Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
ANGOLA
VICENTE PACA
TEMA 1: Introdução à Geografia Política e Social de Angola
Em geral, o clima de Angola é caracterizado por duas estações bem definidas: quente e
húmida; fria e seca (cacimbo). A temperatura anual média varia entre 19 °C e 26 °C, a
depender da localidade, enquanto o volume acumulado de chuvas é de 1800 mm nas áreas
mais setentrionais e de 300 mm ao sul e no litoral, especialmente na faixa que se estende do
sul até a capital.
O relevo da Angola é formado por depressões relativas e absolutas, uma estreita planície
costeira que se eleva a leste para uma sequência de escarpas, as quais representam a borda
ocidental de uma extensa área formada por planaltos que caracteriza os terrenos do interior. A
elevação média do relevo angolano é de 1.112 metros.
No âmbito dos recursos hidrográficos, o rio Cuanza (Kwanza) é o maior curso d’água
exclusivamente angolano e um dos principais em termos de abastecimento. Ele percorre 960
km desde a sua nascente, na região central do país, até a foz, localizada em Luanda. Outros
importantes rios que banham Angola são: Cunene; Okavango; Zambezi."
Os primeiros habitantes da região, que agora é designada por Angola, têm origem na tribo dos
caçadores-colectores Pré-Bantus.2 O povo Bantu chegou à região, vindo de Norte, no século
XII, obrigando a uma migração dos Khoisan para Sul (Abrantes, 2005, p.16).
Com a descoberta do rio Zaire, em 1482, por Diogo Cão e a posterior exploração da costa de
Angola, os portugueses foram-se instalando progressivamente na região e, excepto um
1
"Exclave" é uma parte de um país ou território que está separada do restante do país ou território a que
pertence. Isso significa que um exclave está fisicamente separado do país principal a que pertence, podendo estar
localizado em uma área remota ou separada por fronteiras de outros países.
2
Khoisan, Pigmeus, Cuissis, e Cuepes.
período de tempo compreendido entre 1641-48, em que Angola foi tomada pelos holandeses
(Barata, 1997, p. 24), esteve sob domínio português, até à independência do país em 11 de
Novembro de 1975 (Teixeira, 2004).
Muito embora os portugueses tenham falhado naquilo que era o seu intento inicial, a
descoberta de ouro e outros metais preciosos, descobriram em alternativa, uma excelente
fonte de escravos para alimentar a sua colonização do Brasil. A colonização portuguesa em
Angola começa verdadeiramente em 1575, com a fundação de Luanda (Selvagem, 2006).
Após várias tentativas, as tropas portuguesas finalmente conseguem conquistar o reino
Mbundu em 1902, quando o planalto do Bié foi tomado e a colonização branca chegou às
terras altas angolanas (Rebelo, 2006).
Embora fosse professado que Angola era uma sociedade multi-racial de igualdades, a verdade
é que a maioria dos africanos continuava a sofrer com a repressão conduzindo à fundação, em
1962, um grupo de refugiados no Zaire liderados por Holden Roberto, a Frente Nacional de
Libertação de Angola (FNLA). Mantendo as suas bases de apoio no Zaire, desencadearam
uma guerra de guerrilha em Angola, desenvolvendo contactos com nações, Ocidentais e
Comunistas e obtendo o apoio da Organização da Unidade Africana. Os movimentos de
libertação de Angola eram compostos também por outros dois movimentos de guerrilha. Um
de influência Marxista, Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA), fundado em
1956, com o seu quartel-general na Zâmbia. O terceiro, a União para a Independência Total
de Angola (UNITA), fundado em 1966, sob a liderança de Jonas Savimbi. Portugal viu-se
forçado a manter mais de 50.000 efectivos militares no Teatro de Angola no início dos anos
70. (Barata, 1997)
Em relação ao Grupo Étnico Banto, Redinha chama a nossa atenção para o facto ser, «por
grande diferença, a etnia demograficamente mais importante, e que a sua distribuição
territorial abrange a totalidade da Província. Apresenta também em relação aos Koisan e
aos Vátua, um estágio cultural mais avançado. [...] Por motivo da grande extensão
geográfica que dominam, das influências de meios variados e de certas diferenças de
expressão antropológica que lhes correspondem, a etnologia, apoiando-se, aliás, em
distinções estabelecidas pelas suas próprias comunidades autóctones entre si, estabeleceu
para os Bantos Angolanos as subdivisões étnicas seguintes:
Neste contexto, pode-se afirmar que, embora as fronteiras herdadas na colonização sejam
respeitadas no quadro das convenções internacionais, no cotidiano, elas se tornam
relativas. O fato de separarem os povos e de não respeitarem os Estados pré-coloniais
formados pelas diversas nações étnicas faz com que elas sejam muitas vezes
desconsideradas. Ainda que tenha havido algumas transformações, os grupos étnicos
mantém uma organização social, cultural e política específica, que não se encaixa nos
limites impostos.
Caso de Cunene
Localizado na região sul de Angola, Cunene é habitado pelos Ambo, grupo Bantu, que é
formado pelos subgrupos Vale, Cafima, Kwanyama, Kwamatwi, Dombondola e
Cuangar. Na memória coletiva, evidencia-se a constituição desses grupos como sendo
decorrente dos feitos do último rei Kwanyama, o célebre Mandume, que enfrentou os
militares portugueses na primeira década do século XX, na defesa de seu território.
Membros dessa etnia têm demonstrado pouca motivação para participar da construção
de uma unidade nacional. Fiéis à configuração social própria de sua cultura, eles rejeitam
a delimitação espacial imposta desde o período colonial. Essa rejeição é mais evidente em
relação à fronteira de Angola com a Namíbia. A etnia Kwanyama, por exemplo, está
localizada nos dois países. Freqüentemente, os membros desse grupo atravessam a
fronteira com o objetivo de visitar os parentes, de procurar trabalho e de adquirir bens e
recursos oferecidos em um dos lados. Em recusa a uma pertença única, alguns jovens têm
renunciado à aquisição de documentos que informem uma nacionalidade tais como o
bilhete de identidade.
3
Embora oficialmente a guerra civil tenha terminado no ano de 2002, ainda hoje, na província de Cabinda há
conflitos armados. Isto, porque os moradores dessa província recusam a pertença à nação angolana, pois se
sentem lesados pela exploração de petróleo e descontentes com a ausência de políticas públicas que atendam as
suas necessidades.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
SILVA, Armindo Mário Gomes da (2007). Potencial Hidrico em Angola [em linha].
[Luanda] : [Referência de 29 de Dezembro de 2008]. Disponível na Internet em:
<http://www.aprh.pt/8silusba/pdf/11h00%20Gomes%20Silva%20Minas%20Gerais%20
27-11.pdf>.
RELA, José Manuel Zenha (2005). Angola - O Futuro já Começou. Luanda : Editorial
Nzila, 2005. IBSN: 972-8950-34-9.
ALVES, Ana Cristina, PEREIRA, Ana Isabel, FERREIRA, Catarina, et al (1998). Guia do
Mundo. Lisboa : Trinova, 1998. ISBN: 927-9338-16-7.