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areia.
Como podemos perceber ao longo do livro Capitães da areia (AMADO,
1937), os membros do grupo cometem diversos crimes ao desenrolar de toda a narrativa,
isso graças ao grande déficit educacional devido ao abandono estatal e familiar. A falta
da educação formal e parental impacta diretamente na vida dos garotos, pois são de
extrema importância para o desenvolvimento social e intelectual.
A educação formal possui um método de ensino pré estabelecido, segue leis,
regras e valores, é realizada em uma instituição, afastando as crianças da violência das
ruas, além de dividir os estudantes por nível de conhecimento e idade, gerando assim, um
ambiente próprio para a aprendizagem. Além de desenvolver um senso crítico que
permanece com o indivíduo por toda vida e o auxilia nas tomadas de decisões, tanto
coletivas quanto individuais.
Segundo Gohn (2006, p. 29), a educação “informal opera em ambientes
espontâneos, onde as relações sociais se desenvolvem segundo gostos, preferências, ou
pertencimentos herdados”, e na não-formal, os dados não são priorizados, e sim a
aprendizagem através da convivência. Levando isso em consideração, podemos
categorizar a educação familiar como informal, já que surge a partir das relações
cotidianas e tem foco no desenvolvimento do caráter e da ética.
Ao decorrer da narrativa, existem diversas situações que colocam a vida dos
garotos em risco que poderiam ser facilmente evitadas caso possuíssem um
acompanhamento estatal e/ou familiar, como a ingestão de bebidas alcoólicas, o uso de
cigarros, a realização de furtos e a realização de atos sexuais de forma precoce, abrindo a
possibilidade da contração de infeções sexualmente transitiveis, doenças hepáticas e
pulmonares, além de outros fatores.
Se faziam tudo aquilo é que não tinham casa, nem pai, nem mãe, a vida deles era
uma vida sem ter comida certa e dormindo num casarão quase sem teto. Se não fizessem
tudo aquilo morreriam de fome, porque eram raras as casas que davam de comer a um,
de vestir a outro (AMADO, 1937).
Em paralelo com a realidade, podemos citar um estudo feito pelo Tribunal de
Contas do Estado do Rio Grande do Sul (TCE-RS) junto ao professor Daniel Cerqueira,
do Instituto de Pesquisas Econômicas Aplicadas (Ipea) do Rio de Janeiro, expondo que
“Para cada 1% a mais de jovens entre 15 e 17 anos nas escolas, há uma diminuição de 2%
na taxa de homicídio do município”.
Porém, isso não se limita apenas na ficção, na sociedade em que vivemos, muitas
instituições que seriam responsáveis por acolher e educar jovens infratores e/ou
abandonados, acabam por violentá-los, como foi o caso da fundação CASA (Centro de
Atendimento Socioeducativo ao Adolescente), em Franca, no interior de São Paulo. O
caso veio à público em fevereiro de 2021, onde jovens de 12 à 18 anos eram abusados
pelos agentes socioeducativos e por outros adolescentes. As agressões eram das mais
diferentes naturezas, desde socos e pontapés a violências psicológicas e sexuais. “Estão
chegando muitos adolescentes mais novos e os mais velhos abusam. Quando tem
problema fora da Fundação, eles pagam lá dentro”, relata um funcionário do
estabelecimento que prefere não se identificar.
Esse método de ensino adotado pelas instituições socioeducativas já se
comprovou ineficazes, porque como dito anteriormente, as agressões deixam traumas por
toda vida, além de que um levantamento feito pelo Poder Jurídico de Mato Grosso no
Complexo Socioeducativo do Pomeri, em Cuiabá, revela que 71% dos adolescentes
envolvidos com atos infracionais retornam a vida de delitos mesmo após os reformatórios.
Além de que seis a cada 10 jovens apreendidos são reincidentes.
REFERÊNCIAS
AMADO, Jorge. Capitães da Areia. 92ª edição. Rio de Janeiro: Editora
Record,1988.
GOHN, Maria da Glória. Educação não-formal, participação da sociedade civil e
estruturas colegiadas nas escolas. Ensaio: aval. pol. públ. Educ., Rio de Janeiro, v. 14, n.
50, p. 27-38, jan./mar. 2006.
CERQUEIRA, D.; RARIANE, M.; GUEDES, E.; COSTA, J. S.; BATISTA, F.;
NICOLATO, F. (2016). Indicadores Multidimensionais de Educação e Homicídios nos
Territórios Focalizados pelo Pacto Nacional pela Redução de Homicídios. Brasília: Ipea
2014.Pesquisa Especial de Tabagismo (PETab). Instituto Brasileiro de Geografia e
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