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30.10.

2022
O mundo é regido por histórias. As decisões que as pessoas tomaram no passado
refletem até hoje. Nós só somos o que somos hoje, e vivemos o que vivemos, devido aos
nossos antepassados. Conhecer a história é conhecer sobre nós. E, mais ainda, saber a
história é saber dos lados bons e ruins das populações anteriores. É ver decisões tomadas
que deram certo, e decisões que deram errado. É ver como o mundo progrediu, e também
como as ruínas aconteceram. Saber de história é não cometer os mesmos erros que nossos
antepassados.
Mas, existe uma diferença entre a história e a narrativa. História são os fatos
acontecidos. Em 1789 aconteceu a Revolução Francesa, isso é um fato histórico, ponto.
Agora a narrativa é a forma na qual a história é contada.
E bom, o que seria do Brasil hoje sem as narrativas?
O Brasil é um grande exemplo de um país narrativo. Aqui, você ouve milhares de versões
de uma mesma história, mas como saber qual narrativa é a melhor? Qual é a mais correta?
Depende do ponto de vista de cada um.
Hoje, neste domingo caloroso de 2022, Lula foi eleito presidente do Brasil. Ele governou
durante 2003 a 2010, seguido por sua indicada Dilma, de 2011 a 2016. Em 2018 até 2022,
tivemos o governo Bolsonaro. E a partir de 2023, Lula voltará ao poder novamente.
Aonde eu quero chegar com isso? Pois essa eleição, foi uma verdadeira guerra de
narrativas. Um fato curioso - antigamente, as guerras aconteciam de forma corporal, as
pessoas davam seu corpo e seu sangue pelo que acreditavam, literalmente. Hoje, é muito
difícil as pessoas estarem dispostas a isso. Para chegar nesse ponto, é preciso que algo
realmente exploda (em todos os sentidos). Hoje, as guerras são silenciosas. São guerras
mentais, psicológicas. Que, na minha humilde opinião, é muito mais violenta e perigosa.
Esse tipo de guerra também consegue separar famílias, amigos, mesmo não sendo através
dos planos espirituais diferentes, mas sim da mentalidade.
Voltando à guerra de narrativas sobre as eleições. O que nós ouvimos, de uma forma
geral (apesar das inúmeras narrativas contadas por aí), é que Lula é o pai dos pobres. O
Lula é quem salvará as pessoas pobres. Votar no Lula é votar a favor de melhores
condições de vida para os pobres. Um governo de esquerda. Enquanto que, votar no
Bolsonaro, é votar em favor dos ricos. Um governo de direita. Essa é a grande narrativa que
rege, pelo menos, as pessoas mais desfavorecidas do país. Porém, não é a narrativa que eu
acredito.
Como eu construí minha própria narrativa? Através de observações. Analisei dados, fatos
históricos, li livros, assisti podcasts, ouvi economistas, cientistas políticos, ouvi opiniões de
ambos os lados desse Brasil polarizado. E assim cheguei a minha conclusão que trago
agora (mas que também não é só minha, pois já li coisas bem semelhantes).
O governo Lula, é na verdade, um governo para os ricos. O Lula governa para a elite. A
verdadeira nata da sociedade brasileira. É só observar. Os detentores do dinheiro no Brasil
todos estavam a favor do Lula: família Marinho (donos da globo), Luiza Trajano (dona do
Magazine Luiza), João Amoedo (dono do Banco Itaú), e demais banqueiros também. Ora,
porque essas pessoas estão a favor do Lula sendo ele o pai dos pobres? Será que eles são
bonzinhos e têm a famosa consciência de classe? É claro que não. Rico pode ser tudo,
menos burro. Ricos podem ser desonestos também e agir pelos seus próprios interesses,
como é o caso desses poderosos citados anteriormente. E um fato é, no governo passado
de Lula, ele deu muito dinheiro para essas pessoas. Todos os bancos e grandiosas
empresas receberam uma quantia enorme, quantia vinda de nós, pagadores de impostos. E
assim, essas empresas progrediram de forma exponencial, eliminando qualquer
concorrência possível. Então os pequenos empreendedores, aqueles que estavam vindo de
baixo e subindo cada degrau dentro do seu trabalho, perderam de forma drástica para os
poderosos. O verdadeiro corporativismo.
Posso trazer aqui a experiência de meu pai. Sempre empreendedor, inclusive, largou a
faculdade para empreender. E, antes do governo Lula e bem ali no início dos anos 2000, ele
ganha muito dinheiro. Tínhamos uma vida boa, pois ele conseguiu progredir muito no seu
empreendimento. Porém, em um determinado momento, esse corporativismo tomou conta
de forma grandiosa que, de acordo com as novas leis implementadas, meu pai precisou
pagar uma quantia enorme de impostos que o governo pediu. Porém, algo que valia
somente para microempresários. Os donos das grandes empresas sofreram? Nem um
pouco, pelo contrário. Abriram um sorriso de orelha a orelha por terem eliminado a
concorrência. E assim, meu pai não conseguiu ir além devido a tudo aquilo que ele tinha que
pagar para o governo (um dinheiro é claro que não houve retorno pra nós, como deveria
ser). Como a famosa frase de Alexandre Dumas “Eu sempre tive mais medo de uma caneta,
um frasco de tinta e uma folha de papel do que de uma espada”.
Ontem a noite li um texto incrível de uma jornalista chamada Paula Schmitt, no qual
citarei agora um trecho do que ela pensa sobre o governo Lula:

“O que estamos vendo não é esquerda nem direita, mas um


aglutinado que conseguiu unir o pior dos 2 lados: de um lado,
um capitalismo sem limite que permitiu a poucas empresas
ter mais poder do que vários países e exércitos, eliminando a
mera possibilidade de concorrência e assim interditando o
livre mercado; do outro lado, um estatismo que sustenta esse
monopólio e por ele é sustentado e mantido no poder.”

Se a elite toda está a favor do Lula, como a população mais pobre não percebeu que
essa narrativa não é tão verdadeira ainda? Devido a propaganda. A propaganda a favor do
Lula ser um defensor dos pobres é tão grande que não deu espaço para outras. Essa é a
guerra. A enorme narrativa de esquerda e direita. Lula é de esquerda e Bolsonaro de direita.
Então, Lula é a favor dos pobres. Hoje, virou moda ser de esquerda, mais uma vez, pela
grande narrativa que ser de esquerda é defender melhores condições de vida para as
pessoas pobres (algo que não acredito e, inclusive, digo que as políticas de esquerda só
dificultam a vida do pobre, pois dificultam o empreendedorismo, mas isso é assunto para
outro texto).
O que os fatos históricos nos dizem sobre isso? Vamos voltar para 1789, ano da
Revolução Francesa. Um período monarquista, onde a nobreza tinha tudo do bom e do
melhor e o resto da população estava na miséria. Isso explodiu, e com toda essa mudança
na conjuntura política, houve a criação de parlamentos para discutir o interesse da
população. Os aristocratas (girondinos) defendiam que o estado continuasse daquela forma,
não queriam grandes mudanças. Eles sentavam à direita do rei. Enquanto que os a
burguesia da época (os jacobinos) queriam uma reforma radical. Defendiam o
republicanismo e o livre mercado. Esses sentavam à esquerda do rei. Vale ressaltar que a
população realmente menos favorecida não participava desse tipo de reunião. Era nobreza
contra burguesia. Um fato é, que após a revolução francesa, os termos direita e esquerda se
instalaram na nossa sociedade. Mas, se reparar bem, há uma pequena diferença nos dias
atuais. Antes, a direita era quem queria o estado forte e a esquerda queria liberdade e livre
mercado. Hoje, isso é o contrário. A esquerda defende um estado forte, que, como nas
palavras do próprio Lula, um estado que cuida do povo. E a direita que é a defensora de um
estado mínimo e do livre mercado. Mas, acho que para a narrativa do Lula, a esquerda
ainda é a mesma do século XVIII. E, sendo bem sincera, acredito que num futuro não tão
distante, os papéis esquerda e direita se inverterão novamente, devido ao globalismo (algo
perigoso que devemos ficar extremamente atentos) mas isso é assunto para outro texto.
Na verdade, Bolsonaro foi aquele que favoreceu pessoas pobres, voltando as próprias
palavras de Paula Schmitt:

“Questões que para mim sempre foram sagradas –


distribuição de renda, reforma agrária, esgoto, acesso dos
pobres à cidadania financeira, redução do poder e lucro dos
megabancos, publicidade governamental (ou o uso de
dinheiro público para comprar apoio na mídia), legalização da
cannabis medicinal, fim da corrupção aparelhada e
sistemática, levar água ao Nordeste, homicídios, diminuição
de juros, taxação de dividendos– todas essas questões
melhoraram no governo de Bolsonaro. [...] A implementação
do Pix, por si só, já seria razão para Bolsonaro merecer o
ódio dos banqueiros. Como conta a CNN, só em 2021 o Pix
retirou em receita R$ 1,5 bilhão dos maiores bancos do
Brasil.[...] Não foi só o Pix de Bolsonaro que empoderou o
pobre. Houve algo ainda mais transformador e sem
precedente num dos países com a burocracia mais kafkiana
do mundo: da noite para o dia, mais de 11 milhões de
pessoas até então invisíveis se tornaram cidadãos com a
regularização do seu CPF, feita para que recebessem o
auxílio emergencial de R$ 600.Não tenho esperança
nenhuma que a esquerda gourmet entenda como a vida de
pessoas pobres ficou infinitamente mais fácil depois que
passaram a ter o poder de pagar e receber dinheiro de forma
simples.”

Mas é claro que isso não é muito perceptível, já que no Brasil a política é consumida
como anúncios publicitários. Pessoas que assistem 30 segundos de um vídeo, leem
somente o título das notícias, e quem tiver a propaganda mais bonita e usar as melhores
palavras ganha, não importando tanto as ações. Inclusive, até ouso dizer que se eu mostrar
este texto para alguém, é muito provável que não lerá tudo, mas não me importo, pois eu
escrevo pra mim mesma. E, como vemos pelo resultado de hoje, Lula e sua equipe são
verdadeiros mestres publicitários. Palavras bonitas que se esvai, e por trás da cortina desse
enorme teatro, está a sujeira. Ah! E detalhe: o jogo narrativo de sua equipe é tão grande
que, para uma grande parcela da população, ele foi considerado inocente das suas
acusações do maior escândalo de corrupção já visto, quando, na verdade, tiraram ele da
cadeia por terem considerado que a vara de Curitiba não é a correta, e sim a de Brasília, e,
no momento em que é feita a transferência, Lula completa 75 anos e é prescrito, ou seja,
não pode mais ser julgado.
É uma guerra violenta, através de manipulações, através de narrativas. E agora teremos
mais 4 anos de um bom marketing, mas ainda não conseguimos saber se esse marketing se
refletirá na vida real. O que nos resta é esperar, e principalmente, observar para onde a
narrativa irá caminhar, sendo ela correta com os fatos históricos ou não. E temos que ter
muito cuidado, pois, se há apenas uma narrativa sendo contada, estaremos vivendo o
verdadeiro mundo utópico de George Orwell escrito em seu livro “1984”. O Ministério da
Verdade será instaurado.

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