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HISTÓRIA DA CULTURA E DAS ARTES

PARTE 6: SÉCULO XIX [ROMANTISMO]

MÓDULO 8
A CULTURA DA GARE
SEBENTA - HISTÓRIA DA CULTURA E DAS ARTES - PARTE 6: Século XIX - M8: A Cultura da Gare

PALAVRAS-CHAVE:

GARE |

ANA CARLOTA FERREIRA SILVEIRO


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SEBENTA - HISTÓRIA DA CULTURA E DAS ARTES - PARTE 6: Século XIX - M8: A Cultura da Gare

SÉCULO XIX
1. MÓDULO 8: A CULTURA DA GARE - TRONCO EM COMUM

APRESENTAÇÃO
A Gare é entendida como espaço-metáfora de uma nova rede de relações transnacionais,
possibilitada pelas inovações técnicas e geradora de novos sentidos de espaço/tempo,
onde se entrecruzam, em aparente contradição, sonhos e utopias.

TEMPO
1814-1915. Da batalha de Waterloo à Exposição dos Fauves.

ESPAÇO
A Europa das Linhas Férreas. Domínio das linhas férreas ligadas às indústrias.

BIOGRAFIA
O engenheiro Gustave Eiffel (1832-1923). A Ruptura do ferro proposta por Eiffel: o
pragmatismo e o simbólico.

LOCAL
A Gare. Espaço onde tudo afluia. Dela dependia agora a divulgação.

ACONTECIMENTO
A 1ª Exposição Universal (Londres, 1851). A apologia da máquina, do ferro e das novas
tecnologias. Recuam os saberes tradicionais.

SÍNTESE
O indivíduo e a natureza. A natureza é um refúgio privilegiado dos artistas.

CASOS PRÁTICOS

● 1º Caso prático: Palácio da Pena, Sintra (1838-1868/1885). A arquitetura romântica


e a sedução da Idade Média. Do restauro à reinvenção.

● 2º Caso prático: Italian family on ferry boat leaving Ellis Island (1905). Fotografia
de Lewis Hine (1874-1940). A captação de sensações óticas vai ser posteriormente
utilizada pelo realismo e impressionismo.

● 3º Caso prático: Tristão e Isolda (1857-9) de Richard Wagner (1813-1883): Prelúdio


(Acto 1) e Morte de Isolda (Acto 3, Cena 3). A obra de arte total: Palavras, Música,
Dança (ou Gesto), Artes Plásticas, Encenação e Ação combinam-se ao mesmo
nível, enquanto veículos para a expressão de uma ideia dramática única. Uma lenda
medieval de relevância universal.

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1.1. APRESENTAÇÃO

A Gare é entendida como espaço-metáfora de uma nova rede de relações transnacionais,


possibilitada pelas inovações técnicas e geradora de novos sentidos de espaço/tempo,
onde se entrecruzam, em aparente contradição, sonhos e utopias.

“Há 100 anos, os negócios estavam limitados a uma área geográfica; agora, são mundiais.”
- Frank McVey, Modern Industrialism, 1903.

Em foco: a Revolução Industrial:


● 1781: É inventado por Watts o motor rotativo a vapor; a 1ª ponte de ferro é
construída em Coalbrookdale, na Inglaterra
● 1825: É aberta a 1ª linha férrea comercial movida a vapor, ligando Stockton a
Darlington.
● 1830: Foi aberto o 1º serviço ferroviário comercial de passageiros movido por uma
máquina a vapor - o Rocket de George Stephenson. Era a Liverpool and Manchester
Railway com 56 km e servida por locomotivas, também desenhadas por
Stephenson, que conseguiam alcançar a velocidade de 48 km/ hora.
● 1869: Chega ao fim a construção da 1ª linha férrea transcontinental nos EUA.

O Rocket de Stephenson simbolizava o que ainda hoje é um desenvolvimento-chave na


História do mundo nos últimos 250 anos: a transformação de uma sociedade agrícola,
dependente de moinhos de vento e de água, de cavalos e de outros animais de carga, para
uma sociedade industrial, na qual os motores a vapor eram capazes de gerar uma força
constante até então inimaginável.

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Uma revolução científica no Ocidente cria a sensação que o mundo pode ser mais bem
entendido e explorado. O desenvolvimento de máquinas movidas a vapor encoraja o
crescimento da produção em massa em fábricas. O Rocket de Stephenson anuncia uma
nova forma de transporte, mais rápida e mais confiável. O Ocidente impõe-se ao resto do
globo, criando mercados globais interligados. A dependência das sociedades industriais de
combustíveis fósseis leva a uma tensão sobre o meio ambiente.

O Rocket de Stephenson foi a máquina a vapor da primeira ferrovia de passageiros do mundo, ligando Liverpool
a Manchester. Esta fotografia mostra-o no exterior da Direção de Patentes, em Londres.

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1.2. TEMPO

1814-1915. Da batalha de Waterloo à Exposição dos Fauves.

BATALHA DE WATERLOO

Caixa de Curiosidade(s):

“Devo fazer de todos os povos da Europa um único, e de Paris a capital do mundo.”


De quem é esta frase? ___________________________________________________

Batalha de Waterloo, 1815


Acontecimentos principais:
● 1792: Começam as Guerras Revolucionárias contra a República Francesa.
● 1793: A França institui o alistamento militar em massa, criando exércitos de tamanho
nunca visto: “todos os franceses estão permanentemente ao serviço de exércitos.” -
Declaração de Recrutamento.
● 1799: Napoleão assume o poder num golpe militar.
● 1804: Napoleão torna-se imperador e jura restaurar o papel dominante de França na
Europa
● Enorme conquistas criam o maior império europeu desde o tempo de Carlos Magno
● 1807: A França invade Portugal.
● A invasão da Rússia deixa Napoleão com um território muito amplo e com um
exército debilitado
● A partir de 1810: O ritmo das conquistas napoleónicas torna-se insustentável
● 1815: Napoleão é finalmente derrotado em Waterloo. Napoleão cultivou um
sentimento de invencibilidade francesa e isto fez da sua derrota algo muito mais
traumático para a nação. Dos 450 mil homens que liderou contra a Rússia em 1812,
apenas 40 mil sobreviveram. Napoleão sobrepujou-se a si mesmo. Em Leipzig, na
Alemanha, em 1813, com um terço do tamanho das forças da Áustria, Prússia,
Rússia e Suécia juntas, sofreu a sua primeira grande derrota. Em Waterloo, as suas
forças recuperaram um pouco, mas o génio militar de Napoleão falhou na correção
do equilíbrio e a sua ambição imperial acabou no lamaçal de Waterloo. É o fim de 23
anos de guerra.

EXPOSIÇÃO DES FAUVES, 1905

O Fauvismo é um movimento de arte surgido em 1905 e muito associado ao trabalho de


Cézanne.
Os Fauves (feras em francês) era um grupo de artistas de vanguarda cujos trabalhos
valorizavam as qualidades pictóricas e o uso da cor profunda na herança da representação
Impressionista. Os Fauvistas simplificaram as linhas, exprimiram-se com assuntos de fácil
leitura, perspectivas exageradas, uso de cores muito vivas e arbitrárias, pouco naturais,
formas simples e planos lisos. Insistiram também na frescura do acabamento espontâneo.
O Fauvismo influenciou os expressionistas. Como movimento, não teve nenhuma teoria
concreta, e foi de vida curta. Apenas se registaram três exposições. Matisse foi visto como

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um líder do movimento. Disse que quis criar arte para e por prazer. Arte como decoração. O
uso de cores vivas tenta manter a serenidade da composição.
Como pintar fauvismo: selvagem, cor muito viva, colocação aleatória da cor, perspectiva
exagerada, formas simples, planos lisos, acabamento espontâneo, que permita uma leitura
fácil.
Quem são os Fauves - "FERAS": o pintor Gustave Moreau foi o professor que fez despertar
o movimento. Os líderes do movimento eram Henri Matisse e André Derain, alunos que
melhor entenderam Moreau.

Em 1905 realizou-se a primeira exposição dos Fauves no Salão de Outono de Paris. Em


Dresden, na Alemanha, Kirchner, Henkel e Schmidt-Rottluff fundaram a associação artística
Die Brücke (A Ponte).
A arte dos elementos de A Ponte caracterizou-se por uma linguagem plástica rude e
agressiva na forma e nos conteúdos.
Reagindo ao Impressionismo e ao academismo pretendiam uma arte mais pura e intuitiva.
As temáticas praticadas por este grupo de artistas privilegiaram a figura humana
representada em diferentes situações, de preferência revelando aspectos relacionados com
a realidade social do pintor. As personagens são, na maior parte dos casos, mais
importantes que o cenário.
O grupo de A Ponte pretendeu criar uma arte que marcasse um espírito de revolta quando
apela no seu manifesto a toda a juventude para incorporar “o futuro e se libertar dos
poderes consagrados”.

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1.3. BIOGRAFIA

O engenheiro Gustave Eiffel (1832-1923). A Ruptura do ferro proposta por Eiffel: o


pragmatismo e o simbólico.

A industrialização e a emigração atraem milhões


de pessoas para as cidades por todo o mundo. A
sujidade e a doença afligem os novos pobres
urbanos que subsistem nos bairros de lata.
Reformadores sociais defendem a melhoria das
condições de vida para todos. As infraestruturas -
obras sanitárias, de transporte e de iluminação
pública - passam a ser prioritárias.
A abertura da Torre Eiffel é vista como uma
afirmação do orgulho cívico. Erguida a tempo
para a Exposição Universal de 1889, naquele
tempo a estrutura mais alta do mundo, passou a
representar Paris para o resto do mundo. Paris
era a cidade renascida, sobre a qual se postava a
torre de Gustave Eiffel, com 300 metros de altura,
não apenas a estrutura mais alta do mundo, mas
também um monumento triunfante dedicado ao
progresso tecnológico.

Caixa de Curiosidade(s)

Existem algumas construções do engenheiro francês Gustave Eiffel em Portugal? Se sim,


quais? Foram construídas antes ou depois da Torre Eiffel? (Indique obra(s) e data(s)).

“Gustave Eiffel, mundialmente conhecido pela torre com o seu nome que domina Paris, teve na

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cidade do Porto a sua primeira grande obra, que o projectou para uma notoriedade mundial que se
mantém 175 anos depois do seu nascimento, que se assinala sábado.
Alexandre Gustave Eiffel, que nasceu a 15 de Dezembro de 1832, em Dijon, teve na construção da
Ponte D. Maria, sobre o rio Douro, a primeira grande obra realizada pelo gabinete que criou em 1868.
O projecto, da autoria de Teophile Seyrig, sócio de Eiffel, destacou-se entre as propostas que se
apresentaram ao concurso internacional, não só por ser mais barato, mas principalmente por
introduzir novos conceitos para a travessia de um vão com 160 metros. A importância que Eiffel
atribuiu à obra justificou que se tivesse instalado em Portugal durante o tempo que demorou a
construção, para poder acompanhar de perto os trabalhos, que decorreram entre Janeiro de 1876 e
Outubro de 1877. Na altura, Eiffel anunciou a intenção de construir uma ponte "no limiar do
impossível" e a verdade é que a Ponte D. Maria veio a ser considerada uma obra revolucionária para
a época.
A construção num tempo recorde, aliada à dificuldade criada pela transposição de um vão de
grandes dimensões, deram a Gustave Eiffel uma projecção internacional. Esta travessia ferroviária
do rio Douro foi inaugurada a 04 de Novembro de 1877, numa altura em que Gustave Eiffel já estava
também envolvido na construção da ponte metálica de Viana do Castelo, um projecto da sua autoria.
A ponte, que a Ordem dos Engenheiros considerou como uma obra notável, é única em Portugal,
distinguindo-se pelos tabuleiros sobrepostos, mas também pelos `cotovelos` existentes nas duas
margens, à entrada do tabuleiro. A travessia rodoviária e ferroviária do rio Lima foi inaugurada a 30
de Junho de 1878.
A presença de Gustave Eiffel em Portugal passa também pelo Elevador de Santa Justa, em Lisboa,
construído com base num projecto do engenheiro Raul Mesnier Ponsard, discípulo de Eiffel.Trata-se
de um elevador vertical com 45 metros de altura, que possui duas cabinas com capacidade para
transportar 25 pessoas. Inaugurado a 10 de Julho de 1902, o elevador está classificado como
monumento nacional, tendo o passadiço que o liga à Rua Nova do Carmo como um dos seus
elementos mais importantes. Alguns anos antes da inauguração deste elevador na capital
portuguesa, Gustave Eiffel tinha perdido o concurso para a construção da Ponte D. Luís, sobre o
Douro, no Porto.
O gabinete de Eiffel apresentou um projecto que previa apenas um tabuleiro, ao nível das ribeiras do
Porto e de Gaia, com uma parte levadiça no centro, mas a proposta, que ganhou um prémio na
Exposição Universal de Paris de 1878, não foi aceite pelo governo português, que exigia uma ponte
com dois tabuleiros.
O novo concurso veio a ser ganho por um projecto da autoria de Teophile Seyrig, ex-sócio de Eiffel,
que, nessa altura, já se tinha separado do seu mentor e assinou como único responsável a
construção da Ponte D. Luís, inaugurada a 31 de Outubro de 1886.
Gustave Eiffel, cujo nome também ficou ligado à construção da Estátua da Liberdade, em Nova
Iorque, é apontado como um excelente construtor e empresário, que se soube rodear de bons
engenheiros. O seu principal mérito, segundo alguns estudiosos da sua obra, residia na capacidade
de gestão das construções e na precisão da sua execução, muito graças à técnica de pré-fabrico em
estaleiro, considerada avançada para a sua época.”

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- artigo “"Pai" da Torre Eiffel realizou a sua primeira grande obra no Porto”,
https://www.rtp.pt/noticias/cultura/pai-da-torre-eiffel-realizou-a-sua-primeira-grande-obra-no-porto_n163658

1.4. ACONTECIMENTO

A 1ª Exposição Universal (Londres, 1851).


A apologia da máquina, do ferro e das novas tecnologias.
Recuam os saberes tradicionais.

A 1 de maio de 1851 abriu-se ao público, em Londres, a primeira Exposição Universal


ou como foi designada “A Grande Exposição dos Trabalhos da Indústria de Todas as
Nações”. Uma data que ficará na história por ser a primeira exposição internacional de
indústria. Gibbs-Smith referiu que “pela primeira vez na história do mundo, os homens
das Artes, Ciência e Comércio foram autorizados pelos seus respectivos governos a
reunir-se para discutirem e promoverem os objetivos para os quais as nações
civilizadas existem”.
Com a Exposição do Palácio de Cristal de 1851, o Reino Unido inicia um período áureo
da sua história como a nação mais poderosa do mundo, dona de uma frota naval maior
do que a de todo o resto do planeta reunido.
Dentro de cada seção nacional, incluindo a britânica, a comissão tinha igualmente
regulamentada a divisão e distribuição dos objetos por seções: maquinaria, a norte;
matérias-primas e produtos agrícolas, ao sul; e, por fim, os produtos artísticos e
manufaturados, no meio. Cada seção era da responsabilidade do seu comissário ou
agente nacional.
Ao término da Exposição de 1851, o Palácio de Cristal, uma jóia dos primórdios da arquitetura
do ferro e uma das construções mais notáveis da época vitoriana, foi integralmente desmontado
e transferido para Sydenham, na periferia sul de Londres - um local que passaria a ser
conhecido por Crystal Palace, onde viria a ser destruído por um incêndio em 1936. Paxton 's
"Crystal Palace" abrigou árvores existentes no Hyde Park.

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1.5. CASOS PRÁTICOS

1º CASO PRÁTICO: Palácio da Pena, Sintra (1838-1868/1885). A arquitetura romântica e a


sedução da Idade Média. Do restauro à reinvenção.

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2º CASO PRÁTICO: Italian family on ferry boat leaving Ellis Island (1905). Fotografia de
Lewis Hine (1874-1940). A captação de sensações óticas vai ser posteriormente utilizada
pelo realismo e impressionismo.

No final do século XIX, os fotógrafos John Thomson, Jacob Riis e Lewis Hine,
compreenderam que a fotografia como documento sociológico podia intervir na sociedade.
Casos de pobreza, miséria e de exploração, provocados pela industrialização e imigração
nos E.U.A. e Inglaterra, foram assim denunciados.
É com eles que nasce o conceito de realismo social associado à fotografia. Cada um deles
seguiu um percurso em áreas de intervenção diferentes. Estes fotógrafos contribuíram
assim para a denúncia de mundos sociais desconhecidos, que passavam despercebidos
aos olhos das classes mais favorecidas, despertando-lhes a consciência para as classes
mais pobres e dos seus problemas sociológicos.

Lewis Hine (1874-1940) sociólogo norte-americano tornou-se fotógrafo do Comité Nacional


de Trabalho Infantil, para o qual trabalhou durante oito anos.
Viajou pelos Estados Unidos para fotografar a exploração das crianças que trabalhavam em
fábricas de fiação, minas de carvão e em explorações agrícolas. Daí resultaram dois livros
sobre o assunto: Child Labour in the Carolines e Day Laborers Before Their Time.
Nestes trabalhos estava estampado a essência da juventude perdida, presentes nas faces
tristes e até raivosas das crianças. As suas fotografias não admitiam artifício ou engano.
Todo o processo era natural e o resultado deveria representar fielmente a realidade, não
deixando de se preocupar com a estética da imagem, embora muitas vezes tivesse que
fotografar com a máquina escondida.
Ele utilizou aberta e declaradamente as suas fotografias como armas para sensibilizar a
opinião pública, as quais contribuíram para a elaboração de uma lei de proteção laboral
para menores.
Com as fotografias dos imigrantes chegando e partindo de Ellis Island e a trabalharem na
construção do Empire State Buildings sem proteção, conseguiu que lhes fossem
melhoradas as condições de vida.

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“A fotografia pode iluminar a escuridão e expor a ignorância.”


Lewis Hine

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MÚSICA
Subjetividade, genialidade e virtuosismo

ROMANTISMO: 1750-1830

1830 – Nova onda de revoluções liberais por toda a Europa (França, Bélgica, Holanda,
Portugal, etc.), embora no início do século XIX já muito compositores estivessem a cultivar
um novo estilo (como Beethoven, por exemplo)

1914 - Início da I Guerra Mundial, mas ocorre também a passagem de Schoenberg para o
atonalismo

O termo “romântico”: o adjetivo romântico deriva de romance, cujo sentido literário original
era o de uma narrativa ou poema medieval, escrito numa das línguas românticas (derivadas
do latim). Quando a palavra começou a ser utilizada em meados do século XVIII
(Iluminismo) associava-se a algo distante, lendário, fictício, fantástico, maravilhoso, um
mundo imaginário ou ideal, por oposição ao mundo real. Apesar de no Romantismo não
haver uma rutura da linguagem musical, dos géneros e da harmonia do Classicismo, ocorre
uma distorção do equilíbrio entre a razão e o sentimento. Predomina agora a expressão do
eu, o subjetivismo, a emoção e o dinamismo.
Este termo inicialmente designou um movimento literário, sendo aplicado à música quando
E. T. A. Hoffman (1776-1822), em 1810, designou Beethoven como sendo um compositor
“romântico”, nos seus ensaios em torno da 5a Sinfonia de Beethoven. De facto, dentro da
esfera sinfónica, será Beethoven quem irá nortear os compositores românticos.

Viajante Sobre Mar de Nevoeiro, Gaspar David Friedrich

O ROMANTISMO VISTO PELOS SEUS PROTAGONISTAS

O sentimento do artista é a sua lei. O sentir puro nunca pode ser contrário à natureza, sempre será
adequado à natureza. Nunca deve impor-se o sentimento de outrem como lei. A única fonte
verdadeira da arte é o nosso coração, a linguagem de um ânimo infantil puro. (...) Toda a obra de arte
autêntica se percebe em hora solene e nasce em feliz hora, muitas vezes sem que o artista esteja
consciente, partindo de um impulso interior do coração. Caspar David Friedrich
A arte é uma linguagem totalmente distinta da natureza; mas também dispõe de um poder
maravilhoso sobre o coração do homem por semelhantes caminhos secretos e obscuros. (...) Molda

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o espiritual e o insensível nas figuras visíveis de um mundo, tão admirável e comovente, que todo o
nosso ser e tudo o que está em nós volta a agitar-se e treme desde o fundo. Wilhelm Heinrich
Wackenroder
Quando, indiferente a tudo o que é alheio, ignorando-o, a arte atua segundo esse sentimento interior,
próprio, único, independente, então, quer nasça do estado selvagem, quer de uma culta
sensibilidade, será vital, íntegra. E acontece em diferentes graus em nações e indivíduos isolados.
Quanto mais a alma se elevar ao sentimento das proporções, belas e eternas por si mesmas, cujos
acordes básicos podemos definir, cujos segredos só podem ser sentidos, no seio onde se agasalha
em venturosas melodias a solitária vida do génio; quanto mais penetre, acrescento, esta beleza na
essência do se espírito, de modo que pareça haver surgido com ela, até que nada a contente mais,
tanto mais feliz será, e mais firmemente inclinados estaremos nós, orando ao Ungido de Deus.
Johann Wolfgang von Goethe
Mas em nenhum lugar nos apercebemos melhor do que na música que é aquele espírito que torna
poéticos os objetos, as alterações da matéria, e que o belo, o objeto da arte, não nos é dado nem se
encontra no imediato. Todos os sons que a natureza nos oferece são brutos - e carentes de espírito -
e se por vezes parecem melódicos e com sentido o sussurro dos bosques, o assobio do vento, o
canto do rouxinol, o chapinhar do arroio, apenas o são para a alma musical. A natureza possui
instinto artístico - daí que toda a tentativa de diferenciar arte e natureza seja mero palavrório. Para o
poeta serão diferentes, em todo o caso, uma vez que tem uma conceção racional e não apaixonada,
diferenciando-se daquelas pessoas - que, por afeto, convertem a natureza e a arte em
representações involuntariamente musicais, poéticas ou, em si, interessantes. Novalis
Quando digo que amo Shakespeare, Goethe, as histórias antigas, isso significa que creio que todo o
dom benéfico provém de cima, de Deus, de um céu amoroso, claro, azul, e é recebido por benditas
mãos agradecidas, ornadas com as flores da Terra, enviado de novo para cima como uma ação de
graças de crianças boas. Raramente, porém, inocente e inconsciente, como cresce a pérola na ostra;
muitas vezes afogado e desfigurado, ou envenenado por aquilo que, na noite, semeia ervas daninhas
sob o trigo. Clemens Brentano
É belo e necessário entregar-se totalmente à impressão de um poema, deixar que o artista faça
connosco o que quiser, e apenas em pormenores confirmar o sentimento pela reflexão e elevá-lo a
pensamento, e determinar e acrescentar onde fosse possível duvidar ou revelar-se. Isto é o
primordial e fundamental. Friedrich Schlegel

CARACTERÍSTICAS GERAIS DA MÚSICA ROMÂNTICA

● Predomínio de uma burguesia culta, que faz com que o consumo da música
aumente. Cultiva-se nesta época a música doméstica, de salão, para além das
grandes salas de concerto, dos teatros de ópera e das Igrejas.
● Diletantismo musical: a partir do início do século XIX a música doméstica (piano,
guitarra, flauta), difunde-se rapidamente junto da burguesia. Nesta difusão o piano
(símbolo do individualismo romântico) desempenhou um papel importante, devido à
sua possibilidade de ser usado tanto como solista ou como instrumento de
acompanhamento do canto ou de outros instrumentos, mas também funcionou como
apoio à orquestra nas transcrições a duas ou quatro mãos. Por toda a Europa se
assistiu a um crescimento extraordinário da produção de pianos, do mercado das
lições particulares e da edição musical. Surgem peças para piano ligeiras,
sentimentais e não muito difíceis, de forma a acompanhar este consumo.
● Passagem de um público musical relativamente pequeno, homogéneo e culto para
um público burguês, numeroso e diversificado. Deixam de existir mecenas, por isso,
os compositores tanto compõem obras grandiosas para as massas como obras mais
intimistas.

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● A Alemanha desempenha um papel importante na promoção da música


instrumental, enquanto a vida musical francesa e italiana giram em torno da ópera.
● A música instrumental como a mais romântica de todas as artes – a música
instrumental (música pura, livre do peso das palavras), desligada do mundo
concreto, consegue comunicar de forma perfeita impressões, emoções,
pensamentos (Schopenhauer). Logo, é a arte romântica ideal, que consegue
expressar o que é negado à linguagem.
Quando alguém fala da música como arte autónoma, deve circunscrever-se somente à
música instrumental, a qual, recusando toda a ajuda, toda a intromissão de outra arte,
expressa com pureza e essência da arte, que lhe é própria e só nela se pode reconhecer. É
a mais romântica detodas as artes... A música faz aceder o homem a um reino
desconhecido; um mundo... no qual abandona todos os sentimentos determináveis por
conceitos para se entregar ao inexprimível (E. T. A. Hoffmann)
● Afirmação do virtuosismo e de uma técnica instrumental perfeita, em que os grandes
executantes se tornam verdadeiros heróis (Nicolo Paganini e Franz Liszt). Eram
solistas instrumentais, por oposição aos cantores de ópera do século XVIII, que
fascinavam o público e cujo estatuto de peritos (kenner) os diferenciava dos
amadores (liebhaber). Este virtuosismo tornou-os famosos internacionais e através
das suas interpretações e das suas composições, ou das obras de compositores
com que colaboraram proximamente, foram responsáveis pelo lugar central dei
concerto instrumental.
● Nicolo Paganini: importante para a evolução da técnica dos instrumentos de cordas;
é a imagem do artista romântico, fortemente expressivo e com uma técnica
fascinante (mudanças de posição, golpes de arco, cordas duplas, harmónicos
artificiais, etc.).
● Papel do músico: a função social do músico é alterada, pois recusa totalmente o
papel subordinado que lhe era indicado pela corte ou pela Igreja, para reivindicar
uma completa autonomia nas escolhas artísticas, as quais muitas vezes se tornam
incompreendidas pelo público.
● O afastamento da racionalidade, a valorização do inconsciente, do sobrenatural e do
misterioso traduziu-se musicalmente num alargamento do vocabulário harmónico e
melódico, mas também na exploração do colorido orquestral (timbre).
● Na estética romântica, o elemento mais cultivado é o timbre, ao qual se juntam a
harmonia, a estrutura tonal, o ritmo, etc.
● Historicismo: estudiosos e músicos dedicaram-se ao estudo da música do passado.
De destacar a predileção dos românticos por Bach e Palestrina. Por exemplo, o
interesse por Bach pode ser visto pelo lançamento da primeira edição das suas
obras completas, em 1850, mas sobretudo pela apresentação da sua Paixão
segundo S. Mateus num concerto em Berlim, em 1829, sob a direção de
Mendelssohn.
● Combinação de tendências conservadoras e revolucionárias: se por um lado certos
compositores revolucionaram a linguagem musical clássica, outros ainda continuam
a compor nas formas clássicas da sonata, da sinfonia e do quarteto de cordas,
embora introduzindo algumas alterações, de acordo com o ideal musical do
romantismo.

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FASES DO MOVIMENTO MUSICAL ROMÂNTICO

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COMPOSITORES ROMÂNTICOS

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