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ANÁLISE DE CONJUNTURA

Democracia e regimes autoritários - Nazifascismo

Etapa 1) Diálogo e construção de respostas às questões:

1 - Sob quais formas é possível subverter uma democracia?


Um mecanismo comum para subverter uma democracia é quando um líder com tendências
autoritárias é eleito de forma democrática e utiliza de brechas na constituição para desfazer a
democracia de um país aos poucos (a população vai aceitando ações e ações até perceber que a
democracia foi corrompida). Outra forma de realizar isso é quando um partido se alia com um
populista com a intenção de aumentar suas chances de vencer eleições (e quando o populista é eleito
ele toma o controle do país) ou, no caso de um governo, se alia com a intenção de manter seu
controle estável e acaba falhando e perdendo o poder. E por último, há aquela velha forma de
subverter uma democracia que é através de um golpe de estado, no qual o governo democrático é
tirado à força (ameaça ou violência) do poder .

2 - Existe um clima propício para que governos democráticos caiam nas mãos de lideranças
autoritárias?
Sim, existe. Com base nas análises feitas pelos autores estudados é possível caracterizar um
clima propício para que governos democráticos caiam nas mãos de lideranças autoritárias, pois há
certas semelhanças nos governos em que isso aconteceu. Esse clima seria: o país em uma situação
frágil em vários aspectos, como por exemplo em uma grave crise econômica, visto que é algo que
causa pânico nas pessoas e as fazem tomar decisões desesperadas (como votar em um político com
tendências autoritárias, mas que promete salvar o país da crise). Outro aspecto é a desordem no
sistema político, situação na qual um líder autoritário se coloca como alguém que pode resolver os
problemas políticos e impor ordem. O medo de uma ameaça comum a uma população (exemplo da
ameaça comunista, algo que aconteceu na Itália) também é um aspecto, situação que também faz as
pessoas procurarem por um “salvador”.

3 - Quais estratégias fascistas são usadas por lideranças autoritárias para conseguir apoio
popular e chegar ao poder? E para se manter no poder?
Para chegar ao poder um fascista usa argumentos que causam medo nas pessoas (de ameaças
a princípios culturais, a seus estilos de vida) e expõe a necessidade de um líder que lute por seus
princípios e ideais. Além disso, ele pode criar emergências e se oferecer para resolvê-las, o que lhe
traria mais popularidade. Um fascista também utiliza de discursos patriotas e nacionalistas para
gerar um engajamento popular e um sentimento de unanimidade.
Para se manter no poder, um líder fascista pode usar da distorção da verdade para que sua
palavra seja sempre a mais relevante, exemplo disso é ocultar as falhas autoritárias passadas para
exaltar seus fragmentos positivos. Outra estratégia fascista para se manter no poder é espalhar falsas
propagandas (ligação a crimes terríveis) sobre seus oponentes políticos e jornalistas opositores para
deixá-los sem reconhecimento público. Além disso, também há a intenção de impor um partido
único que é essencial para que o poder continue na posse da liderança fascista. Por fim, para um
governo fascista se manter no poder, ele usa a censura para limitar a liberdade de expressão e
impedir que pessoas se agrupem contra o ele.

4 - É possível a uma população que não apoia o autoritarismo votar em lideranças


autoritárias?
Sim, está errada a visão de que as nações que sofreram ditaduras, eram nações que sempre
tiveram inclinações fascistas ou nazistas. Alguns fatores que podem explicar os votos em lideranças
autoritárias são: quando a maioria acha que é a melhor opção diante da situação vivida no país, há
vezes em que não fica tão perceptível que um candidato tem tendências autoritárias (como no caso
primeiro-ministro húngaro Viktor Orbán). Outro fator considerável é que geralmente há uma massa
de pessoas ignorantes no assunto que não sabem identificar ações autoritárias ou não têm noção da
gravidade de votar em um líder autoritário, o que facilita o ganho de pessoas através de
manipulação psicológica (discursos convincentes e propagandas sobre melhorar o país).

5 - Comente os sinais elencados pelos autores para identificar o autoritarismo em candidatos.


O que há de antidemocrático nos itens levantados?
Os sinais levantados pelos autores são: a rejeição ou baixo compromisso com leis, a negação
da legitimidade de oponentes políticos com acusações de serem antidemocráticos, a tolerância ou
encorajamento à violência, a propensão em restringir liberdades civis de oponentes, negação da
verdade e da ciência ( a ciência nega o fascismo) e a falta de apoio ou ataque a instituições
educacionais.
Esses sinais citados são antidemocráticos porque colocam em risco o Estado Democrático e
vulnerabiliza as leis das instituições democráticas, como por exemplo, fere a liberdade de
expressão, além de cometer crimes como a calúnia.

Etapa 2) Análise de conjuntura.

Análise do líder político da Hungria, o Primeiro-Ministro Viktor Orbán

Ao observar o passado autoritário da história foi possível reunir uma série de informações
que mostram semelhanças em governos autoritários, o que nos permite identificar os atuais líderes
que apresentam tendências a governar dessa forma. Em relação às circunstâncias vivenciadas em
países que posteriormente foram liderados por autoritários, há uma circunstância comum bastante
nítida: uma crise econômica. Exemplo disso foi em 1922 na Itália, quando Mussolini chegou ao
poder o país estava em uma crise econômica, e a crise de 1929 desencadeou o surgimento do
governo autoritário na Alemanha. Ao trazer essa realidade para o mundo atual, podemos nos
lembrar da crise de 2008 que influenciou para que nas eleições de 2010 do governo da Hungria
fosse eleito um líder de extrema direita, sendo que até então o governo era socialista. Os húngaros
estavam insatisfeitos com as medidas do governo após a crise, pois o governo socialista não
ofereceu muito suporte para a população, cortou alguns recursos públicos e aumentou os impostos.
Isso foi suficiente para que dois terços do parlamento votassem no partido extrema direita, o Fidesz
(União Cívica Húngara), liderado por Viktor Orbán.
De fato, o governo de Viktor Orbán trouxe diversos avanços para economia do país como a
diminuição do desemprego e o aumento da renda bruta per capita (PIB). Porém, desde o início de
seu mandato ficou à mostra tendências autoritárias, como exemplo, sua grande oposição às cotas de
imigrantes que a União Europeia tenta impor a seus membros, além de já ter expulsado imigrantes e
ter construído uma barreira nas fronteiras com a Sérvia e a Croácia. Jason Stanley - estudioso do
neofascismo, doutor em Filosofia pelo Instituto Tecnológico de Massachusetts (MIT) e professor na
Universidade de Yale, que havia dado aulas na Universidade Central Europeia, em Budapeste
(capital da Hungria) no ano de 2009, declarou em uma entrevista no ano passado para o jornal El
País: “Percebi o antissemitismo por trás do discurso político como se fosse uma onda de ultrassom,
e recordei o que escreveu minha avó sobre como havia sido gradual a mudança em Berlim dos anos
trinta. Vi claramente: o antissemitismo não era algo remoto, havia voltado”.
Viktor Orban, em sua campanha política em 2010, ano em que foi eleito, tinha um discurso
que prometia não só fazer mudanças econômicas e sociais, mas também mudanças na constituição.
Foi observado que ao longo de seus 3 mandatos consecutivos, o governo de Orbán foi se tornando
mais autoritário, já no início do seu primeiro mandato aumentou o controle sobre veículos públicos
e passou a estimular a compra de meios de comunicação. Em uma entrevista para o jornal Folha de
São Paulo, o editor de Internacional do jornal húngaro Népszava, Gábor Horváth, afirma que “No
final de 2018, eles já tinham 80% da mídia húngara. Os que não foram estatizados foram comprados
por empresários próximos ao premiê”. Além disso, o governo realizou ações homofóbicas, como a
lei que proíbe a mudança de sexo ao registro civil, o que era autorizado neste país membro da União
Europeia, desde 2004. Essa lei reforça a promoção de valores cristãos e tradicionais de um projeto
lançado desde a reeleição em 8 de abril de 2018 de Viktor Orbán. De acordo com o jornal francês
Le Monde sua primeira ação desse projeto conservador foi a decisão de retirar os “estudos de
gênero” da lista de diplomas credenciados oficialmente no país. Essa área de conhecimento foi
ensinada por mais de 20 anos na Central European University, universidade que posteriormente foi
pressionada a se mudar ou fechar pelo primeiro-ministro húngaro, que afirmava querer transformar
a Húngria em um estado nacionalista, contrário a qualquer tendência de esquerda. Além disso,
anunciou uma medida que prevê que as instituições de ensino superior não europeias deverão ser
proibidas de receber novos alunos e conceder diplomas válidos na Hungria. Outras fortes ações que
reforçam o nacionalismo no país, foram as leis implantadas após o decreto de emergência
migratória que ocorreu com a onda de imigrações em 2015. O governo aplicou punições a quem
oferecesse ajuda a imigrantes e foi estampado em um Outdoor a frase “Você sabia que os atentados
terroristas de Paris foram feitos por imigrantes?”, uma mensagem capaz de manipular a população
para seus objetivos xenofóbicos.
Com base nas atitudes citadas, já é possível observar diversos fatores - além do
nacionalismo - que evidenciam a propensão ao fascismo do atual governo húngaro, como os
ataques a instituições de ensino e a restrição da liberdade civis de oponentes, como no caso na mídia
- tanto que hoje há apenas um jornal, uma TV e uma rádio que ainda se opõem à opressão. Foi
observada também uma estratégia muito comum usadas por líderes fascistas, que é o uso de
discursos que causam medo na população, nos quais os imigrantes são colocados como
protagonistas desse medo. Outra estratégia foi empregada no período emergencial da onda de
imigrantes em 2015, pois mesmo após a onda ter cessado o governo vem renovando as rígidas leis
contra imigrantes a cada seis meses.
Diante da situação que a pandemia do coronavírus criou neste ano (2020), a Assembléia
Nacional da Hungria aprovou a lei que deu ao Primeiro-Ministro poder de governar por decreto por
tempo limitado, algo que acabou com a autonomia política dos cidadãos e dos governos locais.
Como a oposição havia vencido as eleições locais de outubro de 2019 em muitas cidades, inclusive
na capital Budapeste, pouco tempo depois da aprovação da nova lei de poder ilimitado, o governo
basicamente atou as mãos dos prefeitos, eles não podiam aprovar nenhuma resolução sem consenso
dos representantes do governo central - não era permitido nem mesmo medidas não relacionadas a
pandemia . Militares foram mandados para os hospitais e passaram a controlar serviços básicos, e
mandados também para empresas de telecomunicação e outras companhias estratégicas. O governo
aproveitou também para oprimir ainda mais a mídia, dessa vez com uma ameaça criminal: sujeito a
prisão de até 5 anos quem divulgar qualquer informação que “limite a capacidade do governo de
combater a pandemia de coronavírus”, e era o governo que tinha a decisão de dizer quando isso
ocorria. Tais atitudes demonstram o quanto o governo restringe as liberdades civis de oponentes, e
dificuldade em aceitar as regras democráticas - como a implicação com oponentes que lideram as
cidades locais - um sinal que caracteriza líderes autoritários muito citado por autores que estudam o
fascismo. No mês de junho os deputados do Parlamento aprovaram o fim da lei de poder ilimitado
ao Primeiro-Ministro, o que finaliza os decretos emitidos durante o período de emergência. No
entanto, muitos desses decretos foram transformados em leis pelo Parlamento para que fossem
mantidos. Além disso, foi aprovada uma medida pelo Parlamento, que dá ao governo o direito de
declarar "emergência em saúde pública" mediante a recomendação do diretor médico da Hungria.
Caso isso aconteça, o governo tem o direito de atuar por decreto sem a necessidade de aprovação do
Parlamento, e em tais circunstâncias qualquer decreto governamental emitido terá efeito por até seis
meses, mas podem ser prolongados pelo próprio governo enquanto continuar o estado de
emergência em saúde pública. É visível que as ações tomadas nessa pandemia contribuíram para o
enfraquecimento da democracia no país, que já era instável.
Conclui-se então que desde 2010 a democracia da Hungria vem perdendo espaço para o
autoritarismo do Primeiro-Ministro Viktor Orbán. Após 10 anos de governo, com a crescente
quantidade de ações potencialmente fascistas que não estão sendo tão bem supervisionadas ou
impedidas, há um grande risco da democracia sucumbir na posse desse governo de extrema-direita.
Referências bibliográficas

- https://brasil.elpais.com/brasil/2019/06/26/internacional/1561565581_344138.html
- https://exame.com/mundo/hungria-vai-eleger-pela-3a-vez-viktor-orban-o-desafeto-da-ue/
- https://quatrocincoum.folha.uol.com.br/br/artigos/l/a-democracia-brasileira
- https://www.lenouvelliste.ch/articles/monde/la-hongrie-interdit-le-changement-de-sexe-a-l-e
tat-civil-939586
- https://oglobo.globo.com/mundo/hungria-proibe-mudanca-de-sexo-no-documento-de-identi
dade-24434653
- https://www.bbc.com/portuguese/noticias/2010/04/100425_hungria_eleicoes_cq
- http://g1.globo.com/mundo/noticia/2010/04/hungria-tem-segundo-turno-das-legislativas-co
m-baixa-participacao.html
- https://www1.folha.uol.com.br/mundo/2020/04/perdemos-a-esperanca-de-que-a-europa-va-c
onter-orban-diz-editor-hungaro.shtml
- https://www.dw.com/pt-br/parlamento-da-hungria-retira-poderes-quase-ilimitados-de-orb%
C3%A1n/a-53836041

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