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UFF - UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE

RESENHA DO LIVRO: “O QUINZE” DE RACHEL DE QUEIROZ

ALUNA: JÉSSICA MADEIRA BARBOZA


2022
O livro “O Quinze” foi escrito pela autora da literatura e jornalista Rachel de Queiroz,
nascida no Ceará em 17 de novembro de 1910 e falecida no Rio de Janeiro, vítima de um
ataque cardíaco, no dia 4 de novembro de 2003. Rachel foi uma importante escritora
brasileira, com uma forte representatividade pois foi a primeira mulher a entrar para a
Academia das Letras e a receber o Prêmio de Camões. Pertencente ao Modernismo
Brasileiro, as suas obras tiveram fases com características diferentes, no início seus romances
eram mais regionalistas, depois passa a abordar temas com inclinações políticas e por fim um
estilo mais intimista. Além de romances, Rachel também escreveu peças de teatro, livros
infantojuvenis e crônicas para jornais.
A obra literária ‘O Quinze” foi publicada no ano de 1930, ou seja, posterior a Crise de
29 e ao fim da Primeira Guerra Mundial, momentos que polarizaram fortemente as ideologias
no Brasil, e consequentemente os artistas se engajaram politicamente em suas obras, esses
eram os escritores da segunda fase modernista. Nesse contexto, no Brasil inicia-se o Estado
Novo, a ditadura instaurada por Getúlio Vargas com forte repressão, nesse meio, a autora
Rachel de Queiroz é presa acusada de ser comunista, por causa das denúncias sociais
expostas em suas obras e é nesse contexto que a obra é produzida e publicada.
Rachel de Queiroz narra uma história que se passa na grande seca que aconteceu no
Ceará no ano de 1915, uma história real que ocorreu no nordeste brasileiro. A obra tem dois
focos, a história do amor entre Conceição e Vicente, e do outro lado, Chico Bento e sua
família; dentro dessas histórias são desenvolvidas diversas denúncias sociais, pois é fica
muito evidente questões como desigualdade social, pobreza, machismo, entre outras. Os
personagens principais são os já citados, como Conceição: uma professora progressista;
Vicente: filho de um proprietário rural; Dona Inácia: a avó de Conceição; Chico Bento: um
vaqueiro pobre.
Chico Bento era o personagem que passava por dificuldades financeiras, era um
vaqueiro como já foi mencionado anteriormente, mas com a forte seca que durou quatro anos,
o seu trabalho ficou inviável e não dava mais retorno. Por isso, ele resolveu juntamente com
sua família sair do interior em caminho para a cidade com a intenção de conseguir uma vida
melhor, ele tenta conseguir transporte, mas não foi possível, então eles seguiram a pé, mas
no caminho eles passam por diversas dificuldades. Tudo o que é narrado sobre Chico Bento e
sua família é marcante por ser triste, mas é uma realidade da população pobre no interior do
sertão nordestino. A história de Chico e sua família é também a história de muitas pessoas
que vivem lá, e que por serem negligenciadas pelo governo, levam uma vida de miséria,
principalmente em meio a momentos de seca.
O fato de não terem conseguido o transporte para viajarem a cidade é um fator
necessário a ser analisado, pois ao contrário deles, Dona Inácia e Conceição foram para
Fortaleza de trem, nisso fica claro tamanha a desigualdade, o descaso no tratamento com a
população pobre. Muitos foram os obstáculos sofridos no caminho para a cidade, a família
passa por diversas vezes fome, e em decorrência disso, um dos filhos morre, porque come
algo que fez mal, e quando saem para caçar, matam um animal mas logo aparece o dono, que
achou que eles estavam roubando e não se sensibilizou com a situação daquela família,
liberou somente uma parte da carne para eles comerem e irem embora.
Outra problemática social que pode ser analisada na obra é a questão da mulher, a
personagem Conceição passa por situações, como na relação dela com o Vicêncio ou com a
Dona Inácia, e em que o machismo fica evidente. Primeiramente, Dona Inácia que é avó de
Conceição sempre a pressiona para que arranje um relacionamento e se case, pois acha que
uma mulher precisa disso e não pode ficar somente presa aos livros. Segundamente, a relação
com Vicêncio, que é instável, pois além dele ter valores conservadores e atitudes machistas,
está sempre mentindo para ela, se relacionando com outras, e no fim ela descobre que ele se
envolvia com outra mulher.
O caso de Conceição e Vicente é interessante pois diferentemente do que se vê em
outras obras literárias, no qual o casal sempre fica junto no final, nesse livro, Conceição se
desilude com Vicente e não fica com ele, o que é muito marcante, principalmente tendo em
vista o contraste dos episódios machistas que acontecem. Conceição é uma personagem forte
do início ao fim, culta e bem resolvida, isso é uma desconstrução muito relevante se for
levado em conta o contexto em que a obra foi escrita e publicada. Mas isso pode ser
entendido como uma representatividade refletida pela autora no livro, que sendo mulher,
Rachel de Queiroz foi a primeira a ganhar prêmios, entre outras coisas na época, uma figura
forte e que desconstrói o imaginário misógino de que a mulher só deve estar submissa ao
homem e reservada aos afazeres domésticos.
Enquanto isso, na caminhada para Fortaleza, um dos filhos de Chico Bento se perde
no trajeto, e ele vai até a casa do delegado relatar e pedir ajuda para encontrar a criança, além
de acolhê los em sua casa, oferecer comida, o delegado se compromete em ajudar, e consegue
um transporte para que a família vá para a cidade. Mas na verdade, o que se nota é que o trem
que o delegado consegue é com o intuito de enviar Chico e sua família para um campo de
concentração, local onde os retirantes pobres eram enviados, e a promessa do governo era de
que lá, as pessoas necessitadas teriam moradia e alimentação, mas na verdade o que se
entende no desenvolver da obra é que a finalidade era outra.
Esse acontecimento é muito importante a ser analisado pois fica muito claro o fator do
descaso com as pessoas em situação de pobreza, uma vez que o real motivo para enviarem
essas pessoas para o campo era o de impedir que elas entrassem na cidade, assim eles
reuniram eles nesse local enganando-os sobre uma vida melhor. Essa é uma realidade muito
recorrente na história, as negligências com necessidades básicas, sem nenhuma expectativa
de vida, e no fim o governo ainda priva essas pessoas de buscarem por uma vida melhor. Isso
tudo ocorre porque, existe um desconforto em ter uma população retirante e pobre dentro do
cenário urbano, tudo o que é tirado dessa população não é em vão, é feito com o intuito de
que as desigualdades sejam mais intensificadas, a separação entre pobre-rico seja mais
discrepante.
Por fim, a obra finaliza quando a família de Chico Bento chega ao campo de
concentração, e lá a professora Conceição está trabalhando como voluntária, ela ajuda eles e
se oferece para ser madrinha e cuidar do filho caçula do casal: Manuel, apelidado de
Duquinha. Além disso, Conceição também compra passagem para que a família consiga se
deslocar até São Paulo e tente novas oportunidades de emprego e de moradia, em busca de
uma melhor qualidade de vida.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Queiroz, Rachel: O Quinze. 58 Ed. São Paulo. Ed Siliciano/ 1993.

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