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AS DITADURAS MILITARES DO CONE SUL EM ENFOQUE COMPARADO

2021/1

PROFESSOR: RODRIGO PATTO SÁ MOTTA

ALUNA: GABRIELA CECÍLIA DE CASTRO

Questão 2

Brasil e Chile passaram por ditaduras militares com inúmeros pontos semelhantes, a
começar pelo forte anticomunismo como principal motivação para tomada de poder em um
período de guerra fria, tendo influência do bloco capitalista e apoio dos Estados Unidos aos
regimes. Em relação aos aparatos repressivos, Brasil e Chile tiveram ações de violência
militar desproporcionais ao poder da oposição de realizar uma tão temida revolução
socialista. Entretanto, é notável, dentre outras diferenças, que no Chile a violência da ditadura
de Pinochet se radicalizou muito mais desde o seu início e cada vez mais centralizado na
figura do líder.
O regime militar ocorrido no Chile, caracterizou-se pela intensa repressão violenta por
parte do Estado, desde o golpe no dia 11 de setembro de 1973, o emprego da força já
apontava como seria o governo em termos de repressão. Embora houvesse uma grave crise
econômica, social e política no país, a violência usada não foi proporcional nem justificável
diante da oposição ou resistência que poderia haver. De toda maneira, os militares assumiram
o controle instalando um estado de guerra, no qual passaram quase a totalidade do regime.
Ainda no dia do golpe foi decretado estado de sítio, em seguida sendo prolongado por quanto
tempo durasse a situação de guerra, isso permitia ações como julgamentos sumários e
execuções imediatas. A justificativa para a guerra contra o marxismo foi haver forte ameaça
comunista. Entre outras evidências dessa ameaça, existiria um plano esquerdista armado,
conhecido como "Plano Z", que nunca foi comprovado.
A principal instituição que serviu ao emprego da violência foi a direção de
inteligência nacional, DINA. Foi criada ainda pela junta de governo para ser o principal
instrumento na guerra contra o marxismo, porém acabou também por ajudar na consolidação
do poder pessoal de Pinochet. Em sua elaboração contou com assessoria internacional,
inclusive de oficiais brasileiros, sendo elaborada seguindo o modelo de inteligência
brasileiro, embora conservasse inúmeras diferenças com a experiência brasileira ao longo do
tempo, como a grande ação na perseguição de inimigos no exterior e maior coesão entre os
militares.
Era um organismo que reunia informação visando formular políticas e ações em nome
de uma "segurança nacional". Na prática, combateu no Chile e no exterior os grupos de
esquerda, as organizações de oposição e entidades da igreja católica, realizando buscas,
prisões, torturas e assassinatos. Muitas dessas ações ocorriam em espécies de campos de
concentração para opositores políticos.
Também organizou a Operação Condor, uma coordenação dos aparatos repressivos
das ditaduras de seis países da América do Sul (Chile, Argentina, Brasil, Paraguai e Bolívia),
para combater organizações armadas de extrema esquerda e os opositores.
As ações terroristas militares no exterior chegaram a um nível crítico quando houve o
assassinato do opositor Orlando Letelier, em Washington, Estados Unidos, houve um
atentado a bomba explodindo seu carro em uma avenida da cidade. Mesmo tendo o íntimo
apoio dos Estados Unidos, a situação ficou insustentável diante da opinião pública, assim, a
DINA foi fechada e a CNI, Central Nacional de Informações, foi criada e tomou a posição da
antiga agência. As ações repressivas continuaram, entretanto com maior discrição.
Se no caso chileno não havia grande preocupação em aparentar algum valor
democrático, a ditadura militar brasileira teve como característica marcante a manutenção de
certo dispositivos democráticos, como a manutenção do congresso e a existência de partidos
políticos. Entretanto foi mobilizado um imenso aparato para a repressão de opositores
políticos e práticas ilegais como tortura assassinato e desaparecimento de indivíduos que
poderiam causar alguma ameaça ao regime. Portanto, por trás de todo o esforço de manter
uma aparência de normalidade no Brasil, foi evidente a repressão por parte de uma legislação
que reativava aparelhos já existentes, como o CENIMAR, DOPS, PM e a criação de vário
outros, como a SNI, DOI-CODI, CISA, CIE, sempre subordinados ao comando das forças
armadas para garantir que, na prática, outros atores políticos não pudessem agir. Dos órgãos
citados como estrutura repressiva formal, ainda existiram centros clandestinos onde agiam os
mesmos agentes que mantinham os órgãos oficiais.
O fechamento do congresso e o decreto de estado de sítio não foi constante no Brasil
como foi no Chile, no caso brasileiro isso ocorreu pontualmente em momentos estratégicos.
O congresso teve suas atividades suspensas na ocasião do decreto do AI-5 e na imposição do
Pacote de Abril, ambos se tratando de medidas de repressão.
No caso brasileiro, diferente do chileno, que já no momento do golpe cometeu
inúmeros assassinatos e prisões, a violência do Estado no Brasil teve uma gradual
radicalização à medida que foi se intensificando a pressão da oposição, que também crescia e
se tornava mais violenta. As principais ações de repressão dos governos militares brasileiros
foram através dos atos institucionais, destaca-se o AI-5, decretado em dezembro de 1968, que
inaugura os chamados “anos de chumbo”, momento de maior perseguição, assassinatos e
censura durante a ditadura.
O apoio da polícia militar foi outro ponto importante de semelhança entre as
estruturas do Chile e do Brasil. Os Carabineros, a polícia chilena, foi uma instituição chave
na repressão e violência, assim como a PM brasileira. Em ambos os casos a herança da
ditadura pode ser sentida nos dias de hoje pelo uso que faz o Estado da força policial
descabida em diversas situações contra a população, especialmente contra a população
periférica em nome de um extermínio ao crime. A herança da ditadura de Pinochet vai além,
uma vez que até o presente a constituição chilena é a mesma aprovada ainda durante a
ditadura, em 1980.

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