Você está na página 1de 2

Bom dia, professora e colegas.

Hoje vou apresentar-vos o livro “Capitães da Areia, da autoria do


escritor brasileiro Jorge Amado, publicado pela primeira vez em 1937.
Jorge Amado nasceu na Baía, em 1912 e viveu uma adolescência agitada, primeiro, na Baía, no
início dos seus estudos, depois no Rio de Janeiro, onde se formou em Direito e começou a dedicar-se
ao jornalismo.
É nesta cidade que publica, aos 19 anos, seu primeiro romance, intitulado “O País do Carnaval”
(1931).
Foi preso duas vezes por apresentar ideais socialistas e comunistas, vivendo exilado em vários
países de onde se destacam Argentina, Uruguai e França.
Possui uma vasta obra literária, com aproximadamente 45 livros publicados, romances, poemas,
contos, crónicas, peças de teatro e literatura infantil.
Os problemas sociais orientam a sua obra, mas o seu talento de escritor afirma-se numa
linguagem rica de elementos populares e de grande conteúdo humano, o que vai superar a vertente
política. O seu sentimento humano e o amor à terra natal inspiram textos onde é evidente a beleza da
paisagem, a tradição cultural e popular, os problemas humanos e sociais.
Fecundo contador de histórias regionais, Jorge Amado definiu-se, um dia, "apenas um baiano
romântico, contador de histórias", tendo-lhe sido atribuído o Prémio Estaline, em 1951, o Prémio Pablo
Neruda em 1959 e o Prémio Camões em 1994.
Jorge Amado, é o autor mais adaptado da televisão brasileira, uma vez que as suas obras
inspiraram novelas, com destaque para “Dona Flor e seus dois Maridos”, “Tieta do Agreste”, “Gabriela,
cravo e canela”. Adicionalmente alguns dos seus livros foram adaptados ao cinema, como é o caso da
obra “Capitães da Areia”, que deu origem ao filme lançado em 2011 com o mesmo título.
Este escritor morreu na capital baiana, Salvador, no dia 6 de agosto de 2001, com 89 anos.
A escolha do romance “Capitães da Areia” resultou da curiosidade em descobrir a relação
existente entre dois nomes que, associados, originaram um título tão misterioso. Para além disso, nunca
tinha lido nenhuma obra de Jorge Amado e queria partilhar com os meus colegas a realidade vivida no
Brasil, país onde se verifica um grande desfasamento entre classes mais privilegiadas e as mais
miseráveis.
A obra tem início com a exposição de uma sequência de textos publicados no Jornal da Tarde,
de Salvador. O primeiro deles é uma notícia que tem como título “Crianças Ladronas”. No corpo da
notícia, narra-se o assalto praticado pelos Capitães da Areia, grupo de meninos de rua abandonados e
marginalizados, que aterrorizam Salvador da Baía, à residência do Comendador José Ferreira. A notícia
termina com um pedido de ajuda à polícia para tomar as providências necessárias para acabar com o
problema da delinquência juvenil.
Os Capitães da Areia refugiavam-se num trapiche abandonado no meio do areal, sendo este
termo definido pelo narrador como uma espécie de armazém onde se guardavam produtos para
exportação. Logo após a descrição deste local, é apresentado o líder do grupo, Pedro Bala, jovem de
quinze anos, com uma cicatriz no rosto, fruto de uma luta com o antigo chefe dos Capitães da Areia,
Raimundo, que lhe dera uma navalhada. Pedro, que possuía uma agilidade espantosa, ganhou a luta e
expulsou Raimundo do grupo.
Entretanto, são apresentados os mais importantes membros dos Capitães da Areia: João
Grande de treze anos, que é o mais alto, o mais forte, o protetor dos menores, apesar de ser um pouco
parvo. Logo depois, é introduzida a personagem Professor, o intelectual, que gostava de roubar livros,
de os ler no trapiche à luz de vela e de recontar histórias aos amigos.
A vida destes jovens era tão violenta que ficaram completamente encantados com um carrossel
decadente, montando nos cavalinhos depois do público ir embora. O momento em que os Capitães da
Areia brincam no carrossel desperta-lhes uma sensação mágica, fazendo-os sentir a alegria de uma
criança que se deixa enfeitiçar por um brinquedo dum parque de diversão.
A dada altura, os factos narrados centram-se em Dora, rapariga entre os 13 e os 14 anos, que
passa a ser a única menina integrante dos Capitães da Areia. O ingresso dela causa inicialmente
grande tensão, mas acaba por ser acolhida dentro do grupo, onde assumirá o papel de mãe, de irmã e,
finalmente, de noiva e esposa de Pedro Bala.
Ela e o seu irmão, Zé Fuinha perderam os pais devido à varíola e ficaram órfãos. Andavam pela
rua quando conheceram João Grande e Professor, os quais decidiram acolhê-los no trapiche.
Com o passar do tempo, Pedro Bala torna-se notícia de jornais de partidos de esquerda,
publicados clandestinamente. Não é mais tratado como o líder dos Capitães da Areia, é o “militante
proletário, o camarada Pedro Bala, que era perseguido pela polícia de cinco estados como organizador
de greves, como perigoso inimigo da ordem estabelecida”. Pedro Bala foi preso, mas conseguiu fugir.
O objetivo de Jorge Amado ao escrever este livro foi mostrar que a brutalidade dos Capitães da
Areia decorre da problemática social, de famílias desestruturadas e da inaptidão do Estado para lidar
com a questão do abandono de menores.
A ação do grupo, no final da obra, deixa de ser apenas a da delinquência e passa para a da
transformação política da sociedade.
Aconselho vivamente a todos a leitura deste romance, já que é abordada a história de jovens
comuns que partilham a mesma angústia, a mesma tristeza e a mesma frustração de uma vida
desencantada e amarga. Neste sentido, “Capitães da Areia” está dotado de uma intemporalidade atroz,
já que que mesmo nos dias de hoje existem ainda muitas crianças de rua a viver no mundo inteiro, que
são vítimas de exploração e abusos permanentes ao longo da sua vida.
Antes de dar por terminada a minha exposição oral, gostaria de vos mostrar um excerto do filme
de 2011 baseado nesta obra.

Você também pode gostar