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UFF - UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE

RESENHA DO LIVRO: “CAPITÃES DA AREIA” DE JORGE AMADO

ALUNA: JÉSSICA MADEIRA BARBOZA


2022
O livro “Capitães da areia”, publicado em 1937, tem como autor o ilustríssimo Jorge
Amado, nascido em 10 de agosto de 1912 na cidade de Itabuna e falecido no dia 6 de agosto
de 2001 em Salvador. Foi um dos maiores escritores brasileiros, sua atuação literária, assim
como Érico Veríssimo, Rachel de Queiroz, fazia parte da segunda geração do modernismo,
que eram voltadas para romances regionais com fortes críticas sociais, suas obras possuíam
duas fases de caráter distintos, a primeira de cunho social/político e a segunda regionalista.
A contextualização é indispensável para a compreensão do livro, tendo em vista que,
Jorge Amado era filiado ao Partido Comunista Brasileiro - PCB, motivo pelo qual foi
perseguido e exilado, “Capitães da Areia” assim como todas as suas obras possuía duras
denúncias sociais, o que levou a diversos exemplares do livro a serem queimados em praça
pública pelo regime da época - no período estava em vigência no Brasil, o Estado Novo -
governo ditatorial de Getúlio Vargas, que censurava tudo o que poderia remeter ao
comunismo ou a ideias revolucionárias.
“Capitães da Areia” tem como assunto principal a história de crianças abandonadas
que viviam em um trapiche nas ruas de Salvador, na Bahia, o que explica o título do livro. O
romance modernista conta com uma estrutura bem delimitada, o início da obra é composto
por diversas cartas à Redação do Jornal da Tarde para debaterem o caso das crianças em
situação de rua, como uma introdução, em seguida o livro é dividido em três capítulos “Sob a
lua num velho trapiche abandonado”; “Noite de grande paz, da grande paz dos teus olhos” ;
“Canção da Bahia”, “Canção da Liberdade”.
Assim como normalmente acontece na literatura modernista, ao contar a história das
crianças, Jorge Amado desenvolvia críticas sociais, e nota-se logo de início, o abandono
dessas crianças tanto pela família quanto pelo Estado, caso que acontece muito na sociedade
até nos dias atuais, e tem por motivos, diversos fatores: a pobreza dos pais, a gravidez
indesejável na adolescência, entre outros; e da parte do governo, a negligência com a
população pobre que faz parte do sistema capitalista vigente.
Outro fato que está ligado diretamente ao primeiro, é que as crianças eram obrigadas a
viverem como adultos, pois não tinham quem cuidasse e orientasse eles, por isso suas
atitudes eram muitas vezes agressivas e erradas, como por exemplo, o roubo - crime muito
praticado pelo grupo. Essa é uma problemática muito comum, principalmente nas cidades,
onde pessoas que se tornam criminosas são aquelas marginalizadas, que ficam à margem da
sociedade, sem oportunidades e uma vida digna. Se os “capitães da areia” não tivessem sido
abandonados tanto pelos seus familiares quanto pelo Estado, provavelmente não estariam em
tais condições.
Esses problemas são frutos do descaso do Estado com a população pobre, pois por lei
todos deveriam ter direitos básicos concedidos pelo governo, como moradia, alimentação,
saúde e educação de qualidade. Porém, como na prática isso não acontece, as consequências
são evidentes, por falta desses direitos os problemas contados na obra são entendidos, muitos
casos de abandono acontecem, como já mencionado anteriormente, por gravidez indesejada
na adolescência e principalmente por falta de condições financeiras de manter a criança. O
que poderia ser evitado se as pessoas tivessem acesso a esses direitos, que o governo tem
como responsabilidade, pois a pobreza proporciona uma qualidade de vida ruim, e muitas
vezes nenhuma, por isso fica inviável ter um filho ou uma família sem ter acesso a
necessidades básicas.
As cartas apresentadas ao jornal que é inserido na início do livro revelam e confirmam
o que foi escrito anteriormente, principalmente a carta da mãe, uma das mais marcantes pois
ela relata a realidade dos reformatórios para onde o Juiz de Menores enviava as crianças
pobres, denunciando os maus tratos e a precariedade. O que acontece muitas vezes na vida
real, pois o reformatório em muitos casos é uma opção do governo de tentar resolver o
problema dos menores criminosos, na qual o tratamento é desumano, como por exemplo, o
que ocorre com Pedro Bala, que é torturado no reformatório.
Outro episódio marcante que pode se somar a esse caso citado acima, é o de Dora, a
única menina do grupo, era uma personagem muito importante pois tudo fazia pelos outros
meninos, era amiga, companheira e muitas vezes fazia o papel de mãe. Após a morte de sua
mãe pela doença que tomou a cidade, ela foi enviada para um orfanato e quando Pedro Bala
foge do reformatório, resgata Dora nesse abrigo, só que ela sai muito fraca e desnutrida, o
que leva a menina à morte. Por falta de cuidados e uma boa alimentação a menina perdeu a
vida, isso demonstra também o descaso do governo, pois a precariedade desses abrigos e
orfanatos é devido a negligências estatais.
Ainda sobre as problemáticas encontradas na realidade dos “capitães da areia”, faz-se
necessário abordar sobre o grande problema da sexualidade precoce existente na vida
daquelas crianças. Como já foi muito colocado até aqui, por terem sido marginalizados, o
grupo levava uma vida de adulto, falavam como adultos e agiam como adultos, muitos deles
também tinham relações sexuais, eram crianças e adolescentes tendo vida sexualmente ativas,
inclusive muitos deles com mulheres mais velhas, como por exemplo, o personagem Gato
que se envolveu com uma prostituta de 35 anos, chamada Dalvan, sendo que ele tinha apenas
14 anos, ou seja, de forma precoce.
É importante ressaltar que mesmo que os “capitães da areia” vivessem como adultos,
eles ainda eram crianças, que precisavam passar pelas suas idades fazendo coisas próprias
dessas idades, mas infelizmente a condição de vida deles não os permite viver de outra forma.
Mas em várias partes do livro, percebe-se que aquelas crianças, mesmo vivendo como
maiores, no fundo ainda eram crianças, uma delas, muito emocionante, é o episódio ocorrido
no carrossel, onde um dos meninos integrante do grupo, o Sem-pernas, trabalha mas convida
o resto dos amigos para brincarem quando não tivesse ninguém, e todos brincaram e
aproveitaram o brinquedo, como crianças.
“Capitães da areia” termina diferente para cada personagem, após a morte de Dora, o
enredo do livro se direciona aos principais membros do grupo já adultos. João Grande vira
marinheiro, Volta-Seca cangaceiro, Pirulito começa a fazer parte de uma ordem religiosa e
Sem-Pernas comete suicidio para não ser preso. Por último, o integrante Pedro Bala abandona
os “capitães da areia”, mas ele não deixa de ser o líder do grupo, apenas volta a sua vida de
operário e termina a obra inacabada do pai.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
AMADO, Jorge. Capitães da Areia. 83 ed. Rio de Janeiro: Record, 1996

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