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Tempo

e
Sociedade
Artigo: socIÓLOGOS NOS DOMINIOS DE CLIO "

Autor: CIRO FLAMARION SANTANA CARDOSO


(Professor do Curso de Mestrado em História da Uaiver
sidade Federal Fluminense)

I FLORESTAN FERNANDES: MUDANÇAS SOCIAIS


NO BRASIL

Não étarefa fácil, ou agradável, criticar o Prof. Florestan


Pornandcs, Eu prlmelro lugar, porque a sua obra tem uma Im
portância primordial, Estamos totalmente de acordo com Fer
nando Henrique Cardoso quando, ao apresentar a primeira edi
ção do livro que agora devemos comentar, caracterizava o autbr
como um scholar com formação especializada, cujos escrltos dis
tinguem-se "pela integridade científica e pela atualidade na ma
neira de tratar os temas discutidos"; e quando opunha a sua obra
ao antigo espírito de improvisação e verbalismo, que tanto mar
cou a fase do chanado bacharelismo brasileiro" (1). Em segun
do lugar, porque a sua trajetória de protessor, formador e orlen
é a de melhor qualldade
tador de toda umu cscola soclológlca que
no país, impõe um grande respeito, As realizações da mencionada
cscola do próprioFlorcstan Pernandos,de Fernando Henrique
Cardoso, de Oetavio Ianni, de Maria Sylvia de Carvalho Franco, de
José de Souza Martins e de tantos outros são, desde 1960, nu

Este artigo fol redigldo em 1978 a pedtdo do Departamento de Hatórla


do Curso de Pás-Graduação em Desenvolvmento Agricola da Eoola
Inter-Amerlcana de Adminlstração Pübllca (Fundaçåo Qetûlo Vargas),
como parte do projeto: "A Agrlcultura Braslletra o seus Eaquems E
plcatlvos. Anállse Hlstorlogrática", Tal redação seguiu as instrugõos
contidas no ponto VIII do rotelro do projeto. Isto expllca que os llvros
anallsados e critlcados hajam sido os que o leltor verâ, e sÐ estes. R
plica também olntereaso especlal pelas aapeotoa que dizom roapoyo
4 lMlslorla da Agrloultura.
merosas e de valor indiscutível no sentido de contribuirem a um sua nã0-pertinência e a sua incompatibilidade com o método o
melhor Conhecimento da realidade brsaileira, Tornam-se ainda marxismo. E será possível afirmar a "universalidade" da análise
mais impressionantes se as compararmos som as sucessivas "m0 estrutural ou funcional, como se todas as análises estruturais ou
das" que nas duas últimas decadas monopolizaram uma parte funcionais constituíssem formas análogas de proceder, distinguin
considerável da intelectualidade do país no campo das ciências do-se apenas as "conclusões"? Achamos que não.
humanas - Lévi-Straus, Althusser, Poulantzas, Foucault Mas passemos ao livro que devemos comentar, Na nova edi
cuja contribuição para a compreenso os problemas nacionais, ção, o ensaio que em 1960 era uma introdução teórica suficiente"
depois de quase vinte anos de discussõesnula.
e escritos soi-disant teó (p. 19) passou para o apêndice e foi substituído por outro texto
ricos e metodológicos é absolutamente introdutório. Porém, O roteiro que nos foi apresentado como qua
Em 1971, durante o Seminário de Mérida sobre as classes so dro geral em que deve inserir-se nosso texto, menciona no ponto
ciais na América Latina, a comunicação do Prof. Fernandes foi VIII expressamente a edição de 1960. A intenção de tal roteirc
comentada pelos sociólogos Jorge Graciarena e Jorge Martinez aparece jáno seu título: A Agricultura Brasileira e Seus Esque
Ríos. Oprimeiro afirmou que, nessa comunicação, "a idéia de or mas Explicativos. Análise Historiográfica", Interessa-nos, por
dem social competitiva foi apresentada como um tipo ideal, tanto, sobretudo a introdução da primeira edição "Atitudes e
segundo as afirmações de Max Weber em sua metodologia" (2) Motivações Desfavoráveis ao Desenvolvimento" (pp. 315-356)
Quanto ao Prof. Martínez Ríos, criticou principalmente a presen principalmente nos seus aspectos teórico-metodológicos.
Ça, no texto, de categorins prOvenientes de correntes ou orienta
ções muito divergentes. Na página 317 lermos:
Sentimos também em iversas ocasiões, ao ler escritos do
Prof. Fernandes (e de vários dos seus discípulos), um mal-estar os dois conceitos, de desenvolvimento social e de evolu
análogo ao do Prof. Martínez Ríos, decorrente da contradição entre ção social, descrevem os mesmos fenômenos em níveis diferentes
Fernandes)
um marxismo declarado (desde 1942, segundo afirma da realidade social, O primeiro apanha os processos de mudança
referências catego
e a insistência em manter no seu quadro de de Weber,
social progressiva no nível supra-histórico, no qual se pode abs
rias analíticas da "sociologia clássica" por exemplo trair e analisar os fenômenos de formação, duração e sucessão dos
do funcionalismo cuja utilidade no contexto du tipos sociais".
de Durkheim, contrário,
ma análise marxista está longe de ser evidente. Pelo
opinamos, como Martínez Ríos, que a elaboração duma
"meta É verdade que as noções de desenvolvimento e de evolução
teoria" reconcilian do correntes de orientação oposta não é possi estão situadas em níveis diferentes de análise e de abstração
Fernandes a res Também certo que muitas formas de evolucionis11o podem scr
vel (nem desejável), A orgumentação do Prof.preocupou por ser, qualificadas de "supra-históricas". No caso da evolução tal cono
peito parece-nos pouco convincente: nunca se
pssível ignorar certos
como sociólogo, um marxista puro; não é análisè porque foram u considera o marxismo, porém, falso que esteja colocada nun
conceitos (como "anomia") ou técnicas de nível "supra-histórico". Que nível seria esse, aliás? O marxismo,
estrutural e fun
criados por Durkheim ou por Weber: a análisemais-valia relativa por mais que Althusser pretenda o contrário, é radicalnmente "his
cional é universal: a caracterização da toricista" (4), No quadro duma pesquisa marxista, a oscilação
por Marx, n' 0Capital é feita em termos
de análise estrutural e permanente entre a exposição teórica e abstrata e a referència a
conclusões, que Sociedades concretas consideradas no tempo e no espaço é de re
funcional; o que é diferente é a elaboração das(3), Que significa
correspondem a outro esquema interpretativo" gra. A abstração não funciona, aí, como finalidade da investiga
opinião, conceitos (ou no ção, mas apenas como instrumento exploratório; e constitu! so
ser umn marxista "nã0-puro"? Em nossa de R. Redfield, ou o
cões) Como a "anomia", a cultura de Folk" mente uma formalização simplificada das relações reais conside
Jacques Lambert (0s dois primeiros utilizados pelo radas mais importantes, Nada ilustra melhor o caráter histórico
"dualismo" de cabe anali
autor e o últimno citado com aprbvação no livro que nos e em caso algum "supra-histórico" das abstrações marxistas
ideal" weberiano, cfctiva do quo a aflrmaçço do Marx accrca da imp0sslbllldade de construlr
sar): o técnlcas de análise comno o "tipo devem ser critlca
mente não devem ser 1gnoradoOs pelos marxistas:
se constatará a
uma teoria da "produção em geral": quando tratamos de perce
fazê-lo acreditamos que ber o que háde comum a todos os regimes de produção ou a algu
dos cuidadosamente, e ao
mas das suas etapas (como a moeda, por
Sociais), obtemos exemplo, ou as
preender équalquer"momentos
nível abstratos que não permitemclasses
da produção", e com
em que vivem,
atuando de forma
sentido exclusivamente histórico concreto Suas condições materiais
morais desocialmente
tições (5) de cujo
evidenciar comum e evitar as
o
repe As
"contribuições"
e
de Marx e
existência organizada
coletiva".
sobre
As páginas seguintes do texto tas no mesmo nível, Engels, Mannheim e Freyer pos
identificadas?! Isto nos
tranho e difícil de justificar parece um tanto es
318-343) constituem uma exposição: 1)introdutório de 1960
dos pontos de vista e (pp. Sabe-se que a sociologia do (para um marxista,
tinções sociológicas para naturalmente)
umaconhecimento
encarar os dis plo, embora de Mannheim, por exem
cial; 2) das
perspectivas e mnétodos fenômenos
do
de dinâmica So ao marxismo,apresente filiação genética explícita em relação
também
comdesenvolvimento
(" em termos de suas se separa deste, de
vinculações social
a estrutura, o funcio clara, em pontos essenciais, maneira não menos
namento e as tendências de te na sua concepção particularmente o
das ideologias relativismo presen
Essa exposição é
sistemática, diferenciação do
embora resumida, sistema social"). E que pensar da
a respeito (8)
algumas críticas (como na pág. 320): A
e às vezes inclui
de Marx não permitem afirmação: "As interpretações sociológicas
de que as impressão
mos da sua leitura é, geral que tira conhecer, positivamente, os fatores e os
correntes sociológicas porém, diferentes
mencionadas são percebidas perspectivas e
efeitos do desenvolvimento social desigual dos vários sistemas
ciais que tendem para 0 mesmo típo de so
Fernandes como instrumentos por Florestan (p. 337)? Apesar da "escolha da sociedade de classes"
nies, Sombart, Max Weber, coimplementares de pesquisa: Tön que poderia ilustrar o grau de Inglaterra com0o país moderno
Engels, Mannheim e muitosEmile Durkheim, T, Parsons, Marx e
çado pelo capitalismo na Europadesenvolvimento extremo, alcan
dundo dlversos subsídlos u uinoutros autores aparecem aí como
ursenal de perspectlvas, métodos
do século XIX" (p. 334), acre
litamos que n obra de Marx aporta aubsÍlOs
e técnicas de análise, todos 0 conhecimento dos fatorcs e efeitos importantes para
aparentemente
veis, Assim, por exemplo, afirma-se que "
aceitáveis e compati
é nos textos quc cita Florcstan rcrnandes mencionados, justamente
(p. 334, nota 14),
as relações recíprocas de atitudes e possível descrever
Julgamos ter razão a0 afirmar que o autor focaliza os dife
volvimento social de uma perspectivavalores sociais com o desen
sincrônica e de uma pers rentes (e quão diferentes!) métodos, técnicas e perspectlvas
pectiva diacrônica" ((p, 323), Na mnesma página lemos ainda: "As expôs como complermentares porque, depois da exposição, passaquea
contribuições da sociologia sistemática, nas quais dilerentes esta enunciar cinco conclusõcs quc, scgundo diz, resultam das partes
dos da moderna sociedade de classes sociais são focalizados de for anteriores do texto e que, de iato, tratam de associar elementos
ma típico-ideal, revelam-nos tais relações da primeira perspectiva". das diversas posições e correntes mencionadas (pp, 343-344).
Depois de exploran as modalidades e possibilidades da análise Passando a outro tópico, o roteiro de que já falamos afirma
sincrônica e de concluir a respeito, passa o autor àanálise diacrô que a tendència na qual inclui a obra de Florestan Fernandes que
nica da sociedade de clàsses, à qual cabe " evidenciar quais as estarnos comentando é "anti-historicista". Não estamos de acor
influências dinâmicas mais profundas e persistentes dos referidos do, se com isso se quer dar a entender um repúdio da dimensão
histórica ou da utilidade duma análise histórica, Éevidente, po
elementos na preservação e na alteração do padrão de equilibrio rém, que o autor maneja as änálises históricas de uma maneira
dessa sociedade" (p. 332). Apresenta os aspectos que, quanto a que parece inadequada e empobrecida a um historiador, embora
0sto, julga mais importante para o tema de que está tratando e seja muito freqiüente entre os ientistas sociais, Pierre Vilar alu
diz (p. 333): diu certa vez a uma das diferenças essenciais entre as formas em
"Esses complexos problemas são ainda mal conhecidos e ex que o historiador e os geógrafos (de fato, muitos cientistas so
plicados pela sociologia, tanto empírica, quanto teoricamente. ciais) se debruçam sobre a história: estes últimos ofazem para
Não obstante, alguns de seus aspectos atraírarn a atenção de in estabelecer cortes sincrônicos sucessivos que manifestamo estado
vestigadores penetrantes e corajosos, como Marx e Engels, no do tema estudado em diferentes momentos do tempo, ou para
passado, ou Mannheim e Freyer, em nossos dias, Em linhas ge encontrar a origem de um fenômeno atual; o historiador, pelo
rais, a contribuição positiva desses autores pode ser formulada de contrário, interessa-se pela continuidade, pela cronologla seguida
sociedade
seguinte maneira: bem ponderadas as coisas, não é a sociedade passo a passo para assegurar a percepção das transições e das
transformam a respostas dadas, em cada fase, aos problemas que teve de enfren
que se transtorma; são os homens que

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tar o grupo humano estudado (7),
aliás têm a ver com a história da Vejamos dois exemplos, que dernas, O afluxo de imigrantes, naciönais e
O primneiro é o capítulo VII,
agricultura, contribuíu para afetar as antigas condições estrangeiros, também
de existência e para
"Caracterer Rurais e Urbanos criar novos foCOs de alteração da ordem social, Deixando de lado
na Formação e Desenvolvimento de São Paulo" (pp. essas outras questões pois não temos o propósito de fazer
Florestan Fernandes começa por apresentar um resumo 193-222)
dedicado uma análise sociológica das transformações sociais que se operam
a "São Paulo no século XVI" (pp.
a formação duma vila como apêndice194-199), tratando de mostrar atualmente nas Cornunidades do vale seria o caso de se inda
do camp0, os elenientos que gar se as atividades apontadas prejuicam, de certa forma, os
"mantinham o fluxo e o refluxo da vida sOcial do campo para a descendentes dos mernbros das velhas familias boas', em parti
vila e vice-versa", a ausência de 1limites culturais bem definidos cular no que concerne à competição com os imigrantes nacionais
entre a vila e o campo, os fatores que explicam as diferenças en e estrangeiros que lá se fixaram"
tre o mundo rural paulista e o europeu da mesma época, etc, Ou seja, o autor afasta claramente das suas intenções o estu
Em seguida, passa sen1 transição a São Paulo no presente' do do próprio processo de transIOrmação, para dedicar-se a anali
(pp. 199-206), onde mnostra que "assistimos à desintegração final sar as suas conseqüências, na época em que realizou as excur
da ordem social herdada do passado, em que os Sões ao Vale do Paraíba das quais resultou o artigo (pp. 265-270).
componentes ru
rais prevaleciam em muitas esferas sobre OS componentes urba Aqui só interessa aluir aos aspectos do livro de Florestan
nos da cidade" (p, 203), que as relações entre a cidade e o campo Fernandes que ten ham a ver com a história de agricultura ou
sofreram uma redcfinição drástica, quo as cstruturas urbanas (:0m Wmn visio 1eral cla história do Brasi!, Isto signmifica que es
manifestam a evolução para situações sociais de novo tipo, etc tamos deixando de lado boa parte do volume, que como ddz o
Finalmente, uma terceira parte (pp. 206-209) compara ambas as próprio autor (p. 11) évariado e heterogêneo. Além dos capítu
"constelações estruturais" ou "modelos polares", abordando em los já citados, contên elementos pertinentes para a ´história da
pouco mais de duas páginas a transição de um modelo ao outro, agricultura strictu senso ermbora em pequena quantidade
0u seja, um longo processo histórico. Nessas condições, afir seguinte: capítulo I (pp. 65, 83: inversão da relação campo-ci
mu
mar, como faz o autor nas conclusões (pp. 209-210), que "As su dade), capítulo II( p. 102: atraso das atitudes em relação às
gestões expostas demonstram quais são as características estru danças do sistenia cconômico, no cxCmplo das fazendas paulistas
turais e funcionais do padrão de desenvolvimento urbano de São a fins do século XIX), capítulo IV (comentário de um livro de via
Paulo" (p, 209 ênfase nossa, C.F.S.C.) éum tanto pretensio gens de Júlio Paternostro, relativo à região do Rio Tocantins;
so. É verdade que o texto foi redigido como comunicação, em p. 129: agricultura de subsistência e aspectos comunais; p. 130:
do traba
1954, e que o autor lamenta (p. 193) o caráter sucinto organização familiar; pp 147-152: condições de trabalho; pp.
lho, que atribui às suas dimensões, A opção metodológica, porém, 155-156: relacões entre o iornem e a terra, migraÇões), capítulo
como fa
não nOS parece dever-se a essa circunstância, já que, como trata VIII (pp. 241, 255-256: os problemas de abastecimento
remos de mostrar, O autor a maneja sempre que traça um pano tor da colonizaço do planaltoonde surgiu São Paulo).
estas passagens
rama evolutivO ou histórico Mais interessante, porém, do que comentar
artigos cujos temas e fi
"À Sombra da Idade de curtas e às vezes ocasionais contidas em
Osegundo exemplo é o capítulo IX, dedicado ao Vale do Pa nalidades centrais so outros, parece-nos que é
tentar expor resu
Ouro" (pp. 258-270), também de 1954, a história do Brasil e
raíba, A uma evocação do ciclo do café e da sua
decadência, in midamente a visão global do autor sobre
de textos mais recentes e sis
cluindo uma reconstituição do universo rural na época do apogeu suas etapas, Neste caso partiremos 1974 (pp. 19-57) e a comu
do café através de entrevistas com descendentes de fazendeiros, temáticos: o capitulo I da cdição de Fernandes ao Seminário de
nicaçãO apresentada por Florestan
seguem-se estas frases (pp, 264-265) : 1971 (8), embora referindo-nos também a textos que
C,F,S.C.) Mérida em Mudanças Sociais no Brasil. Isto
"Em quase todas as zonas (do Vale do Parafíba - Constavam da edição de 1960 de
impos-se a substituição do cultivo do café pelo de outras plantas sÐ para o comcntárlo das ldólas do autor, mas
atlvldades industrials &importanto niovoltaremos encontrar as características funda
ou pela crlação de gado. Além disso, várlas que a própria la
também porque a
interpretativo nos livros de Octavio
ou extrativas se introduziram aqui e all, sendo mentais do mnesmo modelo
técnicas mais mo
voura de café tende a ser explorada através de
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Ianni e Fernando Henrique Cardoso de que A segunda coisa que deve ser notada é que, como nos exem
Sem mencionar que, na comunicação citaia, trataremos adiante.
des estende o seu esquema a toda a América Florestan Fernan plos jácitados (capitulos VII e IX), os desenvolvimentos do autor
Latina, a respeitodos processos que focaliza não são análises de tipo his
Este esquema se baseia, antes de mais nada, na tórico, no sentido em que os historiadores o entendem: os perío
clois uiodclos de organização social. O prinmciro delesproposta de
é o "esta dos e fases aparecern sempre drasticamente simplificados; os me
mental" e "de castas" ao mesmo tempo (no caso do Brasil; ape canismos que conduzern de uma situação estrutural à seguinte
nas "estamental" no caso de outras colônias São apenas mencionados ou enumerados, mas não estudados de
latino-americanas),
cuja origem se liga à fase do "capitalismo comercial". fato; às vezes, inclusive, numa mesma passagem breve, se incluem
O segundo
e o da sociedade de classes, originado peio desenvolvimento inter lapsos de teripo muito longos e processos heterogêneos. Eis aqui
um bom exemplo deste últirmo ponto (p. 73):
no do capitalismo, e "amplamente solapado pela coexistência e
concorrência do trabalho servil, do trabalho semi-livre e do tr¡
ballio livre, p'ovocadlas pela c0etaneidade de várias idades histó "Uma socicdade subdesenvolvida, que chega a inciuir a in
é uma sociedade na
ricas distintaS e pela articulação, no mesnmo sistema econômico, dustrialização em seu sistema de valores,
de modos de produço pré-capitalistas e capitalistas" (p. 36). qual o subdesenvolvimento se eleva à csfera de consciência social
Segundo os fatores internos e externos que influen1 na sua cons como condição socialmente indesejável. No Brasil, essa polariza
tituiçã0 e na passagem gradual do primeiro ao segundo modelo, ção da consciência social é antiga. Já no período das lutas pela
podemos distinguir quatro etapas históricas: 1) o "antigo sistema independên cia e dos movimentos abolicionistas, ela aparece na
colonial": 2) a "transição ne0colomial.; 3) a emergência do "ca ideologia das camadas dominantes. Contudo, ela só adquire po
pitalismo dependente propriamente dito"; 4) as mudanças poste der prático depois da desagregação da ordem social escravocrata
riores à Segunda Guerra Mundial. e senhorial e dos primeiros éxitos na transplarntação da empresa
industrial para São Paulo"
Talvez convenha notar, de saída, auas coisas, Em primeiro
lugar, que Florestan Fernandes considera esta evolução a partir Vejamos agora, sumariamente, as quatro etapas históricas
Qum esquema explicativo que inclui dois focos "uos dinamismos que distinguimos acima.
sócio-cinâmicos da mudança social": 1) a "organização da socie
dade"; 2) a "difusão cultural"; ambos os focos guardam entre si a) O antigo sistema colonial": Surgido em função do "capita
vínculos complexOs de tipo dialético (p. 38): lismo comercial", era moderno e de caráter capitalista, mas isto
"Esse esquema, ultra-simpiificado, situa bem a complexidade não significa que o sistema colonial de produção fosse capitalista: co
da vinculação dos dinamismos sócio-dinâmicos internos e exter 0 elemento capitalista da economia colonial era derivado do
nos. A relação não é uma relação de causa eefeitO simples. Te mércio colonial interno e externo, que impunha formas de acumu
mos, antes, um modelo dialético de causação, pelo qual podemos lação de capital pré-capitalistas. Em outras palavras, ao caráter
criação
localizar mútiplas causas e efeitos em influência recíproca e em "moderno" do sistema colonial consistiu em adaptar
de riquezas nas colônias às funções que estas deveriam cumprir
tempos sucessivos ou simultâneos, todos regulados, nas relações
de concomitância e de sucessão, pelos vários tipos de contradi em virtude da sua articulação com as sociedades metropolitanas
Ções que jogam o desenvolvimento interno contra a moderniza européias, No caso do Brasil, o regime resultante foi o escravista,
estratificação social, ao
ção e vice-versa". que deu origem a um sisterma misto de raça do0
Oautor insiste - con razão em que qualquer dos dois mesmo tempo estamental e de castas, Os elementos da
classificavam-se em termos estamentais, os das raças
minante ou
"focos" não poderia, em si epor si meSmo, promover as transfor tormos de cnstas; os clementos mestiços livres
escravizadas cm
mações básicas constatáveis. E, cm conscqüncia, cm que "a artl libertos giravam em torno dos dois tipos de classificação. A or
culação dos dinamismos econômicos, sociais e culturais internos mas o sistema de
dem estamental apresentava alguma fluidez, viram-se redu
eexternos, apesar de tudo, não é suficiente para produzir a emer castas era bem mais rígido. No caso dos escraVOs,
gencia e a consolidação de um pacirão de desenvolvimento que se não partlcipavam dum
zidos a um estdo de "anomia sSocial"; definidos
pudessc cquiparar ao padrão de clesenvolvl1nento aulo-sustentu obrigações sociais (isto em parte
sistema de direitos e
do das Nações capitalistas hegemônicas" (p. 39).
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000rria também com 0s homens livres que não conseguiam clas portação e o fato de que a expansão do mercado interno iria revi
sificar-se na ordem estamental) (p, 99), Nessa antiga ordem So talizar a grande lavoura, tiveram efeitos especiais. Mantêm-se
cial "patrimonialista" (p. 297), estabeleceu-se uma dominação o trabalho servil disfarcado e várias formas de trabalho semilivre
"patriarcal": tratava-se de uma sociedade na qual "o direito de muito tempo depois da universalização do trabalho livre, Portan
mandar e o dever de obedecer se achavam rigidamente confina to, a ordem social competitiva atinge um climax evolutivo exclu
dos, concentrando o poder na mão de um número restrito de ca indo tanto os brancos pobres, quanto Os remanescentes do tra
beças de parentelas" (p. 99). balho escravo, os negros e os mulatos que não lograram proletari
zar-se ou classificar-se nos estratos Sociais médios e altos". (p, 43).
b) A "transição neocolonial": A emancipação política abriu Ou seja, deu-se a formação do segundo modelo, o da socie
passagem a um novo padrão de vinculação com as nações hege dade de classes; mas também ocorreu uma "resistência sociopá
mônicas da Europa, na fase da revolução industrial; tal vínculo tica à mudança, através da qual as classes sociais dominantes e
impôs a criação e expansão interna, no Brasil, de um verdadeiro suas elites desfrutam a ordem social Competitiva, mas a conver
mercado capitalista moderno. Isto ocorreu nos núcleos urbanos tem em uma ordem fechada" às necessidades e às aspirações das
mais ligados à organização ne0colonial, e estimulou mudanças no demais classes" (p. 47).
consumno e, com o tempo, também no sistema de produção, A in
dependência provocou uma "integração vertical dos estamentos No processo de instalação da sociedade de classes, a urbani
Sociais" agora vinculados a uma ordem civil que controlava o Es zação ocupa um lugar importante: "Nas fases que antecederam
tado, coisa impossível sob o regime colonial, A supressão do tr¥. ou se seguiram, imediatamente, à desagregação da ordem de cas
fico emn 1850 abriu a crise do escravismo, provocando uma "depu tas, escravocrata e senhorial, a urbaniação foi, portanto, o ele
ração funcional" da escravidO: "muitos fatores de desperdício
mento dinâmico que polarizou o desenvolvimento industrial";
as grandes cidades sofreram em maior escala os processos
ou subaproveitamento do trabalho escravo foram reduzidos ou sociais que operam na sociedade brasileira" (pp. 65, 204, 206)
eliminados, com o objetivo de auinentar seja a sua intensidade, Seja como for, o advento do capitalismo maduro na América La
seja a sua produtividade" (p. 36). tina, com osurgimento de um sistema capitalista de produção
primeiro no setor urbano comercial, depois no mundo rural e fi
c) A emergência do "capitalismo dependente propriamente nalmente no setor industrial "compreende ao mesmo tempo
dito", "A etapa de transição neocolonial, que durou entre quatro uma ruptura e uma conciliação com o "antigo regime", A desco
décadas e meio século nos países de desenvolvimento sóclo-econo lonlzaçlo nunca pode scr completa, porquo o complexo colonlal
mico mais rápido, coincide com a consolidação do capitalismo in sempre é necessário para a modernização e sempre alimenta for
dustrlal na Europa e o surgimento de um novo padrão de domi mas de acumulação do capital que seriam impraticáveis de outra
nacão externa imperialista" (9). A situação típica do neo-colo maneira" (10).
nialismo, organizada ao redor ão comércio de exportação e impor
tação e da modernização cultural, converteu-se numa variante do d) As mudanças posteriores à Segunda Guerra Mundial: O
"capitalismo moderno", modificando as relações da economia in autor as caracteriza em termos de emergência e expansão, no
terna com omercado mundial e criando um foco interior de cres Brasil, do capitallsmo monopolista (p. 38). Atinge-se a etapa da
cimento econômlco. Industrinlizaçño cm Ntn cscala c cdn cxportaçio do produtos in
dustriais, Mas nesta fase, como nas anteriores, "não se estabelece
Internamente, a desagregação do regime estamental e de cas uma relação dinâmica entre capitalismo e descolonização". A
tas, com a destruição do escravismno, Inovação aparcce cnxortada. numa realidade sóclo-econômioa que
SÐ mudou na superficie: a expansão e consolldação da nova etapa
leva, pela primeira vez, a descolonização ao âmago do se adapta a estruturas sócio-econômicas dependentes de origem
sistema econômico, revolucionando as bases da orderm social e o colónial, pré-capitalista, e a modernização continua controlada
sistema de podor. Cla cxlgo quo so cll1mino, gradualmonto, a art polas grandos potöncias capitalistas hegemônicas, Lm oonclu
culacão dinâmica entre estruturas sócio-econômlcas arcalcas e
modernas. Todavia, a persistência do esquema de exportação-im são (11):

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"Enquanto se mantiverem condições de dependência e de
as to osistema de produção foram cuidadosamente preservados de
esforço reduzido para criar um padrão distinto de
mento auto-sustentado, ocapitalismo desenvolvi qualquer coisa que pudesse minar ou destruir osentido explora
mo no passado remoto ou recente, continuará florescendo co dor da colonização. Por conseguinte, enquanto se manteve, o an
ciais e privilegiando os interesses socializando os seus custos so tigo sistema colonial impediu gue o mercado e o sistema de pro
particulares
nos). A hipótese que se configura não (internos e exter
é a duma gradual auto-cor
dução assimilassem as formas e os dinamismos da economia e a
reção do regime de classes Sociedade de mercado imperante no mundo metropolitano. As
(tal como estáestruturado), e sim a transformações que sofreu, sob o império Ï pacto colonial, não
duma persistência e agravamento contínuo da ordenação atual se dirigiam a uma revolução dentro da ordem, que transferisse
das classes sociais, cujas 'debilidades' e
funcionais' foram institucionalizadas e de 'deficiências
fato são
estruturais o controle do "capitalismo político monopolizador" (para usar
(ou se fossem corrigidas), com elasfuncionais, Se
uma expressão de Max Weber) das metrópoles às colonias; pelo
desaparecessem
essa modalidade duplamente exploradora do desapareceria contrário, se dirigiarm ao aperfeiçoamento da exploração coloni
capitalis mo".
Depois desta exposição sumária do esquciia zadora e da própria ordern colonial, que deviam reajustar-se às
de lorestan Fer modificações do capitalismo na Europa e à realidade em trans
nandes, devemos manifestar-nos a respeito, formação do rmundo colonial".
sOs pontos de acordo e desacordo; Indicarenos 0s nos
porém, as princivais divergên
cias serão por enquanto apenas afirmadas, pois, como se refere Pontos de acordo são também, além do já indicado acima: 1)
rem tanto a este autor quanto aos outros a opinião sobre o caráter não-capitalista do sistema escravista
tar, deixarenos a sua discussão para a parteqe nos cabe Comen
final deste trabalho colonial enquanto organização da produção, e ao mesmo tempo
Concordamos com Florcstan Fcrnandes cm diversos nspectos a negação da possibilidade de considerá-lo feudal (13); 2) de uma
Inportantes da sua unállse, En primeiro maneira goral, os próprios cortes cronológlcos que indlca o autor
baseada num dÉnamnismo ao mesnmo tempolugar, con a cxplicação
interno e externo que (embora na segunda fase a nOssa ênfase recairia muito mals em
devia combater "outros movimentos de sentido
oposto, que traba
lhavam pelo equilíbrio estático da econonmia, da 1850 do que em 1822); 3) a afirmação de que, na época capltalista
cultura", e que também eram tanto internos quanto Sociedade e da da história latino-americana, o capitalismo assimilou ou refuncio
(pp. 39-41). Parece-nos, todavia, que de fato o autor externos nalizou formas de produção não-capitalistas (inclusive as criou
privilegia
exageradamente o papel motor dos influxos externos (não no li ou tornou a criar) (14), resultando dcste processo formnções cco
Vro que comentamos, é verdade, mas em outros textos) nômico-sociais bastante complexas; 4) a idéia de ser impossível a
ão dos quais, no seu esquema, se abrem a em fun auto-correção" do regime de classes sociais tal como existe na
possiblidade
cessidade das mudanças internas. Por exemplo, ao mencionar e a ne América Latina.
as
"pressõcs" que se descnvolveram no interior das colônias latino
-americanas, O autor tratao sistema colonial como algo semelhan As divergências fundamentais dizem respeito: 1) à caracteri
te a um sistema cibernético zação da economia ocidental dos Tempos Modernos em termos de
possível odesenvolvimento deauto-regulado,
no qual )arcceria im "capltalsmo comercial" (ou "mcrcantl", ou "mercantillsmo"):
colônias, a não
contradições internas dinâmicas nas 2) à descrição da sociedade colonial ou imperial brasileira par
ser que o padrão vigente fosse primeiro destruído
externamente (12): tindo dos sistemas de estratificação "estamental" e "de castas",
e em geral à noção de que castas, estamentos e classes sociais
"Enquanto teve condições para sobreviver, o sistema sejam sistemas alternativos de estratificação nas sociedades
resistiu seletivamente a tais pressões, absorvendo algumascolonial
e eli
pós-tribais; 3) à utilidade de termos e maneiras de focalizar a
minando outras, e preservou assim a sua estrutura e os seus di
realidade social tomados de Durkheim, de Weber ou do funcio
namismos (o que significa, em outras palavras, que se transfor nalismo (além dos já mencionados "estamentos" e "castas" tal
mou continuadamente durante três séculos, mas que como os considera Florestan Fernandes, citemos a noção webe
e fortalecia as funções que davam resguardava riana de "capitalismo moderno", a "anomia", a "ordem soclal
primnazia à superposição da co
lônia de exploração sobre o crescimento patrimonialista", a "burocracia", etc.) para uma análise mar
sob a vigência do antigo sistema colonial, demográfico), Por isso, xista da história do Brasil ou de qualquer outro país.
tantoo mercado quan
78 79
II. OCTAVIO IANNI: AS
METAMORFOSES D0 ESCRAVO (15) todo histórico tradicional (de crítica documenta. Depots de di
A Introdução do livro (pp. 7-27) zer ingenuamente que não necessita realizar a critica metodol6
mo ea metodologia adotada, Quanto aoexplica
a temálica do mes gica das fontes primárias (impressas) que utiliza, por já haver ai
primeiro
do estudo de "um sistema econômic0-social aspecto, trata-se do feita por diversos historiadores (!), nas páginas seguintes pp.
do" (p, 14), numa comunidade
escravocrata induzi 17-19), ao explicar corm que critérios abordou a documentação,
a da região de Curitiba - que, oque expõe são procedirmentos básicos da crítica interna de do
apesar do fraco desenvolvimento da economia de tipo colonial curnentos. Ianni diz tarnbén que não teve a intenção de efetuar
(noção empregada na acepção de Caio Prado Júnior), teve a sua uma reConstrução histórica ezaustiva (pp. 19-20):
"estrutura societária" marcada e definida basicamente por uma
modalidade de classificação social que o autor define como um "A seleção qualitativa das evidencias disponíveis efetuou-se
"regime de castas". Uma vez analisado "o regime de trabalho es. segundo uma concepção estrutural da realidade histórica de mo
cravizado como o elemento básico e determinante da estrutura do a conduzir a reflexão à apreensão das condições de existéncia
ção edesenvolvimentos da sociedade nos períodos colonial e im e do sentido dos fenônencs e processos socials. Não foi nossa in
perial", regime visto também com0 um processo histórico que tenção reconstruir todos os componerntes (econômicos, ecológicos,
produz 0 escravo (como categoria social e racial) e o senhor culturais, demográficos ete ) da realidade que poderiarntentativa
interes
sar à análise. fundamentando-a Fizemos antes uma
(p. 11), Ianni se propõe estudar a desagregaço do sistema es de isolar, selecionar e analisar seqü¿ncias de dados que possibili
cravocrata e a metamorfose o escravo cm negro e "mulato" tassem a apreensão do modo de incorporação social e atuação do
na "sociedade de classes em formação" (pp. 13-14), Quanto à Cscravo e seus descendcntes, bem como de outrOs tenomenos pa
pesquisa do reglme escravocrata na reglåo de Curitlba, o aulor ralelos"
afirma, com razão, que a investigaço cientifica de uma estru Naturalmente. a questão consiste em saber se a seleção ope
turação escravista fracamente diversificada pode ser útil para rada permitiu em todos os cascs uma vísão suficiente dos proces
contribuir à explicação do escravismo brasileiro em geral (p. SOs históricos fundarnentais. coisa que ciscutiremos adiante
10). De fato, a anáise de casos "atípicos" pode esclarecer mui "erm
tos aspectos que aparecem com menos clareza nas
estrutura Acerca da aplicação do ntodo cialético" de análise não
Ções mais vigorosas, iluminando as condições de anarecimento, associação com contribuições da sociologia moderna", o autor
de méto
expansão e crise de um tipo de sociedade.
Éverdade, tarmbém, expica COm que critérios levou a cab0 a harmonização
curicso que erm
dissolução de direraS De fato, è
Como afirma Ianni (pp. 11-12, 20), que a fase demesmo que, no os e conceitOs de correntes
encontremos, por eIemplo, & justiicaçO
um regime torna explícitos diversos aspectos do nenhum momento
ser bem mnais difí teórico-metodológica do emprego da noção de socdedade de cas
período do seu funcionamernto normal podem um erame da bibio
cels de perceber (inclusive porque o que é socialmente conside tas": devemos inferir a origem do seu uso de
não se menciona com freqüência) . e interpretaçãO", pp
grafia ("Trabalh os sobre conceituação Bouglé.
rado evidente e corriqueiro livros de C. O.C Cox, Fl
No tocante à metodologia aplicada, o autor expõe: 1) a natu 305-309), onde encontramos
Weber, etc
reza e os limites da suaipesquisa histórico-estrutural (pp. 15-20); restan Fernandes, A.L Koeber, Mar
ialético" de análise "em a ju
Finalmente, a nocão de estrutura eonômico-social", corres
2) a opção pelo emprego do "método moderna" (pp. 20-21); 26), pareceris
ASSOciação comn contribuições da sociologia
econômic0-social, em certo mo gar pelas citações de textos de Marr (p
ao de formação e0
3) o uso da noção de estrutura
totalidade integrada por ponder A0 conceito de modo de produção ou sistem2s e0
de
mento chamada "conceita", p. 26) comno nômicosocial, Mas seéassim, defini-la em termos
sO "de subsistncia" ou misto
estruturas parciais (econömicO-sociais também, ou apenas nômicOs designados cOmo *mercantil",
insuficiente Por outro lad0, 0 que spa
ciais) (pp. 21-27). (pp. 24-25) é nitidamente ráido:
Sobre o primeiro tópico, Ianni esclarece que a análise de central, nste pOnto, é perfeitamente
exigências da re rece coOmo intenção parriais". e sim considerar
processos históricos foi conduzida "segundo as a observação so não limitar-se a estruturas
sociais
0rganizaçåo da vids so
construção sociológica ", ou seja, "concentrando
evidências" p. 16), Neste também os fundamentos materiais de
bre a consisténcia sociológica das confusão a respeito do m cial" (p. 3)
ponto, o autor manifesta boa dose de
- 81
80
O capítulo II - "0 Trabalho Escravo" (pp. 28-29)
titui uma reconstruço histórica sumária das estruturas Cons capitalistas, Haverá uma época, entretanto, quando o próprio
econô Sistema capitalista, em que estão inseridas as economias colonlals
mico-sociais na região de Curitiba, com a finalidade de mostrar de escravOcratas, já não suporta essa coexistência. Então, 0 que
que maneira emergiu um sistema social baseado no emprego da
força de trabalho escrava, mais ou menos importante conforme havia sido essencial ao processo de acumulação capltalista se tor
na impedimento à expansão ulterior deste sistema, razão pela qual
os setores de produção, Eis aquicomo Ianni caracteriza, em ge 0 capitalismo, atuando externa e internamente, destrói a escra
ral, o processo da formação econômica regional (pp. 66-67): vatura"
"A estrutura econômico-social da Quinta Comarca da Pro
víncia de São Paulo, que estanos reconstruindo, paulatinamente, Temos aqui um elermento que já encontráramos em Flores
tan Fernandes: o escravismo colonial inserido no sistema capita
em seus componentes fundamentais para.os fins desta investiga lista (" comercial", imaginamos, até a revolução industrial; no sé
ção, elaborou-se pouco a pouco,à nmedida qåe as atividades pro culo XIX a coisa éevidente), mas pré-capitalista no seu ordena
dutivas concentravam-se na mineração, na pecuária, na agricul mento interno, Por outro lado, reconhecemos igualmente o esque
tura, na extração da erva-mate. Houve uma sucessão e coexistên
cia ao mesmo tempo de fases ma explicativo de Eric Williams, hoje muito criticado, mas válido
histórico-econômicas, o que acabou nas suas inhas gerais, nclhamos, apesar da sua demonstração ina
produzindo na região de Curitiba uma estrutura econômico-social dequada pelo próprio Williams (16).
baseada no equilíbrio dos setores de subsistência e
nesse contexto que devemos compreender o que os mercantil,
historiadores
O capftulo comcça (pp. 80-84)rescnhando as razões que expll
paranaenses denominavam 'ciclos' (ouro de lavagem, criação de cam o aparecimento do sistema econômico escravista em Curitl
gado e tropeirismo, erva-mate, madeira) responsáveis pelos desen ba. Ianni apresenta primeiro quatro argumentos que podem re
volvimentos sociais na região paranaense", ferir-se ao por quê da escravidão colonial em geral: 1) única for
ma de reter o trabalhador em condições de grande di sponlblll
A mencionada reconstrução é feita através de fontes secun dade de terras; 2) inexistência de trabalhadores livres em quan
tidade suficiente: 3) oferta elástica de escravos; 4) contingôncias
dárias e fontes primárias impressas. Apesar do seu caráter resu da determinação exercida por um sistema já construído, que en
mido, acreditamos que o autor tem razão ao dizer que é suficiente volvia a metrópole, a colônia e a África, Por fimn, um argumento
para os fins que se propôs: evidenciar comno e com que caracte que tem a ver especificamente com o caso estudado: a reglo
rísticas surgiram as diversas formas de utilizaço da força de tra curitibana era "um subsistema econômico integrado a slstemas
balho (pp. 31-32). Do ponto de vista da história da agricultura, mais amplos e vigorosos da Colônia" (p. 83): a adoção do traba
no sentido estrito da expressão, este é o capítulo que se refere a lhoescravo não resultou só de decisões locais e sim de todo um
ela mais especificamente, sobretudo ao tratar da formnação e de contexto geral. Com a condição de vincular o segundo e oqUarto
senvolvimento das fazendas de gado (pp. 47-65). A conclusão
geral do capîtulo é que em função dos processos econômico-so argumento, o esquema explicativo do autor a respelto das origens
ciais descritos, surgiu um "sistema societário de castas", uma es da escravidão nos parece correto (17). Depois, é tratado o "apo
truturação étnic0-social da população curitibana (pp. 79, 47). geu do regime escravista" (pp. 84-105), a partir da segunda me
tade do século XVIII: nesta parte, para a reconstituição de dados
Com o terceiro capítulo "Economia e Estrutura Social" demográficos. intervêm fontes manuseritas de arqulvo ao lado
(pp. 80-130) - podemos consi@erar que Ianni começa a abordar das fontes impressas e secundárias. Ianni procurou mostrar, em
a temática central do livro. Na nossa opiníão, a idéia príncipal Conexão com a evolução econômica, a importância relativa do tra
do capítulo é a que foi exposta sistematicamente na página 94: balho escravo e da populacão negra e mulata. Afirma também
anoiando-se em Antônio Cândido e em Gilberto Freyre para as
"Como tendência geral. a análise da escravatura numa área definiçes que. paralelamente à acentuação do uso do traba
periférica como a que estamos examinando revela o seguinte: a Iho escravo. "a sociedade encaminha-se permanentemente no sen
estruturação ou o revigoramento da ordem escravocrata implica tido de apolar-se na organizacão natriarcal da tamilla": esoravi
sempre na instauração ou desenvolvimento de instituições pré dãoe famflia patriarcal (com um núcleo" e uma "perlferia" cons
tituída pelos escravos e agregados, que muitas vezes são "escra
82
83 --
vos disfarçados") estão vinculadas dinanmicamente, e ambas se fico hoje, e não o constituía num estudo marxista e portanto
estruturam "em razão direta da expansão do setor comercializá não apoiado na sociologia norte-americana em 1962. Por outro
vel .da produção" (pp. 93-94), Finalmente, a partir de meados lado, pessoalmente não chegamos a perceber o que ganha a anå
do século XIX, em função da colonização rural e da expansão da lise, de fato brilhante, com apelo a todo umn arsenal de noções
economia da erva-mate, aborda-se a problemática da desagrega weberianas, durkheimianas funcionalistas: "ordem patrimonial",
ção do regime escravista (pp. 105-130). Neste ponto, a análise "sistema societário de castas", "personalidade-status", no capí
nos parece insuficiente: o princípio teórico que o autor defende tulo seguinte a "anomia da personalidade" Diz o autor (p. 182):
é claro -a incompatibilidade da escravidão com atividades eco
nômicas mais tecnificadas e "racionalizadas" mas aparece "Em síntese, o conceito de casta aí implícito possibilita a
muito pouco comprovado docunentalmente para o caso em es apreenso integrada dos níveis fundarnentais do comportamento
tudo, e a sua vinculação com o processo da colonização não nos social, pois apanha o estado das forças produtivas, as relações s0
parece ter sido bem desenvolvida, O recurso a Colin Clark (p. ciais, o sistema cultural, as configurações da personalidade e a
129) para afirniar que se encontram na base do processo de de estrutura demográfica nos seus aspectos relevantes para a recons
sagregação do escravismo as exigências da racionalizaço das ati trução da ordemn escravista".
vidades econômicas ligadas à emergência e desenvolvimento dos
setores secundários e terciário" nos parece siirpreendente dentro Pelo contrário, em nossa opinião o "conceito" de casta não
da linha teórica adotada, e no próprio desenvolvimento do capí pode "apanhar" boa parte do enunciado, devido à sua origem e
tulo. definição, como verernos adiante. O "método dialétic0" de análise
Ocapítulo IV "0 Escravo e o Senhor" (pp. 131-183) que Ianni professa seguir neste livro (e de fato segue em grande
medida) possui conceitos bem mais úteis no contexto de tal tipo
é, para nós, o ponto mais alto da obra, Constitui a interpretação de estudos e, com0 discutiremos também na parte IV deste texto,
do autor a respeito da estrutura da sociedade escravista, e embo éincompatível com noções derivadas de maneiras radicalmente
ra se refira à região de Curitiba, contém elementos de peso para divergentes de focalizar, classificar e interpretar as sociedades
a compreensão de qualquer regime escravocrata de tipo colonial. humanas.
Parecem-nos particularmente valiosas as considerações sobre a de
finição recíproca e simultânea do senhor e do escravo no siste Os capítulos V "A Desagregação da Socieçade Escravista"
ma escravista (especialmente p. 156), as partes relativas à con (pp. 184-235) e VI- "O Negro eo Mulato" (pp. 236-268)
vivência e etiqueta das relações sociais" (pp. 157-169) e à gera retomarm o final do capítulo III; vamos abordá-los em conjunto.
cão de subcuituras" iversas do amo e o cativo em função da Como no caso da última parte do capítulo III, a seleção de pro
assimetria da hierarquia social (pp. 175, 179-179). Mesmo assim cessos e materiais trabalhados nos parece insuficiente, Os pro
ou talvez justamente devido à sua riqueza -, 0capítulo dei cessos econômicos internos e externos são mencionados prati
xa-nos, concluída a sua leitura, alguma insatisfacão. Em primei camente de passagem; não se entende bem por quê, além de
rO lugar poraue, embora uma das finalidades do autor nessa par efeitos recorrentes ou cíclicos, a mestiçagem teve também "efei
te do 1livro haja sido demonstrar que "a estrutura societária de tos sociais din£micos", "emancipadorcs", jà que no conjunto do
castas constituída em Curitiba é mfenômeno devido aos pTÓ
escravocrata" Brasil e em toda a América não parcce ter ameaçado o sistema
prios fundamentos econômicos da sociedade enquanto este se manteve sólido: cfcitos acumulativos? Novos
(p. 181), em nossa opinião a demonstração não foi sequer esbo. efeitos num contexto histórico do escravismo em crise?; como a
Çada ou iniciada, ricamos bem convencidos de que ns relaçõCs prclensn "80ciodado do eastas", a "60ciedado de olaases em for.
de produção escravistas são a base do edifício social estudado na mação" não merece uma discussão teórica e as suas origens, em
sua totalidade (pp. 134-135, 176-177), mas não vemos onde cstá nossa opiniko, não aparecem claramente dilucldadas; com a no
a demonstração de tratar-se de um sistema de castas". Neste ção de "raça", importante dado o rumo que dá à apresentação
capltulo, mals do quo no rosto do volume, 6 8urprcendente a ll da "metamorfose histórico-s0cial do SOrAVO em negro e mulato",
sência de uma discussão ncerca da aplicação dessa noção (18) às o autor lida numa notaesomente remetendo o leltor a uma bi
Sociedades escravistas de tipo colonial: não constitui ponto pacl bliograliu (p, 260, nota 46); do uma manolra goral, as dimen

184 -
sões superestruturais predominam amplamente nestes ois capf A primeira frase poderia dar a impressão de que a concepção
tulos. Voltando aos processOS econômicos básicos, não apenas o da "estrutura societária de castas", por exemplo, surgiu simples
tratarmento dos mesmos é insuficiente (em particular pp. 184-186 mente do exame dos "fatos" e "suas conexões significativas". É
e 209-212: mais sistemnaticamente nas "Conclusões",
pp.283-284),
também deixa de distingui-los segundo a sua imprtância evidente, porém, que como todas as interpretações do livro, de
respec pendeu antes de mais nada, como tem de ser, de opçóes teóri
tiva: mfator central como a abolição do tráfico africano em co-metodológicas básicas. Como dizia Ianni na "Introdução"
1850 e anos seguintes, por exemplo, não se vÁatribuir todo o peso
(p. 20, nota 8), "não é possível distinguir a descrição da intez
que merece no esquema geral de explicação, embora seja muito
mais essencial o que vários outros elementos que receberam pretaçáo, pois hásempre uma explicação implícita na mais 'em
tratamento equivalente. Dito isto, assinalemos nosso acordo com pirista' das observaçôes cientificas". A sua análise não é "empi
2 idéia, em si, da "metamorfOse", ou seja, com a passagem do rista" no sentido em que ele emprega este termo, mas cormo já
"escravo" ao "negro" em função de mudanças essenciais na es dissemoS mais de uma vez, gostar1amos de ver expiic1tados e ais
trutura econômico-social cutidos os conceitos e quadros teórico-metodológicos usados, para
Eis aqui como o autor resume este entender melhor como se efetuou a junção do "metodo diaetico
processo (p. 268 ):
com as "contribuições da sociologia mnoderna"
"A SOciedade de classes em formação, que é negação da or
dein escravista, porque fundada no trabalho livre e na racionali A outra passagem que nos interessa é a seguinte (ç. 283):
zação progressiva o empreendimento econômico, traz no seu
Dojo também a negação do escravo, assim como repudia o senhor, ressaltamos os requisitos e processos básicos, responsa
duas entidades sociai_, duas personalidades-status incompatíveis
COrn o novo sisterna, Na abjuração do cativo e de tudo que o lem veis pelo equilítbrio e desenvolvimento de uma estrutura econo
bre, como expressão essencial de uma idade a esquecer-se, o bran mico-social apoiada, ao mesmo tempo, na utilizaço do trabalho
co preservará a cor, nas décadas seguintes, como último traço de escravo, semicaivo e livre, produzidos com os diversos segmentos
urn ser que se reintegrará no sistema, ainda na camada dos tra económco-sociais, Tomada como um todo, entretanto, essa con
Lalh.adores. Como a reincorporação do negro e do mulato se faz 1iguraçäo da sociedade caracteriza-se fundamentalmente pelo tra
no seio de urn sistemna econÑmíco-social que também dispõe hie balho escravo e pela economis monetária, que impregnaram em
rarqul carnente as pessoas, e como ao lado deles haverá trabalha maior ou menor profundidade o sistema social global, afetandoo
ctores brancos de diversas origens em competição, reifica-se a Em suas tendências essenciais e em suas manifestações particula
como negros e mu
Or, delimitando-se O grupo e o3 indivíduos l'es, É que, emn qualquer sociedade, há sempre uma forma social
latos" de produç£o superior às outras, afetando-as enn graus divers e
cnvolvendo-as em seus sentidos determinantes",
As "Conclusões" (pp. 269-285) retomam e desenvolvem al
guns tenas ja tratados, Interessar-nos-ão duas passagens, Els Embora não haja uma citação explícita, a alusio é claa nes
yul a prirnelra (p. 269): te ponto, a Marx (19), Estamos totalmente de acordo com s -
"En verdade, na reconstruçãodo unlverso soclal escravocra são da sociedade curitibana, antes de 1850 pelo menos, Cono ma
ta ern Curltiba ativermo-nos rlyorosamente a0s fatos e às suas formação econômico-social na qual o escravisO nstitua o
onEzits significativas, procurando conformar a reflexoo, rela modo de produção domninante. Mas será lícito reduzir O seu ca
tivarnente u análise descritlva e s poSslbilldades de conceptuall ráter fundamental apenas ao "trabalho escravo" e "eOnmia
zajao, s rcals alternativas oferccidas pelas evidenclas dlsponí monctária"? O conceito de modo de produçåo e bem mais com
veis, Mas cusa atltude n¯o fol nerm deverla ser mantida nos l1 plexo, Mais tarde voltaremos a este tema, mas a prvpria explica
Inltes estritos desse enunclado, pols que o período hlstórlco exa çço do Ianni acerca de como o por que se deu a crise do sistema
Inlnado fol csclurecldo pelo presente da comunldade o pelo pas (resumlda nas púginas 283-284) profbe tal reduçlo
sado cetanco ao cstudado, relativo a outras áreas".
87
sões superestruturais predominam amplamente nestes ois capt. A primeira frase poderia dar a impressão de que a concepção
tulos. Voltando aos processos econômicos básicos, não apenas o da "estrutura societária de castas", por exemplo, surgiu simples
tratamento dos mesmos é insuficiente (em particular pp. 184-186 mente do exame dos "fatos" e "suas conexões significativas". É
e 209-212; mais sistematicamente nas "Conclusões", pp.283-284), evidente, porém, que como todas as interpretações do livro, de
também deixa de distingui-los segundo a sua imprtância respec pendeu antes de mais nada, como tem de ser, de opçQes teóri
tiva: um fator central como a abolição do tráfico africano em co-metodológicas básicas. Como dizia Ianni na "Introdução"
1850 e anos seguintes, por exemplo, não se vê atribuir todo o peso (p. 20, nota 8), "não é possível distinguir a descrição da inter
que merece no esquema geral de explicação, embora seja muito pretaçáo, pois há sempre uma explicação implícita na mais 'em
mais essencial doque vários outros elementos que receberam pirista' das observações científicas". A sua análise não é empi
tratamento equivalente. Dito isto, assinalemos nosso acordo com rista" no sentido em que ele emprega este termo, mas como já
a idéia, em si, da metamorfose", ou seja, com a passagem do issemos mais de uma vez, gostariamos de ver expiicitados e dis
"escravo" ao "negro" em função de mudanças essenciais na es cutiaos os conceitose quadros teórico-metodológicos usados, para
trutura econômico-social , Eis aqui como o autor resume este entender melhor como se efetuou a junção do "método dialetico
procesSO (p, 268):
com as "contribuições da sociologia moderna"
"A sociedade de classes em formação, que é negaçäo da or
dein escravista, porque fundada no trabalho livre e na racionali A outra passagem que nos interessa é a seguinte (ç. 283):
zação progressiva do empreendimento econômico, traz no seu
bojo também a negação do escravo, assim como repudia o senhor,
duas entidades sociai_, duas personalidades-status incompatívels ressaltamos os requisitos e processos básicos, responsá
com o novo sistema, Na abjuração do cativo e de tudo que o lem veis pelo equilíbrio e desenvolvimento de uma estrutura econô
bre, como expressão essencial de uma idade a esquecer-se, o bran mico-social apoiada, ao mesmo tempo, na utilização do trabalho
co preservaráa cor, nas décadas seguintes, como último traço de escravo, semicativo e livre, produzidos com os diversos segmentos
um ser que se reintegraráno sistema, ainda na camada dos tra econômico-sociais. Tomada como um todo, entretanto, essa con
balhadores. Como a reincorporação do negro e do mulato se faz iiguraçço da sociedade caracteriza-se fundamentalmente pelo tra
no seio de um sistema econômico-social que tambénm dispõe hie balho escravo e pela economia monetária, que impregnaramn em
rarquicamente as pessoas, e como ao lado deles haverá trabalha maior ou menor profundidade o sistema social global, afetando-o
dores brancos de diversas origens em competição, reifica-se a em suas tendências essenciais e em suas manifestações particula
cor, delimitaDdo-se o grupo e os indivíduos como negros e mu res, É que, em qualquer sociedade, há sempre uma forma social
latos"
de produção superior às outras, afetando-as em graus diversos
envolvendo-as em seus sentidos determinantes",
As "Conclusões" (pp. 269-285) retomam e desenvolvem al
guns temas já tratados, Interessar-nos-ão duas passagens, Eis
aqui a primeira (p. 269): Embora não haja uma citação explícita, a alusão é clara, nes
te ponto, a Marx (19), Estamos totalmente de acordo com a vi
"Em verdade, na reconstrução do universo social escravocra são da sociedade curitibana, antes de 1850 pelo menos, como uma
ta em Curitiba ativemo-nos rigorosamente aos fatos e às suas formação econômico-social na qual o escravismo constituía o
conexões significativas, procurando conformar a reflexão, rela modo de produção dominante. Mas será lícito reduzir o seu ca
tivamente à análise descritiva e às possibilidades de conceptuali ráter fundamental apenas ao "trabalho escravo" e à "economia
zação, às reais alternativas oferecidas pelas evidências disponí monetária "? O conceito de modo de produção é bem mais com
veis, Mas essa atitude não foi nem deveria ser mantida nos li plexo, Mais tarde voltaremos a este tema, mas a própria explica
mites estritos desse enunciado, pois que operíodo histórico exa
minado foi esclarecido pelo presente da comunidade e pelo pas ção de Ianni acerca de como e por quê se deu a crise do slstema
sado coetâneo ao estudado, relativo a outras áreas". (resumida nas páginas 283-284) proîbe tal redução.

-87 -
86
III, FERNANDO IHENRIQUE CARDOSO: CAPITALISIO E ES escolha de méiodo, para delimitar "as possibilidades e o alcance
CRAVID NO BRASIL MERIDIONAL (20) da interpretaç£o ialética na sociologia", E explica porque o faz
O livro de que trataremos agora é bem
(p. 10):
Octavio Ianni pela sua temática, pelas opções semelhante
ao de
teórico-metodoló
gicas e até no plano de exposição. Isto se explica por resultarem "Essa discussão se impõe porque, graças a motivos que não
ambos, pelo menos em parte, ae um programa Comum de cabe esclarecer agqui, a sociologia constituíu-se, como ciÅncia, a
sas, Mas há uma diferença: Fernando Henrique Cardoso épesqui partir de trabalhos de investigação e de esforços de colaboração
explícito do que lanni, com0 veremos, quanto à origem de mais
cer
teórica que, ern regra, aproveitaram muiio pouco da contribuição
de Marx e de outros autores /ue tentaramn utilizar o método dia
tas categorias que emprega, e que sao basicamente as
que encontråmos n'As Metamorfoses do Escravo, Os dois mesrnas lético na análise dos îenônenos sociais. Antes ao contrário, nos
autores círculos acadêmicos m¡is conspícuos formou-se a convicção de
mostram de fato unma adesão quase total pelo menos nesta que a interpretação dialética, por estar imediatamente vinculada
fase da sua produção às concepções do seu rnestre Florestan
Fernandes. a um ponto de vista filosófico e a uma atitude definida iante
dos problemas sociais, não é capaz de adequar-se aos cânones da
A "Introdução" (pp. 9-33), também neste caso, está explicaço científica que impõern a ausência de juizos de valor
da à exposição do tema e da metodologia, O assunto dedica nas análises sociológicas"
do livro éa
Constituição, as características e a desagregação da sociedade es Tendo em vista o anterior, FH, Cardoso utilizou, compara
cravocrata do Rio Grande do Sul, vistas "a partir da siiuação so tivamente, "outras modalidades de interpretação sociológica que
cial que o negro nela assumia" (p. 9), e dentro ço seguinte es
quema interpretativo geral, semellha.nte ao que já vimos para Fer também lançam mão e procedimentos totalizadores, procurando
nandes e Ianni (pp, 24-25): ressaltar a especiiicidade e as condições de utilização legítima da
interpretação dialética na suciologia" (p. 10).
"A sociedadeescravocrata gaúcha constitui-se como uma Estas considerações do autor colocam duas questões: 1) pa
tentativa para organizar a produção mercantil capitalista numa rece um tanto estranho, para quem optou pelo método marxista,
área onde havia escassez de mão-de-obra. Desde o inicio, contudo, essa necessicdade de justilicar o seu cmprego diante dos "círculos
O sistema assim constituí£o trazia em seu bojo urn conjunto de acadênmicos mals conspicuos", brusllelros no caso (quem se im
contradições que definiam o travejamento básico de suas possi porta com o que pensem?! Sabe-se que neste país, no campo das
bilidades de existência, A escravidão fora o recursO cscollhido pa ciências sociais, uma parte cnOrme das pesquisas realmente va
ra organiar a produção em grande escala visando o mercado e o liosas deve realizar-se apesar das universidades e outros órgãos
lucro (formação do sistennu capitalista), n1as o desenvolvimento acadêmicos); 2) seria preciso verificar sC 0uso de "oulrus n0da
pleno do capitalismo (a exploração da mais-valia relativa) era, liades de interpretaçã0 sociológica" no livro se faz apenas para
em si mesmo, incompatível com a utilização da mão-de-obra es a finalidade indicada, Quanto ao primeiro ponto, o caráter de
crava através da qual não é possível organizar técnica e social tese de doutoramento do texto poderia explicá-lo, Mas, em rela
mente a produção para obter a intensificação da cxploração da ção ao segundo, não nos parece que o uso de métodos e conceitos
mais-valia relativa, Essas contradições se aguçaram e eviden não-marxistas se limitou ao éxposto. Nas páginas seguintes en
ciaram desde o momento em que a produçao escravocrata gaúcha cntramos críticas ao estruturalisno e ao funcionalismo, e a afir.
entrou em relaçöes de cormpetição com a produçko nssalariada mação expressa de quo a anállse reallzada não pode ser quall!
platina, que acelerou sua desagregação", cada nem de estrutural nem de funcionalista, e isto se evidencia
ao explicitar-se a historicidade suposta pela noção ialética de
Quanto à metodologia, o autor a define como "uma tentatl totalidade social", (p., 26), Admite-se, porém, a validade dessas
va de utilização da interpretaçÃo dialétlca na soclologla" (p. 9; formas de expllcaçio naquclus "sltuaçQcs nas quals existe um
tambén p, 22), Depois desta afirmaço, o autor passa a expor, universo de significações socials dado a um padrão definido de
sucintamente, uma série de "implicações metodológicas" da sua integração social total" (p. 27). E, ao dizer que o real não êdado

88 89
a priori, mas constitui-se pelo esforço analítico da investigação", Oautor nuança esta afirmação mostrando que, na sociedade
afirma a respeito (p. 30): rio-grandense, "coexistiram ,assim, num arranjo estrutural sui
generis para a época colonial, segmentos sociais de pequenos pro
"Nesse ponto o paraigma pode ser tanto Marx quanto Max prietários "plebeus" com a caîmada social dos grandes proprietá
Rio Grande
Weber na Etica Protestante e oEspírito do Capitalismo. Em rios" (p, 86), Mas o essencial 'e que foi transferido ao
qualquer os dois casos, o mëtodo näo é empiricista, mas em organização do trabalho, de apro
do Sul "o mesmo sistema de de poder vi
ambos a interpretação prende-se a um momento analítico, que priação e distribuição da terrã e o mesmo sistema mantida e diri
condiciona as possibilidades de globalização, Sem sólida base gente no resto da Colônia: a grande propriedade escravo, com o
empírica a análise dialética na sociologia desfaz-se, enquanto gida pela família patriarcal, à buse do trabalho
análise criadora, num formalismo abstrato tão lastimável quan concurso dos agregados" (p. 97).
to qualquer tipo de escolástica, e acaba por transformar "a sig aparecer
nificaço em intenção, oresltado em objetivo realmente visado" Vimos já, numa citação da parte inicial do capítulo,
extensa nota 38
"estrutura patrimonialista". Na
a expressão inequivoca
Naturalmente, um pesquisador pode escolher entre o para (pp. 102-105), F,H, Cardoso explica que a utiliza,
Economia e Socie
digma weberiano e o marxista, mas o resultado será bem diferente mente, no sentido que lhe dá Max Weber em a sOcledade
confornme a opção efetuada, E, justamente, não parece que F,H. dade. Aliás,afirma também: "Caracterizarel adlante
weberiana". Na mes
Cardoso haja renunciado às categorias weberianas devido à sua sulina e usarei alguns conceitos na acepção trata-se porém,
escolh.a do "mnétodo dialético", comO veremnos. ma nota, justifica-se a possibildade de tal uso;
de åma justificaÇão do ponto de vista da metodologia e do campo
O capitulo I - "0 Escravo na Formação do Rio Grande do de aplicação dos conceltOs de Weber, e n¯o no sentldo de mostrar
Sul" (pp. 35-81) tem características semelhantes de elabora como é possível utilizar conceitos weberianos num estudo mar
çåo, e cumpre funções análogas, ao capítulo 1I do livro de Ianni, xista, O único que nega é que a sua anállse seja "tipológlca" no
Também neste caso, é aqui onde encontramos subsídios numero sentido weberiano. Mas serão compatíveis com uma pesquisa
SOs para a historia da agricuitura stricto sensu, principalmente que não quer ser tipolQgica à maneira de Weber, conceitos "que
quanto à análise dos agricultores açorianos e da formação e de podem estar presentes em situações histórico-socials diversas'",
parte
senvolvimento das estâncias. Examina-se a participaço do tra como "probabilidades típicas de acontecer"? De fato, boa uma
balho escravo nestes e noutros' setores as charqueadas, as ati da sua análise a respeito dedica-se a mostrar a passagem de
vidades comerciais e urbanas -, chegando à conclusão de que situação de "patrimonialismo-estatal" a outra predominante
houve, em todos eles, uma intensa utilização de mão-de-obra ca mente "patrimonialista-patriarcal" (pp. 105-119) : ou seja, mo
tiva (pp. 79-80). ve-se no interior de uma problemática weberiana e tipológica
Segundo capítulo *A Sociedade Escravista" (pp., 82-132) Quanto àexpressão camada senhorial" que aplica ao grupo
tem como subtítulo "realidade e mito", pois, contra a visão ní dominante na região, F.H, Cardoso esciarece que a usa num sen
tida da formação da sociedade em termos "democráticos" e "igua tido diferente do de Marc Bloch: não se trata de uma classe do
litários", veiculada pela historiografia do Rio Grande do Sul, o minante feudal (nota 61, pp. 118-119).
estudo efetuado por F.H, Cardoso chegou a resultados opostos,
ou seja à caracterização de uma "sociedade senhorial" (p, 83): Ocapítulo III "Senhores e Escravos" (pp. 133-167) cor
responde ao capítulo IV de Ianni, embora seja mais yreve, As re
"Na verdade a sociedade rio-grandense não só se organizou lações sociais do escravismo são estudadas com atenção aos seus
nos moldes de uma estrytura patrimonialista, como às posições diversos contextos econômico-sociais, em forma extremamente
a.ssinétricas na estrutura social correspondiam formag de com aguda o interossante, Em certas passagens encontramos elemen
portamento reguladas pon rígidas expectativas de dominação e tos da caracterização que faz Marx das relações de produçao es
subordinação". cravistas, embora não haja citações esplícitas (por exemplo: pp.

90
l58-159, 164-165), Neste capítulo, a noção de "ordem patrimonial", lado, Couty não nos parece ser uma base documental ou teórica
sem desaparecer, carece felizrmente de importância, com qual suficiente para assentar a afirmação, central para esta parte do
aumenta a coerência teórico-metodológica do texto. liyro, da incapacidade de tecnificação, e em geral de avanço das
forças produtivas, manifestada pelo escravism0 (22). A tese de
O tema do capítulo IV éa Estrutura Econômica e Política F.H. Cardoso tem sentido e pode ser defendida: dizemos apenas
da Sociedade Escravocrata" (pp. 168-205). Mais exatamente, tem que ofoi insuficientemente. Mencionemos, para deixar este ca
pítulo, uma parte do final da longa nota 52 (p. 205):
a finalidade de demonstrar as contradições do que o autor cha
ma "sistema 'escravocrata-capitalista' de produção" (p, 201) e nada justifica que se analise a produção econômica es
a sua inpossibilidade de concorrer com a produção capitalista
assalariada (neste caso, a das charqueadas ou saladeros do Prata). cravista partindo de um quadro teórico de referência elaborado
A conciusão a respeito, como no caso de l©nni, está inspirada para analisar sistemas capitalistas nos quais a força de trabalho
por Eric Williams, citado aliás expressamente (pp. 202-203): é uma mercadoria de propriedade dos trabalhadores. Creio que
Os próprios conceitos elaborados para descrever e explicar este
otrabalho escravo numa economia capitalista (a eScra último tipo de economia. precisam ser redefinidos ou utiliza
vidão moderna) apresenta-se como uma contradição em s( mes dos com reserva quando se discutem a produção e a economia
mo quando o sistemna capitalista em que ele se insere tende ao escravocrata organizada para permitir lucros".
crescimnento. As tensões criadas por este tipo de organização do
trabalh0 não conduzem à supressão do sistema capitalista; colo A nota diz ainda que esta crítica se aplica aos trabalhos de
cam apenas o problcma do términ0 da esCravidüo coin requ Cclso Iurtado; mas dever0a aplicar-sc também À caracterização
sito para a,formação plena o sistema mercantil-industrial capi da «irracionalidade" do escravismo por Max Weber, que no en
talista. O desenvolvimento das forças produtivas, nestas condi tanto está bm, presente nÍ texto de F.H, Cardoso (inclusive nu
Ções, coloca a possibilidade da supressão pura e simples do siste m¡ parte anterio desta mesma nota 52)
ma escravista, que passa a apresentar-se com0 um obstáculo para
o desenvolvimento do capitalismo". Ocapítulo V está dedicado à "Desintegração da Ordem Es
cravocrnta" (pp. 206-268), estudando imigração (colonização)
Note-se que, ao falar de capitalismo neste capitulo, .a. ea abolição da escravatura . rol ntençáo cdo autor mostrar "co
CardoSo.afirma pelo nnenos uma vez, de maneira expressa (nota mo a análise científica dos. processos sociais só alcança inteligibi
27, Pp. 189-190), estar utilizando a noção weberiana de «capita lidade plená quando são consideradas, simultaneamente, as con
lismo moderno". Também claramente imspiradas por Weber são dições estruturais,e funcionais subjacentes àpraxis humana, o
considerações sobre a "irracionalidade do escravismo" (pp. 191-194 sentido emprestado SOcialmente à acão.e o grau de consciência
e nota 52, p. 204), mesmo se não hácitações explícitas de Econ0 do processo social que historicamente épossível atingir" (p. 206).
mia e Sociedade. Para as "conseqüências anticapitalistas do tra F,H. Cardoso concede mais peso do qua I¡nni à abolição do tr¥
balho escravo" o autor se baseou em Caio Prado Júnior e em fico africano na desagregação do escravismo. Há também alguns
Marx (nota 50, pp. 201-202). A argumentação do capítulo de desenvolvimentos muito interessantes, baseados em Lukács, sobre
pande muito: 1) da demonstração de uma "concorrência ruino OS graus de.consciência possível dos escravos conforme as Suas
sa" do charque importado, produzido com mão-de-obra assalaria posições variáveis no processo produtivo e na sociedade (pp
da; 2) da comparação feita por Louis Couty entre as charquea 241-244). De uma maneira geral, esta parte do livro é análoga
das do Rio Grande do Sul e do Prata, salientando os elementos ao capítulo V de Ianni,
"irracionais" das primeiras. Parece-nos, por isSo, que o capítulo
padece de documentação insuficiente. Historiadores argentinos Finalmente, o último capítulo "O Negro na Sociedade de
invocaram a concorrência das charqueadas do Rio Grande do Classes em Formação" (pp. 269-306) Como 0 capítulo VI de
Sul, a partir de 1840, para explicar a decadência dos saladeros Ianni, dedica-se à transição da "sociedade de castas" a uma nova
da região de Buenos Aires (21), O esclarecimento desta questão "ordemn social em formação", a sociedade de classes", e à trans
exigiria o recurso a dados quantitativos . (seriados). Por outro formação concomitante do escravo" em:"negro". NO conjunto,

92 93
ou "idiogrático",
tambémn aqui a análise de F.H. Cardoso assemelha-se à de Ianni, a história tem um método "individualizante", na sua sin
e acreditamos que padece dos mesmos defeitos (em particular a cujo objeto seria "estudar a realidade e os fenômenos generaliza
insuficiente explîcação da emergência e características dessa so gularidade" (24). Se isto fosse verdade, de fato toda condição
e esta não teria
ção teórica seria impossível em história,nomotética"
ciedade de claSses que em determinado momento p. 284 - 6 (25),
chamada sociedade formalmente de classes"), Vamos referir alguma de transformar-se emn "ciência
-nos só a dois pontos. Em primeiro lugar, à interpretação que se
dá à mnarginalização dos escravos em relação ao mercado de tra IV, ALGUNS PROBLEMAS TEÓRICO-METODOLPGICOS
balho (pp. 275-280): a comprovação da afirmação de que para o
liberto a liberdade consistia em não trabalhar, devido ao sentido nosso texto, as
Como se depreende das partes anteriores deestudados
infamante que a escravidão havia associado ao trabalho produti autores podem
vo, necessitaria levar em conta o casO contrastante do Nordeste, críticas principais que fazemos aos trêsteórlco-metodológico não
reduzir-se a uma apenas: ecletismo de
onde a transição abolicionista ocorreu em modalldades diversas tundamentado; ou, se se prefere, contraste entre o marxismo
e com conseqüências também iferentes sobre a organização clarado e uma utilização de métodos e quadrosdaconceptuaís tanto
posterior do trabalho (23). Por quê atitudes opostas dos escra realidade social
marxistas quanto de sistemas de expllcação a ele nos
vos em relação ao trabalho nos dois casos? O outro tópico que essencialmente distintos do marxism0, e mesmo opostosseparamos,
nos interessa é a fundamentação teórica do uso de expressão "so seus postulados básicos. Desta objeção de conjunto
ciedade de castas" para caracterizar a socledade escravista bra fundamental, dois te
por outro lado, devido à sua importância estes
sileira, empreendida pelo autor na longa nota 51 (pp. 300-302) de "capltallsmo" que manejam
mas específicos: 1) a noção ser
Vese af que a noção, tal como a usa, está baseada principalmen autores, e que acreditamos "circulacionista" e weberiana: 2)
te em um livro coletivo dirigido por Lloyd Werner; também men *" seiam formas
a idéia de que castas", "estamentos" e "classes nível
ciona a Bouglé, Max Weber, G. Myrdall e alguns outros, De alternativas de estratificação social, situadas portanto num
novo, a justificação do uso do "conceito" e a definiço deste se teórico equivalente.
fazem dentro da 1ógica das correntes onde o foi buscar F,H,
Cardos0, as quais evidentemente nada têm a ver com o marxis possível nos lim!
mo. Mas não se discute de maneira suficiente as inconsistêncías Não acreditamos ser necessário, ou mesmo de autores como
texto, abordar a análise comparativa
tes deste
a noção de "castas" quando é utilizada tora o caso hindu (ou
Marx, Weber e Durkheim para mostrarposições as diferenças e oS even
seja, a heterogeneidade dos seus fundamentos ou critérios de de teórico-metodoló
finição ao apllcar-se à India por um lado e às sociedades escra tuais pontos de contacto entre as suas Parece-nos contu
gicas. Allás, isto foi feito com îrequência (20),
vistas da América por outro lado), nem se menciona a questo que se o acento
da compatibilidade da aplicação que se fez dela com a "lnter do evidente, no caso de Weber por exemplo, concebida como
pretação ialética na sociologia". posto na conduta individual, sendo a sociedade
utilizar as expressQes do
um agregado de indivíduos; e se, para
metodologia de We
As "Conclusões" (pp. 307-316) resumem os pontos principals próprio F,H, Cardoso (p. 104, nota 38), na conceitos maneta
ber está implícita e explícita a idéla de que os
o texto e não apresentam maiores novidades. Noteimos apenas que podem estar
que, enquanto Ianni se limita à "sociedade de castas", Cardoso, dos são "probabilidades tipicas de acontecer" e cuja valldade
tanto nas conclusões (p. 312) quanto anteriormente (mas só de presentes em situações histórico-sociais dlversastranscorrem real
que
para a descrição de situações de existênciaconcreta
passagem) a complica, como Florestan Fernandes, adiclonando
-lhe um critério "estamental", na história independenm da análise da forma par
mente diversas' no
ticular pela qual se combinam as 'probabilidades uma oonoepçoo
Uma ültima palavra: tanto na "Introdução" (p. 24, nota 14) processo histórico", temos com toda evldêncla humanas oposta
quanto no capítulo V (p. 242, nota 68), F. H, Cardoso` opõe acerca de como abordar o estudo das socledades concepções, di
"análise histórica" a "análise teórica" de uma maneira com que à de Marx, Então, se se quiser misturar as duas
nenhum historiador sério podo estar do aCordo, mns quo ó co vergentes como são, parece-nos que o mínimo que podemos ex
mum centre os cientistas soclals que, como Max Weber, crêem que glr é unu expllcauçio delalhada de comoe por qua se acha válido

-94 95 -
proceder à mistura, Em nenhum dos três livros
contramos esta precaução analisados en (30) uma explicação desta opço, que é a
percebemos a utilidade dametodológica básica, e o fato é que
mescla de perspectivas no sentidonão ceito de classe social foi sua. Segundo diz, o con
enriquecer os instrunentos de pesquisa. Percebemos, pelo conde três sentidos diferentes: 1)ernpregado pelos cientistas sociais em
trário, incongruências graves, como trataremnos de designando qualquer estrato ou grupo
Social: 2) designando estratos
dois casos indicados: as concepções acerca do mostrar nos existência no seu interior de uma sociais que se caracterizam pela
ou menos percebidos socialmente; Comunidade
de interesses mais
noção de sociedade "de castas" e/ou "estamental"capitalismo e a
comno alterna 3) designando a forma de or
tiva à estrutura de classes ganização de sociedade inerente ao sisterna capitalista de prou
ção. FernaDdes parece baseao a sua escolha o úitimo
Já José de Souza Martins sentido
ror temer um esvaziamento da historicidade da categoria, ou se
Florestan Fernandes e de Mariaobservou, referind0-se a textos de
Sylvia de Carvalho Franco, que ja, que ao empregar o termo "classe" num sentido amplo e histo
aí percebemos uma "concepção genérica de capitalista, mais pró
xima das. formulações de Weber do que das de Marx", ricamente mais abrangente, os cientistas sociais "ignorem a socie
explicação da forma do capital produtivo (27). De fato, pela não
nos três
dade de classes efetiva" (para ele, a típica do capitalismo). Esta
objeção, contudo, não é pertinente: nenhum historiador, por
livros que analisamos,, o"capitalismo
forma weberiana, e não como um modo moderno" aparece na sua exemplo, por aplicar o termo " classe" tanto a sociedade capitalis
que se defina, historicamente, não apenas de produção específico
ou em forma principal ta quanto, digamos, feudais ou escravistas, deixa de estar cons
pela existência de um mercado vasto, de busca ciente da existên cia de profundas diferenças entre as formações
ado tipo de racionalidade das empresas, e simdopor lucro e de um
conômico-sociais capitalistas e pré-capitalistas, ou das especifi
dutivas e relações de produção bem determinadas, que forças
se
pro
cidades importantes da estrutura de classes de cada nodo de pro
historicamente num longo processo, mas só atingemn a suaformampleni dução. Por outro lado, seria preciso verificar se existe, verdadei
tude estrutural com a revolucão industrial, Como diz Pierre Vi
lar, do ponto de vista do marxismo (28), ramente, do ponto de vista marxista, a "opção" que assinala Flo
restan Fernandes. Em outra ocasião desenvolvem0s detalhada
"Não evemos empregar sem precaução a mente as razõOs relas quais nos parece absurdo considerar as
sia' e devemos evitar o termo 'capitalismo' palavra não burgue "castas", "estamentos" e "classes sociais" como sisternas alter
enquanto
tratar da sociecdade m0derna, onde a producão maciça se
nativos de estratificacão, o que entre outras coisas implica outo
de merca
dorias repousa sobre a exploracão do trabalho assalarilado, da LN1 un status teórico cquivalente n noçõ¢s que decorrem de cri
quele aue nada possui, realizada pelos possuidores dos meios de térios divergentes de classificação. Também expusemos, ent¯o, a
produção".
maneira que nos parece correta de abordar, paralelamente (e não
Cu seia, do século XVI a0 XVIII o que temos, na Europa, é alternativamente) à análise de classes das sociedades pré-caplta
um capitalismo nascente aue coexiste com o feudalisno ainda listas, as formas de estratificação de que são exemplos as "castas"
dominante, e não um "capitalismo mercantil", conceito impossí e "estamentos" (31), Não julgamos necessário repetir os nosSos
vel de definir do ponto de vista marxista. argumcntos a rcsncito

Em outras ocasiões nos dedicamos à erítica detalhada da Com Pierre Vilar afirmemos, ao concluir, #ue não txlstem
Concepção do capitalismo ue parte essencia>mente do mercado diferenças de natureza entre as sociedades "de castas", "estamen
ou de elementos superestruturais; não a rcpetiremos agora (20)
tais" e "de classes". Dxistem apenas diferenças no nível da cris
Quanto à sociedade "estamental" e/ou "de castas" vista co talização - jurídica, consuetudinária, mistica, etc. das rela
mo uma forma alternativa de estratificação social à de classes Ções de função. O "endurecimento" da cristalização das catego
(sondo csta típlca somente do caltallsmo aVançado), rias está justamente a serviço da preservação da estrutura de
mos num texto de Florestan Fernandes ao gual já nos onconmtra
referimos clasees subJuccnto, ù qual, porém, podo sobrevlver (32)

96 97 -
CONCLUSAO NOTAS

(1) CARDOSO, Fernando Henrique. Apresentação da Primeira


Dos três livros analisados, o que menos nos agrada é o de Edição. In: FLORESTAN, Fernandes. Mudanças So
Florestan Fernandes, Sabemos, porém, que na sua vasta obra ciais no Brasil. São Paulo, Difusão Européia do Livro,
existem muitos tomos mais homogêneos, coerentes e convincen 1974. p. 7-10. (Col. "Corpo e Alma do Brasil").
tes: é injusto, de fato, basear numa coletânea tão hete
rogênea a crítica de um autor da sua estatura, mesmo se ela (2) GRACIARENA, Jorge. Comentário & Fernandes, Florestan
recolhe, como pensamos, as suas posições teóric0-metodológicas Interven ção na discussão. In: ZENTENO, Raul Benítez,
básicas, que não são diferentes nas suas obras principais. cOord. Las classse sociales en América Latina. Proble
mas de conceptualización. México, Siglo XXI, 1973
A leitura os três livros em conjunto ressalta a unidade de p. 286-301, 413
pontos de vista dos três autores. Embora tanto Ianni quanto (3) Ibidem. p. 302-321 ("Comentário" de MARTINEZ RIOs,
F.H, Cardoso hajam posteriornmente mudado de perspectiva em
vários aspectos importantes, achamos que o seu ecletismo per Jorge) e p. 413-416 (resposta de FERNANDES, Flores
maneceu, prejudicando a eficácia das análises de ambos, Pôde-se tan).
mostrar, por exemplo, que um problema fundamental da concep
ção de "dependência" de F.H, Cardoso e Enzo Faletto consistíu (4) De fato, a conotação negativa dada ao adjetivo "historicis
na Incapacldade de abundonar cortos qundros concoptuals o mo ta" não tem a ver com Marx e sim com Althusser em
todológicos, incompatíveis no entanto com as promessas (em ter sua "polemica de joclhos" com Hegel: C!. SCHAFF,
mos da análise de classes, por exemplo) a posição que se pr0 Adam. Estructuralismo y marxismo, Trad. de P. Ghe
punha (33) rard. México, Grljalbo, 1976. p 161-187.

Digamos, ao terminar, aue no tocante aos estudos sobre a


5) MARX, Karl. Elcmentos fundamentais para la crítlca de la
escravidão, o iulgamento de Katia Mattoso sobre Fernandes, Ianni
economía política (Borrador) 1857-1858, trad de J, Aricó
e outros. México, siglo XX0, 1971. V. 1, p, 5, 8. Também:
F.H Cardoso nos parece demmasiado severo (34). Afinal, os auto MARX, K, El Capital Trad, de W. Roces. 4. ed. Mé
res de aue estamos falando são sociólogos. Se, ao estudar as re xico, Fondo de Cultura Económica, 1966. V. II, p. 200:
lacões "raciais" no Brasil meridional, sentiram a necessidade de "Não se trata das definições sob as quais possam ser
analisar historicamente mas enquantO sociólogos as raízes cnglobadas as coisas. Trata-se de determinadas funções,
das situacões aue observaram, isto reflete a carência de estudos que determinadas categorias exprimemn". Sobre a ques
adeauados feitos por historiadores a respeito, Por mais críticos tão da abstração no método marxista, ver: MARX, K.
aue seiamos auanto a algumas das suas análises históricas e Do Elementos.. p. 20-21; MARX, K. Miseria de la flo
sicões teórico-metodológicas, não devemos esquecer: 1) que a co sofía. Buenos Aires, Ediciones Signos, 1970, p. 90-91;
meços da década de 1960, cumpriram um papel fundamental na ENGELS, F, "La contribución a la crítica de la eoono
desmistificação de visões reacionárias do passado brasileiro mía política de Karl Marx", In: Marx e Engels, Escri
tos ec0nómicos varios, Trad, de W. Roces. Méxco,
por exemplo a de Gilberto Freyre -, comno se reconhece tanto no Grijalb0, 1966, p. 188: diz Engels, referindo-se aos mé
Brasil quanto no exterior (35): 2) que mostraram pelo exemplo
(que é a melhor maneira de dermonstrar algo) a possibilidade de todos histórico e lógico de exposição, quanto ao modo
lógico: "Mas este nada mais é, de fato, do que o méto
realizar análises que, rompendo com a longa tradição "ensaísta" do histórico, despojado unicamente da sua forma his
do país, unissem a teoria à pesquisa de dados; 3) que, afinal de tórica e das contingências perturbadoras". Ct. BOU
contas, as suas obras sobre a escravidão e as relacões inter-étni VIER, Jean, "El aparato conceptual en la historia eco
cas estão entre as melhores de que dispomos no Brasil, nómica contemporánea". In: CARDOSO, F,S, & BRIG

98 99
NOLI, Héctor Perez, comp. Tendencias actuales de a
historia social y demográfica. México, Secretaria de (8) FERNANDES, Florestan. Problemas de conceptualización
Educación Pública, 1976, p. 164-165 (citando a P. Vilar): de las clases sociales en América Latina. In: ZENTE
o marxismo "não confunde a abstraço conceptual NO, Raul, coord. op. cit., p. 191-276.
necessária conmo instrumento de explicação "com a
finalidade real da pesquisa, que éa explicação do pro (9) Ibicdem, p, 207
cesso histórico"
(10) Ibidem, p. 209-210
(6) MANNHEIM, Karl. Ideología y utopía. Madrid, Aguilar,
1966; para a crítica de Mannheim quanto a este ponto, (11) Ibiderm, p. 197; iambém p. 199-200.
ver SCHAFF, Adam, Historia y verdad. Trad. de I, Vi
dal Sanfeliu, México, Grijalbo, 1974, p. 166-196. (12) Ibidem, p. 204

(7) VILAR, Pierre, Crescimicnto y desarrollo. 3. ed, Barcelona, (i3) Ibidem, p. 206
Ariel, 1976. p. 234-251; também pp. &-9. KULA, Witold. (i4) Como exeinplos de estudos que mostram como ocapitalismo
Problenmas y métodos de ia historia económica. Trad Dode criar arcaismos", ver IOUREIRO, Maria Rita Gar
de Melitón Bustamante. Barcelona, Ed. Peninsula, cia, Parceria e Capitalismo. Rio de Janeiro, Zahar,
1973. . 49-53. Eis aqui duas opiniões de Florestan Fer 1977. (rincipainuent ocapitulo 1); MARTINS, José de
nandes sobre a história, no livro aue analisamos: "Dou Souza, o Caiiveiro da Terra. São Paulo, Livraria Edi
tro lado, o quc alguns descrevem como o 'cstado de Lora Ciôncias Humáñas, 1979; também BAGU, Sergio
equilíbrio nerfeito' somente se pode imaginar e cons "*oDlac1On, reeursos alurales y nevarca1smo organi
truir, SOciologicamente, como rccurso puramento heu v.ativo cn la cconomía latinoancricana del siglo XX". In:
rístico e internretativo, por via. exclusivamente abstrata FLORESCANO, Enrique, comp. Ensayos sobre el de
e teórica. Na verdade, o estado nrrnal de cualauer s0
sarrolo económico de Méxicoy América Latina
ciedade o único modo pelo qul as sociedades se dão (1500-1975). México, ondo de Cultura Económica, 1979.
p. 369-430.
à observacão e à interpretacão os SociólogOS
é um
estado concreto em que se revela em funcionamento e, (13) IANNI, Üctavio, Às Metamorioses do Escravo. Apogeu e
portanto, sob alguma combinacão de tensões estáticas Crise a Eseravatura no Brasil Meridional. São Paulo,
co
e de mudancas sociais" (p. 23-24), "Os aue ainda Difusão Europaia do Livro, 1962. (Col, Corpo e Alma
gitam da história do Brasil segundo semelhante mode conside.
do Brasil).
lo, cometem um grave erro. Comecam nOr
rar a história como im nrocesso abstrato, ale0 aéreo
e (16) WILLIAMS, Eric. Capitalis1mo e Escravidão. Rio de Janeiro,
até anímico, capaz, de se desenvolver em si e nor si mes Companhia Editora Americana, 1975 (0 original em in
ma. São historiadores do neríodo pré.histórico da his glês éde 1944); DRESCHER, Seymour, Le déclin" du
tória como ciÇncia, os auais Simiand,
nitorescamente, systène esclavagiste britannigue et l'abolition de la trai
a con ie. Trad. de C, Carlier, In: Annales. E.S.., março-abril
batizou de historizantes'. Hoie, aue se tende sorje. cle 1976. p., 414-435, Oerro de Williams, metodologica
natral das
siderar a história coDmo uma história 1mente, foi querer apciar uma tese macro-histórica mui
e aue são nublicados estudos históricos
dades humanas. to geral numa análise do comércio da Inglaterra com
mais próximos daauilð aue aleuns sociólogos alenmães as suas Antilhas.
entendem como sociologia esnecial e anlicada, éum ana
cIonismo'a rcncticîo os vel]hos chvQcs dos nossOs nn (17) Dizemos que nccCssúrlo vinculur os argumentos 2 e 4 de
tigos historiadores" (n. 120-121), Ianniporque é preciso explicar por quê continuou vi

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gente a escravidão mesmo quando já havia mão-de-obra (24) FREUD, Julian, Socioloia de Max Weber. Barcelona, Pe
potencialmente assaiariável, Sobre as origens da escra nínsula, 1968. p. 57.
vidão, ver entre outYos NOVAIS, Fernando A. Estru
tura e Dinâmica do Antigo Sistena Colonial (Séculos (25) CARDOSO, C.F.S. & BRIGNOLI, Héctor Pérez, Os Méto
XVI-XVIII), 2. ed. São Paulo, CEBRAP, 1975, p, 32; dos da História. Rio de Janeiro, Graal, 1979., Cap. 9.
a tentativa de explicar a escravidão pelo tráfico não é
apenas paradoxal, é imnpossível de provar historicamen (26) GIDDENS, Anthony. Capitalism and Modern Social Theory;
te (o autor não o tenta, aliás) an analysis of the writings of Marx, Durkheimn and
Max Weber. Cambridge University Press, 1974. (apre
(18) O autor a continua aplicando: Cf. IANI, Octavio, Escra senta Bibliografia).
vidão e Racismo Säo Paulo, Editora Hucitec, 1978.
(27) MARTINS, José de Souza, op. cit., p. 14, nota N. 16.
(19) MARX, K, Elementos p. 27-8,
(28) VILAR, Pierre. A Transição do Feudalismo ao Capitalismo.
(20) CARDOSO, Fernando Henrique. Capitaiismo e Escravidão In: SANTIAGO, Théo A., Org. Capitalismo. Transição.
no Brasil Meridional. O Negro na Sociedade Escravo Rio de Janciro, Livrarla Cldorado Tijuca, 1974. p. 38.
crata do Rio Grande do Sul. São Paulo, Difusão Européla Para a crítica da concepção weberiana do capitalismo do
ponto de vista marxista, ver o clássic0: DOBB, Maurice.
do Livro, 1962. (Col. Corpo e Alma do Brasil), Estudios sobre el dessarrollo del capitalismo. Trad, de
(21) PEREZ BRIGNOLI, Héctor, Agriculture cupitaliste et Con L, Ctchoverry. Buenos Alres, Siglo XXI, 1971, cap, 1
merce des grains en Argentine (1880-1955 Paris, Eco existe trad. para o português: Rio de Janeiro, Zahar).
le Pratique des Hautes Etudes, 1975 (tese de doutora (29) CARDOSO, C.F.S. Severo Martínez Peláez y el carácter del
mento mimeografada ). T. 1, p. 8. régimern colonial e soore los modos de produción colo
niales de América. Cuadernos de Pasado y Presente,
(22) Neste ponto estamos de acordo com CASTRO, Antonio Bar México, DF, Siglo XXI, 40: 83-109 e 135-159, 1978, No
ros de. Emtorno à Questão das Técnicas no Escravis mesmo volume, ver CIAFFARDINI, Horacio, Capital,
mo. Rio de Janeiro, 1976 (comunicação mimeografada), comercio y capitalismo: a propósito del llamado capi
embora as suas opiniões nos pareçam em geral excessi talismo comercial. p. 111-134.
vas. É verdade que, nos últimos anos, aprendemos que
a incapacidade de desenvolvimento tecnológico sob o (31) CARDOSO, C.F.S, & BRIGNOLI, Héctor Pérez. El concepto
escravismo tal como existiu na América havia sido exa de classes sociales: 'bases para una discusión, Madrid,
gerada, mas é preciso ver, ta1nbém, os limites do avanço Editorial Ayuso, 1977. p. 99-126; no mesmo sentido,
das forças produtivas em todos os seus aspecots nessé VALDEON, Julio, Clases sociales y lucha de clases en
tipo de sociedade, e as contradições engendradas pela la Castilla bajomedieval, In: BLAZQUEZ, J.M. et alii.
própria tecnificação no século passado. Clases y conflictos sociales en la historia. Madri, Ed,
Cátdra, 1977, p, 63-80, STAVENHAGEN, Rodolfo, cri
(23) EISENBERG, Peter L, Tne Consequences of Modernization ttcou cm Mérida, com razão, a confusio de níveis que
for Brazil's Sugar Plantation in the Nineteenth Century, estabelece F, Fernandes: ZENTENO, P.B, coord. op.
e REIS, Jaime, From Banguê to Usina: Social Aspects cit., p, 283: 4 quisera insistir na conveniêncla de
of Growth and Modernization in the Sugar Industry of distinguir, tanto conceptual quanto empiricamente, o
Pernambuco, Brazil, 1850-1920. Land and Labour in fenomeno da estratificação social da ostrutura e dinâ
Latin America. Cambridge, Cambridge University Press, mica de classes, (...) Os dois fenômenos o da es
1977, p, 345-367 e 369-396. tratificação e o das classes existen em todas as SO

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ciedades classistas e, na minha opinião, este determina
aquele, mas através de uma dialética complexa".
(32) VILAR, Pierre. Iniciación al vocabulario del análisis histó
rico. Trad de M, Dolors Folch, Barcelona, Editorial
Crítica, 1980.
(33) CARDOSO DE MIELLO, João Manuel, 0 caritalismo Tardio
Campinas, Universidade de Campinas, 1975 (tese de
doutoramento).
(34) MATTOSO, Katia M, de Queiroz, A Propósito de Cartas de
Alforria, Bahia, 1779-1850, Anais de História. Assis,
SP, 4: 23-4, 1972,
(35) GENOVESE, Eugene. Materialism and Idealism in the His
tory of Negro Slavery in the Americas, In: GENOVE
SE, Dugene D, In Rd and Blact, Nova Torquo, Pan
theon Books, 1971, p, 23-52.

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