a enorme quantidade de cabeças jovens
e braços fortes que o Brasil perde sem esses cuidados tão necessários.
Pior: há matança de jovens e partidários da esterilização feminina em massa
para que menos crianças e jovens brasileiros venham pensar e trabalhar no
futuro.

Seremos um país envelhecido


Uma imensa massa de prejudicados em suas aposentadorias e jovens
abatidos, perdemos os benefícios do bônus demográfico, já em vias de
esgotamento.
Como “bandido bom é bandido morto”, melhor que nem nasça: castrem as
mulheres pobres!
Sem nascer, não chegam à juventude. Nascendo sem educação, viram jovens,
caem nos braços do tráfico, são chamados de “bandidos” e executados.
9

Meu filho, meu dinheiro


A mortandade de jovens e a desumana esterilização feminina são dois
aspectos violentos da loucura que toma conta do Brasil, cujas autoridades são
incapazes de gestar soluções.
É loucura o Brasil perder cerca de R$ 550 mil a cada assassinato de jovem
entre 13 e 25 anos: em 20 anos, segundo a Secretaria de Assuntos Estratégicos,
a nação teve um prejuízo acumulado superior a R$ 450 bilhões.
É incalculável a fortuna que se perderá com jovens assassinados e mães com
os úteros ameaçados de criminosa esterilização.
No fundo, estamos mais divididos que as Coreias.
**
(20.06.18)
10

O sarampo dos saudosistas

A Geringonça foi a montagem em Portugal de um


governo misto da direita e da esquerda moderadas

Impressiona a ânsia de tanta gente pela volta ao passado.


Os lulistas vendem uma era de conciliação entre capital e trabalho, empresas
crescendo, pleno emprego e salários em alta.
Há também os que sonham com um passado ainda mais distante e
desconhecido pela juventude: censura à imprensa, pacotes ditatoriais impostos
na marra e repressão aos opositores, incompatível com a democratização trazida
pela internet.
Há razões para temer o futuro e querer voltar a um passado que só os
defensores do retrocesso e do atraso consideram o melhor dos mundos?

De volta para o futuro


Só se a certeza de que o futuro será pior justifica as pretensões nesse sentido.
11

Mas o futuro será melhor: os economistas supõem que o Brasil voltará ao


nível de vitalidade econômica de 2013 depois do bicentenário da
Independência, em 2022.
Um avanço para trás...
Enquanto outras nações já se despedem da crise, caso de Portugal, que
recorreu a uma ferramenta política apelidada de “geringonça”, passível de
traduzir por uma espécie de “união nacional progressista pelo
desenvolvimento”, o Brasil patina, a crise se desdobra em violência e voltar
atrás interessa a muita gente.

Sarampo e ditadura
O retrocesso é prato cheio para quem ama os cortes “austeros” nos recursos
para programas sociais e mais repressão aos descontentes com a desordem
temerária.
Como que realizando o sonho de voltar ao passado, o sarampo que se
considerava derrotado retornou com força.
A virologista Clarissa Damaso, assessora da Organização Mundial de Saúde,
lamentou: “Voltamos aos anos 80. É como mergulhar na idade das trevas, jogar
fora anos de trabalho. É inadmissível que tenhamos chegado a esse ponto”.
Cuidado: descuido com a vacinação e com a democracia despertam o pior de
um país!
**
(25.07.2028)
12

Os presidentes de hoje
e nossos netos no futuro
Max Olvera/Photoart: Luis Delfín

Coletando informações sobre nós, os bruxos da tecnologia preveem (ou manipulam?) nossas ações

Há coisas absurdas neste mundo governado pelo Deus Dinheiro, mas vamos
suportando tudo, banalizando e nos acostumando com o impossível e desumano
até que ele se torne parte de nossas vidas.
Dá medo imaginar o que pensarão nossos netos por aceitarmos a fabricação
de doenças nos países pobres para o enriquecimento de laboratórios
transnacionais.
A geração de crises para surrupiar dinheiro dos pobres e enriquecer os ricos
ainda mais.
Comida que poderia estar matando a fome de irmãos ser destruída por falta
de uma política mundial de respeito aos produtores.
Torrar dinheiro em armas, invasões e guerras e negar recursos à alimentação
e à saúde.

85% de certeza
O que vão dizer no futuro nossos netos da ingenuidade de cair nos truques
mais infantis da ideologia?
Aplaudimos discursos como se fossem declarações sinceras, sem imaginar
que são escritos por meio de fórmulas criadas por especialistas na “arte” da
engabelação.
13

Cada presidente que entra é tido como um ser iluminado, um salvador da


Pátria, quando na verdade é o fantoche de uma estrutura de poder que sustenta
as patranhas e malandragens responsáveis por tornar o mundo esse “asco”, no
dizer da Mafalda de Quino.
No livro A Maldição Brasileira, lembro Stephen Baker, sobre um tipo de
gente formada para espionar nossas vidas – os Numerati:
“O Partido Democrata contratou uma consultoria para usar os dados dos
consumidores americanos e dividir a população em dez tribos, baseadas em
diferentes crenças e valores. (...) Para Howard Dean, o presidente do Partido
Democrata, com os dados dos consumidores pode-se prever com 85% de
certeza qual candidato cada um de nós escolherá”.
Isso deveria nos deixar arrepiados.
Nossos netos ficarão.
**
(20.08.2018)
14

Jogar bomba e reconstruir


Marco Jacobsen/Folha de Londrina

Marco Jacobsen, talentoso cartunista do jornal Folha de Londrina, onde Júlio Fernandes também trabalhou

Na padaria, alguém explode, ao ler na manchete do jornal mais uma notícia


sobre líderes políticos metidos até o nariz em corrupção: “Dá vontade de jogar
uma bomba no Congresso!”1
Dá, mas será pior.
Haverá que reconstruir tudo, gastando ainda mais. E em lugar dos ladrões
mais votados virão os ladrões suplentes, menos votados.
Soluções simplistas só funcionam em cabecinha infantil, desavisada para as
consequências.
Agora, o TCE recomenda a extinção de cem municípios como solução para
a enorme crise do Estado.
Malandragens oligárquicas deram ao Paraná um excesso de municípios
(399), grande parte beirando a falência.
O Piauí, com uma área maior, tem 224 municípios.
A Bahia, quase o triplo do território paranaense, 417.
A magia da solução está em que ao extinguir cem municípios se eliminam
todos os prefeitos, vices, secretários e aspones, sete a nove vereadores,

1
Esse episódio inspirou o livro “A lua cairá em Brasília”
https://livrainoscascavel.blogspot.com/2017/01/a-lua-caira-em-brasilia.html
15

respectivos aspones e desocupa dois prédios (Prefeitura e Câmara) para escolas


ou autarquias dos municípios retroativos. Viva!

Acumulação de capital
Só que logo o comércio vai chiar: perdeu ótimos clientes, burocratas bem
pagos na Prefeitura e na Câmara que vão embora levando famílias
especialmente consumistas.
O dinheiro que circulava na mão dos prefeitos, vereadores e respectivos
aspones vai circular lá longe, não mais ali, no agora novamente distrito.
Mas o dinheiro economizado com não pagar 200 prefeitos e vices, mil
secretários, sete mil vereadores e ene aspones terá um destino melhor e virar
benefícios para a população, não?
Nada disso: a grana vai é parar no bolso dos já ricos, via dívida pública.
Se toda nudez será castigada, toda economia com esses ajustes será punida
com banqueiros ainda mais gordos e renda ainda mais concentrada.
**
(17.07.2017)
16

Gente-mercadoria
https://www.instagram.com/talesgubes/

Contentinhos “encapetaram” em 2008, quando escrevi um artigo sobre o


geógrafo Milton Santos, defendendo que “seu pensamento é, ao mesmo tempo,
luz e frescor para orientar os patriotas que ainda teimam em sonhar com um
País justo e uma humanidade feliz, apesar do luliberalismo aqui dentro e do
neoescravismo financeirizado que domina o planeta”2.
Os liberais reclamaram que não existe neoescravismo no mundo paradisíaco
de sua Matrix ideal.
Os lulistas, que “luliberalismo” era um neologismo sacrílego...
Mas os dias passam e as verdades aparecem.
Como as notícias de que no primeiro “tristemestre” deste ano ao menos 80
paranaenses, 20 dos quais do Oeste, foram traficados para a Europa, segundo a
Secretaria de Estado da Justiça.
Claro, dirão os contentinhos, o Brasil tem um povo bestinha e ignorante –
que preste para alguma coisa além de servir de fornecedor de matérias-primas
para a Europa.
Que sirva carne fresca de gente bonita para fortalecer a prostituição mais
glamorosa e de valor agregado do mundo.

2
https://palavrastodaspalavras.wordpress.com/2010/05/30/as-ruinas-da-crise-e-o-sonho-que-ressurge-por-
alceu-speranca-cascavel-pr/
17

Povo animalizado
Povo que fornece braços fortes para trabalhar no Primeiro Mundo, a menos
que dê “proagro”, como no caso do caminhão encontrado com oito mortos e 28
feridos em San Antônio, Texas, EUA, no estacionamento da loja Walmart.
Todos eram jovens e adultos com idades entre os 20 e os 30 anos.
Os vídeos de segurança da loja mostram que, antes do flagra, veículos de
robustos e felizes gringos chegavam para escolher pessoas que estavam
escondidas no reboque do caminhão e ainda estavam vivas, levando-as para seu
usufruto.
Manuel Bandeira encontrou um bicho estranho comendo lixo. Era um ser
humano.
Não encane, Maneco: banho de loja no bicho e algum espertinho ainda faz
bom dinheiro com ele!
**
(24.07.2017)
18

Brasil, o “Juquinha” do mundo


https://acervo.oglobo.globo.com/

Reformas a favor dos trabalhadores seriam “desastrosas”. A favor dos banqueiros, “austeridade”

Na parada de 7 de setembro, diz a orgulhosa mãe, todos estavam com o passo


errado. Só o filho Juquinha acertou.
Estudo publicado pela Organização Internacional do Trabalho, ligada à
ONU, revela que 642 “reformas” trabalhistas foram feitas em 110 países entre
2008 a 2014 mas não resolveram o problema do desemprego.
Ao contrário, houve mais demissões.
As “reformas” deram em mais concentração da renda em menos mãos, mais
desigualdade, menor massa salarial, insegurança, expansão da pobreza, queda
no consumo e pressão sobre a estrutura de saúde com as doenças laborais
associadas ao estresse e à ansiedade.
Mas no Brasil será diferente, supõe a mãe: tudo se ajeitou pondo na cadeia
os quadrilhões que assaltaram os cofres públicos e cassando governantes e
legisladores eleitos com a roubalheira público-privada.
Um presidente amado pela população, com alta popularidade, tem moral para
impor “reformas” mesmo o povo não tendo ideia do que são e no interesse de
19

quem foram feitas. Como quem cala consente, a Nação silenciosa aguarda os
bons efeitos dos ajustes e meias-solas do Congresso.

Tudo deu errado


As demais 110 nações fizeram ajustes e reformas com resultados pífios ou
negativos, dona mãe do Juquinha!
Ora, não ligue pra isso, porque se os outros países estão com o passo errado,
o Brasil é o único na parada a marchar com o passo certo.
Não importa os investimentos caindo, recursos da infraestrutura cortados,
projetos adiados, o principal ajuste gorado (o congelamento de vinte anos só
durou poucos meses) e a principal reforma (a da Previdência) não ter a chance
de ser aprovada conforme o projeto do governo.
Mais de cem nações erraram?
Azar delas: o Patropi, o Juquinha do planeta, está com o passo certo!
**
(03.10.2017)
20

Che Guevara reencarnou em Sampa


Pacote

Seria interessante ver a face – ruborizada ou óleo-perobada – dos “liberais”


que pagaram uma bela baba para assistir em Sampa à palestra do ex (e talvez já
futuro) presidente estadunidense Barack Obama.
Bem naquela hora em que ele disse, gravemente:
“Em um mundo em que só 1% controla a riqueza, não haverá estabilidade
política”.
Os caras devem ter pensado:
“Paguei por um Reagan e recebi a reencarnação do Che Guevara!”
Em todo o caso, uma frustração bem menor que a dos milhões de eleitores de
Lula em 2002: acharam que elegiam um Nelson Mandela e o que ganharam foi
um serviçal de banqueiros pondo os parças Palocci e Meirelles no comando da
economia nacional.
Há filósofos sustentando que o mundo vive uma era “pós-verdade”, twitada
e fakebucada, que os mais sinceros chamariam de “mentira descarada”.
Como todos os discursos políticos não passam de mentiras e as promessas
jamais são cumpridas, que moral um pai tem de repreender o filho quando jura
que não quebrou a vidraça da vizinha?
21

1% controla todos
Suspende o uaifai do piá, tudo bem, mas para ser coerente vai lá e diz na lata
do governante que naquela cara de sonso os olhos malandros nem piscam
quando ele mente.
Diz ao gerente que a reforma trabalhista que apoiou para reduzir ações
trabalhistas e impostos deu xabu: na real elas tendem a explodir em contestações
e eles a aumentar com a crise fiscal não resolvida.
Será mentira de Obama que 1% controla a riqueza mundial?
Será verdade que Lula prometeu repetir o primeiro governo, aquele que
segundo as pesquisas “deu certo”, sob as ordens de Palocci e Meirelles?
O jeito é chamar o vidraceiro para consertar a janela da vizinha e abrir os
olhos para a “pós-verdade” do marketing político e eleitoral.
**
(10.10.2017)
22

Centrão busca um
presidente obediente
HAL MAYFORTH http://www.halmayforth.com/

“Explico a partícula de Higgs-Boson por comida”

Nem com a magia do banqueiro lulo-JBS-temerista Henrique Meirelles as


contas públicas federais evitaram a piora da dívida pública.
A receita não paga nem os gastos obrigatórios e por aí se entende porque o
governo deixa de governar, entregando-se a entidades milagrosas: corporações
e estatais estrangeiras em lugar dos “campeões do mundo”.
Nem o corte dos gastos não obrigatórios, ao gosto do mandão de plantão,
deixa grana suficiente para atender às necessidades de educação e saúde, pagar
o funcionalismo arrochado e os benefícios da Previdência Social.
É assustador que isso não seja discutido na sociedade.
Os líderes fingem se escandalizar com a nudez na arte mas não esboçam
preocupação com a nudez do rei, expressa na dramática progressão rápida da
dívida pública.
23

Nunca, nunca, nunca


A nudez escandalosa de um governo que elege a reforma da Previdência
como urgente, embora sem efeito de curto prazo, e tudo o que faz de fato são
contrarreformas: a eleitoral sem cura e a trabalhista que judicializa de vez a vida
brasileira.
O Big Center (Centrão, para os íntimos) busca avidamente um presidente
mais tragável que Lula e Bolsonaro, mas isso depende de uma respirada na
economia nacional que aumente bem a arrecadação de impostos.
Será que dá?
Com menos atividade na indústria e o setor de serviços precarizado, a
estrutura da arrecadação também bagunçou.
Nunca se arrecadou tanto, nunca se gastou tanto, nunca se deveu tanto e
nunca tantos serviços públicos pioraram tanto.
Entretanto, a única solução que encontraram foi fazer a corda arrebentar no
lado mais fraco – os pobres que recaem na miséria e a classe média que se
proletariza, mas não acha emprego para os filhos, mesmo com canudo
universitário na mão.
**
(10.11.2017)
24

Reforma de Trump
na jugular do Brasil
Getty/WSJ

Impasse: o povo grita que quer pagar menos impostos, mas o Estado manobra para arrecadar mais

“Reforma” no olho dos outros é refresco.


O triunfante presidente Donald Trump acaba de conquistar sua primeira
grande vitória no Congresso estadunidense, emplacando sua astuta reforma
tributária.
A conquista trumpeana encheu a plutocracia de satisfação: beneficia os ricos
para em breve pesar sobre a classe média gringa.
Os pobres? Como sempre, antes e agora, restará a eles mendigar o “esterco”
dos direitos humanos!
Efeito colateral, a reforma nos EUA encheu de terror os reformistas
brasileiros.
Enquanto a reforma trabalhista brasileira sofre constantes reveses na Justiça
por conta das inconstitucionalidades e falhas, a de Trump vai na jugular dos
reformistas do Patropi, apavorados com o entusiasmo dos investidores
americanos em apurar seus lucros novamente na Terra de Tio Sam.
Para os reformistas daqui, temeristas e temerários, urge fazer quaisquer
reformas porque o “mercado” as exige: é a condição para trazer investimentos.
Será o “mercado” um piá pançudo que se deixa enganar por “reformas” nas
coxas, como a trabalhista?
25

Unanimidade contra
Ou a serviço dos partidos corruptos, como a política?
Ou reforma para inglês ver – a da Previdência, pizza de quatro queijos da
qual tiraram três queijos e três quartos?
Interessa às transnacionais, capital sem pátria mas interesses bem definidos,
repatriarem os investimentos à poderosa nação ao Norte do Rio Grande.
Não é de estranhar que o governo Temer seja repudiado pela imensa maioria
da população.
Os pobres sabem que aquilo é contra eles, a classe média não aguenta mais
pagar a conta e os ricos queriam bem mais que isso.
O que é bom para os EUA nem sempre é bom para o Brasil – se é que a
reforma de Trump será mesmo boa para os gringos – há controvérsias!
**
(12.12.2017)
26

É obrigatório votar
e manter tudo igual
Henrique Fleiuss

Imperador Pedro II formalmente “equilibra” os partidos Conservador e Liberal


enquanto o Partido Republicano, pequeno e sempre derrotado, tramava o golpe

Convencionou-se na mídia que Bolsonaro é o inimigo à “direita” e Lula o à


“esquerda”.
A virtude seria manter o poder com o Centrão corrupto, que com muita cara
de pau está lá há mais de 30 anos.
A ânsia dos centristas é arranjar um candidato para passar ao segundo turno
contra um desses tais “extremos” – o Bolso e o da Bolsa, que vivem ambos da
política, acusados de lidar com estranhos negócios imobiliários.
O Centrão idealizou o atual sistema na Constituinte.
Armou para ficar sempre no governo, como “poder moderador”, qual Pedro
II no Império.
27

Manda no Brasil desde que Tales Ramalho, Tancredo Neves e outros fizeram
o acordo para os pombos da ditadura passarem o poder aos moderados do
PMDB, com a missão de inflar Lula e rifar Brizola.
Seguiram rigorosamente o script.
Não se sabe ao certo o que a extrema-direita quer.
Foi mais explícita no tempo do coronelismo, mas atualmente é muito
dissimulada.
Supor que Lula é “esquerda” é ignorar a festa dos banqueiros em seus
governos.
Não há como saber de fato o que são essa “direita” e essa “esquerda”: são
dois arremedos, máscaras, caricaturas.

Obrigatório é vencer
Só o Centrão é o mesmo corrupto de sempre.
O sonho liberal é acelerar a inserção do Brasil nas cadeias produtivas globais.
O Centrão não mostrou esse interesse, já que governa há décadas.
Todos sabem que se esgotou a margem para redistribuir renda com gastos, já
no osso, e que manter a desigualdade como está gera muita insegurança.
Lógico, vão aumentar os impostos, mas ninguém vai prometer isso na
eleição.
Vem aí mais uma tosse de vaca: o discurso traído pela prática.
Beto Richa registrou as promessas em cartório e não cumpriu.
E daí? Quem se lixa?
É obrigatório votar e vence quem mentir melhor.
**
(15.01.2018)
28

Brigando com operário da construção

Na Lei Orgânica Municipal não existe esse Conselho nem o acrônimo “Codesc”.
Aliás, nem na legislação em geral. Afinal, a quem esse Conselho aconselha?

É justo que os líderes que não se renderam ao medievalismo excludente


sintam saudades do movimento Expande, criado há 20 anos, quando mais de
cem líderes, integrantes de 66 entidades, reuniram-se e criaram uma resposta à
desmoralização da Câmara, que deixou os prefeitos asfixiarem a Lei Orgânica
do Município.
O Expande faz falta, mas poderia ser resgatado com a inclusão do Conselho
de Desenvolvimento Sustentável (Codesc) na revisão da Lei Orgânica, evitando
perder essência em um projeto do Executivo.
Uma cidade universitária, polo de saúde e de serviços especializados, deveria
gerar empregos de qualidade, mas o que se vê no radar são ocupações de baixa
escolaridade e menor salário.

Festa e depressão
Os otimistas festejam: os empregos são precários, mas têm carteira assinada.
Os pessimistas se deprimem: três vezes mais que os assinados são os
precários sem carteira.
A indústria de transformação é apontada como arranque, mas o setor está em
recuperação de empregos e tempo perdidos anteriormente pelas vicissitudes dos
frigoríficos.
29

É difícil um operário desempregado na construção entender o orgulho do


presidente Michel Temer bradando que acabou a crise e gerou empregos.
A construção civil, desde a década de 1970 um dos motores do dinamismo
cascavelense, está desempregadora – e isso é crise.
Sugerir a um operário desaprender e sair trabalhar em supermercado ou
shopping é proposta de briga.
Para empregos não especializados há iniciantes e desqualificados.
Cascavel já não é uma cidade tão nova – são quase 90 anos desde a construção
do bolicho do Tio Jeca – e além da expansão que a cidade universitária e polo
médico favorece, há milhares de imóveis que se desgastam com os anos e
pedem reparos ou reconstrução.
**
(17.10.2017)
30

Consequências de maus
governos são duradouras
Estação Brasil

Desemprego, violência, ódio, desigualdade.


Diferentes olhares terão versões diversas sobre o que há de pior na crise
brasileira, que alguns minguados indicadores atestam fora da recessão, façanha
que exigiu altíssimo custo social.
Esses problemas, entretanto, são apenas sinais da grande tragédia brasileira
– as deficiências no aprendizado, consequências da elevada evasão escolar no
ensino fundamental.
Recente estudo apontou que uma em cada quatro crianças não concluiu o
ensino fundamental entre fins dos anos 1990 e o Censo de 2010, na média de
um milhão por ano.
31

Crianças que agora são jovens e adultos sem que tenhamos as mais remotas
estatísticas relatando as dificuldades que enfrentaram de lá para cá.
A não ser que os sinais assustadores de violência crescente e desigualdade
renitente sussurrem algo a quem quiser ouvir.

Burrice planejada pelo alto


“O grau de analfabetismo imposto por Portugal ao Brasil foi uma coisa
absurda”, escreveu Jorge Caldeira em História da Riqueza no Brasil.
“Foi uma das mais bárbaras políticas desse tipo jamais adotadas por qualquer
nação colonizadora”.
Foi um ato de governo.
Dele concluímos que as consequências de um mau governo não se apagam
facilmente, sobretudo quando uma elite insensível governa uma nação com
ditaduras sucessivas que só fazem manter, quando não ampliar, a desigualdade.
Até a aversão à leitura que aflige os brasileiros analfabetos funcionais tem
antecedentes históricos:
“Nós não tínhamos uma tipografia no país até 1808, sendo que elas já
existiam na América hispânica desde 1530”, arremata Caldeira.
A desculpa “não gosto de ler” em geral oculta o fato de que a pessoa não
saber ler direito e ou não entende direito o que lê.
Isso tem causa e gera consequências.
**
(17.11.2017)
32

Incompetência oficial
e trapaça empresarial
Tadeusz Jaczewski

Mapa de 1925 destaca a trilha militar usada para o posteamento do telégrafo

Um aspecto curioso da nossa história é que a incompetência governamental


consorciada com a ambição empresarial desmedida foi a causa primária da
formação de Cascavel, uma das cidades mais prósperas e promissoras do Brasil,
apesar de ainda entristecida por pobreza, violência e doenças.
Cascavel surgiu porque os governos do Brasil e do Paraná nas primeiras
décadas do século XX foram incompetentes e se prestaram a fazer o jogo dos
grandes capitalistas mundiais, com destaque para Mr. Percival Farquhar.
Incompetentes para estender os trilhos ferroviários de Guarapuava e União
da Vitória a Foz do Iguaçu e Guaíra, como os grandes capitalistas foram
trapaceiros quanto ao cumprimento dos contratos, mesmo usufruindo de
imensos latifúndios doados pelo governo.
33

O malfeito se desfaz
Tio Jeca Silvério arrendou em 1928 terras comercializadas pela companhia
Braviaco, imobiliária usada pelos trapaceiros para negociar áreas recebidas em
troca de estender a linha férrea à fronteira.
Claro, não cumpriram os contratos.
Aí veio a Revolução de 1930, anulou as concessões de terras dadas em troca
de ferrovias que nunca vieram e foi assim que Silvério se tornou o proprietário
das terras arrendadas, por posse e uso, dando início à formação da cidade de
Cascavel com o apoio do governo revolucionário.
Cascavel, portanto, resulta de um arranjo histórico-geográfico advindo de
uma dura resposta à incompetência e à trapaça.
O que se vê hoje no Brasil é uma frustração que começa visivelmente em
1980, com governos incompetentes consorciados a empresários trapaceiros.
Como Cascavel os venceu lá atrás, formando-se como grande cidade, o Brasil
também os vencerá.
Ainda não há sinais disso, mas eles virão.
Para isso vamos trabalhando.
**
(22.11.2017)
34

Assim um rei por acaso


achou o Brasil por acaso
Arquivo Nacional Torre do Tombo, Portugal

Sem ser filho de rei, Manuel foi rei por uma combinação estranhíssima de fatores

Era uma vez um português chamado Manuel.


Por pura sorte, ganhou a coroa de rei de Portugal.
Azar do filho do rei João II, o herdeiro, que morreu.
Um segundo filho era bastardo, sem chances.
Um primo devia ser o rei, mas foi assassinado a mando de João, que não o
queria sucessor.
35

Os azaradíssimos cinco irmãos mais velhos de Manuel, que pela ordem de


idade também poderiam herdar o trono, foram exilados ou morreram, alguns
misteriosamente.
E assim Manuel I, o caçula, último e o mais improvável herdeiro do cetro
real, levou sorte de não ter sobrado mais ninguém da família para subir ao trono.
Mais sorte que ser rei sem nenhum mérito e pela eliminação física e o
banimento de cinco irmãos mais velhos foi o máximo do acaso digamos, feliz,
de chegar a ser o rei mais importante do mundo em seu tempo.

O universo conspirou?
Poderia haver mais sorte que ganhar o trono com a desgraça dos dois filhos
do rei, do primo e cinco irmãos mais velhos, que seriam os herdeiros legítimos?
Manuel I teve: foi a seu mando que Pedro Álvares Cabral veio “achar” o
Brasil e tomar posse dele, inteirinho.
Não aos pedaços, como o estão arrematando agora gringos americanos,
financistas sem pátria, europeus e chineses.
Cabral, bafejado pela mesma sorte absurda que fez de seu chefe Manuel o
grande rei do mundo, por acaso veio dar nas costas do Brasil e logo de cara viu
uma exposição de índios pelados que hoje daria urticária indignada em pudicos
moralistas.
Pode haver mais sorte?
Sim, se for sorte ganhar do papa Sisto IV (bula Æterni regis) a metade do
mundo “descoberto” e a descobrir num tempo em que as Américas eram só uma
lenda.
Manuel I foi o cara mais sortudo do mundo.
O azar ele deve ter enterrado em alguma vereda tropical.
**
(24.10.2017)
36

Do “para inglês ver”


ao para mercado crer
Mateus Bonomi/Agif/Estadão Conteúdo

Um feliz Michel Temer passa a faixa presidencial a um desconfiado Jair Bolsonaro, longe de
imaginar o que teria pela frente: epidemia, poder absoluto do Centrão, orçamento secreto...

A Lei Feijó, de 1831, declarava livres os africanos desembarcados nos portos


brasileiros a partir desse ano.
Dela se origina a expressão “para inglês ver”: a lei atendia a uma exigência
da Inglaterra sem a menor intenção brasileira de interromper a escravidão.
Pelo esgarçado litoral do Paraná a entrada de africanos aumentou
explosivamente nos anos seguintes.
Nunca antes na história deste país se negociara tanto ilegalmente...
Ao final do governo, Dilma apresentou um programa reeleitoral para
“operário ver”.
Elegeu-se, mas o traiu de imediato, com a tosse da vaca, iniciando os
“ajustes” e “reformas” que Temer deu sequência pela mão de um homem da
estrita confiança tanto de Lula quanto da dupla sertaneja Joesley e Wesley:
Henrique Meirelles.
37

Só alegria
Além de comprar o adiamento de processos, Temer fez uma reforma para o
mercado ver: o congelamento de gastos que engendrou só valerá (se valer) para
os próximos presidentes.
Ele continua produzindo déficits.
A outra é para enrolar, mantendo a expectativa de uma “reforma” da
Previdência que também vai estourar nas mãos do próximo presidente.
O presidente brasileiro é uma alegria só.
Preparou com sucesso um novo ciclo de enriquecimento para a plutocracia.
Seu “legado” é a colheita dos resultados da recessão, cuja conta foi paga pelos
trabalhadores e a classe média.
A consultoria Tendências estima que até 2026 o ritmo de crescimento da
renda dos mais ricos será de 4,1% na média anual e o da classe C de apenas
2,3%.
O presidente brasileiro é admirável.
Passa mal a toda hora, entra e sai de hospital, mas sempre garante que tudo
está bem e comemora a popularidade aumentada em 100%: foi de 3% para 6%.
Bem brasileiro: sofre, mas não perde a piada.
**
(17.12.2017)
38

Difícil distinguir a comédia da tragédia


https://youtu.be/j7yKXDnIP9U

Velha tática: acusar seguidores pelo cometimento dos erros que ele próprio induziu

(À memória do professor Dodô Pompeu)


**
Tido por “guru” da família Bolsonaro, o astrólogo (ou coisa parecida) Olavo
de Carvalho causou surpresa ao insultar meio governo.
Principalmente os militares e, dentre estes, o general Hamilton Mourão, vice-
presidente da República, muito apreciado em Cascavel.
Andou também se estranhando com o “Posto Ipiranga”, apelido do
superministro Paulo Guedes, na visita da comitiva presidencial brasileira aos
EUA.
Carvalho indicou mais de um ministro e mesmo assim supõe que o governo
pode cair em seis meses – Jânio Quadros, aliás, durou sete.
Insultos, palavrões, escatologia e incapacidade para debater parecem
constituir o cerne da “nova política”, fazendo companhia ao cerne da velha (a
corrupção).
Quando alguém tenta impor ordem ao caos, a tentativa de diálogo vira guerra
aberta.

Repentina surpresa
O governador goiano Ronaldo Caiado anunciou que iria propor ao seu partido
– o DEM – apoiar o governo Bolsonaro.
Natural: o DEM comanda as duas casas do Congresso e é o único partido
“velho” com ministérios no governo.
39

Mas aí alguém soprou a um surpreso Caiado que se a proposta fosse à votação


seria derrotada por 35 votos a 5.
Não é difícil compreender, assim, porque o governo se arrasta, desdiz o que
disse, volta atrás a todo instante.
É uma metamorfose paralisante, ao contrário daquela que causava orgulho
em Raul Seixas.
A “ideologia” dessa bagunça é a de Thomas Hobbes: uma guerra de todos
contra todos, na fórmula “o homem é o lobo do homem”.
Hobbes chupou essa ideia do dramaturgo romano Tito Mácio Plauto, mas o
plágio, se houve, não cancela o fato de que a divulgou com maior ênfase,
energia e certeza que o teatro de comédia de Mácio, nome que significa mais
ou menos “palhaço”.
Hobbes está mais para a tragédia.
**
(27.03.2019)
40

Os maus costumes
não brotam do povo
https://www.britannica.com/biography/Joseph-de-Maistre

Ou cada governo tem o povo moldado para ser governado

Apesar de bem-intencionada, orientando à rebelião contra os regimes de


força, é discutível a noção, legada pelo filósofo francês Joseph De Maistre
(1753-1821), segundo a qual “cada povo tem o governo que merece”.
O povo brasileiro nunca mereceu os governos que teve, até porque nunca
pôde escolher.
Todas as rebeliões populares foram esmagadas.
Desde Pero Vaz de Caminha pedindo ao rei favores para o genro até a Carta
aos Brasileiros de Lula, os governos resultam de arranjos e conchavos fora das
vistas do povo, cabendo ao eleitorado só referendar em urna o que foi decidido
na surdina.
A história é uma crônica infindável de exemplos de que os governantes não
reproduzem supostos bons ou maus exemplos do povo: é este que pela força,
propaganda de rituais, pompas e hábitos, tende a imitar os governantes.
A primeira propaganda “institucional” foi que os monarcas tinham aval
divino.
Ora, sendo representantes de deuses, possuindo riquezas, luxos e o controle
das armas, muito natural supor que se comportar como eles é a receita para
também conquistar uma cota de comodidade, riqueza e poder.

Chá: hábito britânico ou luso?


Os britânicos, por exemplo, não costumavam tomar chá.
Aí a princesa Catarina de Bragança (filha do rei português João IV) se casou
com o rei inglês Charles II em 1662.
Ela tomava chá todas as tardes.
41

Copiada pelas damas da corte, depois pelas camareiras, vassalas em geral, o


hábito ficou até hoje como a tradição inglesa mais sagrada: o chá das cinco.
No Brasil, todos os péssimos costumes políticos praticados na atualidade
vieram de maus exemplos dados por reis, imperadores, presidentes e ditadores
de todos os tipos e épocas.
Não é de estranhar que haja tantos maus motoristas nas ruas e estradas.
**
(28.11.2017)
42

Praga de urubus infesta as escolas


Sérgio Novaes/Agência Estado

Bandos de urubus perturbam a rotina escolar na Faculdade de Tecnologia de


São Paulo, uma das mais importantes unidades de ensino técnico do país.
Os animais carniceiros não apenas sobrevoam a escola, mas bicam as janelas
e entram nas salas, onde assustam os alunos e fazem sujeira.
Esses urubus, entretanto, são mais fácies de vencer que outras presenças
incômodas que conturbam o ambiente educacional, tirando-lhe a fluência, a
democracia e a convivência entre os contrários.
Sem isso, a escola não poderá cumprir suas funções superiores de
socialização, humanismo e formação de profissionais dotados de amplo
conhecimento e objetividade para atuar na realidade complexa do Brasil,
marcada pelo desmonte dos serviços públicos, o aumento da insegurança e o
agravamento das desigualdades.
As escolas públicas são assoladas pelo urubu da mordaça: o “antiprojeto”
Escola sem Partido.
Só as escolas particulares ainda estão livres dessa restrição medieval.

Projeto Escola sem Pobres


43

Na Idade Média, aliás, vigorava o “projeto escola sem pobres”: só à nobreza


e seus áulicos era permitido ter educação, limitada a conteúdos vigiados pela
classe dominante.
Na escola particular de hoje se pode estudar tudo, sem restrições, mas a
pública sofre ataques que tentam sequestrar os currículos e impor aos
professores a pressão para que apenas reproduzam, como papagaios, fórmulas
filtradas pela intolerância.
Se piarem além do script, a urubuzada ataca.
Uma escola que não aborde a difícil realidade brasileira nem pense em formas
para vencê-la jamais terá qualidade.
Em São Paulo, ainda, soube-se que o desempenho dos estudantes do 1º ao 5º
ano caiu em 2017, pela primeira vez desde 2008. A praga de urubus não pode
continuar se alastrando.
**
(30.01.2018)
44

O gringo deslumbrado
Pablo Max Ynsfrán/ABC Color

Hopkins: “A história é de um crime sombrio!” (Artigo no jornal The New York Times, 1852)

Em relatório ao governo estadunidense datado de 1845, quase duas décadas


antes da guerra em que o Paraguai foi destroçado por três vizinhos e uma chefa
45

distante (Rainha Vitória), o surpreso agente comercial Edward Hopkins


informava que a nação guarani “não tem menino que não saiba ler e escrever”.
Ao contrário dos meninos paraguaios, os brasileiros cresceram e se
multiplicaram, mas ainda hoje o analfabetismo é maior no Brasil que no
Paraguai.
Nossos adultos analfabetos, segundo a Unesco, igualam o número de
desempregados: cerca de 14 milhões.
Um dos grandes fracassos da ditadura, que se eternizou no atual Centrão
desde que o general Golbery trocou figurinhas com Tales Ramalho e Tancredo
Neves, foi o Mobral (Movimento Brasileiro de Alfabetização).
Foi também aí o primeiro grande desastre de Michel Temer.

A morte dos meninos alfabetizados


Há um ano ele engavetou o programa Brasil Alfabetizado, que mesmo se
arrastando entre o primarismo de Lula e a manteguice de Dilma trazia alguns
mínimos avanços.
Com o desmonte do Brasil, a corrupção político-empresarial e a
impossibilidade de sair coelho do mato do Centrão e seus temerários, as apostas
estão em chineses ou gringos como Edward Hopkins, para que vejam, venham,
vençam e arrematem as empresas nacionais, deslumbrados com as
possibilidades de lucrar aqui.
Um arrogante irmão de Edward Hopkins tentou humilhar um soldado
paraguaio e apanhou.
Furibundo, Edward entrou no palácio do governo em Assunção e exigiu
punição ao soldado, sob pena de os EUA declararem guerra ao Paraguai.
Na época, os EUA tinham bom governo e não ligaram.
Logo depois é o Brasil que declara guerra ao Paraguai.
E o resto é história conhecida: o conflito dizimou os meninos guaranis
alfabetizados.
**
(31.07.2017)
46

Tempos de rei apitando


impedimento de juiz
Editora Novo Conceito

O príncipe Luiz Philippe enxerga assim o Brasil republicano...

Perto de fechar a segunda década do século, com o mundo em virtual estado


de regressão à Idade Média, é surpreendente como alguém ainda não esteja
defendendo, como os monges do Contestado, a volta ao Brasil Colônia.
Para os monges, a realidade na segunda década do século XX era tão cruel
com os sertanejos que valeria a pena voltar ao paraíso bucólico de um rincão
sem armas de descaboclação em massa nem o arame farpado de magnatas
estrangeiros ocupando os territórios onde outrora corriam livremente os índios,
pais dos caboclos.
Por volta de 1800, a economia nacional tinha porte equivalente à dos EUA e
já no fim do Império, nos últimos anos do século XIX, o peso econômico do
47

país representava menos de 10% da economia estadunidense, aponta Jorge


Caldeira em História da Riqueza Brasileira.
Declarar o retorno ao Brasil Colônia é tão fácil quanto bradar que “a suposta
crise” acabou (apud Michel Temer) no meio de milhões de desempregados e
servidores arrochados.

Depender de sorte dá muito azar


Quando a crise toma conta, brotam ilusões de todos os tipos.
ETs, milagreiros, machos alfas, Capitão América, a crença em que basta uma
eleição para resolver os problemas, como se não houvesse eleições a cada dois
anos.
Nessa mixórdia de ilusões, não falta o saudosismo do passado monárquico.
Vem aí Luiz Philippe de Orleans e Bragança, descendente dos imperadores,
para lançar em Curitiba o livro “Por que o Brasil é um país atrasado?”
A resposta para a pergunta é meio longa, mas começa com a maré sorte de
Manuel I, como vimos em artigo anterior.
Quanto a nós, descendentes de imigrantes ou dos índios, estamos aqui e é
nosso dever construir a Nação que por azar (ou rei apitando impedimento de
procurador e juiz) ainda não temos.
**
(31.10.2017)
48

Cão humano enternece corações


https://www.caesonline.com

Solidariedade tem mão única e não exige recompensa

Tocante, corre na Net a cena de um cão chinês solidário retirando de uma


rodovia movimentada um gato atropelado.
Difícil quem de imediato não compartilha esse vídeo com os amigos.
Aqueles, entre nós, tão “humanos” quanto esse cão solidário têm diante de si
a urgência de socorrer 11,3 milhões de nossos semelhantes acima dos 15 anos
que depois de atropelados pela ignorância decorrente da miséria ainda
continuam analfabetos e jogados na estrada da vida.
Um número ainda maior que esses 11,3 milhões de analfabetos é o de quem
perdeu empregos, atropelados pelo fracasso de políticas econômicas que
mantêm as desigualdades e concentram a renda entre os mais ricos.
Ao aceitar que o analfabetismo permaneça uma chaga na consciência social
do Brasil e que o desemprego e o desalento atropelem com depressão e angústia
um número similar ao de analfabetos nós perdemos, em humanidade, para o cão
gentil.
A aceitação resulta de não conseguirmos cobrar dos três governos
providências com a mesma eficiência com que nos cobram a mais pesada carga
tributária do mundo.
Não podemos aceitar que a ineficiência das políticas públicas nos faça menos
solidários que o cão socorrista.
Cobrar é preciso.
49

Crise múltipla
A atual crise mundial, além de financeira, é também alimentar, sanitária,
ambiental, moral e tem uma deformação a mais além de manter as
desigualdades e injustiças que acumulou na atual etapa de um capitalismo
chamado “neoliberal” que na verdade é semifeudal.
A deformidade consiste em que os criadores da crise não vão pagar a conta
pelos estragos feitos.
Nem pelo estrago do analfabetismo que persiste colado na miséria, nem pelo
desespero do desemprego.
Tudo isso se agrava desde a mãe das crises, a de 1980, que vem se arrastando
entre reformas e voos de galinha, causando raiva crescente na classe média.
Se a gente merece ser tratado como cão, que seja o tratamento recebido pelo
cãozinho atropelado que teve a sorte de ser socorrido por um semelhante
solidário.
**
(22.09.2019)
50

Assuntos intragáveis, mas teimosos


Joe Webb https://www.joewebbart.com/

Antes que o engraçadinho da sala diga que este artigo é uma defesa de causa
própria, cabe recordar dados sobre a participação da bebida alcoólica na
economia nacional e suas consequências.
Estudo de 2015 atestou que o Brasil perde com os problemas decorrentes do
álcool 4,5 vezes mais que o faturamento da indústria das bebidas.
As consequências do alcoolismo consomem 7,3% do Produto Interno Bruto
(PIB), enquanto a produção de bebidas movimenta 1,6% do PIB.
Em recente reportagem sobre Espigão Azul, o jornal Hoje conta o episódio
do produtor Paulo Roberto Staffen, que depois de chegar a uma produção de 20
mil litros de cachaça se viu forçado a parar o negócio, perdendo metade de sua
renda.
Foram dois os motivos: primeiro, a insegurança. Sofria a estressante
combinação de medo e prejuízo que resta ao cabo de cada assalto.
Segundo, a escassez de mão de obra.

Pausa para refletir


Como se trata de cachaça, o leitor abstêmio talvez suponha que fará melhor
à saúde de quem ainda está livre da cirrose não sorver os 20 mil litros de
aguardente que deixaram de entrar no mercado.
No entanto, os dois problemas que desestimularam o produtor persistem: os
assaltantes não assustam mais a família dele, mas apontam as armas para outros
alvos – alguns talvez próximos a qualquer um de nós.
51

É curioso haver insegurança num país que prende aos montes, tem cadeias
lotadas e exibe a terceira maior população carcerária do mundo, quase dobrando
nos últimos dez anos.
Quanto mais se prende, mais criminosos aparecem.
E havendo tanto desemprego, difícil explicar por que falta mão de obra para
qualquer item de consumo assegurado.
Não, não vai colar a desculpa de será preciso tomar um traguinho para pensar
nesses dois assuntos!
**
(1.º.12.2018)
52

Brasileiros no exterior: pedras e cadeia


https://www.publico.pt/

Caixa de pedras em universidade de Lisboa: sugestão de apedrejar brasileiros mais capazes

Há uma evidente debandada de jovens brasileiros ao exterior.


O número de brazucas que receberam visto permanente (green card) nos
EUA aumentou 33% entre 2016 e 2018, segundo dados do governo
estadunidense analisados pela consultoria Elite International Realty.
Por conta da crise econômica ou temendo uma onda de violência
descontrolada de gente à beira de um ataque de nervos, esses descontentes,
“aconselhados” a ir para Cuba por desafetos de estimação, preferem os atrativos
dos EUA e países europeus.
O Institute of International Education identificou nos EUA queda de 6,6% no
número de novas matrículas de alunos estrangeiros no ano letivo de 2018, mas,
em contrapartida, houve o aumento de 11,7% no número de estudantes
brasileiros.

Exportando crimes
A presença brasileira também é sentida no mundo do crime: acaba de ser
registrada pela polícia a criação do Primeiro Comando da Massachusetts, com
quadrilhas de delinquentes brasileiros implicados com venda de armas, assaltos
e tráfico de drogas.
53

Em Portugal, ao contrário, são tão legais que até disputam com sucesso vagas
para mestrado na Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa.
Ali foram “saudados” por bestiais europeus com uma caixa com pedras para
“atirar em zucas”.
O número de brasileiros que conseguiram se legalizar lá no ano passado
aumentou explosivamente, segundo Cyntia de Paula, presidente da Casa do
Brasil em Lisboa.
Eles vão, mas levam sua poupança: só no primeiro semestre de 2018 foram
enviados para fora mais de um bilhão de dólares de pessoas físicas,
principalmente para EUA, Portugal, China, Canadá, Reino Unido, Espanha,
Alemanha e Itália.
Cuba?
Continua só a ver navios brasileiros entrando e saindo no Porto de Mariel.
**
(03.05.2019)
54

As armas e os facões engatilhados


FabioBerti

Ignorantes caçados a bala e os talentos caçados por olheiros para servir ao Primeiro Mundo

O Brasil é um campeão mundial em mortes com armas de fogo e a julgar


pelas estatísticas crescentes de mortandade de jovens, promessas iradas de
fuzilamento, incompreensões malucas por banalidades, gritarias ofensivas e
manifestações desequilibradas de rancor, os tiroteios só tendem a aumentar.
Camões que nos perdoe por alvejar o verso inicial de Os Lusíadas!
Sobram também tiroteios em sentido figurado, porque o/a próximo presidente
será escalado pela plutocracia para esquecer tudo que disse e prometeu, como
já fizeram os Fernandos e o lulismo, submissos à coalizão do Centrão, há meio
século acostumado a fazer fogo concentrado sobre a população.

Tiroteio das reformas


Nas manipuladas eleições de outubro, com o butim acumulado à base de
muita corrupção, mensalão, petrolão, licitações fraudadas e a munição de mais
quatro a oito anos de mandato, o Centrão vai continuar fazendo “reformas” que
o povo detesta.
Quem quiser impedir levará chumbo.
Haverá o tiroteio da reforma tributária: quem acredita que virá uma carga
menor de impostos só perceberá que deu o contrário quando estiver com o cano
apontado na cabeça.
55

Ainda antes da rajada sobre a Previdência virá o tiroteio da reforma salarial,


cuja munição está em preparo agora nos porões palacianos enquanto as pessoas
se iludem com a “escolha” do presidente.
Ao invés de chumbo, uma facada, contraponto ao facão do desemprego em
massa: o salário de ingresso dos futuros gestores cairá dos atuais quase R$ 17
mil para R$ 5 mil.
No nível médio, o salário será de no máximo R$ 2.800,00.
Os head hunters (caça-talentos) do exterior vão deitar e rolar.
Cada tiro, um buraco: levarão muitas de nossas melhores cabeças para exibir
em suas salas no hemisfério Norte.
**
(04.09.2018)
56

A volta do bipartidarismo
matiasdelcarmine

“Calem-se ou congelo seu desprezível sangue humano!”

Desde as corrompidas eleições de 2014, a única “reforma” política real, como


tudo o mais também fora da lei, foi a reintrodução do bipartidarismo, retomando
o Império (conservadores x liberais) e a ditadura (Arena x MDB).
O que restou na política ao cabo das eleições de parceria público-privada
foram duas correntes “políticas”: a lulista e a antilulista.
País afora, entre ofensas e propagação de virais da internet, a grande praga
do ciberespaço, desapareceu o debate político, reduzido a cusparadas e intrigas,
simbólicas do vazio de ideias.
O propósito dos “partidos” privilegiados pelos corruptos financiadores de
campanhas é definir qual será o plantonista na gerência dos interesses da classe
dominante.
57

O debate “político” se reduziu a pó, a julgar por um estudo da Diretoria de


Análises de Políticas Públicas da FGV: perfis automatizados, inclusive do
exterior, direcionam os debates “políticos” nas redes sociais desde as eleições
de 2014.

Polarização não abrange a diversidade


Examinando a rede Twitter, queridinha de Obama e Trump, apoiadores de
cada lado interagiram com perfis robôs usados para corromper o debate.
Segundo a pesquisa, a robozada promove “a desinformação com a propagação
de notícias falsas e campanhas de poluição da rede”.
A imprensa, acossada por essa fábrica de mentiras (fake news), também está
em crise. Para Joseph Pulitzer, “nossa república e sua imprensa crescerão ou
fracassarão juntas”.
A república está desmilinguida. Logo, a grande imprensa também.
“Uma imprensa capaz, desinteressada, (...) pode preservar esta virtude
pública sem a qual um governo popular será uma impostura e uma farsa”.
O bipartidarismo reinante é por si só uma farsa: não abarca a diversidade das
percepções humanas.
**
(05.09.2017)
58

De revoltas, crises e facadas

Bevilacqua avisou João Goulart para não partidarizar o governo


e aos militares para não se desmoralizar fazendo o jogo eleitoral

Quem se julga forte porque venceu uma eleição pode se arrepender.


A lua de mel do eleito com a claque ideológica até pode durar, mas o conjunto
da população é volúvel.
Por isso instituições do Estado não devem governar puxando para uma ala ou
seita: precisam estar fora do esquema like/dislike.
“Quando a política entra por uma porta do quartel, a disciplina sai pela outra”,
dizia o general Peri Bevilacqua, ex-ministro do Superior Tribunal Militar.
Conhecedor profundo da história brasileira, ele sabia do que falava.
O marechal Deodoro da Fonseca se enleou na primeira crise republicana e o
primeiro pacote republicano, galopado pelo “posto Ipiranga” da época, Rui
Barbosa, fracassou.
O presidente desandou a acusar a imprensa e não durou nove meses na
Presidência.
Sua base de apoio, porém, era forte.
59

Reagiu quando o vice-presidente, marechal Floriano Peixoto, deu o golpe e


assumiu a Presidência.
O Manifesto dos 13 generais contestou suas atitudes contra a oposição.

A garrucha falhou
Floriano enfrentava, assim, a indisciplina, quatro meses depois de assumir.
Repudiou os generais e os reprimiu severamente, mas ficaram as lições:
Deodoro tinha amplo apoio entre os militares e o Congresso, mas foi vencido
pela crise.
Floriano não tinha, e, mesmo governando melhor, seu governo foi marcado
por revoltas.
Elas sobraram para Prudente de Moraes, eleito pelo voto direto para substituir
Floriano.
Hospitalizado para cirurgia, Moraes logo sofre um atentado a bala e a faca.
A garrucha falhou e a faca não acertou o presidente, mas as crises
continuaram.
Mesmo sendo outros tempos e havendo o sistema de freios e contrapesos que
impede o governante de interpretar as leis à sua maneira, ser presidente do Brasil
é correr riscos.
Ou de morte, ou de mais crises.
**
(07.01.2019)
60

Do populismo risível ao violento


Laerte Coutinho

Sempre foi comum na mídia gracejos de desprezo contra os populistas da


“esquerda” consentida e legitimadora do neoliberalismo, tipo Evo, Correa,
Bachelet, Maduro.
O dócil Lula foi apresentado à plateia de uma palestra em Nova York pelo
editor-chefe do Wall Street Journal, Robert Thomson, como “um dos mais
importantes porta-vozes do livre comércio no mundo”.
Thomson sabia reconhecer um liberal quando via um.
Agora que os manipuláveis declinam, já não acham mais tanta graça na onda
de populismo puxada pelo incontrolável presidente estadunidense Donald
Trump e seu temível botão de bombar: a direita populista vence eleições em
penca no vácuo dessa “esquerda” fingida e submissa.
Não é o ato de defender as coisas do povo que faz o populismo: é a
demagogia.
É usar palavras de ordem populares sem intenção de concretizá-las, como
Lula falando em Reforma Agrária.

Desafio populista
61

Populismo é a ação explícita de engabelar os ingênuos com intenções


maliciosas: saiba o que o povo quer e prometa; saiba o que o povo teme e se
apresente como seu xerife.
A organização Human Rights Watch colocou o “desafio populista” como a
grande luta dos direitos humanos em 2018.
Denuncia que os governos, por incapacidade de fazer frente às consequências
da crise mundial, que da economia vazou para crises ambiental, sanitária e
humanitária, fortalecem a propaganda e a repressão para impedir o povo de
reagir contra a má governança.
Daí a criação do inimigo interno, o nacionalismo contra o inimigo externo, a
corrida armamentista, militarismo e pau no lombo do povo descontente.
Nas eleições, prometem mel. No poder, dê-lhe cassetete.
De Moscou ao Oiapoque, de Nova York ao Chuí.
É o populismo de direita, agressivo, autoritário, violento.
Contra esse populismo, como gracejar?
**
(08.03.2018)
62

Cadê minha arma, sargento?

Sargento Arthur de Oliveira:


duro com os duros, suave com os suaves

Portar armas melhora a segurança? Ou deixa próximo de cometer um crime,


possuído pela gana homicida que bate em “homens de bem” no Primeiro Mundo
e os fazem atirar em lugares públicos, vítimas de desequilíbrio na química
cerebral?
Talvez as duas coisas.
Uma por longo tempo, a outra no tal “minuto de bobeira”.
No velho Oeste, uma arma era como um atual smartguaio, aquele celular de
marca falsificada que muitos carregam orgulhosamente na cinta.
Matava-se muito na época? Sim, e por um motivo a menos que agora: antes,
pelas três barras (apud Macunaíma de Mário de Andrade) – a de ouro (dinheiro),
a de terra (propriedade) e a de saia.
Agora também há uma quarta barra: a de crack.

A ferramenta de Celso
No livro A Pedra Atirada e o Correio do Oeste contamos que pai Celso
Formighieri Sperança, escrivão policial de ofício, foi nomeado pelo governador
Ney Braga para chefiar a Delegacia de Polícia de Catanduvas.
Na solenidade de posse do novo delegado, Ney lhe entregou uma impactante
metralhadora, “ferramenta para limpar os bandidos do Oeste do Paraná”.
Tão logo o governador virou as costas, Celso entregou a arma ao carcereiro
Arthur de Oliveira, depois apelidado Sargento Coice de Mula.
63

Oliveira usou a metranca para visitar os puteiros, focos de brigas e crimes, e


convidar os frequentadores (os machos adultos da cidade) a depositar as armas
de fogo e brancas numa bacia, recolhida à delegacia até que os possuidores
fossem retirá-las mediante comprovação de posse.
Fácil imaginar que ele arrecadou muita arma com a tática da baciada.
Quem teve coragem de ir à delegacia recuperar seu metálico anjo da guarda
e não tinha documentação pagava parte do valor da arma para tê-la de volta.
Com a arrecadação, Oliveira comprava verduras e carnes para os presos.
Era o negócio da bala produzindo efeitos sociais.
**
(08.08.2017)
64

A verdade é paga aos influenciadores


https://www.verdadeurgente.com.br/2017/04/terra-plana-prova-18-eratostenes-provou.html

Erastóstenes, que viveu cerca de 2 mil anos antes de Marx, seria um


insidioso “marxista cultural” por nos ensinar que a Terra é esférica?

Na campanha contra o “Marxismo Cultural” rolam narrativas tais como “a


Terra é plana”, “não houve golpe em 1.º de abril de 1964” e “o nazismo era de
esquerda”.
As novas narrativas valem pela repetição à moda Goebbels, pagas a
influenciadores e donos de robôs. Ficou difícil saber o que é verdade. Eis
algumas questões, com respostas ao final:
1. O que gritou Deodoro das Fonseca em 15 de novembro de 1889?
a) Viva a República!
b) Viva o imperador!
c) Viva o Brasil!

2. O que aconteceu com Tiradentes em 21 de abril de 1792?


a) Estava escondido. Quem morreu em seu lugar foi o ladrão Isidro Gouveia.
b) Embarcou incógnito para Lisboa com a namorada Perpétua Mineira.
65

c) Sumiu a cabeça do verdadeiro enforcado e esquartejado.

3. Quem assinou a declaração de independência do Brasil em 7 de setembro


de 1822?
a) Príncipe Pedro.
b) Imperatriz Leopoldina.
c) Rei João VI.

4. O Hino Nacional Brasileiro:


a) É cantado desde a Proclamação da República.
b) Os republicanos preferiam cantar a Marselhesa, da França, como se fosse
hino nacional.
c) O hino que cantamos foi patrioticamente doado pelos compositores.

Respostas:
1. Deodoro da Fonseca era monarquista. Gritou “viva o imperador”, mas foi
sufocado pela claque de alunos de Benjamin Constant, que gritavam “Viva a
República”.
2. As três opções são corretas, mas só segundo o jornalista e enxadrista
Guilhobel Aurélio Camargo.
3. Imperatriz Leopoldina, em 5 de setembro de 1822, na ausência do príncipe,
que estava em São Paulo.
4. Os republicanos cantavam a Marselhesa. A atual música foi logo aceita,
mas a letra de Duque-Estrada sofreu nove alterações até ser oficializada. O
governo a comprou em 1922 por 5 contos de réis.

Não existe almoço grátis. Os influenciadores digitais também são pagos.


**
(09.04.2019)
66

É assim mesmo, compadre Salustiano!


https://i0.wp.com/arteref.com/

Para o artista Georges Braque, os seguidores merecem que seus líderes lhes virem as costas

O compadre Luís Aparecido Salustiano, falecido há pouco, aconselhava:


“Que cada um tenha uma religião e preferência política, mas, por favor, não
misture as duas coisas que dá encrenca”.
Ao recordar, vem à memória um episódio que cabe como luva nessa justa
precaução.
No reinado de Pedro II, as eleições municipais eram paroquiais, feitas dentro
da igreja católica.
Ingenuamente, acreditava-se que com o pleito em “recinto sagrado” tudo
transcorreria em clima de ordem e respeito ao local.
Por isso, ali ficava a urna para coletar os votos dos poucos eleitores – só
votava a “gente de bem”, ou seja, quem tivesse riquezas, como possuir escravos.

Só que...
Em Paranaguá, o padre Gregório Nunes, sempre ansioso por comandar a
cabeça dos fiéis, era fanático pela política e ainda contava com o respeito dos
pobres crentes e dos políticos ricos, até a votação do dia 31 de março de 1845.
67

Com a urna pernoitando no templo sob a guarda do vigário para apuração no


dia seguinte, deu-se que o padre supostamente dormiu e a urna foi roubada.
Os conservadores, que armaram tudo para vencer mais uma eleição, atacaram
o padre, acusando-o de favorecer a oposição liberal.
O episódio desmoralizou o religioso e o recinto sagrado: na eleição seguinte,
em 1848, houve tanta baderna dentro da igreja que o padre Gregório foi expulso
de Paranaguá.
Sobre política, Georges Braque dizia: “Os que vão à frente dão as costas aos
que os seguem; é o que merecem os seguidores”.
Sobre religião, dizia Jean-Jacques Rousseau: “Quanto menos racional é um
culto, tanto mais os homens tentarão estabelecê-lo à força”.
E José Saramago completava, duvidando de tudo:
“Vá cada um aonde possa pelos seus próprios meios: guias e gurus são más
companhias”.
**
(12.09.2017)
68

Lavagem de aparência
ou eliminação de sujeira
https://www.dreamstime.com/

O crime segue a falta de dinheiro. Até prova em contrário,


quanto mais gente ganha dinheiro, menos gente comete crimes

A dificuldade dos líderes políticos de Cascavel para no mínimo se respeitar


deu em mais dois episódios que um simples diálogo teria resolvido: a guerra
entre os secretários municipais e a disputa entre bairros da região Oeste para
sediar uma UPS.
O primeiro caso compete exclusivamente ao prefeito. Põe e tira quem bem
entender. O segundo caso é mais de barulho, já que a UPS está mais para efeito
midiático que para resolver os problemas reais da sociedade.
A UPS proposta terá obrigações por um terço cidade, considerando a área em
expansão: Tropical, Coqueiral, Cidade Verde, Fag, Alto Alegre, Santa Cruz,
Paulo Godoy, Parque dos Ipês, Esmeralda e Santos Dumont.
A rigor, não faz diferença se ficará instalada no Tropical ou no Santa Cruz: a
questão é se vai servir só para a campanha eleitoral dos candidatos simpáticos
ao Palácio Iguaçu ou vai funcionar além das aparências.
A evidência empírica das UPs é uma exibição midiática de arromba inicial e
depois afrouxamento. Uma ação de inteligência paciente é mais eficaz, mas não
dá mídia nem votos.
69

Sem dinheiro e morto


No Rio de Janeiro, de onde veio o padrão, as UPPs reduziram a violência em
2011 para 13 confrontos.
Natural: 2010 foi o ano do pibão de 7,6% e pleno emprego. 2015 foi de
pibinho abaixo de zero e dramático desemprego e em 2016 o número de atritos
violentos subiu para 1.555 casos.
Ação e reação, terceira Lei de Newton, mas não do Newton Cruz!
O crime segue a economia. Mais crise, mais violência. Mais grana no bolso,
menos mortes violentas.
Sem resolver as causas sociais da criminalidade, pode pôr as 15 UPS já
existentes no Estado em uma só cidade que elas serão pouco úteis. Há um
abismo entre a lavagem de aparência e a eliminação real da sujeira.
**
(14.03.2018)
70

Trumpopulismo e Filosofia Tanque


https://mediaproxy.salon.com

A chave da dominação é semear o medo e se anunciar como violento salvador da Pátria

Acossados pelos neonazistas, em Davos, no Fórum Econômico Mundial,


Angela Merkel e outros líderes condenaram os populistas que aproveitam a crise
(essa que no Brasil o governo diz que acabou) para vender o peixe estragado de
falsas soluções.
É a “Filosofia Tanque” do pinguço no boteco: “tanque metralhar”
(concorrentes, credores, adversários), “tanque prender” (quem não seja amigo
ou da família), “tanque arrebentar” (quem discorda), “tanque acabar com a
corrupção elegendo gente nova” (como se corrupto não tivesse uma primeira
vez).
O Fórum de Davos é a assembleia dos representantes dos ricos do planeta.
Muitos não passam por processos seletivos eleitorais.
São reis, ministros, chefes de clãs e corporações. Não precisam se eleger: são
eles quem elegem, comprando caciques e currais.
Donos do mundo, nunca tiveram medo do populismo do tipo lulista, que lhes
serviu até a marolinha, quando foi descartado pelos parceiros.

Dócil e obediente
71

A mãe do golpe foi a festiva convenção nacional do PT e satélites que


sacramentou Michel Temer para vice de Dilma, achando que seria leal ao
populismo de rabos amarrados.
Os ricos não têm medo do populismo latino: previsíveis em tudo, quando não
lhes servem mais, descartam (Paraguai), asfixiam (Honduras), demolem
(Venezuela) e impicham (Brasil).
Difícil é descartar o populismo rancoroso e desumano da onda Trump.
O lulopopulismo, dócil e obediente aos bancos e transnacionais, foi sopa no
mel.
O populismo nacionalista tipo trumpeano os ameaça porque é imprevisível.
Mundo perigoso este em que até os ricos demonstram medo. Estopim da coisa
toda, é o medo que bota o ovo da serpente e alimenta o monstro da opressão.
Quem não tem medo vive e deixa viver.
**
(15.02.2018)
72

Para quê Secretaria da Cultura?


DP

Obra de Michelangelo na Capela Sistina: imagem,


semelhança e transferência de responsabilidades

Prepara-se na Prefeitura de Cascavel uma “reforma administrativa”, a


enésima engendrada por sucessivos prefeitos.
Com a clara intenção de provocar discussão, o tema suscita pelo menos três
considerações centrais.
Primeira, a impropriedade de fazer qualquer “reforma” sem antes revisar
completamente a Lei Orgânica do Município.
Sem essa providência, que não cabe ao prefeito, mas à Câmara, qualquer
outra decisão não será nada além de mais uma expressão da ditadura municipal.
Segunda, a evidência irrefutável de que Cascavel está submetida a uma
ditadura municipal.
A revisão da Lei Orgânica do Município e a “reforma administrativa”
precisam sepultar essa mácula na vida cascavelense.
A ditadura municipal de Cascavel vigora e persiste desde dezembro de 1990,
quando o prefeito Salazar Barreiros colocou a LOM sub judice.
Todos os prefeitos, a partir dessa época, só a cumprem ou alegam cumprir
quando (e no que) lhes interessa.
A esse procedimento se costuma qualificar de ditadura.
Terceira, a absoluta inutilidade de todas as secretarias frente à necessidade
de democratizar a gestão a partir da sociedade.

Nem a principal funciona


É mera tergiversação apoiar ou não a fusão de secretarias, porque nenhuma
delas é funcional.
73

Nem a da Cultura, a principal do ponto de vista do desenvolvimento humano.


Não adianta você deixar um recado artístico no teto da Capela Sistina se
ninguém vai entender o que significa.
Em todas as áreas há servidores experientes e honestos capazes de tocar a
gestão com interação aos conselhos, transparência e transversalidade, sem
miniditadores setoriais vindos de conchavos eleitorais para desorganizar as
políticas de governo.
Em lugar de custear caras e inúteis secretarias seria melhor que a reforma
administrativa criasse 14 distritos urbanos (somando 21 com os sete rurais já
existentes) e aplicando a saudável democracia direta que a Lei Orgânica já
permite.
**
(15.08.2017)
74

Entre a difícil autocrítica


e a fácil “narrativa”
Acic

Geni Lago, Adão Gasparovic e Pedro Boaretto: foco na unidade

No cinismo reinante, um político passa 30 anos defendendo o estatismo e de


repente se converte ao ultraliberalíssimo para vencer uma eleição.
Agora a “narrativa” vale mais que fatos.
Ninguém faz autocrítica: basta pinçar uma versão elaborada por memeiros ou
mimimeiros e adotá-la como sua, depois de passar a vida discursando o
contrário.
No caso da brusca redução do número de parlamentares com base em
Cascavel, uma rara autocrítica veio do advogado Alex Sander Gallio (O Paraná,
14/10), que menciona com propriedade os esforços de Adão Gasparovic e Geni
Lago pela valorização do Oeste paranaense.
A raiz do problema está no abandono da pauta progressista defendida por
Adão e Geni, com ênfase na industrialização, e a adesão a pautas conservadoras,
que desunem a sociedade.

Pauta progressista
Deixar de lutar por empregos de qualidade para os jovens que apanham os
canudos na universidade, achar que shopping vai sustentar a economia,
partidarizar as entidades e aceitar o desmonte da Unioeste são erros para os
quais o castigo cedo ou tarde vem.
É preciso aprender com a história.
75

Com pauta progressista proposta pelo saudoso Pedro Boaretto, em 14 de


outubro de 1997 foi lançado oficialmente na Unioeste o movimento Expande,
que veio a ser conhecido como Pacto de Cascavel.
Coordenado com sua reconhecida qualidade pelo Sebrae, o Pacto propunha a
união da sociedade cascavelense com participação de pessoas físicas, entidades,
órgãos públicos e privados.
Com o regressismo à Guerra Fria, que já se deu uma vez como tragédia e só
pode ser repetida agora como farsa, a unidade esboroou em rancores.
Pensar um pouco no legado de Boaretto, Adão e Geni vai fazer bem, depois
que passar o fervo caótico da ilusão eleitoral.
**
(16.19.2018)
76

É preciso mudar, mas sem dar tiro no escuro


PhChroma

O Brasil vem de crise em crise num rastro maligno alternado por voos de
galinha. Isso vem desde a mãe das crises posteriores: o fracasso político,
econômico e social da ditadura, entre o dramático desajuste de 1980 e a cruel
recessão de 1983.
A estrutura política, baseada em favorecer os grandes partidos, todos
envolvidos em corrupção.
A administrativa, calcada no presidencialismo de coalizão que privilegia o
Varejão, balcão de negócios armado entre o Palácio do Planalto e o Congresso.
A estrutura econômica que se perde no atraso com planos desconjuntados.
As instâncias governamentais que batem cabeça, arruínam o público e o
entregam à plutocracia.
Como se fosse pouco, prevalecem o primarismo agromineroexportador, a
reforma do emprego precário, a educação asfixiada e a cultura da intolerância.
Tudo por décadas a fio, sempre com a ilusão de que eleições a cada dois anos
darão um jeito na situação.
77

É um mar de problemas que ofensas, facadas e tiroteios não darão conta de


superar.

De vacas a abelhas
É preciso aprender a mudar.
Note-se o caso dos criadores do gado do Norte de Minas, que tinham muito
orgulho de seu leite e maravilhoso queijo.
Com a progressão da seca, minguou a água e mirrou o pasto. A pesquisa
apontou o caminho da mudança: as abelhas da região produzem um mel único
no mundo, bem mais valioso que o tradicional.
Como se desapegar das queridas e valiosas vaquinhas da vida inteira?
Não foi fácil mudar, mas os criadores aprenderam que abelha não exige
vacina, o “pasto” delas não é cercado e mel especial tem ótimo e crescente
mercado.
Mudar faz bem, desde que se saiba com certeza o que virá das mudanças,
com cabeça fria e estudos caprichados. Porque tiro no escuro só piora as coisas.
**
(18.09.2018)
78

Crença e desilusão, causa e efeito


DP

O gorro vermelho denominado barrete frígio é um símbolo de liberdade


e da luta por ela, adotado pelos revolucionários franceses como sua marca

Quando estourou o Caso Mensalão, a reação de quem acreditou na


propaganda de ética da corrente que controla o PT foi de incredulidade:
“Como nós, tão bem-informados e cultos, caímos nas tramoias de Delúbio,
Marcos Valério e cia?”
A desilusão dói, lição já aprendida por quem conhece, mesmo que por alto, a
história do Brasil.
Lutando encarniçadamente contra a corrupção, Manoel Correia de Freitas
pregava destemidamente a República.
Desde 1868, com tenros 15 anos, escrevia com líderes maçons no jornal Livre
Paraná, que trazia na capa a convocação à rebeldia do anarquista Proudhon:
“Povo! Tu pareces pequeno porque estás de joelho! Levanta-te!”

Quando a República era utopia


Freitas foi um dos primeiros a assinar a Declaração Republicana Paranaense,
em 1881, quando era utopia apostar em um regime capaz de substituir o estável
parlamentarismo imperial.
Embora empresário do ramo de papel e agropecuarista, acreditava que a
República levaria o Brasil ao socialismo.
79

Quando ela veio, Freitas, também com enorme influência em Santa Catarina,
foi convidado a assumir o governo do PR ou SC, que recusou.
Preferia ser eleito e foi deputado federal.
Foi ele quem criou a bandeira do Paraná, propôs a Reforma Agrária e a
aposentadoria para os trabalhadores.
Entretanto, frustrado em suas lutas, depois dos golpes militares de Deodoro,
TXH IHFKRX R &RQJUHVVR H GH )ORULDQR 3HL[RWR í  TXH GHUUXERX
Deodoro, confessou que aquela não era a República dos seus sonhos.
Abandonou as lutas comunitárias, desinteressou-se por tudo e morreu na
pobreza.
Façamos votos que os desiludidos de hoje aprendam a lição: não caiam mais
em propagandas ilusórias e toquem a vida com estudo, respeito e confiança em
si, família, amigos e comunidade.
**
(18.12.2018)
80

Será que isso tem remédio?


https://fb.ru/misc/i/gallery/10809/243616.jpg

Quando há recursos, sobram remédios não receitados pelos médicos.


Quando há cortes de verbas, queixas pela falta de medicamentos

O governador Jayme Canet Jr (1925–2016) era paulista de Ourinhos, terra da


professora Tatiane Superti.
Canet ousou romper com a ditadura, inconformado com as sacanagens que o
governo e as transnacionais faziam com os agricultores.
Em reunião em Cascavel, na década de 1970, ele protagonizou uma cena que
hoje não encontra paralelos na quebradeira em que os estados brasileiros se
encontram.
Canet se queixava da bagunça institucional, cada instância de governo
fazendo as coisas de um jeito, desperdiçando recursos sem concatenação.
É o pecado de trocar as políticas de governo e de Estado pelas políticas de
seita, característica central de regimes totalitários.
A situação era tão estranha, dizia Canet, que o governo do Paraná estava
cheio de remédios para distribuir, mas não os distribuía.

Entre o ter e o acontecer


Causa: os médicos das secretarias municipais de saúde não os receitavam.
“Tenho em Curitiba um armazém cheio de remédios para doar e não tenho quem
venha buscar”.
Muitos paranaenses doentes e os remédios vencendo aos tubos.
81

Hoje, os médicos espalhados por este Brasil varonil anseiam por mais
remédios nas farmácias básicas e se deparam com o brutal corte de recursos
para programas sociais, economizados para pagar uma dívida não auditada que
nos toma bilhões por mês, aproximando-se perigosamente de igualar o PIB
nacional.
A quem ignora para que servem presidentes e como salsichas são feitas
parece inexplicável porque nunca é feita uma auditoria na dívida pública.
Ela jamais esteve nos planos de FHC, Lula e chefes anteriores, mas estava
finalmente prevista para inclusão na LDO de 2016.
Aí, Dilma vetou. Então ficou para a de 2017, mas aí quem vetou foi Temer.
É a transparência vetada e sem remédio.
**
(19.09.2017)
82

Era uma vez um palhaço presidente


https://vk.com/video-70187376_456273863

Ele fingia ser um presidente. Então foi eleito para a mesma função e a palhaçada virou tragédia

Era uma vez um imperador cansado que desistiu de imperar.


Essa vez foi no início de maio, quando Akihito e imperatriz Michiko,
soberanos do Japão, entregaram o trono ao filho Naruhito, que em discurso
inicial pediu ao povo e ao governo para trabalharem pela paz mundial.
O povo japonês se assustou com as bravatas bélicas de malucos que apostam
na aniquilação humana para lucrar com a crise.
Aliás, qualquer povo deveria tomar distância de qualquer guerra, seja ela
sangrenta, comercial ou “ideológica”.
Era uma vez um palhaço que um dia resolveu se candidatar à Presidência da
República de seu pobre país, atormentado por uma polarização brutal, que joga
irmãos contra irmãos em confrontos que derramam sangue e empobrecem a
nação desunida e infeliz.
O palhaço se elegeu com uma votação espetacular, sintetizando as esperanças
da grande maioria dos eleitores.

Décadas que se perdem


Ao assumir, o novo líder ucraniano, Volodymyr Zelensky, uma espécie de
Luciano Huck mais voltado para a comédia televisiva, usou o idioma oficial
para anunciar a dissolução do parlamento, para zerar a velha política.
E falou em russo para pregar a paz: “A nossa primeira tarefa é conseguir um
cessar-fogo em Donbass”, no Leste do país, onde já houve 13 mil mortes.
83

Arrematou dizendo que no passado fez o povo rir, mas agora pretende evitar
que as pessoas chorem.
Era uma vez um país maravilhoso, no qual ainda antes de abril de 2019 o
empresariado da construção já declarava que o ano acabou e mais uma década
estava perdida.
Um país em que “ideológicos” ofendem militares, terraplanistas
antiglobalistas infernizam os clientes do agronegócio e a educação e o respeito
andam em falta.
Mas isso vai mudar. Ou então esse país já era.
**
(20.05.2019)
84

A política industrial feita nas coxas


Héctor Zamora

Cada escravo tendo coxas de formatos diferentes, é claro que as telhas


das antigas igrejas do Brasil Colônia não poderiam ser homogêneas

Em Porto Seguro (BA), onde o Brasil foi achado, os portugueses fizeram os


escravos usar as próprias coxas para moldar as telhas usadas na primeira igreja.
Cada escravo tendo coxas de formatos diferentes, as telhas naturalmente
ficaram irregulares.
Surgiu daí a expressão “feito nas coxas”, para indicar algo descuidado.
Pelo desconjunto da obra, difícil não ter a sensação de que a política e a
economia no Brasil são conduzidas da mesma forma: cada qual molda seu
cenário no tamanho das próprias coxas.
É uma irregular mixórdia de incompreensão e cabeças batendo. Como dizia
vovó, “em casa que falta pão todo mundo briga e ninguém tem razão”.
No caos geral, as pessoas voltadas ao micromundo celular, onde tudo fica
fácil, a desconexão com o real dificulta o planejamento de longo prazo. É a
coxização da vida nacional.
Desde que Temer assumiu promete uma nova política industrial. O país
entraria em 2018 com o Rota 2030, sucessor do Inovar-Auto, mas como
ninguém se entende no Planalto, o programa “não está maduro e não há prazo
85

definido para uma publicação da nova regra”, diz Marcelo Guaranys, da Casa
Civil.

Reforma sempre feita nas coxas


Há décadas se fala em reforma tributária.
Todo discurso parlamentar trata do assunto, essencial para a retomada do
crescimento, mas o governo prefere vitrinizar a insegurança pública a combater
suas causas sociais, ligadas ao dinamismo econômico.
Há um tempão o Brasil quer entrar no clube dos ricos (OCDE) e fez inscrição
nele em maio do ano passado.
Desde esse momento tudo que se falou sobre reforma tributária foi conversa
jogada fora, pois a OCDE faz exigências firmes no tocante às regras tributárias.
A reforma é mais em cima.
As telhas, porém, continuam feitas nas coxas.
**
(21.03.2018)
86

Gíria de 1971: Moro, morou?


Mescla

O caso Moro-Telegram serve para renovar o ânimo da imprensa, mais


prejudicada pela própria incapacidade de se livrar das baboseiras das redes
antissociais que pelas baboseiras em si.
O episódio é uma clara demonstração de que a humanidade e os governos,
cujo papel é executar na prática o papel do Estado – cercear o ser humano de
seguir seus instintos naturais – evoluíram.
Não custa nem puxar muito pela memória, avivada em 2017 pelo filme The
Post, de Steven Spielberg.
O filme narra os dramáticos acontecimentos em torno dos Pentagon papers,
em que informações de elevado interesse humanitário, postas sob severa
censura pelo governo dos EUA, vieram a público por meios ilegais, em 1971.
A humanidade estava tão atrasada que a agitação mundial causada pela
publicação das revelações no jornal The Washington Post – reais, mas cuja
obtenção foi ilegal – não se referia à veracidade das informações, mas se um
veículo de imprensa teria ou não o direito de publicá-las.

Acredite: a imprensa já confiou na Justiça


Agora, ninguém sério questionou o direito da imprensa de publicar os
“Telegram papers”.
Tudo o que se faz é cogitar se as informações serão ou não acatadas pela
Justiça para reverter os procedimentos do então juiz Sérgio Moro.
87

Na época, a questão era se o Post tinha o direito de publicar.


O jornal confiou na Justiça, publicou e nem por isso os EUA se livraram de
presidentes autoritários.
Sejamos humildes: a imprensa não é nenhum poder. É apenas uma ferramenta
de informação.
No fim das contas, noves fora, o salto da humanidade para o futuro foi dado
menos pelo ousado jornal que resolveu fazer imprensa de verdade que pela
Justiça americana.
Esta, até onde já se viu, funciona.
A nossa, hoje tão questionada, funcionará?
**
(21.06.2019)
88

Estado mínimo,
metrópole nada
https://thumbs.dreamstime.com

O Estado é uma necessidade vital do capitalismo.


O sonho smithiano da “mão invisível do mercado” regulando a economia
esbarrou em obstáculos cruciais e com isso o Estado se afirmou como seu
principal auxiliar.
É inerente ao capitalismo gerar crises cíclicas, cuja superação exige a mão
visível do Estado.
A burguesia só apassivou os trabalhadores quando transferiu ao Estado o
fornecimento de educação, saúde, saneamento, assistência social, cultura etc,
jamais suas funções originais.
Modernamente, assim, o Estado democrático de direito foi concebido para
ser a mescla de mercado (eficiência) e humanidade (equidade).
89

No entanto, mercado e humanidade, ao menos desde o fim da URSS, sabem


que o Estado contemporâneo é incapaz de assegurar eficiência e equidade,
essenciais ao desenvolvimento econômico justo.
Sem eficiência e equidade, o Estado nem mínimo é. É nada.

Metrópole em desconstrução
As carências se acumulam, as “reformas” liquidam as conquistas dos
trabalhadores e as crises pioram, ameaçando o retorno à Idade Média escravista.
Houvesse eficiência, teríamos o desenvolvimento da capacidade produtiva
com o máximo de tecnologia e a farta disponibilidade de infraestrutura.
E a equidade? Onde, se até a falsa “esquerda” (vide Carta aos Brasileiros),
chancela “reformas” que pioram as condições de vida do povo?
Se o Estado não é “eficiente” para o mercado nem garante a “equidade” para
as pessoas, é muita ingenuidade crer que a Região Metropolitana de Cascavel,
justa e sustentável, virá.
O Estado não a quer, a União não está nem aí e as prefeituras batem cabeça,
incapazes de concretizá-la.
A crise que alardeiam já ter acabado está ainda longe de ser vencida.
“É a metrópole em desconstrução”, diria um pedreiro.
**
(22.08.2017)
90

Mandam ir para Cuba,


mas vão ao Canadá
Canationalist

Embora a Declaração Universal dos Direitos Humanos assegure a todos o


direito à nacionalidade, muitos prometeram sair do Brasil caso a eleição
presidencial fosse vencida por um dos candidatos passados ao segundo turno.
A julgar pelo aumento do trânsito ao exterior a promessa está sendo
cumprida.
Só em 2018, oficialmente, foram 21,2 mil pessoas a dar adeus ao Brasil.
Segundo o instituto Datafolha, 62% dos brasileiros entre 16 e 24 anos
gostariam de fazer o mesmo.
Apesar da generosidade da Operação Acolhida, ação brasileira que atendeu a
refugiados venezuelanos, o mundo está devendo uma pátria amada, mãe gentil
a muitos que no desespero se sentem expulsos da terra natal.
Quem prometeu sair do Brasil tem facilidade para cumprir a promessa.
O Canadá, nação mais justa que os EUA em vias de se murar para
estrangeiros, está de braços abertos aos jovens de nações desgovernadas, nas
91

quais não são valorizados e se arriscam a morrer em tenra idade por preconceito,
faca ou bala.

Perdendo braços e cérebros


O Ministério da Imigração, Refugiados e Cidadania canadense quer atrair até
2021 mais de um milhão de jovens.
Nem tanto por generosidade, embora não deixe de ser, mas porque sua
população envelhece, a fertilidade cai e os contraceptivos funcionam.
Como tudo tem consequências, a diáspora dos descontentes para fora do
Brasil logo vai fazer os governantes arrancar os cabelos.
Segundo a Associação Brasileira das Empresas de Tecnologia da Informação
e Comunicação (Brasscom), o Brasil tende a chegar a 2020 com um déficit de
750 mil profissionais qualificados para atuar na área de tecnologia.
Num país com 13 milhões desempregados, bastaria reciclar um único
milhãozinho.
Mas sem ensino básico de qualidade fica difícil.
**
(25.02.2018)
92

Sorte de cão para o Brasil


Katherine Baron

Coisa de marejar os olhos a história triste do cão scottish terrier Lucky


(Sortudo), morto após envenenamento por um produto do tipo pipeta para matar
pulgas.
Pobre Lucky!
A crise fiscal é uma espécie de “pulgatório” que aflige o cão Brasil.
93

Os remédios antipulgas usados – “ajustes” e “reformas” – não mataram o


quadrúpede, mas lhe deram o febrão violento da recessão, que em lugar de matar
as pulgas fiscais asfixiou a economia e liquidou 14 milhões de empregos.
O governo anuncia a redução na taxa de juros Selic como conquista dos
ajustes, mas quem presta atenção vê que ela ficou em 8,5%, nível similar ao de
2013, quando empresários e assalariados, inclusive os que ainda tinham
emprego, já berravam que a taxa de juros era muito alta.
Dez anos antes, com a Selic cravada em 25%, o vice-presidente José Alencar
iniciou uma cruzada pela redução da taxa, mantida alta pelo Banco Central para
prevenir a inflação.

Cavando o fundo do poço


Esse vice-presidente deu no couro: sem golpe, conseguiu que em julho de
2009 a Selic batesse em 8,75%.
Depois, os pássaros assustados do BC voltaram a temer e usaram o único
remédio que conhecem para a inflação: aumentar a taxa.
Se tudo que conseguiram com o remédio antipulgas dos ajustes e reformas
foi chegar aos níveis de 2009 e 2013 e se a taxa de emprego só voltará ao nível
de 2013 em 2020, é fácil concluir que o cão Brasil não foi tão azarado quanto o
Sortudo, que morreu em consequência da medicação, mas passa mal.
O remédio do teto de gastos iria congelar as pulgas fiscais por vinte anos,
mas pifou e os brasileiros continuarão se coçando para pagar a conta da
neocrise.
Todos os dias anunciam que ela já acabou, mas sempre têm uma pá à mão
para cavar mais o fundo do poço.
**
(26.09.2017)
94

Estranho apego aos fracassos do passado


https://opencadd.com.br/

Assustadas com a violência e o festival de besteiras ditas pelos candidatos,


as pessoas tentam encontrar uma explicação para o estranho fenômeno de mais
da metade dos eleitores apoiar algum tipo de retrocesso: o passado opressivo da
ditadura, que gerou a pior crise da história do Brasil (1980), ou ao lulismo, que
engendrou a segunda maior crise (Nova Matriz).
Qual é a origem desse apego ao atraso, justamente quando o mundo se
encaminha para a Revolução 4.0?
Há quem veja na história as causas dessa coisa tão estranha.
Quando Portugal começou a se render à então nova classe emergente – a
burguesia –, em setembro de 1761 o futuro Marquês de Pombal pôs fim à
escravidão no Reino.
O Brasil era português, mas os africanos e índios escravizados aqui tiveram
negado o mesmo direito.

Atrasado e complicado
Malfeita, sem prover os libertos de meios de sobrevivência, a abolição só
veio acontecer no Brasil quase 130 anos depois.
Quando as Américas já estavam repletas de repúblicas, o Brasil era o único a
manter monarquia.
95

Foi a última nação do continente a se republicanizar – e ainda assim com um


golpe militar depois de uma acachapante derrota do Partido Republicano.
Enfim, talvez o atraso tenha mesmo origens históricas.
Mas as asneiras cuspidas pelos candidatos, a cada discurso recheado de
ofensas, arrogância e falta de respeito aos semelhantes?
Provavelmente é para distrair os incautos, de modo que não percebam a
incapacidade para formular soluções factíveis a problemas complexos como a
progressão da dívida pública, a armadilha da renda média, o fim do bônus
demográfico, desindustrialização e corte de recursos para a infraestrutura.
Na falta de não saber como resolver, preferem ofender e agredir os demais.
**
(28.03.2018)
96

A ideologia de todos os gêneros


https://armonte.wordpress.com/tag/nelida-pinon/

O desenvolvimentismo, ideologia de todos os gêneros, cegou os brasileiros


com seu apelo publicitário sedutor, mas ao contrário de apresentar uma
perspectiva real de crescimento com justiça social deu muito mais em corrupção
e atraso.
Toda essa desgraceira, filho, não foi obra de um só partido e seus boquirrotos
líderes em séculos de muito poder.
“É sempre uma classe inteira que trai uma nação”, dizia Venâncio,
personagem de Nélida Piñon no livro A República dos Sonhos, de 1984.
Depois de tanta propaganda do “Brasil, país do futuro” e “Brasil Grande”, se
é possível isolar uma causa para o anticlímax da entrega ao atraso, ao
conservadorismo medieval e a uma algaravia incompreensível de disparates
conspiratórios que não levam a lugar algum, seria a falta de debate.

Desde 1933 sem fazer a lição de casa


Muito bate-boca e pouca informação descartam consensos e acabam em
briga.
O nacional-desenvolvimentismo (ND) passou de geração para geração como
o projeto para a emancipação e afirmação do Brasil, mas deu nisso que aí está.
97

Cem por cento dos partidos mais votados e dos candidatos eleitos ou
impostos na Presidência do país praticaram derivações do tal ND.
Quando pareceram ter algum sucesso foi por conta de uma conjuntura
mundial favorável – os tais voos de galinha da ditadura e do lulismo.
As políticas decorrentes no ND empurraram muitos recursos públicos para a
corrupção ou o desperdício.
Estudo recente dos economistas Edmilson Varejão, William Summerhill e
Samuel Pessôa estima que a renda por habitante teria sido 25% maior em 1985,
um ano depois de vir a público o livro de Nélida Piñon, se os governos
aplicassem apenas 1% a mais do PIB por ano com educação desde 1933.
Vovô nasceu, cresceu e morreu e o Brasil continua no atraso.
**
(30.01.2019)
98

Brastemp ou Embrapa?
Agência Brasil

Cada centavo roubado pelos quadrilhões dos grandes partidos nos rendeu
milhões de vergonhas – pelo voto maria-vai-com-as-outras provocado pela
propaganda e pelo estelionato impune: os eleitos não precisam cumprir o que
prometem.
Agora vai começar a campanha eleitoral.
Alguns já fazem campanha antecipada há anos sem que isso lhes renda a
mínima punição e eles se somarão a novatos para sair a público e prometer
transformar o Brasil numa “Brastemp”.
Sob uma saraivada de críticas, a Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa
Agropecuária) comemorou timidamente em abril seus 45 anos de existência.
Sabe-se que 95% da pesquisa em milho, soja e algodão são feitas pela
iniciativa privada.
Há dez anos, 60% das variedades de soja utilizadas no cerrado foram
desenvolvidas pela Embrapa.
Hoje, não chegam a 5%.
A Embrapa, o que diz?

Informação, receita para virar o jogo


A Embrapa apontou em 2017 um lucro social de R$ 37,18 bilhões, obtido a
partir da adoção pelo setor agropecuário de 113 tecnologias e de cerca de 200
cultivares.
Para cada real aplicado, foram devolvidos R$ 11,06 para a sociedade.
99

Orgulha-se de tropicalizar o trigo e aportar à soja uma cultivar resistente a


nematoides, que tanta dor de cabeça deu aos agricultores.
Qual é a verdade sobre Embrapa?
Até o pesquisador Zander Navarro ser demitido por criticar os rumos da
instituição, a Embrapa era uma “Brastemp” e, de repente, só se fala mal dela.
Não fosse a truculência da demissão, o Brasil ficaria ao largo do embate que
já rola por lá há anos.
Cada real aplicado render R$ 11,06 para a sociedade não é uma Brastemp?
Aliás, a verdadeira Brastemp sofreu uma séria crise de imagem e se recuperou
com qualidade.
Se a Embrapa explicar seu custo-benefício talvez também possa virar o jogo.
**
(03.05.2018)
100

Apagão da luz
e reforma tributária
no escuro
Korpas

Resolver o apagão de energia, como tudo que o povo reclama e o Estado


nega, depende de recursos públicos.
Os privados só vão para onde há lucro assegurado.
Estão contidos agora pelas guerras de Trump, que trazem insegurança, e pelas
eleições incertas. Juros sobem lá e o dólar cá.
O mundo treme.
Aqui, o legado do presidente Michel Temer é a equação
estagnação=estabilidade.
Parar evita gastos, desenvolver tem custo. Se o Brasil crescer os 3%
esperados depois do sacrifício do povo com a recessão haverá apagão
energético, estimam com sólida base os coordenadores do Programa Oeste em
Desenvolvimento (POD).
Mesmo crescendo metade do estimado – Meirelles falava até em 4% –, o
apagão não está descartado.
Viver cercados por um mar de energia e sofrer apagões é absurdo.
Imagine o efeito disso nos lares, granjas, produção leiteira.
Na indústria, máquinas quebrando e desconfiguradas.
101

As necessidades de infraestrutura requerem aportes entre R$ 250 bilhões e


R$ 300 bilhões ao ano.

Desconfiada de que vai pagar o pato


De onde tirá-los se o “legado” é congelar gastos e cortar o pouco que ainda
se gasta?
Demitindo servidores das escolas e postos de saúde quando mais necessitam
de pessoal e equipamentos?
Recursos, custeio, investimentos públicos, tudo depende de arrecadação.
Como aumentá-la, se a carga tributária já chegou ao limite tolerável?
“Com a contribuição dos mais ricos”, dizem os pobres, propondo tributação
progressiva.
“Cada um dando um pouco de si”, dizem os ricos, pela manutenção da
regressiva.
“Um pouco, quanto? Proporcional ou desigual?”, pergunta a classe média
desconfiada.
Com os trabalhadores exauridos e a plutocracia sem ceder, adivinhe quem
está na mira para pagar a conta.
Sim, ela mesma, a desconfiada.
**
(14.05.2018)
102

As ongs avisaram
https://br.thptnganamst.edu.vn/

General de Santa Rosa: por que ministérios não trabalham juntos?

Quando tudo parecia se encaminhar para criminalizar e banir as ongs


ambientalistas, eis que a tragédia de Brumadinho as recolocou em cena, com
seus avisos para a adoção de cuidados bem precisos para evitar catástrofes.
Elas, a imprensa livre e as autoridades que não se deixam enredar por
“narrativas” conspiratórias, comprovaram que uma verdade única, fabricada em
palácios, não evita males nem desgraças.
Só com democracia, os mecanismos de pesos e contrapesos do Estado
moderno, separação de poderes e participação da sociedade será possível de fato
resolver os crônicos problemas nacionais e os desafios do desenvolvimento.
Já há sinais de que o projeto interministerial “Barão do Rio Branco”,
sugestão do ex-secretário de Política, Estratégia e Assuntos Internacionais do
Ministério da Defesa no governo Lula e agora secretário do presidente Jair
Bolsonaro, general Maynard de Santa Rosa, por ainda não ter previsão de
investimentos, impacto ambiental e população atingida, ficará sob severo
escrutínio delas, da imprensa e da opinião pública.
Sem briga de narrarias que acabam se anulando, mantendo o imobilismo e
causando tragédias como as de Brumadinho, o debate democrático sobre as
melhores e mais sustentáveis perspectivas de desenvolvimento da Amazônia é
a única maneira de vencer as conspirações e gritarias infrutíferas.
**(28.01.2019)
103

O que veio primeiro:


o caminhão ou o pedágio?
J. de Lima Picanço

Esta é mais fácil que o paradoxo ovo-galinha, cuja resposta é o ovo, uma vez
que a galinha resultou da evolução da ovulação: o pedágio veio bem antes dos
caminhoneiros e dos reajustes abusivos dos combustíveis.
Há exatamente 200 anos os primeiros capitalistas que disputavam o controle
dos caminhos pedagiados entre Curitiba e o litoral do Paraná – o Oeste só
começou a se formar em 1889, com a fracassada Colônia Militar – estavam
metidos num vale-tudo pela concessão.
Na época, Brasil ainda engalfinhado em lutas entre coxinhas lusos e
mortadelas nordestinos (as Guerras da Independência), havia também uma tensa
luta pelo controle dos caminhos.
O príncipe João e filho Pedro I nem pensavam em algo parecido com
licitação: quem fosse mais digno das graças do trono luso ganhava os direitos,
todos eles.
Empresários de Antonina e Morretes disputavam o direito de construir um
caminho próprio entre planalto e o litoral.
O vencedor levaria o grosso dos recursos arrecadados pelo direito de
passagem.
104

O veneno enquanto personagem histórico


Quem iria decidir, enfim, era a principal autoridade do governo local.
O coronel de engenheiros Miguel Reinardo Bilstein, uma espécie de
interventor militar do Paraná da época, todo ainda pertencente a São Paulo, fez
as consultas necessárias e estava prestes a anunciar a decisão.
Mas então o militar morreu subitamente, em 2 de fevereiro de 1824.
Considerado pelo historiador Vieira dos Santos “muito exato no
cumprimento de seus deveres”, Bilstein assumiu em 1822 e fazia um bom
governo, coisa rara em se tratando de interventor.
Morreu sem conseguir comunicar a decisão sobre a disputa. Segundo os
médicos que o examinaram, o governador foi envenenado.
Por aí se vê a que ponto chegavam as disputas políticas e econômicas na
época.
Hoje, o envenenamento é geral e se dá pela toxidade das notícias falsas nas
redes “antissociais”.
**
(25.05.2018)
105

Marcando a data para o fim do mundo


Reuters

O vice-presidente Michel Temer, escolhido a dedo pelo lulismo,


foi acusado de dar um golpe por vias legais, o único que funciona

Lulismo e antilulismo são dois tóxicos que contaminam a vida brasileira.


Todo debate nacional concentrado ao redor de um único fulano é uma coisa
surrealista, o máximo do diversionismo e da falta de debates sérios.
Frente à reforma trabalhista inconstitucional, surpreende que tenha sido a
única a ser feita.
Atropelou toda essa gente importante que jurou defender a Constituição da
boca pra fora mas não dá a mínima para as atrocidades cometidas contra ela
numa enxurrada de pecaminosas PECs, famigeradas MPs e transgressões
diárias ao espírito da Carta Magna.
O governo brasileiro é a mais pura expressão do estelionato: a chapa
Dilma/Temer foi eleita sob o compromisso de não mudar a legislação
trabalhista, mas foi só o que fez.

O fim do mundo
Diziam que as reformas urgentes e imprescindíveis eram a previdenciária e a
tributária.
Adiaram as urgentes e prescindiram das imprescindíveis.
Não foram feitas porque ameaçariam o reinado de 33 anos do MDB e suas
coalizões.
106

Como aposentado e contribuinte votam e influem nos votos da família,


deixaram os assuntos espinhosos para depois das eleições.
A previdenciária é odiada pelos velhinhos e a tributária não iria reduzir a
carga tributária, como supunha um ingênuo patinho, mas aumentar a
arrecadação.
Tudo já cortado, a população pobre quer serviços públicos que funcionem e
as classes conservadoras querem fortes investimentos em infraestrutura – R$
250 bilhões anuais.
Nada disso se faz sem caixa.
Como a finalidade da reforma tributária é aumentar a arrecadação tungando
a classe média e o bolso do contribuinte já furou de tanta taxa, nada de perder
votos preciosos em outubro.
O fim do mundo não será no Apocalipse, mas no dia seguinte à eleição.
**
(06.04.2018)
107

E aí, seu Fulano? Como


as dívidas serão pagas?
Ansa

Giuliana Di Pillo, do Movimento Cinco Estrelas no X Municipio: “Fora todos!”

Para muitos paranaenses a Itália é uma segunda pátria, na herança de ter sido
a pátria de seus bisavôs.
Lá, houve eleições em março, com um cenário que de certa forma pode se
desenhar também no Brasil.
Quando se esperava um debate sério entre o retorno ao nacionalismo e a
continuação da unificação europeia, a campanha eleitoral descambou para
brigas de rua causadas pelo conflito racial entre a direita xenófoba e imigrantes.
A extrema-direita foi derrotada, mas o barulho que fez desviou as atenções,
ocupando um espaço que deveria servir para discutir os problemas que afetam
a vida e o futuro das pessoas.

Estrelas estratosferam a política


O mais votado foi o 5 Estrelas, que só agitando as redes sociais e sem
proposta alguma apostou no nacionalismo (retorno ao protecionismo e sair da
UE), explorando o medo dos cidadãos com apelos à segurança pública.
Em segundo lugar e terceiro ficaram as forças da velha política: os partidos
de centro-direita e centro-esquerda.
108

O resultado final é que nenhuma força obteve maioria para governar.


Terão que se ajeitar num arranjo de desiguais e levar cacete de todos.
O mesmo cacete que tomam Temer, seus tóxicos “colaboradores”
ministeriais e amigos problemáticos.
O fim das contas, nada muda, e por não mudar continua a direita esbravejando
que o problema está na esquerda e esta acusando a direita de trazer o retorno ao
fascismo, como no famoso filme A Volta dos que Não Foram...
O debate no Brasil está empacado numa imensa fulanização, com
prognósticos de apostas que lembram corridas de cavalos.
E enquanto bandos violentos gritam e ofendem quem lhes atravesse a frente,
o desempregado fica sem saber como arranjará emprego, pagará as dívidas, as
contas do mês e os impostos do ano.
**
(16.04.2018)
109

De Francia a Marito, quanta história!


http://www.revisionistas.com.ar/

“A História é um carro alegre/Cheia de um povo contente/Que atropela


indiferente/Todo aquele que a negue”.
(Chico Buarque, Canción por la Unidad Latino-Americana)

Talvez tenha sido assim nos tempos de Francia, El Supremo.


A partir de 1812, sob os lemas “independência ou morte” e “ordem e
progresso”, decretou a igualdade entre os homens, proibiu a riqueza e promoveu
a reforma agrária.
O que aconteceu com esse utópico “esquerdista” radical? Aconteceu que ele
fez do Paraguai a nação mais próspera da América do Sul.
A desgraça começou no final de 1864, quando o Brasil invadiu o Uruguai e
o líder paraguaio Solano López respondeu invadindo o Mato Grosso.
Em abril de 1868, há exatamente 150 anos, os soldados guaranis foram
expulsos do Oeste brasileiro e as forças de Brasil, Argentina e Uruguai passaram
110

a lutar apenas em solo paraguaio, em operações que se arrastaram por mais dois
anos.

Filho de um fumicultor brasileiro


A Tríplice Aliança liquidou essa nação em abril de 1870, depois de cinco
anos de um conflito que deu lucro à Inglaterra, poder à Argentina e dívidas para
o Brasil. Adeus utopia nacionalista!
Hoje, o Paraguai sofre uma nova invasão: empresários brasileiros, fugindo
da temeridade, mordem a isca Maquila da distopia conservadora que levou à
eleição de Marito, herdeiro da ditadura Stroessner.
Assim um novo giro da história começa. Como cada dia traz um novo sol, a
história enterrou a utopia de Francia no carro triste que deixou um povo
descontente.
Via de regra, povos descontentes um dia se rebelam e na busca da felicidade
criam uma história nova.
Não custa dizer que o Dr. Francia, o líder que deu força e progresso ao povo
paraguaio, era filho de um brasileiro que ainda jovem foi plantar fumo no
Paraguai.
**
(25.04.2018)
111

Livros do Projeto Livrai-Nos!

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Índios sequestram um capitão de milícias nas nascentes do Rio Iguaçu e ele só será
encontrado um ano depois junto às Cataratas.
Muita magia, poesia e crueldade a cada quilômetro de marcha pelas margens do rio da
integração paranaense em busca de uma lendária montanha de ouro amaldiçoada pelo padre
espanhol Hernando de Goyáz.
Uma homenagem ao rio e à história do Paraná.
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https://x.gd/LZVCH

Cascavel: Uma Santa na Encruzilhada


conta a história desta importante cidade do Oeste
paranaense a partir da disputa travada durante décadas
para definir o nome da cidade.
113

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Cascavel é um dos mais importantes centros do automobilismo brasileiro.
Para festejar o Jubileu de Ouro do esporte da velocidade em Cascavel, o
Projeto Livrai-Nos! elaborou esta magnífica obra
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https://x.gd/7lfcx
Focando os 92 anos da cidade de Cascavel
e 100 anos da chegada da primeira família
O E-book ۱‫ܔ܍ܞ܉܋ܛ܉‬: ۲‫܁ ܗ܉ ܛܖ܍܏ܑܚ۽ ܛ܉‬é‫܆܆ ܗܔܝ܋‬۷ narra em textos
curtos e com imagens os 92 anos do início da formação da cidade
de Cascavel e o centenário da vinda da primeira família que
se radicou na região do Médio-Oeste
115

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Justiça, juízes, promotores, advogados... e réus em Cascavel
E-book em PDF
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https://x.gd/KiaaY
A indústria de bebidas fatura como nunca num mundo de embriagados, enquanto
os produtores de leite jogam o produto fora, mesmo havendo um mundo de pessoas famintas.
Que maldição é essa?
O assustador Numeratis: partidos e empresas já conhecem a fórmula
de determinar o que os consumidores/eleitores vão “escolher”.
Que maldição é essa?
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Famílias, Fortunas & Façanhas

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Em aliança com a família Camargo, os Munhoz constituíram
o principal núcleo de poder político do Paraná
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Livros resultantes do projeto
150 Anos de Governança do Paraná
publicado entre 2010 e 2012
Quem Manda no Paraná Livro 1: Dos Barões aos Coronéis (1800-1900).
Quem Manda no Paraná Livro 2: A Era Camargo-Munhoz, oligarquias que
transitam do Império aos tempos modernos (1900 – 1930).
Quem Manda no Paraná Livro 3: De Ribas a Braga, passando por Lupion
(1930 a 1960).
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A assustadora hipótese de o Brasil ser dividido em seis repúblicas separadas


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É possível um governo perfeito?
Tudo que já foi tentado fracassou e a democracia, hoje, é o partido único da
plutocracia.
Mas José Maria El Sou tem a solução e a apresenta em uma novela na TV,
enquanto o Brasil discute se a Lua cairá ou não em Brasília.
121

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Investe ora furiosamente, ora ironicamente contra
as causas dos problemas que produzem o atraso
do Brasil e do Paraná, começando pela negociação
em que o Brasil comprou sua independência.
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Então não tem saída – o


mundo vai mesmo
acabar num
Apocalipse?
Que nada!
“Dane-se,
Apocalipse!” Nós
queremos é
viver!

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Leitura final
Homenagem a um escritor genial: Edgar Allan Poe

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O Urubu, paródia do poema O Corvo

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