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Publicação mensal do Cole vo de negros João Cândido do

Par do da Causa Operária nº19 - Julho de 2022 - R$20


Editorial
Criminalização da opinião
colocará mais negros na cadeia
Página 3

Demagogia
PL das torcidas é golpe para
atacar o futebol brasileiro
Página 4

Morre o ex-presidente de Angola,


José Eduardo dos Santos
Página 6

Lula, Bolsonaro e terceira via: qual o


papel do negro na atual crise polí ca
Página 7

GCM
Fora polícia fascista das escolas!
Página 10

Pacto da branquitude: a nova ideologia da


esquerda pequeno-burguesa
Página 12

A luta pelo salário e pela redução da


jornada de trabalho são vitais para a
população negra no Brasil de hoje
Página 14

Vladmir Lenin, julho 1920, parte I


Esboço inicial das teses sobre as
questões nacional e colonial
Página 16

Milton Nascimento:
80 anos do gênio da raça
Página 20

Grandes da literatura
Carolina Maria de Jesus,
trabalhadora e escritora
Página 22

Perfil
José Maurício Nunes Garcia
Página 26
Criminalização da opinião
colocará mais negros na cadeia
O Brasil ultrapassou, neste ano, a marca de 910 mil presos, segundo dados
do Conselho Nacional de Jus ça. É o maior número já registrado pelo sistema
carcerário nacional. Com esta marca o Brasil se consolida no terceiro lugar
do sinistro podium dos países com maior população carcerária em números
absolutos no mundo, ficando atrás apenas dos Estados Unidos com uma po-
pulação carcerária que supera 2 milhões de presos e a China com 1,6 milhão,
levando em consideração que a China tem uma população muitas vezes su-
perior à brasileira.
Soma-se a este número, mais de 357 mil mandados de prisão expedidos
sem cumprimento, ultrapassamos a marca de 1,2 milhão de mandados de
prisão, entre defini vos e provisórios expedidos. Dados do Anuário de Se-
gurança Pública rela vos a 2021, mostram que cerca de 70% da população
carcerária são negros. Além da magnitude do sistema prisional brasileiro, é
preciso ressaltar outro aspecto, sua completa ilegalidade, o próprio Supre-
mo Tribunal Federal reconheceu a incons tucionalidade do sistema no julga-
mento da ADPF 347, embora absolutamente nada seja feito e o sistema ilegal
e mostruoso con nuem funcionando normalmente.
O sistema prisional brasileiro é superlotado, as condições são absoluta-
mente insalubres e desumanas, falta de atendimento médico e de alimenta-
ção adequada, até mesmo água é racionada. Os presos são acome dos de
doenças de toda ordem por conta das condições desumanas, como sarna,
leptospirose, doenças de pele, muitos têm que disputar um lugar para dor-
mir no chão enquanto outros ficam em pé, conviver com a sujeira, fezes,
bichos, um cenário de horror. São claramente campos de concentração e
de extermínio contra a população notadamente, a população negra e pobre
como os dados mostram bem.
Circulação Nacional O sistema prisional brasileiro é o carrasco do povo negro e pobre e parte
Edição mensal - nº 19
R$20,00
fundamental do sistema que mantém o negro oprimido no país. Seu reforço
Julho de 2022 significa sempre o esmagamento de um numero maior de negros e pobre,
Expediente: pois foi feito para punir prioritariamente estes e não quem comete crimes
Edição: Juliano Lopes, Izadora em geral. Há no entanto, uma nova tendenca na propria esquerda e no pro-
Dias, Eric Menezes prio movimento negro, numa parcela dele, o setor iden tário e pequeno-
Redação: Juliano Lopes, Izadora -burgues que acha que pode usar esse sistema monstruoso para librar a so-
Dias, Eric Menezes, Caio Tulio, Tiago ciedade do racismo.
Pires, Carla Silva, Márcio Roberto Estes setores clamam para que esse sistema puna exemplarmente
Diagramação: Secretaria Nacional
aqueles que expressem opiniões consideradas preconceituosas ou mes-
de Agitação e Propaganda do PCO mo que fale e denunciem a política pelega e vendida destes setores, que
via de regra estão aliadas com os piores opressores do negro, isto é a di-
Tiragem: Mil exemplares reita nacional e até mesmo o imperialismo que os financiam. Excetuando
os vigaristas vendidos, há quem com confusão ou inocência acredite que
Telefone/Whatsapp:11-95208-8335 o Estado burgues e seus orgãos criminosos de repressão podem também
e-mail: joaocandidopco@gmail.com
atuar em favor do negro. Um engano perigoso, a direita apenas apro-
site: www.causaoperaria.org.br/ticao-2
facebook: coletivojoaocandido veita para suprimir a liberdade de expressão e quem perderá o direito a
instagram: @joaocandido.pco palavra será em primeiro lugar o negro e usa de mais uma artificil para
mandar mais pessoas para a cadeia.
Redação: Rua Apotribu, nº 111, O resultado do grande obra dos que querem purificar a opinião pública
Saúde, São Paulo - SP CEP: 04302-000 pela repressão é mandar mais negros e pobres para as masmorras para
serem torturados e trucidados pela Estado, pois foi para eles que esse
Correspondência: Todos os pedidos
de assinaturas ou de informação
sistema foi contruido, reforçando ainda mais a opressão do negro e dos
sobre as publicações das Edições pobres. Para aqueles que lutam efetivamente pela libertação do negro,
Causa Operária, devem ser enviadas a defesa da liberdade de expressão, do negro poder criticar o poder e
para: joaocandidopco@gmail.com denunciar sua situação, bem como a luta pela destruição do sistema car-
cerário nacional é essencial.
FOTO DA CAPA: Tiago Macambira
Demagogia

PL das torcidas é golpe para


atacar o futebol brasileiro
Burguesia utiliza reivindicações dos povos oprimidos para atacar
o patrimônio cultural brasileiro mais popular, o futeboldirigente
nacional Partido da Causa Operária
Um novo Projeto de Lei para falar em nome das Dando seguimento às falas genéricas da advoga-
mulheres e dos oprimidos nos ambientes culturais da, outra especialista em direito espor vo, Luiza Soa-
está tramitando no Congresso Nacional. No dia 29 de res, afirmou que é importante que os cân cos da tor-
junho, o PL 549/2019 foi aprovado pela Comissão de cida e cartazes sejam vistos como “objetos capazes
Esporte da Câmara dos Deputados e seguirá para vo- de promover violência para efeitos da aplicação do
tação nas comissões de jus ça e da mulher. Segundo Estatuto do Torcedor”. Em outras palavras, segundo
os especialistas consultados pela imprensa golpista, a entrevistada, a PL é boa, pois agirá no combate ao
a medida é posi va. machismo, racismo e demais preconceitos presentes
Uma advogada especialista em direitos despor- nos estádios pelo cantos dos torcedores.
vos e direitos humanos, chamada Alessandra Am- A proposta central da PL é, segundo consta escri-
brogi, disse aos portais burgueses de no cia que, no to, proteger as mulheres de “qualquer ação ou omis-
contexto atual, é “asser vo o PL que traz à luz o pre- são baseada no sexo que lhes cause risco de morte,
conceito e discriminação em face às mulheres, por- lesão, sofrimento sico, sexual, psicológico ou dano
que além de oportunizar e renovar a necessidade de moral ou patrimonial”, de forma ampla e genérica,
proteção nos ambientes despor vos, também busca sem explicitar quais formas concretas promovem tais
conscien zar a sociedade que a promoção da igual- problemas. Em compensação, o racismo, machismo
dade entre homens e mulheres depende do trabalho e homofobia são lembrados nominalmente.
conjunto de toda a humanidade”. Inicialmente, exis am dois projetos de lei diferen-

Transvestindo-se de defesa à mulher, os relatores do projeto cooptam uma causa


para reforçarem o coro imperialista de ataque às representações nacionais do nosso povo
tes. Um visava a censura de causas exclusivas ao dis- futebol foi elevada ao patamar de san dade que um
curso de proteção da mulher, enquanto o outro dizia juiz da Suprema Corte imagina obter, colocando-se
proteger a figura feminina em eventos públicos de em um pedestal cuja ofensa recebida seria conside-
entretenimento. A PL 549/2019 se apresenta como a rada um ultraje ou um ataque aos direitos democrá-
união de ambos os textos. cos.
Caso este projeto de lei, que visa atacar principal- Afinal de contas, quem decide o que é ofensivo
mente as torcidas organizadas, seja aprovado, será ou não são as mesmas autoridades que fecham seus
responsabilidade dos organizadores dos eventos pú- olhos ao desemprego e à fome. Nesse sen do, é um
blicos de entretenimento, dentre outras obrigações, po de julgamento proveniente de elementos com-
que não existam “músicas com letras discriminatórias pletamente alinhados com a polí ca da burguesia de
ou o porte de cartazes, fantasias, bandeiras ou sím- opressão à classe operária brasileira. Logo, servirá,
bolos discriminatórios ou que incen vem qualquer também no futebol, para tal, a começar, como foi no
forma de violência ou assédio contra as mulheres”. passado, pelas torcidas organizadas.
Transves ndo-se de defesa à mulher, os relatores No final, é ainda mais um ataque à liberdade de
do projeto cooptam uma causa para reforçarem o expressão. Cada vez mais, fica claro o tamanho da
coro imperialista de ataque às representações nacio- ofensiva da burguesia contra os direitos democrá -
nais do nosso povo. Com o seguir do texto, aprovado cos fundamentais do povo.
na Comissão, não será permi do “portar cartazes, Além disso, por meio de tal demagogia, a burocracia es-
bandeiras, símbolos ou outros sinais com mensagens tatal se alinha ainda mais ao imperialismo na luta contra o
ofensivas”. De forma prá ca, a figura de um juiz de direito do brasileiro assis r ao bem cultural mais popular
do País: o futebol.
A argumentação
de gritos machis-
tas nos estádios já
foi usada anterior-
mente para calar
torcedores, bem
como punir clubes
inteiros. Agora, não
será diferente.
É preciso de-
nunciar esse ata-
que sistemá co
ao nosso futebol,
à nossa cultura.
Defender a liber-
dade de expres-
são dos torcedo-
res, assim como
de qualquer ci-
dadão, é se po-
sicionar contra a
repressão policial
de um Estado
burguês cujos in-
teresses nunca se
aliarão à classe
operária. Sempre
servirão às po-
tências imperia-
listas contra os
países que tenta-
rem se levantar
da opressão.
Morre o ex-presidente de Angola,
José Eduardo dos Santos
A Luta contra o imperialismo e o colonialismo marca as história desse grande africano

O ex-presidente de Angola José Eduardo dos ços militares finais da guerra de independência. Com
Santos, que por quase quatro décadas governou a proclamação da independência de Angola, a 11 de
o país, morreu aos 79 anos, nesta sexta-feira (8) novembro de 1975, foi nomeado Ministro das Rela-
segundo informe do governo angolano em uma ções Exteriores.
rede social. No Congresso do MPLA realizado em dezembro de
Dos Santos morreu em Barcelona, onde estava in- 1977, Eduardo dos Santos foi reeleito para o Comité
ternado desde 23 de junho após sofrer um acidente Central. Em dezembro de 1978 foi movido do posto
vascular cerebral. Ele se tratava de uma doença na de Vice-Primeiro-Ministro para o de Ministro do Pla-
cidade espanhola havia vários anos, o que o levou a nejamento e Desenvolvimento Econômico.
deixar Luanda em 2019, dois anos depois de sair da Em 10 de setembro de 1979, com a morte do pri-
Presidência. Ele retornaria a Angola em 2021. meiro presidente de Angola, Agos nho Neto, um dos
Nascido em 28 de agosto de 1942 de pais imigran- líderes do MPLA, Lúcio Lara, convoca com urgência
tes do arquipélago de São Tomé, Dos Santos foi cria- um congresso extraordinário do par do. Assim, José
do no bairro pobre do Sambizanga, em Luanda. Seu Eduardo dos Santos foi eleito Presidente do MPLA a
pai era pedreiro, e sua mãe, empregada domés ca. 20 de setembro do mesmo ano.
Em 1961, aos 19 anos, José Eduardo dos Santos José Eduardo dos Santos é colocado no cargo en-
junta-se ao MPLA, o Movimento Popular de Liberta- tão de presidente da República Popular de Angola e
ção de Angola, que luta contra o colonialismo portu- comandante-em-chefe das Forças Armadas Popula-
guês. Em 1963, é enviado com uma bolsa de estudos res de Libertação de Angola (FAPLA)Também foi elei-
para a União Sovié ca, onde frequenta um curso de to Presidente da Assembleia do Povo a 9 de novem-
Engenharia Petroquímica em Baku, capital do atual bro de 1980.
Azerbaijão. Dos Santos também tem aulas de comu- Apesar de todo ataque do imperialismo e da im-
nicação militar e regressa a Angola em 1970. prensa golpista contra seu governo e seu par do,
Em 1974 Angola ainda era um território português José Eduardo dos Santos resis u. Havia avisado que
conhecido como Estado de Angola. Eduardo dos San- iria abandonar a polí ca em 2018, porém começou
tos desempenhou um papel significa vo nos esfor- tratamento pouco antes do ano previsto.
Lula, Bolsonaro e terceira via: qual o
papel do negro na atual crise política
O ano de 2022 já teve início
com um acontecimento interna-
cional de enorme envergadura:
a operação militar da Rússia na
Ucrânia. Mais de quatro me-
ses depois, a operação con nua
de pé e está causan- d o
uma crise como não s e
via há muitas décadas n a
Europa e nos Estados Unidos.
Como consequência do conflito,
o primeiro-ministro Britânico, Bo-
ris Johnson, renunciou, enquanto
o presidente norte-americano Joe
Biden amarga uma desaprovação
inacreditável para apenas um ano
e meio de governo.
Neste mesmo ano, em que ex-
plodem crises polí cas em toda
sorte de país, desde os mais mi-
seráveis, como Sri Lanka, aos que
controlam a economia mundial, o
Brasil passará pela sua 9ª eleição
presidencial desde a promulga-
ção da Cons tuição Federal de
1988. Como reflexo inevitável da
situação polí ca internacional,
essas eleições prometem ser uma
das mais turbulentas dos úl mos
anos.
Há muito em jogo, de modo
que o cenário se encontra bastan-
te imprevisível. Cabe, no entanto,
a pergunta: diante de tamanha
crise, qual deve ser o papel do
movimento negro nas eleições?
Qualquer resposta séria a essa
pergunta deve, necessariamente,
levar em conta os fatores que es-
tão colocados. Isto é, em todo o
mundo, vemos se delinear, cada
vez mais claramente, o conflito
entre os dominadores — aque-
les predadores sanguessugas que
vivem às custas do sangue e do
suor do povo — e entre os opri-
midos. Um conflito entre aqueles
que, por meio de exemplos posi -
vos como o enfrentamento dos afegãos aos Estados, diferentemente dos demais, tenha uma base social
a operação militar na Ucrânia e mesmo as resistên- relevante, encontrada sobretudo na pequena bur-
cias chavista e sandina, viram a fragilidade dos pode- guesia, Bolsonaro é igualmente um refém dos capi-
rosos e se rebelaram, contra esses poderosos que, talistas, na medida em que é incapaz de vencer uma
vendo seu poder contestado, se revelam cada vez eleição sozinho ou se manter na presidência. Como
mais agressivos. demonstrado em seu governo, Bolsonaro é um lesa-
A face agressiva desse conflito no Brasil é repre- -pátria, que bate con nência para os Estados Unidos,
sentada por aqueles que conspiraram contra o go- um entreguista, que priva zou a Eletrobras, e um ini-
verno do PT em 2016. migo dos trabalhado-
Isto é, o conjunto da res, que levou adiante
direita golpista — STF, a reforma da Previdên-
Congresso, imprensa “O regime polí co cia. Bolsonaro é, assim,
e Ministério Público o “plano B” dos capita-
— e a extrema-direi- brasileiro está hoje nas listas, caso a impopular
ta bolsonarista. São Terceira Via não decole.
aqueles que contro- mãos dessa corja golpista. A única candidatura
lam as tais “ins tui- importante que vai na
ções democrá cas”, E o que está em jogo, contramão disso é a do
que de democrá cas ex-presidente Lula. Isto
não têm nada. São os portanto, é a luta para é, aquela apoiada por
maiores inimigos do milhões de trabalhado-
povo, pois respondem
unicamente aos in-
derrubar esse regime. As res que vêem em sua
candidatura uma fer-
teresses escusos dos
grandes capitalistas.
eleições,embora não sejam ramenta para a derru-
bada do regime. Inde-
O regime polí co
brasileiro está hoje
um retrato perfeito da luta pendentemente do que
pensa Lula ou do que
nas mãos dessa cor-
ja golpista. E o que
de classes, expressam, querem os seus alia-
dos, a candidatura de
está em jogo, portan-
to, a luta para derru-
em grande medida, o Lula é vista pelas mas-
sas como uma oportu-
bar esse regime. As
eleições,embora não
conflito latente: o povo nidade de reverter os
ataques da direita gol-
sejam um retrato per-
feito da luta de clas-
cada vez mais enfurecido pista. Eis aí a sua força.
Visto desse ponto
ses, expressam, em
grande medida, o con-
versus os poderosos de vista, o movimento
negro não teria outra
flito latente: o povo
cada vez mais enfure-
que vem mandando opção neste caso a não
ser apoiar a candidatu-
cido versus os podero-
sos que vem mandan-
no País.” ra de Lula. Do contrá-
rio, estaria contribuin-
do no País. do para dispersar um
A “cara” do regime polí co nas eleições é a chama- movimento gigantesco, de enorme potencial e que
da Terceira Via, a candidatura dos banqueiros, mono- já é real: o das massas por Lula presidente.
pólios e grandes empresários. É formada pelos polí- A burguesia é ciente disso. E é justamente por
cos profissionais, sem vínculo algum com o povo e isso que tem tentado, de todo modo, impedir a
verdadeiros capachos dos capitalistas. Figuras como unidade dos oprimidos e trabalhadores pela can-
Simone Tebet — a mais cotada para ser a candidata didatura de Lula. Pela direita, a burguesia procura
da Terceira Via —, Ciro Gomes ou Rodrigo Janones assediar uma parte do eleitorado lulista para a Ter-
viveram toda a sua vida sustentados pelos capitalis- ceira Via, sob o argumento de que seria necessário
tas e são, portanto, seus representantes tradicionais. um candidato “anti-polarização”. Pela “esquerda”,
O presidente ilegí mo Jair Bolsonaro, embora te- a burguesia estimula candidaturas como a do ne-
nha uma trajetória dis nta dos demais, é também gro Leonardo Péricles, da Unidade Popular pelo
um representante dos mesmos interesses. Embora, Socialismo (UP) ou a da mulher Sofia Manzano
Ciro Gomes ou Rodrigo Janones viveram toda
a sua vida sustentados pelos capitalistas e são,
portanto, seus representantes tradicionais

(PCB), destacando as limitações da política de Lula.


Em ambos os casos, tratam-se de um engodo. A
Terceira Via é uma candidatura oposta aos interesses
dos apoiadores de Lula e as candidaturas da esquer-
da, em seu turno, são inviáveis eleitoralmente, ser-
vindo apenas à dispersão.
O truque para tal, no entanto, é o iden tarismo.
Isto é, a burguesia e a esquerda pequeno-burguesa
a seu reboque tem buscado mostrar que os interes-
ses de classe estão abaixo dos interesses de raça ou
gênero. Por isso, o negro, por exemplo, não deveria
votar em Lula, mas sim em Leonardo Péricles. E a
mulher, por sua vez, deveria votar em alguém como
Simone Tebet ou Sofia Manzano.
É um verdadeiro golpe na praça. A vida do negro
não melhorá em nada se ver um negro na presi-
dência — e neste caso sequer isso é possível, pois o
candidato negro terá uma votação irrisória —, assim
como a vida da mulher não melhorará com Simone Facebook: Cole vo de Negros João Cândido
Tebet. A única maneira de libertar os oprimidos é en- h ps://www.facebook.com/cole vojoao
frentando os seus verdadeiros opressores. E, neste E-mail: joaocandidopco@gmail.com
caso, a única forma de fazer isso é apoiando a candi- Telefone para contato: (11) 95208-8335
datura capaz de derrotar os representantes diretos Instagram: @joaocandido.pco
do imperialismo e sua polí ca vampiresca no Brasil.
GCM

Fora polícia fascista das escolas!


Ocupação da GCM em escola municipal de São Paulo evidencia a violência policial contra os jovens

As liberdades individuais e os direitos democrá cos leiras estão dispostas a calar pela força das armas a voz
estão sendo pouco a pouco rados da população po- inclusive das crianças dentro das salas de aulas. Final-
bre e trabalhadora através do braço armado do Estado mente, se trata das milícias fascistas do Estado agindo
burguês. para conter de todas as formas possíveis e imagináveis
A violência do Estado contra o povo foi levada para a luta da população por seus direitos, pela sua sobrevi-
dentro das escolas, com forte repressão aos alunos e vência, aplicando o terror até mesmo nas crianças.
aos professores que procuram fazer milagres para ga- As denúncias por parte dos pais dos alunos e dos
ran r um aprendizado minimamente digno aos estu- professores incluem uma série de fatos de ocorrências
dantes apesar das péssimas condições e abandono das co dianas na escola, tais como a incapacidade da dire-
escolas públicas no País. tora de colocar ordem na escola, de dialogar com a co-
O caso mais grotesco foi o que ocorreu na es- munidade de professores, funcionários, alunos e seus
cola municipal Pedro Nava no Butantã, zona oeste pais, e ouvir suas reivindicações.
da capital paulista. Pais de alunos e
professores informam que agentes
da GCM (Guarda Civil Metropolita-
na) jogaram gás de pimenta nos alu-
nos com idade entre 10 e 14 anos de
idade.
Um vídeo mostra a situação des-
ses alunos, com irritação nos olhos,
na pele, boca, chorando e passan-
do mal com o ardor provocado pelo
gás de pimenta. Se para uma pessoa
adulta é difícil suportar esse gás,
imaginem uma criança? E onde fi-
cam os direitos das “crianças e ado-
lescentes”? Foram, igualmente aos
demais direitos, jogados direto na
lata de lixo.
Esses pais e professores dizem que a
GCM faz rondas armadas diariamente
nos pá os e corredores de sala de aula.
Isso provoca uma cena de terror nas
crianças, diariamente, num local onde
elas vão para se instruir e desenvolver o
convívio com demais pessoas. Com toda
essa violência por parte da GCM do es-
tado, o que esperar que vão reproduzir
na sociedade quando adultos?
A prefeitura diz que recebeu a de-
núncia e vai apurar os fatos, e garan u
que faz parte da polí ca de gestão do
município os agentes da GCM fazerem
rondas armados diariamente no interior
das escolas.
São Paulo e as demais cidades brasi-
Afirmam, ainda, que a diretoria não dá a devida certeza vai deturpar esse processo é a presença do
atenção aos problemas levados pelos professores como estado armado dentro da escola, principalmente
situações de bullying, bem como casos de violência e quando esse estado apresenta o padrão fascista
agressão entre os alunos e contra os professores, levan- de comportamento. A criança vai aprender que o
do a um alto grau de adoecimento de docentes, que mundo é mais violento do que está acostumada a
estão registrados em atas das reuniões deles. perceber no dia a dia.
Todos que passaram pelos bancos escolares, A escola é lugar para reflexão e discussão de
desde a infância, sabem que é comum as diver- tudo o que acontece na sociedade e nas ciências
gências e agressões entre as crianças, que estão sem censura. Um espaço aberto ao desenvolvi-
aprendendo a se relacionar com outras crianças e mento do senso crítico, formando seres capazes
no futuro com outros adultos. É nesse ambiente de desenvolver a sociedade levando-a à prospe-
que vão percebendo quais atitudes dão bons re- ridade. Portanto, não pode haver, em hipótese
sultados e quais são prejudiciais. Assim, formando nenhuma, a presença do estado armado nesses
uma personalidade adaptada ao convívio social. locais. Apenas alunos, professores e funcionários.
O papel da escola nesse processo é muito im- A GCM e a polícia tem que ficar fora das escolas
portante, discutindo os problemas que ocorrem para sempre. O poder de polícia na sociedade pre-
no interior da escola relacionando-os com a vida cisa ser feito, urgentemente, por conselhos popu-
social. Esse é o aprendizado que vai além do co- lares dentro das escolas, de bairros e de empresas.
nhecimento científico proporcionado. Com amplos poderes para nomear e substituir de
É o processo de socialização em curso na socie- imediato por esse conselho.
dade, que começa em casa com os pais e segue Nesse sentido, é preciso lutar para que as polí-
no interior das escolas. Que tipo de pessoa vai cias, braços armados do estado burguês imperia-
resultar disso vai depender de como será levada lista, devem ser extintas o quanto antes e substi-
toda essa situação pro parte do corpo docente e tuídas pela população organizada em conselhos
demais responsáveis pelas crianças. O que com populares.

GCM no interior da escola não é para proteção, é para violentar as crianças – Foto: Reprodução
Pacto da branquitude: a nova ideologia
da esquerda pequeno-burguesa
A concepção iden tária sobre a questão negra, que cen metros da classe média negra nos governos do Par -
domina setores da esquerda pequeno-burguesa, é, via de do dos Trabalhadores, o negro ainda não conseguiu livre
regra, uma concepção puramente idealista, isto é, faz deri- acesso aos postos de comando nas empresas, no poder
var a realidade de uma ideia ou de uma dada mentalidade, do estado ou em qualquer lugar; os menbros dessa classe
consciência. média ainda sente o gosto amargo do preconceito, em-
Assim, o racismo como ideologia, a consciência que se- bora deixando para trás a condição de pobreza pica dos
para e hierarquiza as pessoas em raças dis ntas, aparece negros, o racismo os acompanha a cada passo.
como o demiurgo da realidade material, é por que as pes- Aparece então a questão da chamada branquitude,
soas ou a sociedade é racista que os negros no Brasil são os brancos, nessa concepção, considera o modelo de ser
oprimidos. É o caso do chamado racismo estrutural, cujo humano, rechaçando o diferente sistema camente, um
estrutural, diferentemente do que se poderia pensar, se mecanismo psicológico que atua em todos os âmbitos. Na
refere às estruturas ideológicas que formam os indivíduos disputa por um emprego, um negro com melhor qualifia-
na sociedade. ção profissional perde sistema camente para um branco,
Transposto para o campo polí co, esta concepção geral mesmo com menor qualificação, é o mecanismo de defe-
é base para uma polí ca reformista tacanha. Consideram sa da branquitude agindo.
fundamental a mudança da mentalidade, libertar as pes- Esse mecanismo foi chamado de pacto narcísico da
soas da falsa consciência, racista, em que foram formadas branquitude por alguns teóricos dessa concepção. Mais
e promover uma formação an rracista para as novas gera- uma vez temos uma explicação psicológica para um pro-
ções. Evidentemente, que o elemento branco, e mais es- blema social fundamental do país: a opressão do negro.
pecificamente a pequena-burguesia e burguesia brancas, A questão está, na perspec va pequeno-burguesa,
tem aqui o papel preponderante, pois é fundamentalmen- apoiada sobre a cabeça, além de totalmente deformada
te para ele que se dirige essa polí ca. Essa polí ca não se pelos interesses imediatos da pequena-burguesia negra,
dirige a organizar as massas negras para uma luta tenaz seu desejo de se incorporar imediatamente, e em pé de
contra o poder, que no Brasil está nas mão de uma burgue- igualdade com os feno picamente brancos, nos estratos
sia feno picamente branca e que se apoia num setor da superiores da sociedade atual os impedem de ver a rea-
pequena-burguesia, em favor dos direitos democrá cos lidade e os impelem a fantasiar a situação com uma solu-
todos, mas para uma polí ca de mudança das mentalida- ção irreal, a mudança da mentalidade sem tocar nas bases
des e prá cas dessa classes que excluem ou dificultam a econômicas da sociedade.
ascenção social do negro. O racismo como ideologia, não surgiu na cabeça das
Ocupar espaços de poder, valorização da cultura, que pessoas como mundo na mitologia cristã, isto é, do nada.
eles consideram ser a cultura negra, e até mesmo susten- O racismo não é mais que um reflexo na consciência de
tar uma iden dade negra superior a iden dade nacional, uma situação de fato, ainda que este reflexo não coincida
há quem sustente que o negro não é brasileiro, mas um exatamente com a realidade, isto é seja inver do, defor-
afrodisporico, dentre outras coisas tem por obje o funda- mado, assim a opressão de uma parcela da população e
mental atuar na consciencia do branco para que reconhe- as consequências dessa opressão aparecem na consci-
ça a humanidade dos negros e seus direitos. Uma polí ca ência na forma de uma jus fica va, uma vez que o atual
totalmente falida, a burguesia usa uma minoria de negros, desenvolvimento econômico e os interesses da classe do-
que privilegia, para seus proprios interesses, seja para re- minante não podem superar essa situação, de espoliação
forçar a repressão, com a suposta perseguição as opiniões de uma parcela da sociedade. A situação do desfavoravel,
racistas, que é na verdade uma maneira de destruir a liber- “inferior” negro nesse regime e a situação dos estratos
dade de expressão e que essa esquerda pequeno-burgue- superiores superioridade natural de uns e inferioridade
sa apoia, seja para distensionar a situação, apresentando- natural de outros. A questão, no entanto, está na base da
-se como an rracista. econômica da sociedade.
Essa polí ca nunca deu resultado posi vo para as O fato do negro, por exemplo, não ser contratado em
massas negras no Brasil, seu fracasso retumbante, criou, uma empresa mesmo tendo as qualificações, por vezes
naqueles que acreditam nesta polí ca, a ideia de que há superiores aos concorrentes, se dá pelo fato que o pre-
uma resistência (psicológica) profunda nos brancos, que ço da mão de obra geral no mercado tem diferança no
temem os negros. Mesmo com o alargamento de alguns Brasil entre a negra e branca; O valor médio da mão de
obra negra é menor que o valor médio da mão de obra
da população branca, assim como o valor médio da
mão de obra operária é inferior que o valor da mão de
obra operária da pequena-burguesia. O mercado capi-
talista tende a pagar menos pela mão de obra negra e,
portanto, excluí-los dos postos de maior salário. Signifi-
ca claramente que a igualdade plena brancos e negros
elevaria o preço da mão de obra em geral, o que não é
desejavel ao mercado capitalista.
Por uma série de fatores importante, que não podemos
tocar aqui, a burguesia brasileira edificou o regime sob a
base da opressão do negro, marginalizando-o e iden fi-
cando-o (pela cor) como o elemento mais baixo da hierar-
quia social, com isso forçou o preço da mão de obra geral
para baixo, criando uma massa de pessoas marginalizadas.
Isso decorre do caráter do capitalismo brasileiro, que é in-
capaz de incorporar essa massa da população em pé de
igualdade com as demais. O negro aparece assim como a
personificação da mão de obra mais desqualifida e a re-
serva de mão de obra por exelencia.
Tanto a classe operária mais qualificada, mas so-
bretudo a classe média sentem-se ameaçados com a
expansão do negro sem a conseguente expansão da
economia brasileira, que elvaria a uma maior concor-
rencia do controle de determinado setores da a vidade
economica da atual classe média branca. A pequena
burguesia atua como uma corporação, como as organi-
zações médicas, que procuram estabelecer um controle
para que não haja muitos médicos, para evitar maior
concorrência e, consequentemente, queda salarial,
embora o país necessite urgentemente de mais médi-
cos. O medo da concorrência e da ruína econômica que
ele pode trazer reforça o preconceito racial.
A concepção pequeno-burguesa considera ser um
pacto da branquitude, uma necessidade pcsicologica
do branco em rechaçar o negro mo vada pelo racismo.
Realizam, muitas vezes, apelos paté cos e moralistas
ao branco para que tome consciência deste pacto e
rompa-o. Desconsidera totalmente a situação econô-
mica do país.
O negro somente poderá deixar a condição de popu-
lação oprimida, realizando uma luta tenaz pelos dire-
tos democrá cos contra a burguesia e o Estado que os
oprimem pela forças dos aparatos estais para mante-
-los nessa situação sem se revoltarem, no limiar a eco-
nomia capitalista atual é incapaz de dar uma solução
democrá ca para o problema, por isso, a luta de liber-
tação do negro do es gma social encontra a luta dos
demais setores operário contra a propriedade privada,
que nessa quadra histórica limida o desenvolvimento
economico. A luta do negro em ul ma instancia é tam-
bém a luta pelo socialismo, unico regime capaz de per-
mi r a emancipação de toda a sociedade e não apenas
de parte dela.
A luta pelo salário e pela redução da
jornada de trabalho são vitais para a
população negra no Brasil de hoje

O golpe de 2016, e suas fases subsequentes pavimentou o terreno para os capitalistas internacionais avançarem
sobre o país de uma forma avassaladora, tornando a classe operária brasileira alvo desse ataque
O ano de 2022 tem sido marcado por aconteci- Os dados oficiais apresentam uma taxa de de-
mentos que indicam que este será um um “divisor de semprego em torno de 10%, nos úl mos meses, o
águas” na história recente do país. Se por um lado o que significaria que 10,6 milhões de pessoas esta-
desfecho eleitoral poderá jogar o país ainda mais nas riam desempregadas. Porém, este número envolve
mãos dos tubarões capitalistas internacionais, caso só aqueles adultos que procuraram emprego nos
de uma reeleição do fascista Jair Bolsonaro, por ou- úl mos meses, aqueles que desis ram ou não são
tro lado poderá ter a possibilidade de amortecer os detectados nas pesquisas, são elencados em outras
sintomas da crise econômica e social e trazer consigo categorias que não compõem a taxa de desemprego,
uma perspec va de luta contra a burguesia local e uma manipulação.
internacional. Estes números, divulgados pelo governo
Em ambos casos um pano de fundo estará presente Bolsonaro (IBGE dirigido por parceiros políticos)
inexoravelmente, a crise econômica e o aprofundamen- não trazem a realidade da situação, representam
to dos seus efeitos, aumento do desemprego, da fome, apenas uma parte da massa proletária que não tem
dos desabrigados, ou seja, da precarização generalizada uma atividade regular para se sustentar. Segundo
das condições de vida da classe trabalhadora. o próprio órgão, a população economicamente ati-
O golpe de 2016, e suas fases subsequentes (fim va (PEA) - pessoas adultas em condições de tra-
dos programas sociais, cassação de vários direitos balhar - atual é de 108 milhões, sendo que 97,5
trabalhistas, prisão do ex-presidente Lula, eleição de milhões estavam ocupados (pessoas que exercem
Bolsonaro, priva zação de empresas estatais), pavi- alguma atividade formal, informal, remunerada ou
mentou o terreno para os capitalistas internacionais não), ou seja, os dados são manipulados para que
avançarem sobre o país de uma forma avassaladora, a situação não pareça tão grave.
tornando a classe operária brasileira alvo desse ata- De forma complementar, dados sobre o avanço da
que em massa. fome confirmam as manipulações de informações.
Diversas pesquisas de 2022, mostram o mesmo qua- jornada para 6 ou 5 horas, por exemplo, é uma
dro, a fome em algum grau a nge cerca de 15% da opção plenamente possível na economia brasi-
população ou mais de 33 milhões de pessoas. Núme- leira e ainda faria uma transferência imediata de
ros que só crescem nos úl mos anos, principalmente renda da burguesia para os trabalhadores, en-
quando o desemprego e a inflação dos alimentos e fraquecendo o seu poder.
itens de primeira necessidade avançam mês a mês. Para fazer este cenário catastrófico se tornar fa-
vorável a este avanço sobre a dominação da bur-
A luta pelo salário e condição de vida guesia é necessário mobilizar os trabalhadores
onde eles estão, nos locais de trabalho, nos bairros
Este é o quadro pós golpe de Estado e de uma cri- operários, criando comitês de luta por categorias,
se internacional do sistema capitalista que está em por rua, por bairros, buscando aglutinar os traba-
franca expansão e está assolando trabalhadores por lhadores e colocá-los na linha de frente desta luta,
todo o mundo até mesmo nos países de economia retirando obstáculos como a burocracia sindical,
desenvolvida, mas em que toma conta da di-
par cular os traba- reção dos sindicatos em
lhadores dos países
oprimidos como do “A luta pelo emprego todo o país, afastar tam-
bém a política pelega e
Brasil, carregam este
peso ainda mais in- formal, por salários, pela desagregadora de pseu-
do intelectuais ou falsos
tensamente. Como a
sociedade capitalista é redução da jornada de líderes da esquerda e de
movimentos populares,
estra ficada em clas-
ses e, em nosso país, a trabalho é a luta essencial grupos que buscam co-
locar a classe operária
classe operária (a mais a reboque de políticas
explorada) é cons tu- para o trabalhador direitistas como pedir
ída majoritariamente à justiça que impeça as
por negros, esta tem brasileiro e ainda mais atrocidades do governo
desafios muito claros semi facista, que acabe
a enfrentar. Lutar por para o povo negro. Não com a brutalidade poli-
uma polí ca de criação cial e todos os ataques
de empregos, de valo- há maneira melhor de da burguesia.
rização constante dos A luta pelo emprego
salários e redução da avançar nos aspectos formal, por salários, pela
jornada de trabalho. redução da jornada de
Os três pontos estão sociais do que renda trabalho é a luta essencial
ligados e fazem parte para o trabalhador brasi-
de uma polí ca de in- estável e suficiente, leiro e ainda mais para o
ves mento na econo- povo negro. Não há ma-
mia nacional antes de moradia digna, neira melhor de avançar
tudo, pois para isso é nos aspectos sociais do
preciso acabar com a saúde e educação que renda estável e su-
polí ca de priva za- ficiente, moradia digna,
ções e espoliação das para a família” saúde e educação para a
empresas estatais, família. Somente a par r
inves mentos nos se- do atendimento destes
tores vitais e estratégicos para a economia e para pontos básicos para uma família operária é possível
o povo brasileiro como energia, saúde, habitação, começar a se discu r, problemas como oportunida-
construção civil e infra-estrutura, agropecuária, por des em universidades, acesso a cultura e lazer, por
exemplo. exemplo.
A redução da jornada de trabalho e manuten- Desta forma, a massa operária negra deve apro-
ção dos salários é uma ferramenta fundamental veitar a luta pela eleição do ex-presidente Lula, como
para, de forma quase imediata, aumentar dras- um autên co representante da classe, para impulsio-
ticamente o número dos postos de trabalho re- nar a luta já por estes itens essenciais, seja Lula o
duzindo a massa desempregada. A redução da presidente em 2023 ou não.
Vladmir Lenin, julho 1920, parte I

Esboço inicial das teses sobre


as questões nacional e colonial
(PARA O II CONGRESSO DA INTERNACIONAL COMUNISTA)

Propondo para discussão dos camaradas o se-


guinte projecto de teses sobre as questões nacional
e colonial para o II Congresso da Internacional Co-
munista, pediria a todos os camaradas, em par cular
aos camaradas que têm informações concretas sobre
uma ou outra destas complexíssimas questões, que
dêem o seu parecer ou apresentem as suas correc-
ções e acrescentos ou esclarecimentos concretos da
forma mais breve (não mais de duas ou três páginas),
em par cular sobre os seguintes pontos:

•Experiência austríaca.
•Experiência polaco-judaico e ucraniana.
•Alsácia-Lorena e Bélgica.
•Irlanda.
•Relações dano-germânicas. Italo-francesas e
ítalo-eslavas.
•Experiência balcânica.
•Povos do Oriente.
•Luta contra o pan-islamismo(N193).
•Relações no Cáucaso.
•Repúblicas da Bachquíria e da Tartária.
•Kirguizistão.
•Turquestão, sua experiência.
•Negros na América.
•Colónias.
•China - Coreia - Japão.

1. Da democracia burguesa, pela sua própria na-


tureza, é próprio um modo abstracto ou formal de
colocar a questão da igualdade em geral, incluindo
a igualdade nacional. Sob a aparência da igualdade
da pessoa humana em geral, a democracia burgue-
sa proclama a igualdade formal ou jurídica entre o
proprietário e o proletário, entre o explorador e o
explorado, induzindo assim no maior erro as classes
oprimidas. A ideia de igualdade, que é em si mes-
ma um reflexo das relações da produção mercan l, é
transformada pela burguesia numa arma de luta con-
tra a supressão das classes, sob o pretexto de uma
pretensa igualdade absoluta das pessoas humanas.
O verdadeiro sen do da reivindicação da Igualdade
consiste apenas em reivindicar a supressão das clas-
ses.
2. De acordo com a sua tarefa fundamental de lu- Sovié ca da Rússia, que agrupa necessariamente em
tar contra a democracia burguesa e desmascarar a torno de si, por um lado, os movimentos sovié cos
sua falsidade e hipocrisia, o par do comunista, como dos operários avançados de todos os países e, por
intérprete consciente da luta do proletariado pelo outro lado, todos os movimentos de libertação na-
derrubamento do jugo da burguesia, deve, também cional das colónias e das nacionalidades oprimidas,
na questão nacional, considerar como o mais impor- que se convencem pela amarga experiência de que
tante não princípios abstractos nem formais, mas, não há salvação para elas senão na vitória do Poder
primeiro, uma apreciação precisa da situação históri- Sovié co sobre o imperialismo mundial.
ca concreta e, antes de mais, da situação económica; 6. Consequentemente, não é possível limitar-se,
segundo, uma dis nção muito clara entre os interes- na actualidade, a reconhecer ou proclamar simples-
ses das classes oprimidas, dos trabalhadores, dos ex- mente a aproximação dos trabalhadores das diferen-
plorados, e o conceito geral dos interesses populares tes nações, mas é preciso aplicar uma polí ca que re-
no seu conjunto, o que significa os interesses da clas- alize a mais estreita aliança de todos os movimentos
se dominante; terceiro, uma diferenciação igualmen- de libertação nacional e colonial com a Rússia Sovié-
te clara entre as nações oprimidas, dependentes, ca, determinando as formas dessa aliança de acor-
não soberanas, e as nações opressoras, explorado- do com o grau de desenvolvimento do movimento
ras, soberanas, por oposição à men ra democrá co- comunista no seio do proletariado de cada país ou
-burguesa que dissimula a escravização colonial e do movimento democrá co-burguês de libertação
financeira, própria da época do capital financeiro e dos operários e camponeses nos países atrasados ou
do imperialismo, da imensa maioria da população da entre as nacionalidades atrasadas.
terra por uma insignificante minoria de países capita- 7. A federação é uma forma transitória para a
listas avançados e muito ricos. unidade completa dos trabalhadores das diferen-
3. A guerra imperialista de 1914-1918 revelou com tes nações. A federação demonstrou já na prá ca a
par cular clareza perante todas as nações e peran- sua conveniência tanto nas relações da RSFSR com
te as classes oprimidas de todo o mundo a falsida- as outras repúblicas sovié cas (húngara, finlandesa,
de das frases democrá co-burguesas, mostrando na letã(N195), no passado, azerbaijaneza e ucraniana,
prá ca que o Tratado de Versalhes das decantadas no presente), como dentro da RSFSR em relação às
«democracias ocidentais» cons tui uma violência nacionalidades que anteriormente não nham nem
ainda mais feroz e infame sobre as nações fracas do existência estatal nem autonomia (por exemplo, as
que o Tratado de Brest-Litovsk dos junkers alemães repúblicas autónomas da Bachquíria e da Tartária na
e do kaiser. A Sociedade das Nações e toda a polí ca RSFSR, fundadas em 1919 e 1920).
do pós-guerra da Entente revelam esta verdade ain- 8. Neste aspecto, a tarefa da Internacional Co-
da mais clara e ni damente, fortalecendo por toda a munista consiste tanto em con nuar a desenvolver
parte a luta revolucionária, tanto do proletariado dos como em estudar e comprovar na prá ca estas novas
países avançados como de todas as massas trabalha- federações que surgem com base no regime sovié -
doras dos países coloniais e dependentes, aceleran- co e no movimento sovié co. Ao reconhecer a fede-
do o desmoronamento das ilusões nacionais peque- ração como forma de transição para a completa uni-
no-burguesas sobre a possibilidade da convivência dade, é necessário procurar estreitar cada vez mais a
pacífica e da igualdade das nações sob o capitalismo. união federa va, tendo em vista, em primeiro lugar,
4. Das teses fundamentais acima expostas decor- a impossibilidade de, sem a mais estreita aliança das
re que na base de toda a polí ca da Internacional repúblicas sovié cas, salvaguardar a existência das
Comunista na questão nacional e colonial deve ser repúblicas sovié cas, cercadas pelas potências impe-
colocada a aproximação dos proletários e das mas- rialistas de todo o mundo, incomparavelmente mais
sas trabalhadoras de todas as nações e países para a poderosas no aspecto militar; em segundo lugar, a
luta revolucionária comum pelo derrubamento dos necessidade de uma estreita aliança económica das
la fundiários e da burguesia. Pois só tal aproximação repúblicas sovié cas, sem o que é irrealizável o res-
garante a vitória sobre o capitalismo, sem a qual é tabelecimento das forças produ vas destruídas pelo
impossível suprimir a opressão e a desigualdade na- imperialismo e a garan a do bem-estar dos traba-
cionais. lhadores; em terceiro lugar, a tendência para criar
5. A situação polí ca mundial colocou agora na uma economia mundial única, considerada como um
ordem do dia a ditadura do proletariado, e todos os todo, regulada segundo um plano geral pelo proleta-
acontecimentos da polí ca mundial se concentram riado de todas as nações, tendência que já se mani-
inevitavelmente em torno de um ponto central, a sa- festou com toda a evidência sob o regime capitalista
ber: a luta da burguesia mundial contra a República e que deve incondicionalmente con nuar a desen-
volver-se até chegar a realizar-se por completo sob verbal de tal reconhecimento) intacto o egoísmo na-
o socialismo. cional, enquanto o internacionalismo proletário exi-
9. No domínio das relações no interior do Estado, ge, primeiro, a subordinação dos interesses da luta
a polí ca nacional da Internacional Comunista não proletária num país aos interesses dessa luta à escala
pode limitar-se ao simples reconhecimento formal, mundial; segundo, exige que a nação que alcançou a
puramente declara vo e que a nada obriga na prá- vitória sobre a burguesia seja capaz e esteja disposta
ca, da igualdade das nações, a que se limitam os a fazer os maiores sacri cios nacionais com vista ao
democratas burgueses, tanto aqueles que se con- derrubamento do capital internacional.
fessam francamente como tais como aqueles que se Assim, nos Estados já completamente capitalistas,
encobrem com a designação de socialistas, como as que têm par dos operários que são verdadeiramen-
socialistas da II Internacional. te a vanguarda do proletariado, a luta contra as de-
Não só em toda a propaganda e agitação dos par - turpações oportunistas e pacifistas pequeno-burgue-
dos comunistas - tanto da tribuna parlamentar como sas do conceito e da polí ca do internacionalismo é a
fora dela -, devem ser incansavelmente desmascara- primeira e principal tarefa.
das as constantes violações da igualdade das nações 11. No que se refere aos Estados e nações mais
e das garan as dos direitos das minorias nacionais atrasados, onde predominam as relações feudais ou
em todos os Estados capitalistas, a despeito das suas patriarcais e patriarcais-camponesas, é necessário
cons tuições «democrá cas», como é preciso tam- ter em vista em par cular:
bém, primeiro, explicar constantemente que só o - 1°, a necessidade de que todos os par dos comu-
regime sovié co está em condições de proporcionar nistas ajudem o movimento libertador democrá co-
de facto a igualdade de direitos das nações, unindo -burguês nesses países; o dever de prestar a ajuda
primeiro os proletários e depois toda a massa dos mais ac va incumbe, em primeiro lugar, aos operá-
trabalhadores na luta contra a burguesia; segundo, rios do país do qual a nação atrasada depende nos
é necessário uma ajuda directa de todos os par dos aspectos colonial ou financeiro;
comunistas aos movimentos revolucionários nas na- - 2º, a necessidade de lutar contra o clero e os ou-
ções dependentes ou que não gozam da igualdade tros elementos reacionários e medievais que têm in-
de direitos (por exemplo, na Irlanda, entre os negros fluência nos países atrasados;
da América, etc.) e nas colónias. - 3°, a necessidade de lutar contra o pan-islamis-
Sem esta úl ma condição, par cularmente im- mo e outras correntes semelhantes, que procuram
portante, a luta contra a opressão das nações de- combinar o movimento libertador contra o imperia-
pendentes e das colônias, do mesmo modo que o lismo europeu e americano com o fortalecimento
reconhecimento do seu direito à separação estatal, das posições dos cãs, dos la fundiários, dos mollahs,
são apenas um rótulo enganador, como vemos nos etc.(1*);
par dos da II Internacional. - 4°, a necessidade de apoiar especialmente o mo-
10. O reconhecimento do internacionalismo em vimento camponês dos países atrasados contra os
palavras e a sua subs tuição de facto, em toda a pro- la fundiários, contra a grande propriedade agrária,
paganda, agitação e trabalho prá co, pelo naciona- contra todas as manifestações ou sobrevivências do
lismo e o pacifismo pequeno-burgueses, cons tui o feudalismo, e empenhar-se em dar ao movimento
fenômeno mais comum não só entre os par dos da camponês o caráter mais revolucionário, realizando
II Internacional, mas também entre os par dos que a união mais estreita possível entre o proletariado
saíram desta Internacional e mesmo não raro entre comunista da Europa Ocidental e o movimento revo-
aqueles que agora se in tulam comunistas. A luta lucionário dos camponeses no Oriente, nas colónias
contra este mal, contra os preconceitos nacionais pe- e nos países atrasados em geral; é necessário, em
queno-burgueses mais arraigados, passa tanto mais par cular, dirigir todos os esforços para a aplicação
para o primeiro plano quanto mais actual se torna a dos princípios fundamentais do regime sovié co aos
tarefa de transformar a ditadura do proletariado de países em que dominam as relações pré-capitalistas,
nacional (isto é, existente num só país e incapaz de pela via da criação de «Sovietes de Trabalhadores»,
determinar a polí ca mundial) em internacional (isto etc.
é, em ditadura do proletariado de pelo menos vários - 5°, a necessidade de lutar resolutamente contra
países avançados, capaz de ter uma influência deci- a tendência para pintar com as cores do comunismo
siva em toda a polí ca mundial). O nacionalismo pe- as correntes libertadoras democrá co-burguesas
queno-burguês chama internacionalismo ao simples nos países atrasados; a Internacional Comunista só
reconhecimento da igualdade de direitos das nações, deve apoiar os movimentos nacionais democrá co-
conservando (sem falar já do carácter puramente -burgueses nas colónias e nos países atrasados na
condição de que os ele-
mentos dos futuros par -
dos proletários, comunis-
tas não apenas de nome,
se agrupem e se eduquem
em todos os países atrasa-
dos para adquirirem plena
consciência das suas tare-
fas especiais, das tarefas da
luta contra os movimentos
democrático-burgueses
dentro das suas respec vas
nações; a Internacional Co-
munista deve concluir uma
aliança temporária com a
democracia burguesa das
colónias e dos países atra-
sados, mas não fundir-se
com ela, mantendo incon-
dicionalmente a indepen-
dência do movimento pro-
letário, mesmo sob as suas
formas mais rudimentares;
- 6°, a necessidade de
explicar e de desmascarar
incansavelmente peran-
te as mais amplas massas
trabalhadoras de todos os A opressão secular das colônias e das nacionalidades fracas pelas potências
países, e especialmente imperialistas deixou nas massas trabalhadoras dos países oprimidos não
dos atrasados, o engano a apenas exasperação mas também desconfiança em relação às nações
que recorrem sistema ca- opressoras em geral, incluindo o proletariado destas nações
mente as potências impe-
rialistas, que, sob a aparência da criação de Estados to, que levam inevitavelmente a uma força e a uma
poli camente independentes, criam Estados inteira- firmeza par culares dos mais profundos preconcei-
mente dependentes delas nos aspectos económico, tos pequeno-burgueses, a saber: os preconceitos do
financeiro e militar; na actual situação internacional, egoísmo nacional, da estreiteza nacional.
não há para as nações dependentes e fracas outra Na medida em que estes preconceitos só podem
salvação além da união de repúblicas sovié cas. desaparecer depois do desaparecimento do imperia-
12. A opressão secular das colônias e das nacio- lismo e do capitalismo nos países avançados e depois
nalidades fracas pelas potências imperialistas deixou da mudança radical de toda a base da vida económi-
nas massas trabalhadoras dos países oprimidos não ca dos países atrasados, a ex nção destes preconcei-
apenas exasperação mas também desconfiança em tos não pode deixar de ser muito lenta. Daí o dever
relação às nações opressoras em geral, incluindo o do proletariado comunista consciente de todos os
proletariado destas nações. países de mostrar par cular prudência e par cular
A infame traição ao socialismo por parte da maio- atenção em relação às sobrevivências dos sen men-
ria dos chefes oficiais desse proletariado em 1914- tos nacionais nos países e nas nacionalidades que so-
1919, quando de modo social-chauvinista encobri- freram uma opressão mais prolongada, e também o
ram com a «defesa da pátria» a defesa do «direito» dever de fazer algumas concessões com o objec vo
da «sua própria» burguesia a oprimir as colónias e de uma mais rápida liquidação da referida descon-
a espoliar os países financeiramente dependentes, fiança e dos referidos preconceitos. Sem a aspiração
não pôde deixar de reforçar essa desconfiança per- voluntária à união e à unidade por parte do proleta-
feitamente legí ma. Por outro lado, quanto mais riado e, depois, de todas as massas trabalhadoras de
atrasado é um país, tanto mais forte é nele a peque- todos os países e nações de todo o mundo, a causa
na produção agrícola, o patriarcalismo e o isolamen- da vitória sobre o capitalismo não pode ter êxito.
Milton Nascimento:
80 anos do gênio da raça

Carioca de nascimento, mineiro de coração, Milton Nascimento nasceu em uma favela na Tijuca em 1942
O cantor, compositor, multi-instrumentista e po- 1942. Sua mãe, Maria do Carmo, empregada domés-
eta maior da música popular brasileira, Milton Nas- ca e mãe solteira, morreu antes de Milton comple-
cimento, anunciou sua despedida dos palcos neste tar dois anos, passando aos cuidados da avó, tam-
ano. A última sessão de música, turnê que percorre bém empregada domés ca e viúva. Uma das patroas
o Brasil e o mundo em 2022, será a última de uma de avó de Milton afeiçoou-se a criação propôs adotá-
carreira de 60 anos dedicada à música. Prestes a -la, e assim foi feito. Lilia, professora de música, e Jo-
completar 80 anos, em 26 de outubro, Milton tem, sino, dono de uma rádio, tornaram-se os pais de Mil-
como de praxe, encantado e emocionado a plateia ton e mudaram-se do Rio de Janeiro para Três Pontas
por onde passa, nesta sessão derradeira. Nem to- em Minas Gerais; é de Minas Gerais que Milton se
dos os prêmio acumulados em sua longa carreira, lançará como um dos maiores ar stas de seu tempo.
e foram muitos e importantes, Milton é detentor Milton grava sua primeira canção em 1962, Ba-
de 5 prêmios Grammy, sendo um Grammy Award rulho de Trem. Deixa Três Pontas e vai morar em
de Best World Music Album em 1997, dentre mui- Belo Horizonte para cursar economia, nessa épo-
tos outros, dão a dimensão de Milton Nascimento ca encontra se com a efervescência cultural da ci-
para música popular brasileira, ocupa desde já um dade e dedica-se a compor ao mesmo tempo em
lugar de destaque no panteão dos grandes artistas que se apresenta em bares da cidade. Participa do
brasileiros de todos os tempos. Festival Internacional da Canção, em 1967, e sua
Carioca de nascimento, mineiro de coração. Mil- música com Fernando Brant, Travessias, fica em
ton Nascimento nasceu em uma favela na Tijuca em segundo lugar, lançando o nome de Milton Nas-
O álbum Clube da Esquina, em conjunto com Lô Borges, e importantes artistas de Minas
Gerais, recentemente foi eleito o melhor disco da música popular brasileira.

cimento nacionalmente. Neste mesmo ano, grava conjunto com Chico Buarque é exemplar nesse
seu primeiro álbum, Travessia. sentido. A música Coração de estudante, interpre-
Em 1972 sai o disco Clube da Esquina, em con- tada por Milton, foi um dos hinos da campanha
junto com Lô Borges, e importantes artistas de das Diretas Já. No período atual Milton Nascimen-
Minas Gerais, todos jovens da época, como Flávio to pediu mais de uma vez o fora Bolsonaro.
Venturini, Beto Guedes, Fernando Brant, Toninho As questões raciais também aparecem em sua
Horta, dentre outros. O álbum que completa 50 obra, destaque para duas canções sobre o tema,
anos e tem clássicos como Cais, Um girassol da cor Pai grande de 1969, uma das mais belas canções
de seu cabelo, San Vicente, O trem azul, dentre que tratam da questão negra no Brasil e Raça, de
outros. Recentemente, o podcast Discoteca Básica 1976 .
escutou 162 especialistas de diversas áreas da pro- Pai grande trata da questão da escravidão no
dução musical e para eleger os 500 melhores disco Brasil da perspectiva dos que para cá foram trazi-
da música brasileira e Clube da Esquina foi eleito o dos, mas que com o passar do tempo tornaram-se
melhor disco da música popular brasileira. parte do povo:
Milton fez ainda parcerias internacionais, des-
taca-se Mercedes Sosa, Herbie Hancock, Björk e “Minha gente é essa agora
muitos outros artistas de destaque. Destacou-se Se estou aqui, trouxe de lá
estaca com intérprete, uma das mais belas vozes Um amor tão longe de mentiras
da música nacional e internacional, bem como Quero a quem quiser me amar”
como compositor e letrista. O posicionamento po-
lítico de Milton é também um outro destaque de São 60 anos de carreira, de música, de sentimen-
sua personalidade, sempre colocou-se à esquerda to, de beleza. Milton Nascimento deixa esse ano os
no espectro político, opondo-se, por meio da arte palcos, que ficam mais tristes, mas sua arte, para o
à ditadura militar, sua interpretação de Cálice em nosso bem, permanecerá para a eternidade.

Com integrantes do Cole vo de Negros João Cândido


TODAS QUINTAS ÀS 19h na COTV no youtube
h p://www.youtube.com/user/CausaOperariaTV
Grandes da literatura

Carolina Maria de Jesus,


trabalhadora e escritora
Especialista da autora de “Quarto de despejo” faz série de artigos sobre vida e obra de Carolina de Jesus
para o blog Tição

Quando o esquife chegou ao cemitério de Cipó, de realizar uma breve apreciação de sua biografia no
distrito da pequena cidade de Embu- Guaçu, na re- presente texto.
gião metropolitana de São Paulo, naquele 15 de fe- A úl ma fase da vida da escritora – iniciada após
vereiro de 1977, trazia uma das mais singulares e im- ela se mudar, em 1964, para o sí o que comprara
portantes personagens da história literária recente com o dinheiro das vendas de seu livro Quarto de
do Brasil, Carolina Maria de Jesus. despejo e que se estende até 1977, ano de sua mor-
Apesar da presença do prefeito da cidade e tam- te – foi marcada pelo labor na lavoura e uma escrita
bém de Audálio Dantas, jornalista que trouxera a his- esparsa.
tória e os escritos dela à luz, no final dos anos 1950, Por essa época, no Brasil, a vida da população po-
eram as pessoas simples do povo que acompanha- bre deteriorara-se completamente após o golpe em-
vam sua despedida. presarial-militar de 1964 e Carolina, expulsa da cena
Carolina falecera aos 62 anos, ví ma de uma crise literária nacional pelo clima de censura e opressão
de bronquite asmá ca, encerrando uma trajetória sistemá cas que o país passara a viver, encontrou na
existencial que pode ser definida por uma a vidade plantação de legumes, verduras e frutas, junto com
basilar – o trabalho – embora cindido em duas dife- a criação de porcos e galinhas, uma maneira de não
rentes modalidades: material e intelectual. Era uma voltar à situação de fome que vivenciara nos seus
trabalhadora, no sen do comum, e uma escritora. anos como catadora de papel e moradora da favela
Como trabalhadora, sustentou sozinha a si e aos seus do Canindé.
três filhos; já como escritora, revolucionou a literatu- Tendo como companhias apenas os seus três
ra brasileira. filhos – João José, José Carlos e Vera Eunice – são
É por essa lente – o trabalho – que gostaríamos poucas as ocasiões em que a reclusão da escritora
foi quebrada, geralmente pela inicia va de alguma de papéis manuscritos e pede que eu leia, antes de
revista ou jornal desejosos de saber como estava a perguntar: ‘Será que isso dá um livro?’”.
“ex-favelada” que se tornara um fenômeno de ven- É fácil depreender que, com seu gesto, Carolina
das no início dos anos 1960, com o já mencionado tentava viabilizar os escritos que vinha produzindo
Quarto de despejo. Nesta obra, escrita em fora de di- em sua reclusão, muito provavelmente “Diário de Bi-
ário, contava as agruras da marginalidade social em ta”, o segundo livro mais célebre da escritora, que
que se deba a o subproletariado do país no auge do só viria a ser publicado postumamente, em 1982, na
desenvolvimen smo levado adiante pelo governo de França.
Juscelino Kubitschek. O que gostaríamos de chamar a atenção, a par r
Nesse sen do, gostaríamos de destacar aqui uma da reportagem em foco, é que Carolina, mesmo em
matéria jornalís ca específica com Carolina no perí- seu ostracismo e após suas desilusões com o sucesso
odo em questão. perdido, não deixa de conjugar o trabalho manual na
Trata-se de uma reportagem publicada em 21 de sua pequena lavoura ao trabalho intelectual, rom-
abril de 1973 na revista Manchete. No lead dessa pendo com a tradicional separação que a sociedade
matéria, uma frase dita por Carolina à entrevistado- burguesa geralmente estabelece entre um e outro
ra, a jornalista Neide Ricos : “Catei lixo, catei tudo, po de a vidade. Voltaremos a este tópico mais
menos a felicidade”. Aqui é interessante notar que a adiante.
escritora resume a sua existência, metaforicamente, Por enquanto, é preciso observar que o equilíbrio
ao ato de “catar”, ou seja, a um trabalho braçal. entre o trabalho e a escrita nem sempre foi possível
Na reportagem de Ricos , eivada de preconceitos na trajetória de Carolina. Isso fica claro ao recuarmos
(a jornalista chega a se referir à formação de Caroli- um pouco mais no tempo, em que a vida da escritora
na como “quase primi va”), a escritora é retratada apresentava uma outra configuração.
como uma figura arruinada e desiludida. Entre uma e O ano era 1963. U lizando o dinheiro angariado
outra afirmação melancólica sobre o passado, Caroli- com as vendas de Quarto de despejo, Carolina luta
na explica no que consiste a sua vida no sí o: para manter a sua carreira literária de pé e publica,
“Quando eu percebi que morando dentro da cida- às suas expensas, dois livros: Pedaços da fome, um
de eu ia sofrer muito mais, vim para o campo. Como romance, e Provérbios, uma obra contendo as máxi-
verdura, mato um frango e faço uma sopa. Fome a mas e aforismos da escritora sobre temas diversos.
gente não passa”. Àquela altura, o sucesso conquistado com seu
Um pouco antes, na mesma reportagem, a entre- primeiro livro já arrefecera completamente e essas
vistadora de Carolina tece o seguinte comentário so- duas obras revelam-se fracassos comerciais, sendo
bre a escritora: também ignoradas pela crí ca especializada e com-
“Carolina Maria de Jesus, a ex-favelada, só não plicando ainda mais a já bastante delicada situação
perdeu o encanto de escrever. Traz na mão um bloco financeira da autora. Três anos depois, o Jornal do

Carolina, mesmo em seu ostracismo e após suas desilusões com o sucesso perdido, não deixa de
conjugar o trabalho manual na sua pequena lavoura ao trabalho intelectual
Quando Carolina decide dedicar o seu tempo exclusivamente à atividade intelectual, tornando-
se uma escritora no sentido estrito, essa experiência é frustrada pela iniquidade da sociedade de
classes brasileira, que não franqueia aos pobres essa liberdade de escolha

Brasil no ciava que Carolina voltara a catar papel nas por toda a vida dela, voltemos ao ano de 1960; mais
ruas de São Paulo. precisamente, ao dia 5 de maio daquele ano. Nesta
Convém notar que, quando Carolina decide dedi- data, Carolina assinaria o contrato de publicação de
car o seu tempo exclusivamente à a vidade intelec- seu primeiro diário, Quarto de despejo, com a Livra-
tual, tornando-se uma escritora no sen do estrito, ria Francisco Alves, a sua editora. Como é narrado no
essa experiência é frustrada pela iniquidade da so- livro seguinte da escritora, Casa de alvenaria – diário
ciedade de classes brasileira, que não franqueia aos de uma ex-favelada, Carolina começa dia em questão
pobres essa liberdade de escolha. Mesmo tendo des- tendo de vasculhar o lixo para conseguir o dinheiro
frutado de imenso sucesso comercial e fama, o di- do café da manhã dela e dos filhos.
nheiro conquistado àquela altura já se esgotara e os Desde a reportagem que verdadeiramente a pro-
fracassos editoriais que enfrentou foram fatais para jetou na consciência nacional, publicada no dia 20
as suas pretensões de tornar-se uma profissional da de junho de 1959, Carolina já desfrutava de uma pe-
escrita. quena notoriedade. Notoriedade, porém, que não a
Como contraposição ao caso de Carolina, po- livrara da fome nem da necessidade de catar papel
demos lembrar que outras escritoras, em geral de para sobreviver. Es mulada pela ideia de ver os seus
origem pequeno-burguesa, que produziam ou des- livros publicados, a escritora passou então a conci-
pontavam na mesma época – a já consagrada Cecília liar, agora com mais ânimo, as suas tarefas como tra-
Meireles, mas também Clarice Lispector, Henriqueta balhadora braçal (catadora) com a escrita regular do
Lisboa, Lygia Fagundes Telles e Adelaide Carraro, por diário (literata). Essa dupla condição é, sem dúvida,
exemplo – apesar das eventuais dificuldades para ve- a explicação concreta para as longas pausas no regis-
rem publicadas e reconhecidas suas obras, puderam tro do co diano que configuram Quarto de despejo
dar con nuidade às suas carreiras literárias sem os como um livro excessivamente fragmentário e errá -
obstáculos da luta pela sobrevivência e da indiferen- co – mesmo levando em consideração que é um “di-
ça das elites culturais e do público leitor da época ário” editado por outrem – em sua forma.
com os quais a “escritora favelada” deba a-se em Detendo-nos por um momento em Quarto de des-
sua trajetória. pejo, lançado no dia 19 de agosto de 1960, podemos
Para enxergar com mais clareza a ligação dos fa- afirmar que foi uma obra que pegou o público leitor
tos acima descritos com a dupla condição – traba- brasileiro completamente desprevenido. Na histó-
lhadora e escritora – que Carolina teve de carregar ria anterior de nossa literatura, simplesmente não
houvera nenhuma figura que reunisse todas as ca- cio oficial ao Modernismo no Brasil com a célebre
racterís cas dissonantes de Carolina. De origem pro- Semana de Arte Moderna, viabilizada com o finan-
letária, sim, como Machado e Lima Barreto – apenas ciamento da elite agrária paulistana que dominava
para ficarmos no grandes – mas altamente cultos e o país, junto à elite agropecuária de Minas Gerais,
informados sobre a história literária e filosófica do na República Velha. Carolina, neste mesmo ano, se
país e do mundo. Negros, também, como os dois viu obrigada a deixar a escola para trabalhar na roça.
autores supracitados. De míngua educação formal, Para uns, portanto, as úl mas novidades ar s cas e
nenhum de renome. Mulher? Contavam-se nos de- culturais da Europa; para outros, a impossibilidade
dos as que haviam conquistado alguma projeção em de dar seguimento aos estudos, o que demonstra
nossa literatura. Carolina era, então, um caso único. como modernidade e atraso são as marcas perpétu-
Não é uma obra que sai dos círculos intelectuais as do (sub)desenvolvimento do país.
tradicionais, dominados pela pequena burguesia, O abandono da escola por Carolina aconteceu
formada em sua maioria por jornalistas, advogados e porque sua família, cons tuída basicamente de agri-
médicos. Trabalhadora e escritora, põe abaixo a dis- cultores, não nha um pedaço de terra para plantar.
nção tradicional entre essas duas esferas da ação Na realidade, seus familiares viviam na miséria quase
humana. E o pior: faz sucesso. Por essa “audácia” – total; fato este que pode ser explicado pela história
nas palavras da escritora – ou por esse “atrevimen- do patriarca da família, Benedicto José da Silva, avô
to”, conforme interpretação de Conceição Evaristo, dela e pai de sua mãe.
nunca será perdoada, como pudemos ver em seu Chamado de “Sócrates africano” nas reminis-
triste epílogo. cências da escritora, Benedicto era provavelmente
De certa forma, não é tão di cil iden ficar os fa- de origem africana e nascido por volta de 1852.
tores que se fizeram presentes no “fracasso” de Ca- Pai de oito filhos, quatro homens e quatro mulhe-
rolina como escritora profissional. Em sua chegada à res, entre as quais a mãe da escritora, Maria Caro-
capital paulista, em 1937, vinda como migrante dos lina de Jesus, também conhecida pelo apelido de
cafundós de Minas Gerais, já trazia marcas demais de “Cota”. O avô era um homem, portanto, que che-
exclusão para conseguir suplantar a sociedade que a gara ao Brasil como escravizado (inclusive, Caroli-
confrontava em seus planos. na refere-se a ele, em suas memórias, como “soldo
Antes de chegar a São Paulo, já conhecera as inú- da escravidão”).
meras agruras que a sociedade de classes – primeiro, Sem direito a nenhum tipo de indenização pela
sob o domínio do la fúndio; depois, da burguesia in- Lei Áurea de 1888, provavelmente tenha trabalha-
dustrial e financeira – da primeira metade do século do o resto de seus dias anteriores à velhice como
XX nha a oferecer aos, como ela, descendentes di- agricultor, levando uma vida pouco diferente dos
retos de ex-escravizados. tempos de cativeiro. Espoliado por toda a sua exis-
Nos dez anos anteriores à sua ida defini va para a tência, só pôde transmitir à sua família o legado
maior metrópole do país, passara por maus bocados. da miséria.
Após sair pela primeira vez de Sacramento, sua Seguindo a trajetória de exploração do pai, a mãe
terra natal, Carolina morou ou esteve, em oito cida- de Carolina revezou-se entre a agricultura e os ser-
des, entre Minas Gerais e o interior paulista: Ube- viços domés cos, equilibrando-se entre a má remu-
raba, Res nga, Franca, Conquista, Ribeirão Preto, neração e as humilhações abundantes. Apesar de
Jardinópolis, Sales de Oliveira e Hortolândia. Com presa a um casamento sem amor, encontrava nos
exceção de Ribeirão Preto – aonde fora em busca do festejos que se davam nos fins de semana de Sacra-
apoio, baldado, de uma a para tratar uma molés a mento uma válvula de escape de sua opressão. Em
nas pernas – Carolina trabalhou nessas cidades como um desses festejos, conheceu o pai de Carolina, João
agricultora ou domés ca, sofrendo diferentes graus Cândido Veloso, um violonista e poeta apreciador da
de exploração. boemia. Grávida, é abandonada pelo marido traído,
Aliás, é por volta dos oito ou nove anos de idade e precisará criar sozinha, além da filha que está para
que a escritora deu início à sua vida como trabalha- nascer, o filho pequeno do, agora, ex-esposo.
dora, junto com a mãe e o padrasto, em uma fazenda E assim, no dia 14 de março de 1914, nasce Caro-
na cidade de Uberaba. Esse evento é o que provocou lina Maria de Jesus, apenas vinte e seis anos após a
a sua saída prematura da escola, que iniciara cerca abolição da escravidão. Era mulher e negra.
de dois anos antes, no Colégio Espírita Allan Kardec,
de Sacramento. 1 – “Carolina, a miséria revivida”, de Fernando Guimarães,
Estamos em 1923. Apenas um ano antes, em São Jornal do Brasil, edição de julho de 1966, página 21.
Paulo, escritores e ar stas de vanguarda deram iní- Emanuel Régis Gomes
Perfil

José Maurício Nunes Garcia


No dia 22 de setembro de 1767, nascia, no Rio
de Janeiro, o padre José Maurício Nunes Garcia.
Filho do alfaiate Apolinário Nunes Garcia e da fi-
lha de escravos Victória Maria da Cruz, o padre,
que era negro, tornou-se um dos maiores compo-
sitores do Novo Mundo no final do século XVIII.
Logo aos seis anos de idade, José Maurício
perdeu seu pai. Ainda jovem, foi iniciado à músi-
ca pelo mestre Salvador José de Almeida e Faria,
conhecido como “o pardo”.Já aos dezesseis anos,
compôs sua primeira composição conhecida, uma
antífona para a Catedral do Rio de Janeiro, Tota
pulcra es Maria (1783).
Seu mestre era de Minas Gerais, região que já
ocupava um papel importante no país devido à
extração do ouro e que, inclusive, foi testemunha
da maior parte da produção barroca brasileira. As
tradições mineiras, segundo especialistas, são fa-
cilmente perceptíveis na obra inicial de José Mau-
rício.
Além da tutela de Salvador José, José Maurício
também foi fortemente influenciado pelas mu-
danças em curso no Rio de Janeiro, que havia se
tornado capital brasileira quatro anos antes de
seu nascimento e que acabaria por tornar-se a
sede oficial do Reino de Portugal em 1808. No pe- Em 1791, quando completou 24 anos, José
ríodo de sua formação, é provável que José Mau- Maurício se tornou padre. O ingresso de ne-
rício tenha entrado gros no sacerdócio era,
em contato com ar- naquele momento, algo
tistas e intelectuais
atraídos para a nova
“José Maurício raro. Para conquistá-lo,
José Maurício teve de,
capital, bem como
espetáculos encena-
também foi fortemente além de demonstrar
boa reputação, contar
dos no novo teatro
da cidade.
influenciado pelas com a doação de uma
casa, uma vez que ter
As Aulas Régias,
que haviam sido ins-
mudanças em curso um patrimônio era con-
dição para o sacerdó-
tituídas pelo Mar-
quês de Pombal
no Rio de Janeiro, que cio. A vida na igreja,
no entanto, acabou por
oito anos antes do
nascimento de José
havia se tornado capital dar uma vida suficien-
temente estável para
Maurício, também
foram uma fonte im-
brasileira quatro anos que José Maurício se
dedicasse à música.
portante para a sua
formação. As aulas
antes de seu nascimento ” Mulato, descenden-
te de escravos, nasceu
permitiram a José pobre, mas recebeu
Maurício aprender História, Geografia, Francês, uma educação sólida tanto em música como
Italiano, Grego, Latim e Retórica. em letras e humanidades. Optou pela carrei-
ra na Igreja por devoção mas provavelmente através da qual o padre, que se tornou seu ar-
também por praticidade, sendo um meio de quivista, conheceu obras importantes de notá-
garantir um futuro decente, especialmente veis mestres em atividade na Europa, como os
para pessoas de sua condição social. Suas ele- vienenses Wolfgang Amadeus Mozart e Jose-
vadas qualificações artísticas e intelectuais se ph Haydn. Naquela época, a biblioteca era um
revelaram cedo e, de certo modo, fizeram a verdadeiro tesouro para José Maurício, algo
sociedade escravocrata de sua época atenuar muito raro de se obter diante do atraso tecno-
as fortes restrições lógico da época.
de acesso a posições Com toda essa ri-
de prestígio que colo-
cava contra os negros
“Ao decorrer da década queza cultural dis-
ponível e com seu
e pardos como ele,
mas não o livraram
de 1790, José Maurício amadurecimento,
José Maurício teve
completamente dos
infortúnios gerados
foi consolidando a nos anos seguintes à
vinda da família real
pelo preconceito.
Ao decorrer da dé-
sua influência como o seu período mais
prolífico. São dessa
cada de 1790, José
Maurício foi conso-
grande compositor época as missas de
São Pedro de Alcân-
lidando a sua influ-
ência como grande
de seu tempo” tara (1808 e 1809), o
Te Deum para as Ma-
compositor de seu tinas de São Pedro
tempo. Em 1798, re- (1809), um Stabat
cebeu licença para Mater composto so-
pregar e foi indicado bre um tema cantado
mestre de capela da por D. João (1809), o
Catedral, alcança- moteto Judas Merca-
do o cargo de maior tor Pessimus (1809),
prestígio para qual- o moteto Ecce Sacer-
quer músico brasi- dos a 8 vozes (1810)
leiro do século XVIII. e o Magnificat das
José Maurício per- Vésperas de São José
maneceria no cargo (1810), a Missa Pas-
por mais de três dé- toril para a Noite de
cadas, até o fim de Natal, a Missa em mi
sua vida. bemol e um Te Deum
Segundo relatos, em dó maior, todos
o então príncipe-re- de 1811.
gente dom João VI, Entre o ano de
ao desembarcar no 1813 e 1821, José
Brasil em 1808, te- Maurício continuou
ria ouvido encantado produzindo impor-
um Te Deum de José tantes composições e
Maurício, naquele obras teóricas, embo-
que teria sido o pri- ra tivesse, em alguns
meiro contato entre momentos, sofrido
ambos. A partir de aí, com problemas finan-
José Maurício foi adquirindo um papel cada ceiros e sido preterido em detrimento de com-
vez mais importante na vida cultural do Rio de positores mais ligados à burocracia da Coroa.
Janeiro. Com o retorno de Dom João VI a Portugal e a
Dom João acabou nomeando José Maurí- crise política no Brasil, o padre se foi obriga-
cio inspetor de música e organista da Capela do a fechar sua escola e foi se tornando cada
Real. Além disso, dom João trouxe uma grande vez mais pobre. Em 1830, faleceu no Rio de
biblioteca de partituras e tratados musicais, Janeiro.
* 14 de março de 1914
† 13 de fevereiro de 1977

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