Capitães da Areia - Estrutura, Estilo e Linguagem do Livro
Estrutura: Capitães da Areia é dividido em três partes: o I. Sob a lua, num velho trapiche abandonados - composta de 11 capítulos relativamente independentes, como se fossem contos, e mostram as ações e características dos membros do grupo. A autonomia dos capítulos dessa parte do livro pode ser comparada com Vidas Secas (“romance desmontável”). o II. Noite da grande paz, da grande paz dos olhos teus – composta de 8 capítulos, mostra a história de amor entre Pedro Bala e Dora, até a morte dela. o III. Canção da Bahia, canção da liberdade – composta de 8 capítulos, mostra a transformação de Pedro Bala em líder comunista revolucionário, depois da morte da Dora. Também mostra o destino dos outros membros dos Capitães da Areia. O objetivo do autor é fazer o leitor ter simpatia pela situação dos meninos de rua e pelo povo sofrido de Salvador. Para isso, ele usa uma linguagem poética e lírica, a começar pelos títulos das partes do livro. Quando se trata de reproduzir as falas e discursos dos personagens, há dois níveis de linguagem: o a linguagem culta e formal, que é a linguagem da classe dominante (a burguesia) e daqueles que a defendem (as autoridades e a imprensa). Essa linguagem está associada à Cidade Alta e suas instituições. o a linguagem coloquial e popular (que contém gírias, provérbios e até palavrões) usadas pelos oprimidos (o povo humilde, sejam os trabalhadores, sejam os meninos de rua). Essa linguagem está associada à Cidade Baixa. O romance Capitães da Areia critica: o a desigualdade social (representada pela divisão entre a pobreza da Cidade Baixa e a riqueza da Cidade Alta); o a exclusão e a violência dirigida contra os meninos de rua (como se fossem bandidos perigosos); o o preconceito racial (daí a importância da amizade entre os meninos de ruas brancos e negros, todos vivendo em péssimas condições). Capitães da Areia - Contexto Histórico Quando o romance foi publicado, em 1937, autoridades baianas queimaram exemplares em praça pública. O episódio dá o tom do clima político da época, com o início da ditadura getulista do Estado Novo a repressão começava a mostrar as suas garras. Capitães da Areia - Personagens O romance de Jorge Amado vale-se da metonímia, figura de linguagem que consiste em tomar a parte para representar o todo. Pedro Bala: Era um jovem loiro de 15 anos, que tinha um corte no rosto. Era o chefe dos Capitães da Areia, ágil, esperto, respeitador e sabia respeitar a todos. Saiu do grupo para comandar e organizar os Índios Maloqueiros em Aracaju, desejando com líder do grupo Barandão. Depois disso ficou muito conhecido por organizar várias greves, como perigoso inimigo da ordem estabelecida. Professor: Era um garoto magro, inteligente, calmo e o único que sabia ler no grupo. O professor era quem planejava os roubos dos Capitães da Areia. Depois de muito tempo aceitou um convite e foi pintar no Rio de Janeiro. Gato: Era o mais bonito e mais elegante da turma. Candidato a malandro do bando, tinha em caso com Dalva mulher das noites, que lhe dava dinheiro, por isso, muitas vezes, não dormia no trapiche. Só aparecia ao amanhecer, quando saía com os outros, para as aventuras do dia. Participava dos planos mais arriscados e era muito malandro e esperto. Tempos depois foi embora para Ilheús tentar a sorte. Volta-Seca: Imitador de pássaros e afilhado de Lampião era mulato sertanejo de alpargatas. Sem Pernas: Era um garoto pequeno para sua idade, coxo de uma perna, agressivo, individualista. Era quem penetrava nas casas de família fingindo ser um pobre órgão com o objetivo de descobrir os lugares da casa, onde ficavam os objetos de valor depois fugia e os Capitães da Areia assaltavam a casa. Seu destino foi suicidar-se atirando-se do parapeito do elevador Lacerda, pelo ódio que nutria pela polícia baiana. João Grande: Negro, mais alto e mais forte do bando. Cabelo crespo e baixo, músculos rígidos. Após a morte de seu pai, João Grande não voltou mais ao morro onde morava, pois estava atraído pela cidade da Bahia. Cidade essa que era negra, religiosa, quase tão misteriosa como o verde mar. Com nove anos entrou no Capitães da Areia. Época em que o Caboclo ainda era o chefe. Cedo, se fez um dos chefes do grupo e nunca deixou de ser convidado para as reuniões que os maiorais faziam para organizar os furtos. Ele não era chamado para as reuniões porque ele era inteligente e sabia planejar os furtos, mas porque ele era temido, devido a sua força muscular. Se fosse para pensar, até lhe doía a cabeça e os olhos ardiam. Os olhos ardiam também quando viam alguém machucando menores. Então seus músculos ficavam duros e ele estava disposto a qualquer briga. Ele era uma pessoa boa e forte, por isso, quando chegavam pequeninos cheios de receio para o grupo, ele era escolhido o protetor deles. O chefe dos Capitães da Areia era amigo de João Grande não por sua força, mas porque Pedro o achava muito bom, até melhor que eles. João Grande aprendeu capoeira com o Querido-de-Deus junto com Pedro Bala e Gato. João Grande tinha um grande pé, fumava e bebia cachaça. Não sabia ler. Era chamado de Grande pelo professor, admirava o professor. O professor achava João Grande um negro macho de verdade. Pirulito: Era magro e muito alto, um cara seca, meio amarelado, olhos fundos, boca rasgada e pouco risonha. Era o único do grupo que tinha vocação religiosa apesar de pertencer aos Capitães da Areia. Quando parou de roubar, para sobreviver vendia jornais, seu destino foi ajudar o padre José Pedro numa paróquia distante. Boa Vida: Era mulato troncudo e feio, o mais malandro do grupo. Muito preguiçoso, era o único que não participava das atividades de roubo do grupo. Às vezes, roubava um relógio ou uma joia qualquer, passando-a logo para o Bala, como forma de apoio ao grupo. Era um boa- vida, gostava de violão e de ficar fazendo nada, contemplando o mar e os barcos. Seu destino foi virar um verdadeiro malandro, que vivia a correr pelos morros compondo sambas. Dora: Tinha treze para quatorze anos, era a única mulher do grupo e se adaptou bem a ele. Era uma menina muito simples, dócil, bonita, simpática e meiga. Conquistou facilmente o grupo com seus cabelos lisos. Seus pais haviam morrido de alastrine e ela ficou sozinha no mundo com seu irmão pequeno. Tentou arrumar emprego, mais ninguém queria empregar filha de bexiguento. Aí ela encontrou João Grande e professor que a chamaram para morar no Trapiche, e logo ela já era considerada por todos como uma mãe, irmã e para Bala uma noiva. Ela participava dos roubos com os outros meninos. Morreu queimando de febre. João-de-Adão: Estivador, negro fortíssimo e antigo grevista, era igualmente temido e amado em toda a estiva. Através dele, Pedro Bala soube de seu pai. Ele tinha conhecido o loiro Raimundo, estivador que tinha morrido, baleado na greve, lutando em prol dos estivadores. Segundo ele, a mãe de Pedro falecera quando ele tinha seis meses; era uma mulher e tanto. Don'aninha: Mãe de santo, sempre os socorria em caso de doença ou necessidade. Padre José Pedro: Introduzido no grupo pelo Boa-Vida, conhecia o esconderijo dos capitães. Querido-de-Deus: Pescador, juntamente com João- de- Adão tinham a confiança dos meninos, que, por sua vez, não mediam esforços para recompensar esse apoio. Capitães da Areia - Análise Literária Há muitas referências ao candomblé em Capitães da Areia. Jorge Amado queria mostrar que, enquanto a Igreja Católica estava voltada para a burguesia branca e tinha uma posição intolerante e elitista, o candomblé estava voltado para o povo. É bom lembrar que os cultos de origem africana eram mal vistos pela elite branca e pela Igreja Católica, por isso sofriam de tempos em tempos proibições e intervenções da polícia. Um exemplo disso pode ser visto em Memórias de um Sargento de Milícias quando o Major Vidigal prende o Leonardo-Pataca por ter ido consultar um caboclo (pai-de-santo) num terreiro no Rio de Janeiro A pederastia (o homossexualismo) era comum entre os Capitães da Areia. O padre José Pedro e o Querido-de-Deus aconselharam Pedro Bala a proibir essa prática. Note-se que o alvo da perseguição e da expulsão eram os “passivos”: eram esses que tinham um comportamento visto de maneira intolerante pelo próprio Pedro Bala. Observe-se que, no livro, só puderam permanecer no grupo aqueles que ocasionalmente tinham relações homossexuais como “ativos”. Como acontece ainda hoje nos presídios e noutros ambientes masculinos fechados, os homossexuais passivos são vistos como fracos e efeminados, ao passo que os homossexuais ativos são considerados “machos” e, por isso, são tolerados. O pensamento do Pedro quando Dora morre tem um valor simbólico e poético: assim como o cometa (ou estrela) brilhava na escuridão, Dora foi uma luz na vida de Pedro Bala. Agora que ela tinha morrido, ela se tornaria a estrela-guia que iria orientar a conduta e fortalecer as decisões de Pedro daí por diante.