Análise comparativa entre Pinochetismo e Pachecato
O pinochetismo refere-se à ideologia política e ao regime associados ao general
Augusto Pinochet, que governou o Chile como ditador de 1973 a 1990. O personalismo da ditadura, o pinochetismo, tinha como um objetivo geral uma “guerra social” da direita contra o marxismo instituído no país e na população, era necessário a criação de novas formas de viver e cosmovisões, criando um novo sistema de crenças e valores a toda a população chilena, focando nas frentes sociais, econômicas e políticas. O projeto de Pinochet não se limitava apenas a sua imagem, apesar da imagem do ditador forte que “pinochetizou” aqueles que discordavam mesmo no seu partido ser de grande valor, se o projeto se limitasse apenas ao ditador ocorreriam problemas em relação a sua continuação no momento que esta figura não existe mais, era então necessário a criação de um personalismo institucional, em que a identidade de Pinochet e o que significar continuar seu pensamento se solidifique a ponto de permanecer no nível institucional mesmo em sua ausência. É importante evidenciar que o projeto ditatorial não se inicia no momento do golpe, mas sim bem antes e vai se desenvolvendo nas “sombras” até culminar no golpe propriamente dito ou em tentativas que podem ou não acabar com o projeto. No caso do chile o projeto pode ser percebido no início do governo de Allende com as oposições de direita e a influencia dos Estados Unidos em asfixiar e destruir qualquer regime considerado marxista, socialista, comunista ou governos de esquerda que poderiam nurturar essas ideias. Os movimentos de direita instigavam o “medo vermelho” na população, especialmente proprietarios e comerciantes, com mentiras como a possibilidade expropriação e uma ditadura comunista, dividindo a população chilena politicamente entre apoiadores da Unidade Popular e seus adversarios. Com a iniciação da “guerra social” os setores populares e os marxistas foram rapidamente culpados pela crise econômica e política do país, logo em seguida o abandono dos pobres com as mudanças econômicas causou uma quantidade alta de desemprego e fome que faziam as forças armadas necessitarem justificar a escolha pela economia de mercado aplicando as primeiras políticas sociais. O apoio principalmente alimentar era dado àqueles considerados os mais marginalizados que em sua grande maioria viviam em favelas criadas após a mudança em relação às terras com o novo regime. Esses “marginalizados” eram considerados perigosos, principalmente pelas tendências de extrema esquerda, por isso eram alvos principais dessas políticas que criaram um cenário de governo “benevolente” com senso social e aceitação das teses neoliberais por parte da população, enquanto isso o mundo do trabalho era constantemente atacado. A política de “ajuda” aos mais pobres sempre teve o objetivo de erradicação das favelas, iniciando com os alimentos e partindo para a construção de moradias econômicas de inicialmente 45m² mas que no final eram de apenas 18m², a construção dessas moradias e distribuição foi deixado pelo estado a cargo de empresas privadas, evidenciando assim a escolha neoliberal de privatização as políticas sociais universais. As caras foram construídas em locais distantes e periféricos da cidade, onde “jogavam” todos os pobres, retirando-os das favelas dos centros da cidade, criando assim uma divisão entre a cidade “civilizada” e a periferia “bárbara”. Mais uma vez uma política foi associada à figura de Pinochet como benevolente, considerado a entrega das casas como uma dádiva do ditador. A escolha neoliberal afetou todas as camadas das políticas sociais, com os benefícios universais do estado sendo substituídos pela necessidade da população de pagar por esses direitos, o estado apenas seria responsável pelos mais pobres, com o investimento na camada pública sendo bem menor. De forma semelhante ao contexto do Chile, no Uruguai do final da década de 50 uma grande crise aumentou o descontentamento da população em relação ao governo vigente, com grupos de extrema direita que agiam de forma ampla e no estado contra qualquer manifestação ou movimento de esquerda, associando qualquer crítica ao governo como ação comunista. Como no Chile, o medo vermelho também era estratégia usada no Uruguai e em outros países da américa latina como um dos vários pretextos para o golpe que germina com a ascensão da extrema direita no país. Com a ascensão de Pacheco ao poder se inicia uma série de medidas autoritárias semelhantes às de Pinochet, primeiramente temos a dissolução e perseguição de vários partidos de esquerda em nome de uma suposta estabilidade política. A grande presença de empresários no governo demonstrava o favor a classe burguesa e a iniciativa privada de uma forma similar mas não totalmente igual ao neoliberalismo do governo Pinochet. Ambos os governos também utilizaram amplamente a censura para controlar a população e as visões sobre o governo e suas ações. Controlaram rigidamente os meios de comunicação e suprimiram a liberdade de expressão, incluindo revisão de conteúdos antes de sua publicação, fechamento de meios de comunicação críticos e restrições ao acesso à mídia estrangeira. Essas ações limitaram a disseminação de vozes dissidentes, principalmente as de esquerda, e manipularam a opinião pública. No Uruguai a censura chegava a ser aplicada na oralidade, com certas palavras sendo censuradas, como tupamaro e guerrilheiro e a nomeação de grupos adversários. No Chile foi fundada o DINA(Dirección de Inteligencia Nacional) como uma agencia secreta de censura e violação de direitos humanos, para censurar canais, jornais e transmissões de rádio que apoiavam o socialismo. Um decreto da Junta militar estabeleceu que toda a informação pública teria de ser inspecionada e revista pela Junta antes de ir ao ar, e alguns dias depois foi criado um gabinete de censura para supervisionar todos os meios de comunicação. Ambos os governos também tiveram amplas violações aos direitos humanos dentro dos seus respectivos estados de emergência. No governo de Pacheco os usos das MPS(medidas prontas de seguridad), medidas que poderiam ser usadas para burlar a constituição e os 3 poderes, a justificativa de seu uso era dado como forma de combate a grupos de guerrilha adversarios ao governo mas na verdade sua implementação tinha como objetivo o controle social e a militarização. O uso da tortura era frequente, cartas eram violadas e seus conteudos usados como pretextos para a prisão e separação de varias familias e a militarização do setor publico e privado utilizando-se novamente da desculpa da ineficiencia do estado em conter os grupos guerrilheiros que eram na verdade de pouca ameaça para o governo. Os militares uruguaios se concentraram mais em controlar a dissidência e limitar a oposição política do que em se envolver em violência em larga escala. De forma parecida mas ainda mais violento, a ditadura de Pinochet ficou muito conhecida pelas inumeras violações aos direitos humanos, incluindo desaparecimentos forçados, tortura e execuções extrajudiciais. As forças militares e de segurança atacaram supostos opositores políticos, levando à morte e ao desaparecimento de milhares de pessoas. A criação da CNI(Central Nacional de Informaciones) , que foi o novo órgão que sucedeu o DINA, era uma polícia secreta, extra militar, responsável pelo assasinato e desaparecimento de vários oponentes políticos durante toda a ditadura de Pinochet. O sistema educacional dos 2 governos também foi afetado, principalmente pela censura e os órgãos oficiais de controle da informação, professores precisavam seguir as ideologias do governo, não deveriam falar de certos assuntos e eram monitorados. Concluindo, o regime de Pinochet no Chile e o regime de Pacheco no Uruguai, embora distintos em seus contextos históricos, compartilhavam certas semelhanças marcantes. Ambos regimes militares autoritários, impuseram medidas repressivas, violaram direitos humanos, implementaram políticas econômicas neoliberais e restringiram a liberdade de expressão.