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DOCUMENTOS DO MPLA
1ºVOLUME
3º MUNDO
E EVOLUÇÃO SÉRI DOI 2
汁
ANGOLA
DOCUMENTOS DO MPLA
1ºVOLUME
3ºMUNDO
3651
A98 M684
1977
v.l
MPLA
Editor : José Fortunato
Distribuição :
ULMEIRO
Av. do Uruguai , 13-A
Lisboa-4
Tel. 707544
NOTA DO EDITOR
3
Este trabalho contou com a valiosa colaboração do jorna-
lista José Amaro no que respeita à organização dos documen-
tos recolhidos pela Editora.
JOSÉ FORTUNATO
6
O IÇAR DA BANDEIRA
Quando voltei
As casuarinas tinham desaparecido da cidade
E também tu
Amigo Liceu
voz consoladora dos ritmos quentes da farra
nas noites dos sábados infalíveis
Também tu
harmonia sagrada e ancestral
ressuscitada nos aromas sagrados do Ngola Ritmos
7
Cheguei para ver a ressurreição da semente
a sinfonia dinâmica do crescimento da alegria nos homens
E o sangue e o sofrimento
eram uma corrente tormentosa que dividia a cidade
Quando eu voltei
o dia estava escolhido
e chegava a hora
Quando eu voltei
qualquer coisa gigantesca se movia na terra
os homens nos celeiros guardavam mais
os alunos nas escolas estudavam mais
o sol brilhava mais
8
IMPERIALISMO E MONOPOLIOS
A SITUAÇÃO COLONIAL
1 - AS FORÇAS EM PRESENÇA
9
ria dos africanos é na prática privada de direitos e liberdades
políticas de maneira que as colónias portuguesas são privadas
de participação no governo do território.
O regime colonial português continua a recusar aos afri
canos o direito de seguirem o seu próprio destino. Os africanos
se querem conquistar o direito de serem cidadãos devem acei
tar o modo de vida português, submeter-se ao direito civil por
tuguês e falar português.
—
Caracteriza-se ainda o regime colonial pela forma de
dominação, de opressão deliberada e desfrutamento resoluto
da população africana.
――A política colonial portuguesa , encorajou o investimento
estrangeiro. É significativo, a propósito, que a política visando
o acréscimo de capital estrangeiro neste território coincidiu
com o desenvolvimento dos movimentos de libertação em
África.
-O fim deliberado de tal política, como mostra a expe
riência, é o de interessar investimentos estrangeiros que arras
tam sustento financeiro, material e de outro género, para a
continuação do usufruto dos recursos humanos e materiais.
-
Afirmando que Angola , Moçambique e a Guiné dita
portuguesa , fazem parte do seu território nacional, Portugal
reservou para si todos os direitos de propriedade sobre as
imensas riquezas minerais em Angola (diamantes - 5 .° pro
dutor , ferro, petróleo e manganês) , em Moçambique (carvão,
berilo, tantali e colombite e outros minérios) .
-
- Esquecendo o direito soberano da população sobre os
recursos materiais, o governo português reserva-se o direito de
conceder autorização para a prospecção e acordar concessões
com restrições que, quanto à extensão , pode chegar a cobrir
todo o território, com direitos exclusivos para muitos ou todos
os minérios.
- Em Angola, o capital estrangeiro, principalmente inves
tido na indústria , detém direitos exclusivos de prospecção e
disposição sobre os diamantes , minérios de ferro e bauxite.
-Em Moçambique, o capital estrangeiro também investe
na indústria mineira e só recentemente em indústrias transfor
madoras (alimentares, principalmente) . Mas é sobretudo à
agricultura e indústrias conexas que mais acorre esse capital.
-Interesses estrangeiros e portugueses em Angola e Mo
çambique estão estritamente ligados a outras sociedades inter
10
nacionais que controlam várias actividades económicas nestes
territórios e em outras regiões da África.
- Os interesses económicos estrangeiros e o governo por-
tuguês são legatários de um sistema de recíprocas vantagens.
De um lado, a sociedade mineira encontra uma mão-de-obra
barata, procurada com assistência da administração, sendo
aquela isenta de qualquer imposto, podendo exportar o produto
mineral para a Grã-Bretanha, Alemanha Ocidental, EUA,
França, Portugal . Por outro lado, o lucro que a sociedade
mineira deixa em Portugal, ajuda-o a manter o seu jugo e
concorre para o financiamento da acção repressiva e das ope-
rações militares contra a população africana . Em 1962, a
sociedade de diamantes de Angola mostrava no seu relatório
o contributo financeiro para a construção de casernas e postos
militares. Em 1962, apresentava ainda no seu balanço uma
importância de 88,8 milhões de escudos para a defesa de
Angola. De 1961 a 1962 contribui com uma média anual de
16 milhões de escudos.
11
Estes interesses estrangeiros obstam deste modo à apli-
cação da descolonização pela independência dos países e povos
coloniais nos territórios administrados por Portugal.
ANGOLA/MOÇAMBIQUE
Diamantes:
Petróleo:
Alumínio:
Bauxite:
Billinton Maatshappy.
Mica:
12
Café:
Açúcar:
Algodão:
Palma:
Pesca:
Comércio:
Transportes:
13
Westmins ter Bank:
British South Africa Company
- Cooper Brothers C.º;
The Angola Coaling C.º;
-Tanganica Concessions .
Obras Hidráulicas:
Pesquisa Mineira:
― E. J. Longyear C.;
- Remina;
Aero Service Corporation;
Bettelem Steel;
- Carbide;
Mutual Securiut Agency.
-14
Também em Moçambique, relevantes quantidades de capi-
tais estrangeiros têm sido investidos . A COMPANHIA CAR-
BONÍFERA DE MOÇAMBIQUE, com capital belga e por-
tuguês, obteve, por exemplo, uma concessão para exploração
de filões de carvão avaliados em 400 milhões de contos.
A MOZAMBIQUE OIL COMPANY e a MOZAMBIQUE
PAN AMERICAN OIL COMPANY, de capital americano,
detêm o direito exclusivo de prospecção e exploração do petró-
leo em grandes zonas de Moçambique.
15
Sociedades Agrícolas em Moçambique
16
militar com esse país, e ganha a extraordinária propaganda
que representa a construção de Cabora Bassa , sendo apresen
tada como contribuindo « decisivamente para o desenvolvi
mento e expansão económica de Moçambique» .
17
2
Tem empresas especializadas em contratar mão-de-obra
negra, mantendo acordos com o Governo Português para expor-
tação dessa mesma mão-de-obra de Angola e Moçambique.
3 CONSEQUÊNCIAS DA CONSTRUÇÃO
DA BARRAGEM
18
em Angola e Moçambique, que abastece a região de Lourenço
Marques (consumidora de mais de metade da produção eléc
trica de Moçambique) através de uma central termo- eléctrica
- depois da construção de Cabora Bassa , a central de Lou
renço Marques continuará a trabalhar com electricidade a
preços altos, estando em estudo um contrato com a ESCOM
(da África do Sul) para compra de energia eléctrica de Cabora
Bassa, quando a zona de Lourenço Marques dela necessitar.
Quer isto dizer que a energia de Cabora Bassa segue em
alta tensão para a zona industrial de Johannesburg, na África
do Sul, onde é transformada em baixa tensão. E se, por acaso,
a zona de Lourenço Marques (consumindo mais de metade da
energia de Moçambique) precisar de electricidade terá que
a comprar à Africa do Sul, sendo essa energia produzida em
Cabora Bassa.
Porque não constrói o governo uma barragem hidroeléctrica
para servir Lourenço Marques de energia barata, não preci
sando de gastar nada que se pareça com oito milhões de contos ?
Afinal qual o benefício para Moçambique? Os planos de de
senvolvimento da zona da barragem, mesmo que resultem em
parte, só vêm beneficiar o capital internacional ou português ,
grupos como a Anglo American , o B. N. U. ou o grupo
Champallimaud.
Numa palavra, a barragem servirá para reforçar o poderio
económico e político dos grandes grupos financeiros, ficando
Moçambique ainda em maior dependência em relação tanto
a esses grupos como à racista República Sul-Africana, enfim
maior sujeição de Moçambique ao imperialismo internacional .
É da maior importância o esclarecimento dos estudantes
angolanos , para melhor poderem desmistificar a propaganda
governamental.
O Imperialismo Sul-Africano
19
mercado de trabalho liberalizado, nasceu o conflito do trabalho
forçado, que foi resolvido na altura empurrando os boers para
o norte («grande Teck», 1836-44) .
A partir de 1870, tendo sido descobertas grandes riquezas
minerais (diamantes , ouro e cobre) nos estados boers, os capi
tais ingleses começaram a investir na exploração desses miné
rios, conduzindo simultaneamente várias guerras imperialistas,
que levaram à anexão dos estados boers e à formação da União
Sul Africana (tratado de Vereeniging, 1902) .
Depois da União Sul-Africana ter recebido a independência
e o estatuto de domínio da Comunidade Britânica ( 1910) , os
capitalistas estrangeiros passaram a ter a possibilidade_de
investir nas lucrativas indústrias extractivas sul-africanas . Esta
possibilidade foi principalmente aproveitada pelos norte-ame
ricanos. Um exemplo sintomático foi a ajuda financeira , no
valor de 1 milhão de dólares, que, em 1917 , Morgan emprestou
à «Anglo-American Corporation of South Africa» , do grupo
Oppenheimmer. Este foi o início de uma mais vasta partici
pação dos EUA nesta organização , principalmente através da
«Engenhardt Industries Inc. (Newark)» . A partir daí, uma das
funções da «< Anglo American» era a de coordenar e organizar
os interesses norte-americanos na África do Sul.
Com o desenvolvimento das indústrias extractivas , nasceu
na África do Sul uma burguesia liberal de ascendência inglesa.
Nos anos vinte essa burguesia conseguiu separar-se economi
camente das metrópoles , porque o capital internacional ficou
extremamente enfraquecido pela primeira guerra mundial.
O império Oppenheimmer (Anglo-American) , por exemplo,
embora já no princípio do século tivesse várias ligações com o
capital internacional, permaneceu uma sociedade sul-africana .
Com o progresso do capitalismo sul-africano, nos anos vinte,
desenvolveu-se a contradição entre a burguesia liberal interes
sada numa liberalização do mercado de trabalho africano e os
fazendeiros boers, economicamente enfraquecidos por crises
agrárias, e que continuavam interessados num sistema de tra
balho forçado. As crises agrárias criaram um proletariado
urbano de raça branca (pequenos proprietários arruinados) ,
que no mercado liberalizado se veria obrigado a enfrentar a
concorrência da força de trabalho africana, que era mais barata.
Com as suas lutas nos anos vinte contra o capital, eles
queriam manter os seus privilégios sobre os proletários afri
20
canos. Estas contradições, bem visíveis na divisão da bur
guesia quanto ao problema do racismo, agudizaram a situação
de luta de classes existente na África do Sul. Assim, a aliança
fascista dos fazendeiros boers com o proletariado branco con
seguiu uma primeira vitória eleitoral em 1924, e apoderou-se
do aparelho de estado, conseguindo desta maneira impôr os
seus interesses, a separação e a discriminação racial, que viria
a ser institucionalizada pelo programa «apartheid >» .
A alta burguesia boer, sobretudo depois da 2.ª Guerra Mun
dial, pôde assumir o lugar de uma nacional burguesia branca .
Forçando o desenvolvimento industrial na África do Sul, cria
ram a força económica que lhes permitiu fortalecer o seu
poder político . É de assinalar que este desenvolvimento indus
trial se processou com um alto nível tecnológico, como mostra
o agora nascente sector atómico (com ajuda americana e
alemã) . Esta expansão é fomentada ou por organizações semi
-públicas como a «S. A. Industrial Development Corporation>> ,
ou por medidas de política comercial e financeira como a res
trição de importações de produtos manufacturados; ainda um
dos factores mais importantes é o facto de que os investimentos
dos brancos sul africanos nos últimos 15 anos têm um lucro
médio superior a 20 %.
O alto grau de exploração da força de trabalho africano ,
que é o aspecto especificamente sul africano do desenvolvi
mento capitalista e da contradição entre o capital e o traba
lho, cria ao mesmo tempo um limite a esse desenvolvimento .
A desigualdade de rendimentos, altamente condicionada por
essa exploração e a consequente falta de poder de compra
impedem o alargamento do mercado interno (rendimento per
capita entre a população branca: 1500 dólares; entre a popu
lação africana: 100 dólares) . Assim o capitalismo sul-africano
é obrigado a realizar uma expansão económica para o exterior.
Esta necessidade corresponde nas grandes sociedades sul-afri
canas a uma diversificação geográfica dos seus interesses .
A «Charter Consolidated » tinha, em 1965, 39 % dos seus
interesses na África do Sul, 16 % no resto da África , 23 %
na América do Norte e 22 % no resto do mundo . A «Anglo
-American» tinha interesses na África Central e Oriental, na
Austrália, nos EUA, no Canadá e em Inglaterra.
O mais importante mercado para a produção sul-africana
seriam (se não existisse o «apartheid» ) os países africanos ao
21
sul do Saará, porque aí os produtos sul-africanos iam encontrar
pouca concorrência .) Notam-se, no entanto, alguns sucessos
no comércio com países africanos independentes (pelo menos,
politicamente) como o mostram as boas relações comerciais
com a Costa do Marfim. Porém, os grandes parceiros do capi-
talismo sul-africano em África continuam a ser as minorias
brancas dominantes em Angola e Moçambique e na Rodésia .
Já no princípio deste século começaram os acordos entre
a Africa do Sul e as colónias portuguesas para o fornecimento
de mão-de-obra. Em 1909 foi negociada uma convenção para
o recrutamento forçado de trabalhadores africanos de Moçam-
bique para as sociedades mineiras sul-africanas. Através da
<
«Witwatersrand Native Labour Association » a África do Sul
podia recrutar até 100 000 trabalhadores por ano. Em troca
a Africa do Sul comprometeu-se a fazer 47,5 % das suas expor-
tações pelo porto de Lourenço Marques. Acordos semelhantes
foram assinados entre a Rodésia e Moçambique. Enquanto
que a zona de recrutamento para a África do Sul ia até ao
paralelo 22.º, a zona para a Rodésia ia desde este paralelo até
ao Rio Zambeze. No sul da Rodésia, 2/3 das forças de tra-
balho são trabalhadores recrutados em Moçambique, isto é,
1/5 da população activa moçambicana . O trabalho forçado
para o exterior é uma grande fonte de receitas para o Governo
colonial português, equilibrando o deficit da balança comercial.
Pelo menos metade dos salários têm que ser entregues em ouro
às autoridades coloniais; esta parte só é recebida pelo proletário
ao fim de 18 meses depois de deduzidos os impostos. Isto é
ao mesmo tempo um meio para ganhar divisas e para prender
os trabalhadores ao seu lugar de trabalho.
Principalmente depois da sucessão dos colonos brancos
em 1965, a cooperação entre a Rodésia e a administração
colonial de Moçambique passou a ser um caso de vida ou de
morte para o regime de Ian Smith (devido ao boicote inter-
nacional) . As exportações rodesianas passaram a fazer-se
pelos postos da Beira e de Lourenço Marques e o comércio
entre Portugal e a Rodésia quadriplicou.
Em 1964, Verwoerd, então presidente do conselho de
ministros da África do Sul, sugeriu a realização de um mer-
cado comum (S. A. C. O. M. ) . A ele pertenceriam a África
do Sul, a Rodésia , Angola, Moçambique , e também os estados
africanos «< independentes » como o Lesotho, a Suazilândia, o
22
Botswana e o Malawi tendo-se também encarado a hipótese
da Zâmbia. Como se vê, são todos países economicamente
dependentes da África do Sul e da Rodésia . No mesmo ano
criou-se em Joanesburgo o « Luso-South African Economic
Institute» e foi firmado um acordo para a cooperação econó-
mica entre a África do Sul e Portugal . Entre outros a África
do Sul participou no financiamento do aproveitamento hidráu-
lico do Cunene com 2 milhões de rands.
A barragem de Watala, situada perto da fronteira de Angola
com o Sudoeste Africano, fornece a maior parte da electrici-
dade necessária para a realização dos projectos industriais da
União Sul-Africana no Sudoeste Africano, o Protectorado da
ONU, de que a África do Sul se apoderou contra decisões
daquela organização . Mais um passo para a construção de
uma rede hidráulica em comum na África Austral será a bar-
ragem de Cabora Bassa , a 550 km da foz do Zambeze.
Será a maior barragem de África, com uma capacidade de
produção de 17 biliões de kilowatts. 90 % da electricidade pro-
duzida será para a África do Sul, para cobrir a cada vez maior
necessidade de energia dos centros industriais do Transval.
Esta enorme obra exige, tal como no projecto do Cunene, a
fixação dos colonos brancos. A fim de tentar cortar o mal
pela raiz, a FRELIMO abriu uma nova frente de combate no
distrito de Tete.
No entanto, existem contradições entre as forças colonia-
listas; por um lado existe o medo dos portugueses serem eco-
nomicamente dominados pelos poderosos sul-africanos e , por
outro lado, existe a contradição ideológica entre o «apartheid>>
e a ideia portuguesa de um império lusitano «< multirracial» .
Mas esta contradição é constantemente resolvida num interesse
comum: a luta contra os movimentos de libertação (FRE-
LIMO, MPLA, UNITA) . A cooperação militar entre Portugal,
a Rodésia e África do Sul assegura a integração económica:
desde 1962 existem constantes conversações a nível dos Esta-
dos Maiores das forças militares; cooperação na luta contra
a guerrilha; intervenção de policiamento sul-africano na protec-
ção do projecto Cabora-Bassa; pontos de apoio e vários pro-
jectos militares realizados em cooperação, como por exemplo
o aeroporto do Luso, no distrito de Moxico (controlado pelo
MPLA), que foi construído por técnicos portugueses e sul-afri-
23
canos e financiado por capitais alemães (500 milhões de
marcos).
Este texto foi traduzido de um livro escrito pelos SDS
(Estudantes Socialistas Alemães) : «Der Revolutionare Betre-
ungskrieg in Angola, Guinea-Bissao und Moçambique» , Ber-
lim Ocidental, 1969.
24
AS COLÓNIAS PORTUGUESAS DA ÁFRICA AUSTRAL
(Angola e Moçambique)
25
― Moçambique com 6 milhões e meio de habitantes
tem 7
lugares;
e isto por que votam somente as pessoas que pagam uma con
tribuição directa de mais de 10 mil escudos, o que exclui auto
maticamente nove milhões e meio de africanos das listas
eleitorais.
Angola possui no seu território 97 % de analfabetos e
Moçambique 97,8 %.
Angola e Moçambique são territórios essencialmente agrí
colas e a população branca detém a maior parte das terras
aráveis: para isso, as famílias africanas em Angola foram pra
ticamente expulsas dos distritos de Cabinda , Benguela, Luanda
e Quanza Norte, os mais fecundos do país, e reagrupadas no
sul árido da colónia.
26
dade oiro, entregando este por sua vez a título de salário e
em moeda local, uma certa fracção desta soma às famílias dos
trabalhadores exportados .
-800.000 assalariados das zonas rurais.
--350.000 africanos das zonas urbanas, em sub-emprego
ou desempregados .
Quer isto dizer que, além do território africano, a eclosão
de conflitos atinge uma área geo-social que engloba o Congo,
a Zâmbia, Rodésia e República Sul Africana e o Sudoeste
Africano .
A assimilação, tal como é concebida pelas autoridades por
tuguesas, explica-se pelas próprias determinantes do regime
e pela necessidade em que se encontra de estabelecer um com
promisso não só entre os ricos monárquicos-católicos e os capi
talistas republicanos liberais (ligados sobretudo à exploração
colonial) , mas também entre a burguesia portuguesa e os
financeiros europeus neo-colonialistas.
Acontece também que os meios lógicos da ambição de
acelerar o ritmo da acumulação de capital e de eliminar o
atraso relativo, foram utilizados da seguinte maneira pela bur
guesia portuguesa :
1 - Emprego da violência e da arbitrariedade contra as
classes médias (e sua exploração) ;
2- Exploração sem igual contra a classe operária;
3- Aniquilação das possibilidades latentes dos africanos .
Desta forma, a hipocrisia da assimilação nunca foi mais
do que a brutalidade, exploração desenfreada e opressão
radical.
Entre os assimilados , convém distinguir dois grupos:
1. Os assimilados-objectos, essencial e directamente sub
metidos à exploração do tipo colonial-racista e , portanto, direc
tamente afectados; neste grupo podem ser incluídos, além da
grande massa rústica, os camponeses desenraizados e urbani
zados de fresca data , os empregados públicos, os empregados
do comércio e da indústria e os operários eventuais.
2. Os assimilados-pessoas, aos quais se deixou uma possi
bilidade de realização social e económica que tende a ligá-los
à pequena burguesia portuguesa.
Daqui resultam posições diferentes por parte destes dois
grupos em face do regime de assimilação, ao mesmo tempo
que desencadeia toda a espécie de discriminação e de conflitos
de ordem social, envenenados pelo facto de que a maioria dos
27
colonos portugueses pertence às camadas inferiores. Por outro
lado, todos os partidos opostos ao regime ditatorial português
foram incapazes de fornecer uma ajuda tangível e um apoio
qualquer ao movimento anti-colonialista . Mais ainda: não
exerceram qualquer influência apreciável quer na preparação,
quer na eclosão do movimento revolucionário angolano.
Quando, de Março a Maio de 1961 os colonos portugueses
reprimiram a sublevação no norte de Angola, tal repressão
tomou ao mesmo tempo um carácter de reconquista colonial,
na defesa de privilégios e de luta racista aberta. Não é de sur-
preender que, na consciência das massas rurais angolanas, haja
até ao presente a impossibilidade objectiva de os camponeses
se elevarem ao conteúdo real dos fundamentos económicos e
seu combate e que o conflito tenha como dominante um aspecto
racial entre africanos e colonos.
Em Angola, o processo de expropriação capitalista não
poupou senão uma pequena margem da burguesia africana,
aliás sem influência económica e política, e por isso os con-
ceitos de classes dominantes, de contradições privilegiadas e
de raça, continuaram a ser de primordial importância .
28
OS GRUPOS FINANCEIROS E INDUSTRIAIS
PORTUGUESES
a) - Grupo C.U.F.
Bancos:
Totta-Açores ;
-Totta-Standard (Angola e Moçambique) associados ao
Banco inglês Standard;
29
-Etablissement Financier de Placements S. A. (impor-
tante parte).
Companhias de Seguros:
Construção Naval:
Metalo-Mecânica:
Plásticos e tintas:
-LUSOFANE;
― -SOTINCO - fabricação de vernizes e tintas para cons-
trução naval e civil (está associada à I. C. T.- Impe-
rial Chemical Industries ).
Têxteis:
30
Companhia de Fiação de Torres Novas;
-PROTEXTIL- confecções .
Minas:
Adubos e Pesticidas
-C. U. F.;
-União Fabril do Azoto, ligada à Soc. Port. de Petro-
química, grande produtor de amoníaco e ureia;
Com. Industrial Portuguesa — ácido sulfúrico e ferti-
lizantes.
Energia nuclear:
-
Conjuntamente com a empresa Termoeléctrica Portu-
guesa preparava-se para construir a primeira central nu-
clear portuguesa .
Transportes:
-Sociedade Geral;
- Comp." Nacional de Navegação;
- Soponata (transporte de ramas petrolíferas) - associada
à Sacor e ao capital estrangeiro;
31
-TRANSFRIO;
-TRANSNAVI.
Química:
Celulose e papel:
- Celuloses do Guadiana;
-- CELBI — celulose Billerude (a maioria do capital desta
importantíssima empresa é sueco) .
Alimentares e oleaginosas:
Tabacos:
Síntese
32
monopólio que facultaram preços extraordinariamente
lucrativos (exploração da agricultura ) ;
- A partir de 61-62 assistiu-se a uma diversificação das
bases de acumulação de capital na metrópole e com
o empreendimento de Cabora Bassa (em que participa
no consórcio ZAMCO) estender-se-á dicididamente a
Moçambique;
-
O grupo CUF tem ainda um grande número de empresas
ligadas a sectores tradicionais não muito rentáveis nem
concorrenciais.
b) - Grupo CHAMPALIMAUD
1 - Metrópole
Cimentos:
33
3
Papel e Celulose:
Bancos:
Companhias de seguros:
- A Mundial;
-A Confiança .
Minas:
2 - Angola
a
Comp. Mineira do Lobito e Lobinge, explora, em
colaboração com dois grupos (alemão e dinamarquês) ,
os riquíssimos jazigos de Cassinga, que fornecem as prin-
cipais siderurgias europeias e japonesas;
Siderurgia de Angola (em Luanda) ;
- Comp. dos cimentos de Angola.
34
Companhia da Matola , produtos alimentares;
Companhia Industrial de Fundição e Laminagem
(CIFEL) , uma importante empresa metalúrgica;
- Química Geral de Moçambique, associada a capitais
franceses e sul-africanos, explora fábricas de adubos;
-
Companhia de Seguros Mundial e Confiança de Moçam-
bique.
Síntese
35
MABOR ANGOLANA, detém praticamente o mono
pólio da produção de pneus em Angola;
-ICESA, importante empresa de pré-fabricados (Santo
António dos Cavaleiros) ;
―- EUROFIL, empresa produtora de fibras sintéticas des
tinadas sobretudo à exportação ;
Têxteis:
- Lanifícios da Covilhã ;
- ATLAS, Companhia de Seguros;
- Banco Comercial e Industrial de Angola (que tem par
ticipações em numerosas empresas angolanas) .
Exemplos de empresas:
―
SACOR e restantes empresas deste grupo industrial;
TRANQUILIDADE, Companhia de Seguros ;
- Hidro-eléctricas;
Companhia do Açúcar de Angola;
Sociedade Agrícola do Cassequel (participação impor
tante);
Soc. Agrícola do INCOMATE;
Companhia Angolana de Agricultura (CADA);
- NOCAL, Nova Empresa de Cervejas de Angola;
- BLANDY BROTHERS, esta casa bancária tem grande
importância na economia madeirense (250 000 contos
de depósitos) . Foi absorvida em 1966.
36
e)- Grupo SACOR
37
O grupo SACOR detém ainda participações nas seguintes
empresas:
38
ALTER, produtos farmacêuticos;
— VILAMOURA, turismo;
CIRES, Comp. Industrial de Resinas Sintéticas;
-
— TÊXTEIS, DELFIM FERREIRA (Riba D'Ave) , com
toda a constelação de empresas têxteis no norte do país;
Este grupo tem participação minoritária na U. F. A. ,
SACOR, ANGOL, Empresa Termoeléctrica, DIA-
MANG , etc ..
- BANCO COMERCIAL DE ANGOLA (50 % do capi-
tal é detido pelo Banque Belgique d'Afrique) , este banco
controla várias empresas industriais:
- SOCAR, Soc. de Carnes de Angola (com capital ale-
mão);
Comp. dos Azotados de Angola;
- Soc. Algodoeira de Fomento Colonial;
- Soc. Agrícola do Cassequel;
- Companhia de Açúcar de Angola (da família Sousa Lara,
accionista importante do B. P. A.);
SONEFE (esta empresa gigante fornece grande parte
da energia eléctrica a Angola, tem participação do
Estado e detém capital de um grupo importante de
empresas industriais das colónias, tais como:
― CONDEL, fábrica de condutores do Ultramar;
- CUCA, ligada ao industrial M. Vinhas, accionista do
Banco Comercial de Angola;
-VIDULA, vidraria de Angola;
Companhia de Cimentos de Angola;
-Lusalite de Angola.
39
O DESENVOLVIMENTO DO NACIONALISMO
41
nialista . Os povos da Kissama fizeram pela primeira vez a
experiência de revolução armada contra os ocupantes. Os
Dembos aperfeiçoaram essa táctica. Os Jagas fizeram guer-
rilha. Ekuikui II do Bailundo tentou criar bases económicas
para assegurar a independência do seu povo. Mandume soube
explorar as contradições entre os imperialistas e soube pra-
ticar uma mobilização popular sem igual. O povo do Humbi
aprendeu a conhecer as mentiras do colonialista e soube vencer
a fraqueza dos seus dirigentes , acabando por impôr no reino
uma política claramente anti-colonialista. Mutu ia Kevela do
Bailundo e Tulante Buta do Congo foram chefes que prati-
caram uma grande mobilização popular e que souberam com-
bater contra todas as formas de opressão das massas, mesmo
quando elas eram disfarçadas. Dezenas ou centenas de lutas do
povo, em revoltas de escravos, em greves de operários etc. , e
que nós não conhecemos ainda, vieram completar estes melho-
ramentos que ensinavam ao povo como se combate em cada
época, e como os exploradores fazem para explorar e reprimir.
Mas além destas lutas, devemos também considerar as
revoltas iniciais dos desterrados e dos comerciantes, como
a revolta de 1667 ou como a revolta do Presídio de Massan-
gano contra o regime imposto pelos brasileiros que atrasavam
o progresso da Colónia. O crescimento dos movimentos polí-
ticos da burguesia do século XIX que pediam já a indepen-
dência de Angola ou que exigiam que Angola se separasse do
Brasil. Os movimentos intelectuais da burguesia angolana de
1885 e depois de 1890 defendendo a liberdade para os escra-
vos, a cultura nacional, a liberdade para a mulher, etc..
Todo este vasto movimento constituiu as raízes profundas
do Nacionalismo Angolano. Neste período que estamos a
estudar ( 1940 a 1960) o Nacionalismo Angolano começou a
desenvolver-se sob uma nova forma , mais revolucionária,
fruto das experiências passadas e das condições desta época .
Já desde 1929 se começava a formar um grande movimento
de reivindicação popular. Ele deu origem à fundação da
LIGA NACIONAL AFRICANA e do GRÉMIO AFRI-
CANO, que mais tarde se transformou na ASSOCIAÇÃO
DOS NATURAIS DE ANGOLA. Estas organizações per-
mitiram que os africanos mais conscientes das cidades, prin-
cipalmente Luanda , pudessem desenvolver um trabalho de
organização e consciencialização de massas. No entanto, nem
sempre havia unidade dentro dessas organizações . A falta de
42
unidade era ocasionada pela existência dentro delas de duas
camadas sociais diferentes e não completamente aliadas . Eram
os elementos da burguesia africana que dirigiam essas asso
ciações, ao passo que elementos representantes das massas tra
balhadoras constituiam apenas uma parte dos indivíduos ins
critos.
Por causa desta divisão, formaram-se duas tendências polí
ticas dentro das Associações: uma era a tendência reformista
que queria fazer apenas uma luta legal; outra era a tendên
cia revolucionária que queria acções mais importantes con
tra a opressão e que queria também que as Associações
tomassem realmente a forma de organizações de massas, quer
dizer, com uma larga base nas massas populares. Esta ten
dência queria que as Associações e os movimentos reivin
dicativos se estendessem ao mato, se espalhassem entre os
camponeses pobres e os trabalhadores.
A tendência reformista era defendida principalmente por
gente de idade que tinha vivido os tempos áureos da burguesia
africana do século XIX . A tendência revolucionária era defen
dida principalmente pelos jovens que queriam libertar as
massas oprimidas .
A contradição entre estas duas tendências agravou-se. Final
mente, as autoridades colonialistas acharam aí uma oportuni
dade para deitarem a mão às Associações e pôrem administra
dores da sua confiança . A tendência reformista, cada vez mais
isolada, acabou mesmo por ser absorvida e aproveitada pelas
autoridades colonialistas.
A LIGA NACIONAL AFRICANA foi a mais atingida
por esta contradição e pela reacção colonialista . Entretanto ,
a ASSOCIAÇÃO DOS NATURAIS DE ANGOLA -
ANANGOLA - estava dominada, embora com dificuldade ,
pela tendência revolucionária . Os militantes da tendência revo
lucionária, tendo cada vez mais dificuldades na luta legal por
causa da repressão colonialista que crescia sempre, tiveram
necessidade de entrar na luta clandestina e semilegal. Cria
ram-se escolas clandestinas de alfabetização nos Muceques de
Luanda, desenvolveu-se a investigação e a divulgação da cul
tura nacional africana que os colonialistas queriam fazer desa
parecer. Começaram-se a fazer panfletos chamando o povo à
instrução e à prepração para lutar abertamente contra a opres
são e pela independência.
43
Apareceram revistas como a MENSAGEM ( 1949) e a
CULTURA ( 1957) , onde, apesar da censura, os militantes cons
cientes podiam desenvolver um trabalho de consciencialização
(luta semi-legal) . Divulgavam-se alguns aspectos da natureza
do fascismo e do colonialismo, de uma cultura nacional, etc.
Mesmo no estrangeiro procurava fazer-se trabalho, chamando
a atenção do mundo para a miséria do Povo Angolano
sob a exploração do colonialismo. Começavam a ser espa
lhadas palavras de ordem corajosas e claras como: «LUTA
PELA INDEPENDÊNCIA DE ANGOLA» , «ORGANI
ZAÇÕES AFRICANAS DE MASSAS» , « LIQUIDAÇÃO
DAS BARREIRAS ARTIFICIAIS ENTRE AFRICANOS
«INDÍGENAS» E «ASSIMILADOS>>.
Em Nova Lisboa, cerca de 1954, faziam-se também ten
tativas iguais.
Criou-se a «<ASSOCIAÇÃO AFRICANA DO SUL DE
ANGOLA» , que experimentou fazer sucursais em outras cida
des do Sul. Mas também aí, a polícia e as autoridades toma
ram conta desses empreendimentos, ameaçando, espalhando
a corrupção, sabotando, até terem pretexto para lançar comis
sões administrativas.
Mas nenhuma destas organizações era ainda um verdadeiro
partido para a luta clandestina . Foi neste momento, por volta
de 1953, que nasceu o primeiro partido político nacionalista:
PARTIDO DA LUTA UNIDĂ DOS AFRICANOS DE
ANGOLA (PLUA) . Este partido lançou um manifesto que
convidava os angolanos a organizarem-se clandestinamente.
Depois de alguns panfletos chamando à unidade e à luta ,
certos dirigentes do PLUA e de outras organizações criaram
enfim o MOVIMENTO POPULAR DE LIBERTAÇÃO DE
ANGOLA (MPLA) , em Dezembro de 1956.
Outros partidos que se formavam, como o MOVIMENTO
PARA A INDEPENDÊNCIA NACIONAL DE ANGOLA
(MINA) , juntavam-se ao MPLA e engrossavam a sua base.
O MPLA era, na verdade, o primeiro partido de massas.
Mas outros acontecimentos tinham criado outra corrente
nacionalista, que tomava um desenvolvimento diferente.
No Norte de Angola , as massas populares procuravam
organizar-se também. Apareceram aí os movimentos messiâ
nicos , de carácter religioso, como foi o movimento de Simão
Toko. Apareceram organizações ainda tribais, resultado da
luta contra a realeza, no Congo angolano, e contra o apoio
44
que essa realeza dava aos colonialistas. Assim, em 1955, havia
no Congo numerosos descontentes contra o rei D. António III,
do clã KIVUSI e apoiado pelas autoridades e pelas missões
católicas. Desenvolveram-se movimentos populares para ten-
tarem a deposição de D. António, mas as autoridades portu-
guesas reprimiram essa actividade.
Ligado a estes descontentes, criou-se um movimento cul-
tural e de ajuda mútua entre os emigrados congoleses no
Congo (actual Zaire) . Foi a UNIÃO DAS POPULAÇÕES
DO NORTE DE ANGOLA (UPNA) , a qual , mais tarde, se
transformou na UNIÃO DAS POPULAÇÕES DE ANGOLA
(UPA) .
Com o tempo e com o desenvolver da actividade política
angolana no Norte de Angola e em Leopoldville , foram-se for-
mando outras organizações , como a ALLIANCES DES RES-
SORTISSANTS DE ZOMBO (ALLIAZO) em 1960 , o PAR-
TIDO DEMOCRATICO DE ANGOLA em 1962, etc. Mas
estas organizações ou eram ainda movimentos tribais ou
estavam dominadas por tendências reformistas. A politização
que se desenvolvera em Luanda e em alguns lugares do Norte
de Angola não se estendera ainda adequadamente ao mato.
Onde apareciam estes movimentos havia ainda contradições
atrasadas, restos da antiga resistência, que se revelavam mais
poderosos do que a pouca actividade panfletária dos verda-
deiros partidos . Na verdade, o único partido que oferecia con-
dições para desenvolver uma actividade de carácter nacional era
o MPLA, onde participavam elementos vindos da pequena
burguesia e das massas trabalhadoras urbanas, com uma grande
consciência política .
Em 1958, a actividade panfletária em Angola aumentou
consideravelmente. Por toda a parte, particularmente em
Luanda, falava-se de revolução armada. Saíram panfletos clan-
destinos exortando à luta armada pela libertação de Angola.
Denunciava-se o carácter do colonialismo , chamava-se as mas-
sas à revolta. Além disso, a luta anti-colonialista legal e semi-
-legal, nos jornais, nas organizações antigas, em clubes de
futebol, etc. era mais intensa do que nunca.
De novo se falava em cultura africana. Realizavam-se
exposições de arte negra, palestras sobre as realizações das
culturas africanas de Angola, exposições de pintura denun-
ciando pela imagem a exploração colonialista ; publicavam-se
contos e poemas nitidamente anti-colonialistas e anti-racistas;
45
nasciam de novo e melhor os artistas e escritores angolanos
revolucionários.
A SOCIEDADE CULTURAL DE ANGOLA, em Luanda,
e a CASA DOS ESTUDANTES DO IMPÉRIO , em Lisboa
(associação dos estudantes das colónias em Portugal) , vinham
substituir a MENSAGEM, que as autoridades portuguesas
tinham já destruído .
A propaganda política , o trabalho clandestino e o apelo
à mobilização das massas, embora não com o vigor com que
era necessário , chegava também a outras cidades de Angola.
Assim, em Moçâmedes , cidade pesqueira , a PIDE, polícia
política do fascismo, começou a repressão para tentar acabar
com todas as tendências revolucionárias, antes que elas tomas
sem corpo. Em Nova Lisboa, em Benguela e no Lobito, os
elementos angolanos mais conscientes, afectos ao MPLA,
procuravam fazer a mobilização das massas que o momento
histórico exigia.
Este período agitado decorreu entre os anos de 1950 e
1960, justamente na altura em que os colonialistas faziam
chegar o maior lote de população branca de Portugal com
a intenção de aumentar as suas forças de combate contra a
resistência angolana , contra a revolução dirigida pelos africanos.
Porém, em Angola, havia um número elevado de brancos
nascidos na colónia. Muitos deles tinham convivido desde
a infância com os elementos negros da cidade; muitos deles
não tinham acesso aos meios de enriquecimento que estavam
geralmente na mão das grandes empresas; muitos deles não
se deixaram enganar pela situação de privilégio que o colo
nialismo lhes dava face aos seus antigos companheiros negros.
Por isso, alguns brancos nascidos em Angola ou mesmo vindos
de Portugal, sob a influência benéfica da luta de classes no
seu país, foram activos militantes neste período de intensa
luta política .
Mas a polícia portuguesa estava igualmente activa. Em
Maio de 1959, começaram as prisões em massa . Foram levan
tados processos contra dirigentes conhecidos do MPLA e
contra portugueses progressistas que trabalhavam em Angola.
Em Julho de 1960, a polícia prendeu o militante angolano
mais destacado: AGOSTINHO NETO . A prisão deste mili
tante levantou uma grande manifestação na região de Icolo
e Bengo, donde ele era natural, mas a manifestação foi brus
46
camente reprimida e houve então os primeiros mártires da
luta de libertação angolana : 30 mortos e 200 feridos.
Entretanto, em Dezembro de 1960, a direcção exterior do
MPLA, lançou um apelo final às massas angolanas para a
revolução. Poucos meses depois, deu-se o trágico episódio
da Baixa do Kassanje. O Kassanje retomava o seu lugar na
História de Angola.
Desde há muitos anos que o povo de Kassanje era obri-
gado à cultura do algodão, como os povos de Icolo e Bengo.
O preço pelo qual o algodão lhes era comprado era um preço
ridículo. A miséria desenvolvia-se na Baixa do Kassanje, tão
depressa como a propaganda revolucionária . Em Janeiro de
1961 , o povo da Baixa de Kassanje entrou em greve para um
aumento do preço do algodão, explorado pela Companhia
belga COTONANG. Os Colonialistas reprimiram a greve com
um bombardeamento aéreo de bombas Napalm, americanas,
que destruiram mais de 17 aldeias e mataram mais de 20.000
africanos.
Finalmente, esgotadas todas as formas de acção pacífica ,
o povo da capital lançou em Angola a luta armada. Foi o 4 de
Fevereiro de 1961 , data do ataque às prisões de Luanda.
Jovens e trabalhadores da capital, enquadrados por militantes
do MPLA, lançaram-se ao ataque das cadeias de Luanda, para
libertar os presos políticos. Era o começo da luta armada
para a libertação de Angola. Dias depois, as massas campo-
nesas do Norte levantavam-se em armas contra o domínio
colonialista português.
O heróico povo angolano colocava-se na vanguarda revo-
lucionária ao lado de outros povos do mundo , na luta final
contra a opressão. Acabava uma longa e dolorosa época da
História de Angola. Nascia um novo período que começava
dolorosamente mas que seria o período da vitória do povo
angolano sobre a opressão colonialista e o começo da cons-
trução de um país de liberdade e prosperidade para o Povo
Angolano.
47
CRONOLOGIA DA RESISTÊNCIA DO POVO ANGOLANO
49
(UPA) , sob a presidência de Holden Roberto, com o apoio do
grupo étnico Kikongo (Norte de Angola) . Em 1956-10 de
Dezembro, no seio do P. L. U. A. funda-se o Movimento Popu
lar de Libertação de Angola , o actual M. P. L. A. Em 1958 , for
ma-se uma outra organização, o Movimento para a Independên
cia Nacional de Angola (M. I. N. A. ) que também juntou as suas
forças ao M. P. L. A. Desde o início, o M. P. L. A. tornou-se
uma activa organização clandestina de massas no campo e
nas cidades.
Mas em 1957 , a Pide, a polícia política fascista foi refor
çada em Angola. Em 29 de Março de 1959 , em rusgas de
grande envergadura levadas a cabo pela Pide, foram presos
em massa líderes e membros do M. P. L. A. e muitos suspeitos
acusados de atentado à segurança do Estado e integridade da
Nação. No estrangeiro, o M. P. L. A. iniciou uma intensa
actividade de denúncia das atrocidades dos portugueses em
Angola. Em 26 de Abril do mesmo ano, foi estabelecida uma
poderosa força aérea, dotada de napalm .
Para comemorar este acontecimento, o Governador-Geral
fez um discurso ameaçador: «o país não está defendido se não
possuir uma estrutura militar...». Ao mesmo tempo foi for
çado a reconhecer, pela primeira vez , que Angola já não vivia
«em paz e harmonia» quando disse: «panfletos apareceram
em Angola, como havíamos previsto» . Em Julho de 1959 ,
houve uma nova vaga de prisões , afectando especialmente um
número de dirigentes do M. P. L. A. entre os quais Ilídio
Machado.
Em 3 de Novembro, o general português Gomes de Araújo
declara: «o poder colonial nascido da força armada não pode
desaparecer senão pela morte deste» .
50
colonial de Angola. Salazar recusa-se a responder; as tropas
portuguesas estacionadas em Angola são reforçadas massiça
mente e procedem a inúmeras prisões em Luanda, Lobito,
Malange e Dalatando. Agostinho Neto, presidente honorário
do M. P. L. A. , é deportado para Portugal, e mais tarde para
uma ilha de Cabo Verde e, finalmente, para a cadeia do Aljube ,
em Lisboa. Consegue evadir-se de Portugal no Verão de 1962 .
A população da sua aldeia natal pede a sua libertação no
decorrer de uma manifestação pacífica . Os portugueses res
pondem com um massacre.
51
última tem sobretudo o apoio do grupo étnico Kikongo, de
que faz parte Holden Roberto, presidente da U. P. A. As
sedes do M. P. L. A. e da U. P. A. são em Leopoldville
(Kinshasa) , mas só a U. P. A. tem liberdade de acção no Congo
Leopoldville. Trinta mil soldados portugueses constituem o
efectivo das três forças armadas em Angola, com uma despesa
militar de 2450 milhões de escudos (86 milhões de dólares),
ou seja, 10 % do orçamento nacional de Portugal.
52
Setenta mil soldados portugueses compõem o efectivo das três
forças armadas em Angola; 6400 milhões de escudos (224,6
milhões de dólares) , são o custo das despesas militares . Au
mento da actividade militar na frente de Cabinda e na primeira
região.
53
1970-1 de JULHO - Paulo VI recebe Agostinho Neto,
Amílcar Cabral e Marcelino dos Santos.
54
A Polícia e a Armada participaram nestes exercícios , que foram
organizados e dirigidos pela O. P. V. D. C. A. (Corpos da
Defesa Civil) , ou melhor, as milícias de colonos. A repressão
cresce continuamente em Luanda onde os colonos inscritos na
O. P. V. D. C. A. participam activamente nas patrulhas dos
bairros africanos.
Graves incidentes tiveram lugar no mês de Setembro em
vários encontros entre as milícias de colonos e os africanos ;
mas, o mais grave, foi na noite de 16 de Setembro (sábado) num
bairro da capital chamado CAZENGA, onde estas milícias de
colonos assassinaram numerosos africanos e incendiaram as
suas casas. O número de mortos é superior a uma dezena e o
número de feridos cerca de uma centena, dos quais algumas
dezenas em estado grave.
O toque de recolher foi imposto no dia seguinte no bairro
CAZENGA e nos bairros africanos vizinhos, mas, na noite de
18, os colonos atiraram sobre os africanos assassinando dois
deles: um operário serralheiro , João Gourgel, e um tipógrafo ,
Domingos Pinto, no bairro africano MARÇAL. A tensão era
bastante viva em toda a capital.
Segunda-feira, 19, depois do meio-dia, os colonos atiraram
sobre as crianças no bairro MARÇAL. Dentre os mortos um
pequeno de 8 anos, Miguel Silvestre. No momento em que se
pretende introduzir a discussão na O. N. U. sobre o terrorismo,
bem se vê quem são os terroristas em Africa: os exércitos colo
nialistas portugueses e seus associados, os racistas da África
do Sul e da Rodésia. A demagogia política da «<multirraciali
dade dos colonialistas portugueses foi então cruelmente des
mascarada em Angola. As autoridades portuguesas vêem o
terreno fugir debaixo dos seus pés e intensificam então a sua
guerra psicológica, a sua propaganda «psico-social >» .
55
A CONTRA-GUERRILHA COLONIAL-IMPERIALISTA
57
frente-Norte. Nos distritos de Cuanza-Norte e Luanda os her-
bicidas foram usados muitas vezes desde 1962, 63 e 64, em
particular para destruir mandioca, privando as populações
das áreas libertadas e assim forçá-las a voltar ao controlo por-
tuguês. Contudo, depois de 1970, essa acção foi intensificada
vastas áreas da região Leste também foram afectadas por
herbicidas, ocasionando particular prejuízo, porque os herbi-
cidas afectam a base da nossa alimentação, a mandioca — e
ninguém pode plantar e colher mandioca num curto espaço de
tempo. Ao usar esta táctica , penso que o Governo colonialista
português acredita que criando mais dificuldades ao povo,
este render-se-á. Por outro lado, os colonialistas portugueses
também pensam que sem o povo os guerrilheiros não podem
lutar. Esta é a principal razão pela qual o inimigo usa herbi-
cidas. Não há dúvida que destruíram vastas áreas de terra,
mas os cálculos deles não estavam correctos porque não con-
sideraram outros factores. Primeiro de tudo, não tomavam
em conta a determinação do povo em lutar até à independência,
quaisquer que sejam as dificuldades. Não esperavam a nossa
firme decisão de resistir, donde este uso dos herbicidas não
lhes causaria demasiadas contrariedades, não prejudicaria a sua
luta. Não consideravam as contra-medidas que tomámos
para que não houvesse falta de comida. Não consideraram
à solidariedade internacional que desempenhou um papel
essencial, assegurando às populações das áreas afectadas o
fornecimento de alimentos (...). Isto significa que Portugal
sofreu novas derrotas quando usou esta arma, uma derrota
que lhes foi infligida tanto pelo nosso Povo como por todos
os povos do mundo ( ...). Esta resposta mundial ajudou-nos
ainda mais a reiterar as nossas forças (...), o reconhecimento
de uma personalidade política para as áreas libertadas das
regiões que estão lutando pela sua independência» .
58
GREVE EM LUANDA
UM GRANDE PASSO EM FRENTE
59
E, o mais belo exemplo é, sem dúvida nenhuma, o das
recentes manifestações dos trabalhadores de Luanda .
Em pleno coração da administração colonial, em pleno
centro da repressão colonialista, os trabalhadores da capital
ousaram afrontar nas ruas as forças repressivas, impor as
suas reivindicações e obrigar o inimigo a recuar. Que magní-
fica vitória!!!
A nossa luta de libertação espalha-se por todo o território,
desenvolve-se no campo de batalha através da guerrilha e
nas cidades através das acções clandestinas, e das lutas de
massas. A acção nas cidades desenvolve-se em pleno ventre
do aparelho colonial.
As greves e marchas dos trabalhadores de Luanda , aca-
bam de demonstrar aos colonialistas portugueses, aos impe-
rialistas e seus lacaios angolanos que nenhuma manobra pode
iludir o Povo Angolano. O nosso Povo não quer as auto-
nomias fantoches nem as independências de fachada.
Milhares de angolanos desejam o fim da exploração colo-
nialista e imperialista, aspirando por uma Angola próspera
e sem exploração do homem pelo homem.
O nosso Povo quer a independência completa. Trabalha-
dores angolanos, em frente para novas vitórias !!!
60
DECLARAÇÃO DO M. P. L. A.
A PROPÓSITO DA GREVE EM LUANDA
61
não estavam prevenidas para quebrar o movimento de greve,
apesar das prisões efectuadas. O movimento estendeu-se
mesmo ao sector público, nomeadamente aos estivadores do
porto e aos varredores municipais.
Os trabalhadores de Luanda conseguiram organizar mar
chas de protesto, dispersadas pelas forças repressivas» .
62
PROGRAMA MÍNIMO DO M. P. L. A.
63
<<PROGRAMA MAIOR» DO M. P. L. A.
365
5
10
e manobras que visem lesar a independência, a soberania, a
unidade e a integridade territorial de Angola.
- Estabelecimento da paz em Angola, na base da instau-
ração de um regime de justiça social, e na base do reconheci-
mento, por outros países, da independência, da soberania, da
unidade e da integridade territorial de Angola.
2- Unidade da Nação
3 - Unidade Africana
66
No processo para a unidade dos povos africanos, de-
fesa das conquistas políticas , económicas, sociais, culturais
das classes trabalhadoras e camponesas de cada país .
4- Regime Democrático
67
Cada região autónoma terá o direito de adoptar dis-
posições regionais adaptadas às suas particularidades, mas
que não contradigam a legislação geral de Angola.
-
Africanização dos quadros de todo o aparelho admi-
nistrativo do país.
-Garantia de protecção, de acordo com a Declaração
Universal dos Direitos do Homem, à pessoa de todos os estran-
geiros que respeitem as leis em vigor no país.
68
-
Ampliação efectiva de uma política que considere ao
mesmo tempo, os interesses dos empregados e dos patrões.
Criação do Banco do Estado e da moeda nacional.
Evitar a inflação e estabilizar a moeda nacional.
Controlo pelo Estado no interesse do povo inteiro, do
comércio externo de Angola.
- - Revisão da chamada dívida
de Angola para com Por-
tugal. Combate ao déficit da balança comercial de Angola.
Equilíbrio das receitas e das despesas do país.
Abolição do sistema fiscal instituído pelos colonialistas
portugueses e criação de um novo sistema fiscal, racional e
simples.
Ajustamento e estabilização dos preços.
-Luta contra a especulação com o fim de a liquidar.
6- Reforma Agrária
69
derem activamente a independência de Angola, a soberania
e a unidade do povo angolano e a integridade territorial do país.
Abolição imediata do regime de trabalho forçado .
Respeito à independência efectiva dos sindicatos e das
organizações legais de trabalhadores.
Jornada de trabalho de oito horas e aplicação progres-
siva de novas leis sobre a protecção do trabalho.
-O Estado fixará o salário mínimo dos trabalhadores
e velará pela aplicação rigorosa do princípio «salário igual
para igual trabalho» , sem discriminação de sexo, de idade e
de origem étnica dos trabalhadores.
-
Protecção das igrejas, dos lugares e dos objectos de
culto e das instituições legais.
-Em todos os planos - político, económico, social e cul-
tural - a mulher terá os mesmos direitos que o homem. As
mulheres e os homens serão efectivamente iguais perante a lei .
-Assistência do Estado às parturientes e à infância.
- Aplicação da assistência social . Assistência a todos os
cidadãos angolanos desprovidos de meios e vitimados pela
doença, ou em situação de desemprego involuntário ou atin-
gidos pela velhice ou pela invalidez.
―
Liquidação progressiva do desemprego. Assegurar tra-
balho aos operários, empregados, funcionários e aos jovens
que completem os seus estudos.
Assistência privilegiada a todos os cidadãos em situação
de invalidez pela sua participação activa no combate pela
independência de Angola. Assistência à família dos que te-
nham morrido pela liberdade da pátria angolana .
70
- Desenvolver o ensino secundário e o ensino técnico-
-profissional e criar o ensino superior.
- Estabelecimento de relações culturais com países estran-
geiros. Formação e aperfeiçoamento dos quadros técnicos
necessários à construção do país.
Impulso e desenvolvimento das ciências, das técnicas,
das letras e das artes.
-Instituição, no campo, de meios eficazes e suficientes
para a assistência médica e sanitária das populações campo-
nesas. Desenvolvimento equilibrado, à escala nacional, dos
serviços de assistência médica e sanitária.
- Liquidação da prostituição e do alcoolismo.
-- Estímulo e apoio às actividades progressistas da juven-
tude.
- Fomento e protecção, em todo o país, da cultura física.
9- Defesa nacional
71
O M. P. L. A. é a única organização política
que representa o povo angolano como um todo e
que sustenta uma luta armada contra o colonia-
lismo português e pela independência nacional.
O M. P. L. A. está lutando pela realização das
mais profundas aspirações do povo angolano, parti-
cularmente dos sectores mais explorados do povo,
camponeses e operários. Além disso, a sua força
deriva do apoio que recebe das massas populares.
73
luta pela queda do regime fascista, agora conduzido por Cae-
tano, na medida em que a oposição tem dado demonstrações
práticas do seu apoio à justa luta do povo angolano pelo direito
à autodeterminação e independência.
O M. P. L. A. é uma organização independente. Não há
razão para comprometer a sua política com um ou outro sis-
tema. Enquanto disfrutar da assistência de muitos países e
organizações progressistas e anti-colonialistas, por todo o
Mundo, não há impedimento para prosseguir com as suas
aspirações essenciais . A O. U. A. , Zâmbia, Congo Brazaville,
Tanzânia e Argélia dão um apoio consistente, assim como os
países socialistas.
O M. P. L. A. segue uma política de cooperação directa
na acção contra o inimigo comum, com os movimentos nacio-
nalistas nas Colónias Portuguesas - F. R. E. L. I. M. O. em
Moçambique e o P. A. I. G. C. na Guiné-Bissau , com a
conferência das organizações nacionalistas das Colónias Por-
tuguesas - C. O. N. C. P.
Devido à sua posição geográfica estratégica, o M. P. L. A.
está directamente interessado na luta geral desenvolvida pelos
países na África do Sul pela sua independência, contra o
«apartheid» e a discriminação racial.
Está por isso em inteira solidariedade com a luta desenvol-
vida na África do Sul (Azania) , Zimbabwe e Namíbia.
O M. P. L. A. não é um partido; é uma frente de libertação
nacional. É um agrupamento de todo o povo, de todos aqueles
que querem lutar contra o colonialismo português e pela liber-
tação total por uma guerra prolongada. O fim do M. P. L. A.
é a libertação de Angola da dominação colonialista de Por-
tugal e da dominação imperialista das companhias multi-
nacionais e das grandes potências. Mas «a nossa contribuição
deve ser dada não só para a liquidação da ignorância, da
doença e das formas primitivas de organização social . É no
campo da alfabetização, nas clínicas, nos centros de instrução
revolucionária, na produção agrícola e industrial que cada
angolano deve dar a sua contribuição ... sob as bombas que
caiem regularmente nas florestas» . Este discurso do dr. Agos-
tinho Neto, presidente do M. P. L. A. , mostra-nos um outro
aspecto da luta angolana . Guerra sim, mas guerra popular.
Instruído pela história de outras nações africanas, o M. P.
L. A. recusa toda a solução política do tipo neocolonialista.
O fim não é uma simples mudança de patrão, do patrão
74
branco para o patrão preto. Assim, o M. P. L. A. esforça-se
por mobilizar todo o povo para a construção de uma inde
pendência verdadeira, de uma nova sociedade onde o povo
exercerá verdadeiramente a sua soberania. A força do M. P.
L. A. é a de ter sabido, dando o exemplo em primeiro lugar,
elevar a moral e a coragem do povo e, depois, ajudando e
organizando politicamente e militarmente, transformá-lo de
testemunha e vítima em actor vivo da sua própria história .
Os poderes de decisão no M. P. L. A.
75
Comité Director Nacional (mais restrito) de 40 membros , que
representam os comités Directores das diferentes regiões. O po-
der de decisão, o poder executivo, em suma, pertence ao Comité
de Coordenação Político-Militar. Este comité compreende 5
membros , entre os quais, o Presidente do M. P. L. A., o
dr. Agostinho Neto.
76
SOBRE A ORGANIZAÇÃO
77
fábrica, na fazenda , na rua , em casa , no exército, no partido
político, o homem é obrigado a organizar-se.
Onde não há Organização, há desordem, há anarquia , con-
fusão, e não é possível atingir-se nenhum objectivo sério.
Dentro do Movimento de Libertação Nacional não pode
deixar de haver Organização. Os militantes devem estar orga-
nizados, e quanto melhor for a organização , melhor será a
sua actividade e mais eficaz será o Movimento. Um Movi-
mento de Libertação Nacional que não está organizado, que
não dispõe os seus militantes de maneira a obrigá-los a um
comportamento social e moral e a regras de conduta adequa-
das de maneira a conseguir realizar os objectivos a que se pro-
põe, é um Movimento que cai facilmente na confusão, na
anarquia, e não pode vencer.
Na sociedade humana , é a Organização o único meio para
conseguir o progresso. Num partido político, ou num Movi-
mento de Libertação Nacional, é pela organização perfeita
que ele pode obter os resultados desejados, é pela organização
que se consegue os objectivos políticos, a independência nacio-
nal e a democracia.
A organização política
78
geira . É para atingir a Independência Nacional que todos se
unem numa só Organização.
O partido político é, em regra, organizado para defender
os interesses de uma determinada classe social . Os partidos
fascistas representam os interesses da alta burguesia, dos impe
rialistas, dos grandes capitalistas e opõem-se aos interesses dos
operários e camponeses que exploram. Os partidos fascistas
são constituídos para manter a exploração dos trabalhadores .
Os partidos socialistas defendem os interesses dos operários e
dos camponeses contra a exploração da burguesia e dos capi
talistas.
O Movimento de Libertação Nacional, como o seu nome
indica, é organizado para libertar uma Nação da dominação
estrangeira; ele defende os interesses de todo um Povo, sem
distinção de classes sociais. O Movimento de Libertação Na
cional não é, portanto, o movimento de uma só classe. Por
isso, todos os componentes da Nação, os operários , os cam
poneses, os pequeno-burgueses, e os burgueses, podem per
tencer ao mesmo Movimento de Libertação. Diferentes con
cepções políticas e ideologias se harmonizam em programa de
acção comum, com o objectivo principal de expulsar do terri
tório nacional o ocupante estrangeiro. As contradições de
classe, religiosas, ideológicas ou outras, são resolvidas dentro
do Movimento de Libertação em favor de uma acção comum
para um objectivo comum.
Tanto no partido como no Movimento, porém, adoptam-se
certas formas de organização, de acordo com os objectivos
a conseguir. A organização tem de estar de acordo com os
objectivos e por isso devem estar muito claramente definidos .
Para a nossa luta, por exemplo, temos de saber bem o que é
que nós queremos conseguir. Nós queremos a Independência .
Mas Independência para quem? Para uma classe ou para
todos? A democracia para alguns ou a democracia para
todos? De acordo com as respostas que nós damos a estas
perguntas, assim deve ser a organização.
A organização do partido é mais forte do que a organi
zação do Movimento de Libertação. Os resultados obtidos
pelas diferentes formas de organizações em diferentes épocas
e países, assim o demonstra. A organização partidária é mais
forte do que a organização do tipo movimento ou frente, por
que a coesão entre os seus membros é necessariamente maior.
partido obriga todos os membros a optar pela mesma con
79
cepção ideológica ou política, o que implica maior profun
didade na acção e mais disciplina . A organização política de
tipo não partidário como a de um movimento de libertação,
contém em si a fraqueza de não poder optar por uma única
ideologia, uma única concepção política, um semelhante com
portamento social. As contradições sociais continuam a existir
dentro do seu seio e as ligações entre os seus membros são
fracas. A organização do tipo partidário é , portanto, a melhor
forma de defender os interesses de uma classe ou de uma
nação. É uma forma superior de organização.
80
OS SERVIÇOS DE ASSISTÊNCIA MÉDICA ( S. A. M. )
O S. A. M. E A REVOLUÇÃO
81
É esta prática revolucionária quotidiana que é o garante,
no futuro, que nenhuma outra classe ou camada social ango-
lana tomará o poder político, para desviar a Revolução dos
objectivos perseguidos pelo M. P. L. A..
É também neste quadro que se insere a actividade dos
S. A. M ..
Durante os 14 anos de luta de Libertação Nacional os
camaradas do S. A. M. ganharam uma grande experiência
de luta ao lado das massas no combate à doença e à igno-
rância.
O
Art. 1. A organização regional de Luanda dos Serviços
de Assistência Médica -S. A. M. - é constituída por uma
Comissão Coordenadora , um Grupo Dinamizador, uma Estru-
tura Fixa e uma Estrutura Móvel.
Art. 2.º1 ) A Comissão Coordenadora é o órgão de
cúpula dos S. A. M. de Luanda e ao qual compete generica-
mente a planificação, direcção e orientação de toda a sua
actividade.
2) - Compete-lhes especialmente:
a) - Estabelecer a ligação com a Direcção Nacional dos
S. A. M., com o Estado-Maior Regional e com os restantes
Departamentos do Movimento;
b) .
c) - Velar pelo cumprimento e aplicação da disciplina
e da moral revolucionária do nosso Movimento e pela forma-
ção política e ideológica dos militantes do Departamento .
Art. 3.º 1 ) —O Grupo Dinamizador é constituído por
um número de 5 a 10 membros eleitos em reunião geral dos
S. A. M.
2) São atribuições do mesmo:
a) — A dinamização política de toda a estrutura do Depar-
tamento;
b) - A organização, por todos os meios, de actividades
e tarefas visando a elevação do nível de consciência política
dos militantes dos S. A. M. e dos camaradas internados no
Departamento;
82
Art. 16. - Das Brigadas Sanitárias:
1) - O trabalho das Brigadas Sanitárias é orientado e diri
gido por um coordenador;
2)- Cada uma destas brigadas é constituída por:
2 médicos
2 enfermeiros
1 socorrista
1 maqueiro
3) - As Brigadas Sanitárias compete:
a) - Prestar apoio médico-sanitário aos C. I. R. e unidades
militares da periferia ;
b) - Prestar os primeiros socorros nos postos avançados ;
c) - Proceder à evacuação de feridos;
d) -Planificar a educação sanitária das respectivas áreas .
83
!
ORGANIZAÇÃO DA MULHER ANGOLANA
Art. 1. Da Denominação:
—
ORGANIZAÇÃO DA MULHER DE ANGOLA
(O. M. A.)
Art. 2. Da Sede:
- ANGOLA
Art. 3. Da Definição:
85
b) — A integração da mulher em plena igualdade de direi-
tos, na vida da Nação .
86
membro da O. M. A. , independentemente do cargo que este
ocupe.
c) - Propôr a adesão de novos membros.
87
Assembleia da O. M. A. , no período compreendido entre duas
Assembleias.
b) - A Direcção é constituída por quatro membros: Pre-
sidente, Vice-presidente , Secretária e Tesoureira, eleitos em
Assembleia .
I - ORGANIZAÇÃO
88
c) - Reestruturação das secções já em funcionamento e
criação de outras de acordo com as ideias políticas da
«O. M. A. » , observando o princípio de que todos os militantes
devem pertencer a uma secção.
II- TAREFAS
89
DEOLINDA RODRIGUES
FUNDADORA DA O. M. A.
91
camaradas DEOLINDA, IRENE, ENGRACIA, TERESA c
LUCRÉCIA.
A elas, que jamais verão as crianças brincando numa
Angola livre, o Povo Angolano jura vingança e afirma que
vingará o seu sangue.
«Não choremos os mortos, mas faremos do seu sangue um
bálsamo que nos dará mais energia , mais iniciativa e maior
responsabilidade no cumprimento do DEVER» .
VIVA O M. P. L. A.
A VITÓRIA É CERTA!
92 22
OS PIONEIROS ANGOLANOS DO M. P. L. A.
Presidente do M.P.L.A.
93
GUSTO NGANGULA o título póstumo de Pioneiro Heróico
do M. P. L. A.
Angola, 3/3/69
A VITÓRIA É CERTA!
Comité Executivo do M. P. L. A.
94
C. I. R. e as bases do M. P. L. A. , mas o Pioneiro AUGUSTO
NGANGULA recusou categoricamente dar qualquer das infor
mações pedidas.
Mas a sua atitude firme exasperou o inimigo que começou
a bater-lhe brutalmente. Então o jovem Pioneiro tentou afastá
-los da pista e conduziu-os para alguns terrenos cultivados na
esperança de se encontrar com alguns dos destacamentos do
M. P. L. A.
Mais tarde, compreendendo que tinham sido enganados,
e já enraivecidos pela coragem, determinação e dignidade do
Pioneiro AUGUSTO NGANGULA, os soldados colonialistas
assassinaram-no barbaramente à machadada.
Algumas horas depois, os helicópteros Alouette 2 e Alouette
3 recolheram os criminosos soldados portugueses. O corpo
horrivelmente mutilado do jovem Pioneiro ficou abandonado
até que os guerrilheiros do M. P. L. A. o encontraram e lhe
deram sepultura .
O heróico Pioneiro AUGUSTO NGANGULA tinha apenas
12 anos .
(Hino do Pioneiro do M. P. L. A. )
95
Mas repentinamente, o Pioneiro União verificou que
dois grupos de soldados portugueses se aproximavam, de
direcções opostas, do sítio onde ele estava.
Vendo a impossibilidade de se afastar para avisar os
seus camaradas, o Pioneiro União decidiu abrir fogo con
tra o grupo que estava mais próximo dele. Este grupo
inimigo respondeu, dando origem a que o outro grupo
também abrisse fogo.
O Pioneiro União foi ferido durante o tiroteio. Contudo ,
conseguiu retirar-se e juntar-se aos seus camaradas en
quanto os dois grupos do inimigo continuavam a disparar
um sobre o outro.
Entretanto um grupo de combatentes do M. P. L. A. ,
que já fora informado do que se passava, tinha partido
para o combate.
O Pioneiro União tinha apenas 16 anos .
96
Enquanto os dois GES o levavam para uma elevação
estratégica, apoderaram-se do cobertor e do vestuário do
Pioneiro.
Uma vez chegados à elevação estratégica, o Pioneiro
União foi submetido ao interrogatório inevitável.
P. - És um Pioneiro do M. P. L. A.?
R.Vivo com a minha família nesta área.
Um dos membros da população local que estava pre-
sente (o traidor Mutunga) reagiu a esta resposta, denun-
ciando União como sendo realmente um Pioneiro do
M. P. L. A.
Começou então a tortura com a finalidade de o obrigar
a revelar a localização das escolas do C. I. R. , os depósitos
de material e as bases do M. P. L. A.
O valente Pioneiro recusou-se a dar qualquer das infor-
mações pretendidas pelo inimigo, declarando que não sabia
nada.
Então foi ameaçado com a morte... «Podem matar-me
se quiserem. Eu não conheço esses sítios » , respondeu ele.
Perante a atitude resoluta do Pioneiro União, os seus
captores decidiram levá-lo como prisioneiro para o posto
de Muré e depois para Cangamba , onde foi submetido a
outros interrogatórios por agentes da sinistra P. I. D. E.
Como o Pioneiro União manteve a mesma atitude de
nada revelar, foi mantido preso e assim permaneceu até prin-
cípio de Abril . Então foi-lhe permitido deixar a sua cela ,
mas sob vigilância.
A partir dessa altura, começou a estudar as possibili-
dades de fugir e em Maio conseguiu escapar-se.
Assim, um belo dia, o Pioneiro União apresentou-se
no seu C. I. R. , para grande surpresa dos seus camaradas.
Porém, teve previamente, a preocupação de recuperar o
saco com os documentos e a granada que tinha escondido
quando foi capturado.
Depois de ter relatado tudo o que lhe acontecera, reto-
mou imediatamente os seus estudos .
O Pioneiro União tinha apenas 15 anos.
$97
lanos seguem o exemplo do heróico Pioneiro AUGUSTO
NGANGULA . Eles preferem morrer a viver à custa da traição
à sua Organização e à sua vanguarda, o M. P. L. A.
98
Naquele mesmo dia, os comandos das forças armadas
portuguesas estavam em operações na área da Escola de
Pioneiros n.° 7. A maior parte do equipamento da escola
e do C. I. R. teve de ser mudado.
Como os mantimentos eram escassos, uma Pioneira,
Batalha, foi à procura de comida em companhia de 2 outros
Pioneiros e a professora.
Foram surpreendidos pelas forças inimigas e seguiu-se
uma troca de tiros. A professora foi ferida em ambas as
mãos e a pioneira Batalha foi atingida por três balas.
Tinha apenas 8 anos.
Apesar dos ferimentos, a professora tratou de organizar
a retirada levando o corpo da infortunada Pioneira Batalha
Em Maio de 1971 , dois outros Pioneiros distinguiram-se
na defesa da sua própria escola e da sua área de controle.
Três helicópteros Alouette desembarcaram tropas colo-
nialistas que invadiram a Escola Henda . No decorrer da
contra-ofensiva, guerrilheiros e Pioneiros do M. P. L. A.
caíram numa emboscada montada pelo inimigo.
Mas a coragem dos Pioneiros Firme e Disciplina, que
atiraram granadas e descarregaram os seus carregadores
sobre o inimigo, ajudaram consideravelmente a mudar a
situação e as tropas colonialistas portuguesas sofreram
baixas pesadas .
99
Ouve-se cada vez mais frequentemente dizer como os Pio
neiros do M. P. L. A. se destinguem numa determinada opera
ção nesta ou naquela frente de combate. Os Pioneirose do
M. P. L. A. têm praticado actos de coragem e de determinação
sem conta. Mencionamos a seguir alguns, tirados ao acaso,
como exemplo:
O jovem Pioneiro conhecido por Estrela estava a ganhar
o hábito de tomar parte nos combates lado a lado com os guer
rilheiros do M. P. L. A.
Num destes combates travados contra as tropas portuguesas
em pleno terreno pantanoso o Pioneiro Estrela foi ferido gra
vemente. Tendo sido decido evacuá-lo da frente de combate
a fim de receber o tratamento adequado , o Pioneiro Estrela
ainda teve de fazer um esforço considerável para percorrer
algumas dezenas de quilómetros até chegar a uma das bases
junto da fronteira. A sua maior preocupação era completar os
exames da 3.ª classe.
«...Não é nada de sério, camaradas. Vamos perseguir os
portugueses . Eles fugiram, camaradas...» repetia ele aos seus
camaradas , sorrindo apesar do seu sofrimento.
Uma vez restabelecido , Estrela recusou-se a ficar afastado
da frente de combate, perferindo resolutamente continuar os
seus estudos e actividade de guerrilha instalado no C. I. R.
numa das zonas da Terceira Região Político-Militar, onde tinha
conquistado o posto de Chefe Pioneiro.
Apesar de saber que as forças armadas portuguesas faziam
incursões frequentes na área onde se encontrava a sua escola
e os seus companheiros, decidiu pôr-se a caminho, apenas com
uma granada, para se juntar a eles... «para continuar a lutar,
a estudar e a trabalhar» .
Embora os outros Pioneiros tivessem começado as suas
aulas uns meses mais cedo , o Pioneiro Estrela não só conse
guiu recuperar completamente, mas também teve uma das
melhores notas no exame.
Entretanto, durante a sua ausência, um outro Pioneiro
assumiu o seu posto e responsabilidades .
Contudo, Estrela voltou a agir como qualquer outro Pio
neiro, aceitando o facto com modéstia e naturalidade.
Mas, considerando o seu comportamento, o seu trabalho,
a sua disciplina , a sua aplicação ao estudo e o seu espírito de
100
luta, que fizeram dele um Pioneiro exemplar, os outros Pio-
neiros decidiram, numa reunião realizada em Abril de 1971 ,
elegê-lo Pioneiro Comandante.
O Pioneiro ESTRELA tem apenas 16 anos.
(Hino do Pioneiro do M. P. L. A. )
101
g) Cumprem integralmente os «Dez Princípios do Pioneiro
do M. P. L. A. » .
3.º - Não fala nas costas das pessoas e não se ofende quando
é criticado .
6.- Não deseja para si aquilo que nem todos possam ter.
Junho/1973
102
PEQUENA ENTREVISTA COM UM MILITANTE
DO M. P. L. A.
103
pagar mas não sabíamos como reunir o dinheiro. As vezes ,
membros da minha família pensavam comprar roupas com
o dinheiro que tinham conseguido com o nosso produto. Mas
muito raramente o podíamos fazer. Em vez disso, o dinheiro
ia para o «Chefe de Posto» . E tínhamos que ter licenças para
podermos possuir máquinas de costura, etc. Tínhamos que
pagar muito dinheiro aos portugueses para obter essas licenças .
O meu primeiro contacto com o M. P. L. A. foi em 1966.
Encontrei o camarada Kanjangula, que era um comandante na
zona nesse tempo, e um outro camarada chamado «Tudu-é
-nosso»
> na aldeia onde eu vivia. Perguntaram-me se eu não
sabia que o regime «tuga » era mau, e se eu não tinha sido
maltratado, se tinha sofrido. Claro que sim, era essa a reali
dade. Eram os impostos, o trabalho forçado e muitas outras
coisas. Portanto, eu queria mesmo lutar pela liberdade ao
lado dos camaradas e foi essa a razão pela qual os segui até
Mandume e me tornei um membro do M. P. L. A.
A minha tarefa agora é principalmente lutar. Mas é tam
bém mobilizar o povo. Temos que explicar o que é o M. P.
L. A. , quem é o Povo Angolano, etc. Parte da mobilização
é feita nas «udandandas» (alvos estratégicos) . Aí, tentaram os
portugueses inculcar a sua propaganda no Povo. Dizem que
o M. P. L. A. são «bandidos e comunistas que roubam o povo» .
Desta forma querem impedir o povo de trabalhar connosco.
A primeira coisa que temos que conseguir é fazer o povo com
preender que a propaganda «tuga» é falsa; dizemos-lhe que
o M. P. L. A. não quer de maneira nenhuma roubar o Povo,
mas que estamos a lutar para que Angola se torne indepen
dente, e que nunca mataremos o Povo - apenas os nossos
inimigos, aqueles que estão contra a independência e o bem
do nosso Povo. Explicamos-lhe que é por isso que vivemos nas
florestas, e insistimos com eles para que se juntem a nós; e que
talvez eles então compreendam que é por causa de os «tugas >>>
serem inimigos do Povo que eles mentem acerca da nossa vida
nas florestas e querem evitar que o Povo se junte a nós. Con
cluo dizendo que: «Devem dizer a verdade às vossas famílias
e ao povo da «udandanda » . Devem dizer que a nossa vida
nas florestas é bem organizada e disciplinada .
Faço sempre parte de um grupo. Uma das minhas tarefas
é manter a disciplina. Explico aos camaradas por que razão
é necessária a disciplina, porque estamos em guerra. E aqueles
104
que não são disciplinados e não cumprem o seu dever são
punidos.
Antes de um combate também explico o objectivo do com
bate que estamos a organizar. Um plano é preparado anterior
mente, num <« meeting» , e então os camaradas recebem a ordem
de se preparar para partir. Caminhamos até um lugar pré
-determinado e aí explico o plano. A cada um se diz pormeno
rizadamente o que tem que fazer e sublinho a importância de
cada um cumprir a sua tarefa de acordo com o plano, de forma
a assegurar o sucesso da operação.
Tento mobilizar o povo para trabalhar, porque se não
trabalharmos não teremos que comer. E se não tivermos
comida não poderemos continuar a lutar.
A maior dificuldade no meu trabalho é destruir a estupidez
que a propaganda portuguesa incutiu em alguns dos nossos :
tribalismo, racismo, etc. É difícil afastar essas coisas das cabe
ças dos camaradas, porque os portugueses martelaram essas
coisas nas suas cabeças durante muito tempo. Tento explicar
porque é mau o tribalismo, e entre outras razões porque os
<
«<tugas » tentam usá-lo para nos dividir e assim manter o seu
poder. Se continuarmos a estar divididos não seremos nunca
capazes de vencer esta guerra. Será muito mais fácil se nos
mantivermos unidos . Quanto ao racismo, digo: «não é contra
os brancos ou os mulatos que devemos lutar. Também há
traidores entre os negros. E, não se deve julgar ninguém pela
cor, mas pelas suas opiniões » .
Na Angola do futuro quero o fim do sofrimento e uma
vida melhor para o povo. Teremos então afastado todos os
maus pensamentos -tribalismo e o racismo, por exemplo -
que os «<tugas » puseram na nossa cabeça. Se não tivermos
suficiente comida e roupa , então foi porque não trabalhámos
o suficiente. Vamos trabalhar com todas as nossas forças
para o bem de todo o nosso povo .
105
A VIDA REVOLUCIONÁRIA DO COMBATENTE
HOJI YA HENDA
107
A Rodésia do Norte alcança entretanto a independência
com a denominação de Zâmbia, e o comandante Hoji Ya
Henda foi libertado, retomando as actividades revolucionárias.
Em 1966, com 24 anos, foi promovido a Coordenador da
Comissão Político-Militar do M. P. L. A. , tornando- se assim
altamente responsável pela organização militar de todo o ter
ritório nacional.
Em 1967, em resposta à palavra de ordem do camarada
presidente Agostinho Neto, «generalização da luta armada a
todo o território nacional » , o camarada comandante Hoji Ya
Henda fica responsável pela 3.ª Região com a pesada respon
sabilidade de pôr em prática essa palavra de ordem.
A 14 de Abril de 1968, o camarada Hoji Ya Henda cai
heroicamente no assalto à caserna de Karipande.
Em Agosto do mesmo ano, a Assembleia regional, reunida
em território libertado da frente de Leste, reconhecendo as
suas qualidades excepcionais, concedeu-lhe a título póstumo
o título de «< Filho bem amado do povo Angolano e Heróico
Combatente do M. P. L. A. » .
A juventude angolana saberá inspirar-se na vida exemplar
do comandante Hoji Ya Henda .
108
VIVA A DISCIPLINA REVOLUCIONÁRIA ,
ABAIXO O LIBERALISMO !
*1.09
-Eu penso que os camaradas que trabalham nos dife-
rentes departamentos não deveriam fazer trabalho manual.
É só perder tempo.
Eu estou de acordo contigo. És livre de teres as tuas
opiniões. Eu nem discuto o que disseste. O que interessa
é que haja unidade entre nós, a discussão só atrasa e impede
o trabalho.
- Esta Josefa é muito indisciplinada. Então não é que
ela diz que os camaradas que trabalham nos departamentos
não devem participar no trabalho manual?
Criticaste a sua atitude?
- Não, cada um é livre de ter as suas opiniões, não é?
- Mereces ser criticado. Não combates as opiniões erra-
das porque, segundo dizes, o mais importante é que haja uni-
dade e trabalho. E agora fazes ataques pessoais?
―
Ataques pessoais?
― Sim, ataques pessoais, porque quando não criticas um
camarada directamente em reunião , e depois o fazes pelas
costas, estás a fazer um ataque pessoal. Ainda por cima, foste
queixar sobre a Josefa à camarada Marta só para intrigar, por-
que na reunião não disseste nada . Ouve, o teu comportamento
é liberalista !
Somos liberalistas quando não combatemos as opiniões
erradas, dizendo que é para defender a unidade e a boa orga-
nização nos trabalhos , embora por outro lado façamos ataques
pessoais, queixas e procuremos vingar-nos.
ESTE É UM QUINTO COMPORTAMENTO LIBERA-
LISTA.
110
HINO DO M. P. L. A.
«COM O POVO HERÓICO E GENEROSO >>
111
O PENSAMENTO POLITICO
DE AGOSTINHO NETO
8
**
I
SOBRE AGOSTINHO NETO
115
para que sejam decididos , não temam sacrifícios nem a morte,
vençam todas as dificuldades, tudo para a vitória, tudo pelo
Povo. Depois , é preciso elevar a consciência política das mas
sas populares arrastando-as para o honroso combate por uma
Angola para o Povo Angolano e não para os colonialistas,
nem para os traidores aliados do colonialismo e do imperia
lismo.
116
LONGA VIDA AO CAMARADA AGOSTINHO NETO!
VIVA O GRANDE E GLORIOSO M. P. L. A. !
O POVO UNIDO VENCERA !
117
Mas, para que a criança sinta já alguma liberdade e neces
sidade de se organizar foi necessário o sacrifício e as vidas
de muitos outros que sofrendo as vicissitudes deste regime
se empenharam na luta de libertação Nacional .
Entretanto a criança participa alegremente na luta, por
que sabe que não mais sofrerá a opressão. Ainda há bem
pouco tempo, quando da expulsão dos lacaios do imperialismo
na nossa cidade eram os pioneiros que transportavam as muni
ções e a comida para os nossos soldados.
A Bola de trapos ficou esquecida .
As gajadas ficaram por apanhar.
O Pioneiro sabe que primeiro terá de lutar contra a
opressão para mais tarde poder brincar e ir à escola tranqui
lamente.
O camarada Presidente vai contar-nos alguma coisa sobre
a sua infância e a de todas as crianças que como ele sofreram
a dominação colonial.
CAMARADAS PIONEIROS
118
Esta criança já não pode aceitar as condições a que
foram submetidas muitas outras no passado e principalmente
antes de batermos o colonialismo através de uma luta armada.
Creio também que para todos os jovens e que para todas as
crianças já é um lugar comum dizer-se que todos nós, desde
os pioneiros até aos velhos, devemos resistir a toda e qualquer
tentativa de dominar o nosso país. O imperialismo está à
espreita, a perfídia colonialista não desapareceu completamente
do nosso território. Há, portanto, ameaças sobre nós. Aos nos-
sos militantes por um lado e àqueles que através de uma vida
mais prolongada continuaram a acção, poderemos garantir-lhes
uma liberdade completa, uma independência completa para
o nosso País. Por isso sempre dizemos que a luta continuará» .
A VITÓRIA É CERTA.
119
UM ANIVERSARIO
Fora do lar
um ex-virtuoso amigo que se embriaga
os nossos exportados para S. Tomé
a prostituição
a angústia geral
a vergonha
No mundo
A Coreia ensanguentada às mãos dos homens
fuzilamentos na Grécia e greves na Itália
o apartheid na África
e a azáfama nas fábricas atómicas para matar
em massa cada vez mais homens
121
Eles espancando-nos
e pregando o terror.
E no mundo constrói-se
no mundo constrói-se
122
MENSAGEM DEPOIS DA FUGA DAS CADEIAS
DE PORTUGAL
(Julho de 1962)
123
Aos nossos aliados na guerra contra a barbárie do colo
nialismo, entre os quais conto com as organizações progres
sistas e democráticas portuguesas no mundo, a cujo esforço
devo a minha libertação , envio um abraço fraterno, consciente
de que a luta contra a exploração do homem pelo homem em
qualquer parte do mundo é um contributo directo para a
nossa libertação.
124
MENSAGEM DIRIGIDA AO POVO ANGOLANO
E A TODOS OS MILITANTES DO M. P. L. A.
(Princípio de 1967)
Compatriotas,
Camaradas ,
125
Se formos capazes de superar estes graves factos , que terão
necessariamente os seus efeitos, o M. P. L. A. , poderá estar
orgulhoso de ter dado, em 1966, passos decisivos para a rea-
lização dos seus objectivos fundamentais; graças à coragem
e à dedicação dos seus militantes, graças ao esforço de mobili-
zação e de organização do mais elevado nível na base do
nosso Movimento, alcançámos vitórias extraordinárias, alar-
gando a nossa acção ao Sul de Angola . A abertura da Frente
Leste alterou profundamente o panorama da luta em Angola,
mostrando ao nosso Povo a via segura a seguir naquela região,
e hoje pode dizer-se que o exemplo dado pelos militantes do
M. P. L. A., tal como o de 4 de Fevereiro de 1961 , começa
a incendiar a savana. Com efeito, exercendo a sua responsa-
bilidade no plano nacional , o M. P. L. A. lança as bases mais
reais para a construção de uma Nação livre, unida, orientada
para o progresso, unindo pela luta todos os elementos do
nosso Povo .
O Movimento Popular de Libertação de Angola é a única
organização nacional que neste momento actua realmente em
território angolano: é necessário reafirmá-lo, dada a confusão
criada pela multiplicidade de organizações pseudo-naciona-
listas, formadas sob bases tribais no exterior do país. O M. P.
L. A. nasceu e existe em Angola. É a única organização que
dirige uma acção armada no interior do país com uma vasta
participação das massas populares em todas as regiões e essa
acção armada progride sensivelmente nas três frentes actuais
do M. P. L. A.: Cabinda , Kuanza-Norte e Moxico .
O ano de 1966 assinala assim o início da generalização da
luta armada, que será uma realidade em 1967. Isto porque
o nosso Povo está pronto a participar na luta armada . O ini-
migo preocupou-se grandemente e concentrou , a toda a pressa ,
a tropa na região por ele denominada «Zona de Intervenção
Leste», que tem o seu centro na cidade do Luso. Como ten-
tativa de intimidação, fez incursões em território zambiano.
Os efeitos da alteração do equilíbrio que o inimigo procurava
manter quando lutava apenas na frente Norte são evidentes
nas suas próprias reacções e encontram expressão diversa em
certas manifestações do Povo Português e do imperialismo.
O inimigo violou as regras de convivência internacional perse-
guindo e atacando os refugiados angolanos em território zam-
biano; aumentou a repressão policial e militar no Moxico, repe-
126
tindo os seus métodos habituais , prendendo e assassinando mui
tos dos nossos compatriotas, queimando aldeias inteiras, deslo
cando as populações para as zonas estratégicas, com o fim de as
controlar e evitar a sua participação na luta, abatendo o gado
pertencente ao Povo, para reduzir a sua possibilidade material
de contribuir para a guerilha .
Todos estes crimes, que fazem aumentar o ódio do Povo
contra os colonialistas, demonstram a desorientação em que
o inimigo se encontra perante a possibilidade de generalização
da luta.
Muitos outros factos provam a desorientação causada pelo
alargamento da luta armada sob a direcção M. P. L. A., cujos
objectivos políticos são claros e bem definidos.
Em Angola vive-se um clima de mobilização geral . Os
colonos estão armados e organizados em milícias como em
1961 ; o período de prestação do serviço militar foi prolongado
para 4 anos e o orçamento português prevê 42 % do seu total
para as despesas com a guerra colonial: mais de 6.000 milhões
de escudos!
O inimigo procura também desmobilizar o Povo com a
corrupção e com algumas concessões às reivindicações do
nosso Povo. Sem dúvida que a alguns sectores da nossa popu
lação foram concedidas melhores condições de vida , mas não
se modificou certamente a base material em que vive a grande
maioria.
O Povo Português, apesar da educação colonialista e de
ser obrigado para fazer a guerra colonial em Angola, em Mo
çambique e na Guiné-Bissau, compreende o crime histórico
que vem a cometer e em alguns casos resiste a esta guerra .
Ŏ Povo português compreende que Angola não é portuguesa ,
compreende que Angola pertence aos angolanos e só a eles.
Em Portugal, aumenta o movimento de deserções dos sol
dados. Muitíssimos jovens preferem fugir do país ou correr
o risco da prisão a participarem neste crime que é a guerra
colonial.
Recentemente houve um movimento de rebelião em Angola .
Todavia, o governo colonial-fascista português não com
preende os interesses dos povos e persiste na sua política de
«<integração» . Como dizia aqui há um mês um importante
sector da oposição portuguesa , num documento enviado ao Pre
sidente da República, propõe uma solução (chamada «pro
blema do ultramar») com a igualdade do homem negro numa
127
pátria comum. A oposição democrática progride na com-
preensão do problema, mas nem sempre nos seus aspectos fun-
damentais, nem sempre se pronuncia claramente pelo reconhe-
cimento do nosso direito à independência.
Assim, nós não consideramos completamente justa a po-
sição do sector da oposição democrática portuguesa, em relação
ao problema colonial .
Não basta a «...convivência fraterna das raças, a criação
de uma cultura, a promoção e o respeito das elites negras» , não
basta a «
< igualdade de direito e de facto de todas as populações
que vivem no ultramar, no âmbito da grande responsabilidade
civilizadora » .
Não basta isto nem são estes os aspectos essenciais da rei-
vindicação armada do Povo Angolano. Nós combatemos e
combateremos pela independência completa. Nós combatemos
porque se reconheceu o direito à soberania do Povo Angolano.
Este é o objectivo essencial da nossa luta.
A oposição democrática portuguesa deve superar, com um
passo justo e encorajante, a estreiteza dos seus interesses nacio-
nais para universalizar-se e fazer seus os interesses comuns,
fazendo-os coincidir com os processos revolucionários, com
os direitos inalienáveis do Povo Angolano .
No plano internacional, as reacções ao alargamento da
nossa luta começam a assumir dimensões enormes.
As tentativas de ressuscitar cadáveres políticos, jogando
com o problema da divisão do nacionalismo angolano, multi-
plicam-se e apresentam-nos factos completamente falsos e ten-
denciosos.
Nos últimos dias verificaram-se episódios extremamente
graves na zona vizinha à fronteira Nor-nordeste do nosso país.
Rendemos uma sincera homenagem aos sinceros patriotas que
se lançaram no ataque aos colonialistas portugueses , demons-
trando mais uma vez que também a população refugiada no
Congo deseja lutar contra o ocupante colonialista para conse-
guir a independência. O M. P. L. A. inclina-se perante estes
heróicos e generosos combatentes, muitos dos quais se tornaram
imortais pelo sangue que derramaram nos campos.
Contudo, a estes compatriotas, o M. P. L. A. recomenda
que não se deixem contagiar pelo aventureirismo daqueles que
não se preocupam em sacrificar vidas preciosas para obterem
determinado efeito político.
128
A guerra de libertação nacional que o M. P. L. A. começou
a dirigir com firmeza exige orientação , clareza de objectivos,
política de acção e honestidade.
A luta poderá desenvolver-se com incitamentos ao triba
lismo, à divisão, com apelos à superstição e aos instintos pri
mários e sem claros objectivos políticos. Deste modo pode
dar-se espectáculo a custo de muitas vidas, podem atacar-se
cidades e casernas, mas não se obtêm resultados; não se é
consequente.
O melhor exemplo para isto é dado pelos tristes aconteci
mentos da nossa luta armada no Norte do país devido à falta
de organização e de uma justa orientação política , que con
duziu a uma derrota que hoje, cinco anos depois, começa a
ser ultrapassada pelos guerrilheiros do M. P. L. A.. Posso
garantir, camaradas e compatriotas que a situação é hoje
completamente diferente da de 1961.
A nossa resposta ao ataque do imperialismo é dada no
interior do nosso país, onde os militantes do M. P. L. A. , de
armas na mão, estão inflingindo golpes sobre golpes aos colo
nialistas portugueses e organizam e politizam o Povo.
1967 será o ano da generalização da luta e nem os colo
nialistas portugueses em Angola nem os outros imperialistas
poderão impedir ou travar a nossa acção.
Em 1967 , o M. P. L. A. afirmar-se-á como único dirigente
da luta e os portugueses colonialistas sentirão mais gravemente
o peso da nossa acção.
Compatriotas,
Camaradas,
129
9
É necessário esclarecer, e esclarecer sempre.
É nesta base política que poderemos consolidar os sucessos
da luta armada, é assim que a luta avança .
Por outro lado , todos os angolanos convictos e honestos
deverão participar activamente na luta de libertação. Nas
duas formas de organização que adoptamos hoje: seja a orga
nização clandestina, seja o destacamento de guerrilha .
Todos os patriotas sinceros têm o dever de participar nesta
luta, organizados e disciplinados, para atenuarem o sofrimento
do nosso Povo e atingirmos em breve a nossa independência
completa.
Compatriotas
Camaradas ,
VITÓRIA OU MORTE !
A VITÓRIA É CERTA!
130
CONFERÊNCIA DE IMPRENSA - BRAZZAVILLE
(Janeiro 1968)
Excelências ,
Senhores representantes da Imprensa,
Senhoras e Senhores ,
Camaradas,
131
Aqueles que seguem mais de perto a nossa luta, terão
podido verificar quanto os portugueses estão preocupados com
a consolidação da resistência do nosso Povo. Terão podido
constatar o enorme aumento das perdas sofridas pelo exército
colonial, pelas forças militarizadas dos colonos ditos volun-
tários e pela polícia política, a PIDE. Terão ainda sabido do
abandono maciço, por parte do nosso Povo, das zonas estra-
tégicas, apesar da apertada vigilância por parte das autoridades
coloniais, que tentam em vão impedir a participação da
população activa na luta de libertação. Outro sinal desta
inquietação é a degradação moral em que os colonos caiem
cada vez mais, a sua pressa de reformas para corromper certos
elementos angolanos menos firmes que possam ser expostos
ao estrangeiro como prova de fidelidade de um Povo, Povo esse
que soube, durante sete anos, pegar em armas para gritar: —
Colonialista, fora do nosso País!
Para fazer frente à crescente ofensiva do nosso heróico
Povo, o inimigo prepara o aumento dos seus efectivos desti-
nados, segundo os seus oficiais superiores , a passar à ofensiva
contra os nacionalistas, cujo grau de aperfeiçoamento militar
melhora e cuja consciência política aumenta proporcionalmente
à extensão do território controlado , que compreende uma região
bastante mais vasta do que Portugal.
Por outro lado, o Povo português , explorado por um regime
fascista, através de monopólios que estão nas mãos de uma
pequena camada de capitalistas nacionais e estrangeiros, com-
preende o carácter injusto desta guerra e participa sem entu-
siasmo (excepção feita para alguns fanáticos, odiados pelos
seus próprios compatriotas) . Quanto mais a guerra avança , mais
relevantes são as deserções do exército por parte dos jovens
portugueses que emigram em número considerável para outros
países europeus ou que desertam no campo de batalha, para
não sujarem as mãos na defesa da criminosa política de Sala-
zar. As prisões da PIDE em Angola e em Portugal, assim
como as prisões militares, estão cheias destes jovens que se
recusam a combater contra os Povos das colónias , em Angola,
na Guiné e em Moçambique.
Este facto é bastante encorajante na medida em que o
M. P. L. A. não dirige a sua luta contra o Povo português,
também ele vítima da exploração e com o qual não existem
problemas insolúveis, mas contra o regime fascista que quer
manter a todo o custo o anacrónico sistema colonial. Nós
132
lutamos contra a exploração colonial , não lutamos contra o
Povo português , cuja luta contra o fascismo se enquadra na
luta contra a exploração e a miséria, pelo progresso e pela paz.
É justo render homenagem às organizações democráticas
portuguesas que fazem todos os possíveis para mobilizar o seu
Povo contra esta guerra assassina , apesar dos perigos e dos
sofrimentos que esta actividade implica . Lutando contra o
fascismo e contra a guerra colonial, as organizações democrá
ticas portuguesas merecem o nosso respeito e a nossa admi
ração . Isso dá-nos um contributo positivo para que, de futuro,
se estabeleçam relações justas entre os nossos povos, baseadas
no reconhecimento do direito à independência e à soberania
social, à igualdade e ao respeito mútuo.
Contudo, apesar de todos estes factos, apesar das derrotas
que está a sofrer nas guerras coloniais em Angola, Guiné
e Moçambique, no campo de batalha , como pela tomada de
posição por parte do sector mais esclarecido e honesto do seu
Povo, o governo fascista de Salazar ainda não se convenceu
da necessidade de modificar a sua política e tenho profundas
razões para crer que só se verificará uma alteeração no mọ
mento em que se alcançar o estado de insurreição generalizada .
Enquanto se intensifica a repressão em Portugal e nas coló
nias, o governo português procura obter uma sempre maior
ajuda material dos seus aliados da NATO em troca de cres
centes concessões de carácter económico, político e militar.
Ultimamente foi a África do Sul racista e fascista, cujo
papel de defensor da África Austral se torna cada vez mais
claro, a ser solicitada para dar ajuda a Portugal na sua guerra.
O governo sul-africano prepara os reaccionários do seu país
para a intervenção directa em Angola, sob o pretexto de que
a presença de Portugal em Angola contribui para impedir a
subversão, que contaminaria o Sul de África . Ninguém ignora
a política de corrupção que a África do Sul pratica em relação
a alguns países africanos pouco empenhados na luta pela com
pleta libertação dos seus povos. E ninguém ignora que a
África do Sul pretende controlar a economia dos países da
África Austral, através da formação de uma espécie de mer
cado comum que compreenderia, entre outros, os países domi
nados por Portugal, ou seja Angola e Moçambique. O regime
racista sul-africano está também a revelar as suas ambições
com a tentativa de dominar militarmente outros países, como
se pôde ver, por exemplo, com a entrada das suas forças
133
armadas na Rodésia, sob o pretexto de combater os nacio-
nalistas daquele país, e com a instalação de bases militares
na fronteira com Angola.
O M. P. L. A. dirige o seu Povo contra o colonialismo
português, que é o seu inimigo directo, mas é também forçado
a tomar posição perante as ameaças provenientes dos outros
países aliados de Portugal, como no caso que citei. E sejam
quais forem as forças que Portugal consiga mobilizar, nunca
conseguirá travar a marcha triunfal para a independência com-
pleta, iniciada pelo nosso Povo, a preço do seu sangue e dos
seus sacrifícios .
Com a população decidida a lutar com firmeza contra o
colonialismo, o M. P. L. A. fez uma análise da situação nas
suas três frentes de combate , numa reunião do Comité Director,
realizada em Julho passado no distrito do Moxico, durante a
qual decidiu criar uma nova região político-militar, a quarta
região, da qual continuam a chegar notícias de uma actividade
sempre crescente. Este ano estão a criar-se novas regiões de
modo a que não existam mais várias frentes de combate, mas
uma única que conduza o inimigo a círculos que o paralizein
e o tornem inofensivo , até ao golpe final que culminará com
a tomada do poder político pelo nosso Povo.
Alguns comunicados sobre a nossa actividade deram notícia
sobre desenvolvimento das frentes de combate e sobre a orga-
nização do Povo libertado do controle colonialista . Nas
regiões que se encontram sob nosso controle, estabelecem-se
organismos de poder popular com o fim de desempenhar uma
função de orientação e de administração das populações, como
a organização das milícias, o desenvolvimento da produção,
o estudo dos meios para o desenvolvimento económico dessas
regiões, as trocas comerciais , o ensino primário, a educação
política, a assistência médica.
Certas conquistas do nosso Povo, já permitiram tomar
outras decisões de carácter político e militar; eis algumas das
mais importantes, que representam um passo decisivo para
a nossa luta: a Sede do nosso Movimento não funcionará mais
no exterior; a sua transferêcia para o interior já começou .
Isto significa que o Quartel General do nosso Movimento já
não é em Brazzaville mas numa das regiões controladas pelo
nosso Movimento . Esta medida significa que a nossa Direcção
considera o momento propício para que os nossos dirigentes
trabalhem permanentemente no seio do Povo, mais próximo
134
dos seus problemas, com o fim de contribuirem mais de perto
para o aumento do nível da luta, para lhe dar um conteúdo
político mais definido em todas as regiões e para fazer passar
à sua fase decisiva.
Durante um certo período , justificava-se a presença de uma
parte da Direcção no exterior. Era necessário vencer a capa
de silêncio imposta pelas autoridades coloniais; era preciso
que a situação do nosso país fosse conhecida no mundo. Era
necessário atrair sobre a nossa luta a simpatia e a ajuda dos
países que querem a paz. Era preciso ainda desmascarar os
falsos nacionalistas que procuravam bloquear a luta do nosso
Povo com o fim de prepararem a via que o conduziria a uma
situação neo-colonial. Não obstante estes aspectos ainda per
sistirem , a sua importância está consideravelmente diminuida
em relação ao desenvolvimento interno de Angola . É por isso
que, a partir deste ano, a nossa Sede funcionará no interior do
nosso país e será do interior que dirigimos toda a actividade
tanto no plano interno como no plano internacional.
Esperemos ainda que uma grande parte das centenas de
milhares de refugiados que se encontram no exterior do país
regressem para as zonas sob o nosso controle para darem
o seu contributo directo à luta em todos os objectivos sociais
que a reconstrução do nosso País requer, devido a quase cinco
séculos de colonialismo. É encorajante poder verificar que
muitos refugiados na Zâmbia já o fizeram e que participam
com entusiasmo na actividade patriótica.
Queremos exprimir aqui a nossa gratidão aos países amigos
que nos acolheram durante todos estes anos e que certamente
continuarão a permitir manter as ligações com o mundo exte
rior. Entre esses países destaco o Congo Brazzaville e o seu
Presidente Massemba-Débat, que nos recebeu fraternalmente
no momento mais crítico da nossa existência, no momento em
que a Organização da Unidade Africana cometeu o erro his
tórico de reconhecer um pretenso governo no exílio (GRAE)
incapaz, sem qualquer interesse em desenvolver a luta e que
não fazia mais do que a travar. Quero recordar também a
Guiné-Conakry e o seu Presidente Sekou Touré que foram os
primeiros em África a ajudar o M. P. L. A. e que, tal como
o governo do Congo-Brazzaville, estavam certos de darem hos
pitalidade a uma organização de homens sinceramente patrió
ticos, devotados à causa do seu país , capazes de mobilizar o
Povo para a luta . Creio que, hoje, tanto Brazzaville como
135
Conakry podem estar orgulhosos do seu contributo para com
a nossa luta, de terem aberto o caminho ao passo decisivo
que hoje damos.
Não podemos calar de resto a nossa gratidão para com
a compreensão de alguns países africanos que, como a Repú-
blica Arabe Unida , a Tanzânia, a Argélia e a Zâmbia, abri-
gam os nossos delegados no exterior.
Nunca esqueceremos o apoio que recebemos aqui no Congo
e que seguramente continuaremos a ter e estamos felizes por
existirem em África países que querem o progresso e que
vêem com clareza os problemas do Continente.
Pelo contrário, é com um sentimento de tristeza que
somos forçados a declarar publicamente que há ainda no
nosso continente países que cometem os erros mais incom-
preensíveis limitando a nossa capacidade de luta, praticando
uma política que não os honra.
Falo de um dos nossos vizinhos , o Congo Kinshasa, que
ainda não encontrou a via mais correcta a seguir para ajudar
os Movimentos de Libertação de África .
O Congo Kinshasa atrasa a nossa actividade impedindo
que os nossos destacamentos atravessem o seu território com
o material necessário para abastecer os nossos combatentes
e para aumentar o seu potencial militar. Não posso deixar de
referir o comportamento tido em Junho de 1967 , quando
uma coluna de quase 200 homens se dirigia para Angola e foi
impedida de prosseguir caminho pelo exército congolês, que
a desarmou e prendeu os nossos militantes (a 12 km da
fronteira) . E não é tudo: até hoje, o governo do Congo
Kinshasa reteve as armas e todo o equipamento que o desta-
camento levava.
Sob que pretexto pode um país africano agir deste modo?
Evidentemente, semelhantes actos não honram nem o país
nem o governo que os cometeu e nós esperamos que Kinshasa
reveja o seu comportamento e restitua o nosso material de
guerra destinado à luta contra os portugueses e nos conceda o
direito de transitar no seu território, de acordo com a respectiva
decisão da O. U. A..
Queremos ainda referir um outro aspecto: no Congo
Kinshasa, cerca de 100 membros do M. P. L. A. encontram-se
presos no campo de concentração de Kinkusu , nome que se
está a tornar tristemente célebre por causa das violências que
ali são praticadas e, segundo os relatórios daqueles que conse-
136
guiram fugir, pelas prisões subterrâneas nas quais os prisio
neiros se encontram na situação de sepultados vivos. Segundo
notícias recentes, uma das nossas camaradas contraiu ali uma
doença mortal em consequência dos sofrimentos a que era
diariamente exposta; um outro glorioso combatente do nosso
país, o comandante Benedito, está quase cego porque passa
a maior parte do tempo numa cela sem luz. Sabemos também
que actualmente se prepara a liquidação física dos nossos
militantes mais corajosos .
Que país se pode sentir honrado por estas acções cometidas
contra os combatentes da liberdade? Que país pode ficar insen
sível perante estes crimes cometidos contra os que querem
apenas a sua independência , que mais não prentendem do que
lutar contra o inimigo português e contra os mercenários em
Angola que ameaçam a segurança do próprio Congo?
Não, estas acções não podem honrar ninguém !
137
1. A libertação dos nossos camaradas presos no campo
de concentração de Kinkuzu;
2. O fim dos assassinatos dos nossos militantes;
3. A restituição das nossas armas confiscadas sem
justificação alguma.
138
DISCURSO TRANSMITIDO PELA RÁDIO TANZANIA
NO PROGRAMA «A VOZ DE ANGOLA COMBATENTE >>
(6 de Junho de 1968)
Companheiros de luta,
Camaradas,
139
e progredir. A cooperação dos Povos das actuais colónias
portuguesas é e será absolutamente essencial não só para a
conquista da independência, mas também durante a fase de
reconstrução nacional.
Felizmente, já temos perante nós a experiência de Africa,
após a independência dos países do nosso continente que
estavam dominados pelo imperialismo. Se, por um lado, esta
experiência mostrou muitos aspectos positivos , é evidente que
por outro revelou fraquezas - sendo uma das principais a
dependência económica generalizada nas relações com as
antigas metrópoles, cuja consequência é impedir o acesso à
independência completa.
Esta experiência deve estimular-nos, nós que estamos a lutar
de armas na mão, a procurar formas mais avançadas e muito
mais efectivas de organização , com o fim de atingirmos o
nosso fim: a Independência completa. O sangue que tem sido
derramado pelos melhores filhos das nossas Pátrias, e os esfor
ços de cada guerrilheiro e de todos os nossos Povos , não podem
ser gastos em vão, em métodos errados de organização para
o presente e inadequados para a administração no futuro.
É necessário que o real controle do país , quer no ponto de
vista político, económico ou social, esteja nas mãos do Povo
que está empenhado na luta , e não nas mãos de burocratas
que, diga-se de passagem, são desonestos e nem sempre são
aqueles que encontraremos ou que actualmente encontramos
no campo da batalha. Muito menos poderíamos permitir que
estrangeiros continuassem a explorar os nossos Povos, que
o imperialismo estendesse as suas garras sobre os nossos países
e nos subjugasse pelo neo-colonialismo. Temos de lutar pela
independência completa !
Não há dúvida que para se atingir a completa indepen
dência política, económica e social, e para que o nosso Povo
seja verdadeiro senhor do seu destino, é necessário que nos
armemos com os instrumentos próprios para a acção . Na pre
sente fase, é necessário que a luta esteja completamente sob
a orientação de um partido independente que possua ideias
bem definidas ; que os seus militantes sejam disciplinados e
absorvam inteiramente a doutrina do seu partido. É necessário
que os dirigentes sejam honestos, modestos e activos e que não
se poupem a esforços para a boa orientação e organização do
seu Povo. É necessário que estejam sempre ao lado do Povo,
no seu sofrimento e nos seus sacrifícios diários.
140
Um dos problemas mais debatidos ultimamente, é a pre-
sença nos nossos territórios dos portugueses, ou descendentes
de portugueses cujas ideias coincidem com as nossas, cujas
vidas têm sido dedicadas à luta contra o fascismo em Portugal,
e que compreendem e aceitam o direito dos Povos das colónias
portuguesas à recuperação da sua independência e auto- governo
como qualquer outro povo soberano.
Neste ponto, temos por vezes observado reacções negativas
da parte de alguns dos nossos combatentes , e dos nossos ami-
gos. São estas atitudes negativas que podem prejudicar e deter
o êxito da nossa luta pela liberdade. Falo do problema do
racismo.
Nos nossos países, não estamos a levar a cabo uma guerra
racial. O nosso objectivo não é lutar contra os brancos so-
mente porque eles são brancos . Nós lutamos, contra aqueles
que apoiam o regime colonial . Todos aqueles que nos nossos
territórios mostrem as mãos desarmadas, ou que manifestem
o seu desejo de colaborar com os guerrilheiros abastecendo-os
de alimentos e produtos indispensáveis na mata ; todos aqueles
que de qualquer modo mostrem o desejo de não colaborar com
o regime colonial não devem ser desprezados ou tratados como
inimigos . Eles representam uma força que actua a nosso favor
da mesma forma que no plano internacional, não procuramos
somente apoio nos países de Africa a sul do Sahará, a chamada
África Negra, onde a pele dos habitantes é mais escura, mas
também procuramos a ajuda dos países do Norte de África ,
cujos povos têm uma pele mais clara. Vamos mesmo mais
longe, a Europa, em busca de auxílio político, diplomático
e material dos países em que a maioria da população é branca,
e a outros continentes em que as diferenças raciais são ainda
mais marcadas. Se, devido a diferenças raciais, desprezamos
a formidável força representada pelos progressistas do mundo
inteiro e pelos países subdesenvolvidos, estaremos unicamente
a cavar a nossa própria sepultura .
A nossa luta não é uma luta isolada no mundo. Faz parte
da luta global da Humanidade para aniquilar a exploração
do homem pelo homem e é neste contexto que devemos pers-
pectivar a luta fora dos estreitos limites dos preconceitos
raciais.
Portanto, convidamos os portugueses, os filhos do Povo
português, que estão fardados e armados em Angola , Moçam-
bique e Guiné-Bissau a desertarem das fileiras do exército
141
colonial e a não mancharem as suas mãos com sangue de
homens, mulheres e crianças, que têm como único objectivo
alcancar a liberdade - actuando do mesmo modo que o
heróico Povo português aquando da ocupação árabe da Penín-
sula Ibérica. Em vez de assassinarem o Povo indefeso, devem
levantar os braços e render-se nos confrontos com os guerri-
lheiros do M. P. L. A. , F. R. E. L. I. M. O. e P. A. I. G. C..
Serão recebidos como homens e ser-lhes-á dada a escolha do
seu destino em qualquer dos países que aceitam refugiados
políticos. Ou, melhor ainda , fazemos um apelo aos portugueses
para que desertem de armas na mão e passem para o lado dos
nacionalistas, evitando a vergonha de participarem numa
guerra injusta que é tão suja como a guerra do Vietnam.
Durante o prosseguimento da guerra em Angola, o M. P.
L. A. teve ocasião de receber em países vizinhos alguns por-
tugueses que desertaram. E aí, em vários países, alguns deles
estão activamente empenhados na luta contra o regime de
Salazar, enquanto outros trabalham de modo a que eles e as
famílias possam viver em paz.
Portanto, se existe em alguns dos nossos combatentes a
ideia de uma guerra contra os brancos, é necessário que seja
imediatamente substituída pela ideia duma guerra contra o
colonialismo e o imperialismo; uma guerra contra a opressão,
pela liberdade e dignidade de todos os homens do mundo.
Este ideal fortificará a nossa luta. Dará mais garantias e novas
perspectivas que proporcionarão um brilhante futuro para
todos os homens. Numa época de ódio teremos fraternidade
e compreensão.
Não pretendo dizer, camaradas e queridos companheiros
de luta, que devemos ser fracos , que não temos de nos exercitar
duramente e infligir os mais duros golpes aos racistas que
desejam dominar os Povos africanos; que temos de ser com-
placentes com os colonialistas , com os que, no passado, foram
e são ainda hoje os carrascos dos nossos Povos, que devemos
ser complacentes com os agentes da PIDE ou com os colonos
organizados em milícias. Não ! A esses só uma linguagem se
aplica. Só é possível uma justiça . Só uma lei de guerra pode
ser adoptada: têm de ser liquidados, pois eles são o baluarte
da exploração colonial.
Mas, não devemos confundir amigos e inimigos . Temos de
ter cuidado na distinção - escolher, distinguir quem são os
nossos amigos e quem são os nossos inimigos.
142
Algumas vezes , são precisamente os nossos inimigos que
nos afastam dos nossos amigos, tirando partido da nossa inge-
nuidade política ou das nossas fraquezas uma das quais
pode ser o preconceito racial. Onde não existam ideias claras
sobre este assunto, o inimigo imperialista consegue facilmente
separar-nos dos nossos amigos e podíamos mesmo liquidar
com as nossas mãos, preciosas forças dentro das nossas fileiras.
Houve uma altura, entre 1961 e 1963 , em que forças reac-
cionárias comandadas pelo imperialismo se mostraram activas
no norte do país, e milhares de mulatos e assimilados foram
assassinados só porque eram mulatos ou assimilados . Deste
modo, perdemos milhares de homens, mulheres e crianças, a
grande maioria dos quais eram sinceros patriotas e combatentes
fervorosos pela causa da libertação.
Isto aconteceu só porque os imperialistas foram capazes
de inculcar na mentalidade de combatentes politicamente não
esclarecidos , a ideia de que todos os que tinham a pele ligeira-
mente mais clara ou que sabiam falar português, ou ainda que
tinham servido na administração colonial eram necessaria-
mente traidores, que não eram capazes e não tinham o direito
de lutar pela independência. Foram as forças nacionalistas
angolanas que sofreram com isto- perdendo vidas preciosas,
quadros importantes para a Revolução e para a futura vida
do país. Foram vítimas a juntar às vítimas feitas pelos pró-
prios colonialistas.
Mas os gérmens que produzem estes desvios da nossa
linha de acção política não são só originados pelo imperialismo.
Eles derivam também de nós próprios e, portanto, temos de
combater as nossas fraquezas e as nossas deficiências; com-
bater tudo quanto é negativo em nós próprios, nos nossos
militantes, nos nossos combatentes. Por vezes o que gera
o ódio baseado na côr da pele, é a ambição - o desejo de
assegurar para si próprio um bom lugar no futuro.
E do racismo ao tribalismo vai somente um passo.
Na nossa organização, o M. P. L. A. , lutamos rigorosa-
mente contra estes defeitos. Os ambiciosos , os presunçosos, os
que provocam desordens e calúnias para conseguirem ocupar
postos que frequentemente não merecem, ou que não são capa-
zes de ocupar devidamente, esses, são denunciados perante os
militantes e perante o Povo inteiro.
É também lutando nesta esfera de combate na formação
ideológica dos homens e na educação política dos militantes -
143
que conseguiremos garantir para o nosso futuro uma vida
realmente livre.
Nos nossos partidos devemos, portanto, procurar uma linha
política que nos liberte do racismo e do tribalismo e dos erros
que foram cometidos nos países em que a independência veio
mais cedo e por outros meios.
Felizmente, para aqueles que lutam do lado da Justiça
contra a tirania, para aqueles que anseiam pela liberdade,
a luta armada não é somente um sacrifício, é sobretudo uma
força . Não é só um desperdício de vidas, não é só regar os
nossos campos de batalha com o sangue dos melhores filhos
dos nossos Povos; é também uma Escola. É um meio pelo
qual o Povo continua esta luta no futuro, após a independência
política, com o fim de ser completamente livre, independente
política, económica e socialmente.
Como eu disse, a experiência de África ensinou-nos muitas
coisas. Entre elas, podemos citar mais uma. A lição de que
os partidos devem controlar a vida do país em todos os mo-
mentos. A força que nos deu os braços com os quais nos
defendemos da ocupação estrangeira, será a mesma que nos
permitirá garantir a verdadeira independência no futuro. E é
necessário que o partido seja estruturado. Que tenha uma
ideologia bem definida . Que constitua o eixo, a base, o ele-
mento principal da vida na nação. Que seja independente.
Onde não existe um partido , onde os militantes não estão sub-
metidos a uma discilina rígida, onde os dirigentes não se
guiem por princípios revolucionários - penetra a anarquia.
Aí o inimigo infiltra-se mais facilmente, e em vez da indepen-
dência teremos neo-colonialismo, e/ou um equilíbrio instável
entre o progresso e a reacção. Entre a dependência e a inde-
pendência.
E nós não queremos isso! Queremos a independência
completa.
No início desta mensagem, falei da união existente entre
as organizações que dirigem a luta armada nos países domi-
nados por Portugal, a F. R. E. L. I. M. O. , o P. A. I. G. C. e o
M. P. L. A. , ou entre os Povos de Moçambique, Guiné-Bissau
e Angola. Esta união é justa e necessária , e as forças da nossa
cooperação na luta devem ser aperfeiçoadas porque os nossos
inimigos também coordenam as suas actividades. Ninguém
desconhece a ajuda dada pelos países da NATO a Portugal
para a continuação da sua guerra injusta. Ninguém ignora
144
actualmente o facto de que a luta em Angola, Moçambique
e Guiné-Bissau podia ter já terminado vitoriosamente para os
respectivos Povos se não fosse o auxílio material e outro, dado
a Portugal pelos imperialistas unidos na Organização do Tra
tado do Altântico Norte. São os Estados Unidos da América,
a República Federal Alemã , a França , a Grã-Bretanha e alguns
outros países que sustentam Portugal.
Contudo, outro perigo está a surgir e está a tomar forma
em certas esferas . Trata-se da intervenção do regime racista
da África do Sul - odiado por todos os africanos honestos
pela sua violenta opressão sobre o Povo não-branco daquele
país. A aliança entre estes reaccionários e os da Rodésia com
o governo fascista português, constitui um grande perigo para o
Povo de Angola e de Moçambique. Na Africa do Sul discute-se
abertamente na imprensa e na rádio a intervenção directa em
Angola e Moçambique, contra os nossos Povos. É evidente que
se essa agressão se realizar, os racistas da África do Sul apren
derão, através da sua própria experiência, o que os portu
gueses já sabem. Eles terão muitos mortos para enterrar.
Terão muitas famílias de luto como em Portugal. Terão muitos
veículos destruídos e muitos aviões derrubados. E, por fim,
conhecerão a vergonha da derrota, pois nesta guerra a vitória
só pode pertencer aos nossos Povos. Esta vitória, será a vitória
dos nossos Povos e do mundo inteiro sobre a afronta do colo
nialismo. É isto que os arrogantes racistas da África do Sul
aprenderão apesar de toda a sua agressividade e potencial
técnico.
Uma das armas mais apropriadas para conseguirmos afas
tar este perigo, é precisamente a consolidação da nossa uni
dade, alargando- a a outros Povos que sofrem também a mesma
opressão. Mas, esta unidade, deve ser completamente livre
de influências estrangeiras - completamente livre !
Agora, dirigir-me-ei especialmente a muitos compatriotas
angolanos , aos camaradas do nosso Movimento, o nosso
amado M. P. L. A. , e aos combatentes que nas várias frentes ,
estão a dar os melhores exemplos de coragem, espírito de
sacrifício e dedicação desta dura guerra. Esta guerra está
cheia de incidentes - alguns dos quais são desencorajantes,
mas a grande maioria está cheia de incitamentos entusiásticos .
O progresso que tem sido feito pelos nossos guerrilheiros é ma
nifesto, devido à forma como tem sido levada à prática a
palavra de ordem « generalização da luta armada à todo o
145
10
território nacional» . Quando os portugueses dizem que a
guerrilha não atingiu ainda as regiões centrais do país, isto
significa que a guerrilha já lá está. Aqueles que querem iludir
o Povo português, ocultando-lhe a verdade, só caiem em
ridículo, pois a população portuguesa sabe que a guerrilha está
estabelecida no centro do país e sabe que muito em breve ela
atingirá os centros urbanos onde, por enquanto, ainda não há
acções de tipo militar. Podemos garantir aos «dignos » repre-
sentantes da administração colonial que brevemente sentirão
mais duramente e mais extensivamente os efeitos das acções
das nossas forças armadas, e então não será somente o centro,
mas também o Sul e o Norte que conhecerão um período de
luta, de muito maiores dificuldades e muito mais sangue para
os miseráveis colonialistas.
Não é difícil desmascarar as mentiras do governo colonial
de Angola que está empenhado em iludir os seus colonos e a
opinião pública mundial. Por um lado, dizem que a guerrilha
não pode avançar, e contudo, por outro lado, nos distritos
onde há luta armada, todos os habitantes angolanos são
controlados à força , por meio de certificados de residência.
Estes certificados são obrigatórios tanto no Moxico como no
Bié, tanto no Uíge como em Malange; e muito brevemente
aparecerão leis e ordens tornando estes certificados obriga-
tórios na Huíla e em Moçâmedes, no Cuanza Sul e no
Huambo. A guerra generalizar-se-á.
Então, por um lado, dizem-nos que as suas forças armadas
estão com o moral elevado; e, por outro lado , debate-se publi-
camente dentro do regime colonial se os grandes comerciantes
devem desistir só dos seus anéis, ou se devem sacrificar tam-
bém os seus dedos com o fim de proteger as suas proprie-
dades. Há oposição entre militares e civis porque, enquanto
os militares arriscam as suas preciosas vidas, os senhores do
roubo e da exploração continuam a acumular bens, a viverem
uma vida descuidada e luxuosa e a intoxicarem-se com pra-
zeres baratos (ou por vezes dispendiosos) , com o fim de esque-
cerem a miséria da guerra colonial. O soldado português não
é mais do que carne para canhão na defesa da opulência dos
senhores da exploração .
Por um lado, diz-se que não há nada em Angola, que há paz;
no entanto, por outro lado, eles receiam tanto que o Povo
Angolano adira à guerrilha que o obrigam a viver em aldea-
146
mentos junto dos quartéis. Não há nenhuma confiança entre
a população portuguesa e a angolana, e há centenas de homens .
que abandonam estes aldeamentos para irem viver na mata
onde estão já a construir uma vida livre sob a direcção do
M. P. L. A.
O desespero dos colonialistas crescerá ainda mais, breve-
mente, à medida que os recursos técnicos do M. P. L. A. se
tornem mais completos e numerosos . A organização alarga-se
constantemente. Os homens conhecem melhor as tácticas de
guerrilha e têm maior experiência política . Entretanto, o moral
das tropas portuguesas pode ser bem exemplificado pelo choro
desesperado desse pobre soldado (provavelmente filho de um
camponês ou de um operário) que, durante o ataque das nossas
forças aos aquartelamentos de Karipande, abandonou o seu
abrigo chorando e chamando pela sua querida mãe , cheio de
medo ou remorso. Vergonha ! É assim, quase sempre, que se
expressa a coragem e a convicção do soldado português que
luta em Angola.
A todos eles , aos cobardes e aos fanáticos, dizemos: só há
uma maneira de acabar com esta situação vergonhosa. Essa
maneira, é reconhecer o direito do nosso Povo à independência;
abandonar a repressão e estabelecer relações justas entre os
nossos povos - O Povo Angolano e o Povo português.
Os colonialistas portugueses e os seus aliados têm espa-
lhado pelos quatro cantos da terra o boato de que a guerra em
Cabinda está paralizada porque os dólares americanos com-
praram o M. P. L. A.. Queremos tornar perfeitamente claro
que, nesta guerra , não foram o M. P. L. A. nem o Povo ango-
lano que se venderam; são os miseráveis governantes portu-
gueses que se vendem, que hipotecam as suas colónias e até
o seu próprio país. São os fascistas portugueses que estão
a conceder cada vez mais facilidades aos investidores estran-
geiros, em desvantagem do Povo português (esse Povo de
tradições gloriosas) que não ganha nada com estas transacções .
Quem explora o minério de ferro em Angola? Os Ale-
mães! Quem explora o petróleo? Os Americanos e os Belgas!
E a quem pertence o Caminho de Ferro de Benguela? Aos
ingleses! A quem pertence a Companhia dos Diamantes ? Aos
Americanos, aos Belgas, aos Franceses e aos Ingleses ! Quem
explora o petróleo no distrito de Cabinda? Os Americanos !
E na própria metrópole colonial, o Povo português sabe muito
bem, apesar das formas camufladas de exploração , que há
147
partes do território português que não estão sob o seu controle,
que estão hipotecadas. Partes onde os portugueses não man-
dam , mas obedecem ao dólar: é assim nos Açores, em Beja
e numa parte considerável da indústria turística, etc.
Quem é que está então vendido aos estrangeiros para poder
continuar a sua vergonhosa política? São unicamente os fas-
cistas portugueses. O M. P. L. A. , a vanguarda do Povo
angolano, que luta honrosamente com as armas na mão, não
se vende. Não aceitamos nada em troca da independência!
148
T
Estudantes, homens treinados em Universidades ou Escolas
Técnicas, devem regressar ao país e aí dar a sua contribuição
à luta. No que diz respeito aos estudantes é necessário combater
seriamente os argumentos oportunistas que alguns dão para
não participarem na guerra e trabalharem com o Povo - para
fugirem ao perigo. Eles querem viver uma boa vida em escolas
estrangeiras que só frequentam devido à reputação ganha pelos
combatentes do nosso país.
Repito o apelo a todos os homens e mulheres que estão
no interior do nosso país, para que dupliquem os seus esforços ,
tanto na clandestinidade como nas zonas libertadas.
É necessário que não exista um único ponto em Angola
onde os portugueses não sintam os efeitos da guerra.
Grupos e comités de acção devem ser formados onde
ainda não existam, e devem ser postos em acção ordenada ,
destruindo a economia e os recursos que os portugueses pos
suam para prosseguirem a guerra e continuarem a exploração.
Temos de dar a nossa contribuição não só para a liquidação
do sistema colonial, mas também para a liquidação da igno
rância, doença e formas primitivas de organização social .
É nas escolas, em campanhas de alfabetização; é nos hospitais ,
nos Centros de Instrução Revolucionária , na produção agrícola
e industrial, assim como no comércio, que cada angolano deve
dar a sua contribuição sob as bombas que periodicamente
caiem na mata.
Todos os angolanos sinceramente patriotas têm de regressar
agora ao interior do país. Têm de trabalhar.
Organizações de massas, sindicatos , organizações de jovens,
mulheres e outras, estão agora a começar as suas primeiras
actividades dentro do nosso país. Instituições de assistência
médica, educação e troca comercial e de cooperação no tra
balho estão a surgir nas zonas libertadas.
É portanto agora que todos os Angolanos devem deixar
essas terras estrangeiras, para regressarem ao seu país e aí
trabalharem para a vitória da Revolução.
Não falarei daqueles que tombam necessariamente durante
a guerra. A estes nós rendemos a nossa sincera e simples
homenagem . A libertação da terra-mãe necessita de sangue
e, primeiro e principalmente, o sangue dos seus melhores filhos.
Não choraremos os nossos mortos. Seguiremos o exemplo do
seu heroísmo e do seu valor para avançarmos tanto quanto
149
possível e com a maior rapidez possível. Assim , nós coloca-
remos o seu heroísmo ao serviço do nosso Povo. Temos de
continuar a tarefa.
Temos de saber aproveitar todos os elementos à nossa
disposição para lançar o colonialismo português ao mar.
150
EXTRACTO DO RELATÓRIO APRESENTADO
A CONFERÊNCIA INTERNACIONAL DE APOIO
AOS POVOS DAS COLÓNIAS PORTUGUESAS
E DA ÁFRICA AUSTRAL, EM KARTOUM, SUDÃO
(Janeiro de 1969)
151
EXTRACTO DE «ANGOLA : UM POVO EM REVOLUÇÃO >>
TEXTO EDITADO PELA REVISTA TRICONTINENTAL, N.° 3,
1969
A maneira da Rodésia
153
Esta pretensão tem poucas possibilidades de vir a ser reali-
zada num futuro próximo, pois não é fácil para Portugal
desfazer-se dos grandes interesses económicos que tem em
Angola, a menos que a isso se veja obrigado por uma forte
pressão popular, como a que nós exercemos pela luta armada.
Os colonos são os nossos inimigos mais perigosos porque
são os mais combativos; os que mais odeiam a população
angolana e os que são mais odiados por ela. O nosso senti-
mento é justo porque eles defendem os seus interesses econó-
micos, enquanto que, por exemplo, os soldados, que enviados
para lutar durante 2 ou 3 anos, não têm uma razão directa
para este combate e a sua acção é mais fraca , há mesmo alguns
que se manifestam contra a guerra colonial e que evitam as
confrontações com os guerrilheiros.
Os colonos são os mais firmes defensores do regime no
poder, se bem que entre a população branca de Angola haja
uma pequena parte que compreende os nossos problemas e
pode colaborar na transformação do sistema colonial. Esta
minoria, encontra-se sobretudo nas cidades e, no período que
precedeu a luta armada, já nos tinha dado provas da sua cola-
boração em diversos trabalhos importantes da nossa organi-
zação. Alguns foram presos e estão na prisão há mais de
10 anos .
Os colonos estão presentes em diversos sectores da eco-
nomia. Em geral na agricultura. No Norte, cultivam o café,
o produto mais rico de Angola e o primeiro na exportação;
ainda na região Norte, perto de Luanda, cultivam também
o algodão. Outras culturas agrícolas são igualmente explo-
radas colonialmente, como a cana do açúcar, o milho, o sisal
e outras espécies de vegetais e ainda o óleo de palma.
Neste sector também se encontram muitos agricultores
alemães que deixaram a República Democrática Alemã , após
a derrota do nazismo . Instalaram-se sobretudo nas regiões
do açúcar, do café , do milho e do sisal.
154
ração do petróleo, enquanto os alemães investem na extracção
do ferro (possuem o monopólio no país ) e estão mesmo em
vias de fazer grandes obras, como uma linha de caminho de
ferro para o transporte do minério até ao mar, e a construção
de um porto para o seu embarque para o estrangeiro.
Há importantes investimentos na indústria de extracção
de diamantes por parte dos capitais ingleses, norte-americanos,
sul-africanos, belgas e franceses. Tal como na extracção do
cobre e de outros minerais.
Portugal necessita destes investimentos. Não tem possibi
lidades suficientes de desenvolvimento e vê-se obrigado a con
ceder cada vez maiores facilidades aos seus aliados para manter
uma guerra que se trava em três frentes: Angola, Moçambique
e Guiné.
Mas não é somente no sector industrial que se fazem os
investimentos . Os capitais estrangeiros também afluem para
a agricultura e, nestes últimos tempos, para o sector bancário.
No ano passado a África do Sul abriu uma nova filial bancária
em Luanda. Além disso, este país fez investimentos no sector
da defesa em Angola para o melhoramento das condições
estratégicas dos colonos.
A penetração de capitais estrangeiros tem uma repercussão
favorável no governo português, porque isso lhe dá os meios
de prosseguir a guerra. Mas à medida que a luta se desen
volve, os que investem sentir-se-ão desencorajados e isso será
uma consequência normal, porque quando o nosso Povo
conquistar a sua independência terá de examinar este pro
blema a fim de tomar decisões de acordo com os nossos inte
resses nacionais.
155
economicamente fraco, incapaz de fazer face às consequências
do neo-colonialismo. Se Angola e as outras colónias portu-
guesas caíssem no neo-colonialismo, seriam os outros países
imperialistas a ter a preponderância económica e deixariam
de ter necessidade de utilizar Portugal como ponte. O poder
colonial português seria destruído.
A África do Sul fez tentativas para se estender a outros
países . Não há dúvida que o mercado angolano e uma grande
parte das riquezas de Angola acabariam nas mãos dos Sul-
-Africanos, no caso de uma tentativa neo-colonial. Mas não
são só eles ; há os alemães, os norte-americanos e os outros.
Não creio, portanto, que Portugal, possa fazer alterações
neste sentido, a menos que não tenha outra saída. De momento,
a sua política será certamente de seguir a guerra com o fim
de acabar com essa espécie de reivindicação, a luta armada,
e poder controlar a situação económica.
Pelo nosso lado, as principais operações que levamos a
cabo actualmente têm por fim alargar ainda mais as zonas de
combate e de generalizar a luta a todo o território, pois pen-
samos que a dispersão das forças inimigas por diversas regiões
favorece a nossa acção e pode facilitar a eliminação dos cen-
tros vitais e dos meios de agressão inimigos.
As nossas perspectivas são as melhores, porque o Povo
está mobilizado. Aprendemos a não esperar uma guerra fácil
e curta. Sabemos que ela se prolongará ainda algum tempo
e que devemos fazer todos os nossos esforços para a encurtar.
Más estamos preparados para levar a cabo uma guerra pro-
longada, pois os portugueses recebem ajuda dum grande nú-
mero de potências imperialistas.
Sabemos , por outro lado, que devemos concentrar a nossa
atenção e contar com as nossas próprias forças mais do que
com o auxílio exterior, que é sempre uma ajuda precária , uma
ajuda que frequentemente não chega a tempo nem em quan-
tidade suficiente. Mas esta não é a única razão da nossa
decisão. Utilizar as nossas próprias forças é também um meio
de educar o Povo; uma educação para o trabalho, para o
período da reconstrução do país que exigirá, naturalmente,
uma consciência popular muito grande para lutar contra o
subdesenvolvimento e avançar para a etapa do desenvolvimento
progressista do país.
Estamos também conscientes da necessidade de adaptar as
estruturas do Movimento, tanto militares como políticas, às
156
novas fases da luta para obter o melhor controle e a melhor
orientação política e ideológica dos militantes.
Aprendemos muito em África, o nosso continente, onde
teoricamente deveríamos receber, para a nossa causa, toda
a ajuda possível, mas onde o imperialismo penetrou ao
ponto de submeter quase todo o continente a uma situação
neo-colonial, a diversos graus, que nos tira toda a possibili
dade de obter um apoio suficiente, tanto do ponto de vista
político, como material. As lutas de libertação nacional em
Africa, estão cada vez mais isoladas, têm cada vez menos
possibilidades de encontrar a compreensão e o apoio dos
outros países africanos .
Esta evidência levou-nos a uma conclusão de carácter
político: estes países caíram no neo-colonialismo porque não
mobilizaram as suas massas populares, porque não tiveram
uma organização de vanguarda nem um partido que dirigisse
o Povo. Estamos a acautelar-nos contra estes perigos para
que Angola no futuro possa ser o país verdadeiramente pro
gressista que todos desejamos.
É esta a nossa via. Pensamos que, neste momento, deve
mos activar a luta contra o imperialismo para que haja uma
independência total, para que exista um progresso verdadeiro
e para que os povos se possam sentir livres.
Saudamos também, através da Organização Tricontinental ,
os homens que lutam de armas na mão para a realização deste
objectivo; e, em particular os Povos que na Ásia - concreta
mente no Vietnam - lutam pela sua independência; os que
combatem em África contra o colonialismo e os regimes
racistas e os que lutam na América Latina contra a domi
nação do imperialismo norte-americano. Também exprimi
mos a nossa solidariedade total para com a luta destes povos .
157
A PROPÓSITO DA RECONSTRUÇÃO NACIONAL
159
conservam , contudo, uma certa rivalidade e certas diferenças
na vida social.
Devemos desenvolver um esforço considerável para fazer
compreender a todos que pertencemos a uma entidade política,
que não deveria deixar-se dividir em grupos tribais opostos.
Por outro lado , a nossa sociedade é muito subdesenvolvida,
é uma sociedade na qual a indústria quase não existe, uma
sociedade que vive literalmente o dia a dia, sem ver o pro
gresso que se realiza no resto do Mundo.
Por causa do colonialismo estamos muito isolados do
Mundo. Foram os colonialistas que nos mantiveram neste
isolamento.
Para sair do subdesenvolvimento, é absolutamente neces
sário elevar o nível de educação do Povo. O nível da sua
consciência política e desenvolver o conceito de Nação, nas
nossas populações. É necessário que se desenvolva em cada
militante e em cada angolano, uma nova mentalidade.
A educação é um problema fundamental. Mais de 90 %
da nossa população é iletrada . Estes iletrados eram mantidos
voluntariamente neste estado pelos colonialistas. Não foi senão
a partir de 1961 que os colonialistas começaram precipitada
mente a construir escolas, para mostrar ao Mundo que desen
volvem o nosso País. Não foi senão recentemente que eles
construíram escolas superiores, algumas escolas secundárias
e técnicas, mas a grande maioria do nosso Povo não tem acesso
a essas escolas. É pois a nós , o M. P. L. A. , que cabe a tarefa
de promover a instrução do Povo. Criámos um ensino secun
dário; gradualmente desenvolvemos a formação técnica e pro
fissional dos nossos jovens. Este é um dos aspectos da recons
trução nacional ao qual prestamos uma grande atenção.
É a reconstrução nacional que torna os angolanos cons
cientes da necessidade de defender tudo o que conquistámos
à custa do nosso sangue: a independência.
Depois da independência, haverá, bem entendido, muito
mais esforços a fornecer, para fazer do nosso país um Estado
moderno. Devemos manter um alto grau de mobilização
revolucionária de todo o Povo, para a realização das impor
tantes tarefas do desenvolvimento do país. Não devemos
imaginar que com a independência tudo virá ter connosco,
sem esforços. «A nossa revolução está na etapa da luta pela
independência nacional. Nós lutaremos pela nossa liberdade
160
e pela nossa dignidade. Nós lutamos para sermos homens,
respeitados como cidadãos de qualquer país soberano. A nossa
revolução não é uma cópia a papel químico de qualquer revo-
lução. Nós respeitamos os princípios revolucionários daqueles
que têm mais experiência do que nós, daqueles que já ven-
ceram esta etapa, daqueles que já se encontram num estádio
mais avançado da luta revolucionária . No entanto, nós temos
em consideração as condições próprias do nosso país e temos
em consideração as características históricas e sociais do
nosso Povo. No entanto, esta luta que nós desenvolvemos
situa-se dentro da luta geral dos povos pela sua libertação
completa para extinguir a exploração do homem pelo homem,
para acabar com as diferenças raciais ou outras diferenças que
existem; nós lutamos também como lutam outros povos do
mundo pela conquista da felicidade e do bem-estar do homem,
e, por isso mesmo, nós não desprezamos os outros países, pelo
contrário, nós procuramos cada vez mais ligar-nos a todos
os povos do mundo sem discriminação, dando uma especial
atenção aos países e às organizações amigas » . (Declaração
de Agostinho Neto aos jornalistas após a conferência regional
realizada no interior de Angola , em 25 de Agosto de 1968 ) .
Será necessário trabalhar e trabalhar duramente. Esfor-
ços cada vez maiores serão necessários para preservar as
conquistas da nossa luta actual e para avançar cada vez mais.
Concretamente, é evidente que a reconstrução nacional
quer dizer estabelecer indústrias, aumentar a superfície de
terras cultivadas, encaminhar os trabalhadores para novas
tarefas.
A reconstrução nacional significa igualmente organizar
a administração das populações , criar um organismo político
bem organizado e bem implantado, para dirigir toda a luta .
Essa luta reveste várias formas e sobretudo levanta nume-
rosos problemas, exigindo uma atenção quotidiana.
Mas, repito, o essencial para nós é a reconstrução do
próprio homem, factor fundamental da nossa Revolução.
161
11
1
MENSAGEM AOS MILITANTES PRONUNCIADA ATRAVÉS
DA RÁDIO TANZANIA
(1 de Janeiro de 1970)
Compatriotas,
Camaradas
163
controle. A população europeia compreende melhor os objec-
tivos da nossa Revolução e a nossa justa posição anti-racista.
No plano exterior o governo fascista de Portugal sofreu
as maiores derrotas e não conseguiu manter a unidade apa-
rente que existia no seio da NATO sobre o problema colonial
português. Este ano os fascistas sofrerão derrotas ainda mais
duras.
164
a guerra de libertação nacional não se pode fazer sem
quadros.
165
os olhos voltados para o futuro, confiantes na vitória , servi-
dores fiéis e modestos do Povo.
O combate político não é o menos importante. Pelo con-
trário . Temos de nos organizar para a vida independente.
Consolidar a nossa organização política à escala nacional .
Fazer a ligação adequada de todas as actividades . Ligar
a direcção à base, ligar os dirigentes aos militantes em geral.
Combater a passividade
166
temente nos países capitalistas da Europa e da América,
incluindo os próprios Estados Unidos. Não subestimaremos
de modo algum o apoio político e material dado pelos países
socialistas e africanos que têm ajudado a nossa acção.
... na produção
167
2.- Consolidar a nossa organização político-militar eli-
minando com decisão o oportunismo, os métodos anti-demo-
cráticos do trabalho , a indisciplina.
3.º Ter iniciativa em todos os sectores de actividade
e muito particularmente na mais nobre das actividades que
é a acção directa contra o ocupante estrangeiro.
Compatriotas,
Camaradas,
A VITÓRIA É CERTA !
168
ENTREVISTA CONCEDIDA A REVISTA «AFRICASIE» N.° 9
(Fevereiro/Março de 1970)
169
dado português na frente, graças à acção dos militantes da
cidade e do campo.
—
A. Não receia que estas realizações tornem a domi-
nação portuguesa mais suportável e enfraqueçam a vontade
de independência, especialmente nos novos quadros.
170
pela conquista da independência nacional. Luta sobretudo
pela emancipação do homem e pela sua dignidade.
-
A. O governo de Marcelo Caetano apresenta-se como
um governo mais liberal em relação ao de Salazar. Abre
esse facto perspectivas para uma próxima resolução dos pro-
blemas coloniais?
171
A guerra colonial custa caro ao povo português, enquanto
é uma fonte de grandes lucros para os grandes capitalistas.
Só em 1967, dez empresas coloniais obtiveram um lucro
líquido confessado de 680.000 contos; a Diamang e as Com-
panhias petrolíferas alcançaram uma produção de 1 219 786
contos; onze empresas eléctricas lucraram 639 000 contos;
trinta e cinco empresas diversas lucraram 827 000 contos;
outras dez empresas coloniais um lucro de 568 000 contos.
Quem lucra pois com as colónias e com a guerra colonial?
Os grandes capitalistas, os monopólios, com o sangue e com
o suor, com o trabalho e com as lágrimas do povo português.
As despesas de guerra aumentam continuamente. Nos pri-
meiros seis meses de 1968 totalizaram 48,8 % do orçamento
português, o que representa mais de um milhão de contos.
As despesas de segurança e de defesa totalizavam, em 1968 ,
10 233 000 contos (3 258 000 em 1960) . A estas despesas é
necessário juntar outras registadas nas contas das obras pú-
blicas mas que na realidade são despesas de guerra, como
a construção de estradas, aeroportos, centros de telecomu-
nicações, etc. Em 1967, as despesas de guerra, no seu total,
e o peso do débito público, representaram 54,8 % do total.
É evidente que com o alargamento das zonas de operações
nas três fontes de combate - Guiné, Angola e Moçambi-
que - estas despesas aumentaram em 1968 e 1969 .
Quem paga pois estas despesas? Essencialmente o povo
português que dá os seus filhos para a guerra, que a paga
e a pagará cada dia mais. Em 1968 , o custo de vida aumen-
tou 23 % em Lisboa e 15 % no Porto. Esta é a política
conduzida por Marcelo Caetano quanto aos interesses do
seu Povo, para poder alimentar a guerra colonial.
Portugal está a hipotecar o seu território. Os investi-
mentos estrangeiros penetram cada vez mais e instalam-se
bases militares. São os franceses, os americanos, os alemães-
-ocidentais, os ingleses e outros a tirar proveito da mão de
obra barata existente em Portugal e nas colónias.
Não existem contradições fundamentais sem solução entre
os Povos português e angolano. A partir do fim da guerra
colonial, poderão estabelecer-se entre nós justas relações, com
base no respeito pela igualdade e pela liberdade dos nossos
Povos. Alegramo-nos pela resistência organizada pelos demo-
cratas portugueses contra o fascismo e a guerra colonial.
Consideramos os democratas, que têm a coragem de com-
172
bater pela liberdade, que têm a coragem de exprimir o seu
desejo de ver terminada a guerra colonial, como nossos
amigos e nossos aliados com os quais poderemos ter har
moniosas relações no futuro .
173
que seja a táctica adoptada pelo inimigo, o nosso Povo que
luta há oito anos, não aceitará outra solução que não a inde
pendência completa; isto é, o poder restituído às mãos dos
representantes do Povo, por este último livremente escolhidos.
Todos os combatentes do M. P. L. A. conservarão as
armas enquanto o último colonialista não tiver saído da
nossa Pátria.
Temos à nossa frente objectivos imediatos e gigantescos
a realizar. O ano de 1970 abre um novo decénio, com as
mais favoráveis perspectivas para a luta de Libertação Nacio
nal do nosso Povo.
Primeiramente e sempre, a acção principal será no interior
de Angola. Aqueles que nos dizem para economizarmos os
quadros, que estes não deveriam expôr-se fisicamente na luta,
que deveríamos proteger a sua vida, a sua saúde ou a sua
liberdade porque serão necessários para a Angola de amanhã,
para a sobrevivência do Movimento, responderei que a guerra
nacional não poderia existir sem quadros: qualquer quadro
formado, qualquer que seja a sua especialização, deve poder
trabalhar no interior do país para dar a sua contribuição
à solução dos problemas da luta e da reconstrução nacional .
É o único comportamento justo e revolucionário.
Com quadros capazes de servir-se de tácticas de guerrilha
e de aplicarem fielmente os princípios políticos do nosso
Movimento, pouparemos energia e vida no presente e no
futuro. A protecção dos quadros existe onde há acção e
não na segurança ilusória do exterior, onde se degrada e
apodrece a consciência patriótica.
O nosso patriotismo, actualmente só se pode expressar
pela participação directa na luta. E com isto entendo a par
ticipação nas actividades militares e políticas no interior do
país.
174
DISCURSO NA CONFERÊNCIA DE SOLIDARIEDADE
EM ROMA
(1970)
175
país do Congo Kinshasa . Basta dizer que em certos casos ,
os guerrilheiros são obrigados a fazer um desvio de cerca de
6 mil km, para chegar a um ponto que poderiam atingir em
somente 300 km, se as fronteiras estivessem abertas . Este
facto tornou-se, sob o ponto de vista logístico um factor do
atraso no processo de libertação do nosso povo, mas não
pode impedir a criação e o desenvolvimento de novas frentes
de combate. A frente de Leste, compreendendo a III Região,
uma parte da IV e uma parte da V Região, constitui terra
onde, hoje, já nasceu uma vida nova . Os nossos destaca-
mentos controlam efectivamente uma superfície que ultrapassa
os 500 000 km, e os combates estendem-se aos distritos do
centro tais como o distrito de Bié e o de Malange.
Numerosos amigos que quiseram sentir o odor da nossa
terra libertada puderam percorrer dezenas de aldeias ao longo
de centenas de quilómetros e gozar da tradicional hospitalidade
das nossas populações. Estes amigos puderam apreciar o entu-
siasmo com que as populações e os guerrilheiros trabalham
na consolidação do poder popular, nas fainas agrícolas, na
formação político-militar, na alfabetização das crianças e
adultos. Puderam também avaliar quanto o colonialismo
oprimiu as populações ao abandoná-las à sua miséria.
Em extensas zonas, foi a guerra de libertação quem trouxe
os primeiros medicamentos e os primeiros materiais escolares.
Em tais zonas ninguém pode circular sem autorização dos res-
ponsáveis militares, políticos , ou mesmo dos responsáveis po-
pulares.
No domínio da produção um importante esforço foi desen-
volvido: armazéns do povo , modestos mas eficazes na medida
em que fornecem às populações produtos de primeira necessi-
dade, contribuem também para estimular a diversificação das
culturas na medida em que suscitam a possibilidade de troca
dos excedentes agrícolas.
Os Centros de Instrução Revolucionária , as Escolas , os
Postos Sanitários são os instrumentos necessários à formação
e aos cuidados dados pelos nossos quadros .
Pouco a pouco, o nosso povo descobre as leis da democracia
e afirma a sua capacidade de se auto-administrar.
Uma transformação radical operou-se , portanto, na vida
das populações que vivem nas zonas que controlamos: o poder
passou das mãos dos colonialistas para o M. P. L. A. que,
por sua vez, o transmitiu ao Povo.
176
Eis, caros Amigos, como o M. P. L. A. se tornou pela
intensidade e justeza da sua acção revolucionária no seio dɔ
nosso povo, nas nossas aldeias, o legítimo representante do
povo angolano .
O inimigo está consciente desta realidade , que não procura,
aliás, esconder. Os oficiais de Estado-Maior, os detentores
das riquezas do nosso país, o próprio governo português, dei-
xaram de poder ignorar a força do M. P. L. A.. Certos oficiais
confessam já que nunca poderão ganhar esta guerra. E isto,
apesar dos números astronómicos das despesas militares (58 %
do orçamento do Estado) . O próprio Caetano já não acredita
nos seus generais e procura nos aliados imperialistas, particular-
mente nos EUA, uma salvação necessariamente provisória .
Em Portugal, os meios financeiros agitam-se, e no seio do
regime duas correntes opõem-se violentamente: uma, que de-
fende intransigentemente as colónias, outra que pretende pre-
parar a integração económica de Portugal na Europa, prevendo
a perda das colónias .
A rádio e a imprensa, tanto em Angola como em Portugal,
denunciam vigorosamente a amplitude da luta conduzida pelo
M. P. L.A. , chegando mesmo a acusar os militares de utili-
zarem a guerra para enriquecerem sem pensarem na defesa das
riquezas das companhias e dos « truts » imperialistas.
A desmoralização reina na administração colonial em
Angola.
Cada vez mais forte pelas suas vitórias nas realizações so-
ciais, pelo apoio popular nas vastas regiões libertadas e nas
cidades ainda ocupadas pela administração colonial, o
M. P. L. A. entende que chegou o momento de submeter ao
governo português o problema da passagem imediata do poder
para as mãos do representante legítimo do povo angolano — 0
M. P. L. A..
Com efeito, após ter perdido o controle de mais de um
terço de Angola o governo português não pode ter por mais
tempo ilusões sobre o desfecho desta guerra . Tanto mais que,
mesmo sem o querer, este governo desencadeou o processo
reformista, que a História demonstrou estar, também ele, vo-
tado ao fracasso .
Escorraçado por toda a parte, cada vez mais isolado na
arena internacional, o Portugal colonialista irá ter dificuldades
· 177
12
em evitar a catástrofe se continuar a recusar ouvir a voz da
razão.
Os soldados portugueses, sobretudo os que se tornaram
agentes aberrantes de opressão nas zonas que ainda ocupam,
sabem que o povo só espera a chegada das forças armadas do
M. P. L. A.. O exército colonialista esgotou os seus métodos
de corrupção; a sua propaganda já não sabe o que inventar
para desacreditar os dirigentes e militantes do M. P. L. A.;
e, os apelos do M. P. L. A. , as palavras de ordem do M. P.
L. A. são as bandeiras sob as quais o povo se bate, tanto o
camponês como o estudante, tanto o operário como o pioneiro.
A dominação colonial portuguesa está pois em decom-
posição.
Ė, no entanto, o povo angolano e o M. P. L. A. só preten-
dem estabelecer sólidas relações de amizade com o povo por-
tuguês que tão valentemente se bate contra o fascismo. Empe-
nhamo-nos no nosso país em salvaguardar esta amizade.
É por isso que fazemos ao povo português apelos para
que se continuem a desencadear vigorosas campanhas contra
a guerra colonial.
Lamentamos sinceramente que a oposição portuguesa não
tenha ainda encontrado uma plataforma de acordo sobre as
etapas e métodos da descolonização . Temos , no entanto, a
esperança que esta plataforma possa ser encontrada, sendo
respeitado o nosso direito à independência imediata .
Verificamos que os países membros da OTAN se empe-
nham cada vez mais em fornecer armas a Portugal - armas
que são depois utilizadas contra o nosso povo.
O facto de os fornecimentos de armas serem acompa-
nhados de votos piedosos sobre as guerras coloniais (como
é o caso dos EUA e como foi recentemente o caso da França)
não impede de modo algum que as armas sirvam para matar
patriotas.
Temos a firme esperança que esta Conferência, através
dos nacionais destes países, permitirá o desencadear de uma
campanha que obrigue os governos respectivos a rever este
assunto.
Não poderíamos deixar de manifestar a nossa calorosa
simpatia aos aliados de Portugal - como a Itália e a Suécia —,
que se recusaram a investir capitais na barragem de Cabora-
-Bassa, cuja realização só servirá aos inimigos dos povos afri-
canos.
178
O povo angolano não poderá, por outro lado, esquecer o
apoio efectivo de uma parte dos países africanos e dos países
socialistas . Este apoio que se traduz na acção política e diplo
mática, nas facilidades de acção nos seus territórios, na ajuda
material em armamento, equipamento e meios financeiros ,
contribui enormemente para reforçar os nossos sectores de
combate e assim abreviar a duração desta guerra.
Caros amigos,
179
prática ficam limitados a um estatuto de refugiados, o que é
contrário ao espírito das resoluções adoptadas .
A única atitude eficaz será a de respeitar o espírito destas
resoluções , que visam o estabelecimento de relações entre,
de um lado as comissões especializadas, e do outro os com-
batentes. Digo combatentes e não refugiados.
O caso específico dos refugiados devia aliás ser analisado
em estreita cooperação com os legítimos representantes dos
nossos povos.
É um problema que teremos de precisar na Comissão
jurídica.
Caros Amigos,
180
Atendendo ao exemplo que aqui agora temos , isso seria
a garantia de novos sucessos na solidariedade que nos con-
cedeis. Isto sem prejuízo dos Comités que funcionariam em
cada país.
Caros Amigos,
181
1
f
O CAMARADA AGOSTINHO NETO
RESPONDE A 13 PERGUNTAS FEITAS PELA RADIO
COLÓNIA DA ALEMANHA FEDERAL E PELO JORNAL
SOCIALISTA ITALIANO «AVANTI »
(1971)
A situação em Angola
183
das Mulheres, a Organização Sindical, a Organização dos
Jovens, dos Pioneiros, etc. Elas ajudam a consolidar a uni-
dade do nosso povo em torno do nosso Movimento, para a
continuação da luta . No plano externo, houve ao longo destes
últimos anos uma revolução positiva da opinião pública inter-
nacional, o que é evidentemente uma consequência da nossa
luta. Aquela é cada vez mais favorável à independência das
colónias e hoje somos reconhecidos por vários países como os
verdadeiros representantes do nosso Povo.
184
3. — RÁDIO COLÓNIA : O governo português anunciou
um projecto de reforma constitucional, que prevê uma auto
nomia para a colónia. Que pensa disso?
A Africa Austral...
185
AGOSTINHO NETO : Você fala de Cabora-Bassa . Tra-
ta-se evidentemente de um projecto que interessou vários países
da Europa e também da América pela construção da barra-
gem, da qual beneficiarão a África do Sul, a Rodésia e Moçam-
bique. É necessário dizer que em Angola existe um projecto
análogo, e de valor semelhante, no rio Cunene, para a irriga-
ção de uma superfície territorial de cerca de 505 000 Km.
Destina-se a fornecer energia às minas de urânio da Namíbia.
Ainda não se conhece bem este projecto porque não foi apre-
sentado à opinião pública , mas tem o mesmo fim, que é o de
instalar colonos e reforçar o poder branco no nosso continente.
As duas tendências que se definem em Portugal para a
transformação das colónias em países neo-coloniais, falsamente
independentes, em meu entender apenas formulam soluções que
miram o mesmo objectivo .
Aceitando que a parte Norte, na qual a FRELIMO con-
trola já uma parte do território, está perdida, pretendem a
divisão de Moçambique, propondo uma divisão do país e
criando e consolidando o poder branco na parte sul que natu-
ralmente é vizinho da África do Sul.
Creio que seja uma solução do actual governo de Lisboa,
a qual ainda não foi objecto de um acordo definitivo. O governo
propõe uma outra fórmula, que é a federação de todas as
colónias com Portugal. Isto significa que em vez de manter
o poder branco apenas numa parte do território, pretende man-
ter este poder em todo o território; e também isto com a ajuda
da África do Sul. É a África do Sul que dá um certo apoio
a Portugal, para a resolução desta situação; e é intenção da
África do Sul estabelecer em Angola e em Moçambique o
poder branco, consolidar as posições políticas e económicas
dos colonos para evitar uma alteração no regime do apartheid,
que os africanos do sul combatem.
186
África do Sul. Penso que esses não são os verdadeiros com
patriotas africanos, eles não fazem parte dos países que com
batem pela libertação completa de Africa, ideal que animou
todos os países a formarem a O. U. A. Esses não são os paí
ses que representam realmente a Africa revolucionária, a
Africa patriótica . Eles são - podemos dizê-lo - os que
traiem os interesses do nosso continente.
187
que a luta se radicalizará porque as intenções dos colonialistas
e dos racistas da África do Sul são cada dia mais opostas aos
anseios dos nossos povos .
Há diferentes propostas com diferentes intenções: há aque-
les que são a favor de uma independência real, pelo fim da
guerra e pela passagem do poder para as mãos de quem repre-
senta o Povo, quer dizer, dos que compreendem o direito dos
diferentes povos do mundo. Há os que querem adoptar fór-
mulas moderadoras para precisamente enfraquecer a vitalidade
e participação das forças libertadoras no nosso continente.
Há também os que querem ver terminada a guerra com o
único fim de preservar os seus interesses, sobretudo os inte-
resses económicos. Enfim, penso que, de uma maneira ou de
outra, a guerra é já um facto que uma mudança como a da
Rodésia, com a declaração unilateral da independência, é im-
possível para Angola e Moçambique onde já estamos em luta,
onde não há esperanças para os racistas e os colonialistas. Nós
vamos vencer e alcançar a independência.
A O. U. A.
9. -
— «AVANTI» : Perante as pressões neo-colonialistas e
sul-africanas, tem a O. U. A sabido manter, segundo você, uma
atitude suficientemente firme? Particularmente, de que ma-
neira responde a O. U. A. ao que os Movimentos de liberta-
ção das colónias portuguesas esperam dela?
188
que não acompanhe o desenvolvimento da nossa luta. Quando
alargamos a frente de combate falta-nos depois os meios para
manter as posições conquistadas. Se toda a Africa colabo
rasse, a luta seria fácil. Em 1961 , começámos a nossa guerra
com oito espingardas , hoje temos milhares. A capacidade e
a vontade do nosso Povo de combater os portugueses são enor
mes. Contudo, actualmente, para se bater contra uma técnica
moderna é necessário ter meios técnicos modernos e quadros
bem instruídos. É neste sentido que devemos mobilizar os
nossos irmãos africanos.
A O. T. A. N.
189
Hoje, penso que todos os países têm consciência de que temos
direito a ter a nossa independência , de nos autodeterminar-
mos, de gerirmos a nossa vida de acordo com os interesses
do nosso povo. É por isso que mesmo no seio da O. T. A. N.
já têm sido feitas críticas a Portugal a fim de modificar esta
situação colonial, que é indesejável por diferentes razões.
-
12. «AVANTI » : Segundo você, quais são as razões fun-
damentais da cumplicidade efectiva dos países membros da
O. T. A. N. com Portugal e, mais em geral, da vontade dos
países ocidentais de manterem o estado de coisas em Africa?
190
utilização do material de guerra, se Portugal apenas o puder
utilizar no quadro da O. T. A. N. e não para exercer a repres
são nas colónias, se houver uma pressão económica, uma
suspensão dos investimentos, se houver ainda uma pressão
diplomática contra Portugal, certamente que isso nos poderá
ajudar muito a reforçar a nossa posição no mundo inteiro.
191
1
I
1
EXTRACTO DA ENTREVISTA FEITA AO PRESIDENTE
AGOSTINHO NETO NO PROGRAMA EM INGLÊS
DO M. P. L. A., TRANSMITIDO PELA RADIO TANZANIA
193
13
que Portugal ainda não está convencido de que tem de aban
donar Angola. Está a preparar manobras políticas tais como
a proposta de lei para modificar a constituição. Portugal está
a tentar corromper os cidadãos angolanos; está a tentar anga
riar patriotas para o seu lado. Tudo isto são sinais de que ele
ainda não está convencido de que Angola será independente.
Contudo, a sua retirada podia significar o reagrupamento
de forças tendo em vista um ataque posterior mais violento
com o fim de fazer o que ele ainda tem feito neste tipo de
guerra, que é queimar tudo , deixar a terra queimada, morta,
destruindo qalquer sinal de vida, como já tem sido feito em
pequena escala em algumas aldeias. Mas eu penso que este
desejo dos colonialistas regressarem com grandes ataques, con
tra a população que vive nas áreas sob nosso controle não se
realizará; e estou certo de que melhor armados, melhor equi
pados e melhor organizados como estamos agora, as intenções
dos colonialistas estão em vias de ser completamente destro
çadas, que não poderão fazer mais nada senão continuar a
retirar sempre até abandonar o nosso país. Penso que a táctica
que estamos a utilizar é precisamente uma das razões pelas
quais eles estão a ser derrotados. O Povo não os apoia; estão
a ter muitas dificuldades nas suas aldeias estratégicas e não
se sentem seguros na nossa terra. Porque assim é, a nossa
independência será cedo alcançada e as nossas crianças, o
Povo Angolano, terá a sua terra, para viver em paz, sem a
dominação colonial.
194
Podemos tomar como exemplo o que aconteceu na Zona E
da 1.ª Região, numa área onde os portugueses tinham desen
cadeado um ataque. Quando nós contra-atacámos na área do
Luatombo, destruindo totalmente os seus quartéis, os portu
gueses viram que eram incapazes de continuar o ataque, por
que as pontes que asseguravam as comunicações entre Luso
e Gago Coutinho estavam completamente destruídas.
Ao mesmo tempo, a guerra de guerrilha está a avançar não
só no distrito do Bié, mas também na Lunda , e em Malange,
e os portugueses já não sabem para onde se hão-de voltar, já
não sabem como hão-de defender as posições que ainda ocu
pam no nosso território, encurralados como estão por uma tal
diversidade de ataques feitos em pontos diferentes.
Vamos continuar a atacar com uma força cada vez maior,
com cada vez mais material , até estes ataques de cacimbo se
tornarem em algo do passado e de modo a ser a nossa inicia
tiva a dirigir as operações no nosso país. Isto será uma derrota
ainda maior para o colonialismo português.
195
1
MENSAGEM POR OCASIÃO DO 15.º ANIVERSÁRIO
DA FUNDAÇÃO DO M. P. L. A.
Compatriotas,
Camaradas
197
Fevereiro de 1961 , o Povo angolano iniciou a luta armada
contra a escravatura, pela libertação e a democracia .
E continuamos a ter como objectivo a independência nacio-
nal e a democracia.
Alguns anos de actividade clandestina , sob diversas formas ,
foram necessários para mobilizar a parte mais consciente da
nação angolana e passar ao confronto aberto contra o ocupante
português.
Depois de quinze anos de experiência de luta revolucioná-
ria, o nosso Movimento pode estar orgulhoso de se ter estru-
turado de Norte a Sul do país , abrangendo todas as classes
e todas as forças sociais, numa união fraterna de luta pela
independência e pela dignidade.
A guerrilha organiza-se e provoca ao inimigo perdas signi-
ficativas em homens, em armas e em equipamento.
Em Cabinda, Kuanza-Norte , em Luanda, no Moxico, no
Cuando Cubango, na Lunda , no Bié, a actividade militar
escorraça cada vez mais os generais colonialistas que se con-
sideram grandes estrategas, mas que na realidade não são
mais do que especialistas da fuga , e cuja acção de genocídio,
cuja crueldade e brutalidade não são suficientes para travar
o avanço no terreno das nossas unidades militares.
Em fins de 1961 , o inimigo, o colonialista português e
alguns dos seus aliados , gritaram com ridículo desespero que
a guerra acabara e que os cadáveres transportados nos seus
helicópteros eram consequência da acção de pequenos grupos
infiltrados a partir dos países limítrofes.
Ainda hoje, quando os projecteis dos nossos canhões des-
troem os seus quartéis no Leste, quando são forçados a retirar
os seus soldados de algumas posições, os generais portugueses
persistem com a mesma estupidez em fazer crer que Angola
vive realmente em paz. Organizaram ainda as «sanzalas da
paz» , onde não existe mais do que a paz dos cemitérios e das
prisões.
Mas o soldado, o comerciante, o agricultor, o proprietário
latifundiário , o funcionário administrativo , sabem perfeitamente
que Angola está em guerra, uma guerra que não acabará senão
com a vitória do Povo angolano.
Não é difícil compreender o embaraço em que se encon-
tram os governantes portugueses que, em Lisboa, lutam entre
si, incapazes de saírem da via salazarista para entrarem nobre-
198
mente na era democrática que o povo português exige cada vez
mais vigorosamente .
Os governantes fascistas de Lisboa não souberam resolver
a tempo o problema colonial e pensam sempre que, iludindo-o,
conseguirão calar no coração dos patriotas angolanos a sua
vontade indomável de viverem independentes.
Os fascistas de Lisboa não souberam resolver o problema
em 1960 e a guerra rebentou em Angola. Não a souberam
resolver em 1963 e a guerra rebentou na Guiné. Não qui-
seram escolher a realidade em 1964 e, nesse mesmo ano ,
principiou a luta armada em Moçambique.
Também em Portugal, em 1928 , os fascistas não com-
preenderam que era necessário libertar o povo português da
miséria e da opressão da PIDE e que era necessário satisfazer
a sua exigência de acabar com a era colonial.
Hoje têm que combater em quatro frentes por causa do
colonialismo .
São obrigados a combater em Angola, na Guiné, em Mo-
çambique e em Portugal. Eis a paz de que se gabam os colo-
nialistas e os fascistas portugueses.
No nosso país , o Movimento Popular de Libertação de
Angola de pequeno tornou-se forte e a sua força não parará
de aumentar.
Hoje, o nosso Movimento goza de um prestígio e de uma
atenção mundiais . Esta revolução demonstra claramente a
verdade: o Povo angolano decidido e firme é invencível .
Em Angola, nós queremos o fim da exploração e da
opressão. Queremos a independência e a democracia .
O nosso programa político indica claramente que o M. P.
L. A. abre caminho para uma longa e autêntica cooperação
entre os homens de diferentes raças.
Não somos contra o homem branco, apenas porque é
branco . Somos contra os brancos racistas e colonialistas.
A independência para nós não significa mandar o homem
branco para a rua do nosso país; não significa a apropriação
dos bens honestamente adquiridos. A independência significa,
isso sim, que o poder político deve estar nas mãos do nosso
Povo. A economia do nosso país deve ser controlada pelo
nosso Povo para qué assim possa ter uma vida melhor.
Hoje, existem graves contradições entre os colonos e a
administração colonial em Angola. Estas contradições tornar-
-se-ão cada vez mais agudas. Transformar-se-ão em conflito
199
aberto, uma vez que os interesses dos colonos, serão subme
tidos à política de guerra do governo português.
E porquê esta guerra? A que conduz esta guerra? Levará
a hipotecar Angola ao estrangeiro? E porque é que os comer
ciantes pagam mais taxas? E porque é que o proprietário
é obrigado a manter nas suas possessões uma unidade militar
com soldados, na sua maior parte desmoralizados? Porque
é que ninguém pode dizer o que pensa dos problemas do seu
país sem que a PIDE se intrometa?
A que conduz esta guerra?
Em nome de quê é feita? Do prestígio de Portugal? Pela
defesa do ocidente? Por razões económicas?
Se não se trata de nenhuma destas razões , então a que
conduz esta guerra? Para quê assassinar as populações ango
lanas, velhos, crianças, mulheres; para quê destruir as culturas
com herbicidas, para quê praticar atrocidades indescritíveis?
Quer-se entregar Angola à África do Sul ou aos Estados
Unidos?
Não há saída para esta situação senão pelo reconhecimento
do direito do nosso povo à independência. Enquanto não
houver esse reconhecimento e enquanto o governo português
não resttiuir o poder aos verdadeiros representantes do povo
angolano, não haverá paz, não haverá tranquilidade para
nenhum português em Angola.
É conveniente que os colonos compreendam que não é seu
interesse lançarem-se nos braços da África do Sul, dos Estados
Unidos , da França ou da Alemanha Ocidental .
Nesse caso serão por sua vez colonizados e explorados
como nós.
O seu interesse só poderá ser preservado com o estabeleci
mento de justas relações com o povo angolano, com o reconhe
cimento de que o nosso desejo é justo e com o respeito pelo
nosso direito de dispormos de nós próprios .
Hoje todos sofrem os efeitos da guerra , por causa da polí
tica desastrosa de Lisboa, que escolheu a via da repressão.
As forças armadas do Movimento Popular de Libertação
de Angola aumentam dia após dia a sua capacidade. Cons
cientes da situação que estamos atravessando , elas não recuarão
nem se deixarão enganar pelas aparências de paz que os ser
viços especiais colonialistas organizam nas cidades.
200
Não aceitaremos como solução nenhum tipo de autonomia ,
nem os títulos honoríficos nos quais certos governantes portu
gueses parecem depôr todas as suas esperanças .
Uma solução para Angola não poderá ser encontrada sem
a participação concreta e o acordo do M. P. L. A..
Enquanto os projecteis não tiverem começado a explodir
nas grandes cidades, enquanto as casas comerciais, os bancos,
os carros não tiverem começado a ir pelos ares nos centros
urbanos, enquanto o soldado puder ainda encontrar uma reta
guarda, é sempre tempo de salvar vidas e bens.
Compatriotas, camaradas,
201
Assim, a manutenção de relações amigáveis com a União
Soviética, a República Popular da China, a Jugoslávia, a Sué
cia e a Holanda não significa que o M. P. L. A. alinhe meca
nicamente a sua política ou a sua ideologia com as de um
destes países, embora as suas experiências nos possam ser
úteis. Não se pode pois, considerar mais do que propaganda
para enganar o nosso povo a campanha do inimigo e dos seus
lacaios que pretende que o M. P. L. A. seja uma organização
comunista, apresentando-o por vezes chegado à U. R. S. S.,
outras vezes à China.
O que é certo é que Portugal está cada vez mais isolado
politicamente.
Pela sua própria natureza progressista, o M. P. L. A. está
estreitamente ligado aos interesses do povo angolano que de
fende com energia e coragem, exigindo dos seus militantes um
sacrifício heróico na luta armada. De resto, o M. P. L. A.
é autenticamente africano, na medida em que defende a liber
dade em África em cooperação com os outros povos africanos .
Entretanto, o inimigo permanece no nosso país e continua
a tecer intrigas, a corromper as pessoas e persiste em tentar
corromper os países vizinhos e em manobrar para ficar em
Angola. Por isso, a nossa luta deve ser continuada e conduzida
com ainda maior energia.
Todos nós, angolanos, devemos combater unidos contra
o colonialismo português. Devemos assestar-lhe golpes, cada
vez mais golpes, multiplicar as acções, pois só a independência
nos dará a liberdade. Não há liberdade sem independência,
não há independência sem luta.
As propostas de autonomia não nos interessam. As modi
ficações na estrutura administrativa, os novos métodos de pro
dução e de distribuição dos bens materiais são apenas paliativos
que não resolvem nada.
A promoção dos angolanos a funções mais importantes
na administração colonial, o aumento dos salários, a institui
ção do ensino superior, não são senão consequência da guerra .
O inimigo tenta dar a impressão de que toma medidas para o
progresso do nosso povo. Tais medidas são tomadas porque
o inimigo sente a ponta das nossas baionetas no pescoço,
só por isso .
As campanhas de reordenamento rural visam simplesmente
enquadrar e controlar as populações angolanas, para evitar o
seu contacto com a guerrilha.
202
Com efeito, é o medo que guia a maior parte dos actos
colonialistas. Tudo é feito para propaganda e para desmobi-
lizar o povo. Por exemplo, abrem escolas e universidades, mas
imediatamente perseguem, prendem, deportam ou assassinam
os estudantes angolanos que ousam levantar a voz nessas
escolas.
Isto pode comprender-se se pensarmos que desde 1482
Portugal muito pouco se interessou pelo progresso do Povo
angolano. Interessou-se sim pela pilhagem da terra, pelos
grandes lucros obtiods com s riquezas do nosso país. Foi a
avidez de bens materiais que provocou a colonização.
De resto, um país como Portugal, em que numa única
noite, segundo o diário « O Século» de 4 de Dezembro, foram
presos mais de 200 delinquentes e prostitutas num bairro de
Lisboa, como pode interessar-se pelo progresso do povo
angolano?
Um governo que mantém o seu povo na miséria , numa
submissão humilhante e que nega aos seus cidadãos o direito
de escolherem a forma do governo que desejam, como pode
preocupar-se com o progresso do povo angolano?
Compatriotas, camaradas:
203
guerra, o M. P. L. A. dará as facilidades necessárias para
encontrarem novas condições de vida.
O povo do distrito angolano de Cabinda já compreendeu
o erro em que estava a cair aceitando as astutas propostas
do governo português . Alexandre Taty, Nzita Tiago e outros
traidores que alimentavam ainda ilusões perderam-se com o
seu próprio oportunismo.
O povo do distrito de Cabinda, agora que comprende
bem quais são os objectivos de Portugal, deve levantar-se
como um só homem, organizar-se no seio do M. P. L. A. , com
as armas na mão, para lutar contra os abusos, contra a cor
rupção e contra a exploração dos colonialistas.
O M. P. L. A. tem armas para todos; o M. P. L. A. tem
uma ideologia e uma política para a libertação do país.
O M. P. L. A. é efectivamente a força dirigente do nosso
Povo.
Camaradas,
204
MENSAGEM RADIODIFUNDIDA PELO
«ANGOLA COMBATENTE >>>
Compatriotas,
Camaradas,
205
pelo terror, não poderá continuar a durar muito tempo.
E os mais inteligentes entre os colonialistas sabem-no bem.
206
ajuda-nos na assistência médica. A FAO ajuda-nos a mini
mizar as consequências da utilização criminosa de desfo
lhantes e herbicidas nas zonas por nós controladas.
Neste momento, o governo consegue ainda receber alguns
capitais estrangeiros que a realização apressada dos seus
"planos de desenvolvimento económico", com os quais tenta
fechar os olhos ao mundo. Contudo, os cinco séculos de
colonização, de obscurantismo e de opressão , não deixam
ninguém iludir-se sobre as intenções portuguesas. É por isso,
face à resistência heróica do nosso povo, que ninguém pode
duvidar da incapacidade de Portugal para manter a sua domi
nação actual . É por isso que alguns dos interessados no inves
timento de capitais em Angola vêm já contactar o MPLA,
com o fim de assegurarem uma colaboração futura, que será
feita de acordo com as decisões do nosso povo nesta matéria
e segundo o que está nos estatutos do nosso Programa.
207
até que os obuses caíam no sítio onde, neste momento, dor-
mem tranquilos.
Cada acção dos colonialistas recebe uma resposta conve-
niente, que os mergulha no desespero. A utilização de pro-
dutos químicos , por exemplo, reduz à fome durante um certo
período populações inteiras, mas, em contrapartida , permite
uma manifestação ainda mais generosa da solidariedade inter-
nacional. Os produtos industriais afluem hoje em maior quan-
tidade a fim de trazer socorro ao nosso povo que faz face a
um inimigo melhor armado mas que não é capaz de dar um
único passo em frente.
208
fazer compreender aos governantes de Lisboa a necessidade
de encontrar um método mais humano e mais racional para
alcançar a solução do problema.
Todos os portugueses sabem que não é com uma guerra que
obterão a sua tranquilidade. Com a guerra aumenta cada dia
o ódio entre os dois povos, o que pode, no futuro, comprometer
mesmo a existência do pequeno Portugal na Europa dos
Grandes. O ódio faz aumentar o ódio entre as duas raças,
entre duas nações. A cooperação futura pode tornar-se difícil.
A procura de uma saída política, que dê satisfação ao
povo angolano, é o único meio para que os portugueses
possam encontrar uma solução para este problema, que implica
vidas e mobiliza os sentimentos do mundo inteiro.
O M. P. L. A. , que se pronunciou neste sentido por várias
vezes, não se cansará de o fazer no interesse do povo angolano,
no interesse do próprio povo português e no de toda a huma-
nidade.
Vou sublinhar mais uma vez as dificuldades crescentes que
se verificam na vida dos colonos portugueses em Angola,
quando se trata de relações com a sua metrópole, dificuldades
ilustradas pela balança de pagamentos, pela forma desigual
como é praticado o comércio com Portugal, pelo aumento
constante do custo de vida , pela atmosfera asfixiante do mer-
cado de divisas e do que se relaciona com a transferência
de capitais. O futuro reservará ao homem de negócios, que
é essencialmente o colono, condições cada vez mais difíceis .
A modificação constitucional da nomenclatura jurídica,
visando camuflar o nome vergonhoso, Colónia, sob uma ligeira
camada de estruturas administrativas que tomem para o exte-
rior a palavra Estado, não pode resolver o problema. A « des-
centralização administrativa, combinada com uma forte cen-
tralização integrativa » de que se falou tanto é um « bluff» , que
só os que sofrem de miopia política podem ainda aceitar, como
solução para os problemas angolanos. Todas estas reformas
serão rejeitadas em bloco pelo Povo angolano.
-209
14
futuro e de relações desejáveis entre povos independentes e
soberanos.
Toda a lógica da luta de libertação nacional, o firme apoio
e a solidariedade crescente encontradas pelo M. P. L. A. nos
quatro cantos do Mundo, permitem que eu me expresse nestes
termos. A história dará razão aos que se convencerem desta
verdade.
Compatriotas,
Camaradas,
210
cipalmente lutando contra certos desentendimentos existentes
no seio da família africana.
Uma frente unida é o que querem todos os angolanos .
O M. P. L. A. apoia e está a trabalhar activamente para o
conseguir. Para o M. P. L. A. , uma frente unida é um factor
essencial para se conseguir a independência.
Unidade e luta
211
A unidade acima de tudo . O inimigo comum deve ser com-
batido primeiro .
O M. P. L. A. está preparado para dar os passos neces-
sários para o estabelecimento das vias e dos métodos para
se atingir uma acção conjunta . O M. P. L. A. não perderá
mais tempo com conflitos desnecessários. Para o bem do
nosso povo estamos prontos a encontrar-nos e a resolver os
problemas que existem dentro da família angolana.
As actividades subtis dos colonialistas devem portanto ser
neutralizadas. As intrigas e a constante acção psicológica
levada a cabo entre nós devem ser desmascaradas, pois é
através desta acção que as dificuldades nascem na luta de
libertação.
Podemos afirmar sem medo de errar que onde há dificul-
dades para se atingir a unidade, onde há sectarismo, há sem-
pre também a presença imediata ou distante dos colonialistas
ou dos imperialistas.
Porque o nosso povo, todos nós, estamos unidos no desejo
de lutar pela independência aqueles que não dão provas duma
aderência firme a este desejo podem ser rejeitados pela própria
luta . Será a luta que os expulsará.
A VITÓRIA É CERTA.
212
DISCURSO EM NOME DOS MOVIMENTOS DE LIBERTAÇÃO
AFRICANOS NA OITAVA CONFERÊNCIA EM DAR- ES-SALAM
Senhor Presidente,
Sua Majestade Imperador ,
Excelências Chefes de Estado da Africa oriental e central,
Camaradas de luta!
213
por este grupo regional africano, o que nos dá a garantia que
o nosso direito de representar de facto os povos em luta é
aceite pelos países do terceiro mundo.
Esperamos que esta vitória para os povos em luta se possa
estender à Organização das Nações Unidas onde a minoria
racista de Vorster ou a clique fascista de Caetano e outros
opressores dos povos não sejam autorizados a falar e repre-
sentar os nossos respectivos povos, cujos desejos de liberdade
e de independência estão provados através do sangue já vertido
no campo de batalha , na luta quotidiana que conduzem e que
demonstrou não só a sua maturidade, mas também a sua per-
sonalidade independente.
É com este espírito que dirigimos a vós Majestade Impe-
rador, Excelências Chefes de Estado da Africa Oriental e
Central essa mensagem militante.
Senhor Presidente, eu fui mandado pelos Movimentos de
libertação das Colónias Portuguesas Angola, Guiné- Bissau e
Moçambique onde a luta armada é a forma principal de com-
bate e onde se organiza já a vida independente nas vastas
zonas libertadas .
Fui mandado também pelos camaradas dos movimentos
de libertação da África do Sul, Zimbabwe, Namíbia que lutam
contra as minorias racistas implantadas nos seus países.
Falo-vos também em nome das colónias francesas muitas
vezes esquecidas, as ilhas Comores na Costa da Somália, assim
como o Sahara Espanhol, as Ilhas Secheles, as Canárias; situa-
das dentro ou ao longo do nosso continente, por vezes peque-
nos territórios, mas onde a presença inimiga é real e utilizadas
às vezes para abrigar bases militares imperialistas, donde
podem partir os ataques contra os países africanos mais com-
batentes. Nesses pequenos territórios há também povos que
aspiram à independência, que devem ser suficientemente aju-
dados, e é por isso que vos pedimos, Excelências, para não
desprezar a sua luta e não esquecer que ao lado de Portugal,
da África do Sul, da Rodésia , estão também a França e a
Espanha cujo colonialismo deve ser combatido.
Senhor Presidente
Excelências
Camaradas de luta!
Estamos muito reconhecidos por terem mobilizado os povos
dos vossos países para nos ajudarem. Esta solidariedade torna
214
mais fácil a nossa tarefa. Estamos particularmente comovidos
com a atitude desta Conferência que manifesta o seu acordo
com as decisões tomadas em Rabat de aumentar a ajuda mate-
rial aos movimentos de libertação e também com as conclu-
sões da Conferência de Mogadiscio de 1971 .
No entanto, não seríamos sinceros se não aproveitassemos
esta ocasião para dizer que é ainda uma carência moral e polí-
tica da nossa África a falta de ajuda eficaz, contínua e sufi-
ciente aos movimentos de libertação. Os nossos orçamentos,
os nossos stocks de armas, são muito inferiores aos das mais
pequenas províncias dos países independentes.
Permitam-me Excelências, lembrar-vos com todo o respeito
que a solidariedade é um dever.
A libertação da África é uma necessidade para todos nós,
e o engajamento deve ser completo.
As resoluções piedosas, as declarações simpáticas, as pro-
messas repetidas, não podem resolver o problema da guerra.
O combate armado é um facto imediato que exige a planifi-
cação, a prontidão na execução, factos concretos. Para isso,
Excelências , nós temos necessidade essencialmente de armas
e dinheiro.
É preciso acrescentar que os orçamentos votados na Con-
ferência da Organização da Unidade Africana chegam-nos só
em parte e quase sempre com seis meses de atrazo.
A nossa franqueza obriga-nos a declarar que são certos
países limítrofes, os que pagam realmente as consequências
do combate pela libertação.
Vou citar-vos o nosso amigo, o presidente Kaunda , da
Zâmbia, cujos esforços para ajudar realmente os Movimentos
de Libertação em África, alcançam um nível emocionante, se
considerarmos a sua situação geográfica e as consequências
políticas que daí resultam.
Citaremos também outros países limítrofes tais como a
República Popular do Congo, onde o Presidente Marien
Ngouabi não pode ser considerado como representante de
um país rico que dá os seus excedentes aos Movimentos de
Libertação, mas que nos ajuda bastante mais que outros paí-
ses economicamente fortes. Citaremos ainda o nosso cama-
rada , o Presidente Sekou Touré cuja ajuda ao P. A. I. G. C.,
tem prmitido vitórias hoje reconhecidas em todo o mundo.
Uma vez mais falaremos do Dr. Julius Nyerere da Tanzânia
oujo engajamento transforma o seu país numa base ideal para
215
a luta de libertação africana: soluções financeirs, todos os
meios de transporte, alimentação, tudo encontram aqui na
Tanzânia .
Citaremos ainda países longínquos que se esforçam para
nos ajudar tal como a Nigéria , o Egipto e outros. Não perco
ocasião para agradecer a cada um dos secretários do Comité
de Libertação da África que procura resolver com solicitude,
interesse e real espírito de fraternidade os problemas dos Movi-
mentos de Libertação que estão realmente em luta .
Senhor Presidente ,
Excelências
Senhor Presidente,
216
nosso povo não quebrará apesar das grandes dificuldades
materiais que enfrentam .
Um dos nossos Comandantes da região referida exprimiu
no seu relatório a sua alegria porque o M. P. L. A. é o único
alvo dos portugueses em Angola.
Para ele, isso prova a justeza e a realidade do nosso
combate.
Só há tranquilidade para aqueles que não têm a dignidade
de lutar pela sua liberdade, para aqueles que se conformam
com a situação de escravatura e de submissão aos estran
geiros . Para aqueles que lutam, há sempre combates.
Nós, os Movimentos de Libertação, temos grande respeito
pelas opiniões e sugestões feitas em qualquer ocasião e em
qualquer lugar para encontrar as soluções dos nossos pro
blemas.
A esses funcionários, ou melhor, a esses militantes dos
nossos movimentos de libertação, rendemos a nossa home
nagem. Eles contam com a nossa amizade. É perfeitamente
justo citar aqui os países socialistas que dão aos movimentos
de libertação uma grande percentagem de equipamento mili
tar e de outros produtos industriais.
Lamentamos, no entanto, e categoricamente, não poder
aceitar a ideia da formação de uma comunidade lusitana ou
luso-brasileira para substituir o problema colonial. Isso creio
eu, não corresponde aos interesses do nosso povo e queremos
sublinhar que ainda não estamos cansados da luta . E não
estaremos: jamais nos cansaremos enquanto os colonialistas
e os racistas não forem vencidos no nosso país.
Senhor Presidente ,
Majestade Imperador.
Excelências ,
217
ENTREVISTA CONCEDIDA A IAN CHRISTIE
(Julho de 1972)
219
muito material, particularmente material de guerra, para a
I Região. Não somos capazes, neste momento de fornecer con
venientemente o povo desta região e isto tráz-nos grandes difi
culdades .
Portanto a posição geográfica é importante quando discuti
mos esta proposta de união das forças angolanas. Mas esta
não é a única razão. Há a questão da unidade do nosso povo,
agora e após a independência. Neste momento estamos divi
didos, se bem que estejamos a lutar contra os portugueses pela
nossa independência.
E as diferenças políticas e ideológicas são menos impor
tantes do que o facto de que o inimigo está na nossa casa .
Nós devemos , nós temos de nos unir para derrotar o inimigo.
Podemos discutir os nossos problemas. Não há dificuldade
para nós, angolanos , em sentarmo-nos em assembleias, em con
gressos, em encontros de várias espécies, para discutir estes
problemas. Evitar estas discussões significa manter a desorien
tação do nosso povo, a desunião, e isto, no nosso ponto de vista,
é incorrecto. É por isso que nós temos feito todos estes esfor
ços para a unidade desde 1960.
È devemo-nos unir em diversos campos. Em primeiro lugar
está o campo político, depois vem o aspecto tribal, que é im
portante em todos os países africanos. Depois há os proble
mas das diferenças de classe. De momento, os ricos e os
pobres devem unir-se para os mesmos objectivos . Isto não é
sentimentalismo. É nossa orientação política trabalhar para
a unidade do nosso povo. E nós esperamos que o outro par
tido compreenda, que aceite esta união, esta cooperação.
Penso que num futuro próximo possamos ter um segundo
encontro para discutir as formas concretas de cooperação.
Estamos prontos a colaborar com a F. N. L. A. , e a chegar
a um entendimento com o governo do Zaire com o fim de
obter mais rapidamente a vitória na nossa luta .
Nós não pusemos as nossas propostas à outra parte e não
ouvimos nenhumas propostas dela . Mas temos obviamente a
nossa ideia àcerca das formas sob as quais podemos colabo
rar. O que nós acordamos foi no princípio de que deve haver
unidade na nossa luta.
220
AGOSTINHO NETO: Não consideramos que Savimbi seja
uma força política dentro de Angola. Há um grupo de pes
soas que se intitulam a si próprias U. N. I. T. A.. Talvez mais
tarde, depois das nossas sessões com a F. N. L. A. , voltemos a
falar nisso.
221
1
ENTREVISTA CONCEDIDA A REVISTA AFRICASIE
(Janeiro de 1973)
223
É evidente que em dez anos os portugueses aprenderam
um certo número de coisas. Devemos prestar uma grande
atenção à nova situação e lamentamos que ela nem sempre
seja bem compreendida por certos países africanos . O pros
seguimento da guerra, levou Portugal a introduzir certas refor
mas nas estruturas que regulamentam as relações com as coló
nias. A nova «< Lei do Ultramar » concede uma autonomia polí
tica e financeira às colónias que são dotadas de uma assem
bleia legislativa e dum organismo consultivo (Conselho Con
sultivo) e mascaradas com a denominação de « Estado da Repú
blica Portuguesa» . Tudo isto não é senão uma fachada , tanto
no plano político como económico. 1
Mas a guerra também levou os colonos a orientarem-se
cada vez mais para uma solução rodesiana do problema , isto é,
ao estabelecimento dum governo de minoria branca.
-224
Conselho Político Angolano (C. P. A.) , e o Conselho Militar
Unificado (C. M. U.) .
O problema é complexo porque não são só os angolanos
que o discutem, mas devido à presença dos nossos vizinhos,
os países africanos, que ao ajudarem-nos também influenciam
a marcha das negociações por esta colaboração.
Pessoalmente estou certo que nem o M. P. L. A nem a
F. N. L. A podem recuar face ao acordo, ao qual chegámos
no dia 13 de Dezembro de 1972. E isto por duas razões:
Somos responsáveis face aos africanos, que esperam de nós
uma maturidade suficiente que nos permita ultrapassar os nos-
sos problemas e as nossas divergências e coordenar os nossos
esforços para a libertação, mas sobretudo porque o nosso Povo
já não poderá aceitar a divisão entre o M. P. L. A. dum lado
e o F. N. L. A. do outro. O nosso povo está consciente que
sem a unidade não se pode alcançar a vitória completa sobre
os colonialistas . É impossível recuarmos . Devemos trabalhar
juntos.
No que diz respeito ao M. P. L. A. é o nosso maior desejo.
225
15
EXTRACTO DE UM RELATÓRIO APRESENTADO A 21 .
SESSÃO ORDINÁRIA DO COMITÉ DE COORDENAÇÃO
PARA A LIBERTAÇÃO DE ÁFRICA DA O. U. A., EM ACCRA
(Janeiro de 1973)
Compatriotas,
Camaradas,
227
O Portugal colonialista foi já forçado a submeter- se a este
odioso plano imperialista . Assim, numa última tentativa de
não perderem tudo em Angola, os fascistas de Lisboa organi-
zam à pressa um partido de maioria branca para dirigir e
orientar a passagem da farsa da autonomia à farsa da indepen-
dência do nosso país.
Citam-se já nomes para este partido e para este gabinete
de exploração e opressão nacionais .
No entanto, a manobra inimiga está à partida condenada
ao fracasso. O Povo angolano e os países africanos, em con-
junto, saberão esmagar a tempo esta nova aventura do impe-
rialismo e dos seus lacaios.
Por mais insidiosos que sejam os ataques do inimigo con-
tra os países que nos cercam, os seus povos - nossos irmãos
saberão com certeza resistir a todas as pressões e saberão
apoiar-nos. Quanto aos reaccionários angolanos que se ven-
dem cada vez mais abertamente ao inimigo, tanto no interior
como no exterior do nosso Movimento, serão seguramente
esmagados pela vigilância patriótica dos nossos militantes e
do nosso Povo.
Mais do que nunca na história da nossa luta, o esforço
principal deve partir de nós próprios. Somos nós que faze-
mos a nossa História. A chave da vitória reside sobretudo na
unidade do Povo e na unidade do nosso Movimento. Neste
momento, o dever mais urgente de todos nós , enquanto cida-
dãos e enquanto militantes, é de trabalhar para esta unidade.
A divisão apenas poderá trazer a derrota.
Camaradas,
228
Isto será sem dúvida , a melhor garantia no combate à violên
cia contra-revolucionária do interior e do exterior, são gente
sem escrúpulos , fizeram e farão cada vez mais uso de todos
os meios materiais e morais ao seu alcance, para destruir o
que há de mais são no seio do nosso Povo e do nosso Movi
mento, para nos dividir, para nos lançar uns contra os outros,
a fim de realizar os seus fins mesquinhos. É preciso que os
militantes e o Povo os isolem, os denunciem, para que pos
sam esmagar rápida e seguramente a brutalidade reaccionária ,
pela violência patriótica revolucionária.
Todos unidos não haverá força capaz de nos vencer. A per
severança no nosso combate despertará o entusiasmo e a soli
dariedade activa da grande quantidade de amigos que temos
em todos os continentes.
UNIDOS VENCEREMOS !
COMPATRIOTAS, MILITANTES, A VITÓRIA
É CERTA !
229
1
O PROJECTO SOCIAL DAS ZONAS LIBERTADAS
<<<Camaradas ,
231
isso que devem
os ter uma ideia certa da luta e das suas difi-
culdades . Jovens , mulheres , velhos , todos filhos e filhas do
nosso povo, é preciso que cada um saiba o porquê de nos
batermos . Chegou o tempo de acabar com os sofrimen
tos do
colonialis . Mas devemos também acabar com o atrazo do
mo
nosso povo . Se nós lutarmos apenas para acabar com os por-
tugueses , não vale a pena lutar . Nós lutamos para acabar com
os portuguese , mas também para que ninguém explore mais
s
o nosso povo , nem os brancos nem os pretos .
Nós não admitimos a exploração do trabalho, por quem
quer que seja. Nós não queremos que as mulheres e as crian-
ças tenham medo. Nós queremos que todas as mulheres e que
todos os homens do nosso país sejam respeitados . Nós que-
remos acabar com os portugueses e construir. Não é trabalho
de um só, é o trabalho de todos , sobretudo daqueles que têm
um espírito consciente. É preciso que o povo trabalhe. Um
país feliz, é um país onde todo o mundo pode trabalhar, por-
que o trabalho é o que nos faz progredir. Cada homem e cada
mulher deve saber que o trabalho é o primeiro dever. É pre-
ciso que todos saibam que todos os trabalhadores do nosso
país são úteis . Não só o trabalho do intelectual ou do enge-
nheiro, mas também o trabalho do enfermeiro, do agricultor
e do mecânico, é também importante. Mas o trabalho mais
importante de todos , para nós, é o trabalho da terra. O que
produz mais arroz, contribui para o progresso. O país que
nós queremos construir, é um país onde nós trabalharemos.
Vocês podem pensar: há muito tempo que nós trabalhamos
e não temos nada . Mas vocês trabalharam para os chefes e
para os portugueses. Nós vamos retomar o nosso país por
completo e trabalhar duramente, mas para que o trabalho dê
proveito ao trabalhador. Nós lutamos pela justiça: o produto
do trabalho não deve ser roubado . Ninguém tem mais valor
que um trabalhador , a não ser outro trabalhador que produza
mais . No nosso país , somos já nós que governamos. Mas
governar, não quer dizer nada, se não temos escolas, hospitais
e se não conseguirmos tratar a vida do campo, porque no nosso
país é o campo que conta. Não podemos pensar que somos
já livres. Estamos em guerra. Realmente, nós temos escolas,
enfermeiras e postos sanitários; nós caminhamos já de cabeça
erguida graças à acção do Partido e daquilo que nós próprios
criamos. Nós queremos que nada falte no nosso país, graças
ao nosso próprio trabalho: é isto que eu tinha para vos dizer.
232
Vocês já o sabiam, mas é bom repeti-lo, mais uma vez. Nin-
guém o deve esquecer, nem os responsáveis, nem eu próprio.
A cada momento um homem deve ter consciência clara da luta.
Em todo o nosso país, a luta armada se desenvolve. Mas nas
regiões libertadas, as zonas onde há paz são zonas onde se com-
bate todos os dias. Isto não é normal. Se vamos ao arrozal e
vemos que do trabalho de dez homens, destruíram o trabalho
de oito homens, não temos razão para estar satisfeitos . Na
luta, é a mesma coisa. Somos dez e lutamos como oito. É insu-
ficiente. Disto, já falei a dois camaradas nossos. E eles disse-
ram: não temos armas suficientes. E eu digo, é o resultado que
não é suficiente . Nós podemos sempre fazer mais. Alguns
habituam-se à guerra e quando nos habituamos , é o fim: mete-
mos uma bala na arma e passeamos. Ouve-se passar um barco
no rio e não utilizamos a bazuca , e sobre o rio os barcos por-
tugueses passam. Eu repito: podemos fazer mais. Devemos
expulsar os portugueses. Eu digo isso mais claramente: os
barcos continuam a passar: é inadmissível . Mesmo agora , eu
vou falar com responsáveis e nós falaremos também. Devemos
ter consciência de que não é necessário que o dirigente esteja
presente para se fazer o trabalho. Pela minha parte, eu cheguei
agora de Boé e como alguns outros dirigentes do Partido, devo
estar um pouco por todo o lado, para ver como se desenvolve
a nossa luta. Um homem e uma mulher dignos deste nome
não precisam que os empurrem para fazerem o seu dever.
Eles fazem-no por eles próprios. Senão, qual é a diferença
entre um burro que é preciso estar sempre a empurrar para
que caminhe? Eu não posso estar em todos os lados ao mesmo
tempo; não se pode estar sempre à espera de directrizes. Os
dois camaradas com quem falei , não podem estar sempre a
dizer o que é preciso. Devemos ter consciência do trabalho
e fazê-lo o momento chegou de conseguirmos a indepen-
dência do nosso país . Toda a luta caminha passo a passo,
mas há um momento onde ela tem que acabar . O mundo está
cheio de complicações na nossa Africa; os colonialistas que
partiam regressam de novo. Havia muitos povos que tinham
a esperança de poder dirigir os seus próprios negócios. Ser
dono do seu próprio destino, não quer dizer que os ministros
sejam africanos; o que é necessário é que o nosso trabalho, as
nossas riquezas nos pertençam, ao povo que trabalha para as
criar. Há outras pessoas, além dos portugueses que não querem
que sejamos donos da nossa terra. Não querem, uma vez adqui-
233
rida a independência, que sejamos nós a dominar: eles querem
dirigir. Mas nós não os deixaremos. É por isso que é preciso
acabar com os portugueses, porque os outros são seus aliados.
Nós temos uma direcção do Partido firme e decidida, com
armas e o povo connosco. Nós temos tudo para acabar com
os portugueses. A luta armada é muito importante. Mas
o mais importante, é ter consciência da situação do nosso
povo. O nosso povo apoia a luta armada. Nós devemos dar
-lhe a certeza de que aqueles que têm as armas na mão são
filhos do povo e que a arma não é superior ao instrumento
de trabalho. Se um traz a arma e outro o instrumento de tra
balho, o mais importante dos dois, é o que tem os instrumentos
de trabalho. Porque nós pegamos em armas para acabar com
os portugueses, mas isso para defender os que têm os instru
mentos de trabalho. Os professores são também importantes.
Nós podemos lutar e ganhar a guerra. Mas quando tivermos
o nosso país e o nosso povo não souber ler nem escrever,
nós ainda não teremos nada. Isto não quer dizer que os que
são instruídos são mais importantes que os outros; todo o
povo deve saber ler. Ele deve saber ler para não ser mais
enganado. Eu não falo de ser enganado pelos portugueses.
Com os colonialistas, já não temos mais nada a dizer. O nosso
diálogo com os portugueses, é a luta armada . Nós estamos
já no nosso país, com armas na mão e nós falamos livremente.
Nós estamos certos da vitória . Mas a nossa luta não é verda
deiramente útil se não respeitarmos o povo e se não abrirmos
o caminho para as crianças e para as nossas enfermeiras para
que sejam educadas e respeitadas. A nossa luta não tem sen
tido se o povo tiver medo daqueles que usam as armas. As
nossas armas, são contra os portugueses, não contra o povo.
Nós ganharemos se cada um cumprir o seu dever sem medo,
se cada um cumprir o seu dever com consciência. A nossa
luta será vitoriosa se cada um de nós tiver consciência que
ser militante do Partido, implica deveres. A nossa luta é
difícil. « Mesmo comer é difícil» , diz o nosso povo. É preciso
continuar porque nada pode parar a luta do nosso povo. Mas
há uma coisa mais importante ainda: nós vamos tentar fazer
de cada filho da nossa terra um homem consciente. Cabe aos
militantes do Partido e muito especialmente aos responsáveis
darem o exemplo » .
234
O Poder do Povo
235
1. Organização da Produção.
3. A Auto-Defesa.
236
4. Ligações com a luta política do M. P. L. A.
*
Destacamento: Grupo de guerrilheiros com cerca de 30 homens.
Coluna: Grupo de guerrilheiros com cerca de 150 homens.
237
I
ENTREVISTA COM SAMENDE (45 anos)
PRESIDENTE DUM «COMITÉ» DE ACÇÃO
-
R. A população da minha aldeia elegeu-me em 1967,
ao posto de presidente do «comité» de acção porque eu era
um bom trabalhador, um trabalhador modelo. É constituído
por cinco membros: o presidente, o vice-presidente, o secre-
tário, o tesoureiro e o conselheiro.
-
R. Há realmente uma grande diferença . Durante a
época colonial, havia aqui somente prisões. Agora com o
M. P. L. A. existem escolas (C. I. R.) e cursos de alfabetização
em toda a região, não obstante a guerra. Um sistema de troca
de víveres foi estabelecido entre a minha aldeia e todas as
regiões que estão sob o domínio do M. P. L. A. Nas coopera-
tivas do povo podemos trocar os produtos que cultivamos
nos nossos próprios campos, por arroz, carne, vestuário e
outros produtos. Temos também constituído um grupo de
caçadores os quais partem para a caça e nos ajudam a cons-
tituir uma reserva de carne que é dividida igualmente entre a
cooperativa do povo, população e os guerrilheiros . Enquanto
que na época colonial não havia senão medicamentos para
brancos, desde que o M. P. L. A. chegou, podemos contar com
239
um Serviço de Assistência Médica . Aprendemos a manejar
as armas e podemos agora servir-nos delas para defendermos
a nossa aldeia: temos a nossa Defesa Popular. Nada é mais
precioso para mim do que a independência e a dignidade nacio-
nal. Os portugueses dizem que nós vivemos na selva, mas isso
não é verdade: nós não somos feras, somos seres humanos.
$240
P.- Quantas pessoas foram levadas da vossa aldeia?
241
16
1
SOBRE A PRODUÇÃO NAS ZONAS LIBERTADAS
1. As aldeias (quimbos).
243
Dois outros dias são consagrados ao trabalho nos campos
individuais (assim como dois dias à educação e à formação
militar e política e o sétimo ao repouso, aos cantos, às danças
e ao teatro) .
A produção dos campos colectivos é dividida em três
partes para :
-os aldeões ;
os guerrilheiros;
sementeiras e frente de combate.
- para o destacamento ;
para as bases do M. P. L. A.:
para as lojas do Povo.
244
sabão, fósforos, agulhas, cobertores, vestuário, etc.) , graças
a um sistema de troca. Em troca desses produtos, eles deixam
uma parte dos produtos dos campos individuais.
O valor de todos estes produtos foi fixado pela U. N. T. A. ,
e é igual para todas as zonas libertadas.
Assim, se um aldeão traz arroz, por exemplo, este é pesado
e o seu valor determinado. Ele recebe em troca, um valor
igual em vestuário ou sabão, etc.
É também por intermédio das lojas do Povo que a U. N.
T. A. assegura o fornecimento de instrumentos de trabalho
aos aldeões, e sementes para os campos individuais e para os
campos colectivos .
2°
O aperfeiçoamento da produção.
245
sobreviveram . O dr. Tó Zé viu os efeitos destas bombas
sobre a mandioca: «em menos de 24 horas esta raiz seca e
fica preta >>.
Assim novas tácticas são empregadas para impedir os bom-
bardeiros de atingir a baixa altitude, que lhes é necessária
para lançar os produtos tóxicos:
246
«Estes resultados não abonam em favor do sistema. A
maior parte da população escolar (e a quase-totalidade dos
alunos nas zonas rurais) não vai além dos dois ou três pri-
meiros anos da instrução primária . Os ensinamentos apreen-
didos na escola são de tal modo rudimentares e superficiais ,
que, ao fim de algum tempo, eles recaiem no analfabetismo...» .
Nas zonas libertadas onde nada havia sido feito pelo Go-
verno português, o M. P. L. A. instalou perto de sessenta
escolas. O M. P. L. A. edita e difunde os seus próprios ma-
nuais, e esforça-se por alfabetizar a população adulta .
Os seus esforços valeram-lhe o elogio da U. N. E. S. C. O..
Mas em que condições se faz a campanha para a educação
nas áreas libertadas?
Uma entrevista com uma jovem guerrilheira, Tala Hardy,
de 18 anos permite-nos responder a esta pergunta.
«Eu nasci em Nambuangongo, perto de Luanda , na pri-
meira região. Quando a guerra começou em 1961 , eu era
muito pequena e não me lembro bem do que se passou então .
Mas lembro-me um pouco dos anos 62-63.
A guerra começou a 4 de Fevereiro e os levantamentos
populares em Março . Os «tugas» > (colonialistas portugueses)
vieram com aviões e bombas e massacraram a população...
Ninguém na minha família foi morto. Nós refugiámo-nos
no mato e aí ficámos durante três anos. Em seguida, fomos
para o Congo Kinshasa e depois para o Congo Brazzaville.
Em 1965 , comecei os meus estudos na escola do M. P. L. A. ,
perto da fronteira de Cabinda. Estudei aí durante três anos,
mas depois disso fomos enviados para a zona sul da 3.ª Região.
Continuei a estudar numa escola no mato. O resto da minha
família permaneceu numa aldeia do M. P. L. A.. Presente-
mente, uma das minhas irmãs é médica em Kassamba e os
meus pais estão em Dar-es- Salam, pois estão doentes .
A escola onde eu estudava na 3.ª Região, foi bombardeada
duas vezes. Partimos e reconstruímos a escola num outro lugar,
mas também esta foi bombardeada e ficou tudo queimado:
a casa, os livros, os cadernos, o papel, tudo. Então, os coman-
247
dantes da Região decidiram que todas as crianças da escola
iriam para a fronteira de modo a poderem continuar os seus
estudos. Em 1969, formaram um grupo de guerrilheiros que
nos acompanhou até à fronteira...>>.
(OMA - -n.® 1/73 ) .
248
Depois de 1969-70 fez-se um esforço gigantesco para esco-
larizar as crianças tanto em português como na sua língua
nacional. Os livros utilizados actualmente estão escritos em
português e também nas quatro línguas nacionais mais faladas
em Angola.
O ensino secundário é ministrado nos C. I. R. (Centros
de Instrução Revolucionária) e no Internato 4 de Fevereiro,
perto da fronteira de Cabinda. Este nome comemora a data
do início da luta de libertação.
Finalmente um pequeno número de estudantes tem a pos-
sibilidade de estudar, todos os anos nas Universidades de países
amigos.
Sessenta escolas é ainda um número restrito. O ensino esco-
lar e técnico está ainda em embrião (apesar da construção com
a ajuda da U. N. E. S. C. O. , da Suécia e da Dinamarca, do
INSTITUTO ANGOLANO DE EDUCAÇÃO em Dolisie,
na República Popular do Congo) .
Mas lembremo-nos em que condições é conduzida a luta
pela escolarização das crianças.
Lembremo-nos ainda do que dizia a jovem guerrilheira ,
àcerca das condições em que estudou.
É grande a esperança de realizar na GUINÉ-BISSAU
(outra colónia que apesar da presença do Exército português
proclamou a sua soberania em 1973) , um programa completo
de educação das criancas em idade escolar.
249
A função dos C. I. R. é formar quadros para a luta.
Temos uma ideia dos resultados obtidos na campanha de
educação de adultos.
A maioria dos assistentes médicos formados pelo M. P. L. A.
eram inicialmente analfabetos.
O analfabetismo é ainda elevado entre os adultos, mas
o Departamento de Informação e Propaganda edita brochuras
e mesmo em algumas zonas, jornais para uso dos guerrilheiros
e aldeões . Quando falta tinta ou papel usa-se a técnica dos
jornais murais.
Os textos são escritos em português e na língua nacional
da região, e há sempre nas aldeias adultos alfabetizados que
lêem o jornal em voz alta para os outros.. Estes textos são
bastante ilustrados com desenhos, fotografias e usam uma lin-
guagem simples.
250
ÍNDICE
NOTA DO EDITOR 5
Imperialismo e Monopólios 9
O Desenvolvimento do Nacionalismo 41
Cronologia da Resistência do Povo Angolano 49
A Contra-Guerrilha colonial-Imperialista 57
Greve em Luanda, um Grande Passo em Frente 59
Declaração do M. P. L. A. a Propósito da Greve 61
Programa Minimo do M. P. L. A. 63
Programa Maior do M. P. L. A 73
Sobre Organização 77
Os Serviços de Assistência Médica 81
Projecto dos Estatutos da Organização da Mulher Ango-
lana. Programa de Acção Imediata para a O. M. A.
O Papel da O. M. A. junto das Populações 85
Deolinda Rodrigues, Fundadora da O. M. A. 91
Os Pioneiros Angolanos do M. P. L. A. 93
Entrevista com um Militante do M. P. L. A. 103
A Vida Revolucionária do Combatente Hoji Ya Henda ... 107
Viva a Disciplina Revolucionária , Abaixo o Liberalismo ! ... 109
Hino do M. P. L. A. 111
O Pensamento Político de Agostinho Neto 113
Mensagem depois da fuga das cadeias de Portugal 123
Mensagem dirigida ao povo angolano e a todos os mili-
tantes do M. P. L. A. 125
Conferência de Imprensa em Brazzaville 131
Discurso transmitido pela rádio Tanzânia 139
Extractos do relatório apresentado à conferência inter-
nacional de apoio aos povos das colónias portugue-
sas e da Africa Austral, em Kartoum, Sudão ......... 151
Extracto de « Angola: um povo na revolução» , texto edi-
tado pela revista Tricontinental ..... 153
A propósito da reconstrução nacional 159
251
Mensagem aos militantes 163
Entrevista à «Afrique-Asie> 169
Discurso na conferência de solidariedade em Roma ( 1970) : 175
Resposta a 13 perguntas 183
Discurso pronunciado pela rádio Tanzânia 193
Mensagem por ocasião do 15.º aniversário da fundação
do M. P. L. A. 197
Mensagem radiodifundida pelo programa « Angola Com
batente» 205
Discurso em nome dos movimentos de libertação africa
nos na 8. Conferência em Dar-Es-Salam 213
Entrevista a Ian Christie 219
Entrevista à «Afrique-Asie>> 223
Relatório à 21.ª sessão ordinária do Comité de Coordena
ção para a Libertação de África da O. U. A. 227
O projecto social nas zonas libertadas 231
Entrevista com Samende, presidente dum «comité de
acção> 239
Sobre a produção nas zonas libertadas ... 243
252
LIVROS PUBLICADOS
CADERNOS ULMEIRO
253
DOCUMENTOS DE CUBA
N.° 1- Primeira e Segunda Declaração de Havana
Decieração de Santiago de Cuba
Lei das Nacionalizações
Lei da Reforma Urbana
Lei da Função Bancária
Leis da Reforma Agrária
N.º 2- Órgãos de Poder Popular - A Experiência de Matanzas
BIBLIOTECA ULMEIRO
N. 1 - Portugal, nem tudo está perdido .- Capitão Fernandes
N. 2 - MFA e Luta de Classes - Pedro Soldado, Ramiro Correia
e João Marujo
N. 3 Dinamização Cultural e Acção Cívica do MFA Pedro
Soldado, Ramiro Correia e João Marujo
N.° 4. Sobre Democracia Operária e outros textos Antonio
Gramsci
FORA DE COLECÇÃO
TEATRO ULMEIRO
N.° 1 - Ah Q.- Jean Jourdheil e Bernard Chartreux
N. 2 Fanshen — David Hare
FORÇAS DA VIDA
N.º 1 - Perguntas à nossa Igreja - CERP
254
Composto e impresso
na Tipog. Severo Freitas & Freitas, SARL
Rua Manuel Soares Guedes, 13-A
LISBOA
para Ulmeiro em Março de 1977
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