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HGP

A Guerra Colonial

Francisco Faísca – N.º 5 – 6º A

- 2020 -
Guerra Colonial – 1961 - 1974

Introdução

Após a Segunda Guerra Mundial, numa altura em que eram defendidas a


autodeterminação e a independência dos povos, as antigas potências europeias
viram-se obrigadas a promover o processo de descolonização de diferentes áreas
dominadas no espaço africano e asiático, tendo emergido várias lutas e novos
poderes. Contudo, Portugal não aceitou prontamente a perda dos territórios e
ofereceu resistência contra os grupos armados que almejavam a constituição de
nações independentes.

Foi nesse contexto que se desenvolveu a Guerra Colonial Portuguesa, entre 1961
e 1974, que colocou em choque as Forças Armadas Portuguesas contra diferentes
grupos armados da Angola, da Guiné e de Moçambique.

Assim, este trabalho pretende fazer uma abordagem à Guerra Colonial Portuguesa,
um capítulo importante na história do nosso país, decorrida durante o Estado Novo e
que teve um papel importante no estabelecimento da democracia portuguesa, na
evolução do nosso País.

Províncias ultramarinas

Depois da segunda Guerra Mundial, a posse de colónias passou a ser mal vista
pelas instituições internacionais, como a ONU, que logo após a sua criação em
1945, consagrou o direito dos povos à autodeterminação e independência. Assim, os
povos colonizados na África e na Ásia começaram a exigir à Europa a sua
autodeterminação.

Gradualmente, várias potências coloniais europeias, como a Inglaterra, a Bélgica, a


Holanda ou a França, concederam a independência às suas colónias. Portugal,
contudo, tomou uma atitude diferente.

Neste contexto, Salazar esforçou-se por justificar ao mundo que as colónias, apesar
de estarem separadas de Portugal, faziam parte do País, as colónias eram
consideradas províncias ultramarinas (figura 1). Assim, para o Governo Português,
as colónias tinham sido descobertas e povoadas pelos portugueses desde o século
XV. Os seus habitantes eram portugueses, partilhando a mesma língua e cultura,

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logo, Portugal era uma nação pluricontinental e multirracial, que se estendia do
“Minho a Timor”, um império “uno e indivisível”. Mas, os principais motivos para a
recusa da independência às colónias era porque desses territórios vinham muitas
matérias- -primas, fontes de energia e outros produtos, bem como tinham
emigrado para lá milhares de portugueses.

Figura 1 – Províncias ultramarinas de Portugal

A proibição da independência

Durante o Estado Novo, até à década de 1960, as colónias portuguesas estavam


totalmente dependentes de Lisboa.

O Governo Português controlava as colónias em tudo o que era essencial e proibia


qualquer tipo de autonomia às populações.

A revolta dos povos africanos contra a ocupação portuguesa foi crescendo


lentamente, mas até 1961 não houve grandes problemas.

Em dezembro de 1961, a União Indiana invadiu e ocupou os pequenos territórios de


Goa, Damão e Diu, que Portugal detinha no Oriente desde o Século XVI.

Perante a política intransigente de Salazar, na impossibilidade de diálogo com o


Governo, tinham iniciado movimentos de luta pela independência, formaram-se nas
colónias portuguesas movimentos independentistas. Em Angola, surgiram o MPLA,
a FNLA(UPA) e a UNITA, na Guiné, o PAIGC e, em Moçambique, a FRELIMO.
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A 15 de março de 1961, União das Populações de Angola (UPA) massacra centenas
de colonos brancos, mas também negros, nos distritos do Zaire e do Uíge. O Norte
de Angola transformou-se então num palco em que a morte e a violência foram os
atores principais. Assim começou, de forma brutal, a Guerra Colonial, surgem em
Angola ataques de guerrilheiros a colonos portugueses. Como resposta, o Governo
Português enviou de imediato tropas para Angola (figura 2).

Em 1963 as ações de guerrilha começaram na Guiné e em1964 a guerra estendeu-


-se até ao Norte de Moçambique. A partir deste ano Portugal estava envolvido numa
guerra em três frentes em África que durou até 1974.

Figura 2 - Cais de Santa Apolónia. Embarque do BC (Batalhão de Caçadores) 109 e de outras unidades no navio Vera Cruz
com destino a Luanda (1961)

Treze anos de Guerra Colonial

Na fase inicial da Guerra Colonial, os soldados portugueses treinados à pressa e


com pouca experiência, lutaram quase sempre com um inimigo que fugia ao
confronto direto, mas que, como conhecia bem o território, atacava aquartelamentos,

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fazia emboscadas e colocava “minas” que, ao rebentar, matavam soldados e
destruíam viaturas, usavam uma tática de guerrilha (figura 3).

Figura 3 - Mina terrestre / Carro destruído por uma mina

À medida que os soldados portugueses se instalaram no terreno e o foram


conhecendo, e adquiriram experiência, passaram a organizar operações militares
para destruir as bases dos guerrilheiros, bem como as povoações e culturas que
lhes serviam de apoio. A guerra prolongou-se por 13 longos anos (figura 4).

Figura 4 - Soldados do exército português durante a guerra colonial

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Os efeitos da Guerra

Esta guerra mobilizou cerca de um milhão de jovens portugueses, impôs pesados


encargos financeiros ao povo português. Mas a consequência mais trágica foi a
morte de cerca de 8 800 soldados portugueses, 15 500 feridos e mutilados e um
número indeterminado de desaparecidos (figura 5).

Figura 5 - Soldados portugueses mutilados na guerra colonial

Entre 1961 e 1974 morreram no teatro de operações, em Angola, morreram 3 423


militares portugueses. Em Moçambique, em cerca de dez anos de guerra, de 1964 a
1974, morreram 3 099 militares. Foi o segundo cenário mais mortífero. A terceira ex-
-colónia onde deflagrou a Guerra do Ultramar, a Guiné, foi fatídica para 2 281
militares, em combate desde 1963.

O prolongamento da Guerra Colonial fez aumentar o descontentamento dos


portugueses, desejosos por uma mudança política.

Não podemos deixar também de pensar nos milhares de mortos entre os


guerrilheiros que lutaram pela independência dos seus países, na destruição dos
territórios onde ocorriam os combates.

A Guerra Colonial só terminou com a Revolução do 25 de Abril de 1974. O


Movimento das Forças Armadas (MFA), constituído por um grupo de militares
descontentes com a continuação da Guerra Colonial e com o quadro político de
Portugal, decidiu pôr fim à ditadura através de um golpe de militar. Para o êxito do

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MFA muito contribuíram os populares que aplaudiam e distribuíram cravos
vermelhos aos militares (figura 6).

Os oficiais do MFA entregaram o poder à Junta de Salvação Nacional, presidida pelo


general Spínola com a missão de governar Portugal até à formação de um governo
provisório.

Figura 6 - Revolução dos cravos

A descolonização

De acordo com o programa do MFA, em junho de 1974, o presidente da República,


general Spínola, reconheceu o direito à independência dos povos africanos.

As negociações realizadas entre os representantes do governo português e os


representantes dos movimentos de luta pela independência das colónias permitiram
que se fizesse descolonização, tendo-lhes sido entregue o governo dos territórios
africanos.

Formaram-se cinco novos países com a descolonização: Angola, Moçambique,


Guiné, Cabo Verde e São Tomé e Príncipe. Apesar de terem conseguido a
independência, Angola e Moçambique não alcançaram a paz. A luta pelo poder

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provocou, em ambos, uma guerra civil que durou até 1992 em Moçambique e 2002
em Angola.

Os portugueses que viviam nas ex-colónias, mais de 500 000, tiveram de regressar


a Portugal, foram repatriados. Muitos deles, com uma vida estabelecida, nada
trouxeram.

Conclusão

A Guerra Colonial é considerada um dos acontecimentos mais marcantes da


sociedade portuguesa do século XX.

O seu desfecho levou não só à restauração da democracia em Portugal, a 25 de


Abril de 1974, mas também ao desmantelamento do velho império colonial. Pela
primeira vez na sua história, Portugal via-se reduzido, em 1975, aos seus 89 mil
quilómetros quadrados de meados do século XV, à sua dimensão atlântica,
continental e europeia.

O enorme esforço de guerra, ao longo de treze anos, teve consequências,


relevantes para a demografia, economia, política e, até, para a saúde pública. Levou
ainda ao isolamento e ao desprestígio de Portugal ao nível internacional.

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