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Capitães da Areia

Jorge Amado

10.º - 1B
Miguel Fuzeta
Sumário
Biografia
Prémios e Títulos honoríficos
Bibliografia
Resumo de “Capitães da Areia”
Contextualização
Temática
Acção
Narrador
Personagens
Tempo
Espaço
Análise
Excertos
Biografia
● Jorge Leal Amado de Faria, nasceu em 10 de Agosto de 1912, na
Fazenda Auricídia, em Ferradas, Itabuna, no Estado da Baía.
● Passou a infância na cidade natal, em Ilhéus e na Baía (actualmente
cidade de Salvador).
● Na Baía adquiriu um vasto conhecimento da vida dos seus
habitantes, o que marcou a sua obra de romancista.
● A partir dos 10 anos, foi viver para o Rio de Janeiro, onde começou a
trabalhar, muito jovem, em jornais e revistas e dedicando-se à vida
literária.
● Publicou a sua primeira obra, “O país do carnaval”, em 1931.
● Em 1935, licenciou-se em Direito (Faculdade de Direito do Rio de
Janeiro), mas nunca exerceu advocacia.
● Filiou-se no Partido Comunista Brasileiro (PCB), tendo sido
perseguido e preso.
● Viveu exilado na Argentina, no Uruguai e na Europa (Paris e Praga).
● Foi eleito deputado federal pelo Estado de São Paulo, tendo
participado na Assembleia Constituinte de 1946 e da Primeira
Câmara Federal, após o Estado Novo, sendo responsável por várias
leis referentes à cultura.
● A partir de 1958, dedicou-se unicamente à escrita.
● As suas obras foram traduzidas em 55 países, em 49 idiomas,
existindo também exemplares em “braille” e foram adaptadas para o
cinema, o teatro, a rádio, a televisão e a banda desenhada.
● Exerceu as funções de Vice-Presidente da União Brasileira de
Escritores.
● Foi nomeado membro de várias Academias, entre as quais a
Academia Brasileira de Letras, a Academia de Ciências de Lisboa e
a Academia de Ciências e Letras da República Democrática da
Alemanha.
● Foi casado com Matilde Garcia Rosa e com Zélia Gattai.
● Faleceu em Salvador (Baía), em 6 de Agosto de 2001.
Prémios e Títulos honoríficos
Recebeu vários prémios, no Brasil e no estrangeiro.

No Brasil:

● Prémio Nacional de Romance do Instituto Nacional do Livro, 1959;


● Prémio Graça Aranha, 1959;
● Prémio Paula Brito, 1959;
● Prémio Jabuti, 1959 e 1970;
● Prémio Luísa Cláudio de Sousa, do Pen Club do Brasil, 1959;
● Prémio Cármen Dolores Barbosa, 1959;
● Troféu Intelectual do Ano, 1970;
● Prémio Fernando Chinaglia, Rio de Janeiro, 1982;
● Prémio Nestlé de Literatura, São Paulo, 1982;
● Prémio Brasília de Literatura – conjunto de obras, 1982;
● Prémio Moinho Santista de literatura, 1984;
● Prémio BNB de literatura, 1985.
No estrangeiro:

● Prémio Internacional Lenine, Moscovo, 1951;


● Prémio de Latinidade, Paris, 1971;
● Prémio do Instituto Ítalo-Latino-Americano, Roma, 1976;
● Prémio Risot d’Aur, Udine, Itália, 1984;
● Prémio Moinho, Itália, 1984;
● Prémio Dimitrof de Literatura, Sofia, Bulgária, 1986;
● Prémio Pablo Neruda, Associação de Escritores Soviéticos, Moscovo,
1989;
● Prémio Mundial Cino Del Duca da Fundação Simone e Cino Del Duca,
1990;
● Prémio Camões, 1995.
Recebeu também diversos títulos honoríficos, nacionais e
estrangeiros, entre os quais:

● Comendador da Ordem Andrés Bello, Venezuela, 1977;


● Commandeur de l’Ordre des Arts et des Lettres, da França, 1979;
● Commandeur de la Légion d’Honneur, 1984 ;
● Doutor Honoris Causa pela Universidade Federal da Bahia, 1980 e do
Ceará, 1981;
● Doutor Honoris Causa pela Universidade Degli Studi de Bari, Itália,
1980 e pela Universidade de Lumière Lyon II, França, 1987;
● Grão-Mestre da Ordem do Rio Branco, 1985;
● Comendador da Ordem do Congresso Nacional, Brasília, 1986;
● Obá do Axô do Opó Afongá, na Bahia.
Bibliografia
Ficção
● “O país do carnaval” (romance), 1931;
● “Cacau” (romance), 1933;
● “Suor” (romance), 1934;
● “Jubiabá” (romance), 1935;
● “Mar morto” (romance), 1936;
● “Capitães da Areia” (romance), 1937;
● “Terras do Sem fim” (romance), 1943;
● “São Jorge dos Ilhéus” (romance), 1944;
● “Seara Vermelha” (romance), 1946;
● “Os Subterrâneos da Liberdade” (romance), 1954;
● “Gabriela, cravo e canela” (romance), 1958;
● “ A morte e a morte de Quincas Berro d’Água” (romance), 1961;
● “Os velhos marinheiros ou o Capitão de longo curso” (romance), 1961;
● “Os pastores da noite” (romance), 1964;
● “Dona Flor e seus dois maridos” (romance), 1966;
● “Tenda dos milagres” (romance), 1969;
● “Teresa Batista cansada de guerra” (romance), 1972;
● “Tieta do Agreste”, (romance), 1977;
● “Farda, fardão, camisola de dormir” (romance), 1979.
Poesia
● “A estrada do mar”, 1938;

Contos
● “Sentimentalismo”, 1931;
● “O homem da mulher e a mulher do homem”, 1931;
● “História do Carnaval”, 1945;
● “As mortes e o triunfo de Rosalinda”, 1965;
● “Do recente milagre dos pássaros, acontecido em terras de Alagoas, nas
ribanceiras do Rio São Francisco”, 1979;
● “O episódio de Siroca”, 1982;
● “De como o mulato Porciúncula descarregou o seu defunto”, 1989.

Biografia
● “ABC de Castro Alves”, 1941;
● “O cavaleiro da esperança”, 1942.

Teatro
● “O amor do soldado”, 1947;
● “A descoberta pelos turcos”, 1994.
Memórias
● “O menino Grapiúna”, 1982;
● “Navegação de cabotagem”, 1991.

Viagens
● “O mundo da paz”, 1951;
● “Bahia Boa Terra Bahia”, 1967;
● “Bahia”, 1970;
● “Terra Mágica da Bahia”, 1984.

Juvenil
● “O gato Malhado e a andorinha Sinhá”, 1976;
● “A bola e o goleiro”, 1984;
● “O Capeta Carybé”, 1986.

Outros
● “Bahia de Todos-os-Santos” (guia), 1945.
Resumo de “Capitães da Areia”
Este romance relata a vida de um grupo de meninos órfãos ou abandonados
– cerca de cem – entre os nove e os dezasseis anos, que vive nas ruas da
cidade da Bahia, sendo conhecidos por “Capitães da Areia”.
Vestidos de farrapos, sujos, famintos de alimento e carentes de afecto, o
grupo, comandado por Pedro Bala, rouba para sobreviver, actuando
sobretudo na zona designada por “cidade alta”, onde habitam os ricos e
poderosos.
À noite, grande parte do grupo abriga-se num velho armazém abandonado
(trapiche), situado na praia, junto ao cais.
Constituído apenas por rapazes, o grupo é surpreendido pela presença de
Dora, rapariga de treze anos, que fica subitamente órfã, em consequência de
uma epidemia de varíola na cidade. Dora transforma-se na primeira “capitã”
da areia sendo, simultaneamente, a “mãe”, a “irmã” de todos os meninos e,
em particular, a “noiva” de Pedro Bala, transmitindo ao grupo o afecto e
carinho de que tanto carece.
Com o decurso do tempo, cada membro do grupo segue o seu percurso, e as
suas vidas sofrem as mais variadas metamorfoses.
Contextualização

● Corrente literária do Modernismo;

● Integra-se na fase da obra do autor designada por “Romance proletário”,


que retrata a vida rural e citadina de Salvador (Bahia), com forte apelo
social;

● Crítica ao governo vigente, às classes sociais mais favorecidas e à Igreja;

● Crítica aos problemas sociais da época (década de 30, do Séc. XX),


designadamente o abandono de crianças nas ruas da Bahia, que são
marginalizadas pela classe dominante.
Temática

● Abandono de crianças, marginalizadas pela sociedade;

● Oposição entre as classes sociais mais favorecidas e as menos


favorecidas;

● Coexistência entre o cristianismo, o candomblé e o culto de Yemanjá.


Acção

● Acção principal:

- Vivência do grupo “Capitães da Areia”, nomeadamente dos elementos


que mais se destacam.

● Acção secundária:

- Vivência dos personagens secundários.


Narrador

● Ausente

● Não participante

● Omnisciente

● Subjectivo

● Heterodiegético
Personagens
Principais:
● Pedro Bala → Tem 15 anos. É o chefe dos Capitães da Areia. É ágil e esperto.
Descobre ser filho de um líder sindical morto durante uma greve.
● João Grande → Negro, alto e forte. É pouco inteligente, mas tem um papel
importante no grupo, sendo o defensor dos mais pequenos e indefesos.
● Professor → É o único do grupo que sabe ler, além de desenhar, sendo muito
talentoso.
● Gato → É o mais elegante do grupo; Mantém uma ligação com uma prostituta,
Dalva.
● Sem Pernas → Coxeia e aproveita-se do seu defeito físico para se introduzir
em casa dos ricos, localizando os objectos mais valiosos, para, posteriormente
indicar o respeito local aos “Capitães da Areia”.
● Pirulito → Tem um grande fervor religioso.
● Boa Vida → É o mais malandro do grupo.
● Volta Seca → Afilhado de um famoso bandido, odiava a polícia.
● Dora → É a única rapariga do grupo, sendo considerada como a “mãe” e “irmã”
dos “Capitães da Areia” e a “noiva” do chefe, Pedro Bala.
Secundárias:

● Padre José Pedro → Amigo do grupo.

● Don’ Aninha → Mãe-de-santo, amiga do grupo.

● Dalva → Prostituta que tinha uma relacionamento com Gato.

● João de Adão → Estivador, amigo do grupo, em especial do chefe, Pedro Bala,


tendo conhecido o pai deste.

● Querido-de-Deus → Pescador, e também o mais célebre capoeirista da Bahia.

Figurantes:

● Restantes meninos que integram o grupo dos “Capitães da Areia”;

● População da Bahía.
Tempo

● Utilização de Analepses;

● Tempo físico diferente do tempo da história;

● Tempo psicológico: referência às emoções, às problemáticas


existenciais das personagens e à forma como estas sentem a
passagem do tempo.
Espaço

● Espaço físico – Cidade da Baía, nomeadamente a zona da “cidade alta”,


as ruas e as areias das praias e o trapiche;

● Espaço psicológico

● Espaço social – trapiche, “cidade alta”, “cidade baixa”, cadeia, orfanato,


reformatório.
Análise
● Utilização de linguagem popular, característica do Brasil e, em
particular, da Bahia (uso de regionalismos):
“nós quer”, “eu tava”, “bateu a caçoleta”, “moleque”, “planejar”,
“tá querendo”, “tem guarda em penca”, “é pra correr pícula”, “se
algum for bispado trate de dar o suíte para outro lado”, “estar a
nem-nem”, “bleforé”.

● Referências ao cristianismo, ao candomblé e ao culto de Yemanjá;

● Referências a tradições: Capoeira.


Excertos – 1.º
( …) Sob a Lua, num velho trapiche abandonado, as crianças dormem.

Antigamente aqui era o mar. Nas grandes e negras pedras dos alicerces do
trapiche as ondas ora se rebentavam fragorosas, ora vinham se bater
mansamente. A água passava por baixo da ponte sob a qual muitas crianças
repousam agora, iluminadas por uma réstia amarela de lua. Desta ponte saíram
inúmeros veleiros carregados, alguns eram enormes e pintados de estranhas cores,
para a aventura das travessias marítimas. Aqui vinham encher os porões e
atracavam nessa ponte de tábuas hoje comidas. Antigamente diante do trapiche
se estendia o mistério do mar oceano, as noites diante dele eram de um verde-
escuro, quase negras, daquela cor misteriosa que é a cor do mar à noite.

Hoje a noite é alva em frente ao trapiche. É que na sua frente se estende agora o
areal do cais do porto. Por baixo da ponte não há mais rumor de ondas. A areia
invadiu tudo, fez o mar recuar de muitos metros. Aos poucos, lentamente, a areia
foi conquistando a frente do trapiche.
Não mais atracaram na sua ponte os veleiros que iam partir carregados. Não
mais trabalharam ali os negros musculosos que vieram da escravatura. Não
mais cantou na velha ponte uma canção, um marinheiro nostálgico. A areia se
estendeu muito alva em frente ao trapiche. E nunca mais encheram de
fardos, de sacos, de caixões, o imenso casarão. Ficou abandonado em
meio ao areal, mancha negra na brancura do cais.

Durante anos foi povoado exclusivamente pelos ratos que o atravessavam em


corridas brincalhonas, que roíam a madeira das portas monumentais, que o
habitavam como senhores exclusivos: Em certa época um cachorro
vagabundo o procurou corno refúgio contra o vento e contra a chuva. Na
primeira noite não dormiu, ocupado em despedaçar ratos que passavam na
sua frente. Dormiu depois algumas noites, ladrando à Lua pela madrugada,
pois grande parte do tecto já ruíra e os raios da Lua penetravam livremente,
iluminando o assoalho de tábuas grossas. Mas aquele era um cachorro sem
pouso certo e cedo partiu em busca de outra pousada, o escuro de uma
porta, o vão de uma ponte, o corpo quente de uma cadela. E os ratos
voltaram a dominar até que os Capitães da Areia lançaram as suas vistas para
o casarão abandonado. (…)
Excertos – 2.º
(…) Ficaram os quatro sentados. O Sem-Pernas acendeu uma ponta de
charuto caro, ficou saboreando. João Grande espiava o pedaço de mar
que se via através da porta, além do areal. Pedro falou:
- Gonzales d'O 14 falou hoje comigo...
- Quer mais corrente de ouro? Da outra vez... – atalhou o Sem-Pernas.
- Não, 'tá querendo chapéu. Mas só topa de feltro. Palinha não vale, diz
que não tem saída. E também…
- Que é que tem mais? - novamente interrompeu o Sem-Pernas.
- Tem que muito usado não presta.
- 'tá querendo muita coisa. Se ainda pagasse que valesse a pena...
- Tu sabe, Sem-Pernas, que ele é um bicho calado. Pode não pagar bem,
mas é uma cova. Dali não sai nada, nem a gancho.
- Também paga uma miséria. E é interesse dele não dizer nada. Se ele
abrir a boca no mundo, não há costas largas que livre ele do xilindró…
- 'tá bom, Sem-Pernas, você não quer topar o negócio vá embora: mas
deixe a gente combinar as coisas direito.
- Não 'tou dizendo que não topo. 'tou só falando que trabalhar pra um
gringo ladrão não é negócio. Mas se tu quer...
- Ele diz que desta vez vai pagar melhor. Uma coisa que pague a pena.
Mas só chapéu de feltro bom e novo. Tu, Sem-Pernas, podia ir com uns
fazer esse negócio. Amanhã de noite Gonzales manda um empregado d'O
14 aqui pra trazer os miúdos e levar as carapuças.
- Bom lugar é nos cinemas - disse o Professor, voltando-se para o Sem-
-Pernas.
- Bom é na Vitória... - e o Sem-Pernas fez um gesto de desprezo. - É só
entrar nos corredores e aquilo é chapéu garantido... Tudo gente de nota.
-Também tem guarda em penca...
- Tu liga pra guarda? Se ainda fosse tira... Guarda é pra correr pícula.
Tu vai comigo, Professor?
- Vou. Mesmo que 'tou precisando de um chapéu.
Pedro Bala falou:
- Arranja os que quiser, Sem-Pernas. Este negócio fica por tua conta.
Menos o Grande e o Gato, que eu tenho um negócio com eles pra
amanhã. - Virou-se para João Grande.
- Um negócio do Querido-de-Deus.
- Ele já teve me avisando. E diz que de noite vem prà capoeira.
Pedro voltou-se para o Sem-Pernas, que já se retirava para ir combinar
com Pirulito a formação do grupo que ia em cata de chapéus no dia
seguinte:
- Olha, Sem-Pernas, tu trata de avisar que se algum for bispado trate de
dar o suíte para outro lado. Não venha pra cá. (…)
Bibliografia

•http://nilc.icmc.sc.usp.br;
•www.wook.pt;
•http://gmas.no.sapo.pt;
•www.paralerepensar.com.br

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