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Gilvan Rocha

Discursos da burguesia

A burguesia para manter a sua boa vida e submeter à maioria do


povo a uma vida de sacrifícios constantes, se apóia numa lista
enorme de discursos mentirosos. Esses discursos mentirosos, que
servem somente à burguesia, são plantados, e bem plantados em
nossas cabeças e nós, inocentemente, repetimos o que ela quer que
acreditemos.
Mas como ela coloca esses discursos mentirosos nas nossas
cabeças? Primeiro é a nossa própria família que, ingenuamente, tem
como verdadeiros esses discursos mentirosos e passa para os seus
filhos, para as novas gerações. A escola também é um instrumento
usado para plantar mentiras em nossas mentes. Porém, ainda mais
forte do que a escola, são as igrejas que pregam o conformismo, a
resignação diante do sofrimento que nos é imposto a cada dia e a
cada hora de nossas vidas.
As igrejas dizem, insistentemente que devemos suportar a po-
breza, a carência, as dificuldades com resignação, pois assim con-
quistaremos a igualdade e a justiça depois da morte, no tão apre-
goado céu.
Não bastassem a família, a escola, as igrejas para plantar idé-
ias falsas em nossas cabeças, idéias falsas também são propagadas
através do rádio, da televisão, da internet, do jornal, da revista, do
livro, para não falarmos de tudo que ouvimos de amigos e conhe-
cidos que são também desinformados, ou melhor, mal informados.

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Discursos da Burguesia - 3
A burguesia não poderia sobreviver sem a mentira deslavada
e repetida continuadamente. Ela não poderia se manter de pé, não
fossem os seus discursos mentirosos e eles são muitos, são incon-
táveis. Veremos, a seguir, alguns deles que conhecemos muito bem:

1. O mundo sempre foi desigual.


Um dos discursos mais mentirosos e frequentemente usado é
o de que “o mundo foi sempre assim e assim sempre será”. “Sempre
houve e sempre haverá ricos e pobres”. “Isso é desde o começo do
mundo”. Por acaso você já ouviu esse discurso? Em casa, na esco-
la, na igreja, no trabalho, você já escutou essa conversa? Pois bem,
quem leu, ou seja, quem estudou a cartilha Gente Consciente 2,
deve lembrar muito bem o quanto esse discurso é descaradamente
mentiroso. Devemos nos lembrar que por cinquenta ou sessenta mil
anos a sociedade humana não conheceu essa divisão entre pobres e
ricos. Tratava-se de uma vida sofrida, carente, mas não existia essa
divisão de classes. A sociedade primitiva, de tão longa duração,
era organizada de forma em que todos trabalhavam para todos, não
existia, portanto, a exploração do homem pelo homem que só vem
surgir milhares de anos depois.
Para sustentar a desigualdade foi preciso construir um sólido
império da mentira e a primeira delas é essa de dizer que o mundo
foi sempre assim: uns com tudo e outros sem nada. Joguemos essa
mentira na cesta do lixo, a expulsemos de nossas mentes e das men-
tes dos nossos familiares, amigos e colegas.
Em lugar da mentira, procuremos proclamar a verdade, o que
não é nada fácil, diga-se de passagem.

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2. O capitalismo é bom...
Na verdade, o capitalismo não é ruim para todo mundo, ele é
ruim para o povo trabalhador e os excluídos que têm que se sub-
meter ao desemprego, aos baixos salários quando empregados, as
moradias desconfortáveis e precárias, aos sistemas de transportes
desumanos, aos serviços de saúde sucateados, as escolas públicas
de péssima qualidade, a violência constante e outros tantos sofri-
mentos. Para a burguesia, para os capitalistas, é tudo bem diferente.
Eles dispõem do bom e do melhor e, para eles, é claro, que o capi-
talismo é muito bom. Bom até demais!
Mas eles não se contentam em gozar os privilégios que des-
frutam no sistema capitalista. Eles, descaradamente, dizem: gente,
o capitalismo é bom, aliás, é muito bom para todos, desde que seja
governado por pessoas honestas, competentes e dedicadas. De-
vemos, portanto, procurar pessoas que tenham essas qualidades
para administrar o capitalismo e assim ele se tornará excelente para
todo mundo.
O grave, muito grave mesmo, é que o povo termina engolindo
esse falso discurso. O inferno não deixa de ser infernal mudando
o diabo de plantão. O inferno é infernal por si mesmo. Assim é
o capitalismo, independente do administrador de plantão. É claro
que um administrador ladrão, cínico e atabalhoado, produz muitos
dissabores, no entanto um administrador equilibrado e honesto
não haverá de proporcionar a igualdade e a justiça social enquanto
existir o capitalismo, pois o que caracteriza esse sistema é a busca
do lucro à custa da exploração do suor e do sangue das massas
despossuídas, além da destruição sistemática da natureza.
Assim sendo, precisamos desmascarar o discurso do bom ge-

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rente. Aquele que, como dissemos, pretende culpar não o sistema
capitalista em si, mas os governantes pelos infortúnios sociais que
são tantos. O discurso do bom gerente é um truque levado à prática
pelos capitalistas que tem dado muito certo, pois os desinformados
terminam por repetir essa falsa ladainha deixando o capitalismo
destruidor na santa paz, produzindo desgraças sociais e destruindo
o planeta.

3. Capitalismo selvagem.
O desenvolvimento do capitalismo se dá de forma comple-
tamente desigual. Uns poucos países como os Estados Unidos, a
França, a Inglaterra, a Alemanha, o Canadá, a Bélgica, como ex-
emplos, são países ricos. Nesses países a espoliação e a opressão
do povo dão-se de forma menos agressiva, mas só há lugar nesse
mundo para poucos países ricos. Outra parte deles como Brasil,
México, Chile, Índia, não são ricos, mas tem um nível de miséria
e pobreza menor do que a maioria dos países pobres e miseráveis
como são os países africanos, a imensa maioria dos países asiáticos
e a maior parte dos sul-americanos.
Diante desse quadro o que diz o discurso burguês? Diz o
seguinte: todos os países poderão se tornar ricos, aí teremos um
capitalismo civilizado, um capitalismo de face humana. Isso é to-
talmente mentira, só existem os países ricos por que eles roubam e
exploram descaradamente os países pobres
Malandramente, ou por desinformação, alguns denunciam “o
modelo” de capitalismo selvagem dando a falsa esperança de que
o suposto capitalismo selvagem poderá se transformar, um dia, em
capitalismo civilizado.

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Aliás, esse discurso de oposição a um determinado “modelo”
e a proposta de construção de um “modelo” humanizado de capi-
talismo é levado a cabo por muitas pessoas, que se julgam informa-
das. Ora, não se trata de diferença de modelos, a grande verdade é
a permanência da desigualdade social e o fim dessa desigualdade
só poderá ser alcançada com o fim desse sistema. Isso tem que fi-
car claro para todos nós, pois temos que nos libertar desse imenso
cipoal de mentiras, das mais cabeludas, as mais bem apresentadas
como essa mentira do combate ao capitalismo selvagem pregando
um chamado modelo de capitalismo sustentável e justo. Isso é to-
talmente falso.

4. Alternância no poder.
Trata-se de uma bela malandragem da burguesia experiente e
matreira, o discurso da alternância no poder. O que seria isso?
Seria dizer que na democracia burguesa pode haver mudança
no poder, quando se muda o governo. Vimos, e vimos muito bem na
cartilha 2 da Campanha Gente Consciente, o que foi a construção
do Estado. Vimos que antes de existir a desigualdade social não
existia Estado. O Estado é o poder e ele é formado por várias insti-
tuições: polícia, Forças Armadas, aparelhos judiciários, aparelhos
administrativos, sistema carcerário, são instituições que formam o
Estado.
No capitalismo, o Estado é o poder dos capitalistas e eles não
permitem que se mexa nesse instrumento, ele tem que ser preser-
vado custe o que custar. Por sua vez é importante, ou melhor, é
fundamental, a gente saber que governo é apenas um gerente pas-
sageiro dos negócios do capitalismo. O poder, o Estado, é perma-

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nente. O governo é passageiro. Vão governos e vêm governos e o
Estado, o poder, continua o mesmo patrocinando a desigualdade e
assegurando os privilégios dos ricos.
Deu para entender? Ora, essa é uma confusão propositada que
se faz entre poder e governo. A conversa de dizer que governo é
poder é uma descarada mentira do sistema e essa mentira não está
somente presente no meio do povão. Ela está fincada inclusive nas
mais prestigiadas universidades, tanto do Brasil como do mundo.
Dizer que um partido chegou ao poder por que conquistou o governo
é um desastroso engano e para esse engano existe uma legião
imensa de bacharéis, mestres, doutores e políticos pelo mundo afora
pregando, consciente ou inconscientemente, essa triste mentira.
Aprendamos de uma vez por todas: poder é poder e tem um
caráter permanente. Governo é apenas um gerente eventual do
sistema e ele vai e vem enquanto o sistema se sustenta sobre os
ombros do poder, sobre os ombros do Estado.

5. Estado do povo.
Outro discurso mentiroso e tão bem cultivado no seio do povo
letrado e iletrado é o de que o Estado é do povo. Eles até falam
em poder público, dinheiro público, serviço público. Isso tudo não
passa de mera ilusão. O Estado capitalista existe para manter, antes
de tudo, o sistema.
Para efeito de esclarecimento lembremos que aqui no Brasil,
diante de uma crise financeira, os bancos privados foram socor-
ridos com dinheiro do Estado (PROER) para evitar uma falência
em cadeia. Era esse dinheiro do povo? Não! Era dinheiro arrancado
do povo, o que é bem diferente. A mesma situação vimos em es-
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cala mundial. Para salvar os bancos da falência e evitar a ruína do
sistema, os Estados capitalistas desembolsaram mais de um trilhão
de dólares. Veja aí o papel do Estado burguês: manter o sistema a
qualquer custo, independente de fronteiras.
Confundir Estado com poder público é imaginar que o Estado
é o poder do povo quando na verdade o Estado capitalista é o poder
da burguesia sobre o povo. Vale apena repetir isso até que todos
entendam.
Por sua vez não existe, a rigor, serviço público, existe sim ser-
viço para o público na forma de educação, saúde, previdência. Esse
serviço para o público é uma forma de conter possíveis tensões
sociais que venham a ameaçar a segurança do sistema capitalista.
A velha e repetida lorota em dizer que o poder vem do povo
e em seu nome será exercido como consta na tão cultuada Consti-
tuição Federal não passa de simples lorota, de conversa fiada para
nos enganar.
Vemos que é necessário nos desfazer de tantos discursos en-
ganosos e pararmos de repeti-los como é tão comum. Diz-se: o
Banco do Brasil é nosso, o Petróleo é nosso, a Amazônia é nossa.
Considerar-se as empresas estatais como se elas fossem empresas
do próprio povo é uma fraude, pois na verdade tudo está a serviço
dos interesses da classe burguesa e se alguma coisa nos sobra são
meras migalhas, enquanto eles têm a parte do leão.

6. Estado de direito.
Outro grande descaramento é o discurso dito principalmente
pela maioria dos bacharéis, de que nós temos um Estado de Direito.

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A verdade é que quando começou a existir a sociedade dividida em
classes surgiu como decorrência o Estado de classe e esse Estado
de classe exerce uma ditadura sobre o conjunto da população. No
caso do capitalismo, temos a ditadura do capital sobre o trabalho. O
Estado, que é o instrumento dessa ditadura pode se apresentar em
dois formatos.
O primeiro deles é chamado democrático, aquele em que o
povo é “livre” para escolher o chicote a lhe bater nos lombos.
O Estado democrático em que a maioria concordou “livre-
mente” com o sistema escolhendo os seus eventuais mandatários
é a forma ideal de dominação, pois ela repousa no convencimento
tornando-se muito mais segura do que a força do chicote.
Considerando, entretanto que direita seria a política de con-
servação do sistema, o que na verdade temos no capitalismo não é
um Estado de Direito, mas sim um Estado de Direita.
A segunda forma do Estado capitalista é a forma ostensi-
vamente ditatorial, desbragadamente violenta. A essa forma, os
bacharéis, por sua maioria, chamam de Estado de Exceção e o povo
chama de ditadura. Isso acontece quando o convencimento, o pala-
vreado, as manobras são insuficientes para conter as insatisfações
populares. Podemos dizer que o Estado de Direito é uma fraude que
esconde uma indiscutível realidade, esconde a ditadura do capital
sobre o trabalho, esconde o Estado de Direita

7. A verdade se imporá.
Um discurso muito recorrente no meio de nossa família, dos
amigos, dos colegas é a afirmação de que a verdade haverá de se

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impor, custe o que custar. Isso não passa de mais um discurso men-
tiroso.
A verdade para se impor tem que ter força para isso e não é o
que sempre acontece, pelo contrário, são muitos os exemplos que
nos mostra a própria vida de que a verdade fica encurralada sem
poder ser conhecida pelo povo letrado e iletrado.
Qual a razão então desse discurso mentiroso? É para que
acreditemos na justiça implacável do bem contra o mal. Mas, basta
dar uma olhada para o imenso mundo capitalista que domina o pla-
neta e veremos que não é o bem que determina e sim o mal que es-
tende as suas garras por todo canto, produzindo fome, desemprego,
favelas, prostituição, corrupção, doenças e tantos outros horrores.
E onde está a justiça? E onde está à força da verdade? Não poderá
existir justiça e paz enquanto sobreviver a ordem capitalista na face
da terra. A verdade é o anti-capitalismo e ela só se imporá caso se-
jamos capazes de afugentar os discursos mentirosos da burguesia e
implantar o discurso do bem, o discurso socialista. Isso é o que es-
peramos que cada um de nós venha a fazer, seja no seio da família,
no local de trabalho, no bairro que moramos, na escola...

8. “Querer é poder”.
Chega parecer até uma gracinha. Eles dizem cinicamente que
querer é poder e nós reproduzimos esse discurso a torto e a direito.
Quando um jovem morador de favela consegue passar num ves-
tibular eles aproveitam para dizer: “estão vendo?
Querer é poder! Caso você faça o mesmo, você terá aquilo
que deseja”. E dessa forma levam muitos a acreditar que mesmo
sofrendo privações, mas sendo obstinado, lutador, haverá de con-
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quistar um lugar ao sol nesse impiedoso sistema.
Nesse sentido, chegam até dizer como vimos na Cartilha 1
da “Campanha Gente Consciente”: “quem madruga Deus ajuda”,
pretendendo com essa frase levar o sacrifício de cada um de nós à
culminância, sempre na esperança de atingir aquilo que haveria de
ter naturalmente de direito sem que para tanto seja preciso se matar
trabalhar e sofrer.
Não desconhecemos o papel importante que tem a vontade, o
querer, a obstinação, a tenacidade. No entanto é um clamoroso erro
imaginar que essas qualidades, por si, serão possíveis de garantir
um lugar ao sol nesse tempestuoso sistema de desgraças socias.

9. Projetos para as mazelas sociais.


Vejamos como eles procedem, diante das mazelas sociais,
como o menor abandonado, o assustador uso de drogas, a prolif-
eração das favelas, o desemprego, a prostituição infantil. O que
eles fazem? Eles alugam dúzia e meia de bacharéis, formam uma
comissão multidisciplinar e dela solicitam que sejam feitos projetos
para eliminar essas mazelas sociais.
A esses projetos, baseados em exaustivas pesquisas e alguns
custos, eles chamam de políticas publicas, quando o certo seria
chamá-los de políticas para o público.
Elaborados tais projetos só resta uma saída: levá-los a prática, e
tudo, segundo eles, estará resolvido. Quando essas propostas viram
letra morta os geniais senhores, feitores de tais projetos, proclamam
com todo fôlego: “falta vontade política de implementar nossos
projetos que haveriam de tornar o capitalismo humanizado”.

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Não atentam esses senhores para a diferença entre uma pre-
sumida vontade política e uma indiscutível conveniência ou inca-
pacidade de tornar tais projetos viáveis no âmbito do capitalismo.
Assim sendo, os tais projetos, as tais pesquisas, os tais diagnósticos
que fazem a profissão de técnicos e bacharéis lotados, mais das
vezes, nas inúmeras Organizações Não Governamentais – ONGs,
são um estupendo engano, uma impiedosa mentira.
Caso esses senhores quisessem realmente combater as mazelas
que afligem a grande massa do povo teriam, antes de tudo, que
desfraldar a bandeira do anti-capitalismo de forma clara, dizendo
que aí está a causa dos males sociais e, sem combatê-la, toda luta
tornar-se-á ociosa, sem serventia.

10. O socialismo.
A única saída razoável para a crise do capitalismo que nos ar-
rasta para a tragédia total, é o socialismo. Mas o que isso quer dizer?
No capitalismo as terras, as fábricas, as minas, os transportes, os
bancos, ou seja, os meios de produção, distribuição e financiamento
das riquezas são propriedades de uma única classe, a burguesia.
A solução, portanto estaria em transformar os meios de
produção, distribuição e financiamento, em propriedade social. Isso
quer dizer que ao invés da propriedade privada teríamos a proprie-
dade social desses meios de produção, distribuição e financiamento
das riquezas.
Dessa forma a humanidade poderia se organizar e eliminar
todas as mazelas sociais e é aí que entra um discurso mentiroso da
burguesia dizendo que o socialismo foi experimentado e não deu

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certo, fracassou, enquanto o capitalismo sobreviveu, não importan-
do o custo social dessa sobrevivência.
Vejamos o seguinte: certo senhor, há muitos anos atrás, disse:
eu sou capaz de construir uma máquina que voa. Ora, uma idéia
dessas, naquele momento, parecia uma loucura. Somente poucos
acreditaram nesse senhor e ele, junto a uma pequena equipe,
construiu uma máquina de voar e chamou a população para assistir
aquele revolucionário episódio.
Ele sentou-se no aparelho e ligou a máquina. Ela percorreu al-
guns metros, mas não voou. Então a maioria disse: é claro que essa
idéia de voar é uma loucura, essa teoria não tem fundamento. Mas
o homem e sua equipe continuaram, continuaram, continuaram e
sempre teve insucesso.
Outro homem que também acreditava na teoria de voar, e já
passados vários anos, usou de novas técnicas e construiu uma má-
quina que realmente conseguiu voar. Isso quer dizer: o fato de uma
teoria não ter sido bem sucedida nos seus primeiros experimentos,
não autoriza ninguém a dizer que se trata de uma teoria sem funda-
mento.
Na proposta de construção do socialismo houve uma série de
circunstâncias históricas que provocaram seu brutal insucesso. No
entanto é mentira descarada dizer que o socialismo não é praticáv-
el. Ele não só é possível, como é a única saída que a humanidade
dispõe para evitar que mergulhemos na tragédia total e sejamos
varridos da face da terra.

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11. Os partidos.
Os partidos políticos deveriam ser divididos, grosso modo,
em dois blocos: os partidos de direita, aqueles que defendem clara-
mente o projeto capitalista e os partidos de esquerda, que denunci-
ariam o capitalismo e proporiam o socialismo.
Na prática, as coisas não se dão dessa forma. Alguns partidos
que se proclamam de esquerda como o PT, PSB, PCdoB, PV na
verdade são partidos a serviço da ordem capitalista, agitando aquele
falso discurso de que o problema não é do sistema em si e sim, do
modelo e que tudo se reduz a uma questão de gerenciamento.
Daí a velha e criminosa frase: “o modo PT de governar”,
que douraria a pílula e tornaria o “capitalismo selvagem” num
capitalismo humanizado, capaz de promover o bem estar de todos.
Restam alguns movimentos e partidos que se reivindicam an-
ticapitalistas, mas, infelizmente têm uma dificuldade em verbali-
zar esse anticapitalismo, preferindo combater os seus efeitos e suas
manifestações pontuais.
É urgente e imprescindível que esses grupos e partidos que se
propõem a lutar contra o capitalismo busquem organizar um forte
partido anti-capitalista e sem rodeios diga para o povo qual o seu
verdadeiro inimigo.

12. Corrupção e moralismo


Um discurso que tem muita aceitação no meio do povo é o
discurso contra a corrupção, contra a bandalheira. Esse discurso
parte da suposição de que existe dinheiro suficiente para a saúde,
educação, segurança e outras necessidades sociais não fosse ta-
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manha a corrupção que vemos. É verdade que a corrupção é um
cancro próprio do sistema capitalista, pois nesse sistema não basta
ter, é preciso ter muito e exibir, ostentar o que se tem.
Ao invés de combater a causa da corrupção, que é o capitalismo,
a própria burguesia através dos seus meios de comunicação move
uma campanha pela moralização da “coisa pública”. É evidente
que se não houvesse tantos gastos com a corrupção poder-se-ia ter
serviços para o público, não tão precários, mas isto não resolveria
os tantos problemas graves que temos.
O moralismo serviu de bandeira política para muitos demago-
gos. Dentre os mais antigos ou aos que conhecem a história, basta
lembrar o Partido da ultra-direita, a União Democrática Nacional-
UDN, que pregava a moralização dizendo que o governo de plantão
escondia um mar de lama.
Jânio da Silva Quadros, em 1960, empunhando uma vassou-
ra, prometia ao povo brasileiro varrer a corrupção do Palácio do
Planalto. Depois, revelou-se um fino corrupto, depositando para
si fortunas nos bancos da Inglaterra, em contas secretas, longe de
qualquer vassoura.
Tivemos, também, a figura sinistra de Fernando Collor de
Melo, que se apresentou como o “caçador de marajás” e prometia
encher o estádio do Maracanã com os ladrões da república para de-
pois de eleito praticar os mais condenáveis atos de corrupção.
O próprio Partido dos Trabalhadores – PT, a quem Brizola,
em determinado momento de felicidade, chamou de “a UDN de
macacão” tinha como carro chefe do seu discurso a moralização
para, depois, tropeçar no mensalão, nos sanguessugas, no dossiê
dos aloprados, nos dólares na cueca e no bom compadrio com a

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fina flor da bandalheira política, representada por Sarney, Jader
Barbalhos, Romero Jucá, Renan Calheiros, Michel Temer e outros
figurões, mestres na arte de surrupiar verdadeiras fortunas das
verbas do próprio Estado.

13. Política é coisa suja.


Esse discurso – política é coisa suja - interessa muito as class-
es ora dominantes. Esse discurso afasta o povo trabalhador, a dona
de casa, a juventude do embate político deixando o caminho livre
para os mentirosos, os demagogos, os picaretas, os corruptos.
No entanto, é digno de se observar que ninguém, ninguém
mesmo, é capaz de viver sem um discurso político na ponta da lín-
gua.
Caso saiamos pela rua e encontremos um gari e perguntemos
a ele: qual é a causa da fome? Ele, encostado a sua vasso ura, vai
dizer: “meu amigo o povo não quer mais trabalhar. As terras estão
abandonadas, daí a razão de tanta fome”. Isso é um discurso políti-
co, embora seja um discurso equivocado.
Continuando a nossa pesquisa, perguntemos a uma senhora:
por que tanta violência? E ela, contrita, reponde: “meu filho, está
faltando Deus no coração das pessoas e por essa razão existem tanta
violência e tanto desrespeito”. Isso também é um discurso político
embora também equivocado.
Continuemos a nossa caminhada e vamos encontrar um estu-
dante que se julga politizado e a ele fazemos a pergunta: por que
temos tantas favelas? E ele dirá: “nós não temos soberania, somos
explorados pelo imperialismo ianque que rouba nossas riquezas,

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daí o nosso estado de pobreza”. Eis mais um discurso político com-
pletamente insuficiente, quando não equivocado, como foi aquele
discurso “fora a ALCA e o FMI”.
Caso tenhamos paciência e disposição, haveremos de encon-
trar, em todos, um discurso político pronto e acabado. A tragédia é
que raramente encontramos o discurso realmente correto, aquele
que diga: vivemos na miséria, na violência, na corrupção, na de-
gradação do planeta porque subsiste o capitalismo e nós estamos
diante de um dilema: destruiremos o capitalismo ou ele nos destru-
irá.

14. A solução está na educação.


Isso é verdade. Porém, a educação que eles pretendem é
aquela que se limita a preparar mão de obra qualificada para servir
aos negócios do sistema. Cientistas e técnicos devem está prontos
para descobrir medicamentos que dão vultosos lucros, ou construir
bombas e outras armas sofisticadas que tragam vantagens para eles,
os burgueses.
A educação que precisamos, urgentemente, é a educação
política, a educação que traga a verdade e varra para bem longe, os
discursos mentirosos da burguesia. A educação que a humanidade
necessita é a educação socialista, anticapitalista. As escolas da bur-
guesia não haverão de nos fornecer esse tipo de educação. Restam
aos partidos e organizações verdadeiramente socialistas essa fun-
damental tarefa de promover a educação política no caminho do
socialismo, no rumo da libertação da humanidade das algemas do
capitalismo.

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15. A maior mentira


Deixamos por ultimo, para tratar nessa cartilha da maior men-
tira de todas. Ela é apresentada na seguinte frase: “a mentira tem
pernas curtas”. Como falamos nas cartilhas anteriores, quem tem
pernas longas e robustas não é a verdade e sim a mentira, ela sem-
pre está presente em nossas vidas. Ela é colocada em nossas ca-
beças. Ela nos faz ser um povo submetido à mais cruel exploração.
Somente com o desmantelamento do império da mentira tão
bem construído e conservado pela burguesia é que podemos con-
quistar um mundo de justiça e paz. Onde reinará a harmonia e,
porque não dizer o amor entre todos, em lugar da exploração do
homem pelo homem.
Gilvan Rocha - Maio de 2010

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Questionário
1. Os discursos burgueses são necessários para a manutenção do
sistema?
2. São esses discursos baseados na verdade?
3. Como eles conseguem plantar seus discursos em nossas cabeças?
4. O mundo foi sempre desigual?
5. Você já ouviu dizer que o mundo foi e será sempre assim?
6. O capitalismo é bom para alguém?
7. Para quem o capitalismo é ruim?
8. É verdade que o capitalismo poderia ser bom para todos se bem
governado?
9. O inferno deixaria de ser infernal mudando o diabo de plantão?
10. O que é chamado de capitalismo civilizado?
11. O que é chamado de capitalismo selvagem?
12. O capitalismo poderá se tornar civilizado em todo o universo?
13. O que permite existir o capitalismo civilizado?
14. Você sabe o que é poder?
15. Defina poder com uma única palavra.
16. Você sabe o que é governo?
17. Governo é permanente ou transitório?
18. Um partido que chaga ao governo chega necessariamente ao poder?
19. O que acontece quando se conflitam governo e poder?
20. No capitalismo o Estado é do povo?
21. No capitalismo existe o poder público?
22. No capitalismo existe o dinheiro público?
23. A quem pertence às riquezas do Brasil?
24. O banco do Brasil é nosso?
25. O petróleo é nosso?
26. O que é um estado de direito?
27. O que um estado de direita?
28. O que é chamado de ditadura?

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29. A verdade se imporá por si?
30. O que você acha da frase: “Querer é poder”?
31. O que eles querem com a frese “Quem madruga Deus ajuda”?
32. O que é que eles chamam de políticas publicas?
33. É verdade que as políticas não dão certo por falta de vontade política?
34. Há diferença entre querer e poder?
35. Como se caracteriza o capitalismo?
36. Qual a saída para razoável para a crise do capitalismo?
37. Como você definiria o socialismo?
38. É o socialismo uma experiência ultrapassada?
39. Quem deveria levar a educação socialista ao povo?
40. PT, PSB, PCdoB, PV são partidos anticapitalistas?
41. Existe algum modo milagroso de governar o capitalismo para torná-
lo humano?
42. A corrupção é mais uma chaga do sistema capitalista?
43. A campanha de moralização pode dar certo?
44. Quem foi Jânio da Silva Quadros?
45. Quem foi o caçador de marajás?
46. O moralismo do PT evitou o seu mergulho na corrupção?
47. O que dizer das parcerias políticas do PT com José Sarney, Jader
Barbalho, Romero Jucá, Renan Calheiros, Michel temer e outros?
48. A burguesia gosta que o povo considere política coisas suja?
49. Quando os honestos, os honrados se afastam da política quem sai
ganhando?
50. Alguém pode viver sem um discurso político?
51. A Maioria dos discursos políticos é correta ou errada?
52. Qual seria o discurso político correto?
53. A solução está na educação?
54. Qual educação?
55. Qual a maior mentira do mundo?

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Militante socialista desde muito jovem...


• Em 1958 iniciou sua militância política no semiclandestino Partido
Comunista Brasileiro (PCB).

• 1960 – Participa das Ligas Camponesas em Pernambuco.

• 1961 – Desliga-se do Partido Comunista Brasileiro – PCB, com outros


companheiros.

• 1962 – Funda, com outros dissindentes do PCB, o Movimento Revo-


lucionário Tiradentes e participa do Movimento Guerrilheiro no Norte
de Goiás.

• 1963 – Volta para o Nordeste e articula em Pernambuco e Paraíba o


Grupo Vanguarda Leninista.

• 1965 – Chega ao Ceará em condição de clandestino e continua a sua


atuação política na formação de quadros.

• 1967 – Entra para o Movimento Comunista Internacionalista – MCI.

• 1973 – Foge da repressão e vai para São Paulo e de lá foi para o exílio
em Portugal e Argentina.

• 1979 – Retorna do exílio com a Lei da Anistia e inicia a organização


do Partido dos Trabalhadores – PT

• 1980 – Participa como Secretário Geral da Comissão Executiva Pro-


visória do PT – Ceará
• 1981 – Participa da Primeira Executiva Regional do PT – Ceará.

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Gilvan Rocha
• 1984 – É eleito Presidente do Partido dos Trabalhadores – PT Ceará.

• 1986 – É reeleito Presidente do Partido dos Trabalhadores – PT Ceará.

• 1995 – Desvincula-se do Partido dos Trabalhadores, após 15 anos


de permanência nessa agremiação e ingressa no Partido Socialista
Brasileiro – PSB

• 2005 – Participa como fundador do Partido Socialismo e Liberdade-


Psol.

• É autor dos livros: “Vermelho Cor de Esperança”, “Bye, bye PT”,


“Meio Século de Caminhada Socialista” lançado em 2008 e “Comuni-
stas” filhos da pátria, lançado em 2009.

• Atualmente é membro do Diretório Estadual do Partido Socialismo


e Liberdade – PSOL e Presidente do Centro de Atividades e Estudos
Políticos –

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CAEP
CENTRO DE ATIVIDADES
E ESTUDOS POLÍTICOS

www.gilvanrocha@blogspot.com

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