Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
O governo Bolsonaro pode ser dividido em duas fases: a primeira vai da eleição
até o ato de 7 de setembro de 2021, com o governo na ofensiva populista contra o
“sistema” e a “política”; a segunda é a da conciliação provisória com o
establishment político, que resulta dos desgastes acumulados pela radicalização no
auge da pandemia. Isso corresponde a uma mudança de natureza do movimento
bolsonarista. No aspecto ideológico, ele começa como uma revolta populista
superficial e se transforma em um fenômeno quase sectário; quanto à composição
social, ele perde apoio relevante das camadas médias dos grandes centros e passa a
se concentrar em camadas populares de base evangélica.
O fim do último ano do governo foi marcado por mais um ato, novamente no 7
de setembro, mais vazio que o anterior. Parcialmente recuperado em sua
popularidade, após a normalização do governo e as novas alianças, Bolsonaro se
concentrou nas denúncias falsas que desacreditavam as urnas eletrônicas e na
formação de uma sólida base de apoio parlamentar. Ele também negociou com os
candidatos aos governos estaduais o aparelhamento das Polícias Militares.
Derrotado, não reconheceu a eleição de Lula e se isolou. O clã Bolsonaro, sempre
ativo nas redes sociais, ficou calado. Nas redes bolsonaristas havia rumores de que
“algo” estava sendo preparado. Esse foi o estímulo para o movimento golpista
iniciado em novembro, com acampamentos em frente aos quartéis, bloqueios de
estradas e tentativas de invasão de prédios públicos no DF. Investigações da Polícia
Federal apontam agora que, nos últimos dias do governo, o então presidente,
recluso, tramava com seu Ministro da Justiça uma intervenção no tribunal eleitoral
para impugnar o resultado da eleição presidencial. Mais uma vez, a situação
produziu atrito entre o presidente e Alto Comando do Exército. Terminado o ano, a
transição ocorreu com aparente normalidade, mas sem a desmobilização dos
golpistas que continuavam a pedir uma intervenção militar.
1
Sobre isso ver, Marcos Barreira, “Brasil em tempos de declínio social: comentários
a pós-política no governo Bolsonaro“, Margem Esquerda, n. 35, Boitempo, 2020