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UNIVERSIDADE REGIONAL DO CARIRI

“NOVO NORMAL", A UTOPIA DOS ANORMAIS

JOSÉ MARTES VIEIRA DA SILVA

CRATO – CE

2021
“NOVO NORMAL", A UTOPIA DOS ANORMAIS

Muito tem se falado sobre um novo normal. Em primeiro lugar, como podemos definir
o conceito de normalidade? Devemos começar por um conceito anterior: o de comum. Que,
na verdade, é como um: o que outro tem de mim e que me identifico; e o que eu tenho do
outro e que ele se identifica.

Toda a raça humana em menor ou maior grau foi afetada por um inimigo invisível,
mortal e enigmático. Até então vivíamos em certa “normalidade”, que estava disfarçada por
ideologias, as mais diversas. Tais sutilezas do poder econômico, durante muitos anos calaram
através da força ou do convencimento a maior parte da humanidade, resultando daí muita
exploração, escravidão e usurpação dos direitos naturais da pessoa. O que acontece nas
relações força de trabalho, versus donos dos meios de produção, além de discrepante levará o
primeiro grupo a um abismo muito profundo nessas interações de interesses de capital.
Historicamente e socialmente esse embate foi marcado por aspectos materiais, como também
por uma visão de mundo de uma coletividade – Cosmovisão.

As ciências econômicas preconizam no seu bojo central que os recursos materiais são
parcos e finitos, daí a necessidade de distribui-los de uma forma equitativa a todos. È notório
que isso na pratica tem se tornado uma utopia com a passar da história. Partindo da premissa
que a “medida do ter nunca enche”, o modo de produção Capitalista, precisará sempre
encontrar uma maneira de angariar cada vez mais lucros, não se importando com os meios
(recursos naturais, mão de obra, recursos, etc.), e sim os fins. A ganância, os interesses
escusos, tem cegado essa classe em detrimento das demais. Diante da pequena explanação
acima, isso tornará perceptível aos mais cultos o modo operandi como tudo isso vem
acontecendo e seus possíveis desdobramentos econômicos e sociais a nossa sociedade como
um todo.

Muitas perguntas ou dúvidas tem permeado o imaginário popular Brasil afora.


Vejamos algumas delas: “Esse vírus foi feito na China, pois ela é comunista?”. “Essa doença
é um castigo divino para purificar a humanidade?”. “Não devemos nos preocupar, Deus está
no controle de tudo”. A pergunta mais importante talvez a ser feita fosse: O que está por
detrás disso tudo? Quais são os reais interesses econômicos, ou quais grupos hegemônicos
vão lucrar com esse novo normal? Sabe-se que normal não o é, mas reflitamos um pouco.

Acredita-se que muitas pessoas ainda não pararam para analisar os impactos de tudo
isso em suas vidas. Tudo aconteceu de uma forma muito abrupta. Em meio a muitas mentiras,
jogo de toma lá da cá, o povão serve como massa de manobra aos caprichos dos mandatários.
Nessa hora entra em cena a religião e as suas mais diversas expressões de manipulação -
Cosmovisão. No caso especifico do Brasil, nosso presidente se uniu a grupos religiosos
poderosos e mais expoentes, usando o poder de persuasão de seus líderes para acalmar e
consolar a população cativa a uma fé cega e irracional. Nosso mandatário despreparado que é
em muitos campos das ciências sociais e econômicas, acabou se valendo do divino, do
sobrenatural, apelando à boa fé dos mais incautos, escondendo assim toda a sua peçonha.

Todos nós vivíamos aparentemente uma falsa normalidade. Ao acordarmos um belo


dia nos deparamos com uma nova realidade. A maioria das pessoas ainda não engrenou de
vez a esse novo estilo de vida. Nunca se consumiu tanto em tão pouco tempo, os simples
mortais simplesmente não sabem o que fazer de suas já tão sofridas vidas. Os pais de famílias
estão perdidos, e uma horda de novos moribundos se junta a muitos outros já existentes e
anda como zumbis a procura do nada, talvez se perguntando o porquê de tudo isso. Para
muitos desses indivíduos errantes o que já estava ruim, só ficou pior.

Mas vejam como os capitalistas encontraram um novo meio de auferir lucros à custa
da desgraça dos demais. Observem que a mesma lógica da historicidade mais antiga desse
meio de produção se apresentou como normal, tentando incutir em nossas mentes que há no
mundo uma briga do bem contra o mal, e que precisamos abolir esta chaga em prol do bem
comum. Haverá sempre uns mais iguais que os outros.

Não custa nada nos determos ao á realidade brasileira. Olhem o caso da nossa já tão
precária educação. As escolas e especialmente os professores tiveram que se reinventar para
puderem sobreviver a esta realidade global. O que dizer do alunato – falo das escolas públicas
e suas mais diversas precariedades históricas - como se adaptarão a esse novo modelo de
ensino? Certamente já temos como responder a muitas dessas perguntas, e as outras, só a
história dirá.

No que tange ao mercado de trabalho, o número de desempregados que já estava nas


alturas, continua a crescer em ritmo galopante. O povo teve que procurar alternativas as mais
diversas para escapar de uma condição já precária ante uma pior e incerta. Nisso entra em
cena novamente os donos dos meios de produção que com toda gana e voracidade faz da
classe dos trabalhadores – Mão de obra nem sempre especializada - de escravos ou capachos,
usurpando-lhes seus direitos trabalhistas e levando-os a exaustão.
Os fatos acontecem de forma diferente ao longo da história, mas o enredo é sempre o
mesmo como é também seus protagonistas. O papel principal do autor só muda de pessoa para
pessoa e em épocas distintas, mas seu desempenho é sempre com o mesmo objetivo.

No atual contexto globalizado, notadamente no Brasil, vivemos uma “infodemia”, que


é uma epidemia de informações de todos os lados. Esses informes quase sempre são
desinformações a título de interesses os mais velados, de grupos dominantes. Faz-se
necessário que aprendamos a desenvolver uma curadoria e a se utilizar de muitos filtros
inteligíveis de tudo que recebemos através das várias telinhas que chegam até nós via redes
sociais. Sem falar ou fugir aos aspectos emocionais. Em meios aos embates, normalmente
surgem os velhos lobos, que sorrateiramente se disfarçam em ovelhas.

Por isso que à luz da razão e da reflexão, precisamos reter o que nos serve e o que nos
prejudica, senão seremos tragados, dominados, alienados. Pois se sabe que na maioria das
vezes tais coisas não nos informam como deveriam, mas são normalmente distorcidas e que
serviram como combustível propulsor aos grupos que se perpetuam no poder.

E por entender que os homens não são muito adeptos às mudanças, e isso é natural à
nossa condição, foram pegos de surpresa de uma forma muito violenta, drástica; e, por não
serem precavidos como as formigas, foram afetados em todas as áreas, principalmente às
classes econômicas menos abastardas. Essas que já vinham padecendo em um inferno astral
tiveram que amargar as maiores consequências deste acontecimento histórico.

No tocante ao “novo normal”, como todo brasileiro tem um poder de resiliência muito
expressivo diante dos infortúnios dessa vida, crê-se que essa crise será superada apesar dos
pesares e com todas as discrepâncias que sempre existiram. Fácil não será, mas nos disseram
que o brasileiro jamais foge à luta. Será?

Para muitos de nós – os mais precavidos e que possuímos um senso crítico mais
aguçado, restarão muitas lições e aprendizados valiosos. Mesmo assim, teremos que pagar um
preço muito alto até nos adaptarmos a essa pseudo-normalidade. Já para os menos
afortunados, tais pessoas precisarão fazer um malabarismo e se contorcer para puderem
sobreviver em meios a este caos generalizado.

As perdas são visíveis e desastrosas, não se tem como mensurá-las; esse seria o
exercício mais doloroso, porém necessário. Afinal de contas, nem sempre aprendemos às
duras penas.
Desde quando mundo é mundo, enfrentamos ao longo da história essas e outras
conjunturas, que para os mais fortes, talvez fique o medo e as incertezas de estarmos todos
debaixo da mesma condição de simples mortais. Para os mais fracos a certeza da morte como
certa, mas a falsa certeza de um descanso eterno e uma morada celestial garantida como
consolo, longe das injustiças e do sofrimento.

É perceptível ao curso da história da humanidade que sempre haverá uns mais espertos
que os outros, os primeiros usando de artimanhas para incutir no segundo grupo suas
ideologias e visão tacanha de mundo – Cosmovisão. Sabe-se que quase tudo o que acontece
no meio social perpassa as diversas áreas dos conhecimentos humanos. Portanto falar de
violência, desemprego, corrupção, descaso, economia mundial, sempre haverá o dedo dos
mais poderosos, que nos farão a todo custo acreditar que nosso destino é esse mesmo e que
nos conformemos, pois são os desígnios divinos que estão acima de todas as coisas.

Finalizando, farei uso das palavras do historiador Darcy Ribeiro: “Os brasileiros se
sabem, se sentem e se comportam como uma só gente, pertencendo a uma mesma etnia. Essa
unidade não significa, porém, nenhuma uniformidade. O homem se adaptou ao meio ambiente
e criou modos de vida diferentes. A urbanização contribuiu para uniformizar os brasileiros,
sem eliminar suas diferenças”. Que pena, mas isso é verdade! Lamentável, isso poderia ser
diferente!

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