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Capitães de Areia: Análise literária e cinematográfica

Autor1: Fairuz Bergh Fe Duarte de Carvalho RA: 820276447 Letras Português/Inglês -


Universidade São Judas

Autor 2: Vitoria Hamdan RA: 321214064 Gestão de Recursos Humanos –UNA Barreiros

Professores: Cynthia Pichini e Aline Michaelly

Resumo

A obra inicia com uma série de reportagens através de cartas realizadas para o Jornal da Tarde, de forma
explicativa de um grupo de menores abandonados na cidade de Salvador. A primeira reportagem descreve
o assalto e um pedido de ação da polícia, seguido das cartas do Dr. Juiz de Menores, da Sra. Maria
Ricardina, costureira, mãe de um menor que passou pelo reformatório, do Padre José Pedro e do Diretor
do Reformatório, com seus relatos de forma construtivas e reprodutivas que caracterizam os menores de
acordo com as suas ideologias. A narrativa de furtos e acontecimentos que envolvem os personagens, dão
introdução à história em função de mostrar o destino de cada integrante do grupo. Capitães de Areia,
constitui em uma reflexão da realidade e discurso representado por problemáticas sociais, políticas e
econômicas sob um olhar marxista, em que o embate ideológico para uma época que o neofacismo, pós 2º
guerra mundial que fomentavam discursos totalitário, antidemocrático, racista e xenófobo que
concentravam a favor do poder do Estado contra as minorias ainda existente em todo o país. Jorge Amado
mostra a violência e os assaltos com um olhar da ``elite´´ com desprezo daqueles meninos que utilizavam o
roubo como fonte de sobreviver. A religião representada tanto do padre quanto da mãe de santo um mau
exemplo por ajudar os abandonados. Capitães da Areia é uma denúncia em relação ao abandono social e
afetivo, a pobreza, a marginalização e a discriminação que está presente até os dias de hoje.

Palavras-chave: Discurso, problemáticas sociais, Denúncia. Capitães de Areia.

1.Narração do livro

Pedro Bala é o chefe dos Capitães de Areia, e aos 5 anos de idade, foi parar na rua após o assassinato de
seu pai, um operário revolucionário. João Grande, foi amigo de seu pai e também fazia parte do bando, que
se instalava em um trapiche próximo uma praia. Ele participava também do bando até fim. Tornando-se um
marinheiro, partindo de Salvador sob a promessa de um retornar.

Professor, era um garoto que tinha aptidão artística, além de saber ler e contar histórias para os outros
integrantes e criava narrativas de acordo com a suas leituras. Gato, era considerado um dos mais bonitos e
se apaixonou por uma prostituta chamada Dalva, que partiu para Ilheus com sua amante e aplicando
golpes, além de envolvimentos com prostitutas.

Sem Pernas era um garoto que mancava e utiliza de sua deficiência para articular os assaltos alegando ser
aleijado e ganhando a confiança dos moradores de Salvador e passando todas as informações ao bando.
Em um de seus assaltos, deu errado e acabou morrendo de uma altura à vista de pessoas em uma calçada.
Volta Seca se dizia ser afilhado de Lampião e tinha uma fascinação pelo grupo, mas era muito preguiçoso e
participava pouco, o que futuramente se tornou um grande cangaceiro.

Pirulito era religioso e sempre pensava nos crimes que cometia, mas foi um dos mais malvados, o
futuramente acabou se convertendo pelas palavras do Padre José. Boa Vinda era o que muitas vezes trouxe
o entretenimento, tocava violão, mas era um verdadeiro malandro. Don'aninha era a mãe de santo, ela
sabia qual era o esconderijo e ganhara a confiança dos meninos, além de ser uma curandeira em
momentos de doenças.

Zé Fuinha e Dora perdera sua mãe para uma doença, a Varíola, que estava no auge da epidemia na cidade,
o qual popularmente era conhecida com Bexiga e por estarem sem casa e sem como se alimentar,
acabaram se integrando ao bando. Um dos garotos, o Almiro também acabou contraindo a doença e
morreu.

No início, os garotos tentaram um relacionamento com Dora, que foi impedido por Pedro Bala, João
Grande e o Professor, que também se afeiçoou pela menina. Porém, o romance deu-se a Pedro Bala.
Equeziel se desentendeu com Pedro Bala e foi expulso dos Capitães de Areia, logo liderava outro grupo de
assaltantes. Pedro e Dora foram presos após um assalto, ele encaminhado para o reformatório e Dora para
um orfanato. Nesse episódio, foi Pedro quem protegeu os garotos não serem presos, que providenciaram o
resgate de Pedro e de Dora. Durante o período de Pedro no reformatório, sofreu maus-tratos, como se
fosse um presídio, que na época não tinha pespectiva de reeducação, condicionado ao logo de sua vida
como um marginal. Com a morte de Dora, o bando se desmonta e é assim que vai dando fim a cada um dos
personagens, seguindo caminhos diferentes.

O padre José Pedro é acionado pelo seu superior, o qual é acusado de pecador por compactuar com os
garotos, e não aceitando e se manifestando sobre as condições de miséria, fome e a falta de afeto. Ele se
manteve firme com os Capitães de Areia até o fim e posteriormente acabou se envolvendo com os
cangaceiros aliados de Lampião.

Pedro Bala deixa os Capitães de Areia e passa ser um líder grevista como seu pai deixando a
responsabilidade sob o comando de Barandão.

2. Comparação livro com o filme

Para começar a analisar as diferenças entre o filme e o livro, podemos citar as cartas enviadas ao “Jornal da
Tarde” referentes aos Capitães da Areia, devido a uma reportagem de um assalto dos meninos vadios, que
são exibidas no início do livro.

Carta do Secretário do Chefe de Polícia- passando a responsabilidade da solução dos furtos e assaltos dos
Capitães para o Doutor Juiz de Menores.

Carta do Doutor Juiz de Menores- demonstra que o juízado de menores não persegue e prende
delinquentes e sim os designa ao local que devem cumprir pena, o Reformatório de Menores.

Carta de uma Mãe Costureira- delata como são tratadas as crianças que são levadas ao reformatório, e cita
o Padre José Pedro como testemunha do que ela mesma diz.

Carta do Padre José Pedro: confirma o que a costureira havia dito.

Carta do Diretor do Reformatório: se queixa sobre a carta da mãe e do padre, e convida um redator do
jornal que vá pessoalmente ver a maneira como os meninos são tratados e que seja publicado uma matéria
sobre.
No filme vemos os meninos lendo apenas a reportagem sobre os assaltos.

Na leitura temos mais clareza de como a narrativa dos meninos e a situação que eles vivem tangem várias
questões sociais e políticas, e como ninguém se responsabiliza para a solução do problema.

A história do Padre José Pedro é pouco explorada no filme. Ele representa um apoio que os meninos não
recebem da sociedade. Ele era um dos únicos a vê-los como crianças abandonadas e marginalizadas, a
entender que a vida que levavam era consequência da desigualdade econômica e social, foi visto como um
comunista pelas suas feitorias relacionadas aos meninos e lhe foi negado a paróquia que há anos almejava,
por consequência de ter auxiliado um Capitão da Areia a voltar para sua família depois de descobrir que
estava com bexiga e não queria ser levado pelo governo. As crianças o consultavam quando havia
problemas e não sabiam como agir e o mantinham por perto, com confiança. Porém no filme o Padre é
apresentado apenas duas vezes apenas interagindo com as crianças e não sendo um grande apoiador como
no livro.

A forma como os meninos são capturados é divergente entre o livro e o filme. No livro Pedro, Dora e 3
outros capitães entram em uma casa em que o dono já havia percebido a movimentação das crianças ao
redor e armou uma emboscada para prendê-los no quarto que entrariam pela janela.

No filme eles são presos em uma briga com Ezequiel, um ex capitão da areia que foi expulso por estar
roubando. Ezequiel havia dado uma surra em Bala, que por sua vez foi com todos os capitães revidar, mas
chegando lá a polícia também estava e conseguiram capturar ele e a Dora. Pedro foi para o reformatório e
Dora para o orfanato, e isso procede no livro e no filme.

No reformatório Bala foge com uma corda que lhe foi deixado, pelos seus companheiros, no canavial que
trabalhava, isso na leitura. Já no filme acontece um confronto entre os menores do reformatório e os
guardas, no canavial e Pedro foge com uma pistola.

Volta-Seca, um dos capitães, tinha Lampião como padrinho na história do livro, e o acompanha pelos
jornais e sonha em um dia os encontrar e se tornar um cangaceiro para lutar contra os guardas e oficiais da
polícia dos quais ele sente tanto ódio. Na leitura ele consuma esse desejo e se torna uma lenda por entre os
cangaceiros, até ser preso.

Pedro Bala tinha como pai um grevista, loiro, morto á bala, que não é nem citado no filme. Saber da história
de seu pai deu a Pedro um sentido e um caminho a percorrer na vida, ele queria lutar pelos direitos dos
trabalhadores.

O Sem-Pernas tomado pelo ódio da vida e das injustiças, da falta de carinho que não recebeu em toda vida,
e da raiva que tinha dos oficiais, provocou alguns guardas para que esses fossem atrás dele. Correndo
rápido para que não consigam alcançá-lo e nem ao menos encostar nele. Pulou de um lugar alto e morreu.
No filme, Professor que narra como será a vida de cada um ao terminar da trama, não dá ao Sem-Pernas
um futuro.

Autor da obra: Jorge Amado

Jorge Amado nasceu em 10 de agosto de 1912 em Itabuna/BA e quando criança viveu entre sua cidade
natal e Salvador. Ele foi alfabetizado pela sua mãe, que lia reportagens de jornais e completou seus estudos
em escolas internas, e somente no ginásio ele desenvolveu suas habilidades como escritor.

Em 1931, publicou seu primeiro romance “O país do Carnaval” aos 18 anos. No mesmo ano mudou-se para
o Rio de Janeiro, ingressando na Faculdade de Direito, mas nunca exerceu a profissão.
Filiou-se ao PCB (Partido Comunista Brasileiro), sendo preso após 4 anos sob acusação de participar da
Intentona Comunista, um levante organizado para derrubar Getúlio Vargas, o qual Júlio Prestes era o líder
com ajuda de Olga Benário.

Em meados dos anos 30 em uma viagem pelo Brasil, América Latina e EUA, escreveu Capitães de Areia
(1937) e ao retornar foi preso novamente por supressão da liberdade política, decorrente da proclamação
do Estado Novo (1937-1950) instituído por Getúlio.

Ele foi considerado um grande intelectual comunista e representou em várias obras o seu pensamento de
retratar a pobreza, o negro, as diferenças sociais e políticas e intolerância religiosa.

Jorge Amado foi exilado na Argentina e Uruguai por ser perseguido pelo Estado Novo e posteriormente
morou em Paris e ao ser expulso morou em Praga. O exilio na antiga União Soviética, foi investigado pela
CIA e pelos serviços de segurança soviética.

Suas obras são significantes na moderna ficção brasileira e chegou a ocupar a cadeira de número 23 na
Academia Brasileira de Letras. Foi casado por 2 vezes, a primeira esposa Matilde Garcia Rosa e Zélia Gattai.

Seu estilo literário sempre abordou o cunho político, social e regionalista segundo opinião literário Alfredo
Bosi. Foram publicadas suas obras em 55 países, traduzidas em 49 idiomas, além de prêmios ao redor do
mundo. Porem, no passado foi censurado tanto no Brasil, em 1937, Capitães de Areia como na antiga União
das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS) sob alegação de pornografia.

Em 06 de agosto de 2001, Salvador, BA, aos 88 anos, deixou um legado de luta social através de suas obras,
liberdade linguística, crítica social e um grande escritor que deixou portas abertas para o Modernismo.

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