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Resumo

Capitães da areia é o nome de um grupo de meninos de rua que circulam pelas ruas de
Salvador – BA. Sendo todos eles menores de idade, têm as suas vidas marcadas, de
maneira geral, por desventuras familiares, as quais resultam sempre na entrada de cada
um para o grupo, que é formado por mais de cem garotos (de início, apenas meninos).
Ao longo da narrativa, algumas histórias particulares ganham as páginas. Ao passo em
que as narrativas individuais são somadas, as histórias do bando (assim são chamados
por parte da comunidade soteropolitana) também ganham corpo. Os garotos sobrevivem
basicamente a partir de furtos que cometem na cidade. Após cada dia, retornam para o
lugar onde vivem: o trapiche – um grande galpão abandonado que fica próximo à praia.
Traçando o perfil de alguns membros, é possível notar que cada um tem uma função
específica dentro do grupo. As funções se associam sempre às características físicas ou
psicológicas dos garotos.
Pedro Bala é o líder do bando. Menino ágil, com um forte senso de justiça. Órfão desde
que se conhece como pessoa, Bala sabe sobre o passado de seu pai, um líder operário
assassinado durante uma greve. A Informação é trazida por João de Adão, organizador
de greves que apresenta a Bala os ideais das lutas dos trabalhadores.
Professor é o braço direito de Bala no comando do grupo. É marcado pela inteligência,
gosto pela leitura (era o único do bando que sabia ler) e talento artístico.
Gato é dotado de malandragem. Tem a sexualidade aflorada, se envolvendo, ao longo
da obra, com uma prostituta mais velha que ele: Dalva.
Sem-Pernas é o personagem mais complexo na obra. Seus conflitos internos são
demasiadamente mais profundos que os dos demais. o apelido remete a uma deficiência
física.
Volta-Seca é a representação da cultura sertaneja. Admirador declarado do cangaceiro
Lampião, tem atitudes que fazem os próprios Capitães sentirem medo.
João Grande é amável, dócil, por isso é marcado pelo cuidado com os mais frágeis
dentro do grupo.
Boa-Vida tem uma malandragem diferente da do Gato. Enquanto este usa seus dotes
para conquistar mulheres, aquele se esquiva do trabalho, prezando pelo constante
descanso.
Pirulito é a instância religiosa da narrativa. Seu sonho é ser padre.
Dora é a única menina do grupo. Seus pais haviam morrido em decorrência de uma
epidemia de varíola (doença chamada popularmente de bexiga). Ela entra para o bando,
a princípio, a contragosto por parte dos garotos. Com o passar do tempo, ganha o
carinho e a admiração de todos, já que passa a exercer papel de cuidadora (uma analogia
direta à figura de mãe). Dora e Pedro Bala iniciam um romance.
Dois episódios merecem destaque no enredo. Numa ação, Sem-Pernas deveria sondar
uma família para posteriormente passar as informações para os Capitães. De posse
dessas informações, os membros do grupo roubariam a casa. Porém, Sem-Pernas acaba
criando afeto pela família, dividindo-se entre o carinho ao qual estava exposto e à
lealdade ao bando. Por fim, opta pelo grupo. Tal opção o torna ainda mais fechado em si
mesmo.
Já não saberia lidar com a ideia de ter aberto mão dos cuidados de uma mãe.
Outro momento importante se dá em uma ação na qual Pedro Bala e Dora são
capturados e presos. Ele é encaminhado a um reformatório, onde é submetido a
violência física e psicológica, e ela é levada a um orfanato. Após Bala conseguir fugir,
junta-se novamente ao bando e organiza o resgate de Dora. O plano funciona, mas a
menina já estava muito doente. Ela morre, vítima de uma intensa febre.
Sua morte se associa diretamente à mudança vivida pelos Capitães. A narrativa se
encerra com a narração do desfecho dos principais membros do bando. Professor
consegue ir para o Rio de janeiro e passa a viver como artista. Pirulito entra para uma
ordem religiosa. Volta-Seca realiza o sonho de viver como cangaceiro do bando de
Lampião. João Grande segue a vida como marinheiro. Sem-Pernas, para não ser pego
pela polícia, se suicida, atirando-se do Elevador Lacerda. Por fim, Pedro Bala abandona
o grupo. Decide seguir os passos do pai, tornando-se um dos principais líderes grevistas
da época.

A Relação Comportamento dos Garotos X Oportunidade Social

Os capitães apresentavam um comportamento violento e criminoso, cometendo furtos,


estupros, alguns assassinatos, entre outros atos. Segundo a obra, todos os integrantes do
bando sofreram com o descaso e a falta de oportunidades, sendo vítimas, principalmente
do preconceito e do abandono. Para garantir sua sobrevivência e para, de certa forma,
devolver a violência imposta pela sociedade, o grupo optou por esse comportamento. A
falta de oportunidades, assim, é apresentada pela obra como causa principal da mudança
comportamental negativa dos garotos. Não diminui os danos que eles causaram, apenas
explica o motivo que os levou à adotar essa atitude. Há, portanto, uma forte influência
do determinismo nessa relação, pois o meio foi um grande agente influenciador.

O Papel da Igreja

A Igreja, teoricamente responsável por trazer conforto espiritual para os necessitados e


acolher os oprimidos, no caso os garotos, se mostra como uma instituição indiferente
aos problemas sociais durante a obra, não auxiliando o bando em nenhum sentido, nem
mesmo dando conselhos. Há, porém, um integrante cuja conduta é diferente dos demais.
Padre José Pedro, por ter origem humilde e ter sofrido preconceito, tem uma
proximidade maior com a realidade dos meninos, não se importando em aconselhá-los e
ajudá-los da maneira que pode, dando o conforto espiritual que o resto da igreja não
ofereceu.

O Descaso do Poder Público

O descaso do poder público é claramente mostrado na obra e pode ser visto de várias
formas. Uma delas é a falta de oportunidades para os garotos que sofrem com a
desigualdade social, causada, entre outros fatores, pela próprio poder público, que
atende aos interesses das classes mais favorecidas em detrimento das menos das menos
favorecidas. As crianças então optam pelas práticas criminosas, causando problemas à
população. A segunda forma de descaso se mostra na tentativa de combate ao meninos,
tratados como criminosos cujo comportamento deve ser corrigido. Entra então o
reformatório, que trata de forma desumana os garotos, com a falsa intenção de torná-los
cidadãos corretos. Não prevenindo o problema e tentando consertá-lo da pior maneira
possível, o poder público mostra o seu enorme descaso para com a população.

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